Prévia do material em texto
A INDÚSTRIA QUÍMICA Os indicadores da indústria química global são impressionantes, tanto específicos quanto agregados. Em escala global, é um dos dois maiores setores industriais, comparável a semicondutores, equipamentos e materiais de tecnologia da informação. No Brasil, é o segundo maior setor da indústria de transformação, depois do setor de alimentos. O valor dos ativos e o custo da indústria química são extremamente altos e são constantemente exemplificados nas notícias. Em 2005, o valor das entregas industriais dos EUA atingiu 549 bilhões de dólares americanos (549 GUS $), dos quais 189 GUS na Alemanha, 95 GUS na Itália e 122 GUS no Japão, ultrapassou a marca de trilhões de dólares americanos globalmente. Os gastos com P&D de 22 empresas americanas atingiram US $ 4,8 bilhões, representando 3,1% do seu faturamento5, o que é mais de dez vezes o valor do edital geral do CNPq em 2006. Várias empresas globais, incluindo Dow, BASF, DuPont e Bayer, têm gastos anuais com P&D de mais de US $ 1 bilhão, enquanto Akzo, DSM, Degussa e Mitsui gastam entre US $ 30-400 milhões. A produção também é impressionante: os Estados Unidos produzem 37 milhões de toneladas de ácido sulfúrico anualmente, 19 toneladas na Europa, 6,5 toneladas no Japão e 4,5 toneladas na China. As quantidades de polipropileno produzidas nesses países são: 8,1, 6,9, 3,0 e 1,1 (Taiwan). Os produtos da indústria química estão por toda parte, desde o tratamento de água e esgoto, até a produção e distribuição de alimentos, a preservação e restauração da saúde e do lazer, engenharia civil, produção de máquinas de metal e tecnologia da informação. Apenas uma pequena porcentagem dos produtos químicos industriais é produzida diretamente para os consumidores: mais de dois terços chegam aos usuários na forma de carros, imóveis, equipamentos diversos, alimentos e outras mercadorias, essenciais ou não. Nos últimos anos, à medida que os preços globais atingiram o nível mais alto na última década, as empresas químicas globais desfrutaram de alta demanda e altos lucros. No entanto, o aumento da lucratividade é resultado do aumento da demanda e da utilização da capacidade, não da recuperação da inovação de produtos. Segundo um conhecido analista6, até o final da década de 1970, a inovação de produtos levou ao real crescimento da indústria química, e a tecnologia passou a ser o foco mais importante da indústria. Os materiais de divulgação da Conferência Anual de 2007 do Third Chemical Industry Global Outlook, organizada pela Chemical Week8, enfatizou outros fatores importantes que afetam a indústria química global hoje. São eles: a mudança de investimento para o Oriente Médio e a Ásia, o fornecimento limitado de gás natural nos Estados Unidos e o rápido desenvolvimento da biotecnologia e da nanotecnologia. A mesma fonte destacou que novos produtos e serviços precisam ser criados por meio de pesquisa e desenvolvimento para gerar inovações que mantenham o crescimento do setor. Além disso, a indústria deve se tornar mais sustentável, principalmente por meio do aumento do uso de matérias-primas renováveis. Todos os países desenvolvidos cultivaram uma próspera indústria química. Essa é uma realidade interessante, bem diferente do discurso puramente ideológico que se repetiu amplamente no Brasil recentemente. De acordo com esses discursos, a indústria química, assim como outras indústrias “poluentes”, está sendo expulsa dos países ricos para os países pobres como Índia e Brasil, onde a corrupção e as precárias condições de vida tornam a poluição industrial aceitável. Atualmente, existem vários fatores de mudança na indústria química. O mais importante são os grandes limites da inovação: nanotecnologia, biotecnologia e tecnologias de informação e comunicação. Soma-se a isso o peso crescente das preocupações ambientais exacerbadas pelas mudanças climáticas, o aumento dos preços do petróleo e do gás, o sucesso de novas tecnologias para a extração de matérias-primas de biomassa e o aumento de peso no registro, legislação, controle e uso . de produtos químicos. Um grupo da DuPont21 publicou uma excelente visão geral do papel da nanotecnologia na indústria química, que é descrita abaixo. Os autores lembram primeiro que a indústria química está bastante madura e muitos de seus produtos são "mercadorias" baseadas em tecnologias estabelecidas. Portanto, novos produtos e novas oportunidades de mercado podem surgir de especialidades químicas e novas funcionalidades derivadas de novas tecnologias de processo e novos métodos de controle de microestrutura. Hoje sabemos que além da estrutura molecular, a microestrutura de um material também desempenha um papel decisivo em suas propriedades. Portanto, o controle de estruturas no nível micro e nano é essencial para o surgimento de novas descobertas. Esses autores definem a nanotecnologia como a manipulação controlada de nanomateriais com pelo menos uma dimensão menor que 100 nm. A nanotecnologia está emergindo como uma das principais áreas de pesquisa, integrando química e ciência dos materiais e, em alguns casos, ambas com biologia para criar novos e inéditos propriedades, que podem ser exploradas e transformadas em oportunidades para mercados como eletrônica e fotônica, biomédica, materiais de alto desempenho e bens de consumo. Nestes casos, os desafios das tecnologias de fabricação vão desde a formação de partículas, seu revestimento e dispersão até sua caracterização, modelagem e simulação de suas propriedades, processos e desempenho em uso. Por fim, os autores propõem um “roteiro” ou roteiro para a inovação nanotecnológica que identifica as interações entre o desenvolvimento de nano- blocos, o “design” de produtos, o design de processos e a integração da cadeia de valor. O modelo PandD que eles propõem é uma combinação de requisitos de mercado e ofertas de tecnologia ("Market Pull" e "Technology Push"), de modo que os benefícios da nanotecnologia sejam rapidamente transformados em benefícios para o consumidor. Outro esforço que envolveu uma ampla variedade de empresas, corporações e indivíduos foi realizado como parte da Visão 2020 22, um processo colaborativo liderado pela indústria para acelerar a inovação e o desenvolvimento tecnológico por meio da mobilização de pessoas, materiais e tecnologia. Um resumo das motivações e objetivos do grupo foi divulgado com as seguintes palavras: “A nanotecnologia é uma importante nova área de pesquisa. A indústria química pode ser a única que possui as habilidades e experiência da RandD para comercializar avanços em nanotecnologia. Conseqüentemente, a indústria química deve ter uma palavra a dizer na seleção dos tópicos do RandD para o governo federal. A indústria química, junto com a indústria eletrônica, são as duas indústrias que mais se beneficiam do financiamento da Nanotecnologia RandD. Vision2020 está atualmente trabalhando para melhorar as comunicações com agências de financiamento de nanotecnologia para garantir que elas se concentrem em áreas relevantes para a indústria. A pesquisa sistemática em nanotecnologia está apenas começando. A infraestrutura é criada. A integração de novos fenômenos em sistemas macroscópicos ainda não é enfatizada. "Este grupo produziu um documento exemplar, o 2002" Nanomaterials and the Chemical Industry RandD Roadmap Workshop: Preliminary Results ", que está disponível na Internet. Muito simples: A indústria química é um dos ramos da economia que mais se beneficia da nanotecnologia e, em outras palavras, a nanotecnologia depende em grande medida da indústria química. No Brasil, essa situação é contrabalançada não só pela força da indústria química, mas também mais claramente definido pela fragilidade da indústria de semicondutores e equipamentos de tecnologia da informação. Diante dessa situação, os desenvolvimentostecnológicos nessa área no Brasil são quase inteiramente limitados ao setor químico, como é demonstrado pelos projetos de polímero-nanocompósito da Braskem e Suzano -Grupo e no caso de v em Biphor, um pigmento branco feito de ofato feito de alumínio nanoestruturado. Os efeitos da biotecnologia na indústria química são tão amplos e variados quanto os da nanotecnologia. Para efeito de discussão, as biotecnologias são divididas em dois grupos: "processos, incluindo fermentação" e "genômica", reconhecendo que existe uma ampla interface entre os dois. O primeiro grupo é representado, por exemplo, pela produção de álcool etílico e outros produtos de biomassa, com ou sem processos de fermentação. Um exemplo importante são as agroindústrias que se tornaram produtoras de produtos químicos, como a Archer Daniels Midland (ADM) e a Cargill nos Estados Unidos, a japonesa Ajinomoto e outras. Nos últimos anos, essas empresas retiraram o etanol petroquímico do mercado mundial, processo que sempre ocorreu no Brasil. Seus produtos agora competem com vários produtos petroquímicos: agentes coalescentes da Eastman, astaxantina da BASF e DSM, propilenoglicol e etilenoglicol da Dow, Lyondell e outros, termoplásticos como poli (hidroxialcanoato) 26. Em 2006, a Cargill tornou-se fornecedora de polióis (tradicionalmente óleo de derivados) de óleos vegetais para a indústria de poliuretano27. A Ajinomoto possui uma importante planta no Brasil que produz 72 mil toneladas de lisina por ano em Valparaíso, SP, e outras 60 mil toneladas em Pederneiras, SP, a partir de matéria-prima derivada da cana-de- açúcar. REFERÊNCIAS Wongtschowski, P.; Indústria Química: Risco e Oportunidades, 2Ş ed., Edgar Blucher: São Paulo, 2002. Miron, M. V. G.; Cavalcanti, F. C. B.; Wongtschowski, P.; Quim. Nova. 2005, 28 (Supl.), S86. Politzer, K.; Quim. Nova. 2005, 28 (Supl.), S76. Oliveira, N. B.; Quim. Nova. 2005, 28 (Supl.), S79.