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Cesariana • Histórico - Havia um esforço para que não se precisasse abrir o abdome, realizava-se uma fetotomia (tiravam as partes do feto para dar uma chance de vida para a mãe) - Tudo começou a mudar na Revolução Industrial - Semmelweis: percebeu que as mulheres morriam de febre puerperal, desenvolveu a técnica de que era necessário lavar a mão com cloreto de cálcio antes de manejar o paciente - Jean Marion Sims: uso do fio de prata para sutura com êxito na correção de fístula vésico-vaginal (1851) - James Simpson: descoberta do clorofórmio; John Snow: estudo da dosagem do clorofórmio no parto - 1882: fechamento do útero na cesariana; Kehrer: incisão transversa do segmento inferior do útero; Sänger: incisão longitudinal do útero - Edoardo Porro: se baseou numa experiência em animais de Joseph Cavallini, publicou a técnica com uso de constrictor de Cintrat em 1876 “amputação útero-ovárica com comprimento de uma cesárea”, em que fez cesariana seguida de histerectomia sub-total, procedimento cuja mortalidade materna era 100% antes dessa técnica. A primeira paciente foi Julia Cavallini. - Pfannenstiel: introduziu incisão para cirurgias urológicas - Kerr, 1926: histerotomia por incisão semilunar do segmento inferior do útero - DeLee: advogou que todas as mulheres deveriam ficar internadas pós-parto devido às possíveis complicações ▪ Melhora no prognóstico da cesárea: - Transfusão sanguínea (1914-1918); - Histerotomia segmentar transversa de Kerr (1926); - Enriquecimento do leite com vit. D (1930); - Sulfa e penicilina (1940) • Definição - Consiste de laparotomia e histerotomia para extração do concepto desenvolvido na cavidade uterina - Não engloba as cirurgias para gestação ectópica ou extração de feto na cavidade abdominal por rotura uterina - É uma medida profilática de tocotraumatismo - É a cirurgia mais feita nas mulheres no Brasil - De acordo com a OMS, o índice máximo de cesarianas não deve ultrapassar 15% • Questões Pré-Operatórias o Maturidade Pulmonar Fetal: deve estar estabelecida antes de indicar cesariana eletiva em gestação antes das 39 semanas o Anestesia: paciente passar por estratificação de risco em consulta anestésica o Dosagem de Hemoglobina: recomendada no pré-op de qualquer cirurgia com perda sanguínea significante. Se o valor estiver normal nos 30 dias antes da cirurgia, não necessita nova avaliação. o Profilaxia Antibiótica: administrar 30-60 minutos antes da incisão da pele, reduz ocorrência de febre pós- operatória, endometrite, infecção da ferida operatória, infecção do trato urinário e outras infecções. o Cateterização Vesical: inserção de cateter antes do início da cirurgia para evitar distensão da bexiga e dificuldade de exposição do segmento inferior. Alternativamente, a paciente pode esvaziar a bexiga minutos antes da indução anestésica. o Tricotomia: caso haja necessidade, os pelos devem ser preferencialmente aparados com tesoura, pois as escoriações da lâmina geram predisposição à infecção. • Técnica Cirúrgica o Consenso na técnica da cesariana - Exteriorização ou não do útero na histerorrafia - Histerotomia segmentar - Abertura da cavidade: pela técnica de Pfannenstiel ou métodos baseados na técnica de Joel Cohen o Técnicas não consensuais na cesariana - Fechamento ou não do peritônio parietal e visceral - Histerorrafia em uma ou duas camadas - Fios utilizados no fechamento da parede abdominal - Aproximação do tecido celular subcutâneo o Técnicas de Abertura da Parede Abdominal - Incisão cutânea transversal: aumenta o tempo de cirurgia e o risco de sangramento, mas a morbidade febril e o risco de herniação são menores e há melhor resultado estético - Incisão mediana umbilical: menor risco de sangramento (indicada em coagulopatias/infecções), melhor campo operatório e retirada mais rápida do feto ▪ Incisão longitudional infraumbilical - Todos os planos abertos com bisturi ou tesoura e suturados posteriormente. - Técnica mais usada até os anos 60 ▪ Incisão transversa na prega abdominal inferior (Pfannenstiel) - Entre a barriga e a sínfise púbica, local de menor tensão da pele - Todos os planos abertos com bisturi ou tesoura e suturados posteriormente - Menor risco de herniação pós-op. e melhor resultado estético - Incisão transversa, ligeiramente curvilínea - É a mais usada no Brasil ▪ Técnica de Joel-Cohen - Incisão transversa, em torno de 15 cm, feita cerca de 3 cm acima da prega abdominal inferior - Bisturi utilizado apenas na incisão da pele, superficialmente - A aponeurose é aberta por tesoura junto à rafe mediana dos retos abdominais. - Os outros planos são abertos por divulsão digital ❖ Misgav Ladach: método que modificou a técnica de Joel Cohen - Incisão pelo método Joel Cohen, mas fechamento do útero em apenas uma camada e sem fechamento do peritônio parietal e visceral, só dar 3 pontos na pele - Realização de pequena botoeira, sem abrir o tecido celular subcutâneo - Maior uso da tesoura em relação ao bisturi, abertura é divulsionada na rafe mediana do reto abdominal ❖ Vantagens da Técnica de Joel-Cohen – Misgav-Ladach - Diminuição: do tempo cirúrgico e anestésico, do sangramento, da dor no pós-op, da permanência hospitalar e da morbidade puerperal - A divulsão à dedo diminui muito o trauma tissular e seromas do sítio cirúrgico, prevenindo a isquemia e diminuindo a perda sanguínea. - Há menor formação de aderências e risco de infecções - Apresenta vantagens em obesas mórbidas ▪ Histerorrafia: pode ser em plano único ou em dois planos, os resultados são semelhantes, mas o tempo poupado pelo fechamento em camada única pode ser vantajoso ▪ Celiorrafia visceral e parietal: o não fechamento do peritônio reduz o tempo operatório, a ocorrência de febre puerperal e o tempo de internação. Contudo, é controverso, portanto, a decisão de fechamento é opcional. • Conclusões sobre Cesariana - A técnica de Joel Cohen é padrão ouro para: cirurgia de pacientes obesas, com coagulopatias, pré-eclâmpsia grave, HIV+ - Há dificuldades na execução da técnica de Joel-Cohen em pacientes ex-cesariadas - Deve-se observar a proporcionalidade da incisão para a retirada do concepto - Deve-se realizar o fechamento do peritônio visceral e parietal (redução de aderências) - Em casos de obesas mórbidas, sempre que possível, aproximar o tecido celular subcutâneo • Indicações: podem ser indicações maternas (benefício da mãe) ou fetais (benefício do feto) - A urgência pode ser absoluta ou relativa. Quando não há urgência, a cesárea é eletiva. - A maior parte das indicações de cesariana são relativas, ou seja, realizadas quando não há urgência - As indicações mais comuns são: falha na progressão durante TP, histerotomia prévia (cicatriz uterina) e apresentação fetal anômala. OBS: não existe contraindicação absoluta à cesariana. Os riscos e benefícios maternos e fetais devem ser avaliados. Muitas gestantes apresentam baixa tolerância em aceitar qualquer situação de risco fetal relacionada ao parto vaginal, independente do risco materno associado à intervenção operatória. • Indicações absolutas para realização da cesárea - Desproporção cefalopélvica: fetos de mães diabéticas tem uma largura biacromial elevada, portanto, possivelmente teriam distocia de ombro - Cicatriz uterina corporal prévia: principalmente pacientes que já tiveram miomectomia anterior, rutura uterina - Placenta prévia oclusiva: total ou mesmo parcial, feto vivo ou morto - Placenta acreta - Malformações genitais - Tumorações prévias - Situação transversa fetal - Herpes genital ativo - Procidência de cordão: prolapso de cordão, cordão umbilical na frente da apresentação - Morte materna com feto vivo: há um tempo de cerca de 7 minutos para retirada do feto sem nenhum prejuízo para ele • Indicações relativas -Condição fetal não tranquilizadora: ausculta (110 bpm é o padrão de normalidade em paciente que não está em TP, no TP o feto estaria no limite da normalidade com 120 bpm. Se houver desaceleração grande, bradicardia grave, analisar indicação de cesariana, às vezes pode melhorar com a mudança de decúbito da gestante) - Gestante HIV +: depende da carga viral, se for não detectável pode ser via vaginal - Mais de uma cesariana prévia com histerotomia segmentar - DPPNI: devido ao fato de existir uma hipertonia grande, a paciente já chega com o colo totalmente dilatado, e nesses casos, o feto nascerá pelo parto normal antes que aconteça a indicação da cesariana e a realização da cesariana (cerca de 30 minutos). Também pode depender do tamanho do descolamento. - Gestação múltipla com primeira apresentação não cefálica: se o 1º estivesse cefálico, poderia tentar normal. Se um estiver cefálico e o outro pélvico e não existir mais nenhuma indicação, o parto vaginal é seguro. - Macrossomia fetal em diabética: analisar se há desproporção. O grande problema não é o polo cefálico, mas o biacromial, que pode levar à distocia de ombro. - Colo desfavorável à indução em ex-cesariada: não se indica a usar misoprostol e ocitocina em ex-cesariada, nesses casos, a dilatação do colo é feita por sonda de fole - Psicopatia materna - Discinesia uterina - Pré-eclâmpsia - Pós-maturidade - Oligodramnia - Doença hemolítica perinatal - Prematuridade extrema - Primiparidade idosa ➢ Na cesárea, há mais de um tempo cirúrgico. A abertura da cavidade abdominal, a retirada do concepto (tempo obstétrico). - Na cesariana, deve-se lembrar de deixar o polo cefálico fletido para reduzir o diâmetro. - De todos os tempos da cesariana, os de maior cuidado são o de retirada do concepto e o do fechamento da histerotomia ➢ PVAC - A história de uma cesariana prévia não constitui indicação para repetição do procedimento, a presença de condições favoráveis pode autorizar o acompanhamento do TP e permissão do parto vaginal. - O tipo de cicatriz uterina anterior deve ser distinguido, porque a rotura uterina depende basicamente do local onde houve histerotomia - Histerotomia transversal no segmento inferior (método preferido atualmente): a probabilidade de deiscência é extremamente baixa - Histerotomia na parte contrátil do útero ou extensão da cicatriz do segmento inferior superiormente: parto vaginal contraindicado
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