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INSTRUMENTALIZACAO CIENTIFICA 01. O Papel da Universidade no Fazer Ciência Por: LAINO ALBERTO SCHNEIDER Pensando que as ideias é que movem as pessoas, faz-se fundamental que as universidades tenham claro que nela tenhamos espaços para revisar e refletir o tipo de sociedade e ciência que queremos. Você está sendo convidado e provocado a refletir sobre o papel da universidade no fazer ciência, que é algo que queremos e precisamos. Pergunte-se: Será que o conhecimento que se produz e o que se precisa e mais, na produção desse conhecimento: como e quem fará gestão? Queremos uma gestão participativa e, se sim, como será feito? Logo em seguida, estaremos parando para analisarmos o sentido da construção crítica do conhecimento. Para que serve o conhecimento e como ele será utilizado no espaço profissional, pessoal e social? Será que o que estamos aprendendo ou discutindo é o que deveria ser trabalhado? Refletindo criticamente sobre a ciência diante da perspectiva da universidade poderemos questionar: qual é, e deveria ser, o papel da universidade diante da ciência? Buscando pensar sobre essa realidade passaremos a verificar como, em função do que pode e deveria ser desenvolvido na universidade, ela pode ser o grande agente de transformação da sociedade. Nesse sentido, que papel a universidade deve ocupar? Refletir e pensar como a universidade pode e deve participar do processo da discussão sobre a ciência é o objetivo maior do capítulo que iniciamos. Que tenhamos bons motivos para avançar nas ideias. Que a jornada seja produtiva! A PRODUÇÃO E GESTÃO DO CONHECIMENTO Segundo SANTOS (2005, p. 28-9): Para sobreviver, as universidades têm de estar o serviço destas duas ideias mestras - sociedade de informação e economia baseada no conhecimento - e para isso têm de ser elas próprias transformadas por dentro, por via das tecnologias da informação e da comunicação e dos novos tipos de gestão e de relação entre trabalhadores de conhecimento e entre estes e os utilizadores ou consumidores. Trabalhar no gerenciamento das diversidades de experiências é algo complexo e que exige das instituições habilidades e competências para administrar tais situações. Que tal pensarmos um pouco, a partir da imagem, no que são habilidades e competências? Fonte: Geralt - Domínio público - Pixabay.com Saber trabalhar com as informações exige da Universidade uma habilidade toda especial, pois é fundamental que se aprenda a discutir ideias e não pessoas. É a partir dessas informações que cada pessoa vai construindo, que a produção do conhecimento passa a reunir uma memória que é capaz de documentar o que, no cenário vivo, se está testemunhando. Graças a isso é que cada pessoa é uma memória da história que aí está sendo escrita. A CONSTRUÇÃO CRÍTICA DO CONHECIMENTO O que significa ser crítico? Pensemos sobre isso para que em seguida possamos seguir o caminho da leitura! Na perspectiva grega: é a arte de discernir, separar e julgar. O conhecimento exige rigor e reflexão, pois a verdade é um processo de eterno desvelamento. Descobrir algo que até então não tinha sido revelado é o espírito que a construção crítica do conhecimento universitário exige. Segundo PAVIANI (2005, p. 102), as informações diversas requerem um exame cuidadoso, pois: Professor é aquele que aprende ensinando e, nesse sentido, a grande lição do processo científico é a de acabar com o autoritarismo dos mestres e transformar todos, mestres e discípulos, em alunos. Ambos precisam aprender a reformular problemas, pois estes não se apresentam por si mesmos. Já o conhecimento é: o ato ou efeito de conhecer, é ter ideia ou noção de alguma coisa. É o saber, a instrução e a informação. Que tal, antes de seguirmos em frente, pararmos um momento para ouvirmos a música de tom Jobim e Vinicius de Moraes, citada por Rubem Alves!? Estou ouvindo "Eu não existo sem você", de Tom Jobim. Só posso ouvi-la por causa da ciência. Foi a ciência que, com teorias e medições, construiu meu computador. Foi ela que, com teorias e medições, produziu o CD, traduzindo a música em entidades eletrônicas definidas. Mas um engenheiro surdo poderia ter feito isso. Porque as redes da ciência não pegam música. Pegam entidades eletrônicas quantificáveis. Assim, um cientista que fosse também um filósofo, ao declarar "Isso não é científico", estaria simplesmente confessando: "Isso, as redes da ciência não conseguem pegar. Elas deixam passar. Seria necessário outra rede..." (ALVES, 2001, p. 103). Escute a música através do YouTube. Sócrates afirmava "Só sei que nada sei", ou seja, a verdade jamais está dada ou é definitiva. Para a construção científica do conhecimento se faz necessário entender que a verdade não é exclusiva e nem única, pois existem momentos em que é necessário saber remar, assim como em outros é fundamental acreditar e ter fé. Será que é possível afirmar: "As ideias ou as minhas convicções são iguais as suas?" A ciência é muito boa dentro de seus precisos limites. Quando transformada na única linguagem para se conhecer o mundo, entretanto, ela pode produzir dogmatismo, cegueira e, eventualmente, emburrecimento (ALVES, 2001, p. 115). Assim, caro acadêmico, compreender que o conhecimento se constrói de múltiplas formas e perspectivas, como as religiosas, filosóficas, senso comum, mítico e científico, é ser capaz de entender que uma música é muito mais capaz do que a harmonia. Uma Reflexão Sobre a Ciência Olhando a perspectiva da ciência, o senso comum quer nos ensinar que a ciência é exata e precisa! Mas será que ela realmente é? Será que o olhar da ciência social é igual aos outros modelos da ciência? Talvez seja parecido no seu processo, mas é diverso no seu olhar. A ciência é uma forma particular de conhecer o mundo. É o saber produzido através do raciocínio lógico associado à experimentação prática. Caracteriza-se por um conjunto de modelos de observação, identificação, descrição, investigação experimental e explanação teórica de fenômenos. O método científico envolve técnicas exatas, objetivas e sistemáticas. Regras fixas para a formação de conceitos, para a condução de observações, para a realização de experimentos e para a validação de hipóteses explicativas. O objetivo básico da ciência não é o de descobrir verdades ou de se constituir como uma compreensão plena da realidade. Deseja fornecer um conhecimento provisório, que facilite a interação com o mundo, possibilitando previsões confiáveis sobre acontecimentos futuros e indicar mecanismos de controle que possibilitem uma intervenção sobre eles (FONSECA, 2002, p. 11-2). A partir da definição de Fonseca podemos nos questionar: Por que se é ciência o conhecimento é provisório? Assim como os nossos conhecimentos são, sobretudo, uma constante mudança, visto que sempre estamos agregando algo novo no já existente, o entendimento sobre a verdade e a ciência, está em eterno processo. O que você, leitor, pensa sobre o conhecimento? Antes de seguir nosso caminho de estudo, PARE E PENSE SOBRE ISSO! O conhecimento é provisório pelo fato de que as leituras que são feitas sobre os cenários serem constantemente desveladas. Outra questão que se poderia fazer é: Como a ciência pode facilitar a interação com o mundo? Ora, na medida em que se vai entendendo o que está acontecendo no entorno, as ações que o entorno requer também podem ser assimiladas e adotadas. Outro aspecto central que a ciência possibilita é a compreensão e a consciência dos limites dos nossos olhares sobre a realidade. A velocidade das informações desencadeia nas pessoas um olhar de não mais certeza, mas de necessidade de constantes revisões e ajustes. O registro da memória é a tarefa que se impõe na Universidade, ou seja, documentar as informações que os atores desse cenário podem contar é essencial para que a produção do conhecimento seja possível. Mas a questão que nasce neste momento é: como isso pode ser feito? Esse processo pode e deve ser feito a partir da pesquisa e da extensão. É a partirdo conhecimento do cenário e de seu registro que o legado, que vai sendo apresentado, demonstra a história e o grande papel que a universidade pode ter. Por isso, é no aproveitamento das informações dos mais diversos atores, que podemos recontar o que se passou e como a história precisa ser contada. Fonte: Elisa Riva - Domínio público - Pixabay.com A mais rica biblioteca, quando desorganizada, não é tão proveitosa quanto uma bastante modesta, mas bem ordenada. Da mesma maneira, uma grande quantidade de conhecimento, quando não foi elaborada por um pensamento próprio, tem muito menos valor do que uma quantidade bem mais limitada que, no entanto, foi devidamente assimilada. Pois é apenas por meio da combinação ampla do que se sabe, por meio da comparação de cada verdade com todas as outras, que uma pessoa se apropria de seu próprio saber e o domina. Só é possível pensar com profundidade sobre o que se sabe, por isso se deve aprender algo; mas também só se sabe aquilo sobre o que se pensou com profundidade (SCHOPENHAUER, 2005, p. 39). Segundo Schopenhauer (2005): "A maior sabedoria é ter o presente como objeto maior da vida, pois ele é a única realidade, tudo o mais é imaginação". Construir conhecimento requer exatamente esse rigor, pois gerenciar e organizar a diversidade exige a compreensão do que aí se apresenta. Organizar uma biblioteca requer critérios e diretrizes. Assim como a produção e a gestão do conhecimento, aprender a ouvir, escutar, para ter as várias versões sobre o fato, é uma tarefa que a universidade deve contar. Só que para tal condição precisa dar ao cenário dos atores condições que, através da extensão, organizam através da pesquisa as informações, que se transformam ou podem se transformar no produto chamado conhecimento. No entanto, podemos nos dedicar de modo arbitrário à leitura e ao aprendizado; ao pensamento, por outro lado, não é possível se dedicar arbitrariamente. Ele precisa ser atiçado, como é o fogo por uma corrente de ar, precisa ser ocupado por algum interesse nos assuntos para os quais se volta; mas esse interesse pode ser puramente subjetivo (SCHOPENHAUER, 2005, p. 39). Essa subjetividade e objetividade é aprender a produzir e a gerenciar o conhecimento. Aprender a contar essas memórias é aprender a compartilhar as versões dos atores dos cenários, para, a partir disso, filtrarmos o que é pertinente. Por isso, o conhecimento precisa de gestão, ou seja, existe uma lógica que precisa ser contada para ser descoberta. A pesquisa científica dentro da universidade desempenha papel importante não só na produção de novos conhecimentos, mas também na sua capacidade de tornar acessíveis aos seus estudantes os avanços contínuos do saber. Assim, o cientista moderno deve ser também um decodificador, e a importância da universidade cresce à medida que aumenta a sua capacidade de decodificar e abranger um número crescente de especialistas nas diversas áreas do saber (MEIS, 1996, p. 33). As novas descobertas vão possibilitando novos saberes e novas leituras das realidades. Ponto de partida O CONHECIMENTO: informação. PARA A SABEDORIA: capacitação de análise e avaliação. A ênfase principal desta forma de ensinar continua sendo a de transmitir ao aluno o maior número possível de informações e, dentro desta perspectiva, espera-se que, ao completarem seus cursos universitários, os estudantes estejam a par dos conceitos atuais das suas respectivas áreas profissionais. Entretanto, a explosão do saber dos últimos anos tornou esta tarefa impossível e, na realidade, não sabemos ainda como preparar os estudantes de forma a torná-los capazes de lidar de forma eficiente com a grande quantidade de novas informações gerada a cada ano, condição essencial para uma atuação de ponta. (MEIS, 1996, p. 33-34) A universidade precisa despertar e construir no seu espaço educacional a noção de que o conhecimento não está dado e requer a reflexão e uma nova avaliação e exame. A TRANSFORMAÇÃO DA SOCIEDADE É a partir dos novos conhecimentos que precisam ser aprendidos e compartilhados que o espírito de transformação precisa estar presente, pois a produção do conhecimento não é algo para ficar escondido, mas precisa ser divulgado e compartilhado. A universidade continua formando para uma sociedade industrial ou, na melhor das hipóteses, pós-industrial, já foi ou pelo menos vem sendo substituída pela sociedade informacional, na qual o trabalho e a estrutura ocupacional não podem ser considerados como sendo o resultado de uma evolução linear, a sucessão histórica dos setores primários e secundários às atividades terciárias. Pelo contrário, há uma mudança fundamental a partir da divisão tecno-organizacional do trabalho a uma matriz mais complexa de unidades de produção e atividades diretivas que ordenam a lógica do sistema ocupacional inteiro (CASTELLS, 1996, p. 12). Então é hora de pensarmos que as ações precisam ser outras para podermos colher novos resultados. Assim como a própria palavra "transformação" nos apresenta uma perspectiva de ação e de modificação. Essa mudança só é possível se forem buscados novos modelos e a Universidade é o espaço para começar esse processo. A universidade deve retomar seriamente a questão de sua função social na tensão da cultura e da profissionalização. É preciso encontrar um novo equilíbrio entre a formação técnico/profissional e a formação humanista/cultural. Para isso, é necessário que a universidade leve a sério, em todas as áreas de atuação, sua função cultural. Não se trata apenas de abrir pequenos espaços no currículo para a abordagem de temas humanísticos ou de artes, mas de ampliar com todo o rigor o conceito de formação acadêmica. Isto implica uma revisão profunda da prática acadêmica à qual estamos acostumados atualmente (GOERGEN, 1998). Na esfera social, como podemos constatar na afirmativa da citação, é o grande compromisso das Universidades no contexto atual, pois estão aí os espaços que precisam ser ocupados. São inúmeras as possibilidades. Um exemplo concreto está no próprio tripé da razão da Universidade que é ensino, pesquisa e extensão. Essa ordem está sendo alterada hoje por extensão, pesquisa e ensino, ou seja, as questões sociais precisam ser discutidas, pesquisadas e amadurecidas dentro dos espaços dos cursos. É dentro dessa perspectiva que os papeis centrais da Universidade precisam ser: a) Formação profissional. Formar o profissional não é só o conteúdo da matriz curricular, mas sobretudo a formação humana e ética, pois assim como se quer um profissional competente no que ele faz, também se exige que esse profissional seja um ser humano correto, ético e compromissado com o respeito e dignidade humana. b) Formação política. Eis outro papel importante dentro da universidade que precisa ser desenvolvido e trabalhado, ou seja, que na formação alimenta-se o espírito de aceitar outros pontos de vista e que seja capaz de se aprender a discutir ideias sem discutir pessoas. Essa articulação política é aprender a administrar pontos de vista. c) Formação cidadã e social. Na formação cidadã o que precisa ser trabalhado é o respeito e a observância dos direitos e deveres de todos, pois cidadão não é quem vive só na cidade, mas, sobretudo, quem aprende a conviver com as diferenças e diversidades. d) Gestora de informações e construção de conhecimentos. Ser gestora é ser capaz de administrar e implantar as informações que se fundamentam ou não. É no espaço da Universidade que as informações precisam ser produzidas e examinadas, pois são elas o grande combustível de conhecimento. e) Desenvolvimento do espírito cooperativo e participativo. Eis um dos grandes desejos dentro do espaço educacional, ou seja, como trabalhar em equipe, fazendo com que todos participem e sejam agentes. A UNESCO, em um dos seus pilares, exige que as pessoas precisam aprender a CONVIVER e não só viver em grupo. Nesse sentido, as atividades de extensão, pesquisa e ensino precisam buscar não um momento para "inglês ver", masum espírito de responsabilidade e compromisso. Não posso assinar algo que não compreendo. Certamente poderíamos enumerar outros papeis da Universidade, mas eis um desafio que pode ser completado a partir dessas provocações iniciais. CONSIDERAÇÕES FINAIS A partir deste capítulo, a ideia básica e central que se precisa buscar na Universidade é a de competência, ou seja, de estar preparado para os desafios que a sociedade e a profissão exigem. Para isso, são necessárias as competências, ou seja, ser ético, humanista e respeitador dos direitos das pessoas. Administrar o conhecimento, examinando-o, é uma constante e aprender isso na Universidade é alcançar as sandálias da humildade, pois como já nos ensinou Sócrates: "Uma vida não examinada não merece ser vivida" e "só sei que nada sei". Se essas lições forem aprendidas, o papel da Universidade se realizou. Um grande abraço e até a próxima jornada temática! Agora é hora de consultar as referências utilizadas ao longo do capítulo! ALVES, Rubem. Entre a sapiência e a ciência. O dilema da educação. 6. ed. São Paulo: Editora Loyola, 2001. CASTELLS, M. Fluxos, redes e identidades: Uma teoria crítica da sociedade informacional. In: Novas Perspectivas Críticas em Educação. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996, p. 4-32. FONSECA, J. J. S. Metodologia da pesquisa científica. Fortaleza: UEC, 2002. Apostila. GOERGEN, Pedro. Ciência, sociedade e universidade. Educ. Soc., Campinas , v. 19, n. 63, p. 53-79, Aug. 1998 . Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php? script=sci_arttext&pid=S0101-73301998000200005&lng=en&nrm=iso. Acesso em: 28 ago. 16. MEIS, L. de e LETA, J. O perfil da ciência brasileira. Rio de Janeiro: Ed. UFRJ, 1996. PAVIANI, Jayme. Problemas de filosofia da educação: o cultural, o político, o ético na escola, o epistemológico no ensino. 7. ed. Caxias do Sul: Edues, 2005. SANTOS, Boaventura de Sousa. A Universidade no século XXI: para uma reforma democrática e emancipatória da Universidade. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2005. SCHOPENHAUER, Arthur. A arte de escrever. Porto Alegre: L&PM, 2005. Ulbra EAD Av. Farroupilha, 8001 · Prédio 11, 2º andar, corredor central · Bairro São José · Canoas/RS · CEP 92425- 900Telefone: 0800.051.4131 · E-mail: portalead@ulbra.br
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