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INSTRUMENTALIZACAO CIENTIFICA 03. Fundamentos da Pesquisa Científica Por: LAINO ALBERTO SCHNEIDER Inicie a leitura do capítulo se questionando sobre o que são fundamentos, pois é diante dessa compreensão que podemos nos lançar no estudo sobre a pesquisa científica. Vamos lá! Reflexões para o capítulo: será que estamos atentos com aquilo que se faz e como se faz? Essa vai ser a questão nesse tópico. Em seguida, será demonstrado como a relação entre teoria e prática se completam. Diante do seu olhar da ciência, você é mais prático ou teórico? É mais empírico ou dogmático? No tópico seguinte será demonstrado como a investigação científica precisa alinhar-se com a interdisciplinaridade. O que é investigação? Como definir interdisciplinaridade? Será que investigar é complexo? Qual é a função da interdisciplinaridade? Depois de compreender esses dois aspectos, iremos voltar a atenção para o papel e a importância do método e da técnica na pesquisa. Será uma satisfação caminharmos ao longo do capítulo e nos depararmos sobre a temática dos fundamentos da pesquisa científica. Será que somos mais conservadores ou flexíveis na busca das respostas? Vamos juntos descobrir. O QUE É A PESQUISA CIENTÍFICA Afinal, o que é pesquisa científica? O conhecimento científico é produzido pela investigação científica, através de seus métodos. Resultante do aprimoramento do senso comum, o conhecimento científico tem sua origem nos seus procedimentos de verificação baseados na metodologia científica. É um conhecimento objetivo, metódico, passível de demonstração e comprovação. O método científico permite a elaboração conceitual da realidade que se deseja verdadeira e impessoal, passível de ser submetida a testes de falseabilidade. Contudo, o conhecimento científico apresenta um caráter provisório, uma vez que pode ser continuamente testado, enriquecido e reformulado. Para que tal possa acontecer, deve ser de domínio público (FONSECA, 2002, p. 11). O que é esse aprimoramento do senso comum? Assim como o senso comum passa a se apresentar um processo de repetição, precisa-se ter cuidado para que os processos investigativos também não se transformem em dogmas eternos, assim façamos, a partir da pesquisa científica, buscar elementos, releituras dos cenários. Como toda atividade racional e sistemática, a pesquisa exige que as ações desenvolvidas ao longo de seu processo sejam efetivamente planejadas. De modo geral, concebe-se o planejamento como a primeira fase da pesquisa, que envolve a formulação do problema, a especificação de seus objetivos, a construção de hipóteses, a operacionalização dos conceitos etc. Em virtude das implicações extracientíficas da pesquisa, consideradas na seção anterior, o planejamento deve envolver também os aspectos referentes ao tempo a ser despendido na pesquisa, bem como aos recursos humanos, materiais e financeiros necessários à sua efetivação (GIL, 2007, p. 19). Pesquisa científica - processo de planejamento e organização Fonte: Elisa Riva - Domínio público - Pixabay.com Realizar um estudo deve levar em conta: 1. tempo; 2. local; 3. recursos; 4. condições. Conforme PITTA e CASTRO (2016), a pesquisa científica deverá ser composta de três fases: planejamento, execução e divulgação. A primeira fase, o planejamento, é composta por cinco itens: ideia brilhante (a pergunta da pesquisa); plano de intenção (o resumo do projeto de pesquisa); revisão da literatura; teste de instrumentos e de procedimentos; projeto de pesquisa. FUNDAMENTAL: é preciso observar o caráter científico e acadêmico na divulgação. A RELAÇÃO ENTRE PRÁTICA E TEORIA A pesquisa como um todo é um longo processo de aprendizagem, pois em cada etapa e momento, aspectos novos são apresentados e possivelmente aprendidos. Pesquisa significa diálogo crítico e criativo com a realidade, culminando na elaboração própria e na capacidade de intervenção. Em tese, pesquisa é a atitude do "apreender a apreender", e, como tal, faz parte de todo processo educativo e emancipatório (DEMO, 1993, p.80). É no diálogo que se abre a possibilidade de se aprender ou ainda de se responder, pois na medida em que se vai dialogando, o que ocorre é um momento de interação. A realidade que se quer captar é a mesma para todos, mas para captar é preciso concepção teórica dela, que pode ser diferente em todos, dependendo do que se define por ciência, por método, ou do ponto de partida e do ponto de vista, ou da ideologia subjacente, ou de circunstâncias sociais condicionantes ou condicionadas por interesses históricos dominantes. Se numa teoria nunca está inclusa a realidade toda, mas tão-somente a maneira de a conceber, muito menos seria pensável encerrar em manifestações empíricas. A importância da hermenêutica está precisamente no reconhecimento de que a interpretação é inevitável. A realidade como tal não depende da interpretação para existir: existe com ou sem intérprete. Mas a realidade conhecida é inevitavelmente aquela interpretada. Caso contrário, seria ininteligível a disputa teórica entre quadros interpretativos diferentes e mesmo contraditórios (DEMO, 2006, p. 21). Ou seja, o ponto de observação, a realidade é a mesma, mas as analogias, interpretação demonstram a estrutura teórica, as informações e o conhecimento que cada um apresenta nessa jornada. A teoria é o elemento conceitual, abstrato que pode conduzir em uma direção ou outra. Nesse sentido, poder conciliar a teoria com a prática é aproximar o que se pensa com a exemplificação. A pesquisa prática "que nunca pode ser bem-feita sem teoria, método e empiria" é modo salutar de produção de conhecimento, que possui ainda a vantagem de puxar para o cotidiano a ciência. Pode resvalar facilmente para o senso comum, mas pode adquirir tonalidades muito criativas da sabedoria e do bom senso. Pesquisa prática não significa apenas a noção de aplicabilidade concreta, porque seria irônica uma teoria não-aplicável, mas sobretudo a prática como parte integrante do processo científico como tal. Consequência disso será que prática deve ser estritamente curricular, não fazendo sentido a noção truncada de estágio. Pesquisa prática quer dizer "olhos abertos" para a realidade, tomando-a como mestra de nossas concepções (DEMO, 2006, p. 28). Se por um lado a teoria questiona, por outro a prática demonstra o olhar e a compreensão do que se tinha. É complicado afirmar o que vem antes, se é a teoria ou a prática, mas o fundamental é que elas precisam dialogar para evidenciar o processo de aprendizagem. Por um lado as coisas estão dadas de uma forma, agora, a partir do momento em que se questiona essa realidade, começa-se a observar de outra forma o processo. As diversificações na busca do saber e do conhecimento, segundo caracteres e potenciais humanos, originaram contingentes teóricos e práticos diferentes a serem destacados em níveis e espécies. O homem, em seu ato de conhecer, conhece a realidade vivencial, porque se os fenômenos agem sobre os seus sentidos, ele também pode agir sobre os fatos, adquirindo uma experiência pluridimensional do universo. De acordo com o movimento que orienta e organiza a atividade humana, conhecer, agir, aprender e outros conhecimentos, se dão em níveis diferenciados de apreensão da realidade, embora estejam inter-relacionados (TARTUCE, 2006, p. 5). São as aprendizagens e vivências que enriquecem o processo da pesquisa. Nesse sentido, o diálogo entre os pesquisadores, assim como entre a ciência e a prática, são fundamentais para se entender e compreender a complexidade dos fundamentos da pesquisa científica. A ciência é todo um conjunto de atitudes e atividades racionais, dirigidas ao sistemático conhecimento com objetivo limitado, capaz de ser submetido à verificação [...] A ciência é um conjunto de conhecimentos racionais, certos ou prováveis, obtidos metodicamente, sistematizados e verificáveis, que fazem referência a objetos de uma mesma natureza (LAKATOS & MARCONI, 1991, p. 80). A ciência é um processo sem fim, pois em cada momentonovas descobertas precisam ser superadas. A INVESTIGAÇÃO CIENTÍFICA E A INTERDISCIPLINARIDADE A noção de investigação é sempre em direção a, isto é, qual é o sentido que pode chegar a determinado ponto! Para se investigar, o que é preciso? Em um primeiro momento o que se faz necessário saber é o tipo de investigação, pois uma investigação pode ser científica, pericial, policial, de endereços, de lojas, de hospitais, de empregos e assim por diante. Independente do tipo de investigação, o ponto de partida sempre é a informação. É a partir da informação que as demais conquistas podem ser procuradas. Agora, o que se exige na continuidade é o rigor e o compromisso da verdade. Também é preciso frisar que apostar na interdisciplinaridade significa defender um novo tipo de pessoa, mais aberta, mais flexível, solidária, democrática. O mundo atual precisa de pessoas com uma formação cada vez mais polivalente para enfrentar uma sociedade na qual a palavra mudança é um dos vocábulos mais frequentes e onde o futuro tem um grau de imprevisibilidade como nunca em outra época da história da humanidade. (SANTOMÉ, 1998, p. 45). O processo requer que exista uma inter-relação com a outra área, pessoa, disciplina e perspectiva, exige a integração e o uso de outros métodos e técnicas para que possa existir a aproximação. Esse olhar de integração e multiplicidade requer que no processo não haja dono, pois para ser interdisciplinar é necessário se comunicar com outras áreas e saberes. Conhecer a si mesmo é conhecer em totalidade, interdisciplinarmente. Em Sócrates, a totalidade só é possível pela busca da interioridade. Quanto mais se interioriza, mais certezas vão se adquirindo da ignorância, da limitação, da provisoriedade. A interioridade nos conduz a um profundo exercício de humildade (fundamento maior e primeiro da interdisciplinaridade). Da dúvida interior à dúvida exterior, do conhecimento de mim mesmo à procura do outro, do mundo. Da dúvida geradora de dúvidas, à primeira grande contradição e nela a possibilidade de conhecimento [...]. Do conhecimento de mim mesmo ao conhecimento da totalidade (FAZENDA,1999, p. 16). Esse conhecimento pessoal nos dá a dimensão de como podemos estar próximos ou distantes uns dos outros e, por vezes, de nós mesmos. São as dúvidas que nos lançam para a investigação e se nesse momento é possível olhar para o lado e verificar a riqueza e o que aí está sendo feito, estaremos aprendendo que o espírito científico precisa ser cooperativo e participativo, pois está aí o triunfo que precisa fundamentar a pesquisa científica. A INFLUÊNCIA DO MÉTODO E DA TÉCNICA NA PESQUISA Afinal, o que define o método e a técnica na pesquisa? Primeiramente, o método é o caminho que precisa ser percorrido para se chegar ao ponto final. Já as técnicas são definidas pelas habilidades que caracterizam e facilitam percorrer esse caminho. Assim como os métodos, as técnicas são fatores importantes na construção do conhecimento. O homem é, por natureza, um animal curioso. Desde que nasce interage com a natureza e os objetos à sua volta, interpretando o universo a partir das referências sociais e culturais do meio em que vive. Apropria-se do conhecimento através das sensações que os seres e os fenômenos lhe transmitem. A partir dessas sensações elabora representações. Contudo, essas representações não constituem o objeto real. O objeto real existe independentemente de o homem o conhecer ou não. O conhecimento humano é na sua essência um esforço para resolver contradições, entre as representações do objeto e a realidade do mesmo. Assim, o conhecimento, dependendo da forma pela qual se chega a essa representação, pode ser classificado de popular (senso comum), teológico, mítico, filosófico e científico (FONSECA, 2002, p. 10). Se o homem é por natureza um ser curioso, é fundamental que a sua curiosidade seja direcionada em algo que justifique a investigação. Se existe a ideia de se verificar os dados estatísticos, precisamos nos valer de métodos. Agora, se se quer compreender a funcionalidade de algo dentro de uma estrutura biológica, social e cultural, o método a ser trabalhado é o funcionalista. No momento em que se quer saber os detalhes de uma situação específica, é hora de se trabalhar com o método de estudo de caso. Assim como o método me dá o caminho, tenho que ter o cuidado de não fazer o mesmo caminho e chegar aos mesmo resultados. Minayo & Minayo-Gómez (2003, p. 118) nos apresentam três considerações importantes, que são: 1) Não há nenhum método melhor do que o outro, o método, "caminho do pensamento", ou seja, o bom método será sempre aquele capaz de conduzir o investigador a alcançar as respostas para suas perguntas, ou dizendo de outra forma, a desenvolver seu objeto, explicá-lo ou compreendê-lo, dependendo de sua proposta (adequação do método ao problema de pesquisa); 2) Os números (uma das formas explicativas da realidade) são uma linguagem, assim como as categorias empíricas na abordagem qualitativa o são e cada abordagem pode ter seu espaço específico e adequado; 3) Entendendo que a questão central da cientificidade de cada uma delas é de outra ordem [...] a qualidade, tanto quantitativa quanto qualitativa depende da pertinência, relevância e uso adequado de todos os instrumentos. O método ou técnica mais apropriado é aquele que no momento nos auxiliam na construção do conhecimento e no desvelamento da verdade. CONSIDERAÇÕES FINAIS No decorrer do capítulo sobre os fundamentos da pesquisa científica, analisamos o conceito de pesquisa, a relação entre teoria e prática para, posteriormente, analisarmos os conceitos de investigação e interdisciplinaridade. Por fim, verificou-se a influência do método e da técnica na pesquisa. Agora é o momento de afirmar que os fundamentos da pesquisa científica precisam estar pontuados em seis pilares, que são: concreto, pois precisa fazer parte da vivência e das experiências socioculturais; geral, pois o olhar da ciência exige algo que se aplique para o universal e não para o particular; sistemático, pelo fato de que na sua estrutura uma etapa completa a outra; acumulativo, pelo fato de uma pesquisa e etapa servir de base para novas pesquisas; verificável, isto é, é possível ser testado e examinado se aquilo que se defende é verdadeiro e correto; verdadeiro, pois o fundamento central requer que aquilo que apresenta tenha a consistência de ser digno de fé. A ciência é um processo que não se encerra em um outro fundamento, mas no desenvolvimento da verdade. DEMO, Pedro. Pesquisa: princípio científico e educativo. 12. ed. São Paulo: Cortez, 2006. _____. Desafios modernos de educação. 2. ed. Petrópolis: Vozes, 1993. FAZENDA, Ivani. Interdisciplinaridade: história, teoria e pesquisa. 4. ed. Campinas: Papirus, 1999. FONSECA, J. J. S. Metodologia da pesquisa científica. Fortaleza: UEC, 2002. Apostila.LAKATOS, E. M.; MARCONI, M. A. Fundamentos de metodologia científica. 3. ed. rev. ampl. São Paulo: Atlas, 1991. GERHARDT, Tatiana Engel; SILVEIRA, Denise Tolfo. Métodos de pesquisa. Coordenado pela Universidade Aberta do Brasil - UAB/UFRGS e pelo Curso de Graduação Tecnológica - Planejamento e Gestão para o Desenvolvimento Rural da SEAD/UFRGS. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2009. Disponível em: http://www.ufrgs.br/cursopgdr/downloadsSerie/derad005.pdf. Acesso em: 30 ago. 2016. GIL, Antônio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2007. GOERGEN, Pedro. Ciência, sociedade e universidade. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101- 73301998000200005. Acesso em: 20 ago. 16. MINAYO, M. C. S.; MINAYO-GOMÉZ, C. Difíceis e possíveis relações entre métodos quantitativos e qualitativos nos estudos de problemas de saúde. In: GOLDENBERG, P.; MARSIGLIA, R. M. G.; GOMES, M. H. A. (Orgs.). O clássico e o novo: tendências, objetos e abordagens em ciências sociais e saúde. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2003, p. 117-42. PITTA, Gulherme Benjamin Brandão; CASTRO, Aldemar Araújo. A pesquisacientífica. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/jvb/v5n4/v5n4a01.pdf. Acesso em: 30 ago. 2016. SANTOMÉ, Jurjo Torres. Globalização e interdisciplinaridade: o currículo integrado. Porto Alegre: Artmed, 1998. TARTUCE, T. J. A. Métodos de pesquisa. Fortaleza: UNICE - Ensino Superior, 2006. Apostila. Ulbra EAD Av. Farroupilha, 8001 · Prédio 11, 2º andar, corredor central · Bairro São José · Canoas/RS · CEP 92425- 900Telefone: 0800.051.4131 · E-mail: portalead@ulbra.br
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