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Página 1 Caso de Negócio – Implantação de Sistema ERP O contexto A empresa NewX é uma tradicional organização da indústria de embalagens, que tem em seu portfólio todos os tipos de produtos, dos mais simples aos mais refinados. A empresa que havia iniciado sua operação como uma cadeia de lojas de vendas de embalagens no varejo, poucos anos depois criou a sua própria fábrica de embalagens e passou a vender embalagens no atacado para outras indústrias, especialmente de eletroeletrônicos. Estabelecida no mercado desde 1925, a NewX é reconhecida como referência em sua área de atuação e usa tecnologia de ponta em sua área industrial. Seu fundador é venerado como um empreendedor altamente reconhecido no mercado e apesar de ter se aposentado há cerca de 10 anos, ainda hoje é lembrado com carinho pelo corpo funcional. Na última década a empresa passou por três reestruturações. Executivos de mercado foram contratados e alguns colaboradores emergiram a posições executivas. Os executivos que fizeram carreira na empresa gostam muito da velha maneira de se conduzir o negócio, afinal, muitos trabalham há anos com a família proprietária do negócio e fazem parte da história de sucesso da empresa. A atual organização conta com: a) Um diretor geral; b) Quatro diretores das áreas: I. Marketing e Comercial; II. Finanças; III. Industrial, TI, Compras e Logística; IV. RH, Jurídico e Serviços Gerais. Cada diretoria conta com sua equipe de gerentes gerais dedicados exclusivamente a um departamento da empresa. Na prática, a diretoria Página 2 se posicionava como uma entidade estratégica, responsável pelas diretrizes da organização, mas com pouco ou nenhum envolvimento com a operação. Os gerentes gerais eram de fato os responsáveis pela condução da empresa. A palavra de um gerente geral era lei e por vezes, apenas suas argumentações, mesmo sem nenhum embasamento em dados e fatos, era assumida como uma verdade absoluta, sem ser questionada pelos diretores. Disputas constantes e fragmentações departamentais eram perceptíveis e conhecidas por todos. O ônus da prova cabia sempre ao acusado, nunca ao acusador. As discussões não conduziam ao aprendizado e melhorias contínuas, mas à pecha de “talento magnífico” ou “líder incompetente”. Dados tinham pouca relevância, bastava a intuição de um líder e frases de efeito para que crenças fossem instaladas. As aparências valiam mais do que os fatos. Nos bastidores o ambiente era de intrigas e pouca lealdade, especialmente entre os gerentes gerais. Alguns diretores estavam próximos da aposentadoria e sua bonificação anual parecia ser o grande motivador para suas decisões. O diretor geral havia chegado há pouco mais de um ano na organização e logo percebeu que embora a empresa tivesse investido milhões de dólares na implantação de um sistema ERP que incluía módulos especializados na parte comercial, todos os problemas relacionados as metas não alcançadas, eram justificados por ineficiências desse sistema. O ERP havia sido implantado há apenas quatro anos, em um projeto que gerou muito desgaste, atrasos e custo acima do orçado. Durante o projeto de implantação deste sistema os gerentes gerais das áreas de Logística e Comercial resistiram muito às mudanças nos processos alegando que o modelo padronizado do ERP não se encaixava nas necessidades do negócio. Houve excessiva demanda de customizações que desfiguraram o modelo original do sistema de tal forma que upgrades de atualização não seriam mais possíveis. As customizações também geraram inconsistências em alguns processos de negócio que em algumas situações apresentavam problemas técnicos difíceis de serem resolvidos e impactos nos clientes. Como a empresa era gerida informalmente, regras e processos de negócio não estavam Página 3 documentados, dificultando ainda mais a gestão baseada em dados e fatos e a tomada de decisão em relação às customizações demandadas. O Mercado O mercado estava vivendo uma grande transformação com a chegada de novos entrantes e o impacto da Internet que afetava principalmente as vendas no varejo. Para piorar, uma crise internacional havia afetado a demanda do atacado. Novas diretrizes estratégicas Com a chegada do novo Diretor Geral, a organização foi levada a repensar suas diretrizes estratégicas, focando em três áreas principais. Eficiência A base para gestão dos custos e competitividade através de processos de negócio definidos a partir de boas práticas e inovações incrementais que proporcionem ganhos de produtividade. Cultura organizacional Clima voltado para a excelência nas relações interpessoais, com sólidas parcerias com stakeholders externos (fornecedores, clientes, sindicatos etc). Tecnologia Elemento motriz da eficiência, estrutural para uma gestão orientada por informações confiáveis em tempo real e viabilizador de novos negócios. Diante deste cenário, a empresa definiu como prioridade resolver a situação do sistema ERP e seus módulos comerciais, como forma de estabilizar os processos de negócio da organização e se reestruturar para vencer a crise. Esta mudança seria tamanha que além de envolver avanços tecnológicos, melhoria de processos e promover ganhos de eficiência, representava também a oportunidade de evoluir a cultura organizacional na direção desta diretriz estabelecida. Página 4 O Projeto O legado da implantação, realizada quatro anos antes, era tão negativo que a melhor alternativa parecia ser começar tudo do zero. Conduzir o projeto como se fosse uma nova implantação e não um upgrade do sistema atual. O estresse do projeto anterior fora demasiado, demandando incontáveis horas extras, inclusive nos finais de semana, atrasos e um orçamento pelo menos duas vezes maior do que o previsto. Os usuários estavam frustrados com o resultado, a área de TI estava atormentada com o legado que tinha herdado, o fornecedor desconfortável com as customizações que haviam dilacerado o produto original e a diretoria descrente no sistema e preocupada com seus reflexos no negócio. Apesar dos problemas, este sistema era o coração da empresa, uma vez que, além de processar as transações tradicionais do back office, estende- se com módulos específicos para toda a área comercial. Em resumo, processa 100% das receitas e despesas da organização. Estima-se que o desafio envolverá 116 pessoas entre equipe interna e fornecedores, dezenove executivos, sendo quatro full time, quinze meses de projeto, 1030 usuários, 210 mil horas de trabalho e um cronograma de mais de oito mil linhas. Pelo menos metade dos executivos envolvidos é contra o projeto e vê neste a oportunidade de justificar suas metas departamentais não atingidas. Dentre os impactos estimados pelos gerentes gerais estão: • Perda de 10% da carteira de clientes devido a problemas na migração de dados e novos processos de comercialização; • Queda de 5% no EBITDA; • Ampliação do custo de logística em 7%; • Perda de 10% de produtividade gerando a ampliação do corpo funcional. O projeto serviria como oportunidade para justificar metas de desempenho inferiores àquelas existentes antes da implantação da mudança. Vale ressaltar que tais metas são o mais importante parâmetro Página 5 para remuneração variável dos executivos. O clima é de individualismo departamental, cada qual querendo resolver todos os seus problemas e ajustar o sistema às suas necessidades e não seus processos aos propostos pelo sistema. O relacionamento com os fornecedores é o pior possível, não há confiança mútua e por vezes negociações descambam para acusações de ambos os lados. Parte da equipe de consultores do fornecedor principal é formada por especialistas vindos da Europa. Outra parte reside em uma cidade diferente do local onde o projeto será desenvolvido.Para piorar a situação, um dos diretores responsável por quatro departamentos diretamente envolvidos no projeto está prestes a se aposentar, o que cria uma verdadeira luta pela hegemonia dentre os executivos que almejam substituí-lo. Um deles é o gerente do projeto e seu sucesso na empreitada pode representar um posicionamento positivo como sucessor. A empresa toda questiona se o melhor não seria abandonar este ERP e migrar para um novo modelo de arquitetura de sistemas. Alguns executivos defendem o desenvolvimento de um sistema customizado. Outros defendem a compra de um sistema específico para o comercial e sua posterior integração com o ERP. Outros entendem que uma nova versão do mesmo ERP, recentemente lançada, pode ser uma boa solução. Apesar da maioria dos gerentes gerais serem profissionais com idade média de 45 anos, uma parte da equipe é bastante jovem e sem conexão com o passado. Esta equipe, não tem experiência em projetos, mas como usuários importantes que sofrem bastante com os problemas trazidos pelo sistema anterior, apresentam um forte desejo de mudança.
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