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REGENERAÇÃO E REPARO TECIDUAL - Alguns tecidos podem ser completamente reconstituídos após uma lesão, exemplo: o osso após uma fratura ou o epitélio após uma ferida superficial na pele. - A regeneração pode ocorrer por meio da proliferação de células adjacentes de sobrevivência e também pela atividade das células tronco do tecido. - Na maioria dos casos, a capacidade de restauração é limitada e a lesão grave do tecido resulta em um dano extensivo dos elementos do parênquima e/ou dos elementos estromais. Obs.: Chama-se estroma o tecido de sustentação de um órgão, ou seja, que serve para sustentar as células funcionais do órgão. Com exceção do cérebro e da medula espinal, o estroma é constituído de tecido conjuntivo (mesenquimatoso). - A resposta fibroproliferativa (também chamada de fibrose) deposita colágeno e outros componentes da matriz extracelular (cicatriz, ou seja, remendam em vez de regenerar). - A resolução dos exsudatos inflamatórios também leva à fibrose através de um processo chamado de organização. - Na maioria dos casos, a cura é a combinação da regeneração e da cicatrização. O resultado será afetado por: 1) Capacidade proliferativa do tecido danificado. 2) Integridade da matriz extra celular. 3) A cronicidade da inflamação associada. à Principais mecanismos associados ao sistema proliferativo: - Múltiplos tipos de células se proliferam durante o reparo do tecido: as remanescentes do tecido lesionado, as endoteliais. - Ações conjuntas: angiogênese (geração de novos vasos sanguíneos) para fornecer os nutrientes necessários para o reparo e os fibroblastos (fonte de MEC da cicatriz). Obs.: A habilidade das células, que não são fibroblastos nem endoteliais, de restaurar o tecido normal, depende da capacidade proliferativa intrínseca. 1) Tecidos lábeis ou instáveis: dividem-se continuamente. 2) As células são constantemente substituídas pela proliferação de células maduras e/ou maturação de células-tronco do tecido. 3) Células hematopoiéticas da medula e a maior parte do epitélio superficial, por exemplo. - Tecidos estáveis: células quiescentes. Estão em G0 do ciclo celular com a atividade proliferativa basal mínima. Podem se dividir após uma lesão ou perda da massa tecidual. Os exemplos incluem a maioria do parênquima tecidual sólido (fígado, rim, pâncreas, células endoteliais, fibroblastos, células do músculo liso). Ângelo Antônio Fonsêca - Tecidos permanentes: células permanentemente diferenciadas, não possuindo capacidade proliferativa na vida após o nascimento. Destaque para os cardiomiócitos e para a maioria dos neurônios. Obs.: Há replicação limitada de células-tronco e diferenciação no coração e no cérebro, ou seja, é insuficiente produzir qualquer regeneração tecidual significativa. Assim, as lesões cardíaca e cerebral são tipicamente irreversíveis, resultando em cicatriz. - Em geral, o músculo esquelético também é classificado como “permanente”. Entretanto, as células-satélite fixadas à bainha endomisial são responsáveis pela capacidade regenerativa (hiperplasia). A proliferação da célula é conduzida por fatores de crescimento sintetizados por macrófagos, células epiteliais e estromais e sinais derivados de interações da integrina com a MEC. Obs.: Alguns fatores de crescimento se ligam a proteínas da MEC, podendo aparecer em altas concentrações. à Tecidos lábeis: - As células lesionadas são rapidamente substituídas por meio da proliferação de células residuais e pela diferenciação das células- tronco teciduais. Esse processo ocorre desde que a membrana de base subjacente esteja intacta. - A perda de células sanguíneas é corrigida pela proliferação de células-tronco hematopoiéticas guiadas por fatores de crescimento (CSFs/ fator estimulador de colônias). - A regeneração do tecido parenquimatoso, composto em sua maior parte de populações celulares, em geral, é limitada (pâncreas, as glândulas adrenais, a tireoide e o pulmão, por exemplo). Elas ainda possuem uma capacidade regenerativa, porém limitada. Obs.: A nefrectomia (retirada de um dos rins) elicia um processo de hipertrofia compensatória e hiperplasia das células-tronco do ducto proximal do rim remanescente. Obs.: A exceção é o fígado, que tem uma capacidade regenerativa extraordinária. “Mito do Prometeu”. Entretanto, o dano tecidual extensivo leva a uma regeneração incompleta, acompanhado de cicatrização. Assim, um abcesso no fígado levará à formação de cicatriz, embora as células remanescentes tenham capacidade de se regenerar. - A regeneração do fígado ocorre por meio de dois mecanismos principais: a proliferação dos hepatócitos remanescentes e da repopulação das células progenitoras. Obs.: A ressecção de até 90% do fígado pode ser corrigida pela proliferação residual de hepatócitos desencadeada por citocinas e fatores de crescimento de polipeptídeos. à Macrófagos: - A maioria do tipo M2 (implicada no reparo tecidual, com perfil anti- inflamatório). - Removem os agentes agressivos e o tecido morto. - Fornecem fatores de crescimento para proliferação celular. - Secretam citocinas que estimulam a proliferação de fibroblastos e a síntese e deposição do tecido conjuntivo. - O reparo começa dentro do período de 24h após a lesão. - Três a cinco dias, o tecido de granulação fica aparente (angiogênese). - Formação de novos vasos sanguíneos não vedados, por causa das junções endoteliais e porque o VEGF aumenta a permeabilidade celular. Esses fenômenos são responsáveis pelo edema nas feridas que estão curando. à Tecido de granulação: - Forma-se por meio da: 1) Migração e da proliferação de fibroblastos; 2) Deposição do tecido conjuntivo frouxo; - A quantidade do tecido de granulação depende do tamanho do déficit tecidual criado pela ferida e da intensidade da inflamação. - A quantidade do tecido conjuntivo aumenta progressivamente no tecido de granulação. à Angiogênese: - Vasodilatação em resposta ao óxido nítrico (NO) e também à permeabilidade aumentada em resposta ao VEGF. - Separação dos pericitos da parede dos vasos. Ruptura da membrana basal, permitindo o surgimento do broto vascular. Obs.: Pericitos são células que revestem os vasos sanguíneos, desempenhando um importante papel na estabilização e no suporte desses vasos. - A sinalização envolve o VEGF-A, estimulando a migração e a proliferação de células endoteliais. Ele inicia o processo de brotamento capilar na angiogênese. Promove a vasodilatação, estimulando a produção de NO e contribui para a formação do lúmen vascular. - Fatores de crescimento do fibroblasto, principalmente FGF-2, também estimulam a proliferação de células endoteliais e a migração de macrófagos, células epiteliais e fibroblastos. - As angiopoietinas 1 e 2 conduzem à maturação estrutural de novos vasos, recrutando pericitos e células do músculo liso e conduzindo a deposição do tecido conjuntivo. - Ang 1 interage com o receptor tirosina quinase sobre as células endoteliais chamadas Tie2. - O PDGF e o TGF-beta também participam do processo de estabilização. - A sinalização Notch: por meio da “conversa” com o VEGF, a via de sinalização Notch regula o brotamento e a ramificação de novos vasos e, assim, garante que os novos vasos formados mantenham o espaçamento adequado para suprir de sangue, eficientemente, o tecido em cicatrização. - Proteínas de MEC participam do processo de brotamento dos vasos na angiogênese, em grande parte por meio de interações com receptores de integrina das células endoteliais e fornecendo o arcabouço para o crescimento do vasos. à Fatores de crescimento envolvidos na cicatrização e reparo: - São mediadores biológicos naturais que regulam eventos celulares cruciais na reparação tecidual - São definidos como peptídeos com determinados receptores teciduais.- TGF-beta é o mais importante, pois estimula a migração e a proliferação de fibroblastos, a síntese crescente de colágeno e fibronectina e a degradação decrescente de MEC ao inibir MMPs (metaloproteinases). - Os níveis de TGF-beta no tecido são regulados pela ativação pós- transcricional de TGF-beta latente, pela taxa de secreção da molécula ativa e fatores de MEC, que incluem notavelmente integrinas que aumentam ou diminuem a atividade da citocina. Obs.: O TGF-beta pode ser considerado uma citocina anti- inflamatória. à Processo de cura: - Os fibroblastos se tornam progressivamente menos proliferativos e mais sintéticos e relação ao colágeno, aumentando a deposição da MEC. Obs.: O colágeno é particularmente crítico à força da ferida. - O tecido de granulação torna-se uma cicatriz, contendo, principalmente, fibroblastos fusiformes, colágeno denso e outros componentes da MEC. - Haverá uma progressiva regressão vascular, aparecendo uma cicatriz amplamente avascular com consequente contração dessa cicatriz. - Alguns fibroblastos desenvolvem características semelhantes às do músculo liso (miofibroblastos). à Cicatrização de ferida cutânea por primeira e segunda intenção: # Cura por primeira intenção (ou união primária): - Ocorre quando a lesão envolve apenas a camada epitelial. - A ferida é fechada por aproximação de suas bordas, pois há pouca perda tecidual e baixo índice de complicações. - O reparo é basicamente realizado pela regeneração epitelial. - Ex.: Incisão cirúrgica não infectada e aproximada por suturas cirúrgicas. Há apenas a ruptura focal da membrana basal e morte celular relativamente mínima. - A ferida ativa as vias de coagulação. Cessa o sangramento e age como um arcabouço para a migração de células. À medida que ocorre a desidratação, forma-se uma crosta. - Ação dos neutrófilos nas primeiras 24 horas. Eles chegam à margem de incisão e liberam enzimas proteolíticas, realizando a limpeza dos detritos. - Nas primeiras 48 horas há células epiteliais de ambas as extremidades migrando e se proliferando ao longo da derme e depositando material sobre a membrana basal à medida que progridem. - No terceiro dia os neutrófilos são substituídos por macrófagos e o tecido de granulação invade de forma progressiva o espaço da incisão. - No quinto dia ocorre a neovascularização com uma migração contínua de fibroblastos, havendo, assim, a produção das proteínas da MEC. - A epiderme recupera sua espessura normal, pois as células superficiais geram uma arquitetura epidérmica madura com queratinização superficial. - Na segunda semana já existe um acúmulo contínuo de colágeno, proliferação de fibroblastos e uma diminuição progressiva do infiltrado leucocitário, do edema e da vascularidade. # Cura por segunda intenção (ou união secundária): - Acontece quando a perda de tecido é mais extensa. - As bordas das feridas não se unem e, portanto, esse espaço precisa ser preenchido por tecido de granulação que, na sequência, irá se reepitelizar. - Ex.: Grandes feridas, abcessos, ulceração e necrose isquêmica (infarto). - A reação inflamatória é mais intensa e há um tecido de granulação abundante (acúmulo aumentado da MEC e formação de uma cicatriz grande). - A contração da ferida geralmente ocorre em grandes feridas superficiais. - Dentro de um prazo de 6 semanas, grandes áreas da pele podem se contrair em 5 a 10% do tamanho original. à Fibrose: - Ocorre em órgãos paranquimatosos. - Deposição excessiva do colágeno e de outros componentes da MEC em um tecido, como consequência da inflamação crônica, ou no miocárdio após extensa necrose isquêmica. - Embora a cicatriz e a fibrose sejam muitas vezes usadas de forma intercambiável, a fibrose é mais usada em referência à deposição anormal do colágeno no cenário de doenças crônicas (em geral, inflamatórias). - O mecanismo que forma a cicatriz é altamente dependente de TGF- beta. - Pode causar disfunção significativa dos órgãos e até sua falência. à Fatores locais e sistêmicos que influenciam na cicatrização: - Locais: a dimensão e a profundidade da lesão, grau de contaminação, presença de secreções, hematoma e corpo estranho e necrose tecidual e infecção local. - Os fatores sistêmicos são aqueles que estão relacionados ao paciente como idade, estado nutricional, doenças crônicas e terapias medicamentosas associadas. à Defeitos da cicatrização: feridas crônicas: - Úlceras venosas das pernas: resultado de hipertensão venosa crônica, que pode ser causada por varizes graves ou insuficiência cardíaca congestiva. Não cicatrizam devido ao mau fornecimento de oxigênio para o local da úlcera. - Úlceras arteriais: desenvolvem-se em indivíduos com aterosclerose das artérias periféricas, especialmente associadas ao diabetes. A isquemia resulta em atrofia e então necrose da pele e dos tecidos subjacentes. - Úlceras de pressão: causadas por compressão prolongada dos tecidos contra um osso subjacente, por exemplo, em pessoas acamadas. - Úlceras diabéticas: a necrose tecidual e a cicatrização deficiente são o resultado de doença dos pequenos vasos, que causam isquemia, neuropatia, anormalidades metabólicas sistêmicas e infecções secundárias. à Anormalidades no reparo do tecido: # Formação deficiente de cicatriz: - Deiscência da ferida ou à ulceração. - Tecido de granulação inadequado ou deposição de colágeno e remodelagem. # Reparo excessivo: - Tecido excessivo de granulação (“carne esponjosa”). - Tecido protuso: acima da pele circundante, bloqueando a reepitelização. - Acúmulo excessivo de colágeno, gerando uma cicatriz hipertrófica. - Queloide: a progressão além da área original da lesão sem a regressão subsequente. - O queloide é o excesso de deposição de colágeno na pele, formando uma cicatriz sobrelevada. # Formação de contraturas: - Processo exagerado da contração da ferida. - Consequências: deformidade da ferida, por exemplo. - Ex.: Deformidades das mãos em forma de garras, limitando a mobilidade das articulações. à Diferença entre cicatriz hipertrófica e queloide: - A cicatriz hipertrófica é aquela que fica um pouco endurecida e mais alta, ou grossa como popularmente é chamada. Já a caracterização de queloide é quando o tecido cicatricial é extremamente duro e isso ocorre fora dos limites da cicatriz.
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