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Fechamento SP1: Respostas: 1. Quais são as formas que a dor aguda é processada perifericamente? (processo inflamatório, neurotransmissores, neurorreceptores, mediadores) 2. Quais são as vias da dor aguda? (Detalhar toda via - mecanismos periféricos e espinais) 3. De que forma ocorre o processo de modulação da dor? (periférica e central) 4. Qual é a patofisiologia da dor causada por queimadura (estímulo térmico) e contusão (mecânico)? Qual a associação com a via reflexa de afastar o local do calor? 5. Como é realizado o exame físico em casos de queimaduras e contusões e como é feita a classificação? Qual a relação entre a classificação e a dor? 6. Como funciona o mecanismo de ação dos analgésicos não opioides e antinflamatórios no tratamento de contusões e queimaduras? 7. Como ocorre a dor não nociceptiva (psicossomática)? Qual a linha de cuidado disponível para pacientes com esse tipo de dor? (Psicossocial) 8. Quais as problematizações da automedicação pelas pessoas? E quais as orientações sobre o uso inadequado de medicamentos pelos pacientes? Respostas: 1. Quais são as formas que a dor aguda é processada perifericamente? (processo inflamatório, neurotransmissores, neurorreceptores, mediadores). Mecanismos periféricos da dor: As respostas nociceptivas são transmitidas de receptores periféricos para o sistema nervoso central via fibras nervosas mielinizadas, tipo Ad, ou amielinizadas, tipo C (GREENE, 2010), presentes na pele, vísceras, vasos sanguíneos e músculo esquelético (TEIXEIRA, 2005). As terminações nervosas das fibras nociceptivas Ad e C são capazes de transformar o estímulo mecânico, térmico ou químico em estímulo elétrico, o qual será transmitido ao até o SNC e interpretando como dor. As fibras nociceptivas terminam no corno dorsal da medula. Os nociceptores são sensibilizados por ação de substâncias químicas, denominadas algogênicas, liberadas em decorrência de processos inflamatórios, traumáticos e/ou isquêmicos. Entre as substâncias algogênicas podem-se citar acetilcolina, prostaglandinas, histamina, serotonina, bradicinina, leucotrienos, substância P, tromboxana, fator de ativação plaquetária, íons potássio, radicais ácidos, interleucinas, fator de necrose tumoral (TNFa), fator de crescimento nervoso (NGF) e monofosfato cíclico de adenosina (AMPc), dentre outras. A lesão tecidual quando formada por um estímulo desencadeia um processo inflamatório seguido de reparação. As células da lesão liberam enzimas de seu interior, que no ambiente extracelular degradam ácidos graxos de cadeia longa, atuando sobre os cininogênios, que originam a formação de cininas. A bradicinina, quando formada, provoca intensa dilatação arteriolar e aumento da permeabilidade capilar, contribuindo para a propagação da reação inflamatória. A liberação do ácido araquidônico a partir da membrana é produzida por lipases, em particular pela enzima fosfolipase A, cuja ativação induz rápido incremento nos níveis de ácido araquidônico. Essas substâncias originárias do ácido araquidônico promovem diminuição do limiar de excitabilidade dos nociceptores. Células lesadas liberam uma série de mediadores químicos, incluindo substância P, neurocinina A e peptídeo relacionado com o gene da calcitonina, que têm efeitos diretos sobre a excitabilidade de fibras sensoriais e simpáticas. Estes mediadores também promovem vasodilatação com extravasamento de proteínas plasmáticas e recrutamento de células inflamatórias. A bradicinina, a prostaglandina E2, o fator de crescimento nervoso (NGF) e as interleucinas, parecem exercer função fundamental na nocicepção periférica. As prostaglandinas e a bradicinina causam alterações em receptores específicos (TRPV1) acoplados a canais iônicos ligante-dependente via ativação do AMPc, e das proteínas cinases A (PKA) e C (PKC), reduzindo o tempo pós-hiperpolarização da membrana neural, causando redução do limiar para disparo da fibra nervosa. https://www.scielo.br/pdf/rba/v57n1/11.pdf https://www.scielo.br/pdf/rba/v57n1/11.pdf 1) Vias do sistema somatossensorial a) Sistema anterolateral · Processa as sensações de temperatura, dor e tato superficial · Consiste basicamente em fibras dos grupos III e IV, que entram na medula espinal e terminam no corno dorsal · Trajeto: os neurônios de segunda ordem cruzam a linha mediana até o quadrante ântero lateral da medula espinal e ascendem até o tálamo contralateral, no qual fazem sinapse com os neurônios de terceira ordem. Os neurônios de terceira ordem ascendem até o córtex somatossensorial, no qual fazem sinapse com os neurônios de quarta ordem. 2) Dor · Está associada à detecção e percepção de estímulos nocivos (nocicepção) · Os receptores de dor são terminações nervosas livres na pele, nos músculos e nas vísceras · Os neurotransmissores dos nociceptores incluem a substância P. A dor lenta é transportada por fibras C. Caracteriza-se como dor contínua, em queimação ou latejante, que é mal localizada. 3) Dor referida · A dor de origem visceral é referida para locais na pele e segue a regra dos dermátomos. Esses locais são supridos por nervos oriundos do mesmo segmento da medula espinal · Por exemplo, a dor cardíaca isquêmica é referida para o tórax e o ombro. Fonte: Fisiologia - 6ª Ed. - Linda S. Costanzo, Ph.D. Os aminoácidos excitatórios glutamato e o aspartato se ligam a receptores específicos do tipo ionotrópico ou receptores rápidos como o AMPA, o cainato e o NMDA, nos quais o local de ligação do neurotransmissor é parte integrante de um canal iônico, e nos receptores metabotrópicos ou receptores lentos como o receptor Mrglu que são ligados à proteína G. O windup é o resultado da somação de potenciais sinápticos lentos após estimulação aferente repetida de baixa frequência, inferior a 5 Hz por tempo prolongado, o que estimula a liberação de neurotransmissores excitatórios, principalmente glutamato no corno dorsal da medula espinhal, produzindo despolarização relacionada com a remoção do bloqueio voltagem-dependente exercido pelo magnésio nos receptores NMDA, ocorrendo aumento da condutividade ao cálcio e da resposta à dor, a cada estímulo repetido e da mesma intensidade. A potencialização de longo termo parece decorrer da sequência de estímulos nociceptivos breves e de alta frequência, que provocaria a ativação de receptores AMPA e NK1 e de canais de cálcio, ocasionando resposta pós-sináptica excitatória prolongada. 2. Quais são as vias da dor aguda? (Detalhar toda via - mecanismos periféricos e espinais) Via da Dor Espinotalâmica: A informação sobre a dor (como também a temperatura) corporal é conduzida da medula espinhal ao encéfalo pela via espinotalâmica. Diferente da via coluna dorsal-lemnisco medial, os axônios dos neurônios de segunda ordem decussam imediatamente e ascendem através do tracto espinotalâmico ao longo da superfície ventral da medula espinhal (compare as Figuras 12.13 e 12.26). De acordo com o nome, as fibras espinotalâmicas ascendem pela medula espinhal, passam pelo bulbo, ponte e mesencéfalo sem fazer sinapse, até alcançaremo tálamo (Figura 12.29). À medida que os axônios espinotalâmicos percorrem o tronco encefálico, posicionam-se ao longo do lemnisco medial, mas permanecem como um grupo axonal distinto da via mecanossensorial. ● Neurônio 1: Os neurônios associados aos receptores da nocicepção, temperatura e tato grosseiro fazem sinapse com seus neurônios secundários assim que entram na medula espinal (Coluna dorsal). ● Neurônio 2: Os neurônios secundários da nocicepção, temperatura e tato grosseiro cruzam a linha média na medula espinal e se projetam para o encéfalo, sem fazer sinapse na Tronco Encefálico. ● Neurônio 3: No tálamo, os neurônios sensoriais secundários fazem sinapse com os neurônios sensoriais terciários, os quais, por sua vez, projetam-se para a região somatossensorial do córtex cerebral. Além disso, muitas vias sensoriais enviam ramos para o cerebelo, o que permite que ele possa usar a informação para coordenar equilíbrio e movimentos. O córtex somatossensorial (p. 293 - Silverthorn) é a parte do cérebro que reconhece de onde se originam os tratos sensoriais ascendentes. A Figura 12.30 resume as diferentes vias ascendentes para a informação do tato e da dor. Observe que as informações acerca do tato ascende ipsilateralmente, enquanto as informações da dor (e da temperatura) ascendem contralateralmente. Essa organização pode levar a um curioso, ainda que previsível, tipo de déficit em situações de danos ao sistema nervoso. Por exemplo, se um lado da medula espinhal sofrer lesão, certos déficits de mecanossensibilidade ocorrem no mesmo lado da lesão espinhal: insensibilidade ao tato leve, às vibrações de um diapasão sobre a pele e à posição de um membro. Por outro lado, déficits de sensibilidade à dor e à temperatura ocorrerão no lado do corpo oposto ao da lesão espinhal. Outros sintomas, como a deficiência motora e o mapeamento exato dos déficits sensoriais, fornecem informações adicionais acerca do local da lesão medular. Por exemplo, os movimentos ficarão dificultados no lado ipsilateral. O conjunto de sintomas sensoriais e motores que se seguem a uma lesão em um lado da medula espinhal é chamado de síndrome de Brown-Séquard. Via Neoespinotalâmica: ● Via "clássica" de dor e temperatura (dor aguda e bem localizada na superfície do corpo); ● Relacionado a Dor Aguda; ○ Termina assim que o estímulo é removido; ○ Efeitos: Reflexo de retirada (arco reflexo); ● Apresenta 3 neurônios; ○ Neurônio I: ■ Prolongamento periférico; ■ Corpo Celular: Gânglios espinais; ■ Prolongamento central (divisão ascendente e descendente -> + de 1 segmento na medula); ■ Término: Coluna Posterior; ○ Neurônio II: ■ Localização: Coluna Posterior; ■ Axônios cruzam o plano mediano; ■ Constituem o Trato Espinotalâmico Lateral; ■ Na Ponte, constituem o Leminisco Lateral (Tracto espinotalâmico lateral + anterior); ■ Término: Tálamo; ○ Neurônio III: ■ Localização: Tálamo (Núcleo Ventral Posterolateral); ■ Radiações Talâmicas; ■ Término: Córtex (Área somestésica - Giro Pós-Central); - 1o neurônio: Inicia-se da mesma forma que o neurônio da via espinotalâmica lateral e é um neurônio pseudounipolar, cordonal (longo). Seu prolongamento periférico segue das terminações nervosas livres até o corpo celular nos gânglios espinais, onde ganha o prolongamento central, que adentra a medula espinal em sua coluna posterior. Ganha a coluna posterior da medula, onde faz sinapse com o neurônio II. - 2o neurônio: Ocupa a lâmina V de Rexed e cruza o lado oposto pela comissura branca ou no cruza. Seus axônios dirigem-se ao funículo lateral do mesmo lado ou do lado oposto e ascendem para constituir o trato espinorreticular. Na medula, junta-se ao trato espinotalâmico lateral. Vai à formação reticular de todo o tronco encefálico, onde faz sinapse com os neurônios III, IV e V em vários níveis da formação reticular. - 3o, 4o, 5o, 6… neurônios: Na formação reticular, dão origem às fibras reticulotalâmicas, as quais terminam nos núcleos intralaminares do tálamo (lâmina medular interna do tálamo), neurônio VI, com grande campo receptivo. Os neurônios fazem sinapse a partir dessa área do tálamo, com neurônios que se dirigem para áreas límbicas e núcleos da base, neurônios V, V, etc. Neste nível, o estímulo doloroso ganha respostas automáticas e emocionais a estímulos nocivos, por entrar em contato com estruturas que fazem parte do sistema límbico (circuito de Papez). Projetam-se a amplas áreas do córtex cerebral sensorial, neurônio IX , podendo chegar até XII . MINSON, Fabiola Peixoto; MORETE, Marcia Carla; MARANGONI, Marco Aurélio (coords). Dor. Manuais de Especialização. Barueri, SP: Manole, 1 ed., 2015. EXTRA: Fonte: MINSON et al., 2015. 3. De que forma ocorre o processo de modulação da dor? (periférica e central) Regulação/Modulação da dor: ● Neurociência do Bear: O fato de que a percepção da dor é variável está bem estabelecido. Dependendo da atividade simultânea de aferências sensoriais não-dolorosas (inócuas) e do contexto comportamental, o mesmo nível de atividade do nociceptor pode produzir mais ou menos dor. É muito importante compreender essa capacidade de modulação da dor, pois pode oferecer novas estratégias para o tratamento da dor crônica, uma condição que aflige até 20% da população adulta. ● Regulação Aferente: Vimos que um toque leve pode causar dor pelo mecanismo da hiperalgesia. Entretanto, a dor causada pela atividade dos nociceptores também pode ser diminuída pela atividade simultânea em mecanorreceptores de baixo limiar (fibras Aβ - Não nociceptivas). Presumivelmente, isso explica a sensação agradável que se sente quando se massageia a canela depois de contundi-la. Esse mecanismo também pode explicar o efeito de um tratamento elétrico para alguns tipos de dor crônica, intratável. Fios condutores são fixos à superfície da pele, e, quando o paciente simplesmente liga um estimulador elétrico planejado para ativar axônios sensoriais de grande diâmetro, a dor é suprimida. Nos anos 1960, Ronald Melzack e Patrick Wall, do MIT (Instituto Tecnológico de Massachusetts), propuseram uma hipótese para explicar esses fenômenos. A teoria do portão da dor proposta por eles estabelece que determinados neurônios dos cornos dorsais, os quais projetam seus axônios pelo tracto espinotalâmico, são excitados tanto por axônios sensoriais de grande diâmetro como por axônios não-mielinizados de nociceptores. O neurônio de projeção (secundário) também é inibido por um interneurônio, e esse é tanto excitado por axônios sensoriais calibrosos como inibido pelo axônio nociceptivo (Figura 12.32). Por meio desse circuito, a atividade apenas do axônio nociceptivo resultaria em excitação máxima do neurônio de projeção, permitindo que os sinais nociceptivos alcancem o cérebro. Contudo, se os axônios de mecanorreceptores dispararem conjuntamente, eles ativarão o interneurônio que suprimirá os sinais nociceptivos. ● Regulação Descendente: Há inúmeras histórias sobre soldados, atletas e vítimas de tortura que sofreram ferimentos terríveis, mas aparentementenão sentiram dor. Emoções fortes, estresse ou determinação estóica podem suprimir de maneira poderosa as sensações dolorosas. Várias regiões encefálicas estão envolvidas na supressão da dor (Figura 12.33). Uma delas é uma região contendo neurônios no mesencéfalo, chamada de substância cinzenta periaquedutal (PAG, periaqueductal gray matter). Estimulação elétrica da PAG pode causar analgesia profunda que tem sido, algumas vezes, explorada clinicamente. A PAG recebe, normalmente, aferências de várias estruturas do encéfalo, muitas das quais responsáveis pela transmissão de informações relacionadas ao contexto emocional. Os neurônios da PAG enviam axônios descendentes a várias regiões localizadas na linha média do bulbo, especialmente para os núcleos da rafe (cujos neurônios usam o neurotransmissor serotonina). Esses neurônios bulbares projetam os axônios, por sua vez, para os cornos dorsais da medula espinhal, onde podem deprimir de maneira eficiente a atividade dos neurônios nociceptivos. OBS: Os núcleos da Rafe tem como principal função, a secreção de serotonina para o resto do cérebro; ● Cem Bilhões de Neurônios: Existem então mecanismos analgésicos endógenos, ou seja, um sistema de regiões neurais conectadas às vias aferentes nociceptivas, que modulam, ou bloqueiam completamente, a passagem das informações da dor em sua trajetória ascendente em direção ao córtex cerebral, O primeiro desses mecanismos é muito simples e atua logo na entrada das fibras nociceptivas na medula (Figura 7.19). As sinapses destas com os neurônios de segunda ordem estão localizadas no como dorsal. Esses neurônios, no entanto, recebem também sinapses inibitórias de interneurônios situados nas redondezas, os quais, por sua vez, são ativados pelas fibras Aβ que veiculam as informações táteis. A consequência funcional desse circuito intramedular é que os impulsos táteis, quando chegam à medula ao mesmo tempo que os impulsos dolorosos (cada um através de suas vias aferentes específicas, é claro), podem inibir a transmissão sináptica entre o neurônio nociceptivo primário e o neurônio de segunda ordem. A descoberta desse circuito simples de bloqueio ou modulação da dor nos anos 1960 levou uma dupla de pesquisadores britânicos, Ronald Melzack e Patrick Wall, a propor a teoria da comporta da dor, que propõe que a passagem da dor pelos estágios sinápticos intermediários seria controlada por “comportas” (isto é, sinapses inibitórias) que se abririam em certas condições, mas poderiam ser fechadas em outras. Mais recentemente, descobriu-se que as sinapses moduladoras da dor não estão presentes apenas na medula, mas nos vários níveis das vias nociceptivas, e que a origem dos circuitos inibitórios não se restringe às fibras aferentes Aβ. De fato, sabe-se hoje que existem vias descendentes moduladoras da dor, que se originam no córtex somestésico e no hipotálamo, projetando-se a uma região mesencefálica situada em torno do aqueduto cerebral (chamada substância cinzenta ou grísea periaquedutal), daí a diferentes núcleos bulbares, especialmente o núcleo parabraquial e os núcleos da rafe, e destes, por sua vez, ao como dorsal da medula (Figura 7.20). A estimulação elétrica ou farmacológica experimental desses núcleos inibe a transmissão sináptica nociceptiva na medula, provocando o bloqueio da dor. Referência: Neurociência - Bear; Cem bilhões; Teoria do portão da dor: Essa teoria baseia-se no pressuposto de que os neurônios de 2ª ordem do corno posterior da medula são controlados pré e pós sinapticamente por neurônios locais, centrais e periféricos os quais regulariam a freqüência dos PA a serem gerados para as regiões mais cefálicas. Daí a idéia de um portão: as fibras aferentes nociceptivas primárias estimulando a atividade dos neurônios de 2ª ordem (via NT excitatórios como Glu e Sub P) e os demais neurônios modulando ou até inibindo o fluxo de impulsos nociceptivos através de sinapses inibitórias. Analgesia periférica: Essa teoria baseia-se no pressuposto de que os neurônios de 2ª ordem do corno posterior da medula são controlados pré e pós sinapticamente por neurônios locais, centrais e periféricos os quais regulariam a freqüência dos PA a serem gerados para as regiões mais cefálicas. Daí a idéia de um portão: as fibras aferentes nociceptivas primárias estimulando a atividade dos neurônios de 2ª ordem (via NT excitatórios como Glu e Sub P) e os demais neurônios modulando ou até inibindo o fluxo de impulsos nociceptivos através de sinapses inibitórias. Analgesia central: Fibras convergentes supra-mesencefálicas (de origem cortical, da amígdala e do hipotálamo) teriam efeitos inibitórios sobre os núcleos da região mesencefálica da substância cinzenta periaquedutal (PAG) os quais exercem efeitos inibitórios sobre os neurônios serotoninérgicos do bulbo. Esses neurônios situados (núcleo magno da rafe) exercem efeitos inibitórios sobre os neurônios nociceptivos do corno posterior. Paralelamente há uma via descendente noradrenérgica originada no locus ceruleus. Os neurônios bulbares estimulam os interneurônios encefalinérgicos inibitórios da substância gelatinosa. As encefalinas aumentariam o limiar dos neurônios de 2ª ordem, dificultando ou bloqueando totalmente a neurotransmissão das vias aferentes primárias nociceptivas. As ações inibitórias seriam causados de duas maneiras: 1) Inibição pós-sináptica aumentando a condutância de K (hiperpolarização) e 2) inibição pré-sináptica da liberação de glutamato e sub P (reduzindo a entrada de Ca). 4. Qual é a patofisiologia da dor causada por queimadura (estímulo térmico) e contusão (mecânico)? Qual a associação com a via reflexa de afastar o local do calor? Dor Inflamatória: A dor inflamatória é transmitida através de vias e nervos normais, tal como a dor nociceptiva. Entretanto, o grau de lesão tissular leva à ativação de mediadores inflamatórios agudos e crônicos que potencializam a dor, diminuem os limiares de condução e sensibilizam o sistema nervoso central para o estímulo que chega. Os exemplos incluem condições inflamatórias crônicas, tais como artropatias e artrites, vasculopatias isquêmicas, feridas pós-operatórias tardias e queimaduras. Fisiopatologia da Queimadura: A queimadura compromete a integridade funcional da pele, responsável pela homeostase hidroeletrolítica, controle da temperatura interna, flexibilidade e lubrificação da superfície corporal. Portando, a magnitude do comprometimento dessas funções depende da extensão e profundidade da queimadura. A injúria térmica provoca no organismo uma resposta local, traduzida por necrose de coagulação tecidual e progressiva trombose dos vasos adjacentes num período de 12 a 48 horas. A ferida da queimadura a princípio é estéril, porém o tecido necrótico rapidamente se torna colonizado por bactérias endógenas e exógenas, produtoras de proteases, que levam à liquefação e separação da escara, dando lugar ao tecidode granulação responsável pela cicatrização da ferida, que se caracteriza por alta capacidade de retração e fibrose nas queimaduras de terceiro grau. Nas grandes queimaduras, além da resposta local, o dano térmico desencadeia ainda uma reação sistêmica do organismo, em consequência da liberação de mediadores pelo tecido lesado. Ocorre extenso dano à integridade capilar, com perda acelerada de fluidos, seja pela evaporação através da ferida ou pela sequestração nos interstícios, que é agravada por subprodutos da colonização bacteriana. Além disso, nas queimaduras extensas, superiores a 40% da área corporal, o sistema imune é incapaz de delimitar a infecção, que, sistematizando-se, torna rara a sobrevida nesses casos. Essa resposta sistêmica manifesta-se por febre, circulação sanguínea hiperdinâmica e ritmo metabólico acelerado, com aumento do catabolismo muscular, decorrente de alteração da função hipotalâmica (aumento da secreção de glucagon, cortisol e catecolaminas), da deficiência da barreira gastrointestinal (passagem de bactérias e seus subprodutos para a circulação sistêmica), da contaminação bacteriana da área queimada (liberação sistêmica de bactérias e subprodutos), da perda de calor (evaporação através da ferida levando à hipotermia) e da perda de fluidos (desequilíbrio hidroeletrolítico). https://www.scielo.br/pdf/abd/v80n1/v80n01a03.pdf Hiperalgesia: Quando a pele sofre uma lesão tecidual decorrente de uma queimadura instala-se um processo inflamatório, e várias substâncias são liberadas causando https://www.scielo.br/pdf/abd/v80n1/v80n01a03.pdf um efeito aparentemente paradoxal: a região em volta do local lesionado torna-se dolorida e passa a evocar dor para estímulos mecânicos e térmicos que antes eram totalmente inócuos. É como se essa região ficasse repentinamente com limiar nociceptivo mais baixo. A esta reação denominamos hiperalgesia, ou seja, estado em que os nociceptores diminuem o limiar de resposta e ficam mais sensíveis. Como resultado da lesão tecidual a membrana citoplasmática é rompida e enzimas proteolíticas iniciam uma série de reações, entre elas, uma fospolipase degrada os fosfolipídios de membrana produzindo ácido aracdônico. Este por sua vez, sofre ação de outras enzimas e culmina com a produção de prostaglandinas (PG) e prostaciclinas. Estas substâncias têm como função principal causar vasodilatação capilar em torno da região afetada, causando rubor (eritema), calor e edema. Em se tratando de uma infecção, além de pirogênios exógenos, as PG iniciam o mecanismo de produção de calor (ou seja, a febre que é mais um sinal do processo inflamatório). Estas substâncias também atuam nos terminais nociceptivos reduzindo o limiar de respostas dos nociceptores, ou seja, tornando-os mais sensíveis aos estímulos sensoriais antes inócuos. Já a bradicinina e a histamina também envolvidas no processo inflamatório estimulam diretamente os nociceptores causando dor (hiperalgesia primária). Suspeita-se que cada um aciona um mecanismo de produção de segundo mensageiro, via proteína G: a bradicinina o IP3 e a PG, cAMP, colaborando com a redução do potencial membrana, tornando-a mais excitável As graduações térmicas são discriminadas por pelo menos três tipos de receptores sensoriais: receptores para frio, receptores para calor e receptores para dor. Os receptores para dor só são estimulados pelos graus extremos de calor ou de frio e, portanto, são responsáveis, junto com os receptores para frio e calor, pelas sensações de “frio congelante” e “calor extremo”. Estimulação dos Receptores Térmicos: Sensações de Gelado, Frio, Indiferente, Morno e Quente - A Figura 48-10 mostra os efeitos de diferentes temperaturas sobre as respostas dos quatro tipos de fibras nervosas: (1) a fibra para dor, estimulada pelo frio, (2) a fibra para o frio, (3) a fibra para o calor, e (4) a fibra para a dor, estimulada pelo calor. Observe, especificamente, que essas fibras respondem diferentemente a níveis distintos de temperatura. Por exemplo, na região muito fria, somente as fibras para dor-frio são estimuladas (se a pele esfria ainda mais, quase congelando ou realmente congelando, essas fibras não podem mais ser estimuladas). Sensações térmicas Receptores Térmicos e Sua Excitação • Os receptores de dor são estimulados apenas por graus extremos de frio e de calor. Nesse caso, a sensação percebida é de dor, e não de temperatura. • Os receptores específicos de calor ainda não foram identificados, embora a sua existência seja sugerida por experiências psicofísicas; atualmente, eles são simplesmente considerados terminações nervosas livres. Os sinais de calor são transmitidos através de fibras sensitivas do tipo C. • O receptor de frio foi identificado como uma pequena terminação nervosa, cujas extremidades se projetam para a área basal das células epidérmicas basais. Os sinais desses receptores são transmitidos através de fibras sensoriais do tipo Aδ. Há 3 a 10 vezes mais receptores de frio do que receptores de calor. Ativação de Receptores de Frio e de Calor por Temperaturas na Faixa de 7°C a 50°C As temperaturas inferiores a 7°C e acima de 50°C ativam receptores de dor; os dois extremos são percebidos como dor, não como frio ou calor. O pico de temperatura para ativação dos receptores de frio é de aproximadamente 24°C, enquanto os receptores de calor são maximamente ativados a cerca de 45°C. Os receptores de frio e de calor podem ser estimulados com temperaturas na faixa de 31°C a 43°C. Quando o receptor de frio é submetido a uma diminuição abrupta da temperatura, ele, no início, é fortemente estimulado. Então, após os primeiros segundos, a geração de potenciais de ação cai drasticamente. -Guyton & Hall Mecanismo do ARCO-REFLEXO SIMPLES: O reflexo de retirada começa com a entrada sensorial de um estímulo prejudicial. Esse estímulo excita os receptores sensoriais nociceptores. As demais ações do neurônio sensorial não estão em ordem cronológica, elas podem ocorrer concomitantemente: - O neurônio sensorial envia um potencial pós-sináptico excitatório a um neurônio motor somático que se origina no corno ventral (“a gnt sente atrás e faz na frente”). Um EPSP torna um neurônio pós-sináptico mais provável de despolarizar e ter um potencial de ação. Este neurônio motor somático sai do corno ventral e da raiz para estimular os músculos flexores do membro ipsilateral. - O neurônio sensorial ativa um interneurônio inibitório. Esse interneurônio envia um potencial pós-sináptico inibitório a um neurônio motor somático que resulta na inibição dos extensores do membro ipsilateral. Um IPSP torna um neurônio pós-sináptico menos provável de despolarizar e ter um potencial de ação. - O neurônio sensorial ativa um interneurônio que decussa e cruza a linha média da medula espinhal. Portanto, as seguintes sinapses estão no lado contralateral da medula espinhal. Este interneurônio faz sinapses e excita um neurônio motor somático que estimula os músculos extensores contralaterais. Esse mesmo interneurônio que decussatambém ativa um interneurônio inibitório que inibe um neurônio motor somático, resultando na inibição dos flexores desse membro contralateral. O acúmulo dessas ações resulta na flexão do membro que entrou em contato com os estímulos nocivos e na imobilização do membro contralateral. Embora esses sejam os princípios básicos do reflexo de retração, ele é mais complexo. Por exemplo, se o reflexo está resultando nos membros inferiores, há outros sinais que viajam pela medula espinhal para ativar e inibir os neurônios motores que controlam os músculos dos membros superiores. Isso induz a flexão e extensão necessárias dos braços para fornecer equilíbrio à medida que o reflexo ocorre (DERDERIAN & TADI, 2020). DERDERIAN, C; TADI, P. Physiology, Withdrawal Response. [Atualizado em 11 de setembro de 2020]. In: StatPearls [Internet]. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; Janeiro de 2020 Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK544292/ 5. Como é realizado o exame físico em casos de queimaduras e contusões e como é feita a classificação? Qual a relação entre a classificação e a dor? https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK544292/ Classificação da dor: ● Dor Nociceptiva: Esse tipo de dor envolve estímulos ascendentes transmitidos através de nervos normais, ao longo de neurônios sensoriais, e que sobem pelas vias espinotalâmicas da medula espinhal. Compreende as dores somáticas e viscerais. A dor somática é tipicamente bem localizada sobre a superfície cutânea ou nas estruturas musculoesqueléticas profundas (p. ex., feridas no pós-operatório imediato, metástases ósseas, estiramentos musculares). A dor visceral costuma ser mal localizada e frequentemente é atribuída a estruturas profundas, como os intestinos (p. ex., prisão de ventre, apendicite inicial). ● Dor Inflamatória: A dor inflamatória é transmitida através de vias e nervos normais, tal como a dor nociceptiva. Entretanto, o grau de lesão tissular leva à ativação de mediadores inflamatórios agudos e crônicos que potencializam a dor, diminuem os limiares de condução e sensibilizam o sistema nervoso central para o estímulo que chega. Os exemplos incluem condições inflamatórias crônicas, tais como artropatias e artrites, vasculopatias isquêmicas, feridas pós-operatórias tardias e queimaduras. A dor inflamatória agrava-se com a inspiração profunda; a exacerbação por descompressão súbita do abdome provavelmente reflete uma dor inflamatória. A dor que se intensifica com inspiração profunda e se associa a sons pulmonares ou atritos anormais indica inflamação pleurítica. A dor que se associa a articulações avermelhadas e tumefeitas sugere artropatia inflamatória. ● Dor Neuropática: Esse tipo de dor surge em uma área anormal do ponto de vista neurológico, sendo causada por uma lesão do sistema nervoso central ou periférico. Os mecanismos de lesão são em sua maior parte mal compreendidos, mas podem incluir lesão incisional ou por esmagamento do tecido nervoso e agressões nutricionais, químicas, isquêmicas, metabólicas, neoplásicas ou paraneoplásicas do sistema nervoso periférico ou central. A dor geralmente é percebida ou descrita como tendo uma qualidade elétrica (i. e., em queimação, lancinante, em punhalada, vibrátil, em formigamento) ou associada a parestesia ou alteração da temperatura. A sensibilidade na área afetada e envolvida pela dor é habitualmente anormal. Por exemplo, estímulos não-nóxicos (como toque, pressão leve ou temperatura) são frequentemente amplificados de modo a se tornarem hiperalgésicos ou produzirem dormência. A sensação causada pelo estímulo pode estar dissociada do estímulo em si (p. ex., um leve toque com uma pena pode provocar dor, o frio pode ser sentido como calor, os estímulos provocados por um instrumento pontiagudo podem ser percebidos como dormência). Exemplos de dor neuropática incluem a neuralgia pós-herpética, a dor do membro fantasma, a dor torácica pós-toracotomia e a neuropatia diabética. A dor neuropática caracteriza-se pelo seguinte: alodínia, uma condição em que estímulos normalmente indolores provocam dor; hiperalgesia, uma resposta exagerada a um estímulo indolor ou levemente doloroso; causalgia, anormalidades da temperatura e da coloração da pele, em comparação com as áreas circundantes; atrofia e perda dos pelos das áreas afetadas; fraqueza de um grupo muscular associada à dor; e parestesia em resposta a estímulo das áreas dolorosas. Anamnese e Exame Físico: ● Anamnese: A obtenção da história se faz por meio de questões abertas e orientadas para o entendimento da síndrome dolorosa e idealmente determina uma causa reversível para a dor (Quadro 2.3). As informações importantes a serem obtidas incluem as seguintes: ● Início e duração; ● Localização; ● Gravidade ou intensidade, que deve ser graduada por um instrumento de mensuração; ● Qualidade ou caráter; ● Fatores agravantes; ● Fatores atenuantes; ● Efeitos de qualquer tratamento prévio; Outras questões devem determinar que impacto tem a dor na condição funcional do paciente, especificamente nas atividades da vida diária (AVD), nas atividades instrumentais da vida diária (AIVD) e nas atividades avançadas da vida diária (MVD) (Quadros 2.4 a 2.6). Esta avaliação e documentação da condição funcional é particularmente importante para o acompanhamento, já que a restauração da função pode comprovar o impacto dos tratamentos no alívio da dor. O uso de uma figura anatômica para indicar as áreas dolorosas pode ajudar na obtenção da história. Fazer com que o paciente marque as áreas dolorosas em um desenho pode tornar possível a comparação com um esquema semelhante, gerado durante o exame físico. Esse esquema visual da dor pode contribuir para o entendimento da causa da dor. ● Exame Físico: O exame físico inclui a avaliação da presença de sinais e sintomas que possam refletir a fisiopatologia da dor subjacente. *Os sinais vitais podem estar alterados em pacientes com dor aguda, ou normais em pacientes com dor persistente*. A aparência do paciente pode refletir desconforto ou revelar um embotamento do afeto. Os pacientes frequentemente despendem grande esforço para ocultar o nível do seu estresse. Examinar a área dolorosa deve incluir uma busca por distorções da anatomia, por alterações da coloração ou da consistência da pele e por espasmos ou fasciculações dos músculos subjacentes. A palpação deve ser, de início, delicada, crescendo gradualmente em intensidade, para se avaliar a doença mais profunda. Palpar a mesma área de diversos modos possibilita averiguar a reprodutibilidade da dor. Distrair o paciente durante a palpação pode às vezes acalmar a dor e a defesa decorrentes da antecipação. O exame físico pode refletir a fisiopatologia da dor. Por exemplo, a dor somática nociceptiva intensifica-se tipicamente pela palpação de uma área específica (p. ex., a pressão sobre uma costela desencadeia dor focal que pode refletir uma fratura ou uma metástase).A dor que se intensifica com a atividade pode refletir lesões ou anormalidades ósseas ou musculares. Um exemplo de dor visceral nociceptiva inclui o súbito início de dor torácica retroesternal irradiando-se para a mandíbula, causada por isquemia do miocárdio. A palpação não exacerba nem aumenta a dor. Outro exemplo de dor visceral nociceptiva é o desconforto generalizado do abdome, muitas vezes associado a náuseas. Uma vez que a inflamação tenha começado, a palpação apenas piora a dor. Referência: Current - Dor; https://ares.unasus.gov.br/acervo/html/ARES/13962/1/QueimadurasPROVAB.pdf Plano de Cuidado: - Não frequentar centros hospitalares; - Precisa manter resfriada a área da lesão; - Hidratar o local, mas sem fazer uso de pasta de dente; - Se manter longe de fontes de calor; - Ingerir muito líquido, com ênfase em água; 6. Como funciona o mecanismo de ação dos analgésicos não opioides e antinflamatórios no tratamento de contusões e queimaduras? Tratamento Farmacológico da Dor: https://ares.unasus.gov.br/acervo/html/ARES/13962/1/QueimadurasPROVAB.pdf Uma parte importante do programa de tratamento multifacetado é a intervenção farmacológica. A Organização Mundial de Saúde (OMS) desenvolveu, para ajudar a organizar os métodos de controle farmacológico da dor, uma escada de três degraus (Fig. 3.1) que é muito útil. ● Os medicamentos do 1º Degrau são usados para dor leve, geralmente graduada de 1 a 3 em uma escala de 11 pontos, na qual 0 significa ausência de dor e 10 a dor mais intensa possível; ● Os medicamentos do 2º Degrau são usados para dor moderada, geralmente graduada de 4 a 6; ● Os medicamentos do 3º Degrau são usados para dor intensa, graduada de 7 a 10; Conforme o julgamento clínico, pode-se começar em qualquer degrau da escada. Por exemplo, se um paciente tem uma fratura óssea, não é necessário que o clínico comece pelo Degrau 1 e espere que falhe o controle da dor, antes de seguir para o degrau seguinte. É também importante lembrar que, mesmo quando a dor é suficientemente intensa para exigir medicamentos de um degrau mais alto, o tratamento combinado com medicamentos usados nos degraus mais baixos pode ainda ser empregado de modo sinérgico. Finalmente, os médicos podem usar, em cada degrau, medicamentos adjuvantes para otimizar o controle da dor. ● 1º DEGRAU - Dor Leve: Antinflamatórios não esteroides: Os AINEs tradicionais (AINEts), mais comumente disponíveis agem inibindo as prostaglandinas sintases (PG) G/H, enzimas conhecidas coloquialmente como ciclo-oxigenase (COX; ver Capítulo 33). Supõe-se que a inibição da ciclo-oxigenase 2 (COX-2) medeia em grande parte as ações antipiréticas, analgésicas e anti-inflamatórias dos AINEts, ao passo que a inibição simultânea da ciclo-oxigenase 1 (COX-1) responde em grande parte, mas não exclusivamente, pelos efeitos adversos indesejáveis sobre o trato GI. Os inibidores seletivos da COX-2 (celecoxibe, etoricoxibe, lumiracoxibe), uma subclasse dos AINEs, também são discutidos. O ácido acetilsalicílico, que acetila irreversivelmente a COX, é discutido juntamente com as várias subclasses de AINEts, incluindo os derivados do ácido propiônico (ibuprofeno, naproxeno), os derivados do ácido acético (indometacina) e os ácidos enólicos (piroxicam), todos competindo de modo reversível com o ácido araquidônico (AA) como substrato do local ativo da COX-1 e da COX-2. O paracetamol (acetaminofeno) é um anti-inflamatório muito fraco, sendo eficaz como antipirético e analgésico em doses típicas que inibem parcialmente as COX. O paracetamol tem menos efeitos colaterais gastrintestinais que os AINEts. Os AINEs são tradicionalmente agrupados por suas características químicas. Após o desenvolvimento dos inibidores seletivos da COX-2, surgiu a classificação em AINEts, que inibem tanto COX-1 quanto COX-2, e AINEs seletivos para COX-2. Inicialmente, apenas agentes projetados especificamente para a finalidade de inibição seletiva de COX-2 — coloquialmente chamados de coxibes — foram atribuídos ao grupo de AINEs seletivos para COX-2. No entanto, alguns AINEs mais antigos (p. ex., diclofenaco, meloxicam, nimessulida) mostram um grau de seletividade para COX-2 semelhante ao do primeiro coxibe, celecoxibe. Assim, esses fármacos poderiam ser mais bem classificados como AINEs seletivos para COX-2, embora este não seja, por enquanto, comum (Figura 34-1). Outras classificações de AINEs foram desenvolvidas com base na meia-vida, tais como aqueles com meias-vidas mais curtas (< 6 h) ou mais longas (> 10 h) (Figura 34-1). A maioria dos AINEs é de inibidores ativos locais competitivos, reversíveis das enzimas COX. No entanto, o ácido acetilsalicílico acetila as isoenzimas e inibe-as de maneira irreversível; assim, o ácido acetilsalicílico frequentemente é distinguido dos AINEts. Da mesma maneira, o paracetamol, que é antipirético e analgésico, mas desprovido de atividade anti-inflamatória, também é convencionalmente segregado do grupo, apesar de compartilhar muitas propriedades com AINEts relevantes para sua ação clínica in vivo. ● Mecanismo de Ação: . Inibição da COX: Os principais efeitos terapêuticos dos AINEs derivam da sua capacidade de inibir a produção de PG. A primeira enzima na via sintética das PG é COX, também conhecida como PG G/H sintase. Essa enzima converte o AA nos intermediários instáveis PGG2 e PGH2, além de promover a produção de prostanoides, TxA2 e de uma variedade de PG. Existem duas formas de COX, COX-1 e COX-2. ● A COX-1, expressa de maneira constitutiva na maioria das células, é a fonte dominante (mas não exclusiva) de prostanoides para funções de manutenção, como a citoproteção epitelial gástrica e hemostasia; ● Em contrapartida, COX-2, induzida por citocinas, estresse de cisalhamento e promotores de tumor, é a fonte mais importante de formação de prostanoides na inflamação e talvez no câncer. No entanto, ambas as enzimas contribuem para a geração de prostanoides auto reguladores e homeostáticos e ambos podem contribuir para a formação de prostanoides nas síndromes de inflamação humana e dor. De maneira importante, COX-1 é expresso como a isoforma constitutiva dominante nas células epiteliais gástricas e é considerada a principal fonte de formação de PG citoprotetora. A inibição da COX-1 nesse local é tida como, em grande parte, a responsável pelos eventos gástricos adversos que complicam o tratamento com os AINEts, fornecendo assim a razão para o desenvolvimento de AINEs específicos para a inibição da COX-2. O ácido acetilsalicílico e os AINEs inibem as enzimas COX e a produção de PG; eles não inibem as vias da lipoxigenase (LOX) no metabolismo do AA e por isso não suprimem a formação de LT. Os glicocorticoides suprimem a expressão induzida de COX-2 e portanto a produção de prostaglandinas mediada por COX-2. Eles também inibem a ação da PLA2, que libera AA a partir das membranas celulares. Tais efeitos contribuem para as ações anti-inflamatórias dos glicocorticoides.● Usos Terapêuticos: Todos os AINEs, incluindo os inibidores seletivos da COX-2, são antipiréticos, analgésicos e anti-inflamatórios, com exceção do paracetamol, que é antipirético e analgésico mas praticamente não tem atividade anti-inflamatória. ● Inflamação: Os AINEs têm sua principal aplicação clínica como agentes anti-inflamatórios no tratamento de distúrbios músculos esqueléticos, como artrite reumatoide e osteoartrose. Em geral, os AINEs fornecem principalmente alívio sintomático da dor e inflamação associada à doença e não são considerados FARMD. Uma série de AINEs está aprovada para o tratamento de espondilite anquilosante e gota. O uso de AINEs para artropatias leves, em conjunto com repouso e fisioterapia, geralmente é eficaz. Quando os sintomas estão limitados à dificuldade de dormir por causa da dor ou rigidez matinal significativa, uma dose única de AINE administrada à noite pode ser suficiente. Os pacientes com doença mais incapacitante podem não responder de maneira adequada às doses terapêuticas completas de AINEs e podem exigir tratamentos agressivos com agentes de segunda linha. Diferenças substanciais inter e intra individuais na resposta clínica foram observadas. ● Dor: Quando empregados como analgésicos, esses fármacos costumam ser eficazes apenas contra dores de baixa a moderada intensidade, como a dor de dentes. Embora sua eficácia máxima seja geralmente muito menor do que a dos opioides, os AINEs não têm os efeitos adversos indesejáveis dos opiáceos sobre o SNC, incluindo depressão respiratória e potencial desenvolvimento de dependência física. A coadministração de AINEs pode reduzir a dose de opioide necessária para controle suficiente da dor e reduzir a probabilidade de efeitos opioides adversos. Os AINEs não alteram a percepção de outras modalidades sensoriais que não a dor. Eles são particular mente eficazes quando a inflamação causa sensibilização periférica e/ou central de percepção da dor. Assim, a dor pós-operatória crônica ou a que surge da inflamação, como a dor artrítica, é bem controlada pelos AINEs, ao passo que a que surge de uma víscera oca em geral não é aliviada. Uma exceção a isso é a dor menstrual. A liberação de prostaglandinas pelo endométrio durante a menstruação pode causar cólicas graves e outros sintomas de dismenorreia primária; o uso dos AINEs para o tratamento dessa condição obteve considerável sucesso (Marjoribanks e cols., 2003). Não é surpreendente que os inibidores seletivos da COX-2, como o rofecoxibe e o etoricoxibe, também sejam eficazes nessa condição. Os AINEs são comumente utilizados como terapia de primeira linha para tratar ataques de enxaqueca e podem ser combinados com fármacos de segunda linha, como os triptanos (p. ex., uma combinação de dose fixa de naproxeno e sumatriptano), ou com antieméticos para auxiliar no alívio das náuseas associadas. Os AINEs não possuem eficácia na dor neuropática. ● Febre: O tratamento antipirético é reservado aos pacientes nos quais a febre em si pode ser prejudicial e para aqueles que apresentam alívio considerável quando a febre é reduzida. Pouco se sabe sobre a relação entre a febre e a aceleração de processos inflamatórios ou imunes; pode às vezes ser um mecanismo fisiológico protetor. O curso da doença do paciente pode ser obscurecido pelo alívio dos sintomas e a redução da febre pelo uso de fármacos antipiréticos. Os AINEs reduzem a febre na maioria das situações, mas não a variação circadiana da temperatura ou o aumento da resposta ao exercício ou aumento da temperatura ambiente. A análise comparativa do impacto dos AINEts ou dos inibidores seletivos da COX-2 sugere que a última é a fonte predominante de prostaglandinas que medeiam o aumento da temperatura evocado pela administração de lipopolissacarídeo (LPS) bacteriano (McAdam e cols., 1999), fato consistente com a eficácia clínica antipirética de ambas as subclasses de AINEs. Parece lógico selecionar um AINE com início rápido para o tratamento da febre associada a doença menor em adultos. ● Farmacodinâmica: A principal ação dos anti-inflamatórios não-esteroides (AINE) é a inibição da enzima cicloxigenase (COX), mediadora da conversão do ácido araquidônico em prostaglandinas e tromboxanos. Existem diferentes isozimas dessa enzima. Assim, os AINE impedem a sensibilização central e a intensificação da dor; ● A COX-1 é expressa de modo constitutivo em muitos tecidos e regula a citoproteção gástrica, a autorregulação do fluxo sanguíneo renal, a agregação plaquetária e a homeostase vascular; ● A COX-2 é expressa de modo constitutivo em uns poucos tecidos, como o sistema nervoso central (SNC), os ossos e os rins, mas é predominantemente induzida nos estados inflamatórios; ● A COX-3, é uma variante da COX-1 com modificação do RNA e parece localizar-se predominantemente no Sistema Nervoso Central (SNC), embora esteja presente também no coração; O impacto do AINE no processo de dor se dá de 2 modos conhecidos: 1. Os nociceptores periféricos (fibras nervosas aferentes que sinalizam a dor) são sensibilizados pela inflamação e, por sua vez, aumentam a inflamação; Ex: Na presença de inflamação, uma fibra C periférica normalmente silenciosa pode começar a disparar em resposta a um estímulo leve, e sua resposta a um estímulo nóxico normal é aumentada. Além disso, o nociceptor ativado pode liberar mediadores inflamatórios que mantêm ou intensificam o meio inflamatório. ● Ao reduzirem a inflamação, os AINE diminuem essa sensibilização periférica e o aumento da inflamação mediada neuralmente; 1. A COX está presente na medula espinhal e tem sido implicada em eventos do SNC que levam à sensibilização central. ○ Em um exemplo experimental dessa sensibilização central, conhecida como Wind up, um estímulo nóxico periférico repetitivo pode levar a alterações espinhais centrais que, por sua vez, levam a hiperalgesia e alodínia periféricas; ○ Hiperalgesia = É o estado em que um estímulo nóxico é percebido como sendo mais intenso do que normalmente seria; ○ Alodínia = É o estado em que um estímulo não nóxico, tal como um leve toque, é percebido como doloroso; Os AINE incluem os inibidores não-seletivos da COX (p. ex., ácido acetilsalicílico, Ibuprofeno, naproxeno) e os inibidores seletivos da COX-2 (p. ex., celecoxibe, rofecoxibe, valdecoxibe), que têm efeito inibitório 200 a 300 vezes maior sobre a COX-2 do que sobre a COX-1. O rofecoxibe e o valdecoxibe não são mais disponíveis nos EUA devido à preocupação com seus efeitos colaterais cardíacos. Os AINE podem também ter efeitos não-mediados por prostaglandinas. Há estudos que indicam que os AINE diminuem a interação entre os neutrófilos e as células endoteliais e que podem também diminuir a produção de óxido nítrico. Entretanto, o significado clínico dessas ações é desconhecido. Há múltiplas classes de AINE, listadas no Quadro 3.1. Essas classes incluem os ácidos acéticos, os fenamatos, as naftilalcanonas, os oxicans, os ácidos propiônicos e os inibidores seletivos da COX-2.Todos os agentes inibem a COX, mas pode haver diferenças em outras propriedades farmacodinâmicas que podem ajudar a explicar a variação da resposta individual. ● Farmacocinética: Os AINEs são em geral bem absorvidos e têm alta biodisponibilidade oral. O pico do efeito analgésico geralmente é alcançado, com as formas orais, em 1 a 3 h. Os AINE são metabolizados pelo fígado. As meias-vidas variam. Todos exibem teto para o efeito analgésico, mas o risco de efeitos colaterais continua a aumentar conforme aumenta a dose. Alguns AINE são formulados como solução ou supositório. Essas formulações podem facilitar a administração quando os pacientes, especialmente os que recebem cuidados paliativos, têm dificuldade de engolir pílulas. Quando essas formulações não estão disponíveis comercialmente, os farmacêuticos frequentemente elaboram uma formulação alternativa. Em algumas circunstâncias, os médicos especializados em cuidados paliativos tiram proveito do fato de que, para muitos medicamentos, as vias oral e retal de administração têm uma farmacocinética semelhante. Muitas vezes, as pílulas para uso oral podem ser usadas por via retal com bons efeitos. De fato, com o tempo algumas formulações de liberação mantêm suas propriedades de ação prolongada quando usadas por via retal, como, por exemplo, o sulfato de morfina. Referência: As bases farmacológicas da terapêutica - Goodman & Gilman; Derivados do Paraminofenol: PARACETAMOL - É um AINE (anti inflamatório não hormonal) – inibe a cicloxigenase (COX 1 e COX2) que portanto inibe a síntese de prostaglandina - Paracetamol eleva o limiar ao estímulo doloroso, exerce portanto efeito analgésico - Disponível para venda sem prescrição - É uma alternativa eficaz ao ácido acetilsalicílico como analgésico-antipirético, mas seus efeitos antiinflamatórios são muito mais fracos MECANISMO DE AÇÃO: Efeito analgésico e antipirético similar ao ácido acetilsalicílico ABSORÇÃO, DISTRIBUIÇÃO E ELIMINAÇÃO: As concentrações plasmáticas de pico ocorrem em 30-60 min e a meia vida no plasma é de cerca de 2h após doses terapêuticas USO TERAPÊUTICO: É adequado para uso como analgésico ou antipirético (combate a febre, abaixa a temperatura do corpo) A dose oral convencional é de 325-650mg a cada 4-6h Dose total não deve exceder 4.000mg INTOXICAÇÃO POR PARACETAMOL: Ingestão aguda de mais de 7,5g de paracetamol pode resultar em toxicidade Efeito agudo mais sério da overdose de paracetamol: necrose hepática potencialmente fatal devido a conversão ao metabólito tóxico NAPQI. Sintomas do envenenamento: agressão gástrica (náusea, dor abdominal e anorexia). Tabela de fármacos: 7. Como ocorre a dor não nociceptiva (psicossomática)? Qual a linha de cuidado disponível para pacientes com esse tipo de dor? (Psicossocial) Dor Psicogênica: Toda dor tem um componente emocional associado, o que varia é sua magnitude. A dor psicogênica, porém, é uma condição inteiramente distinta, para a qual não há qualquer substrato orgânico, sendo gerada por mecanismos puramente psíquicos. Características da dor Psicogênica: Tende a ser difusa, generalizada, imprecisa. Algumas vezes, pode ser localizada e, nesse caso, em geral, sua topografia corresponde à da imagem corporal que o paciente tem da estrutura que julga doente. Assim, se imagina ter um infarto do miocárdio, a área dolorida corresponderá à do mamilo esquerdo e não à região retroesternal ou à face medial do braço esquerdo. Se a doença imaginada é uma colelitíase, a área da dor será a do hipocôndrio direito e não o ombro ou a área escapular direita. Isso ocorre porque o paciente desconhece a dor referida em sua imagem corporal. Se ele acreditar erroneamente que o fígado está localizado no hipocôndrio esquerdo, ao imaginar-se com uma dor de origem hepática, relatará uma sensação dolorosa no hipocôndrio esquerdo e não no direito. A dor psicogênica muda de localização sem qualquer razão aparente. Quando irradiada, não segue o trajeto de qualquer nervo. Sua intensidade é variável, sendo agravada pelas condições emocionais do paciente, o que, em geral, é contestado por ele. Pode ser relatada como muito intensa, excruciante, lancinante, incapacitante. Costuma ser descrita de maneira dramática ("como um canivete introduzido no corpo", 'como tendo a pele arrancada''). Não infrequentemente é possível estabelecer-se a concomitância de um evento negativo relevante na vida do paciente e o início da dor. Sinais e sintomas de depressão e ansiedade crônicas são com frequência identificáveis. Estes pacientes são neuroticamente fixados em sua dor, trazendo à consulta uma lista interminável de medicamentos já usados e de centros de tratamento e especialistas já procurados. A utilização inadequada e abusiva de medicamentos é comumente observada. Se questionados, podem referir um sem-número de cirurgias prévias de indicação duvidosa, sugerindo uma hiper-reatividade a desconfortos relativamente leves. Ao exame físico, em geral sem quaisquer achados relevantes, tendem a literalmente pular ao mero toque da região "dolorosa" por vezes simulando déficit sensorial de distribuição "histérica'' (não segue qualquer padrão dermatomérico) e fraqueza muscular. Os exames complementares são normais. As avaliações psiquiátrica e psicológica acabam por identificar depressão, ansiedade, hipocondria, histeria ou transtorno somatoforme. 8. Quais as problematizações da automedicação pelas pessoas? E quais as orientações sobre o uso inadequado de medicamentos pelos pacientes?