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AULA 5 TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO PARA O ENSINO Profª Aline Alvares Machado 2 TEMA 1 – CONCEITO DE EDUCOMUNICAÇÃO Novos tempos exigem novas formas de ensinar. Freinet (1974) afirma a necessidade de permitir ao estudante que se expresse da forma mais livre possível, por diferentes linguagens e meios, ressaltando que cada época tem seus meios e linguagens que lhe são característicos. Ainda para esse pedagogo, a liberdade de expressão seria não o fim, mas o meio pelo qual os estudantes aprenderiam. Ou seja, por meio da produção textual, por exemplo, é que as crianças compreenderiam, a língua, as ciências, a história e as demais áreas do conhecimento (Freinet, 1974). Para Martín-Barbero (1998), o ato comunicativo é quase sempre visto e conduzido, nos ambientes educacionais, sob a perspectiva instrumental. Nessa perspectiva instrumental do uso da comunicação, a criação de um jornal escolar, por exemplo, seria uma ação planejada pelo professor, com o objetivo expresso de fazer com que os estudantes o alimentassem com conteúdos predeterminados pelo professor, como, por exemplo, textos, fotos ou vídeos de um determinado assunto, por exemplo, a economia brasileira. Para esse estudioso, a educação e a comunicação, no ato educativo como um todo, não se relacionam da forma como deveriam. Para o autor, os sistemas comunicativos da atualidade são bastante complexos, e a educação deve estar inserida nesse contexto de múltiplas formas. Esses complexos sistemas comunicativos são compostos por múltiplos atores e meios de comunicação, e Martín-Barbero se refere a eles como ecossistemas comunicativos. O autor explica que o ecossistema comunicativo é um contexto difuso e descentralizado no qual a educação e a comunicação estão imersas. Difuso, porque é constituído de uma mistura de saberes e linguagens interconectados, que circulam em diferentes meios de comunicação; o termo descentralizado se refere ao fato de que a educação não está mais centrada no livro, na escola e na figura do professor, transmissor de saberes, o que contribuiria para a mudança, ou “descentralização” do protagonismo da ação educativa – da escola e do livro didático (por meio dos professores), para diferentes dispositivos midiáticos, cujo uso é protagonizado pelos estudantes. Salvatierra (s.d.) afirma que “o termo ecossistema comunicativo coloca em discussão não só a estrutura conservadora da educação, mas também a 3 concepção da comunicação”. Para a autora, essa concepção muda toda a forma de ler, entender e interpretar o mundo e as coisas ao seu redor. Considerando os ecossistemas comunicativos como uma dinâmica social presente nas escolas de todos os níveis, a Educomunicação surge como uma prática que permite ampliar o diálogo em todos os âmbitos da instituição escolar. No Portal Educação Integral, a Educomunicação é definida como: um conceito que propõe a democratização do conhecimento a partir de uma lógica aberta, dialógica e criativa em que não prevalecem hierarquias, ou seja, todas as pessoas envolvidas no fluxo da informação são produtoras de cultura, independentemente de sua função operacional no ambiente escolar (Educação Integral, 2018). Ribeiro (s.d.) define também a Educomunicação como “um conjunto de ações voltadas a criar e fortalecer ecossistemas comunicativos em espaços educativos”, o que significa que a educomunicação visa problematizar a educação e a comunicação, com vistas à formação ética e crítica dos cidadãos em relação a toda e qualquer ação comunicativa. O uso das TDIC potencializou a ação comunicativa como um todo ao redor do mundo. A tecnologia de transmissão de informações via satélite é extremamente rápida e bastante benéfica, se pensarmos em informações que salvam vidas – como um alerta de tempestade, por exemplo. A onda crescente nas telecomunicações transformou todos os âmbitos da sociedade, mas, obviamente, mudou a relação das pessoas com a informação, sejam elas produtoras de informação ou consumidoras. Por outro lado, é preciso ter claro, como já foi dito anteriormente, que a adoção pura e simples de novas tecnologias da informação no ambiente escolar não transforma as relações de ensino e aprendizagem, visto que a abordagem tradicional já se utiliza de diferentes meios de comunicação para validar seus saberes e práticas. Trata-se de uma nova postura frente à informação que está acontecendo e que está disponível no ambiente escolar, além de uma nova postura ante as relações comunicativas nesse ambiente. Uma ação de educomunicação, portanto, perpassa a dimensão do currículo e da sala de aula, mas é muito mais do que isso. Isso porque uma instituição que se utiliza da educomunicação como sua principal prática educativa precisa, coletivamente, pensar e ressignificar, sempre que for o caso, todas as relações comunicativas nesse ambiente: professor-aluno e aluno-professor; professor- professor; professor-pedagogos e vice-versa; professor-família e vice-versa; entre 4 estudantes; indo além de ações pontuais e do uso instrumental dos meios de comunicação, e das TDIC como ferramentas de comunicação. Portanto, as TDIC assumem, nas práticas educomunicativas, um papel fundamental, mas que vai além da relação instrumental. Em relação à prática comunicativa em geral, no ambiente escolar, as TDIC, e em especial o computador, são vistas muitas vezes como um instrumento para “facilitar” o que o professor já fazia, por exemplo, um computador utilizado com um projetor de multimídia, para passar slides, em lugar de “passar a matéria” no quadro negro. Mas as TDIC, na verdade, possuem potencial para transformar completamente as relações e a comunicação de todos os atores da ação educativa – estudantes e suas famílias, professores, coordenadores pedagógicos, diretores. Isso porque as novas tecnologias mudam a forma como as relações são mediadas, alterando profundamente a forma de as pessoas se relacionarem na sociedade – o que inclui a perspectiva escolar. Mesmo a parte administrativa das instituições escolares já vem sofrendo mudanças em sua estrutura comunicativa ao longo dos últimos anos, que ultrapassam a perspectiva dos documentos oficiais, como a emissão de históricos escolares e boletins. A própria comunicação com as famílias dos estudantes, outrora totalmente “analógica”, feita apenas via agenda escolar de papel, vem passando por modificações e sendo gradativamente substituída, ao menos em grandes redes particulares, por softwares ou aplicativos que permitem a comunicação mais direta, rápida e ágil entre a instituição e as famílias. Em muitos casos, as famílias também podem dar feedbacks via aplicativo, os quais fazem o registro da conversa, que passa a ter o mesmo valor do “bilhete assinado no caderno”. Essa troca de informações ágil e direta entre os interessados também é parte de uma política educomunicativa dentro da escola, tornando os processos de informação mais claros, acessíveis e participativos. TEMA 2 – A EDUCAÇÃO PARA A SEGURANÇA NOS TEMPOS DE INTERNET A Educomunicação como estratégia de transformação das práticas escolares se apropria das TDIC de maneira praticamente indissociável, nos dias atuais. 5 Figura 1 – Educomunicação Créditos: Macrovector/Shutterstock. Isso porque muitos dos veículos de comunicação já migraram para o meio digital, através da internet: os grandes jornais do país já praticamente não circulam mais em papel, pois o maior consumo é pela internet, incluindo assinaturas on- line; as rádios têm perdido espaço para os programas on-line e os podcasts; mesmo as TVs já possuem serviços que permitem, mediante assinatura ou não, assistir a sua programação de forma discrônica – não é preciso mais se preocupar em perder um capítulo da série ou da novela; livros,revistas e outras mídias que em meio físico eram mais estáticas também ganharam espaço digital e se transformaram: no caso dos livros, com links, realidade aumentada e interfaces com outras mídias; já as publicações como revistas também podem se aglomerar em portais de periódicos de um mesmo assunto, incluindo “conteúdos exclusivos” em suas versões on-line para assinantes. Além da transformação sofrida pelos veículos de comunicação que já existiam, outros surgiram e tomaram corpo, como as redes sociais, que recentemente começaram a ter seu valor reconhecido como meios de informação e comunicação. Outro meio que merece destaque é o blog, que consiste em uma página pessoal de opinião, informação e muitas vezes, conhecimento – bem 6 diferente de seu surgimento, quando estava mais relacionado com um “diário pessoal on-line”. Para além disso, agregadores de conteúdos também são importantes meios de comunicação, como portais de vídeos que hospedam gratuitamente o conteúdo de seus usuários, os quais possuem milhares de seguidores, que acompanham suas postagens periódicas, assim como nos blogs, mas no formato de vídeos. Todos esses meios são largamente utilizados pelas crianças e adolescentes fora dos contextos de aprendizagem formal, com maior ou menor facilidade e critério de uso e senso crítico, do que depende a idade e a formação cultural do usuário. E existem, ainda, instituições de ensino que criam e se utilizam de recursos próprios, padronizados, ditos “institucionais”, para incrementar seus sistemas comunicativos, com sistemas e aplicativos para comunicação entre estudantes, famílias e professores, além da própria equipe gestora da escola – embora, via de regra, esta seja uma prática mais administrativa do que para a livre comunicação entre os envolvidos. Diante desse cenário, se as escolas adotam uma prática educomunicativa, enriquecendo e aprofundando seus ecossistemas comunicativos, conforme proposto por Martín-Barbero, isso se dará quase que inevitavelmente utilizando um ou mais canais digitais de comunicação. É necessário que a escola e seus professores, diretores e todo o corpo técnico e pedagógico estejam abertos a discutir e aprender sobre as formas de utilizar a comunicação, em especial pelos meios digitais. Claro que com isso contribui o acesso aos dispositivos eletrônicos e à rede de internet, que, como sabemos, não é uniforme em todo o território nacional, e nem mesmo dentro de uma comunidade. Portanto, o aprofundamento das relações comunicativas no âmbito da escola, permeadas de tecnologias, pode esbarrar em algumas situações técnicas, muitas vezes difíceis de serem superadas. Porém, o acesso quase universal já permite que algumas estratégias educomunicativas sejam pensadas exclusivamente para esses canais. Junto com o crescente uso das TDIC na escola, principalmente com finalidade pedagógica, surge uma nova necessidade, que é abordar a questão da informação para o uso da internet e seus recursos. Essas informações vão desde o uso de linguagem adequada e seleção dos meios de comunicação até a leitura 7 crítica dos conteúdos desses meios e segurança na internet, e são básicas para a boa convivência no ciberespaço. O ciberespaço tem por característica ser aberto, plural, sem conexão com o tempo real e de acesso amplo. Todos, e qualquer um, podem produzir informação e publicar livremente, o que não significa que toda a informação e todo o serviço colocado à disposição é de qualidade. Lidar com esse fenômeno é complexo e influencia a relação da escola e das famílias envolvidas com as TDIC. Nesse sentido, faz-se importante salientar alguns aspectos do uso dos meios digitais, dos quais três serão discutidos na sequência: etiqueta na internet, ou netiqueta, bullying e segurança em redes sociais. Etiqueta na internet, ou Netiqueta, possui ênfase nas interações dos usuários, não apenas, mas principalmente, nas redes sociais. A linguagem extremamente informal adotada na maioria das vezes nos recursos digitais, por exemplo, é algo a ser pensado, e o ambiente escolar, por meio da educomunicação, pode favorecer essa reflexão. Ainda nesse aspecto, é comum observar em comentários de notícias de grandes portais de informação, ou em fotos e links de redes sociais, comentários desrespeitosos, maldosos e contendo calúnias e ameaças, direcionados para pessoas famosas e também para pessoas comuns, em um nível de agressividade que dificilmente veríamos em alguém pessoalmente. Isso porque muitas vezes as pessoas se sentem “protegidas” atrás das telas, e com uma falsa sensação de impunidade, o que já vem se mostrando ilusório. Dispositivos legais, como o Marco Civil da Internet no Brasil (Lei n. 12.965/2014) e a Lei n. 12.737/2012, que tipifica atos como a invasão de computadores e o uso de informações privadas, são demonstrações de que já há um amplo reconhecimento pela sociedade brasileira e suas instituições políticas de que a liberdade de expressão não pode ser confundida com atos ofensivos, discriminatórios ou vexatórios. As práticas educomunicativas na escola trazem a reflexão sobre a forma de se relacionar nos meios digitais, na prática, tanto na linguagem utilizada quanto no conteúdo nas interações resultantes de uma dada prática. Por exemplo, no caso de um blog criado pelos estudantes, a linguagem para a escrita do seu conteúdo será em função de vários fatores, de acordo com o próprio conteúdo, faixa etária, entre outros aspectos; além disso, as interações resultantes de um dado texto desse blog podem ser favoráveis ou negativas, e é necessário que os estudantes avaliem e diferenciem o comentário negativo, ou crítica, do comentário 8 realmente ofensivo, sendo essa postura refletida na leitura de outras mídias e no próprio comportamento. O bullying é um problema que não está restrito, nem mesmo surgiu com os meios digitais. Porém, a facilidade na circulação de informações potencializou esse grave problema, criando situações extremamente constrangedoras não apenas para crianças, mas também, em alguns casos, para estudantes do Ensino Superior, e resultando na criação do termo cyberbullying. Não necessariamente relacionados, mas que também acontece nas práticas de bullying virtual, são os casos de chamado linchamento virtual, em que uma pessoa é foco de uma quantidade muito grande de comentários maldosos, tendo parte de sua vida seriamente afetada por essa ação. Figura 2 – Cyberbullying Créditos: Nadia Snopek/Shutterstock A ideia da educomunicação seria justamente voltar os olhos para essas práticas, infelizmente ainda muito comuns em escolas em várias partes do mundo, e, por meio da informação e do uso adequado dos meios de comunicação, evitar esses casos, que geram constrangimentos momentâneos e até permanentes em algumas pessoas. A segurança nas redes sociais se relaciona diretamente com os dois grandes temas citados acima, visto que muitas vezes são essas redes as utilizadas como meio principal de comunicação. Não raro, escolas mantêm perfis em redes sociais populares, inclusive divulgando informações importantes, como 9 calendários, festividades e outros. Isso acontece porque as redes sociais costumam provocar um alto nível de engajamento com os usuários, sendo uma boa ferramenta educomunicativa. No entanto, é importante que os envolvidos nessas ferramentas, sejam administradores de escolas, famílias, estudantes ou professores, tomem consciência do alcance dessas publicações e dos riscos que podem correr. É necessário que a instituição escolar se ocupe de documentos como autorizações de uso de imagem, por exemplo, e é extremamente importante que os estudantes também saibam das consequências da veiculação não autorizada da imagem de uma pessoa, que podem ir desde a reprovação da família na divulgação da imagem de um menor de idade atécolocar a segurança pessoal de alguém em risco, sejam eles estudantes ou profissionais da instituição. Por isso, é importante ter espaço aberto constantemente para a discussão desses aspectos, que devem incluir ainda orientações que ajudem os jovens no autocuidado e na própria segurança on-line. Ideias básicas e até aparentemente um pouco óbvias para usuários mais experientes, como criar uma senha segura, não divulgar fotos constrangedoras ou íntimas próprias e de terceiros em redes sociais e aplicativos de comunicação pessoal, não publicar comentários ofensivos, ou identificar links suspeitos, mesmo que tenham sido enviados por amigos, por exemplo, devem ser pautas das discussões com os estudantes. O Comitê Gestor da Internet no Brasil – CGI (www.cgi.br), que tem como uma de suas funções o estabelecimento de diretrizes para um bom uso da internet, possui muitos materiais que podem auxiliar as instituições a tornarem o uso das redes mais seguro e confiável. Figura 3 – Comitê Gestor da Internet http://www.cgibr/ 10 TEMA 3 – A EDUCAÇÃO PARA A INFORMAÇÃO NOS TEMPOS DE INTERNET É preciso superar o uso técnico dos meios digitais, indo para além do uso dos meios eletrônicos ou dos próprios meios de comunicação como meros instrumentos, promovendo uma ação educomunicativa de fato, assim como é urgente perceber a necessidade de realizar a leitura crítica dos meios de comunicação, seja em seu conteúdo ou em sua estrutura. A descentralização do conhecimento em relação ao professor e ao livro didático, proposta pela Educomunicação, leva à busca por informações relevantes em outros meios, que podem ser desde jornais de grande circulação impressos, programas de televisão e vídeos em redes de compartilhamento até páginas e blogs de áreas do conhecimento específicas, como a Política, a Medicina, ou a Arquitetura, por exemplo. Porém, assim como as TDIC e os meios de comunicação não são meros instrumentos, as técnicas e tecnologias também não são elementos isolados do contexto social. A teoria de que os artefatos tecnológicos possuem um sistema de ideias encerrado em seu desenvolvimento não é algo novo. Se acompanharmos o desenvolvimento das TDIC, que hoje são utilizadas diariamente e despontam como produto de um alto conhecimento, tais como a transmissão de dados via satélite, o sistema bluetooth, e a própria internet, perceberemos que elas foram desenvolvidas com interesse estritamente político: vencer a 2ª Guerra Mundial e, posteriormente, disparar na corrida da Guerra Fria. Sobre isso, Langdon Winner (1986) afirma que o que importa não é a tecnologia em si, mas sim o contexto socioeconômico no qual ela se desenvolveu e está inserida. Assim, é fundamental que todos no sistema educomunicativo percebam que sua linguagem, assim como os meios que usam para se comunicar, possuem em si um significado político, o que implica alinhamentos e posicionamentos que nem sempre ficam muito claros para os espectadores. Não é incomum que grandes veículos de comunicação, atualmente, se declarem alinhados, ou não, com um governante, ou com determinadas ideias políticas ou econômicas, o que demonstra uma evolução por parte da mídia de grande porte. Porém, observa-se que no Brasil isso não acontece na maioria das vezes, e o povo, acreditando num jornalismo supostamente isento, nem sempre faz a crítica necessária em sua leitura, e nem sempre dispõe de conhecimentos suficientes para tanto. 11 Também há o fenômeno das notícias falsas, ou fake news, que ganhou bastante evidência após o pleito eleitoral que levou Donald Trump à presidência dos Estados Unidos em novembro de 2016. Naquele país, os próprios assessores do candidato chegaram a criar diversos boatos, favorecendo o então candidato, e que foram disseminados para grande parte da população, principalmente com a ajuda das redes sociais. Figura 4 – Fake news Crédito: Solgas/Shutterstock. Por isso, é essencial que todos os atores do processo educomunicativo saibam reconhecer uma notícia falsa, com procedimentos simples que podem ir da verificação do link até a leitura na página original da suposta notícia – não raro, elas contêm erros e inconsistências de datas, além de outras notícias duvidosas (Sali, 2017). O assustador nesse fenômeno, porém, é que as notícias falsas têm, muitas vezes, um alcance muito maior do que notícias verdadeiras, porque geralmente contêm um apelo emocional muito forte, e por isso levam a um compartilhamento maior e mais rápido do que notícias verdadeiras. Existe ainda um mercado em formação por trás das fake news. Grandes portais de comunicação têm mostrado que existem empresas que se dedicam a manipular conteúdos verdadeiros, transformando-os em informações sensacionalistas, que chamam a atenção do público e que muitas vezes distorcem o seu conteúdo ou o entendimento sobre ele (Maia, 2017), o que endossa a visão 12 de Winner (1986) sobre a existência de uma intencionalidade permanente na geração de informações, também na produção de notícias. Educar para a informação pressupõe, ainda, que, além de interpretar os grandes veículos de comunicação, os estudantes saibam identificar informação de qualidade na internet. Para tal, os estudantes precisam, necessariamente, aprender como realizar uma busca de informações na internet, o que passa pela ortografia, mas também por conceitos relativamente simples de pesquisa, como a pesquisa booleana. Saber que existe a possibilidade de selecionar e filtrar resultados, por exemplo, além de conhecer diferentes plataformas de pesquisa, são conceitos relativamente simples que auxiliam a encontrar boas fontes de informação, e que também podem auxiliar no desenvolvimento de uma comunicação mais plena e segura. A linguagem é, para Bakhtin, viva, estando sujeita às mesmas mudanças a que todo ser vivo está: há palavras e linguagens que nascem, que se modificam (na forma de escrever e na interpretação), e linguagens que morrem (Amaral, 2007). Isso deve ser considerado para que o sistema comunicativo na instituição escolar seja valorizado pelos estudantes, e uma das formas mais naturais para isso ocorra é incorporando as palavras e linguagens às quais esses estudantes estão habituados, ao mesmo tempo em que se acrescentam novas formas de se comunicar. Dentro dessa perspectiva é que podem ser entendidos os multiletramentos na Educomunicação, que também são parte essencial do processo de educação para a informação. Pensando nesse sentido, no contexto da comunicação social com as TDIC, a internet proporcionou a criação e expansão rápida de novas formas de comunicação, e um exemplo disso são os chamados memes. Segundo o dicionário Priberam, os memes correspondem a toda “imagem, informação ou ideia que se espalha rapidamente através da internet, correspondendo geralmente à reutilização ou alteração humorística ou satírica de uma imagem” (Priberam, 2008-2013). Utilizados em sátiras de notícias reais, situações políticas, econômicas e do cotidiano, esse tipo de linguagem associa humor e linguagem gráfica, de modo semelhante às charges, porém, pressupõe quase sempre o uso exclusivo de imagens prontas, feitas por terceiros, ou que se baseiem em uma situação completamente diversa daquela à qual se refere a sátira contida na legenda da imagem. Tão importante quanto saber ler esse tipo de linguagem, 13 contextualizando-o, é que os estudantes possam utilizá-la de forma a enriquecer a linguagem no ecossistema comunicativo escolar de forma apropriada. Figura 5 – Exemplo de meme relacionado à alta do dólar TEMA 4 – O JORNAL ELETRÔNICO ESCOLAR E A CONSTRUÇÃO DE DIFERENTES GÊNEROS TEXTUAIS Precursor do jornal escolar, o pedagogo Celéstin Freinet afirmava que o jornal escolar deve ser um elemento ativo de uma nova pedagogia (1974). Com essa técnica,Freinet acreditava que o texto escrito adquire para a criança um novo significado, pois deixava de ser escrito para um professor corrigi-lo, ou ser algo que interessa apenas à criança autora: uma vez que esse texto será publicado em um meio de comunicação, deve ser algo que interesse às outras crianças, e não apenas a si própria. O método Freinet de construção de um jornal escolar é uma das primeiras ferramentas de Educomunicação, já que pressupõe uma grande liberdade de construção de textos, de organização da publicação e de seleção de temas por parte dos estudantes. Conforme vemos em sua obra, O jornal escolar: o nosso jornal escolar é, antes de mais nada, uma recolha de textos livres de crianças, expressão fiel dos principais interesses da classe em seu meio ambiente. Se a classe é uma classe rica, inserida em um meio escolar e social fecundo, o jornal escolar será variado, terá profundidade e originalidade. Caso contrário, a sua dispersão e a sua insuficiência serão o próprio reflexo das insuficiências do meio (Freinet, 1974). Para o teórico, as crianças pequenas, desde a educação infantil, podem realizar produções de jornais escolares, dentro das possibilidades da faixa etária – com mediação de adultos escribas para o registro de textos e leitores para a reprodução dos textos aos outros estudantes; maior uso de linguagens não 14 verbais, que proporcionem autonomia no uso desse meio de comunicação e registro para as crianças; entre outros. Para as turmas que, no Brasil, correspondem ao Ensino Fundamental 1, essas práticas já devem contemplar a escrita de textos, mas privilegiando a forma livre de registro. Apenas no Ensino Fundamental 2, Freinet sugere o direcionamento para diferentes gêneros jornalísticos: notícia, editorial, reportagem, opinião, entrevista, resenha e outros. Assim, para a além da construção de textos significativos e o exercício da criatividade, essas crianças estarão em contato com a produção de gêneros textuais diferentes. As TDIC possibilitaram uma mudança no paradigma da produção do jornal escolar, com a possibilidade da construção de jornais eletrônicos. Entre as principais mudanças nesse sentido, destacam-se a redução no tempo e no custo da produção dos jornais escolares, que não raro eram dificuldades enfrentadas pelos profissionais das escolas. Agora, obviamente, ainda se esbarra em problemas infraestruturais, como a disponibilidade de computadores e de internet para a escola e para a comunidade escolar. Além disso, as TDIC proporcionam maior visibilidade ao material produzido, pois um jornal eletrônico necessariamente estará à disposição na web, independente de uma tiragem impressa limitada. Todos os professores da escola, estudantes, funcionários e famílias podem ter acesso ao material, e, na perspectiva de enriquecimento do sistema comunicativo, todos os elementos da comunidade escolar devem ser convidados a participar periodicamente da publicação. 15 Figura 6 – Jornal eletrônico Créditos: Liravega/Shutterstock. Importante salientar que o jornal escolar se utiliza da língua escrita, mas não precisa nem deve ser um meio utilizado apenas pelos professores de língua portuguesa no contexto escolar, pois não se trata do ensino de língua, e sim de aprender a comunicar o que pensa, sente, lê, ouve e sabe, por meio de uma publicação que faça sentido para o ambiente no qual o estudante, ou os demais atores do jornal estão inseridos, e não apenas para si mesmo. Os provedores gratuitos de blogs são opções interessantes, quando a instituição escolar ou sua mantenedora não dispõe de uma plataforma específica para o trabalho. Nesse caso, é extremamente aconselhável que um professor, ou um grupo de professores seja responsável pela revisão e publicação dos materiais submetidos ao jornal, já que, como uma página da web que carrega, por vezes, o nome de uma instituição, além de imagens de estudantes e funcionários, alguns cuidados devem ser tomados, principalmente em relação à linguagem e ao teor de algumas publicações. TEMA 5 – A RÁDIO ESCOLAR EM TEMPOS DE INTERNET A rádio escolar é uma ferramenta que possibilita que os estudantes se tornem protagonistas da ação comunicativa e exercitem, além da linguagem 16 escrita, também a oralidade e oratória, fortalecendo, ainda, as relações sociais e favorecendo a colaboração, a interação produtiva entre os pares, a criatividade e o enriquecimento do vocabulário. Assim como outros meios de comunicação, o rádio sofreu modificações com o surgimento e a popularização da internet. Se, assim como outros meios de comunicação, sua produção se tornou mais fácil, do ponto de vista técnico, as TDIC também proporcionaram mudanças no seu conteúdo. Os podcasts têm sido um meio cada vez mais popular de utilizar a linguagem do rádio na internet. Segundo o dicionário Priberam (2008-2013), podcast é uma junção das palavras em inglês [i]Pod (marca registrada americana) e [broad]cast (transmissão). O conceito consiste em um conteúdo de som, em geral, uma gravação de voz em formato semelhante a um programa de rádio, publicado com periodicidade regular, que fica hospedado em um site na internet e que pode ser ouvido tanto on-line como pode ser baixado e ouvido sem o uso da internet posteriormente em diferentes locais e equipamentos, como em outro computador, no celular ou no rádio do carro, por exemplo. Os materiais e técnicas utilizados para o desenvolvimento de uma rádio escolar nos moldes tradicionais, com transmissão ao vivo, são diferentes daqueles requeridos para a construção de um podcast, mas um pouco semelhantes ao processo de construção de programas de rádio escolar gravados. É necessário que os estudantes e os professores que conduzem a prática tenham a sua disposição dispositivos que consigam fazer a captação de som com relativa qualidade, além de um ambiente com isolamento acústico suficiente para que a gravação possua uma qualidade razoável. Também é essencial que o grupo que realiza a rádio escolar tenha conhecimentos básicos em softwares de edição de som, sendo o Audacity um dos mais conhecidos. Esse software é bastante utilizado no meio educacional por ser open source, totalmente gratuito e por funcionar em diferentes sistemas operacionais, além de ser intuitivo para usuários leigos e possuir alguns recursos e filtros interessantes para aqueles que já possuem algum conhecimento, respondendo bem à demanda de uma rádio escolar. Uma vez produzido o programa, os estudantes podem optar por divulgá-lo pelo sistema de som da escola, caso exista, e também por divulgá-lo na internet, criando uma página para o projeto e divulgando para os interessados. 17 A grande diferença do podcast para publicações de áudio convencionais em blogs está no fato de que os podcasts devem ser “assinados” por seus usuários, para que recebam as atualizações dos programas em seus feeds RSS. Assim como os servidores de blogs e de páginas gratuitas, os podcasts também possuem servidores em que é possível se cadastrar gratuitamente para a criação de um podcast sem custos. Alguns desses provedores são ferramentas para dispositivos móveis, como por exemplo o SoundCloud e o Spotfy. Ao disponibilizar o conteúdo nesses aplicativos, usuários de todo o mundo podem acessar o canal criado pelo grupo, a exemplo das páginas da web e de serviços de vídeo já bastante difundidos, como o Youtube – que também dispõe de ferramentas para a criação de podcasts. Quando um usuário acessa o conteúdo do canal e se interessa por ele, é possível optar por “assinar” o canal e ser notificado a cada atualização em seu computador ou outro dispositivo conectado. Assim, a divulgação do canal produzido pela escola é fundamental na perspectiva da produção de podcasts no ambiente escolar, com vistas ao enriquecimento do ecossistemacomunicativo e da prática Educomunicativa. 18 REFERÊNCIAS AMARAL, H. A língua é viva. Disponível em: <https://www.escrevendoofuturo.org.br/conteudo/biblioteca/nossas- publicacoes/revista/artigos/artigo/1372/a-lingua-e-viva>. 2007. Acesso em: 20 dez. 2018. EDUCAÇÃO INTEGRAL. Educomunicação. 2013. Disponível em: <https://educacaointegral.org.br/glossario/educomunicacao/>. Acesso em: 20 dez. 2018. FREINET, C. O jornal escolar. São Paulo: Editora Estampa, 1974. http://porvir.org/especiais/maonamassa/pesquisas-trazem-referencias-sobre- educomunicacao GOMEZ, M. V. Paulo Freire: Re-leitura para uma teoria da informática na educação. Núcleo de Comunicação e Educação da Universidade de São Paulo. S.d. Disponível em: <http://www.usp.br/nce/wcp/arq/textos/144.pdf>. Acesso em: 20 dez. 2018. MAIA, G. Fake News não são como boatos, são criadas para gerar lucros, diz diretor do UOL. 2017. Disponível em: <https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas- noticias/2017/12/12/fake-news-nao-e-erro-e-proposital-diz-diretor-de-conteudo- do-uol.htm>. Acesso em: 31 jan. 2019. MARTÍN-BARBERO, J. De los medios a las mediaciones: comunicación, cultura y hegemonía. 4. ed. Bogotá: Convenio Andrés Bello, 1998. PORVIR – Inovações em educação. Como iniciar práticas educomunicadoras na escola? 27 fev. 2015. Disponível em: <http://porvir.org/como-iniciar-praticas- educomunicadoras-na-escola/>. Acesso em: 27 dez. 2018. PRIBERAM, Dicionário da Língua Portuguesa. Verbete "meme". 2008-2013. Disponível em: <https://dicionario.priberam.org/meme>. Acesso em: 27 dez. 2018. RODRIGUES, G. F. É Educomunicação? S.d. Disponível em: <http://www.usp.br/nce/wcp/arq/textos/148.pdf>. Acesso em: 27 dez. 2018. SALI, F. O que são fake news? Como identificá-las? Superinteressante. 21 dez. 2017. Disponível em: <https://super.abril.com.br/mundo-estranho/o-que-sao-fake- news-como-identifica-las/>. 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