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Brasília-DF. Endocrinologia, oncologia, HEmatologia E distúrbios imunorrElacionados Elaboração Wellington Augusto Sinhorini Raquel Reis Martins Produção Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração Sumário APRESENTAÇÃO ................................................................................................................................. 4 ORGANIZAÇÃO DO CADERNO DE ESTUDOS E PESQUISA .................................................................... 5 INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 7 UNIDADE I ENDOCRINOLOGIA ............................................................................................................................... 9 CAPÍTULO 1 DISTÚRBIOS ENDÓCRINOS ........................................................................................................ 9 UNIDADE II HEMATOLOGIA .................................................................................................................................... 93 CAPÍTULO 1 HEMATOLOGIA E DISTÚRBIOS IMUNORRELACIONADOS ........................................................... 93 UNIDADE III ONCOLOGIA .................................................................................................................................... 116 CAPÍTULO 1 ONCOGÊNESE NOS FELINOS .............................................................................................. 116 REFERÊNCIAS ................................................................................................................................ 154 4 Apresentação Caro aluno A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade. Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela interatividade e modernidade de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da Educação a Distância – EaD. Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade dos conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos específicos da área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém ao profissional que busca a formação continuada para vencer os desafios que a evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo. Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira. Conselho Editorial 5 Organização do Caderno de Estudos e Pesquisa Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam tornar sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta para aprofundar seus estudos com leituras e pesquisas complementares. A seguir, apresentamos uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de Estudos e Pesquisa. Provocação Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor conteudista. Para refletir Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões. Sugestão de estudo complementar Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo, discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso. Atenção Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a síntese/conclusão do assunto abordado. 6 Saiba mais Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões sobre o assunto abordado. Sintetizando Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos. Para (não) finalizar Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado. 7 Introdução O sistema endócrino é um dos sistemas integradores, permitindo a interação das várias células do corpo entre si e com o meio ambiente. Corresponde ao conjunto de glândulas endócrinas, relacionadas à produção de mensageiros químicos transportados pelo sangue, os hormônios. Já a hematologia estuda os elementos figurados do sangue: hemácias (glóbulos vermelhos), leucócitos (glóbulos brancos) e plaquetas; além da sua produção, órgãos onde eles são produzidos e suas funções. A oncologia é um ramo da ciência médica que lida com tumores. O estudo da oncologia está voltado para a forma como o câncer se desenvolve no organismo, seus meios de diagnóstico, bem como qual tratamento mais adequado para cada tipo de neoplasia. Os assuntos abordados estão apresentados segundo uma sequência pedagógica e envolvem uma introdução e breve histórico sobre cada assunto dentro dos temas propostos. Também serão abordados aspectos clínicos, diagnóstico e tratamento, além de breves explicações quanto as fisiopatologias das doenças. Para melhor entendimento e compreensão, serão apresentados esquemas, quadros e figuras. Objetivos » Promover a atualização de profissionais em Medicina Veterinária na área de Endocrinologia, de acordo com as tendências atuais do mercado, a fim de capacitá-los como Especialistas em Endocrinologia em Medicina Veterinária, estudando e reconhecendo os principais Distúrbios Endócrinos, envolvendo hipotálamo, hipófise, paratireoide, tireoide e adrenal. » Estudar e reconhecer os principais Distúrbios Oncológicos, com suas características metastáticas, síndromes e acometimentos sistêmicos. » Estudar e reconhecer os principais Distúrbios Hematológicos e seus distúrbios, desde sua formação, função e alterações que podem ocorrer quando a alguma patogenia. » Compreender sinais associados aos distúrbios, métodos de diagnóstico e tratamentos adequados a essas afecções anteriormente mencionadas. » Compreender a importância do profissional Médico-Veterinário na atuação clínica frente aos problemas dos distúrbios descritos. 8 9 UNIDADE IENDOCRINOLOGIA CAPÍTULO 1 Distúrbios endócrinos Breve histórico A história da endocrinologia se inicia com Aristóteles, 322 a.C., que relatou os efeitos da castração nas aves e no homem, e embora sem compreender o mecanismo, fez a primeira alusão à atividade hormonal. Órgãos endócrinos são aqueles capazes de produzir hormônios, estando distribuídos por todo corpo dos animais e de diversas apresentações. Embora já conhecidos há muito tempo, suas funções e os mecanismos de controle de sua secreção eram desconhecidos até 100 anos atrás. No século XX, o conhecimento da endocrinologia começa seus rápidos avanços, e o termo hormônio (do grego excitar), foi proposto para denominar a substância produzida em um órgão endócrino e transportada no sangue para exercer sua ação em outro órgão. Já o termo endócrino vem do grego endo: em, dentro, e krinein: liberar, ou seja, liberar ou secretar dentro do organismo. Hormônios e principais glândulas endócrinas De forma geral, os hormônios são modificadores ou moduladores das reações enzimáticas do metabolismo, embora também participem em outras funções específicas tais como crescimento celular e tissular, regulação do metabolismo, regulação da frequência cardíaca e da pressão sanguínea, função renal, eritropoiese, motilidade do trato gastrointestinal, secreção de enzimas digestivase de outros hormônios, lactação e atividade do sistema reprodutivo. 10 UNIDADE I │ ENDOCRINOLOGIA Sempre atuando por meio de receptores específicos, os hormônios estão presentes unicamente em suas respectivas células-alvo, pois os receptores são proteínas que têm sítios de união aos quais se ligam os hormônios com bastante especificidade e afinidade. O número de receptores varia em cada tipo de célula, variando, portanto, o grau da resposta de cada célula à ação hormonal. Atualmente vários tipos de hormônios já foram descritos (mais de 50), com diferentes características quanto a sua forma de síntese, armazenagem, meia-vida, forma de transporte no sangue e mecanismo de ação. Existem quatro principais categorias químicas (classe molecular) de hormônios: polipeptídicos ou proteicos, variam desde três até 200 resíduos de aminoácidos. Inicialmente produzidos como grandes hormônios, são posteriormente convertidos no hormônio original dentro da célula (em grânulos secretórios ou vesículas) antes da sua secreção; esteroidais, derivados do colesterol, produzidos pelo córtex adrenal, gônadas e placenta; derivados de aminoácidos (aminas), produzidas pela medula adrenal e algumas células nervosas, incluem as catecolaminas e as iodotironinas; e por fim eicosanoides, que incluem as prostaglandinas, os leucotrienos e os tromboxanos, compostos derivados do ácido araquidônico e produzidos em quase todos os tecidos. Quanto a naturezas químicas, os hormônios podem ser hidrofílicos, aqueles que têm fácil trânsito pelo sangue circulando de forma livre; e os lipofílicos, que necessitam do auxílio de proteínas transportadoras condicionando solubilidade temporária a estes hormônios no sangue. A secreção dos mensageiros químicos media a comunicação entre as células, sendo estes classificados em quatro tipos: Quando uma célula secreta um mensageiro químico para atuar em seus próprios receptores, como por exemplo a produção do fator de crescimento epidérmico, sendo esta a secreção autócrina. Quando mensageiros químicos atuam sobre células adjacentes, sendo este um modo de ação de muitas células do sistema neuroendócrino difuso, dá-se o nome de secreção parácrina. No caso de secreção de mensageiros químicos (hormônios) para a corrente circulatória, atuando sobre tecidos distantes, pode ser conhecida como função telécrina, trata-se da secreção endócrina. Já as secreções sinápticas, referem-se à comunicação por contato estrutural direto de um neurônio com a outra por meio de sinapses, estando esta restrita ao sistema nervoso. Há ainda a secreção neuroendócrina, a qual o neurônio produz secreção que ganha os vasos sanguíneos para atingir a célula-alvo. 11 ENDOCRINOLOGIA │ UNIDADE I Para síntese e a liberação dos hormônios vários mecanismos de controle, periféricos ou centrais, na maioria das vezes autorregulatórios, estão envolvidos. Ou seja, são produzidos efeitos biológicos que controlam sua própria produção e liberação, ou ainda, mecanismos de retroalimentação (feedback). A essência desse pensamento é a de que os hormônios promovem efeitos biológicos que controlam sua própria produção e liberação, sendo esse mecanismo a principal forma de controle na fisiologia orgânica. São particularmente importantes no sistema endócrino, especialmente aqueles de retroalimentação negativos, isto é, aqueles em que o efeito promovido pelo hormônio suprime sua própria secreção. O feedback positivo é mais raro e observado quando o resultado da ação hormonal incrementa, potencializa sua própria produção. Quando não funcionam da forma adequada, as glândulas endócrinas podem levar a um aumento ou diminuição das concentrações séricas dos hormônios, resulta em desequilíbrio das funções, uma vez que essas substâncias são secretadas dentro de limites extremamente precisos. Portanto, chamamos de endocrinopatias qualquer desproporcionalidade entre as concentrações hormonais e as necessidades fisiológicas para um dado momento ou quando ocorre resposta inapropriada dos órgãos a concentrações adequadas do hormônio. A perda dessa capacidade de resposta hormonal devido a uma disfunção central ou da própria glândula repercute de maneira sintomática e laboratorial. O reconhecimento e a correção dessas disfunções constituem a essência da endocrinologia clínica, que agrega o estudo das doenças endócrinas, seu reconhecimento e tratamento. O sistema endócrino é constituído (Figura 1) por: » Hipotálamo. » Hipófise ou glândula pituitária. » Glândula tireoide. » Glândulas paratireoides. » Glândulas suprarrenais ou adrenais. » Glândula pineal ilhotas de Langerhans (pâncreas endócrino) gônadas (gone = semente) (glândulas sexuais). 12 UNIDADE I │ ENDOCRINOLOGIA Figura 1. Sistema endócrino e suas partes. Hormônio do crescimento (GH) Hipotálamo Sistema porta-hipofisário Talo Pituitário Glândula pituitária posterior Gonadotrofina, ação sobre LH e FSH Ovário Testículo Osso Músculo Gl. Mamária Tireoide TSH Glândula Pituitária Anterior Prolactina (PRL) ACTH Córtex Adrenal Quiasma óptico Tecido adiposo Fonte: <https: //br.images.search.yahoo.com/yhs/search>. Acesso em: 15 mar. 2019. Hipotálamo Além de ser responsável pela regulação da liberação e inibição dos hormônios da hipófise (neuroipófise e adenohipófise), também produz oxitocina e ADH (antidiuretic hormone), que são posteriormente estocados no lobo posterior da hipófise, desempenhando o importante papel de interação entre o sistema nervoso e o endócrino. Hipófise É um pequeno órgão, que se liga por um pedúnculo ao hipotálamo na base do cérebro (situada sob o encéfalo), com o qual guarda importantes relações anatômicas e funcionais. A hipófise pode ser dividida em lobo anterior e lobo posterior. A hipófise anterior secreta seis hormônios: hormônio adrenocorticotrófico (ACTH), hormônio tireoestimulante (TSH), hormônio de crescimento (GH), hormônio folículo estimulante (FSH), hormônio luteinizante (LH) e prolactina. Já no lobo posterior da hipófise são estocados, após serem secretados pelo hipotálamo, os hormônios oxitocina e ADH (hormônio antidiurético). Conhecida também por pituitária, além de controlar 13 ENDOCRINOLOGIA │ UNIDADE I diretamente diversas funções metabólicas, a hipófise também estimula ou inibe a ação de outras glândulas. Glândula tireoide Tem o papel de manter o metabolismo dos tecidos em nível ótimo para suas funções normais, está localizada no pescoço, estando apoiada sobre as cartilagens da laringe e da traqueia. O hormônio tireoidiano estimula o consumo de oxigênio da maioria das células do organismo, auxilia a regulação do metabolismo dos carboidratos e dos lipídeos e é necessário para o crescimento e maturação normais. A glândula não é essencial para a vida, porém, sua ausência acarreta menor resistência ao frio, lentidão física e mental e, em filhotes, pode levar ao retardamento mental e nanismo. Por outro lado, o excesso de secreção tireoidiana produz desgaste corporal, agitação, taquicardia, tremores e produção excessiva de calor. A função tireoidiana é regulada pelo hormônio tireoestimulante (TSH) da hipófise anterior e a secreção deste hormônio tireoidiano é regulada em parte, por retroativação inibitória, dependente de níveis altos de hormônio tireoidiano circulante sobre a hipófise e, em parte, por mecanismos nervosos que agem por intermédio do hipotálamo. Os principais hormônios secretados pela glândula tireoide são: tiroxina (T4), triiodotironina (T3) e calcitonina. triiodotironina (T3) e tiroxina (T4), aumentam a velocidade dos processos de oxidação e de liberação de energia nas células do corpo, elevando a taxa metabólica e a geração de calor. Estimulam ainda a produção de RNA e a síntese de proteínas, estando relacionados ao crescimento, maturação e desenvolvimento. A calcitonina, outro hormônio secretado pela tireoide, participa do controleda concentração sanguínea de cálcio, inibindo a remoção do cálcio dos ossos e a saída dele para o plasma sanguíneo, estimulando sua incorporação pelos ossos. Glândulas paratireoides São quatro glândulas muito pequenas, que se localizam na face próximas à tireoide, geralmente dentro da cápsula que reveste os lobos dessa glândula. O hormônio das paratireoides é o paratormônio, cujo papel fisiológico é regular o nível de íons cálcio e fosfato no plasma sanguíneo. A diminuição da taxa de cálcio no plasma estimula as paratireoides a liberar seu hormônio. Por sua vez, o paratormônio atua sobre as células do tecido ósseo, aumentando o número de osteoclastos promovendo a absorção da matriz óssea calcificada. A elevação do cálcio plasmático deprime a produção de paratormônio (Figura 2). 14 UNIDADE I │ ENDOCRINOLOGIA Além de elevar o cálcio, o paratormônio reduz a taxa de íon fosfato no plasma, efeito este que é consequência de um aumento da perda de fosfato na urina. O paratormônio diminui a absorção de fosfato do filtrado glomerular pelos túbulos do néfron aumentando a eliminação de cálcio. Neste contexto, o cálcio é importante na contração muscular, na coagulação sanguínea e na excitabilidade das células nervosas. Figura 2. Ação do hormônio da paratireoide. Hormônio Paratireoide Osso libera Ca++ Fluxo do Sangue Rim Conserva Intestino Absorve Ca ++ Ca ++ Fluxo de sangue Ca ++ Ca ++ Ca ++ Glândula Paratireoide Fonte: <https://br.images.search.yahoo.com/yhs/search>. Acesso em: 15 mar. 2019. Glândulas suprarrenais ou adrenais São duas, cada uma situada sobre o polo superior de cada rim, achatadas e com formato de meia-lua. Internamente, são divididas em duas regiões, uma externa, o córtex adrenal, e outra interna, a medula adrenal, ou seja, duas camadas que tem ainda morfologia e funções diferentes, podendo ser consideradas dois órgãos distintos, apenas unidos 15 ENDOCRINOLOGIA │ UNIDADE I topograficamente. Suas origens embrionárias são diferentes, provindo o córtex do epitélio celomático, e, portanto, do mesoderma, enquanto a medula se origina de células da crista neural, sendo, então, de origem neuroectodérmica. As duas camadas têm ainda morfologia e funções diferentes. A glândula é revestida por uma cápsula conjuntiva e seu estroma é representado por uma intensa trama de fibras reticulares que suporta as células. As principais secreções da medula adrenal são adrenalina (epinefrina) e noradrenalina (norepinefrina), sendo que na verdade, a medula adrenal é um gânglio simpático no qual os neurônios pós-ganglionares perderam seus axônios e transformaram-se em células secretoras. Tais células secretam quando são estimuladas pelas fibras nervosas pré-ganglionares que atingem a glândula, pelos nervos esplâncnicos. A adrenalina prepara o organismo para situações de perigo ou estresse. Entre outros efeitos, ela aumenta os batimentos cardíacos e a pressão arterial, preparando o animal para uma reação rápida. A noradrenalina controla a pressão sanguínea do corpo. Já as principais secreções do córtex adrenal são cortisol (glicocorticoides) que são esteroides de ampla ação sobre o metabolismo dos carboidratos e das proteínas; aldosterona (mineralocorticoides) que são essenciais para a manutenção do balanço de sódio e do volume do líquido extracelular. Ambos são derivados do colesterol e, por isso, são chamados de esteroides. A regulação principal da secreção adrenocortical é exercida pela hipófise por intermédio do ACTH; porém, a secreção de mineralocorticoides está sujeita também a outra regulação independente, por intermédio de outras substâncias, das quais a mais importante é a angiotensina II, que é um octapeptídeo formado na corrente sanguínea pela ação da renina (uma enzima secretada pelo rim). A angiotensina II também exerce uma função fisiológica muito importante que é a manutenção dos níveis normais da pressão sanguínea (pressão arterial). Ilhotas de Langerhans Estas estruturas constituem a porção endócrina do pâncreas, localizada na região abdominal. Ele é chamado de glândula mista pelo fato de possuir, tanto funções endócrinas, e apresentam-se sob a forma de aglomerados arredondados de células, imersos no tecido pancreático exócrino. Cada ilhota é constituída por uma série de cordões formados por células poligonais ou arredondadas entre as quais existe uma rede de capilares sanguíneos. Envolvendo a ilhota e separando-a do tecido pancreático restante, existe uma fina cápsula de fibras reticulares. Pelo menos quatro peptídeos com atividade hormonal são secretados pelas Ilhotas de Langerhans do pâncreas, e dois desses hormônios, a insulina e o glucagon, têm 16 UNIDADE I │ ENDOCRINOLOGIA importantes funções na regulação do metabolismo intermediário dos carboidratos, proteínas e gorduras. A insulina tem ação anabólica, aumentando o depósito de glicose, ácidos graxos e aminoácidos, e o glucagon tem ação catabólica, mobilizando a glicose, os ácidos graxos e os aminoácidos, dos depósitos para a corrente sanguínea. Portanto, os dois hormônios são contrários em sua ação final, e são, em muitas circunstâncias, secretados de modo contrário. Quase todos os tecidos têm a capacidade de metabolizar a insulina, porém mais de 80% da insulina secretada é normalmente degradada no fígado e nos rins. O excesso de insulina causa hipoglicemia que produz convulsões e coma; e a ausência de insulina resulta do diabetes melito. Já o glucagon estimula o aumento da concentração de glicose no sangue e a quebra do glicogênio. Glândula pineal A glândula pineal é pequena, tem um formato oval e está localizada entre os hemisférios cerebrais, na parte superior do tálamo, no centro do cérebro. Ela secreta um hormônio chamado melatonina, que é sintetizado a partir da serotonina (um neurotransmissor), liberada com a escuridão e que induz ao sono. Já a claridade inibe a produção de melatonina. A pineal responde a estímulos luminosos do meio externo. A informação relacionando essas condições atinge a glândula por meio dos impulsos nervosos que se originam na retina dos olhos. Esses impulsos atingem o hipotálamo e daí são conduzidos até a medula espinhal. Na medula espinhal são conduzidos por meio de nervos simpáticos até o cérebro, e finalmente alcançam a glândula pineal. Gônadas Ovários Os ovários secretam os hormônios sexuais femininos, o estrógeno e a progesterona. O estrógeno, entre outras funções, está relacionado ao ciclo menstrual e ao desenvolvimento de características sexuais secundárias. A progesterona promove alterações necessárias para a manutenção de uma possível gravidez. No útero, por exemplo, o hormônio promove a formação do endométrio, tecido sobre o qual o embrião se fixa. Testículos Os testículos secretam o hormônio sexual masculino, a testosterona. Este hormônio, entre outras funções, promove o desenvolvimento de características sexuais secundárias. 17 ENDOCRINOLOGIA │ UNIDADE I Glândula tireoide A tireoide é uma glândula órgão bilobada de coloração castanho-amarelada, localizada caudalmente à laringe sobre os primeiros anéis traqueais (Figura 3), presente em todos os vertebrados. Figura 3. Localização da glândula tireoide na espécie felina. Fonte: <https://www.arquivos_fck_editor/Hipertireoidismo_em_felinos>. Acesso em: 15 mar. 2019. É uma glândula endócrina, extremamente vascularizada, de origem endodérmica, cujo desenvolvimento se dá precocemente na porção cefálica do tubo digestivo. Entre suas principais funções estão a síntese, armazenamento e secreção do hormônio tireóideo, além da manutenção dos níveis ideais da concentração de iodo. Anatomicamente a glândula tireoide nos felinos, tem formato achatado e elipsoidal, que não possui istmo de conexão entre os dois lobos, que se localizam adjacentes aos primeiros cinco ou seis anéis traqueais, sendo que o lobo esquerdo é levemente caudal ao direito. No gato normalmente, os lobos estão situados profundamente em relaçãoao músculo esterno-hioideo e medem em torno de 10 mm de comprimento, 4 mm de largura e 2 mm de espessura e não são palpáveis. Dorsalmente, os lobos estão em estreita proximidade com a bainha carotídea e com o tronco vagossimpático. Fibras do nervo laríngeo recorrente direito passam dorsalmente em íntima associação ao lobo tireoidiano direito. O principal aporte sanguíneo para cada lobo da tireoide é a artéria tireoidiana cranial, que se origina da artéria carótida comum. O principal retorno venoso da glândula tireoide se faz pelas veias tireoidianas craniais e caudais, que deixam os polos cranial e caudal de cada lobo, respectivamente. A glândula tireoide tem uma cápsula distinta que é separada da glândula por dissecção e tem pequenos vasos localizados em sua superfície. Há um parênquima tireoidiano acessório chamado de tecido tireoidiano ectópico, presente na maioria dos cães e gatos, que é principalmente encontrado na região cervical, 18 UNIDADE I │ ENDOCRINOLOGIA porém também pode estar localizado no interior do tórax. Em aves, é encontrada dentro da cavidade torácica; ambos os lobos se localizam próximos à siringe, adjacentes à artéria carótida e próximos à origem da artéria vertebral. As tireoides acessórias respondem à TSH e são completamente funcionais. Os transtornos de tireoide são mais comuns nos pequenos se comparados aos grandes animais. Histologicamente a unidade anatômica funcional da tireoide é o folículo tireoidiano ou ácino (Figura 4), que é rodeado de células foliculares de tamanhos variados, que secretam para seu interior o muito material coloide. Esse material contém uma glicoproteína chamada de tireoglobulina, que é uma globulina é uma grande glicoproteína contendo, cada molécula, cerca de 115 resíduos de tirosina. É sintetizada, glicosilada e, a seguir, secretada para dentro da luz do folículo, onde ocorre a iodetação dos resíduos de tirosina. Além da tireoglobulina esse material coloide também é composto por aminoácidos iodados ou iodotirosinas, tais como; a monoiodotirosina (MIT) e a diiodotirosina (DIT) e compostos derivados ou iodotironinas, como a T3 e a T4. Figura 4. Secção da glândula tireoide mostrando a localização das células foliculares e parafoliculares, os capilares e o coloide. Célula folicular Célula Parafolicular Folículo da Tireoide Lúmen folicular (Substância coloidal) Cápsula da Tireoide Capilares Fonte: <https://www.pinterest.pt/pin/604678687439636833/?lp=true>. Acesso em: 15 mar. 2019. No TGI o iodo ingerido é convertido em iodeto e absorvido para a circulação sendo capturado pela glândula tireoide por mecanismos de transporte ativos da membrana plasmática basal da célula folicular, resultando em uma concentração intracelular de iodo de 10 a 200 vezes a sérica. Esse processo é estimulado pela interação de TSH com os receptores de superfície celular, levando a ativação de cAMP (adenosina monofosfato cíclica). Após a difusão da membrana plasmática apical por gradiente de concentração, o iodo é oxidado pela enzima peroxidase tireoidiana (TPO) e organificada a resíduos de tirosina da tireoglobulina pré-formada para formar MIT e DIT. A tiroxina (T4) é formada por união de duas moléculas de DIT e a T3 por uma de DIT com uma de MIT (Figura 4). Ambas são clivadas da tireoglobulina antes de serem secretadas da glândula tireoide. A tireoglobulina é o sítio de armazenamento dos hormônios tireoidianos. 19 ENDOCRINOLOGIA │ UNIDADE I O coloide contendo tireoglobulina é absorvido para dentro da célula tireoidiana, através de pinocitose, sob estímulo do TSH. Simultaneamente os lisossomos (contendo proteases e enzimas hidrolíticas) migram da região basal para se unir com esses vacúolos. Os hormônios tireoidianos, MIT e DIT são liberados por estímulo de TSH, que também atua nas enzimas deiodase convertendo o T4 a T3 e T3r, e as iodotirosinas são deiodadas para permitir a reciclagem do iodo. A síntese e secreção dos hormônios tireoideanos pela glândula tireoide, são reguladas por um sistema de controle em feedback que envolve o eixo hipotálamo-pituitária-tireoide (eixo HTP), e são reguladas diretamente pelo TSH, além destes aumentando a formação de AMP cíclico (cAMP). Portanto, o TSH é o regulador primário da liberação e secreção de hormônios tireoideanos, tendo um papel crítico no crescimento e desenvolvimento da tireoide. Os hormônios metabolicamente ativos são as iodotironinas T3 e T4 (figura 5). A proteólise da tireoglobulina libera quantidades relativamente grandes de T4, mas apenas quantidades pequenas de T3. É também secretado pela glândula, pequenas quantidades de T3 reversa (rT3), uma forma inativa. Cerca de 90% do hormônio secretado pela glândula tireoide são tiroxina (T4) e 10% são triiodotironina (T3). Contudo, considerável porção de T4 é convertida em T3, nos tecidos periféricos, de forma que ambos são muito importantes, funcionalmente. As funções desses dois hormônios são, qualitativamente, as mesmas, porém diferem quanto à rapidez e a intensidade da ação. O T3 é cerca de quatro vezes mais potente que T4, porém está presente no sangue em quantidades muito menor e persiste durante tempo muito mais curto que o T4. Figura 5. Fisiologia: Hormonogênese dos hormônios Tireoidianos. MIT = Monoiodotirosina; DIT= Diiodotirosina. Desiodinase (co-fator Se) Bomba de Iodeto 2I¯ I2 + Tirosina (tireglobulina) Peroxidade (Fe) MIT + DIT DIT + DIT T3 (Triiodotironina) T4 (Tiroxina) Peroxidase (Fe) Fonte: <http://nutriatualidades.blogspot.com/2011/09/nutricao-no-hipotireoidismo.html>. Acesso em: 15 mar. 2019. 20 UNIDADE I │ ENDOCRINOLOGIA A meia-vida de T4 é de 7 dias e da T3 de 2 dias e quando esses hormônios são liberados no sangue, conjugam-se a proteínas plasmáticas transportadoras, principalmente à globulina transportadora de tiroxina (TBG) e em menor grau, à pré-globulina e à albumina. Cerca de 0,5% dos hormônios tireoidianos estão no sangue em forma livre, biologicamente ativa, em equilíbrio com a fração conjugada. Essa união dos hormônios tireoidianos às proteínas transportadoras é uma forma de diminuir sua perda pelos rins e aumentar sua meia-vida, servindo de importante reservatório desses hormônios. Por outro lado, as proteínas transportadoras têm papel regulador dos níveis hormonais funcionais. A afinidade de T3 pela TGB é menor, o que lhe permite maior difusão aos tecidos. Embora todo o T4 seja secretado pela glândula, ele é rapidamente deiodado nas células-alvo para formar T3 ativa ou T3r inativa, dependendo das necessidades da célula. O mecanismo geral de ação está baseado na existência de receptores nucleares com maior capacidade de união pela T3 do que pela T4. Normalmente a T3 é produzida preferencialmente durante estados metabólicos normais, enquanto a T3r, que é biologicamente inativa, parece ser produzida durante estados doentios, inanição ou catabolismo endógeno excessivo. Dentro da célula a T3 se liga a receptores na mitocôndria, ao núcleo e na membrana plasmática e exerce seus efeitos fisiológicos. Existe uma grande reserva de T4 no corpo, é encontrada principalmente na circulação, com uma lenta taxa de renovação, enquanto que, existe uma pequena reserva de T3 que apresenta uma taxa de renovação rápida e é encontrada principalmente dentro das células. Os hormônios tireoidianos agem em diferentes processos celulares via interações específicas ligante-receptor com o núcleo, mitocôndria e membrana plasmática. Embora tanto T3 quanto T4 tenham atividade metabólica intrínseca, o T3 é três a cinco vezes mais potente em se ligar a receptores nucleares e similarmente mais potente em estimular o consumo de oxigênio. Os efeitos do hormônio tireoidiano podem ser geralmente divididos naqueles que são rápidos e evidentes após minutos ou horas de administração, como estimular o transporte de aminoácidos e o consumo de oxigênio mitocondrial; e aqueles que requerem síntese proteica e um longo período para se manifestar.Cerca de metade do incremento do consumo de oxigênio é relacionado a ativação da bomba de sódio-potássio, além de estimular o consumo de oxigênio na mitocôndria. Essas mudanças estão relacionadas ao efeito calorigênico do hormônio tireoidiano. Os efeitos mais rápidos do hormônio podem ser observados clinicamente em pacientes hipotireoideos que iniciam o tratamento como aumento de atividade física e mental. Os efeitos mais crônicos são relacionados às ações celulares que requerem interação de T3 nuclear para aumento da síntese proteica crucial nos processos como crescimento, diferenciação, proliferação e maturação. Os efeitos dos hormônios tireoidianos, em 21 ENDOCRINOLOGIA │ UNIDADE I quantidades fisiológicas, são anabólicos. Trabalhando junto com o GH e a insulina, a síntese proteica é estimulada e a excreção de nitrogênio reduzida. No entanto, quando em excesso, pode ser catabólico, com aumento da gliconeogênese, quebra de proteína e perda de nitrogênio. O TSH, produzido pela adenoipófise, por sua vez, é estimulado pelo hormônio liberador de tirotrofina (TRH), que é um tripeptídeo distribuído por toda área do hipotálamo, mas em maior quantidade nos núcleos paraventricular e eminência mediana. O TRH é metabolizado muito rapidamente, sua meia-vida plasmática é de aproximadamente três minutos. O estímulo de TRH sobre a secreção de TSH ocorre pela ativação mediada por receptor via fosfolipase C, o que estimula a mobilização de cálcio intracelular. A estimulação crônica de TRH também aumenta a síntese e glicosilação do TSH, aumentando desta forma a atividade biológica do TSH. A secreção de TRH é pulsátil, assim como a secreção do TSH. Contudo, fora da tireoide, em diversos outros órgãos, a regulação de T3 e T4 está vinculada a alterações nutricionais, hormonais e a fatores relacionados a algumas enfermidades, o que pode variar em diferentes tecidos. Já a glândula tireoide responde a níveis sanguíneos de iodo e de TSH formando os hormônios tireoidianos e os libera na circulação (Figura 6). Figura 6. Esquema de regulação hormonal. Retroalimentação é o principal mecanismo de regulação da função hormonal. O produto final é o responsável pela regulação de sua própria síntese. Glândula Pituitária Hipotálamo TSH Glândula Tireoide T4 T3 T3 “reverse” (antitireoidiano) Fonte: <https://summitforwellness.com/wp-content/uploads/2016/03/Thyroid.jpg>. Acesso em: 15 mar. 2019. 22 UNIDADE I │ ENDOCRINOLOGIA Ações dos hormônios tireoidianos Basicamente há duas categorias de hormônios, uma que afeta o metabolismo e uma que afeta o crescimento e o desenvolvimento. Os hormônios são reguladores do metabolismo da maioria dos tecidos, produzindo um aumento geral no metabolismo dos carboidratos, das gorduras e das proteínas. A maioria desses efeitos envolve a modulação das ações de outros hormônios, tais como insulina, glucagon, os glicocorticoides e as catecolaminas, porém os hormônios tireoidianos controlam também, diretamente, a atividade de algumas das enzimas do metabolismo dos carboidratos. Ocorre um aumento no consumo de O2 e na produção de calor que se manifesta por uma elevação na taxa metabólica basal. Isso reflete a ação sobre alguns tecidos, tais como coração, rim, fígado e músculo, mas não sobre outros, como as gônadas, o cérebro e o baço. A ação calorigênica é uma parte importante da resposta a um meio ambiente frio. Portanto, o metabolismo energético aumenta taxa metabólica basal e estimula a termogênese facultativa, da seguinte maneira: » Metabolismo: aumenta o consumo de O2, produção de calor; metabolismo basal; aumenta radicais livres e mantém a temperatura corporal. » Sistema cardiovascular: produção de calor (vasodilatação periférica), diminuição da resistência vascular periférica, aumento do débito cardíaco, contratilidade e frequência cardíaca. » Efeitos gastrointestinais: aumenta motilidade. » Aparelho neuromuscular e ósseo: aumento da velocidade de contração e relaxamento muscular; aumento do turnover ósseo (aumento da reabsorção e formação óssea). » Efeitos hematológicos, pulmonares e endócrinos: controle da hipóxia e hipercapnia; eritropoiese; aumento do turnover metabólico de hormônios e agentes farmacológicos. » Metabolismo de lipídios: lipogênese e lipólise – colesterol – aumentam a degradação e diminui níveis séricos. » Metabolismo de carboidratos: captação da glicose pelo intestino, produção hepática de glicose, aumento da secreção de insulina => captação e utilização. » Metabolismo de proteínas: síntese e catabolismo – normalmente anabolismo supera catabolismo. 23 ENDOCRINOLOGIA │ UNIDADE I Já os efeitos sobre o crescimento e o desenvolvimento também é de responsabilidade dos hormônios tireoidianos. Há uma ação direta sobre as células e uma ação indireta, influenciando a produção do hormônio do crescimento e potencializando seus efeitos. Estes hormônios são importantes também para uma resposta normal ao paratormônio e a calcitonina e para o desenvolvimento esquelético; são particularmente necessários para o crescimento normal e maturação do SNC. Resumindo os efeitos biológicos do hormônio da tireoide são: » Promoção do crescimento e diferenciação celular e estimulação do metabolismo energético. » Desenvolvimento fetal: desenvolvimento do cérebro e do esqueleto (Cretinismo) – Crescimento: T3 estimula a produção de GH (nível gênico) e interage a nível tecidual. » SNC: desenvolvimento normal depende de hormônios tireoideanos, principalmente no período neonatal levando a danos irreversíveis na sua ausência. Regiões mais atingidas: cerebelo, hipocampo e bulbo olfatório. » Manifestações menos graves e totalmente reversíveis em adultos: lentidão mental, sonolência e, raramente, coma. » Pulmão: desenvolvimento e maturação pulmonar (associado a glicocorticoide) – estimula a síntese e secreção de surfactante alveolar com aumento da concentração dos receptores nucleares de T3 no período neonatal. Distúrbios da glândula tireoide Hipotireoidismo O hipotireoidismo é uma síndrome clínica resultante da produção ou ação biológica ineficiente dos hormônios tireoidianos sobre os tecidos, promovendo um efeito generalizado de retardo nos processos metabólicos de todo sistema corporal, por isso, os sinais clínicos são variáveis e muitas vezes inespecíficos, sendo os principais: bradicardia, rouquidão, sensibilidade ao frio, pele seca e fraqueza muscular. No entanto, as condições clínicas da síndrome dependem do grau e duração da deficiência de hormônios tireoideanos e, assim, afetará os tecidos em maior ou menor extensão. Constitui uma desordem endócrina rara no gato a qual sua ocorrência quase nunca se desenvolve espontaneamente nessa espécie, sendo o tratamento do hipertireoidismo 24 UNIDADE I │ ENDOCRINOLOGIA (iatrogênico) a principal causa, seja ele produzido por tireoidectomia bilateral ou terapia com iodo radioativo ou dose excessiva de drogas antitireoidianas. Tratamento à base de metimazol ou carbimazol frequentemente levam a uma concentração subnormal do T4 sérico, e podem desenvolver hipotireoidismo clínico com uma overdose prolongada de um medicamento antitireoidiano, porém eles geralmente não dão sinais clínicos associados ao hipotireoidismo, provavelmente devido ao fato da concentração sérica de T3 permanecer dentro do intervalo de referência, o que explica o porquê desses gatos permanecem clinicamente eutireoidianos. Após a tireoidectomia cirúrgica bilateral, a maioria dos gatos desenvolverá hipotireoidismo logo nos primeiros dias, porém esse hipotireoidismo iatrogênico é geralmente temporário, geralmente resolvido com 6 meses. Por isso, a suplementação com levotiroxina (L-T4) por algumas semanas a meses de pós-operatório é muitas vezes benéfica, podendo a mesma ser interrompida após o sexto mês. Acredita-se que a prevalência de hipotireoidismo iatrogênico esteja superestimada (cerca de 30%), isso porque a maioria dos gatos foidiagnosticada apenas com uma concentração baixa de T4 sérico, mas sem qualquer característica clínica do hipotireoidismo. Relatos mais recentes, reduziram a prevalência de hipotireoidismo iatrogênico permanente para menos de 5%, utilizando métodos de dosagem com radioiodo individualizados. O hipotireoidismo congênito também é uma doença rara, com poucas descrições na literatura. A falha da tireoide por si só em secretar uma quantidade adequada de hormônio tireoidiano é denominada de hipotireoidismo primário, e todos os casos da doença congênita já descrito são primárias (defeito na glândula tireoide). O hipotireoidismo primário congênito pode ser dividido em duas categorias conhecidas por disormonogênese tireoidiana e disgenesia tireoidiana. A primeira delas, disormonogênese tireoidiana que se trata de um defeito em qualquer etapa de captação de iodo ou síntese de hormônios tireoidianos. Como em todas as formas de hipotireoidismo primário, as baixas concentrações circulantes de T4 levam ao aumento da secreção hipofisária de TSH. Como os folículos tireoidianos permanecem intactos em gatos com disormonogênese tireoidiana, as altas concentrações circulantes de TSH induzem hiperplasia da glândula tireoide, o que leva ao aumento da glândula tireoide (bócio bilateral), tornando-as palpáveis. Ao contrário da dismorfogênese, a disgenesia tireoidiana trata-se de uma forma não homozigótica de hipotireoidismo congênito que leva à hipoplasia ou aplasia da glândula tireoide, devido a um defeito de desenvolvimento dessa glândula. Isso pode ocorrer devido a anormalidades no receptor de TSH. 25 ENDOCRINOLOGIA │ UNIDADE I Mesmo raro, o hipotireoidismo congênito se desenvolve mais comumente que o hipotireoidismo espontâneo em gatos adultos, sendo provavelmente sua prevalência subestimada, já que os gatinhos mais afetados morrem logo após o nascimento, não sendo, portanto, diagnosticados. O hipotireoidismo secundário ocorre quando há uma diminuição da secreção de TSH como resultado de distúrbios hipofisários ou hipotalâmicos, resultante de disfunção nas células tireotróficas hipofisárias que dificulta a secreção do hormônio estimulante da tireoide (TSH), podendo ser também consequência de destruição de tireotrofos hipofisários, como em neoplasias hipofisárias (raras) ou supressão da função da tireoide por hormônios ou drogas como glicocorticoides. O hipotireoidismo terciário é uma deficiência na secreção do hormônio liberador de tireotropina (TRH) por neurônios peptidérgicos nos núcleos supraóptico e paraventricular do hipotálamo. Causas secundárias (defeito na pituitária) e terciárias (defeito no hipotálamo) nunca foram reportadas. Aspectos clínicos Alguns sinais que se desenvolvem em gatos com hipotireoidismo sejam semelhantes aos observados em cães com o mesmo distúrbio, existem algumas grandes diferenças. Primeiro, os gatos com hipotireoidismo raramente desenvolvem alopecia total, um sinal comum em cães. Em segundo lugar, os gatos podem desenvolver falta de apetite, um sinal também não relatado em cães com hipotireoidismo. A letargia profunda e o embotamento mental se desenvolvem em alguns gatos e especialmente gatinhos com hipotireoidismo congênito, podem apresentar constipação grave como queixa primária. Hipotireoidismo iatrogênico ou espontâneo Os principais sinais clínicos de hipotireoidismo em gatos adultos incluem letargia progressiva, embotamento, diminuição de apetite e alterações dermatológicas, sendo o ganho de peso, hipotermia e bradicardia menos comuns. Os hormônios tireoidianos são importantes para a manutenção da saúde da derme, por isso, alterações na pele e pelo são as anormalidades comumente observadas. A atrofia da glândula sebácea resulta em pele seca, sendo os sinais dermatológicos mais envolvidos a seborreia não pruriginosa com pelo seco, sem brilho, emaranhamento nas costas e facilmente depilado. Pode haver alopecia das orelhas e o crescimento do pelo é lento. Já houve relato de mixedema (mucopolissacarídeos ácidos e neutros que se acumulam na derme e se ligam à água, causando o espessamento da pele). 26 UNIDADE I │ ENDOCRINOLOGIA Embora a obesidade possa se desenvolver, não é um sinal consistente. Hipotireoidismo congênito Os hormônios tireoidianos afetam a função de todos os órgãos e são essenciais para o crescimento normal, a maturação esquelética e o desenvolvimento cerebral. Portanto, o hipotireoidismo congênito é caracterizado por nanismo desproporcional e anormalidades neurológicas. Os gatinhos hipotireoidianos desenvolvem muitos sinais semelhantes aos observados em gatos adultos. Os sinais clínicos de hipotireoidismo congênito variam em gravidade, dependendo da natureza do defeito. Gravemente afetados, os gatinhos não tratados raramente sobrevivem além das 16 semanas de idade. Ao nascimento, os filhotes geralmente parecem normais, mas exibem um crescimento retardado entre 4 e 8 semanas de idade, desenvolvendo sinais de nanismo desproporcional, caracterizado por uma cabeça larga e alargada e pescoço e membros curtos, durante os próximos meses. A maioria dos gatinhos com hipotireoidismo apresenta letargia grave e embotamento mental, em parte porque seu cérebro não se desenvolve adequadamente, tornando-se deficientes mentalmente. No exame físico, o veterinário pode detectar hipotermia, bradicardia ou bócio palpável (com disormonogênese tireoidiana). Muitos gatinhos sofrem de episódios graves e recorrentes de constipação. O pelo está geralmente presente em todo o corpo, mas consiste principalmente de subpelos arrepiados e com pelos primários de proteção rarefeito (pelame de filhote) e também retenção dos dentes decíduos. Diagnóstico O diagnóstico do hipotiroidismo felino pode ser um desafio, independentemente da sua etiologia e baseia-se em uma combinação da história, sinais clínicos, achados do exame físico e laboratoriais de rotina e confirmado diagnóstico pelo uso de testes de função da tireoide ou por técnicas de imagem da tireoide. A suspeita de hipotireoidismo iatrogênico começa com a informação de que o gato tem uma história de tratamento para o hipertireoidismo, especialmente com radioiodo ou tireoidectomia cirúrgica. No entanto, vários fatores podem dificultar a confirmação do diagnóstico de hipotireoidismo. Primeiro porque pode haver a presença concomitante de outra doença, que em gatos de meia idade a geriátricos é comum, confundindo os sinas clínicos. Estas doenças concomitantes também podem resultar na síndrome do eutireoideo doente, que se caracteriza por concentrações séricas de hormônios tiroidianos falsamente baixas. 27 ENDOCRINOLOGIA │ UNIDADE I Os sinais clínicos de hipotireoidismo iatrogênico e o retorno esperado para um estado eutireoidiano podem se sobrepor. Finalmente, muitos gatos desenvolvem um decréscimo transitório acentuado no total de T4, no primeiro mês de terapia, sendo esse estado hipotireóideo transitório seguido por um retorno ao eutireoidismo nos próximos 3 a 6 meses, à medida que o tecido tireoidiano normal restante se recupera e começa a funcionar novamente. Por isso o ideal é esperar no mínimo 3 meses antes de fazer um diagnóstico definitivo de hipotireoidismo iatrogênico após o tratamento, especialmente se o gato não estiver apresentando as características clínicas do hipotireoidismo. No entanto, o diagnóstico de hipotireoidismo deve ser feito o mais rápido possível em caso de gatos com doença renal, pois ambos diminuem a taxa de filtração glomerular, piorando a azotemia. Exames laboratoriais Os achados mais comuns em animais com hipotireoidismo são plasma lipêmicos devido à hipertrigliceridemia e principalmente hipercolesterolemia. Os hormônios da tireoide aumentam tanto a síntese de colesterol, quanto o catabolismo hepático. Portanto, a hipercolesterolemia resulta de uma redução de lipólise lipoproteica periférica, redução de utilização hepática e aumento da produção hepática de colesterol, ou seja, o catabolismo está reduzidose comparado à síntese. Esse aumento também é atribuído à redução da excreção de colesterol biliar em animais com hipotireoidismo, causando aumento do colesterol sanguíneo, apesar da síntese reduzida. A hiperlipidemia que ocorre pode provocar aterosclerose dos vasos coronários e cerebrais, danos renais e hepatomegalia. Mudanças hematológicas, especialmente anemia, são comuns e bem caracterizadas no hipotireoidismo, isto porque a eritropoiese está diminuída, refletindo numa redução no volume total de sangue e na quantidade de eritrócitos. São anemias leves, normocítica normocrômica arregenerativas. Essa diminuição na eritropoiese se deve a um efeito direto dos hormônios da tireoide nos precursores eritroides. Podemos encontrar casos de anemias por deficiência de ferro e anemias por deficiência de ácido fólico ou vitamina B12. A avaliação da morfologia dos eritrócitos pode revelar um aumento no número de leptócitos (células-alvo). Acredita-se que tais células se formem em resposta ao aumento do colesterol na membrana eritrocitária. Alterações na contagem de linfócitos ou granulócitos são menos comuns no hipotireoidismo. Uma redução significante na contagem de leucócitos pode indicar um problema associado, como deficiência de vitamina B12 ou ácido fólico, porém, o leucograma é tipicamente normal. 28 UNIDADE I │ ENDOCRINOLOGIA Poucas mudanças quantitativas na contagem de plaquetas são encontradas, ao passo que as mudanças qualitativas são mais comuns. A depressão de alguns dos fatores de coagulação é descrita e atribuída a uma diminuição generalizada na síntese de proteínas. Exames de imagem A radiografia pode ser uma ajuda particularmente útil no diagnóstico de hipotireoidismo felino congênito, pois o desenvolvimento esquelético retardado, particularmente a disgenesia epifisária das vértebras e dos ossos longos, é patognomônico para a doença. Testes da função da glândula tireoidiana Diversos fatores fisiológicos podem afetar a concentração sanguínea dos hormônios tireoidianos, como idade, raça, porte, status nutricional (carência alimentar ou obesidade), fase de ciclo estral, temperatura ambiente, doenças sistêmicas secundárias, presença de autoanticorpos e alguns tipos de fármacos. O diagnóstico de uma alteração da função tireoidiana deve ser embasado na análise das provas de função da glândula, associada aos sintomas apresentados pelo paciente. Gatos com hipotireoidismo têm secreção deficiente do hormônio tireoidiano. Portanto, encontrar uma baixa concentração sérica de T4 é fundamental no diagnóstico de hipotireoidismo felino, sendo que uma concentração normal de T4 praticamente exclui o hipotireoidismo. Porém, embora importante, uma concentração subnormal de T4 não é definitiva, pois pode estar baixa em outras situações como doença hepática, doença renal e neoplasia sistêmica. Por isso, veterinário deve primeiro descartar a doença não tireoidiana antes de considerar o diagnóstico de hipotireoidismo. A função da glândula tireoide é tipicamente avaliada pela mensuração das concentrações séricas basais de hormônios tireoidianos. Assim que secretado na circulação, mais de 99% do T4 é ligado a proteínas plasmáticas; isto serve como um reservatório e um tampão para manter uma concentração estável de T4 livre (T4L) no plasma. OT4 livre representa menos de 1% do T4 circulante. Não ligado, ou livre, o T4 é biologicamente ativo, exercendo inibição do feedback negativo sobre a secreção hipofisária de TSH. A concentração basal sérica de T4 é a soma dos níveis de T4 ligados a proteínas e T4 livres circulantes no sangue. A aferição da concentração sérica de T4 pode servir como teste de triagem inicial para o hipotireoidismo. Por ser a principal forma de expressão funcional da glândula tireoide, T4T é frequentemente utilizada pelos laboratórios como ferramenta de triagem para avaliação do seu estado 29 ENDOCRINOLOGIA │ UNIDADE I funcional. Porém, como apenas o T4L é biologicamente ativo, medir o T4 livre é um teste mais sensível para diagnosticar o hipotireoidismo. Além disso, a doença não tireoidiana influencia o T4L menos do que influencia o T4 total. Portanto, o T4L é melhor para distinguir um gato eutireoideo de uma doença não tireoidiana de um gato hipotireoideo. No entanto, apenas os ensaios de T4L que usam a diálise de equilíbrio parecem confiáveis, e a maioria dos laboratórios comerciais mede o T4L por meio de métodos analógicos inferiores. Embora a medição da concentração de T4L pela diálise de equilíbrio seja um teste autônomo mais preciso do que a concentração total de T4, o T4L está longe de ser perfeito para confirmar o hipotireoidismo felino por três razões. Primeiro, doença não tireoidiana moderada a grave pode falsamente diminuir a concentração de T4L, embora em menor grau do que observado com T4 total, além de que até 15% dos gatos com doença não tireoidiana desenvolvem uma concentração falsamente alta de FT4, confundindo ainda mais a interpretação. Finalmente, o teste é aproximadamente duas vezes mais caro na maioria dos laboratórios comerciais que o T4 total. Para suspeita de quadro de hipotireoidismo, T4T não deve ser utilizada como ferramenta única diagnóstica, principalmente nos processos em fase aguda de desenvolvimento ou de origem imunomediada. Quadros de tireoidite com presença de autoanticorpos anti-T4 podem induzir resultados falsamente elevados, uma vez que a técnica padrão do radioimunoensaio não consegue distingui-los, havendo alta reação cruzada. Apesar de T3 ser o hormônio mais potente em atividade celular, a mensuração de sua concentração não tem grande valia para o diagnóstico do hipotireoidismo, especialmente na fase inicial de desenvolvimento da doença. Já a mensuração do TSH (hormônio estimulador da tireoide) sérico fornece informações sobre a interação entre a hipófise e a glândula tireoide. Em cães com hipotireoidismo, uma concentração sérica elevada de TSH confirma que a doença é primária (localizada dentro da glândula tireoide). Um ensaio específico para o TSH felino ainda não está disponível. No entanto, o ensaio TSH canino) cTSH comercialmente disponível reage de forma cruzada com TSH felino suficientemente para permitir a sua utilização como teste de diagnóstico para gatos com hipotireoidismo. Em um dos gatos adultos relatados com hipotireoidismo espontâneo, a concentração sérica de TSH foi alta quando medida com o ensaio cTSH. Da mesma forma, a maioria dos gatos com hipotireoidismo iatrogênico também desenvolverá alta concentração sérica de TSH conforme medido pelo ensaio cTSH. Normal gatos e gatos com doença não tireoidiana geralmente mantêm valores normais para TSH sérico. Portanto, o achado de um T4 total ou T4L baixo em combinação com uma alta concentração de TSH melhora muito a sensibilidade diagnóstica para o hipotireoidismo. 30 UNIDADE I │ ENDOCRINOLOGIA No teste de estimulação com TSH a concentração sérica de T4 é avaliada antes e após a administração de TSH. Um animal hipotireoideo terá pouco ou nenhum aumento do T4 em resposta ao TSH. Na doença não tireoidiana (Síndrome de Eutireoideano Doente) as concentrações absolutas do T4 podem ser muito baixas, mas o grau da resposta ao TSH é semelhante ao de um animal normal. As desvantagens do teste são o alto custo e a disponibilidade limitada do TSH. A determinação do TSH foi recentemente aprovada para o uso em cães. A presença de um aumento do TSH sérico em conjunto com baixas taxas séricas de T4 ajudará a confirmar o diagnóstico de hipotireoidismo. Se a concentração sérica de T4 for normal, é improvável que o cão seja hipotireoideo. Nesse caso, deverá ser considerado um teste de estimulação de TSH ou um ensaio terapêutico. O teste de estimulação com TSH consiste na dosagem sérica de T4 total e livre antes e após a administração de TSH. A coleta do soro, após a administração do TSH, deve ser realizada após um período de 4 horas (no caso de administração de TSH intravenoso) ou8 horas (no caso de administração de TSH intramuscular), para a verificação sérica dos hormônios tireoidianos. Caso o paciente esteja sob terapia tireoidiana, esta deve ser interrompida 14 dias antes da execução do teste. O teste de estimulação do TSH fornece informações importantes para o diagnóstico de hipotireoidismo, pois testa diretamente a reserva secretora da tireoide. Em gatos normais, a administração de TSH exógeno produz um aumento consistente na concentração total de T4 no soro. Em contraste, os gatos com hipotireoidismo apresentam pequeno aumento, se houver, nas baixas concentrações séricas basais totais de T4 após a estimulação do TSH. No passado, a TSH bovina era a preparação preferida para o teste de estimulação do TSH em gatos. No entanto, o TSH bovino não está mais disponível. Recentemente, uma preparação recombinante de TSH humano (rhTSH) foi validada para testes de estimulação de TSH em gatos. O protocolo de teste envolve a coleta de amostras para a concentração total de T4 no soro antes e 6 horas após a administração intravenosa de 25 a 200 µg de rhTSH (Thyrogen, Genzyme Corporação). A administração de rhTSH a gatos clinicamente normais geralmente aumenta a concentração total de T4 total em pelo menos o dobro. Mais estudos são necessários para validar o uso deste teste para o diagnóstico de hipotireoidismo felino, mas seria de se esperar que esses gatos experimentassem pouco ou nenhum aumento no T4 sérico total. A principal desvantagem deste teste é que o rhTSH é extremamente caro. 31 ENDOCRINOLOGIA │ UNIDADE I Tratamento A levotiroxina sódica é o tratamento de escolha para hipotireoidismo congênito e de ocorrência natural durante a vida adulta, e para gatos com hipotireoidismo iatrogênico que são sintomáticos após tratamento do hipertireoidismo. Gatos assintomáticos com baixas concentrações séricas de T4 após serem submetidos à terapia para hipertireoidismo não devem ser tratados até que os sinais clínicos se tornem evidentes, isso porque há uma esperança de que o tecido tireóideo atrofiado ou ectópico se torne funcional, então se dá um maior período de tempo a ele. O objetivo da terapia é eliminar os sinais clínicos do hipotireoidismo e prevenir os sinais do hipertireoidismo. A dose inicial de levotiroxina sódica recomendada é de 5 a 20 µg/kg diariamente ou 100 µg/gato diariamente, podendo ser dividida em uma ou duas vezes por dia. Essa dose deve ser ajustada conforme a necessidade da resposta clínica de cada animal e as dosagens posteriores de T4. Um mínimo de 4 semanas deve ser transcorrido antes que a resposta clínica do gato ao tratamento seja criticamente avaliada, devendo incluir as avaliações subsequentes o histórico, exame físico, e aferição das concentrações séricas de T4 e TSH. Espera-se após esse período uma manutenção de concentrações séricas de T4 entre 1,0 e 2,5 µg/ dL. Caso haja a normalização da concentração sérica de TSH sabe-se que o regime terapêutico com levotiroxina é efetivo. Porém, se a concentração sérica de T4 estiver dentro dos valores de referência após 4 a 8 semanas de tratamento com pouca ou nenhuma resposta clínica, o clínico deve reavaliar o diagnóstico, pois o tratamento correto costuma resolver completamente os sinais clínicos em gatos adultos. Já em gatos filhotes há uma variação bem grande em relação a resposta ao tratamento. Prognóstico O prognóstico depende da causa subjacente. Para gatos adultos com hipotireoidismo que estejam recebendo terapia apropriada é excelente, já o prognóstico para filhotes com hipotireoidismo congênito é reservado e depende da intensidade das alterações esqueléticas no momento do início do tratamento. Muitos dos sinais clínicos desaparecem e o tamanho corporal pode aumentar se o hipotireoidismo for identificado precocemente, antes da ocorrência do desenvolvimento ósseo e articular anormais. 32 UNIDADE I │ ENDOCRINOLOGIA Hipertireoidismo O hipertireoidismo é uma desordem multissistêmica decorrente de excesso na produção de hormônios tireoidianos ativos (triiodotironina [T3] e tiroxina [T4]) a partir de uma glândula tireoide com funcionamento anormal. É a endocrinopatia mais comum em gatos acima de 8 anos, tendo a média entre 12 a 13 anos de idade, podendo estar presente dos 4 aos 20 anos, tendo sido relatado em animais de 22 anos. Não existe predisposição sexual ou racial, embora animais das raças Siamês e Himalaio sejam os menos susceptíveis. A patogenia das alterações hiperplásicas adenomatosas na glândula tireoide permanece incerta. Tem sido postulado que fatores imunológicos, infecciosos, nutricionais, ambientais ou genéticos podem interagir para causar alterações patológicas. Estudos epidemiológicos demonstraram aumento na prevalência do hipertireoidismo felino nos últimos 25 anos, isso se dê talvez pelo fato de que atualmente há uma maior capacidade de diagnóstico por parte dos veterinários, melhor conhecimento da enfermidade, aumento dos anos de vida do gato e existência de um ambiente com certos fatores bociogênicos. Entretanto, acredita-se que o hipertireoidismo seja de fato uma nova doença do gato, pois tratam como improvável que o aumento do conhecimento e das habilidades diagnósticas tenha contribuído, de maneira isolada, com um aumento tão dramático na prevalência dessa doença. Há maior risco em gatos que se alimentam quase exclusivamente de dietas úmidas e também gatos que preferem sabores específicos como peixe, fígado ou frango. Essa relação com a dieta se deve ao papel do iodo na causa ou progressão da doença. Isso porque a quantidade de iodo nas dietas comerciais para gatos é extremamente variável podendo chegar a quase 10 vezes mais que o nível recomendado, sugerindo-se que grandes variações na quantidade diária de iodo ingerido podem, de algum modo, cooperar para o desenvolvimento de doença. O nível de selênio também pode potencialmente modificar a função tireoidiana, embora isso seja discutível, pois um estudo realizado demonstrou indiferença no nível de selênio em gatos de diferentes áreas geográficas com prevalência alta e baixa de hipertireoidismo. No entanto, gatos apresentaram nesse mesmo estudo, maiores concentrações de selênio que outras espécies, o que pode desempenhar um papel importante na patogenia dessa condição. As embalagens plásticas, as quais vem embaladas as rações comerciais contém altos níveis de componentes bociogênicos, a exemplo dos ftalatos e dos bisfenóis, assim como diversos outros compostos que podem colaborar com o desenvolvimento de 33 ENDOCRINOLOGIA │ UNIDADE I lesões adenomatosas em gatos expostos. Um estudo recente demonstrou que as isoflavonas, genisteína e daidzeína, potencialmente bociogênicas, são constituintes comumente encontrados em alimentos comerciais para felinos e podem estar presentes em concentrações suficientes para resultar em diversos efeitos biológicos. A atuação direta de tais substâncias na glândula tireoide reduz a síntese hormonal, de modo que a queda de T4 resultante desse processo estimula a liberação de TSH hipofisário, que, em turnos, produz aumento dos níveis hormonais. Além disso, medicamentos como fenobarbital, bloqueadores do canal de cálcio, esteroides e retinóis, têm sido estudados no que se refere ao efeito bociogênico, cuja utilização pode ativamente resultar no acúmulo dos hormônios tireoidianos, favorecendo a ocorrência da doença. No entanto, o hipertireoidismo em felinos, está quase sempre relacionado a uma alteração primária e autônoma da glândula tireoide, independente de alterações hipofisárias ou do hipotálamo, sendo a lesão mais comumente encontrada a hiperplasia adenomatosa multinodular, e menos frequentemente o adenoma, que fazem com que os lobos se tornem aumentados e distorcidos. Em 70% dos casos ambos os lobos da glândula tireoide são acometidos, uma vez que não há conexão física entre os lobos tireoidianos. A tireoide pode sofrer alterações hiperplásicas ouneoplásicas. Os tumores da tireoide são classificados em epiteliais benignos e malignos, tumores não epiteliais benignos e malignos, linfoma, tumores mistos, secundários, entre outros. Os tumores epiteliais que afetam a tireoide podem ser oriundos das células foliculares que produzem os hormônios tireoidianos (tri-iodotironina e tiroxina) ou das células parafoliculares ou C que produzem calcitonina e que são chamados de tumores medulares. Muitas vezes os tumores são bem difíceis de serem diferenciados, inclusive os adenomas e das hiperplasias, ambos constituídos de estruturas foliculares irregulares e pequenos ninhos sólidos de células foliculares, demonstrando pouca atipia nuclear ou atividade mitótica, sendo a principal diferença entre essas duas alterações, é que o adenoma tem cápsula e comprime o parênquima adjacente. Microscopicamente, o adenoma pode ser classificado em normofolicular (simples), macrofolicular (coloide), microfolicular (fetal), trabecular (embrional) e sólido adenoma folicular é geralmente nódulo único, encapsulado, podendo comprimir o tecido tireoidiano normal adjacente e ser originado de um bócio nodular. Podem ocorrer lesões degenerativas como hemorragia, edema, fibrose, calcificação, formações ósseas ou císticas. A variação citológica mais importante do adenoma folicular é o adenoma folicular oxifílico (células que contém grande número de mitocôndrias) ou de células claras, que pode apresentar padrão de arquitetura de qualquer uma classificação descrita anteriormente, pois esses tumores são quase que inteiramente compostos de células eosinofílicas, com algum pleomorfismo nuclear e nucléolo distinto. 34 UNIDADE I │ ENDOCRINOLOGIA Já os adenomas foliculares com mais pronunciada proliferação celular e com padrões citológicos e de arquitetura menos regular, mas sem sinais típicos de malignidade, são referidos como adenomas atípicos, devendo ser descartada a invasão da cápsula e dos vasos com o objetivo de diferenciar de carcinoma folicular. A diferença entre adenoma e carcinoma baseia-se em identificação de invasão neoplásica da cápsula ou vascular ou presença de metástase, tomando cuidado em diferenciar subgrupos de carcinoma pouco ou muito invasivo. A presença de atipia nuclear, atividade mitótica e atipia celular ou na arquitetura não necessariamente indica malignidade. A presença de núcleo hipercromático atípico em órgão endócrino é geralmente mais um reflexo de uma hiperestimulação do que a presença de potencial maligno. Aproximadamente 97% a 99% dos casos resultam de hiperplasia nodular benigna, hiperplasia adenomatosa ou adenoma tireóideo. Apenas 1% a 3% dos casos são causados por carcinoma tireóideo ou adenocarcinoma e dificilmente leva a sinais clínicos de hipertireoidismo. Aspectos clínicos Os sinais estão na dependência da duração da afecção, da presença de anormalidades concomitantes e da incapacidade de algum sistema em atender às demandas impostas pelo excesso de hormônio tireoidiano, sendo na maioria das vezes a instalação lenta e progressiva e por isso os proprietários demoram a perceber a doença. Os gatos mantêm um ótimo apetite e permanecem ativos para sua idade, até que a perda de peso se torne evidente ou até que outros sintomas que prejudiquem o estado geral do gato sejam identificados, podendo ser confundidos com sinais de envelhecimento. Dessa forma a doença pode estar em evolução há alguns meses antes da realização do diagnóstico. Os sinais mais clássicos de hipertireoidismo são perda de peso (pode progredir para caquexia), polifagia (81%), agitação ou hiperatividade, alterações da pelagem (alopecia dispersa, presença de nós, higiene ausente ou em excesso), poliúria, polidipsia, vômito e diarreia. Alguns apresentam comportamento agressivo. A causa dos sinais ocorre em grande parte devido ao aceleramento da taxa metabólica basal, isso porque os hormônios tireoidianos regulam os processos metabólicos da produção de calor para o metabolismo dos carboidratos, proteínas e lipídios, acarretando em aumento do apetite, perda de peso, perda muscular, fraqueza, intolerância ao calor e leve aumento de temperatura corporal. Também há elevação do consumo tecidual de oxigênio, devido ao aumento no número de receptores e uma maior sensibilidade as catecolaminas. 35 ENDOCRINOLOGIA │ UNIDADE I Dermatologia Pelagem geralmente é descuidada com pelos enovelados e eriçados, com excessiva epilação, levando a extensas áreas de alopecias, porém com maior crescimento em função do aumento da síntese proteica. Onicogrifose e pele quente são observadas em alguns felinos. Já a alopecia se explica pelas excessivas lambeduras induzida pela termogênese e por motivos de ordem comportamental. Sistema gastrintestinal A polifagia, que acontece em 98% dos casos, é causada pelo aumento da demanda energética, e apesar do aumento da ingestão calórica a perda de peso é causada pelos gastos energéticos e pela síndrome de má absorção gerada pela hipermotilidade intestinal, que também podem ser acompanhados por esteatorreia. A hipermotilidade gastrintestinal e a ação direta de T4 sobre o centro do vômito são um dos mecanismos desencadeadores de diarreia e aumento de massa fecal e vômitos de intensidade crônica ou esporádica nos gatos hipertireoideos. Todavia, é importante ressaltar que, em alguns gatos hipertireoideos com outras doenças concomitantes, a perda de peso geralmente é um sinal clínico comum, mas pode ser acompanhado de redução, e não aumento do apetite. Pode haver também perda de massa muscular. Há casos comuns de regurgitação, que parecem estar relacionados à ingestão alimentar excessiva e rápida, já que os animais comumente costumam “roubar alimentos”. Sistema renal A poliúria e polidipsia ocorre em menos de 50% dos casos, e pode ser resultado de uma doença renal concomitante, pois os hormônios da tireoide também afetam o sistema renal, aumentando o fluxo sanguíneo local, a taxa de filtração glomerular, reabsorção e secreção tubular e pelo aumento da perfusão renal. Porém, tais sintomas também ocorrem em muitos gatos sem evidência de disfunção renal, já que os hormônios tireoidianos apresentam ação diurética. Tem-se observado que a polidipsia compulsiva pode ter origem psicogênica, principalmente pela sensação de calor. Sistema cardiovascular Por ser o hipertireoidismo a principal causa secundária de cardiomiopatias em felinos e a condição mais comum que leva à insuficiência cardíaca, os sinais cardíacos são achados clínicos de grande importância e isso se dá devido ao fato de que a tireotoxicose aumenta o débito cardíaco levando a longo prazo alterações cardiovasculares, que podem ser reversíveis. Cerca de 66% apresentam taquicardia, 53% sopro cardíaco e 36 UNIDADE I │ ENDOCRINOLOGIA 12% insuficiência cardíaca congestiva. O excesso de hormônios tireoidianos induz a produção de uma isoforma da miosina, que acelera a interação entre a actina e a miosina no músculo cardíaco, aumentando a contratilidade. Com isso, os batimentos cardíacos semelhantes a “pancadas” percebidos na palpação ventral do tórax e com menor frequência déficit de pulso, ritmos de galope, sopro cardíaco e sons cardíacos abafados resultantes de efusão pleural. Edema pulmonar, falência biventricular ou arritmias, cardiomegalia e alterações eletrocardiográficas e ecocardiográficas, têm sido descritas. Tudo isso se dá pela ação direta de hormônios tireoidianos sobre o miocárdio, assim como a interação entre T3 e T4 com o sistema nervoso simpático, que estimula a hipertrofia cardíaca e aumenta o volume plasmático, a pressão arterial sistêmica, o débito cardíaco, a frequência cardíaca e a contratilidade, levando a um remodelamento cardíaco compensatório, resultante de alterações na síntese e na degradação de proteínas miocárdicas, o que favorece a hipertrofia. Sistema respiratório Pode ocorrer dispneia, arquejamento ou hiperventilação em repouso, sintomas observados com mais frequência após situaçõesde tensão, mas podem ser ocasionalmente percebidos pelo proprietário em casa. Essas anormalidades respiratórias provavelmente resultam de uma combinação de fraqueza muscular, intolerância ao calor e aumento da produção de dióxido de carbono, além da insuficiência cardíaca congestiva. Sistema nervoso A hiperatividade e comportamento agressivo são uns dos principais sinais que causam grande preocupação nos tutores de pacientes afetados, e isso se dá devido aos efeitos diretos no sistema nervoso. Felinos são geralmente irrequietos, podendo exibir expressão de ansiedade e agressividade, tornando-se de difícil manuseio durante o exame físico. Um fato que chama a atenção é a tolerância mínima desses animais diante de situações que provoquem tensão, como uma simples viagem de carro até a clínica ou hospital veterinário, juntamente com a contenção para o exame físico, pode resultar em marcante angústia respiratória e fraqueza, com o surgimento de arritmias cardíacas (e mesmo, parada cardíaca) em raros casos. Essa capacidade diminuída de lidar com a tensão precisa ser considerada ao planejar os procedimentos diagnósticos ou terapêuticos. A elevação das concentrações circulantes de hormônios tireoidianos, presumivelmente por efeito direto sobre o sistema nervoso e por aumento da atividade adrenérgica, causa hiperatividade, intranquilidade, 37 ENDOCRINOLOGIA │ UNIDADE I deambulação ou irritabilidade em muitos gatos hipertireoideos. A vocalização é frequente nesses animais. Porém, é possível também que haja uma forma incomum de hipertireoidismo, ocorrendo em aproximadamente 10% dos gatos com hipertireoidismo. Conhecido como “hipertireoidismo apático, nesses animais o estado de hiperexcitabilidade ou intranquilidade é substituída por depressão, letargia, anorexia e perda de peso. Esses gatos também apresentam, com frequência, anormalidades cardíacas, inclusive arritmias e insuficiência cardíaca congestiva. Gatos anoréxicos, comumente observa-se a flexão cervical ventral do pescoço geralmente responsiva à suplementação de fluido com potássio e/ou tiamina (vitamina B1). Sistema muscular Fraqueza e presença de fadiga, queixas comuns em seres humanos hipertireoideos, são descritas com menor frequência nos gatos. Nesses animais, a perda de peso geralmente é um sintoma comum e depressão e fraqueza podem substituir hiperexcitabilidade ou nervosismo, como características clínicas dominantes. Em 90% dos gatos com hipertireoidismo, inclinando-se a cabeça do felino para trás, pode-se palpar uma massa tireóidea discreta, o que não ocorre em gatos normais. Alguns gatos apresentam dispneia, arquejamento, ou hiperventilação em repouso. Essas anormalidades na função respiratória provavelmente resultam na combinação de fraqueza dos músculos respiratórios e o aumento de produção de dióxido de carbono. No hipertireoidismo, os metabolismos ósseo e mineral estão alterados caracterizado por aumento nas atividades osteoblástica e osteoclástica, com predomínio da reabsorção óssea e resultando em diminuição na massa óssea, podendo ou não causar hipercalcemia, porém achados da densitometria mineral óssea e marcadores do metabolismo ósseo indicam o desenvolvimento do hiperparatireoidismo secundário ao hipertireoidismo felino. A reabsorção óssea induz, de maneira compensatória, o decréscimo da secreção do PTH, na tentativa de manter os níveis séricos de cálcio normais, redução esta que está correlacionada ao aumento na taxa de reabsorção tubular de fosfato. Esse parece ser o fator de maior importância para justificar a elevação dos níveis séricos de fósforo; entretanto, o aumento da mobilização de fósforo de origem óssea e dos tecidos moles também pode contribuir para isso. O hipertireoidismo é capaz de influenciar o metabolismo do cálcio, estimulando a atividade osteoclástica, proporcionando maior reabsorção óssea e redução na absorção do cálcio intestinal e hipercalciúria. Entretanto, a maioria dos pacientes tende a apresentar valores dentro dos padrões de normalidade. 38 UNIDADE I │ ENDOCRINOLOGIA Diagnóstico Baseado no histórico, na identificação dos sintomas, na avaliação clínica laboratorial e na exploração funcional dos lobos tireoidianos, por meio de testes específicos e palpação dos lobos tireoidianos. Exame físico Para palpação da glândula tireoide, posicionar o pescoço do gato estendido e a cabeça inclinada para trás e com o polegar e o dedo indicador, deve-se passar suavemente os dedos sobre ambos os lados da traqueia longitudinalmente à laringe, movendo no sentido ventral em direção à entrada do tórax. Outra opção é o gato sentado e o clínico posiciona-se diretamente por trás do felino para palpar o lobo da tireoide direita, segurando sua cabeça com a mão esquerda do clínico, que deve ser colocada na mandíbula do animal, elevando-a em um ângulo de 45° e rotacionando em um ângulo de 45° para a esquerda. A ponta do dedo indicador direito desce da laringe até a entrada do tórax. Se o lobo for palpável, sente-se o lobo deslizando pelo dedo. Deve-se repetir essa manobra por quatro vezes para maior segurança da técnica. Quando aumentados de tamanho, os lobos da tireoide, migram em direção caudal e ventral à região cervical, uma vez que os lobos da tireoide do gato encontram-se levemente aderidos à traqueia. Porém, há a possibilidade de os lobos afetados terem migrado para dentro da cavidade torácica, o que impede a palpação mesmo de lobos aumentados de gatos hipertireóideos. No entanto, a identificação de um lobo aumentado ao exame físico, ou ambos, não pode ser considerada sinônimo de hipertireoidismo, uma vez que o aumento da tireoide pode ser ocasionalmente detectado em gatos sem outras evidências clínicas ou laboratoriais da doença. Contudo, o aumento de um lobo da tireoide ou de ambos pode ser percebido no exame físico de até 95% dos gatos hipertireoideos, sendo um achado extremamente importante para o diagnóstico da doença Exames laboratoriais É detectado um aumento no volume globular de metade dos gatos acometidos, que parece resultar tanto de efeito direto dos hormônios tireoidianos sobre a medula eritroide, como aumento da produção de eritropoietina. Com isso, há reticulocitose e macrocitose em 50% dos gatos acometidos. O leucograma comumente mostra-se com leucocitose, neutrofilia (segmentados), linfopenia e eosinopenia, refletindo um 39 ENDOCRINOLOGIA │ UNIDADE I leucograma de estresse. A eosinofilia e linfocitose podem ocorrer em um pequeno número de gatos resultantes de uma diminuição relativa no cortisol disponível devido ao excesso das concentrações de hormônios circulantes da tireoide. Cerca de 90% dos gatos acometidos apresentam elevação atividade sérica de alanina aminotransferase (ALT), aspartato aminotransferase (AST), que se dá em função de hipermetabolismo hepático, disfunção hepática, má alimentação, hipóxia hepática secundária e aumento do consumo de oxigênio pelo trato intestinal ou de forma secundária aos problemas cardíacos e os efeitos tóxicos de T3, porém, isso não pode ser considerado uma hepatopatia significativa porque os valores retornam ao normal depois do tratamento para o hipertireoidismo. Já a atividade sérica da fosfatase alcalina (FA) está aumentada em mais de 50% dos gatos hipertireoideos, sendo proveniente de órgãos como fígado, ossos, intestino, além de outros tecidos. Sugere-se que o aumento da FA em gatos com hipertireoidismo seja proveniente do fígado e dos ossos. As concentrações de frutosamina sérica são diminuídas nos gatos hipertireoideos. Essa redução deve-se ao acelerado turnover proteico e independe da concentração sanguínea de glicose. Frequentemente evidencia-se azotemia e hiperfosfatemia, porém nenhuma nefropatia específica é atribuída ao hipertireoidismo. No entanto, acredita-se que o aumento da pressão do capilar glomerular e da proteinúria em gatos com hipertireoidismo possa contribuir para a progressão de uma doença renal preexistente, acometendo
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