Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Tópicos em Ciências Sociais Globalização e Desigualdades Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof. Dr. Silvio Pinto Ferreira Junior Revisão Textual: Profa. Esp. Márcia Ota 5 Para um bom aproveitamento do curso, leia o material teórico atentamente antes de realizar as atividades. É importante também respeitar os prazos estabelecidos no cronograma. · Apresentar o contexto histórico do processo de globalização e a cristalização das desigualdades sociais. Globalização e Desigualdades · O surgimento da globalização · A globalização na contemporaneidade · Considerações finais 6 Unidade: Globalização e Desigualdades Contextualização Para iniciar esta Unidade, leia abaixo a notícia do ataque terrorista à revista francesa Charlie Hebdo. Reflita sobre a importância da leitura e da pesquisa para o seu conhecimento. Fonte: Resvista Charlie Hebdo, 12 de Janeiro de 2015 “Veja a repercussão do ataque à revista francesa ‘Charlie Hebdo’ Homens armados invadiram sede de publicação e mataram 12 pessoas. Revista já havia sido alvo de atentado por publicar charge de Maomé”. Fonte: http://g1.globo.com/mundo/noticia/2015/01/veja-repercussao-do-ataque-revista-francesa-charlie-hebdo.html. 16.01.15. Oriente sua reflexão pelas seguintes questões: Qual a relação entre globalização e terrorismo? Por que os ataques terroristas, desde 11 de setembro de 2001 nos EUA, vêm aumentando no mundo todo? Como a notícia repercutiu no mundo todo e o que a velocidade da informação tem a ver com a globalização? http://g1.globo.com/mundo/noticia/2015/01/veja-repercussao-do-ataque-revista-francesa-charlie-hebdo.html 7 O surgimento da globalização No século XVI, com as navegações marítimas, os europeus puderam explorar novos continentes até então desconhecidos. Quando os europeus chegam à América e Ásia, estabelecem contato com os povos autóctones, sua cultura exótica e passam a desfrutar de uma natureza exuberante. Desde então, abre-se um horizonte de novas possibilidades de relações econômicas, políticas, sociais e culturais entre pessoas das mais diversas e contrastantes regiões do mundo. Os principais países que estiveram tecnologicamente prontos para desbravar o oceano por meio das navegações marítimas foram Portugal, Espanha, Holanda, França e Inglaterra. As especiarias que os europeus exploravam das regiões colonizadas eram expostas e disponibilizadas à venda em importantes centros econômicos de comércio, como por exemplo Veneza na Itália, e Delft na Holanda. Fonte: cdcc.usp.br À medida que a exploração das terras ocupadas ocorria, extraía-se o que servia ao comércio para a venda e troca na Europa, mas também, a cada vez que as embarcações chegavam aos novos territórios, os europeus traziam também muito da cultura europeia até então desconhecida aos nativos. Do comércio, do extrativismo, da colonização e da exploração, de certa forma, originaram uma rede de troca de informações, experiências e conhecimentos numa ida e vinda de mercadorias, entendendo-se também como parte desse processo o tráfico de escravos. Uma rota comercial se desenhava cada vez mais abrangente entre os continentes europeu, americano, asiático, africano e a Oceania. A Europa, centro das relações comerciais, vivia então o renascimento. Alguns países se afirmavam no cenário político como potências econômicas. Enquanto os territórios colonizados eram explorados e saqueados, sua gente era escravizada, catequizada, expulsa ou exterminada em nome da civilização. Contudo, configura-se nesse intercâmbio transnacional um sistema econômico baseado na mercadoria. A esse processo de exploração de mercado e acúmulo de riquezas dos países mais fortes em detrimento dos mais fracos, chamaremos de capitalismo. 8 Unidade: Globalização e Desigualdades No entanto, o que nos interessa aqui é constatar que as navegações marítimas deram origem a uma rede de comunicação entre os povos de diferentes origens. A ida e vinda das embarcações levaram e trouxeram muitas transformações para ambos os lados, seja para os colonizadores, seja para os colonizados. Aos poucos, as línguas foram se misturando, bem como as diferentes etnias e logo alguns hábitos foram sendo incorporados cá e lá. Dessa forma, se compreendemos a globalização como um processo de comunicação em rede entre povos diferentes, aproximando culturas desconhecidas, alavancando potencialidades políticas e econômicas de forma cada vez mais rápida e abrangente, então, podemos dizer que a globalização teve sua primeira fase no século XVI. Em Síntese A primeira fase da globalização se deu com as navegações marítimas do século XVI. As rotas traçadas pelas principais potências políticas e econômicas entre colonizadores e colonizados estabeleceram um processo de comunicação e, de certa forma, permitiram o contato com novas culturas, hábitos, crenças e etnias em nível global. Aos poucos, foram sendo estabelecidas políticas internacionais e a afirmação de um modelo econômico – o capitalismo. A globalização na contemporaneidade A segunda fase da globalização, como assim alguns estudiosos descrevem, diz respeito à reconfiguração geopolítica e econômica a partir do final dos anos 1980. O fim da Guerra Fria entre capitalistas e comunistas, mais precisamente a queda, em 1989, do simbólico muro de Berlim que separava a Alemanha oriental comunista da Alemanha ocidental capitalista, define um marco para este processo global recente. Voltemos um pouco na história para compreender a Guerra Fria. Para tanto, devemos retomar alguns aspectos da Segunda Guerra Mundial. Lembremos que a Segunda Guerra Mundial foi um conflito entre as principais potências do mundo em defesa de mercado para suas indústrias e hegemonia política. O conflito se deu pelo fato de os alemães não se subordinarem às duras imposições que lhe foram conferidas pelo Tratado de Versalhes assinado no final da Primeira Guerra Mundial. Desta forma, os alemães que haviam perdido 13% de seu território para países como a França, Polônia, Dinamarca e Bélgica e proibidos pelos aliados de desenvolver forças militares, encontram sob a liderança fascista do Füher Adolf Hitler e da criação do partido Nacional socialista, conhecido como Nazismo, uma liderança para sair da crise que afundava o país. Por outro lado, os EUA se consolidaram, desde a primeira Guerra Mundial, como superpotência econômica capitalista e a URSS – União das Repúblicas Socialistas Soviéticas - era o contraponto mais incômodo à liderança norte- americana. 9 Assim, temos no cenário brevemente descrito acima, um conflito global entre três modelos econômicos: nazismo, capitalismo e socialismo. Capitalismo: sistema economico baseado na propriedade privada, produção e consumo. Dividido em classes sociais, de um lado os detentores dos meios de produção e de outro o trabalhador assalariado. Socialismo: sistema econômico transitório para se atingir o comunismo. Os meios de produção são de propriedade comum a todos os cidadãos e são controlados por seus trabalhadores. Porém, as ditaduras e o Estado totalitário mantêm o poder até atingir o estágio desejado. Fascismo: sistema econômico em que um líder carismático exalta a nação e o Estado, bem como usa modernas técnicas de propaganda e censura para suprimir pela força a oposição política. O nazismo é uma expressão do fascismo. Para pôr um ponto final na Segunda Guerra Mundial, a derrota dos nazistas alemães só seria possível pela união militar das outras duas forças econômicas. Assim, os capitalistas americanos e os socialistas soviéticos aliaram-se, vencendo a guerra. Você pode se perguntar – Mas se havia três modelos econômicos em disputa, por que os capitalistas se uniram aos socialistas e nenhum destes preferiram se juntar aos nazistas? Pensemos que tanto o capitalismo, como o socialismo têm como centro de sua estrutura política os meios de produção, o mercado e a mercadoria. A diferença básica é que o capitalismo se estrutura pelo livremercado e o socialismo é estruturado pelo Estado totalitário. No entanto, o nazismo era o único dos três modelos que operava com a política de limpeza étnica. A barbárie nazista perseguiu e exterminou milhões de judeus, ciganos, imigrantes, negros, homossexuais, eslavos e deficientes físicos e mentais. 10 Unidade: Globalização e Desigualdades Fonte: galeriadefotos.universia.com.br Para acabar com a barbárie nazista, naquele momento, somente com a aliança entre capitalistas e soviéticos parecia possível. A união das duas forças militares foi capaz de pôr fim à guerra, mas com a condição de que as potências americana e soviética não provocassem um novo conflito, daí a Guerra Fria. O sentido dado à Guerra Fria diz respeito à Guerra de mercado e de desenvolvimento tecnológico que irá marcar as décadas seguintes. Americanos e soviéticos procuram expandir suas forças pelo mundo todo por meio de articulações políticas, como por exemplo as ditaduras militares na América latina, que foram apoiadas pelos americanos temerosos à ameaça socialista/ comunista no continente. Surgiram, desde então, algumas superpotências de ambos os lados como por exemplo, EUA, Japão, Inglaterra, França, Itália, Canadá, Alemanha Ocidental, Austrália; só para citar alguns dos países capitalistas que foram destacados pelos estudiosos e pela mídia como países do primeiro mundo. Do lado socialista, ou seja, do segundo mundo, estão grandes potências políticas, econômicas e detentoras de grande parte dos recursos naturais como a URSS e a China, e países estratégicos geograficamente como a Coréia do Norte, Cuba e Alemanha Oriental. Já o terceiro mundo coube aos países periféricos e dependentes que estavam em fase de industrialização; portanto, atrasados em comparação aos demais, dentre eles o Brasil. A cortina de ferro que separava a URSS dos EUA se rompe com o governo de Mikhail Gorbachev (1985-1991) no final dos anos 1980. Gorbachev irá criar medidas de sustentação da economia soviética; entre elas estão a abertura dos veículos de comunicação, novas medidas para atuar no mercado internacional, favorecendo exportação e importação, etc. Entre suas maiores metas governamentais, Gorbatchev empreendeu duas medidas: a perestroika (reestruturação) e a glasnost (transparência). A primeira visava modernizar a economia soviética, 11 adotando medidas que diminuíam a participação do Estado na economia. Já a glasnost objetivava abrandar o poder de interferência e controle do governo nas questões civis. Essas medidas foram pouco a pouco abrindo o mercado soviético para o mundo, o que provocou os primeiros movimentos separatistas das repúblicas soviéticas, enfraquecendo paulatinamente o regime. A Alemanha oriental e a Alemanha ocidental, por fim, decidem acabar com a separação política em seu território e se unem com a queda do muro de Berlim, símbolo do final da Guerra Fria e início do processo de globalização contemporâneo. Fonte: esglobal.org O final da Guerra Fria deixou muitos países em crise, para sair dela e firmarem-se como países competitivos, formaram blocos econômicos. O primeiro bloco econômico de muitos outros que se formarão, a partir de então, é a União Europeia. Hoje, conhecemos o MERCOSUL, Tigres Asiáticos, Caribean, ALCA, etc. Para sobreviver num mundo altamente competitivo a que os americanos projetaram, somente unindo forças regionais como os blocos econômicos. Os blocos econômicos reconfiguraram a política internacional, no sentido legislativo, monetário, geográfico e cultural. Então, temos até aqui algumas características da globalização contemporânea. São elas: a hegemonia do capitalismo, o gradativo fim do socialismo, a formação de blocos econômicos, a abertura dos mercados disputados pelas empresas transnacionais e a abertura dos veículos de comunicação. Dois outros fatores fundamentais complementam a globalização que descrevemos aqui: o surgimento da internet no final dos anos 1980 e a definição de um idioma global: o inglês. A internet está ligada à globalização por ter surgido no mesmo momento histórico que aqui destacamos, qual seja, a Guerra Fria. A união dos mercados por intermédio de sistemas financeiros, o desenvolvimento tecnológico dos meios de comunicação pelas fibras óticas permitiram uma rápida comunicação em rede e a custo baixo. Aos poucos, foram sendo acessíveis à massa nos formatos de computadores pessoais, notes, tablets e celulares. Assim, estabeleceu-se uma cultura de massa consumista e ávida pelas novidades tecnológicas cada vez mais possíveis ao cidadão comum. 12 Unidade: Globalização e Desigualdades Você Sabia ? Como Surgiu a internet? A internet nasceu de uma experiência militar norte-americana durante a Guerra Fria. A ideia inicial era criar uma rede de comunicação entre as bases militares, cujos cabos eram subterrâneos e de longo alcance, a fim de proteger o sistema de qualquer ataque que pudesse destruí-lo. No final dos anos 80, essa tecnologia passou a ser utilizada pelas universidades, centros de pesquisas e empresas. Aos poucos, a internet, nos anos 90, foi chegando ao uso cotidiano do cidadão comum. Para Nestor García Canclini, “A globalização pode ser vista como um conjunto de estratégias para realizar a hegemonia de conglomerados industriais, corporações financeiras, majors do cinema, da televisão, da música e da informática, para apropriar-se dos recursos naturais e culturais, do trabalho, do ócio e do dinheiro dos países pobres, subordinando-os à exploração concentrada com que esses atores reordenaram o mundo na segunda metade do século XX” (2003, pg. 29). Segundo Canclini, a globalização gerou um processo de desigualdade e exclusão social, conforme veremos a seguir. A acentuação das desigualdades sociais provocadas pela globalização Apesar dos benefícios indiscutíveis que o desenvolvimento tecnológico trouxe para o cotidiano das pessoas, uma parcela da sociedade ficou fora ou não alcança um patamar mínimo de sobrevivência para uma vida digna. Para Canclini, “Ao relacionar as estratégias globalizadoras e hibridadoras com as diversas experiências da interculturalidade, salta aos olhos que, por mais que se forme um mercado mundial das finanças, de alguns bens e circuitos midiáticos, por mais que o inglês se consolide como “língua universal”, as diferenças persistem, e a traduzibilidade entre as culturas é limitada. Não impossível. Para além das narrativas fáceis da homogeneização absoluta e da resistência do local, a globalização nos defronta à possibilidade de apreender fragmentos, nunca a totalidade, de outras culturas e refazer o que imaginávamos como próprio em interações e acordos com outros, nunca com todos”. (2003, pg. 114-115). Aparentemente, a maioria das pessoas no mundo possuem celulares, notebooks, frequentam uma universidade, possuem moradia ou realizam o trabalho que sempre sonharam. 13 Há uma ideologia que envolve a grande massa da sociedade, fazendo-a acreditar que tudo isso é possível e está ao alcance de todos; basta querer. Glossário Ideologia: Ideias ou crenças partilhadas que servem para justificar os interesses dos grupos dominantes. Há ideologias em todas as sociedades em que existem desigualdades enraizadas sistemáticas entre os indivíduos. O conceito de ideologia tem uma ligação estreita com o de poder, na medida em que os sistemas ideológicos servem para legitimar o poder diferenciado detido por grupos (GIDDENS, 2004, pg. 694-695). No entanto, a globalização acentuou o efeito contrário. A grande maioria das pessoas no mundo vivem enfrentando um conjunto de problemas que engloba a educação precária, a falta de acesso à moradia, sem condições mínimas para higiene e saúde, saneamento básico, fome, desemprego e discriminação, só para citar alguns dos maiores problemas enfrentados por grande parte dos países de todo o mundo. Sim, de todo o mundo - inclusive os países ricos. Vejamos: os países ricos, principalmente aqueles que atingiram o welfere state,ou seja, estado de bem estar social, enfrentam, por exemplo, problemas com o equilíbrio das contas do estado para arcar com as despesas de uma sociedade envelhecida por conta da melhora da qualidade de vida. Imagine que um europeu no início do século XX chegava em média aos 60 anos e, hoje, sua expectativa de vida já passa dos 80. Se voltarmos mais ainda na história, na idade média, a maioria das pessoas, ou seja, os camponeses, viviam em média 40-45 anos. Vivemos hoje o dobro de tempo! As epidemias, guerras, escravidão, extermínio, etc.; que existiam sem controle, hoje, podem ser controlados (de certa forma) pelos avanços da medicina, da ciência, das leis, da educação, dos organismos internacionais como a ONU e a UNESCO, OMC, FMI, etc. Para o mundo de hoje, o enfrentamento de um problema que pode afetar a todos, existe mecanismos que envolvem os países do mundo todo, e tais mecanismos podem ser acionados em nome dos direitos humanos, da paz e do bem estar. Algo impensável um século atrás. Tomemos como exemplo a epidemia da AIDS e os avanços da ciência para controlá-la com excelentes resultados, os avanços na legislação para garantir o direito à democracia para a maior parte dos cidadãos, bem como os excepcionais avanços na tecnologia da comunicação nos últimos 50 anos. Há toda uma geração capaz de nos contar como era a vida sem TV, porque simplesmente não existia televisão até os anos 1940! O telefone era artigo de luxo até pouco mais de meio século. Enviar uma mensagem para alguém poderia levar meses. No entanto, hoje, com a comunicação digital, a TV, o cinema, a internet e a informática, a informação ficou praticamente à disposição de todos e na palma da mão. Veja bem, à disposição não significa que todos terão meios iguais para ter acesso a tudo isso. Pois bem, há entorno de 6 milhões de migrantes pelo mundo em busca de emprego, a criminalidade e o terrorismo são notícias frequentes e há milhões de pessoas no mundo desabrigadas, refugiadas, famintas, analfabetas, discriminadas, etc. 14 Unidade: Globalização e Desigualdades O lado cruel da globalização é justamente o aumento da pobreza e da desigualdade. Parece dicotômico dizer que a globalização, a qual envolve o mundo todo numa rede, deixe tanta gente fora dela. Porém, na sociedade de massa, cidadania se confunde com consumo, ou seja, na sociedade de consumo, aquele indivíduo que faz o capitalismo se regenerar porque trabalha, recebe salários e consome, a este se reserva uma visibilidade especial. Há interesse nesse cliente para o setor financeiro, pois os bancos lhe abrirão contas, lhe darão crédito, empréstimos, etc. Também no setor de serviços, pois o cidadão-consumidor terá acesso a uma formação educacional, profissional, cultural, vestuário, lazer, etc. A principal causa da desigualdade na contemporaneidade está justamente ligada à falta de trabalho, inexistência de renda e descrédito no cidadão excluído. Façamos aqui um parêntese, o termo ‘exclusão social’ ou ‘excluídos’ fica sem sentido quando compreendemos que o capitalismo, sistema econômico hegemônico atual, produz ricos e pobres, burgueses e proletários, consumidores e não consumidores. Pois, se tudo isso faz parte de um único sistema econômico, então, a própria pobreza é gerada pelo acúmulo de capital e da má distribuição de riquezas. Portanto, como excluir o próprio produto do capital, ou seja, a pobreza e a desigualdade? Esse é o grande enfrentamento dos países do mundo. Quando os países pobres não conseguem resolver seus problemas políticos, econômicos e sociais, os países ricos precisam socorrê-los para evitar as constantes crises mundiais. Por outro lado, os países ricos também vivem crises de desemprego, violência, urbanização acelerada, alta densidade demográfica, escassez de recursos naturais, etc. Como vemos, a globalização envolve todo o mundo e as desigualdades só podem ser combatidas com ações conjuntas entre os países. Tomemos como exemplo um dos principais fenômenos da globalização - o aumento de indivíduos no mundo na condição de imigrante. À medida que o capital está concentrado em uma determinada zona geográfica do planeta, as ondas migratórias confluem nessa direção. Como o capital migra, ora investe em países ricos, ora em países pobres, ora numa determinada região, o fluxo migratório também é mutante. Os migrantes, de fato, sempre existiram, porém, o migrante de hoje tem uma razão muito especial para se deslocar. A principal razão para um indivíduo se deslocar de sua cidade, estado ou país em direção a outro, está direta ou indiretamente ligada ao trabalho. Portanto, a principal razão para emigrar é a razão econômica. Ainda que a maioria dos migrantes se desloquem claramente em busca de trabalho, existem aqueles que migram para estudar, conhecer idiomas, culturas, etc.; porém, tudo isso é valorado e servirá ao indivíduo para encontrar um trabalho melhor. Por isso, dizemos que essa migração está ligada indiretamente ao trabalho. A outra parte que não se inclui nessa maioria que migra em busca de trabalho, é composta, em crescentes percentuais, por refugiados e exilados que migram por questões políticas, culturais e religiosas. Segundo a socióloga Saskia Sassen, antes da Segunda Guerra Mundial, Berlim e Viena eram cidades receptoras de grandes migrações de uma vasta região da Europa oriental, “a agressiva 15 campanha da Guerra Fria mostrando o Oeste como um lugar onde o bem-estar econômico é a norma e é fácil conseguir um emprego bem remunerado teve o efeito de induzir a migração para o Ocidente.’’ (2010, pg. 120). Esse contato com o ‘outro’ acaba por gerar choques culturais e atitudes extremas como o surgimento do terrorismo, políticas racistas, discriminação, intolerância, genocídios, etc. Levantadas estas questões que objetivaram uma reflexão sobre o dualismo provocado pela globalização, ou seja, um lado bom e um lado ruim, conforme destacamos acima brevemente, é importante direcionarmos nossa atenção para o futuro que estamos construindo. Que atitudes e ações podem ajudar a minimizar as desigualdades aprofundadas pela globalização? A participação política de cada cidadão pode ser um caminho para novos diálogos? Você já notou que há um crescente levante popular que busca se organizar pelas redes sociais para protestar por uma causa em comum? A internet pode ser um espaço mais democrático para troca de ideias sobre o capitalismo e suas consequências? Essas perguntas podem nos ajudar a refletir um pouco mais sobre os caminhos abertos pela globalização a partir do final dos anos 1980 e os rumos que foram tomados no início do século XXI. Há uma lista grande de aspectos a serem tratados sobre este assunto tão recente e tão amplo interesse das ciências sociais. O termo globalização era praticamente desconhecido até os anos 1990. Isso quer dizer: ainda que haja uma ampla literatura a respeito da globalização, estamos ainda tentando compreendê-la de fato. Considerações Finais Nesta unidade, estudamos a formação do processo de globalização em duas fases, a primeira no renascimento, século XVI, e a segunda com o fim da Guerra Fria no final dos anos 1980. Procuramos relacionar os dois lados da globalização ressaltados amplamente quando se trata deste tema, o lado positivo, ou seja, dos avanços tecnológicos, da comunicação em rede, da internet, etc.; e o lado negativo, ou seja, da desigualdade causada pelo abismo que separa os ‘incluídos’ dos ‘excluídos’, ainda que tanto uns quanto os outros façam parte de um único sistema político-econômico – o capitalismo. Objetivamos aqui apresentar a você, caro(a) aluno(a), argumentos para refletir sobre tais aspectos, bem como desenvolver uma visão crítica da globalização contemporânea quanto à ideologia otimista que, normalmente, apresenta apenas os aspectos favorecedores do capital, enquanto as desigualdades, muitas vezes, são apresentadas como descompasso e atraso perante o encantador mundo globalizado, ao qual tantosgostariam de fazer parte. 16 Unidade: Globalização e Desigualdades Material Complementar Explore Para complementar os conhecimentos adquiridos nesta Unidade, segue sugestão de e-books e vídeos: Distopia do Capital - vídeo https://www.youtube.com/watch?v=A8As8mFaRGU . Acesso em 17.01.15. E-book: Globalização e espaço geográfico http://cruzeirodosul.bv3.digitalpages.com.br/users/publications/9788572442374/pages/-2. Acesso em 17.01.15 E-book: Globalização, cultura e identidade http://cruzeirodosul.bv3.digitalpages.com.br/users/publications/9788582124888. Acesso em 17.01.15 E-book: Globalização e desemprego http://cruzeirodosul.bv3.digitalpages.com.br/users/publications/9788572440936/pages/-2. Acesso em 17.01.15 Todos enriquecerão sua compreensão sobre os aspectos fundamentais da globalização e das desigualdades. https://www.youtube.com/watch?v=A8As8mFaRGU http://cruzeirodosul.bv3.digitalpages.com.br/users/publications/9788572442374/pages/-2 http://cruzeirodosul.bv3.digitalpages.com.br/users/publications/9788582124888 http://cruzeirodosul.bv3.digitalpages.com.br/users/publications/9788572440936/pages/-2 17 Referências CANCLINI, Nestor. A globalização imaginada. São Paulo: Iluminuras, 2003. CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede. São Paulo: Paz e Terra, 1999. GIDDENS, Anthony. O mundo na era da globalização. Lisboa: Editorial Presença, 2000. SASSEN, Saskia. Sociologia da globalização. Porto Alegre: Artmed, 2010. 18 Unidade: Globalização e Desigualdades Anotações
Compartilhar