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TRANSTORNO BIPOLAR Mila Vitória- Psiquiatria 2021.2 Transtornos bipolares são fenômenos antigos Há textos gregos com mais de 2000 anos que já descreviam indícios disso Platão (428-348 a.C.) - Fedro - um estado de excitação que chamou de mania ou a “fúria divina” (inspiração) dos poetas Areteu da Capadócia (Alexandria, final do século I a.C.) - “o clínico da mania” – 1o. autor a conectar mania e depressão e identificar sua natureza cíclica Conceito antigo de Mania: loucura ou demência, insensatez, força ou élan inspirador Conceito atual: “Síndrome mental caracterizada por exaltação eufórica do humor, excitação psíquica, hiperatividade, insônia e, em certos casos, agitação motora em grau variável.” OMS: é uma das 10 doenças mais incapacitantes do mundo 90% dos pacientes terão uma recaída na vida (passando, em média, por 09 episódios) Alta mortalidade comparada à população geral (até 2,5 vezes maior) Associação com o abuso e a dependência de álcool ou de drogas, independentemente da idade de início da doença Início: final da adolescência e início da vida adulta (8% após os 65 anos) Prevalência na vida – 1 a 3% Doença crônica e grave, recorrente Não há cura Parentes de primeiro grau: risco de 9% (quase 10 vezes o da população em geral) Concordância entre gêmeos: monozigóticos – 38 a 43%, dizigóticos – 4 a 6% Introdução Epidemiologia Definição É um transtorno de humor no qual o indivíduo apresenta oscilações entre pontos altos do temperamento (mania) e baixos (depressão). Etiopatogenia Genética Neurobiologia: Tálamo Corpo estriado ventral Córtex órbito- frontal Amígdala Hipocampo Verme cerebelar Córtex pré-frontal dorsolateral Giro do cíngulo anterior Expressão do TB Circuitos cerebrais envolvidos na fisiopatologia Disfunções complexas da transdução intracelular de sinais e da expressão gênica -> alteração de neurotransmissores Alterações nos sistemas de neurotransmissão gabaérgico, glutamatérgico e de neuropeptídeos Proteínas G acoplam receptores a canais iônicos e realizam a transdução da ativação dos neurotransmissores Grande parte das drogas que atuam no SNC são agonistas ou antagonistas de receptores acoplados a proteínas G Nos portadores de TB ocorre aumento dos níveis e da atividade de proteínas G Pacientes em mania, não medicados: aumento de acoplamento de receptores ligados a proteínas G, com normalização após tratamento com lítio ou valproato Lítio, Valproato, etc promovem inibição da proteína quinase GSK3-beta Impacta no desenvolvimento cognitivo e emocional Causa dificuldades interpessoais, educacionais e financeiras Foco do tratamento: melhorias a curto e longo prazo Detecção precoce + tratamento farmacológico ideal + suporte psicossocial= melhora funcional, melhores prognósticos a longo prazo O diagnóstico pode ser um desafio; 35 a 45% dos pacientes - diagnosticados equivocadamente como tendo depressão unipolar Não existe instrumento de triagem ideal ou teste diagnóstico Mood disorder questionnaire facilita o diagnóstico Obter história colateral do ponto de vista de familiares ou amigos -> o paciente geralmente não tem insight da doença Avaliar história familiar de TB História familiar positiva: parentes de primeiro grau aumenta a probabilidade de TB II em 8 a 18 vezes Transtorno bipolar tipo I Transtorno bipolar tipo II Transtorno ciclotímico Transtorno bipolar e transtorno relacionado induzido por substância/medicamento Transtorno bipolar e transtorno relacionado devido a outra condição médica Outro transtorno bipolar e transtorno relacionado especificado Transtorno bipolar e outro transtorno relacionado não especificado INeuroquímica- neurotransmissores Neuroquímica- transdução de sinais intracelulares Transtorno bipolar Emerge nos anos formativos da vida de um indivíduo: Importante: TB e transtornos relacionados (DSM-5) TRANSTORNO BIPOLAR Mila Vitória- Psiquiatria 2021.2 Padrões básicos de sintomas de transtornos do humor: depressão e mania Idade média de início - 17 e 21 anos Risco de suicídio 15-20 vezes maior que o da população geral; 25-60% tentam pelo menos uma vez; 4 a 19% cometem Estudos em famílias, de adoção e de gêmeos mostram alta herdabilidade (79 a 83%) Fatores de risco ambientais, bem como eventos de vida negativos/estressantes levam ao 1º episódio Episódios depressivos podem ocorrer tanto no TDM e no TB I. Como diferenciar? história do paciente, evolução e história familiar Sintomas atípicos (ansiedade, hipersonia e hiperfagia) Retardo psicomotor Sintomas psicóticos Idade de início precoce na infância/adolescência Episódios mais longos História familiar positiva para transtorno bipolar Início abrupto Refratariedade aos AD Sazonalidade Múltiplas recorrências Depressão pós-parto Sintomas de hiperventilação ou mistos Irritabilidade importante Humor depressivo e perda de interesse ou de prazer: sintomas-chave da depressão Queixas frequentes: dor emocional tipo agonia e incapacidade de chorar Redução da energia, menos motivação Dificuldades com o sono (insônia terminal e despertares múltiplos) Agravamento de condições médicas coexistentes (diabetes, hipertensão, doença cardíaca) Diminuição da libido e do desempenho sexual Variação diurna dos sintomas –> melhoram à noite Sintomas cognitivos Marca-chave: estado de humor elevado, expansivo ou irritável. A euforia ou alegria patológica, assim como a elação ou expansão do eu O estado predominante de euforia no início do curso da doença com irritabilidade posterior Humor: exaltado, eufórico, elevado, alegria exagerada ou irritável Fala: rápida, tom mais alto, pode não dar pra entender Pensamento: rápido, acelerado, pode ter bloqueios e ser desconexo Sensopercepção: alucinações Memória e orientação: geralmente preservadas e se tiver alteração é por conta do taquipsiquismo, falta de atenção, muito distraído, hipotenacidade Transtorno Bipolar tipo I Fatores mais associados com a depressão bipolar: Episódios depressivos: Episódios maníacos: Exame do estado mental: Juízo de realidade: delírios de grandeza ou alguma coisa que não seja compatível com essa autoestima inflada, achar que está sendo perseguido, por exemplo Controle dos impulsos: há um descontrole, paciente muito mais impulsivo, compulsivo com compras por exemplo, pode estar mais desinibido Julgamento: prejudicado, não consegue avaliar a realidade do mundo de forma correta Insight: ausente no momento do episódio Autoestima inflada ou grandiosidade Redução da necessidade de sono Mais loquaz que o habitual Fuga de ideias ou experiência subjetiva de que os pensamentos estão acelerados Distratibilidade Aumento da atividade dirigida a objetivos ou agitação psicomotora Envolvimento excessivo em atividades prazerosas com elevado potencial p/ consequências dolorosas Disforia ou humor depressivo acentuado Interesse ou prazer diminuído em todas ou quase todas as atividades Retardo psicomotor quase diário Fadiga ou perda de energia Sentimentos de inutilidade ou de culpa excessiva ou inapropriada Pensamentos recorrentes de morte, ideação suicida recorrente sem plano específico, tentativa de suicídio ou plano específico para cometer suicídio DSM-5 - episódio maníaco A. Um período distinto de humor anormal e persistentemente elevado, expansivo ou irritável e aumento anormal e persistente da atividade dirigida a objetivos ou da energia, com duração mínima de uma semana (ou qualquer duração, se a hospitalização for necessária) B. Durante o período de perturbação do humor e aumento da energia ou atividade, 3 ou mais dos seguintes sintomas persistem (4 se o humor apenas irritável) e estão presentes em grau significativo: 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. C. A perturbação do humor é suficientemente grave a ponto de causar prejuízo acentuado no funcionamento social ou profissional ou para necessitar de hospitalização a fim de prevenir dano a si mesmo ou a outras pessoas, ou existem características psicóticas D. O episódio não é atribuível aos efeitos fisiológicos de uma substância ou a outra condição médica DSM-5 - Episódio maníaco ou hipomaníaco comcaracterísticas mistas A. São atendidos todos os critérios para um episódio maníaco ou hipomaníaco, e pelo menos 03 dos sintomas a seguir estão presentes durante a maioria dos dias do episódio atual ou mais recente de mania ou hipomania: 1. 2. 3. 4. 5. 6. B. Sintomas mistos são observáveis por outras pessoas e representam uma mudança em relação ao comportamento habitual do indivíduo C. Se satisfazem todos os critérios de mania e depressão simultaneamente, o diagnóstico deve ser de episódio maníaco com características mistas, devido ao prejuízo acentuado e à gravidade clínica da mania plena TRANSTORNO BIPOLAR Mila Vitória- Psiquiatria 2021.2 Automutilação Intolerância às frustrações Mudanças de humor abruptas e claramente relacionadas a estressores externos Predominância de humor irritável (humor eufórico infrequente) Impulsividade e comportamento de risco crônicos Instabilidade das relações interpessoais, da autoimagem e do humor, com grande impulsividade Início precoce e impreciso, com curso prolongado Euforia genuína e longos períodos livres de sintomas são muito raros Violação dos direitos de outrem com desprezo por eles Início precoce e impreciso, que acontece ao longo da vida, sem relação a um episódio maníaco Necessidade constante de sentir-se admirado, grandiosidade e falta de empatia com início precoce e impreciso A grandiosidade não está relacionada a alterações de humor ou prejuízo de funcionalidade Inicia, com mais frequência, com depressão (75% das vezes em mulheres, 67% em homens) É uma condição recorrente Maioria dos pacientes: episódios depressivos e maníacos (10 a 20% experimentam somente maníacos) Episódios maníacos costumam iniciar rápido, mas podem evoluir por poucas semanas Episódio maníaco não-tratado pode durar 3 meses Com a progressão da doença há diminuição do intervalo de tempo entre os episódios Número médio de episódios maníacos - 9 (2 a 30) Após cerca de 5 episódios o intervalo tende a se estabilizar em 6 a 9 meses Pode ocorrer em crianças e adolescentes (1%), já aos 8 anos de idade Início do transtorno em pessoas idosas é relativamente incomum Prognóstico do TB I pior do que do TDM 50 a 60% dos pacientes apresentam controle significativo com o lítio Idade de início precoce Mau estado ocupacional pré-mórbido Sintomas psicóticos Manifestações depressivas entre os episódios Sexo masculino Presença de episódios mistos Ciclagem rápida ITB I- diagnóstico diferencial TDM, TB II, Transtorno Ciclotímico, TB devido a outra condição médica, TB induzido por substância/medicamento, TDAH, TAG, Transtorno da personalidade borderline narcisista e antissocial Transtorno da personalidade borderline Transtorno da personalidade antissocial Transtorno da personalidade narcisista TB I- curso e prognóstico TB I- fatores de mau prognóstico Comorbidades como TDAH e ansiedade Dependência de álcool Eventos de vida negativos Antecedentes familiares de transtornos psiquiátricos Curta duração dos episódios maníacos Idade avançada de início Poucos pensamentos suicidas Poucos problemas psiquiátricos ou médicos Carbonato de lítio: eficácia de 70% a 80% da mania, especialmente a mania pura Carbamazepina, divalproato e ácido valpróico: mania mista ou disfórica, ciclagem rápida, mania psicótica, mania com múltiplos episódios, comorbidade de ansiedade, abuso de álcool e substâncias Antipsicóticos Antidepressivos (ter cuidado, pois pode haver virada maníaca) Mania aguda: requer, por vezes medicação adjuvante (benzodiazepínico ou antipsicótico) ECT – todas as fases do TB 1º linha: lítio, lamotrigina (limitada), divalproato, quetiapina, lítio ou divalproato + quetiapina, risperidona de depósito, aripiprazol (limitada), ziprazidona (limitada) 2º linha: carbamazepina, lítio + divalproato, lítio + carba, lítio ou divalproato + olanzapina, lítio + risperidona, lítio + lamotrigina Autoestima inflada ou grandiosidade Redução da necessidade de sono Mais loquaz que o habitual Fuga de ideias ou experiência subjetiva de que os pensamentos estão acelerados Distratibilidade Aumento da atividade dirigida a objetivos ou agitação psicomotora Envolvimento excessivo em atividades prazerosas com elevado potencial p/ consequências dolorosas Fatores de bom prognóstico: TB I- Tratamento Objetivos: garantia da segurança do paciente; avaliação diagnóstica completa; plano de tratamento para os sintomas imediatos e profilaxia das recorrências; redução do número e da gravidade dos estressores. Recorrências, morbidade substancial, mortalidade significativa, sobrecarga financeira= necessidade de evitar novos episódios Manutenção do tratamento Transtorno Bipolar tipo II Requer um ou mais episódios depressivos maiores e pelo menos um episódio hipomaníaco durante o curso da vida DSM- 5: episódio hipomaníaco A. Um período distinto de humor anormal e persistentemente elevado, expansivo ou irritável e aumento anormal e persistente da atividade dirigida a objetivos ou da energia, com duração mínima de QUATRO DIAS CONSECUTIVOS e presente na maior parte do dia, quase todos os dias B. Durante o período de perturbação do humor e aumento da energia ou atividade, 3 ou mais dos seguintes sintomas persistem (4 se o humor apenas irritável) e estão presentes em grau significativo : 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. TRANSTORNO BIPOLAR Mila Vitória- Psiquiatria 2021.2 Não é mais considerado uma condição “mais leve” que o TB I Quantidade de tempo com depressão e instabilidade do humor representa prejuízo grave no funcionamento Mais problemas conjugais que TB I Risco maior de tentar e completar suicídio que TB I Inicia mais precocemente que TB I Curso clínico: episódios de humor recorrentes que consistem de um ou mais episódios depressivos maiores e pelo menos um episódio hipomaníaco Apresentam-se, ao clínico, durante um episódio depressivo maior e são improváveis de queixar-se inicialmente de hipomania Início frequente com episódio depressivo Tipicamente, os episódios de hipomania por si não causam prejuízo Os prejuízos resultam dos episódios depressivos maiores e de um padrão persistente de mudanças de humor imprevisíveis Podem não ver os episódios hipomaníacos como patológicos, embora possa haver comprometimento de outros pelo comportamento do indivíduo Informações clínicas de outros frequentemente úteis Número de episódios (ambos episódios hipomaníacos e depressivos maiores) na vida tende a ser maior do que para TDM ou TBI O intervalo entre os episódios de humor no curso do TB II tende a diminuir com a idade do indivíduo Idade média de início: 20 anos Ansiedade, uso de substâncias ou transtornos da alimentação - precede o diagnóstico Ciclagem rápida - pior prognóstico Ciclagem rápida - presença de pelo menos 4 episódios de humor nos 12 meses anteriores que preencham critérios de EM, hipomaníaco ou depressivo maior C. O episódio está associado a uma mudança clara no funcionamento que não é característica do indivíduo quando assintomático D. A perturbação do humor e a mudança no funcionamento são observáveis por outras pessoas E. O episódio NÃO é suficientemente grave a ponto de causar prejuízo acentuado no funcionamento social ou profissional ou para necessitar de hospitalização. Existindo características psicóticas, por definição, o episódio é maníaco F. O episódio não é atribuível aos efeitos fisiológicos de uma substância Tratamento TB II Características clínicas do TB II Retorno ao nível anterior de funcionamento social é mais provável para indivíduos mais jovens e com menos depressão severa Recuperação funcional - poucos anos de doença e ser casado Alto risco de suicídio -> tentativa de suicídio em aproximadamente 1/3 dos indivíduos com TB II Prevalência da taxa de tentativa de suicídio similar entre TB II e TB I , porém a letalidade da tentativa é mais alta no TB II 20% transitam diretamente para outro episódio de humor sem recuperação entre os episódios Jamais preenche os critérios para um episódio de mania, hipomania ou depressão maior Conceito: durante o período inicial de 2 anos (ou 1 ano para crianças e adolescentes):Epidemiologia: prevalência de 0,4 a 1%; H=M; mulheres buscam mais tratamento; coexiste geralmente com o transtorno de personalidade borderline Geralmente inicia na adolescência ou adulto jovem Início insidioso e curso persistente Risco de 15-50% dos indivíduos com transtorno ciclotímico de desenvolver TB I ou TB II Prevalência do transtorno ciclotímico em parentes de pacientes com TB I >>> em parentes de pacientes com outros transtornos mentais e em indivíduos mentalmente sadios Períodos eufóricos: defesa contra temas depressivos subjacentes Queixas comuns: dificuldades conjugais e instabilidade nos relacionamentos Sintomas semelhantes aos do TB II, porém menos graves Abuso de álcool e outras drogas é comum Estabilizadores de humor: carbamazepina e valproato Cuidado ao usar AD - hipomania ou mania Psicossocial: compreender condição e desenvolver manejo para oscilações do humor TB II- risco e prognóstico TB II > TB I Ansiedade, tempo vivido em depressão, número de episódios, disforia pré-menstrual, percentual feminino, abuso de álcool (mulheres) TB I > TB II Hospitalizações, agitação, irritabilidade, intervalos interepisódicos, gravidade dos episódios depressivos, duração do episódio depressivo, aspectos psicóticos, percentual medicado Transtorno Ciclotímico Presença de períodos hipomaníacos e depressivos por pelo menos 2 anos em adultos (1 ano em crianças) - os sintomas devem ser persistentes (presentes mais dias do que não)qualquer intervalo livre de sintomas não pode ter duração maior do que 2 meses Diagnóstico diferencial Condições médicas e relacionadas a substâncias; Transtornos de personalidade borderline, anti-social, histriônica e narcisista; TB II; TDAH Tratamento:
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