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UNIDADE DE BIOCIÊNCIAS CURSO DE MEDICINA UNIDADE X SITUAÇÃO PROBLEMA 2: “ EU, FAZER ESSE EXAME? NEM PENSAR! “ Mineiros – GO 2021 CURSO DE MEDICINA UNIDADE X SITUAÇÃO PROBLEMA 2: “ EU, FAZER ESSE EXAME? NEM PENSAR! Ana Clara Chiavoloni Ana Gabriela Almeida Ribeiro Neto Bruna Triacca Frizon Eugênia Cristina Vilela Coelho Eugenya da Costa Guimarães Geovanna Oliveira Silva Giullia Vitória Forte Isabela de Almeida Silva Borges José Venâncio Vilela Guimarães Queiroz Lara Mamede Almeida Lays Ribeiro Rangel Letícia Fernandes dos Santos Matheus Fleury Alves Mydian Gabriela dos Santos Fernandes Sabrina Martins Calegari Mineiros – GO 2021 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MINEIROS CURSO DE MEDICINA SITUAÇÃO PROBLEMA 2: “ EU, FAZER ESSE EXAME? NEM PENSAR! “ Relatório da discussão da disciplina de Tutoria do quarto período do curso de Medicina da Instituição de Ensino Superior - Unifimes sob orientação do tutor Dr. Carlos Machado. Mineiros – GO 2021 Sumário 1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 5 2. OBJETIVOS .......................................................................................................... 6 2.2. Objetivo Geral ............................................................................................... 6 2.3. Objetivos específicos ................................................................................... 6 3. CONCLUSÃO ..................................................................................................... 28 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................... 29 5 1. INTRODUÇÃO A próstata é maior glândula do sistema genital masculino, localizada na frente do reto, abaixo da bexiga, envolve a parte superior da uretra (região da uretra prostática). A próstata não é responsável pela ereção e nem pelo orgasmo. Sua função é produzir um líquido que compõe parte do sêmen, que é capaz de nutrir e proteger os espermatozoides. Em homens jovens, a próstata possui o tamanho de uma ameixa, mas o seu tamanho tende a aumentar com o avançar da idade. O câncer de próstata é o mais frequente entre os homens, depois do câncer de pele. Embora seja uma doença comum, sentimentos de medo, insegurança, desconhecimento, preconceito e tabus impedem muitos homens de recorrerem aos âmbitos da saúde para investigar o seu quadro. O câncer de próstata, na maioria dos casos, cresce de forma lenta, assintomática e não chega a dar sinais de alerta durante a vida e nem a ameaçar a saúde do homem. Em outros casos, pode crescer rapidamente, se espalhar para outros órgãos e causar óbito. Esse fenômeno é conhecido como metástase. A doença é confirmada após fazer a biópsia, que é indicada ao encontrar alguma alteração no exame de sangue (PSA) ou no toque retal, que somente são prescritos a partir da suspeita de um caso por um médico especialista. O relatório em questão abrange assuntos como a fisiopatologia, causalidades genéticas, importância epidemiológica, fatores de riscos, manifestações clinicas e diagnósticos diferenciais do câncer de próstata. Além de citar a gradação (sistema de Gleason) e o estadiamento, explica como ocorre o rastreamento do câncer prostático e os métodos terapêuticos utilizados pela ação multiprofissional. 6 2. OBJETIVOS 2.2. Objetivo Geral Caracterizar o tumor maligno de próstata e a fisiopatologia das metástases. 2.3. Objetivos específicos 2.3.1. Descrever a anatomia da próstata - peso, localização, divisões e sua função. 2.3.2. Compreender a importância epidemiológica do câncer de próstata, destacar os fatores de riscos para essa doença. 2.3.3. Reconhecer os fatores genéticos envolvidos no câncer de próstata, herdados e adquiridos. 2.3.4. Descrever a fisiopatologia do câncer de próstata. Associar sua alteração histológica e morfológica às manifestações clínicas. 2.3.5. Identificar os diagnósticos diferenciais do câncer de próstata (prostatite, hiperplasia prostática benigna) e descrever os achados clínicos e laboratoriais na diferenciação diagnóstica. 2.3.6. Descrever a gradação (sistema de Gleason) e estadiamento do câncer de próstata. 2.3.7. Explicar o rastreamento de câncer de próstatas e destacar quais os conceitos mais atuais em relação a esse tema. 2.3.8. Conceituar metástase, explicar as vias de disseminação possíveis e a sua importância na condução do caso clínico. Identificar os principais sítios de metástase do câncer de próstata. 2.3.9. Descrever as possibilidades terapêuticas atuais do câncer de próstata. 2.3.10. Refletir sobre a importância da atuação multiprofissional no cuidado com o paciente com câncer. 7 2.3.1. Descrever a anatomia da próstata - peso, localização, divisões e sua função. Glândula encapsulada ao redor da uretra, entre o colo da bexiga urinária e o diafragma pélvico. • Diretamente atrás da margem inferior da sínfise púbica. • Composta por: • Dois lobos laterais; • Lobo anterior ou istmo conectando lobos laterais anteriormente; • Lobo posterior sob os ductos ejaculatórios e posteriormente à uretra; • Lobo médio entre a uretra e os ductos ejaculatórios; • Contém glândulas que produzem 20% do volume de sême; • Os ductos das glândulas unem-se para formar os ductos prostáticos que se abrem no interior dos seios prostáticos em cada lado do colículo seminal na uretra prostática; • Bainha fascial densa externa à cápsula contém o plexo venoso prostático que drena para as veias ilíacas internas • Suprida pelas artérias prostáticas de várias origens, incluindo as artérias ilíacas internas e vesical inferior (NETTER, 2019). A próstata é uma glândula única em forma de rosca aproximadamente do tamanho de uma bola de golfe. Ela mede cerca de 4 cm de um lado a outro, aproximadamente 3 cm de cima a baixo, e cerca de 2 cm de anterior a posterior, pesando aproximadamente 20 gramas. Encontra-se inferiormente à bexiga urinária e circunda a parte prostática da uretra. A próstata aumenta de tamanho lentamente desde o nascimento até a puberdade. Em seguida, se expande rapidamente até aproximadamente os 30 anos de idade; Após esse período, seu tamanho normalmente permanece estável até os 45 anos, quando podem ocorrer novos aumentos. (TORTORA, 2016) A próstata secreta um líquido leitoso e ligeiramente ácido (pH de aproximadamente 6,5) que contém diversas substâncias. (1) O ácido cítrico do líquido prostático é usado pelos espermatozoides para a produção de ATP por meio do ciclo de Krebs. (2)Várias enzimas proteolíticas, como o antígeno prostático específico (PSA), pepsinogênios, lisozima, amilase e hialuronidase, que por fim quebram as proteínas de coagulação das 8 glândulas seminais. (3) A função da fosfatase ácida secretada pela próstata é desconhecida. (4) A plasmina seminal do líquido prostático é um antibiótico que pode destruir as bactérias. A plasmina seminal pode ajudar a diminuir a quantidade de bactérias que ocorrem naturalmente no sêmen e no sistema genital inferior da mulher. As secreções da próstata entramna parte prostática da uretra por meio de diversos canais prostáticos. As secreções prostáticas constituem aproximadamente 25% do volume do sêmen e contribuem para a motilidade e viabilidade dos espermatozoides. (TORTORA, 2016). 2.3.2. Compreender a importância epidemiológica do câncer de próstata, destacar os fatores de risco para essa doença. No Brasil, o câncer de próstata é o segundo mais comum entre os homens (atrás apenas do câncer de pele não-melanoma). A taxa de incidência é maior nos países desenvolvidos em comparação aos países em desenvolvimento. (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2021) Mais do que qualquer outro tipo, é considerado um câncer da terceira idade, já que cerca de 75% dos casos no mundo ocorrem a partir dos 65 anos. O aumento observado nas taxas de incidência no Brasil pode ser parcialmente justificado pela evolução dos métodos diagnósticos (exames), pela melhoria na qualidade dos sistemas de informação do país e pelo aumento na expectativa de vida. (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2021). As estimativas apontam 68.220 novos casos em 2018. Esses valores correspondem a um risco estimado de 66,12 casos novos a cada 100 mil homens, além de ser a segunda causa de morte por câncer em homens no Brasil, com mais de 14 mil óbitos. Na presença de sinais e sintomas, recomenda- se a realização de exames. (IPASEAL SAÚDE, 2019). Há fatores de risco que podem influenciar no desenvolvimento do câncer, como histórico familiar, idade, etnia, obesidade, etc., porém a maioria não causa diretamente a doença. Alguns fatores parecem ser significativos, como: (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2021). 9 - A idade é um fator de risco importante, uma vez que tanto a incidência quanto a mortalidade aumentam significativamente após os 50 anos. - Pai ou irmão com câncer de próstata antes dos 60 anos, podendo refletir tanto fatores genéticos (hereditários) quanto hábitos alimentares ou estilo de vida de risco de algumas famílias. - Excesso de gordura corporal aumenta o risco de câncer de próstata avançado. - Exposições a aminas aromáticas (comuns nas indústrias química, mecânica e de transformação de alumínio), arsênio (usado como conservante de madeira e como agrotóxico), produtos de petróleo, motor de escape de veículo, hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (HPA), fuligem e dioxinas estão associadas ao câncer de próstata. - Etnia: O câncer prostático é raro em asiáticos e ocorre mais frequentemente entre negros. - Os hormônios andrógenos são necessários para o crescimento e o desenvolvimento da próstata normal, da HNP e do adenocarcinoma prostático. Alguns estudos clínicos mostram que andrógenos circulantes em níveis aumentados são capazes de estimular o crescimento do câncer prostático. Porém não se conhece o papel exato dos andrógenos na carcinogênese da próstata. 2.3.3. Reconhecer os fatores genéticos envolvidos no câncer de próstata, herdados e adquiridos. A causa exata da maioria dos cânceres de próstata não é conhecida, mas os pesquisadores descobriram alguns fatores de risco e estão tentando entender como esses fatores tornam as células prostáticas em cancerígenas (ABBAS, A.K.; FAUSTO, N.; KUMAR, V.; 2010). Os andrógenos desempenham um papel importante no câncer de próstata. Como seus equivalentes normais, o crescimento e a sobrevida das células do câncer de próstata dependem de andrógenos, que se ligam ao receptor androgênico (AR) e induzem a expressão de genes pró-crescimento e pró- sobrevida (ABBAS, A.K.; FAUSTO, N.; KUMAR, V.; 2010). A importância dos andrógenos na manutenção do crescimento e sobrevida das células do câncer de próstata pode ser observada no efeito terapêutico da 10 castração ou do tratamento com antiandrogênicos, que geralmente induzem regressão da doença. Porém, a maioria dos tumores eventualmente se torna resistente ao bloqueio androgênico, por uma variedade de mecanismos (ABBAS, A.K.; FAUSTO, N.; KUMAR, V.; 2010). Dessa forma, as alterações no DNA podem ser hereditárias ou adquiridas ao longo da vida. Mutações genéticas hereditárias As alterações hereditárias no DNA de determinados genes são responsáveis por 10% dos casos de cânceres de próstata. O câncer causado por genes hereditários é denominado câncer hereditário. Vários genes mutados hereditários foram associados ao câncer de próstata hereditário, incluindo (ABBAS, A.K.; FAUSTO, N.; KUMAR, V.; 2010): • BRCA1 e BRCA2: esses genes supressores de tumores normalmente reparam erros no DNA da célula. As mutações hereditárias nesses genes (principalmente no BRCA2) representam uma pequena porcentagem dos cânceres de próstata (ABBAS, A.K.; FAUSTO, N.; KUMAR, V.; 2010); • CHEK2, ATM, PALB2 e RAD51D: mutações nesses genes podem ser responsáveis por alguns tipos de câncer de próstata hereditários (ABBAS, A.K.; FAUSTO, N.; KUMAR, V.; 2010); • Genes de reparação de incompatibilidade do DNA (MSH2, MSH6, MLH1 e PMS2): esses genes geralmente corrigem erros no DNA que são feitos quando uma célula está se preparando para se dividir em 2 novas células. Homens com mutações hereditárias nesses genes têm uma condição conhecida como síndrome de Lynch, também conhecida como câncer colorretal hereditário não poliposo e têm um risco aumentado para câncer colorretal, câncer de próstata e outros tipos de câncer (ABBAS, A.K.; FAUSTO, N.; KUMAR, V.; 2010); • RNASEL (antigo HPC1): a função normal desse gene supressor do tumor é ajudar às células a morrer quando ocorrer algo errado dentro delas. As mutações hereditárias nesse gene permitem que células anormais vivam mais do que deveriam, o que pode levar a um risco aumentado de câncer de próstata (ABBAS, A.K.; FAUSTO, N.; KUMAR, V.; 2010); • HOXB13: esse gene é importante no desenvolvimento da próstata. As mutações nesse gene têm sido associadas ao câncer de próstata em estágio inicial. Felizmente, esta mutação é rara (ABBAS, A.K.; FAUSTO, N.; KUMAR, V.; 2010). 11 Ainda, vários genes mutados estão sendo encontrados no câncer de próstata, tais como: TP53, PTEN, RB RAS, CDKN2, AR (receptor de andrógenos) e CTNNB1. A mutação de ponto mais comum foi observada em TP53 e é característica de doenças em estágios avançados. Os genes MSH2 e PMS2 têm sido encontrados com mutação na linhagem celular do câncer de próstata e foi determinado a partir do estudo de famílias com câncer de próstata, com indivíduos acometidos em idade inferior a 66 anos e uma história familiar confirmada de câncer de cérebro primário (ABBAS, A.K.; FAUSTO, N.; KUMAR, V.; 2010). Em comparação aos homens sem história familiar, aqueles que possuem parentes de primeiro grau com câncer de próstata apresentam o dobro de risco e aqueles com dois parentes de primeiro grau possuem cinco vezes o risco de desenvolver câncer de próstata. Estudos de associação familiar e de genoma identificaram vários locos associados ao risco, incluindo um no 8q24 (ABBAS, A.K.; FAUSTO, N.; KUMAR, V.; 2010). Mutações genéticas adquiridas Algumas mutações genéticas ocorrem durante a vida de uma pessoa e não são transmitidas os filhos. Essas alterações são encontradas apenas em células que vêm da célula mutante original e são denominadas mutações adquiridas. A maioria das mutações genéticas relacionadas ao câncer de próstata parece ser adquirida ao longo da vida, em vez de serem herdadas (ABBAS, A.K.; FAUSTO, N.; KUMAR, V.; 2010). O desenvolvimento do câncer de próstata pode estar ligado ao aumento das taxas de determinados hormônios. Níveis elevados de andrógenos (hormônios masculinos, como a testosterona) promovem o crescimento celular da próstata e podem contribuir para o risco de câncer de próstata em alguns homens (ABBAS, A.K.; FAUSTO, N.; KUMAR, V.; 2010). Alguns estudos mostraram que homens com níveis elevados de outro hormônio, o fator de crescimento da insulina 1 (IGF-1), são mais propensos a desenvolver câncer de próstata.No entanto, outros estudos não encontraram uma ligação entre o IGF-1 e o câncer de próstata. Ainda são necessários mais estudos para dar sentido a essas conclusões (ABBAS, A.K.; FAUSTO, N.; KUMAR, V.; 2010). Estudos também evidenciam que a inflamação da próstata pode contribuir para o câncer de próstata. Uma das teorias é que a inflamação pode levar a uma 12 alteração no DNA celular, o que pode contribuir para que uma célula normal se torne cancerígena. Entretanto, mais pesquisas são necessárias para comprovar essa teoria (ABBAS, A.K.; FAUSTO, N.; KUMAR, V.; 2010). A exposição às radiações ou substâncias cancerígenas pode causar mutações no DNA em muitos órgãos do corpo, mas esses fatores não foram comprovados como importantes causas de mutações nas células da próstata (ABBAS, A.K.; FAUSTO, N.; KUMAR, V.; 2010). 2.3.4. Descrever a fisiopatologia do câncer de próstata. Associar sua alteração histológica e morfológica as manifestações clinicas. • FISIOPATOLOGIA: O carcinoma da próstata é um câncer comum aos homens entre 65-75 anos de idade. A doença clínica significativa e agressiva é mais comum em negros do que em brancos nos Estados Unidos, ao passo que as lesões ocultas e clinicamente insignificantes parecem ocorrer em igual frequência nas duas raças. Os adenocarcinomas da próstata variam de lesões indolentes que nunca causarão danos ao paciente a tumores agressivos fatais (LISBÔA, 2013). Essa patologia ocorre mais comumente na glândula periférica externa e pode ser palpável pelo exame de toque retal, embora atualmente muitos sejam impalpáveis. Microscopicamente, eles são adenocarcinomas com diferenciação variável. As glândulas neoplásicas são revestidas por uma única camada de células. Esta patologia é uma neoplasia maligna constituída pela proliferação de células epiteliais dos ácinos e/ou ductos prostáticos (LISBÔA, 2013). Quanto ao comportamento biológico, a neoplasia é classificada nos seguintes tipos (LISBÔA, 2013): Adenocarcinoma clínico: Manifestações locais, e levanta suspeita da sua existência por achados clínicos. Se não for tratado, evolui com infiltração local e metástases. Adenocarcinoma latente: Chamado dormente ou indolente, é apenas histológico que não evolui necessariamente para carcinoma clínico ou evolui de modo muito mais lento. Pode ser encontrado incidentalmente em autópsia e em biópsias por agulha. O adenocarcinoma latente é muito mais frequente do que o adenocarcinoma clínico. 13 Adenocarcinoma oculto: Corresponde ao adenocarcinoma clínico cujas manifestações decorrem das metástases e não do crescimento local da neoplasia. O adenocarcinoma oculto não é o mesmo que adenocarcinoma latente. Observações clínicas e experiementais sugerem que os androgênios, a hereditariedade, os fatores ambientais e as mutações somáticas adquiridas desempenham papéis na patogenia do câncer de próstata. Os androgênios são de central importância. O câncer da próstata não se desenvolve em homens castrados antes da puberdade, o que indica que os androgênios de alguma forma proveem o “solo fértil” (o contexto celular) no qual o câncer prostático se desenvolve. Essa dependência dos androgênios se estende aos cânceres estabelecidos, os quais regridem durante um tempo em resposta à castração química ou cirúrgica. Notavelmente, os tumores resistentes à terapia antiandrogênica frequentemente adquirem mutações que permitem que os receptores de androgênio ativem a expressão dos seus genes-alvo, mesmo na ausência de hormônios. Assim, os tumores que recorrem em face das terapias antiandrogênicas ainda dependem dos produtos do gene regulados pelos receptores de androgênio (RA) para seu crescimento e sobrevivência. Entretanto, embora o câncer da próstata, como a próstata normal, dependa dos androgênios para sua sobrevivência, não há evidências de que os androgênios originem a carcinogênese (LISBÔA, 2013). Os andrógenos são necessários para o crescimento e o desenvolvimento da próstata normal, da hiperplasia benigna e do adenocarcinoma prostático. Alguns estudos clínicos mostram que andrógenos circulantes em níveis aumentados são capazes de estimular o crescimento de câncer prostático (por estímulo androgênico, o volume tumoral pode aumentar) com o avançar da idade os níveis de testosterona (T) diminuem, enquanto a incidência de carcinoma prostático aumenta. Uma explicação é que os eventos carcinogênicos que requerem ou envolvem estimulação androgênica teriam ocorrido muito antes do aparecimento da neoplasia, num momento em que os níveis de testosterona ainda eram elevados. Outra possibilidade é maior disponibilidade dos receptores de andrógenos nas células prostáticas, possivelmente por amplificação dos genes que os codificam. De qualquer modo, a influência androgênica em nível tecidual local é controversa. Para alguns autores, as células neoplásicas da próstata 14 contêm relativamente mais testosterona e menos di-hidrotestosterona (DHT) (LISBÔA, 2013). Os estrógenos, em princípio, parecem não ter ação direta, mas podem atuar através da inibição da liberação do hormônio luteinizante (LH) pela adeno- hipófise (mecanismo de feedback negativo), resultando em diminuição dos níveis de andrógenos. Na senilidade, há aumento relativo de estrógenos por diminuição dos andrógenos circulantes (LISBÔA, 2013). Os andrógenos desempenham um papel importante no câncer de próstata. Como seus equivalentes normais, o crescimento e a sobrevida das células do câncer de próstata dependem de andrógenos, que se ligam ao receptor androgênico (RA) e induzem a expressão de genes pró-crescimento e pró- sobrevida. É interessante observar, em relação às diferenças no risco de câncer de próstata entre as raças, que o gene do receptor androgênico relacionado ao cromossomo X contém uma sequência polimorfa composta por repetições do códon CAG (que codifica a glutamina). Contudo, mesmo em indivíduos normais, existe variação suficiente na extensão de repetições CAG para afetar a função do receptor androgênico (LISBÔA, 2013). Receptores androgênicos com extensões mais curtas de poliglutamina apresentam maior sensibilidade aos andrógenos. As repetições mais curtas de poliglutamina são encontradas, em geral, em negros, enquanto caucasianos possuem uma extensão intermediária e os asiáticos possuem a mais longa, o que corresponde à incidência e à mortalidade por câncer de próstata nestes grupos. Mais diretamente, a extensão das repetições está inversamente relacionada à frequência na qual o câncer de próstata se desenvolve (LISBÔA, 2013). A importância dos andrógenos na manutenção do crescimento e sobrevida das células do câncer de próstata pode ser observada no efeito terapêutico da castração ou do tratamento com antiandrogênicos, que geralmente induzem regressão da doença. Infelizmente, a maioria dos tumores eventualmente se torna resistente ao bloqueio androgênico. Os tumores escapam por uma variedade de mecanismos, incluindo uma hipersensibilidade em níveis baixos de andrógeno (por exemplo, amplificação do gene de RA), mutações no receptor androgênico que permitem sua ativação por ligantes não androgênicos e outras mutações ou alterações epigenéticas que ativam as vias de sinalização 15 alternativas, que podem evitar completamente a necessidade de receptor androgênico. Entre estas últimas estão as alterações que promovem um aumento da ativação da via de sinalização P1-3 quinase/AKT, que é observada mais frequentemente em tumores que se tornaram resistentes à terapia antiandrogênica (LISBÔA, 2013). A hereditariedade também contribui, já que há risco aumentado entre os parentes de primeiro grau dos pacientes com câncer de próstata. A incidência do câncer prostático é incomum entre asiáticos, altíssima entre negros e também alta entre os escandinavos/caucasianos (LISBÔA, 2013). O ambiente externotambém desempenha seu papel, como evidenciado pelo fato de que, em imigrantes japoneses nos Estados Unidos, a incidência da doença aumenta (embora não no nível visto em nativos dos Estados Unidos) (LISBÔA, 2013). Em relação à ingestão de grandes quantidades de gordura de origem animal, pontua-se que essa pode aumentar a incidência do CA de próstata, uma vez que este nutriente elevaria as taxas de androgênios e estrogênios, os quais, por sua vez, induziriam ao desenvolvimento de tumores da próstata (LISBÔA, 2013). As mutações somáticas adquiridas, como em outros cânceres, são os verdadeiros condutores da transformação celular. Uma classe importante de mutações somáticas são os rearranjos genéticos que criam genes de fusão que consistem no promotor regulado por androgênio do gene TMPRSS2 e na sequência codificadora dos fatores de transcrição da família ETS (o mais comum é o ERG). Os genes de fusão TMPRSS2-ETS estão presentes em aproximadamente 40-50% dos cânceres da próstata. É possível que a expressão aumentada e desregulada dos fatores de transcrição ETS interfira na diferenciação das células epiteliais prostáticas (LISBÔA, 2013). Outras mutações comumente levam à ativação da via sinalizadora do oncogene Pi3K/AKT, entre as quais as mais comuns são as mutações que inativam o gene supressor de tumor PTEN, que atua como um freio à atividade do Pi3K. E a alteração epigenética mais comum no câncer de próstata é a hipermetilação no gene da glutationa S-transferase (GSTP1) que infrarregula a expressão de GSTP1 (LISBÔA, 2013). Uma suposta lesão precursora, a neoplasia intraepitelial prostática (PIN), foi descrita. Havendo várias evidencias que relacionam PIN ao câncer invasivo. Em 16 primeiro lugar, tanto a PIN quanto o câncer tipicamente predominam na zona periférica e são relativamente raros em outras regiões. As próstatas contendo câncer possuem maior frequência e maior extensão de PIN, que frequentemente também é observada próxima ao câncer. Portanto, muitas das alterações moleculares observadas nos cânceres invasivos estão presentes em PIN, sugerindo fortemente o argumento de que PIN é precursora do câncer invasivo (LISBÔA, 2013). • MANIFESTAÇÕES CLINICAS: A maioria dos pacientes com neoplasia de próstata é assintomática. Entretanto, em casos de invasão uretral, podem ocorrer sintomas obstrutivos, como hesitação urinária, diminuição do jato urinário, bem como esvaziamento incompleto da bexiga. Além disso, podem apresentar sintomas irritativos, como urgência urinária, disúria e até mesmo incontinência. Quando há envolvimento da uretra prostática e do trígono vesical, é comum a presença de hematúria (DE LIMA). 2.3.5. Identificar os diagnósticos diferenciais do câncer de próstata (prostatite, hiperplasia prostática benigna) e descrever os achados clínicos e laboratoriais na diferenciação diagnóstica. No diagnóstico diferencial do câncer de próstata, entram as patologias que determinam elevação de PSA e/ou alteração de toque retal. As principais são hiperplasia prostática benigna (HPB) e prostatite crônica. (KUMAR, vinay et al. 8º edição). Hiperplasia Benigna de Próstata (HBP): A hiperplasia benigna de próstata é comum em homens acima de 50 anos de idade. É caracterizada por hiperplasia do estroma prostático e de células epiteliais que resulta em nódulos grandes na região periuretral da próstata. Quando suficientemente grandes, os nódulos comprimem e estreitam o canal uretral, causando obstrução parcial ou às vezes virtualmente completa da uretra. O aumento da resistência ao fluxo urinário provoca hipertrofia e distensão da bexiga, e consequentemente retenção urinária. Acredita-se que esse aumento 17 nodular seja causado por prejuízo da morte celular gerando um acúmulo das mesmas. Como a próstata hiperplásica pode fazer saliência sob a parede do reto, o toque retal é elemento propedêutico importante no diagnóstico clínico. (KUMAR, vinay et al. 8º edição). Prostatite: A prostatite é uma inflamação da próstata que pode ser causada ou não por bactérias. Pode ser dividia em aguda e crônica. Prostatite aguda geralmente é causada por bactérias (na maioria das vezes Escherichia coli) que chegam até a próstata por meio de refluxo intraprostático de urina contaminada, e ocasionalmente pela via linfática. As prostatites crônicas mais frequentes são não infecciosas e constituem achado recorrente na hiperplasia nodular da próstata. Essa inflamação é resultante do extravasamento de secreção prostática no estroma devido a obstrução de ductos. O principal achado laboratorial de prostatite é a alteração do antígeno especifico de próstata (PSA). (KUMAR, vinay et al. 8º edição). O diagnóstico de prostatite é geralmente baseado nos sintomas, resultados de exame físico e nos resultados de uma análise da urina (urinálise) e cultura de urina. A próstata, examinada através do reto por um médico, pode estar inflamada e ser sensível ao toque, especialmente em homens com prostatite bacteriana aguda. Amostras de urina e, às vezes, de líquidos expelidos pelo pênis depois de massagear a próstata durante o exame, são levadas para análise e cultura. (KUMAR, vinay et al. 8º edição). A urinálise pode revelar glóbulos brancos, indicando inflamação, ou bactérias, indicando infecção. As uroculturas revelam infecções bacterianas localizadas em qualquer parte do trato urinário. Em contraste, quando a infecção é encontrada através da cultura de líquido da próstata, a próstata é claramente a causa da infecção. Quando ocorre prostatite sem infecção bacteriana, as uroculturas não revelam infecção. (KUMAR, vinay et al. 8º edição). Exame clínico - toque retal e Antígeno prostático específico (PSA): O exame clínico de toque digital da glândula prostática juntamente com o PSA é realizado principalmente para o rastreamento do câncer de próstata. A principal função do toque retal é avaliar o tamanho, a forma e a consistência da próstata, 18 no intuito de identificar a presença de nódulos. O toque prostático (TP) é sempre recomendável, principalmente para homens acima dos 50 anos, sendo que para os homens com histórico familiar de câncer de próstata antes dos 60 anos a recomendação é realizar o exame de toque a partir dos 45 anos. (Miranda, Paulo Sérgio Carneiro et al. 2004). Antígeno Prostático Específico (PSA) é uma proteína produzida pela próstata e excretada no fluido seminal, presente em concentrações muito baixas na circulação do homem saudável. O aumento dos índices de PSA no soro pode estar relacionado com patologias como prostatite, hiperplasia benígna (HPB), e câncer de próstata. Fatores como trauma prostático, uretral, e infecção da próstata também podem elevar os níveis de PSA no soro(Miranda, Paulo Sérgio Carneiro et al. 2004). 2.3.6. Descrever a gradação ( sistema de Gleason) e estadiamento do câncer de próstata. O diagnóstico de certeza do câncer da próstata é feito pelo estudo histopatológico do tecido obtido pela biópsia da próstata, que deve ser considerada sempre que houver anormalidades no toque retal ou na dosagem do PSA. ( ROBBINS, 2013). O relatório anatomopatológico deve fornecer a graduação histológica do sistema de Gleason, cujo objetivo é informar sobre a provável taxa de crescimento do tumor e sua tendência à disseminação, além de ajudar na determinação do melhor tratamento para o paciente. ( ROBBINS, 2013). A escala de graduação do câncer da próstata varia de 1 a 5, com o grau 1 sendo a forma menos agressiva. ( ROBBINS, 2013). Conhecer o estágio ajuda a definir o prognóstico e é útil para se escolher a terapia. O sistema mais comum é o sistema de quatro estágios, o sistema TNM (abreviação para Tumor/Linfonodos/Metástases). Seus componentes incluem o tamanho do tumor, o número de linfonodos envolvidos e a presença de alguma metástase. A distinção maisimportante feita pelo estadiamento é se o câncer está ou não ainda confinado à próstata. No sistema TNM, os cânceres T1 e T2 são encontrados somente na próstata, ao passo que os T3 e T4 já se espalharam. ( ROBBINS, 2013). 19 2.3.7. Explicar o rastreamento de câncer de próstatas e destacar quais os conceitos mais atuais em relação a esse tema. O rastreamento consiste na avaliação de indivíduos assintomáticos, para classificá-los como candidatos a exames mais específicos de avaliação, com o objetivo de descobrir um câncer oculto ou uma afecção pré-maligna que pode ser curada com tratamento. Junto a isso, em relação a detecção precoce do câncer de próstata é recomendado o acompanhamento anual a partir dos 45 anos com visita ao urologista (AMORIM, 2011). Outrossim, a detecção pode ser feita por meio da investigação, com exames clínicos, laboratoriais ou radiológicos, de pessoas com sinais e sintomas sugestivos da doença (diagnóstico precoce), ou com o uso de exames periódicos em pessoas sem sinais ou sintomas (rastreamento), mas pertencentes a grupos com maior chance de ter a doença. No caso do câncer de próstata, esses exames são o toque retal e o exame de sangue para avaliar a dosagem do PSA (antígeno prostático específico) (AMORIM, 2011). A Lei nº 13.045, de 25 de novembro de 2014, reforça a importância de preparar os serviços públicos e envolver os profissionais de saúde de forma a garantir 20 atendimento adequado e humanizado. Para isso, devem orientar os pacientes sobre os sinais e sintomas da doença, encaminhá-los para a realização de exames quando houver indicação clínica e deixar clara a diferença entre rastreamento populacional em pacientes assintomáticos e detecção precoce (AMORIM,2011). Isso acontece, pois não há evidência científica de que o rastreamento do câncer de próstata traz mais benefícios do que riscos e, portanto, até o momento, recomenda-se que o paciente converse com o médico sobre os riscos e benefícios de se submeter ou não ao rastreamento. Já o diagnóstico precoce desse tipo de câncer possibilita melhores resultados no tratamento. (AMORIM, 2011). 2.3.8. Conceituar metástase, explicar as vias de disseminação possíveis e a sua importância na condução do caso clínico. Identificar os principais sítios de metástase do câncer de próstata. Quando o câncer se dissemina além do local onde começou (sítio primário) para outras partes do corpo é denominado metástase. A metástase pode ocorrer quando as células cancerosas viajam através da corrente sanguínea ou dos vasos linfáticos para outras áreas do corpo. A imagem abaixo mostra algumas partes do sistema linfático, como linfonodos e vasos linfáticos, além de órgãos e tecidos que contêm os linfócitos (células do sistema imunológico) (ONCOGUIA, 2020). 21 Se as células se disseminam através do sistema linfático, podem ir para os linfonodos próximos ou se disseminar para outros órgãos. Entretanto, as células cancerígenas quando se desprendem do tumor primário, geralmente, se disseminam através da corrente sanguínea. Muitas dessas células morrem sem causar quaisquer problemas. Mas algumas se estabelecem em uma nova área, onde começam a crescer e formar novos tumores. Essa disseminação do tumor em uma nova parte do corpo é denominada metástase (ONCOGUIA, 2020). Antes das células cancerígenas se disseminarem para outras partes do corpo, elas passam por várias mudanças: 22 •Precisam se desprender do tumor primário e entrar na corrente sanguínea ou sistema linfático, que as transportará para outra parte do corpo (ONCOGUIA, 2020). •Em algum momento, elas precisam aderir à parede de um vaso sanguíneo ou linfático e alcançar um novo órgão (ONCOGUIA, 2020). •Precisam ser capazes de crescer e se multiplicar em sua nova localização (ONCOGUIA, 2020). •Precisam ser capazes de evitar ataques do sistema imunológico do corpo (ONCOGUIA, 2020). Após passar por todas essas etapas, as células que formam os novos tumores podem já não ser exatamente as mesmas que iniciaram o tumor primário, no entanto terão as características das células onde se originaram. Isso pode torná- las mais difícil de serem tratadas (ONCOGUIA, 2020). Quando o câncer de próstata se dissemina para outras partes do corpo, o local mais provável são os linfonodos, e, em seguida, os ossos. Com menos frequência se espalha para o fígado ou outros órgãos (ONCOGUIA, 2020). Não existe um tratamento padrão. Algumas variáveis serão levadas em consideração para definir o melhor tratamento. As opções incluem quimioterapia, radioterapia, hormonioterapia e, em algumas situações, até cirurgia que é uma modalidade de tratamento que muitos pensam ser restrita aos casos mais iniciais (ONCOGUIA, 2020). Metástase óssea As metástases podem ocorrer em qualquer osso no corpo, mas são mais frequentemente encontradas nos ossos próximos ao eixo central do corpo. A coluna vertebral é o local mais comum de metástase óssea. Outros locais comuns são osso do quadril (pelve), osso da perna (fêmur), osso do braço (úmero), costelas e crânio (ONCOGUIA, 2020). Depois que o câncer se dissemina para os ossos ou outros locais do corpo raramente é curável, mas ainda pode ser tratado para reduzir, bloquear ou retardar seu crescimento. Mesmo que a cura não seja mais possível, o tratamento aumenta a sobrevida do paciente (ONCOGUIA, 2020). 23 2.3.9. Descrever as possibilidades terapêuticas atuais do câncer de próstata. Existem várias opções para o tratamento do câncer de próstata, que devem visar não somente ao controle oncológico da doença, mas também a manutenção da qualidade de vida. Assim sendo, não basta a análise de presença de metástases, mas também o risco de as desenvolver são pontos chave no tratamento desse tipo de câncer. A escolha da melhor forma de tratamento, deve ser individualizada para cada paciente levando-se em conta a idade, o estadiamento do tumor, o grau histológico, o tamanho da próstata, as comorbidades, a expectativa de vida, os anseios do paciente e os recursos técnicos disponíveis. CÂNCER DE PRÓSTATA LOCALIZADO A ausência de meta-análises e revisões sistemáticas, bem como de ensaios clínicos bem desenhados, impossibilitam a definição da modalidade terapêutica mais eficaz para a doença localizada. Desta forma, considera-se que as modalidades possuem eficácia semelhante, diferindo apenas na incidência de efeitos adversos. Com o uso do PSA para a busca de câncer de próstata em indivíduos de risco ocorreu um aumento no diagnóstico de pacientes com doença localizada e de baixo risco, os quais representam quase a metade dos pacientes diagnosticados com câncer de próstata. As opções terapêuticas disponíveis atualmente variam conforme a agressividade do tumor e características do paciente e incluem: Observação vigilante: uma opção frente à doença localizada, porem deve ser empregada apenas em pacientes acima de 75 anos de idade ou que apresenta comorbidades relevantes (expectativa de vida até 10 anos) e tumores de baixo grau histológico. Vigilância ativa: consiste em não iniciar o tratamento (com intenção curativa) salvo caso de sinal de evolução da doença. Esta conduta é reservada aos tumores localizados com baixo risco de evolução (classificação de D’Amico) nos pacientes com expectativa de vida com 10 anos ou mais. Tem sido empregada em alguns países nos casos de pacientes de baixo risco e baixo volume tumoral, ou que não sejam candidatos a nenhum outro tipo de tratamento. No nosso país, essa é uma prática atualmente reservada a casos muitos bem selecionados, 24 principalmente quando o paciente não é candidato a nenhum outro tratamento ou quando ele deseja não se expor aos riscos inerentes às diversas formas de tratamento. Condutas invasivas (como a prostatectomia radical): é o procedimento padrão-ouro para o tratamento de câncer da próstata localizado. Cerca de 85% dos pacientes submetidos à PTR não apresentam evidência de doença após cinco anos e 2/3 após 10 anos. Consiste na ressecção completa da próstata, incluindo a uretra prostática, das vesículas seminais e ampolas dos ductos deferentes, associada ou não a realização de linfadenectomia bilateral. Além disso, a protatectomia radical mostra um benefício significativo sobre o não tratamento dos pacientes com câncer de próstata, sendo o único método de tratamento avaliado por ECR para tumores localizados que reduz a progressão para metástases e a mortalidade. Os fatores determinantes do sucesso pós-PTR são: ausência de margens cirúrgicas comprometidas, ausência de infiltração das vesículas seminais, ausência de infiltração linfonodal, nível sérico de PSA indetectável após 3 meses da cirurgia. O tratamento cirúrgico apresenta algumas complicações como: incontinência urinária, disfunção erétil, estenose de uretra ou colovesical, lesão de reto e as complicações decorrentes de cirurgias de grande porte. Radioterapia: pode ser dividida em externa e intersticial (braquiterapia). A radioterapia externa (RXT) é uma ótima opção para o tratamento da doença localizada. Também pode ser indicada para pacientes que tenham contraindicação à cirurgia. A dose de RXT mínima sobre a próstata deve ser de 72 Cy, respeitando-se a tolerância dos tecidos normais adjacentes. Apresenta como possíveis complicações: alterações gastrointestinais e cistite actínica. A braquiterapia intersticial permanente com sementes radioativas está indicada isoladamente aos pacientes com bom prognóstico (T1-T2a, PSA < 10 ng/ml, Gleason < 7) ou complementar à RXT externa para casos de pior prognóstico. Deve ser evitada nos casos de tumores volumosos ou submetidos previamente à ressecção prostática transuretral ou à prostatectomia convencional e em próstatas menores que 20 g. A braquiterapia intersticial de alta taxa de dose, em combinação com a RXT de megavoltagem também pode ser utilizada no 25 tratamento de tumores localizados. Suas possíveis complicações são: incontinência urinária, disfunção erétil e estenose de uretra ou colovesical. TRATAMENTO DE DOENÇA LOCALMENTE AVANÇADA (T3-T4) A meta terapêutica é a cura destes pacientes. O tratamento monoterápico é geralmente ineficaz nestas situações. As melhores opções de tratamento incluem uma combinação de bloqueio hormonal e cirurgia radical ou radioterapia externa, ou cirurgia radical seguida de radioterapia. TRATAMENTO DE DOENÇA METASTÁTICA Quando há doença metastática à época do diagnóstico, não é mais recomendado o tratamento local da doença através de prostatectomia radical ou radioterapêutica, sendo indicado o tratamento sistêmico da doença através de castração cirúrgica ou medicamentosa (bloqueio hormonal). O tratamento das neoplasias prostáticas avançadas baseia-se na manipulação hormonal (hormonioterapia), com o bloqueio da testosterona a níveis de castração (abaixo de 50ng/ml ou 1,7nmol/L de testosterona sérica). Este bloqueio pode ser obtido cirurgicamente (orquiectomia bilateral) ou com medicamentos hormonioterápicos (agonistas LHRH, anti-androgênios, estrógenos) e é dito máximo ou completo, quando se associa a castração (cirúrgica ou medicamentosa) com um antiandrogênio. Porém, a hormonioterapia também pode ser feita separadamente, com o acréscimo de diferentes classes de medicamentos à medida que ocorre a progressão do tumor. Por conta dos significativos eventos adversos e longo tempo de hormonioterapia, tem-se cogitado a possibilidade do bloqueio hormonal intermintente como alternativa ao bloqueio contínuo. Assim sendo, nesta situação a cura é improvável e o tratamento está baseado na supressão androgênica. Tipos de supressão androgênica: 1. Orquiectomia bilateral (tratamento padrão-ouro). 2. Análogos do hormônio liberador do hormônio luteinizante (LHRH). 3. Estrógenos. 4. Antiandrógenos puros ou mistos (flutamida, nilutamida, bicalutamida, ciproterona) 26 TERAPIA DIRECIONADA AO OSSO O local mais comum de metástase do CaP é o esqueleto. Eventos ósseos em pacientes com metástase, tais como fraturas patológicas, compressão medular e necessidade de radioterapia paliativa analgésica, representam impacto importante na qualidade de vida do paciente. Atualmente existem medicações que visam reduzir a progressão das metástases nos ossos, com redução da dor e da ocorrência de possíveis eventos ósseos. A medicação atualmente mais utilizada com esta finalidade é o ácido zoledrônico24, porém existem estudos em andamento com um anticorpo monoclonal chamado Denosumab, que tem demonstrado resultados superiores ao ácido zoledrônico. QUIMIOTERAPIA O uso da quimioterapia do câncer de próstata restringe-se ao tratamento da doença metastática avançada, refratária a hormonioterapia, e seu início normalmente está indicado quando tais pacientes se tornam sintomáticos, ressaltando-se que, quando indicada a quimioterapia, a hormonioterapia não deve ser suspensa. 2.3.10. Refletir sobre a importância da atuação multiprofissional no cuidado com o paciente com câncer Câncer é uma neoplasia maligna, caracterizada pela perda do controle da divisão celular e pela capacidade de invadir outras estruturas orgânicas. Não se trata de uma patologia recente, mesmo milhares de anos atrás já haviam registros de sua ocorrência no Homem; ela pode surgir em qualquer parte do corpo e existem mais de 100 tipos diferente com características clínicas e biológicas diversas. Devido a aspectos como esse, câncer é uma palavra carregada de significados atribuídos a ela de modo, muitas vezes, generalista e incorreto, há ainda a direta associação com a morte iminente. Assim, todos os profissionais de saúde devem ter conhecimentos sólidos sobre o câncer para que possam informar, cuidar e encaminhar corretamente seus pacientes, já que todos, em maior ou menor grau, são responsáveis pelo sucesso das ações de controle da doença (INCA, 2020). Ademais, em face as estimativas crescentes de novos casos em 2020 a 2022, de 625 mil casos de câncer no Brasil em cada ano, propostas pelo Instituto 27 Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (INCA), percebe-se a magnitude desta doença em território nacional, que leva um grande número de pessoas a adoecer e morrer, devendo assim ser conhecida e enfrentada por todos os que trabalham na área da saúde através de intensivas ações, em todos os campos da saúde, para efetivar a promoção, a prevenção, a detecção precoce (rastreamento e diagnóstico precoce), o tratamento e cuidados paliativos eficientemente (INCA, 2020). Cabe salientar que devido ao caráter cumulativo das alterações que podem implicar na formação de células cancerígenas, as propostas de prevenção são amplas, mas buscam atuar, principalmente, sobre os fatores de riscos modificáveis, aqueles correlacionados com hábitos de vida e ocupacionais, ou seja, tabagismo, sedentarismo, sobrepeso/obesidade, alcoolismo, alimentação inadequada (alto consumo de carnes e gorduras/baixo consumo de hortaliças e frutas), poluição ambiental, exposição ocupacional, comportamento sexual e agentes patológicos (HPV, H. Pylori, HBV e EBV). Alguns dos profissionais que atuam justamente sobre tais pontos incluem, médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem, agentes comunitários, nutricionistas, educadores físicos e odontologistas; além disto muito destes compõem a Atenção Básica, a porta de entrada do sistema de Saúde, o qual é um espaço propício para ações de detecção precoce, sendo de suma importância o pleno uso da valorização da integralidade do paciente e da atuação multiprofissional (INCA, 2020). Quanto ao tratamento, existe três formas principais de tratamento, cirurgia, radioterapia e quimioterapia que objetivam a cura, melhorada qualidade de vida e/ou prolongamento da vida. Tais formas de tratamento exigem cuidado de uma equipe multiprofissional em todas as suas fases, pois o todo é maior que a simples soma das partes, sendo assim desde a indicação por parte de um cirurgião oncológico, um oncologista clínico e um radioterapeuta até a continuidade do processo, que conta ainda com profissionais da enfermagem, da farmácia, do serviço social, da nutrição, da fisioterapia, da odontologia, da psicologia clínica e da psiquiatria (INCA, 2020). 28 3. CONCLUSÃO Em primeiro plano, compreender a morfofisiologia do sistema genital masculino é fundamental para o entendimento acerca das possíveis complicações que possam vir a ocorrer ao longo da vida do homem. O adenocarcinoma de próstata e a Hiperplasia Benigna Prostática (HBP) são exemplos de alterações que acontecem na próstata, advinda do aumento anormal dessa glândula. Por esse motivo, realizar um rastreamento do câncer de próstata se faz tão necessário para que a incidência dessa doença diminua. Essas patologias requerem um protocolo específico a ser seguido. Por esse motivo, é imprescindível conseguir realizar de forma eficaz os diagnósticos diferenciais do câncer de próstata, assim como, compreender os achados laboratoriais, para dessa forma realizar um atendimento individual correto. Em segundo plano, saber cuidar de forma integral o paciente com câncer deve ser um pré-requisito para a atuação multiprofissional nessa área. Inúmeras são as possibilidades terapêuticas atuais, as quais tratam o paciente de forma sistêmica. Nesse sentido, como fora abordado, temos como exemplo a hormonioterapia, os cuidados paliativos, as cirurgias e a quimioterapia. 29 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABBAS, A.K.; FAUSTO, N.; KUMAR, V. Robbins & Cotran. Bases Patológicas das Doenças. 8ª ed. Elsevier: Rio de Janeiro, 2010. AMORIM, Vivian Mae Schmidt Lima et al. Fatores associados à realização dos exames de rastreamento para o câncer de próstata: um estudo de base populacional. Cadernos de Saúde Pública, v. 27, p. 347-356, 2011. CÂNCER AVANÇADO, METÁSTASE e METÁSTASE ÓSSEA. Oncoguia, 2020. Disponível em: http://www.oncoguia.org.br/conteudo/cancer-avancado- metastase-e-metastase-ossea/13285/357/. Acesso em 16/08/2021. DE LIMA, Hudson; Fábio Lorenzetti. Hiperplasia Prostática Benigna. Saúde Direta, cap 22. Acesso em 16.ago.2021. DISTRITO FEDERAL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Diretrizes Diagnósticas e Terapêuticas do Adenocarcinoma de Próstata: relatório de recomendação. Brasília: Sus, 2015. Disponível em: http://conitec.gov.br/images/Consultas/Relatorios/2015/DDT_Adenocarcinomad eprostata_CP.pdf. Acesso em: 17 ago. 2021. EPSTEIN, Jonathan I.; LOTAN, Tama L. O Trato Urinário Inferior e o Sistema Genital Masculino. In: KUMAR, Vinay; ABBAS, Abul K; ASTER, Jon C. Robbins patologia básica. 9. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2013. Cap. 21. p. 983-1016. Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva. ABC do câncer: abordagens básicas para o controle do câncer – 6. ed. rev. atual. – Rio de Janeiro: INCA, 2020. IPASEAL SAÚDE. Instituto de Assistência à Saúde dos Servidores do Estado de Alagoas. Você sabe o que é câncer de próstata? Alagoas, 2019. 30 KUMAR, Vinay et al. Robbins e Cotran: bases patológicas das doenças. 8. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 201. LISBÔA, dos Santos Cinthia. Aspectos clínicos e laboratoriais do câncer de próstata. Acta de Ciências e Saúde, número 02, volume 01, 2013. Acesso em 16.ago.2021. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Instituto Nacional de Câncer. Câncer de Próstata.Brasília – DF, 2021. Miranda, Paulo Sérgio Carneiro et al. Práticas de diagnóstico precoce de câncer de próstata entre professores da faculdade de medicina - UFMG. Revista da Associação Médica Brasileira [online]. 2004, v. 50, n. 3 [Acessado 17 Agosto 2021], pp. 272-275. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/S0104- 42302004000300033>. Epub 21 Out 2004. 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