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Embrapa - Criação de peixes redondos - Ebook 9

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Produção sustentável de 
Peixes Amazônicos I
Criação sustentável de peixes redondos
2
Produção sustentável de Peixes Amazônicos I – 
Criação sustentável de peixes redondos
9. Processamento e comercialização
Apresentação
Chegamos ao último módulo do nosso curso. Aqui, serão abordadas as etapas que 
envolvem o processamento e a comercialização dos peixes redondos com as técnicas 
de despesca, bem como os métodos de insensibilização e de abate empregados hoje 
em dia. Vamos lá! 
Objetivos de aprendizagem 
• Conhecer o planejamento do período adequado à despesca para a biomassa 
esperada no processo.
• Entender os procedimentos de despesca visando ao bem-estar animal.
• Compreender os diferentes tipos de abate e a importância do manejo pré-
abate para a conservação até a comercialização.
• Identificar possíveis produtos e subprodutos processados.
• Apreender cálculos básicos de custo de produção e lucratividade.
• Conhecer alternativas associativistas e de políticas públicas para a 
comercialização da produção.
3
Produção sustentável de Peixes Amazônicos I – 
Criação sustentável de peixes redondos
9.1 Despesca e abate de peixes
Você sabia que os peixes são seres sencientes? Isso significa que eles são capazes 
de sentir dor. 
Os peixes sofrem por estímulos físicos, químicos, sociais ou emocionais, principalmente 
na hora da despesca e do abate, quando são transferidos de seu habitat para outro 
meio totalmente distinto. Além disso, podem sofrer injúrias mecânicas devido ao 
manuseio. 
Os estímulos estressantes são captados por sensores (nociceptores) localizados 
na periferia do corpo e são transmitidos pelos neurônios da medula espinhal para o 
cérebro, onde são interpretados como ameaças à integridade corporal.
No processo de transmissão dos impulsos que o cérebro entende como dolorosos, 
estão envolvidos:
• os nervos periféricos sensitivos e motores; 
• a medula espinhal; 
• o tronco encefálico;
• e o cérebro. 
Os estímulos culminam em estresse, fazendo com que o animal reaja aos agentes 
estressantes para se adaptar às situações desconhecidas ou aversivas. Essa reação 
pode ser traduzida em mudanças metabólicas, osmorregulatórias e em processos 
imunológicos, desencadeados, inicialmente, pelo aumento dos níveis de hormônios 
corticosteroides e catecolaminas. 
Dessa forma, é ideal que, independentemente do método adotado para realizar o abate 
do pescado, considere-se sempre o bem-estar animal. O uso de métodos eficazes de 
insensibilização, etapa precedente ao abate, é fundamental para reduzir o estresse 
ante-mortem.
Clique no link inserido no título abaixo e assista a animação a seguir Para entender 
mais a respeito dos riscos que o estresse na despesca e o mau planejamento do 
abate podem causar, assista à animação a seguir:
Riscos da despesca e do abate
https://youtu.be/BUVU1VNH5jM
4
Produção sustentável de Peixes Amazônicos I – 
Criação sustentável de peixes redondos
9.2 Despesca 
É importante ressaltar que, na piscicultura, o termo despesca é utilizado para 
definir a operação de retirada do peixe do local onde foi cultivado, quando atinge o 
tamanho comercial ideal. É comum que, em alguns viveiros e tanques no Brasil, esse 
procedimento ainda seja precário, principalmente para pequenos e médios produtores.
Para que a importante etapa da despesca seja realizada de forma 
técnica, sem o comprometimento do bem-estar animal e da 
qualidade do pescado, vários aspectos devem ser considerados 
e adequados à realidade do piscicultor.
Atenção
É a despesca que marca o fim da criação e o início de uma das fases mais importantes de 
toda a piscicultura: a comercialização. É nessa etapa que o produtor será remunerado 
por todo o seu trabalho. 
9.2.1 Passos da despesca
Para que a despesca seja bem executada, é preciso conhecer e aplicar os quatro 
passos que levam ao sucesso do produto a ser comercializado. 
Clique no link inserido no título abaixo e assista à videoaula a seguir e aprenda como 
acontece o primeiro passo, o planejamento:
Planejamento de despesca
O segundo passo é o jejum, prática orientada pelos órgãos fiscalizadores que objetiva 
esvaziar o trato gastrintestinal para reduzir o risco de contaminação por fezes na 
ocasião do processamento. Além de diminuir a quantidade de dejetos produzidos, 
outros benefícios são associados ao jejum, como a diminuição do consumo de 
oxigênio e da excreção de amônia na água, caso o peixe seja transportado vivo até a 
unidade de beneficiamento de pescado, o que aumenta os índices de sobrevivência 
pós-transporte e a qualidade do pescado.
O tempo de esvaziamento do trato gastrintestinal varia de acordo com a espécie 
cultivada, sendo suficiente um período de 24 a 48 horas para a maioria delas (para 
as nativas, ainda não há padrões estabelecidos). De forma geral, observa-se que, 
https://youtu.be/qho-FIzP7ZU
5
Produção sustentável de Peixes Amazônicos I – 
Criação sustentável de peixes redondos
para peixes com intestinos longos, é necessário um tempo maior de jejum para 
esvaziamento completo dessa estrutura. 
Durante o jejum, pode ser realizada a depuração, caso haja condições de se manter o 
peixe nessa fase em uma estrutura com renovação constante de água. 
Clique no link inserido no título abaixo e ouça o podcast a seguir e entenda sobre a 
depuração no jejum e sua relação com o off-flavor.
Depuração no jejum e sua relação com o off-flavor
O off-flavor é percebido de diferentes formas pelas pessoas, uma 
vez que envolve o paladar, que é diferenciado em cada indivíduo.
Curiosidade
Ao se proceder a análise sensorial de pratos elaborados com peixes de água doce, não 
é incomum verificar sabores ou odores indesejáveis, denominados de off-flavors, que 
podem ser causados pela absorção de algumas substâncias presentes na água da 
criação (geosmina, ou GEO, e metil-isoborneol, ou MIB), rancidez oxidativa no alimento 
armazenado ou mesmo pelo uso de algum ingrediente na ração que, porventura, venha 
a conferir tal característica. A GEO e o MIB são substâncias formadas a partir de algas 
cianofíceas e bactérias (da ordem dos actinomicetos), que conferem o off-flavor à 
musculatura dos peixes. A GEO é responsável pelo gosto de terra ou barro e o MIB, 
pelo odor de mofo. O surgimento dessas substâncias tem relação com o excesso de 
matéria orgânica nos tanques ou viveiros. Dessa forma, o ideal é que a qualidade da 
água e a quantidade de matéria orgânica sejam controladas de forma sistemática 
para evitar o off-flavor no pescado e, consequentemente, manter a qualidade e o bom 
preço de venda do produto.
O terceiro passo para obter sucesso é a adequada retirada dos peixes da unidade 
produtiva. Clique no link inserido no título abaixo e assista à videoaula a seguir e 
entenda as classificações e técnicas da despesca:
Procedimento de despesca
A despesca com a rede de arrasto é um dos procedimentos mais utilizados em 
pisciculturas com viveiros de formatos regulares, fundo com declive e sistema de 
drenagem que permite um rápido esvaziamento. 
https://ava.sede.embrapa.br/pluginfile.php/1444415/mod_resource/content/1/Depura%C3%A7%C3%A3o%20e%20Jejum.mp3
https://youtu.be/_55pmTOYO0g
6
Produção sustentável de Peixes Amazônicos I – 
Criação sustentável de peixes redondos
Uma característica importante para a passagem 
da rede de arrasto é a profundidade do viveiro, o 
qual deve ter de um a dois metros de profundidade. 
O fundo dos viveiros deve estar livre de troncos, 
pedregulhos, raízes ou outros materiais que 
dificultem a passagem da rede. 
Os sistemas mecanizados utilizam máquinas apropriadas ou adaptadas para a 
realização da despesca. Os apetrechos de pesca são acoplados a um veículo 
motorizado e envolvem a mínima manipulação, de modo a evitar estresse, lesões e 
acidentes, tanto com os peixes quanto com a mão de obra envolvida. 
O uso de uma rosca sem-fim acoplada a um reboque (ela pode ser ligada diretamente 
a uma caixa de transporte ou a uma mesa selecionadora de peixes fixada em cima de 
um caminhão)é um exemplo de sistema mecanizado. No caso da mesa selecionadora, 
o operador auxilia no direcionamento dos peixes para as caixas de transporte, já 
posicionadas nos caminhões estacionados em cada lado da mesa. 
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Figura 9.1. Despesca mecanizada com o uso de equipamento de 
rosca sem-fim
7
Produção sustentável de Peixes Amazônicos I – 
Criação sustentável de peixes redondos
O modelo de máquina pode ser montado em um reboque para ser facilmente 
movimentado em pistas ou estradas estreitas de acesso a lagoas, tanques ou viveiros, 
ou mantido em posição estratégica em pisciculturas em tanques-rede. Quando esse 
método é utilizado, há a redução no nível da água do tanque e uma rede é passada e 
fixada em local próximo ao ponto de despesca. Então, os peixes são direcionados para 
a rosca sem-fim. Esse tipo de despesca também pode ser empregado em policultivos, 
nos quais uma mesa selecionadora auxilia na separação das espécies para os tanques 
de transporte.
O último e quarto passo é o transporte. Quando os peixes são transportados vivos 
até a indústria, preserva-se a qualidade da matéria-prima. Considerando que a vida de 
prateleira do pescado começa a contar a partir do momento em que é abatido, o fato 
de o peixe chegar vivo à indústria prolonga esse prazo. 
O transporte de peixes vivos para abate e processamento deve observar alguns 
cuidados, tais como:
• suprimento de oxigênio na água de transporte;
• necessidade de jejum prévio;
• depuração;
• adição de sal à água;
• densidade de peixes na unidade de transporte;
• temperatura da água; 
• disponibilidade de equipamentos apropriados.
O suprimento de oxigênio é importante para evitar que os peixes morram por asfixia 
durante o translado. O monitoramento da quantidade desse gás na água deve ser feito 
periodicamente com um oxímetro ao longo de todo o trajeto. 
1
Recomenda-se que, no momento do carregamento, haja pelo menos 
quatro miligramas de oxigênio por litro na água em que os peixes serão 
transportados. 
2
A sua regulagem é feita por meio de um fluxômetro, tomando por base os 
dados da concentração de oxigênio medida com o oxímetro. 
8
Produção sustentável de Peixes Amazônicos I – 
Criação sustentável de peixes redondos
3
Deve-se respeitar o limite de 15 miligramas de oxigênio por litro, uma vez que 
o excesso também pode causar mortalidade. O consumo de oxigênio está 
diretamente ligado à movimentação e à taxa metabólica dos peixes.
4
Também é importante adotar medidas para reduzir a temperatura da água de 
transporte e manter os animais em jejum antes do carregamento e seu transporte. 
Para que o quarto passo seja bem-sucedido, é importante ter atenção à água em 
que o pescado será transportado. Clique no link inserido no título abaixo e assista à 
animação a seguir e aprenda por que a adição de sal e a temperatura dessa água são 
primordiais.
A água no transporte do pescado
9.3 Insensibilização e abate de peixes 
O modo como acontece o abate de peixes ainda é desconhecido para muitos. Permanece 
a crença de que apenas a retirada do peixe da água é suficiente para sua morte; no 
entanto, o abate humanitário, seguindo recomendações técnicas e sanitárias, é de 
grande importância, pois está diretamente relacionado à preservação da qualidade 
e à redução do risco de contaminação do produto final, além de minimizar perdas 
por injúrias ou lesões. A simples retirada da água leva os peixes à morte por asfixia, 
prática que causa elevado estresse aos animais.
https://youtu.be/6xkghKpNbaI
9
Produção sustentável de Peixes Amazônicos I – 
Criação sustentável de peixes redondos
Considerando que o estresse animal provocado pelo manejo inadequado no pré-abate 
e abate pode prejudicar a qualidade e reduzir o tempo de prateleira do pescado, adotar 
práticas que promovam o bem-estar animal pode contribuir para a obtenção de um 
produto de melhor aceitabilidade no mercado.
O conjunto de práticas corretas que promovem o bem-estar, 
quando adotado desde a despesca até a indústria, é chamado de 
abate humanitário. 
Atenção
Clique no link inserido no título abaixo e ouça o podcast a seguir e fique por dentro das 
discussões a respeito das práticas de abates humanitários e seus desdobramentos:
Práticas de abates humanitários
9.4 Métodos de insensibilização e abate 
Com o crescimento da piscicultura, as indústrias e unidades de beneficiamento 
passaram a processar cada vez mais matéria-prima oriunda de criatórios. Entretanto, 
a forma como esse pescado é recebido e abatido ainda representa um ponto crítico 
Figura 9.2. Peixes abatidos por asfixia com aspecto cianótico, 
caracterizado pela coloração avermelhada da cabeça e corpo
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https://ava.sede.embrapa.br/pluginfile.php/1444416/mod_resource/content/1/Pr%C3%A1ticas%20de%20abate%20humanit%C3%A1rio.mp3
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Produção sustentável de Peixes Amazônicos I – 
Criação sustentável de peixes redondos
a ser resolvido. Normalmente, a opção é pelo método de abate mais barato e de fácil 
aplicação. 
Como ainda não existe legislação que imponha o abate humanitário dos peixes, muitos 
estabelecimentos optam pela privação de oxigênio, chamada de anóxia. Os peixes 
são retirados de seu habitat e a morte é desnecessariamente prolongada. 
A realização do abate sem controle e de forma ilegal nas 
propriedades pode ser prejudicial à qualidade do pescado, além 
de potencializar problemas de segurança alimentar. O abate 
deve ser realizado em estabelecimentos com inspeção oficial, 
de acordo com os padrões de higiene e de controle sanitário 
estabelecidos pelos órgãos responsáveis pela política sanitária 
em âmbito federal, estadual ou municipal (SIF, SIE ou SIM, 
respectivamente). 
Atenção
Atualmente, a ciência vem desenvolvendo estudos para promover técnicas de abate 
menos dolorosas aos peixes, como as relacionadas à insensibilização prévia ao abate. 
A insensibilização na piscicultura é tratada como o ato de tornar o animal insensível, 
inconsciente, ou seja, fazer com que seja anestesiado. 
Uma vez que a inconsciência é difícil de ser reconhecida, alguns sinais devem ser 
observados, como o movimento rítmico do opérculo imediatamente interrompido e a 
perda do reflexo vestíbulo-ocular. 
Sendo o abate definido como o sacrifício do animal para fins de consumo humano, 
as pesquisas têm buscado insensibilizar os peixes o quanto antes e reduzir o tempo 
de morte. Dessa forma, procuram minimizar a dor e o estresse animal durante o 
procedimento e, consequentemente, melhorar a qualidade do pescado para beneficiar 
sua comercialização.
11
Produção sustentável de Peixes Amazônicos I – 
Criação sustentável de peixes redondos
A legislação da União Europeia, considerando o bem-estar 
animal, admite como princípio básico que o abate seja feito com 
prévia insensibilização e que o método adotado promova a perda 
imediata e irreversível da consciência. 
Curiosidade
9.5 Atordoamento elétrico (choque 
elétrico ou eletronarcose) 
O método de aplicar uma corrente elétrica para provocar a inconsciência e a 
insensibilização imediata do peixe é conhecido como atordoamento elétrico. 
O efeito do tratamento com eletricidade depende da força, da duração da corrente 
e da frequência da onda elétrica. De acordo com a regulagem desses indicadores, a 
eletronarcose pode ser aplicada exclusivamente como atordoamento (insensibilização) 
ou como método de atordoamento e abate. 
Entretanto, para que essa metodologia seja cogitada como opção no processo de 
insensibilização e abate de peixes nativos, é necessário o adequado estabelecimento 
de parâmetros elétricos e de condutividade da água, considerando a espécie. 
Para aumentar a condutividade elétrica na água, é recomendado salinizá-la (adicionar 
sal). A aplicação de correntes inadequadas pode provocar hemorragias no músculo e 
quebra de ossos, comprometendo a qualidade dacarne, o que reforça a necessidade 
de investigação científica a respeito do tema. 
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Produção sustentável de Peixes Amazônicos I – 
Criação sustentável de peixes redondos
Pesquisas recentes têm demonstrado que a eletronarcose é uma 
metodologia eficiente e segura, tanto para a insensibilização prévia 
quanto para o abate de matrinxãs e de tilápias. Ela proporciona 
rápida perda de consciência e morte, sem sofrimento demasiado e 
desnecessário ao animal, atendendo aos preceitos básicos de abate 
humanitário, tais como os estabelecidos para animais de açougue. 
Atenção
O método da eletronarcose apresenta a vantagem de ser menos estressante ao peixe, 
já que o atordoamento pode ser feito na água, sem que haja a sua retirada do ambiente 
aquático. Além disso, ele permite a rápida perda de consciência e o abate individual 
ou em lotes. 
No caso de se optar por esse método apenas como insensibilização, recomenda-se 
que os peixes tenham os grandes vasos seccionados imediatamente após a perda 
da consciência, ou que sejam colocados em água e gelo para o abate por sangria ou 
choque térmico.
Clique no link inserido no título abaixo e assista à videoaula a seguir e conheça os 
métodos de abate por atordoamento cerebral e por golpe:
Atordoamento cerebral e por golpe
9.5.1 Choque térmico
O chamado choque térmico é o método de colocar os peixes, imediatamente após a 
despesca, dentro de um tanque com água e gelo fundente. A proporção deve ser de 
1:1 e os animais ficam nessa mistura por tempo variável, até a sua insensibilização 
para abate.
A água com temperatura próxima a 0 ºC diminui a movimentação dos animais, uma 
vez que são ectotérmicos e dependem da temperatura externa para o desempenho 
de suas funções vitais. Quando a água esfria, o ritmo metabólico é reduzido, com 
exceção das espécies adaptadas ao frio. 
O tempo necessário para promover inicialmente a insensibilização e depois a morte 
pode ser longo, a depender da espécie e do tamanho do peixe. Por isso, é questionável 
a eficiência desse processo em termos de bem-estar animal. 
https://youtu.be/22h-CRRVj7E
13
Produção sustentável de Peixes Amazônicos I – 
Criação sustentável de peixes redondos
Quando o choque térmico é utilizado apenas para insensibilização, pode-se somá-lo a 
outra técnica de abate mais eficiente. Um exemplo é a incisão na guelra, com o auxílio 
de uma faca ou bisturi, e depois a colocação do peixe em outro tanque contendo água 
e gelo para que ocorra a sangria. Nesse caso, o choque térmico é utilizado somente 
para insensibilizar os peixes. Entretanto, algumas organizações internacionais, assim 
como a Organização Mundial da Saúde Animal (OIE), não aconselham a utilização da 
técnica de choque térmico. 
A sangria não é unanimidade entre os técnicos e estudiosos da 
área. É necessário haver mais estudos a respeito dela.
Reflita
9.6 Conservação do pescado
Podemos considerar como pescado todos os organismos aquáticos que podem ser 
consumidos pelo ser humano em sua alimentação. São alguns exemplos: 
• os peixes, como tambaqui, caranha, tilápia, surubim etc.;
• os crustáceos, como o camarão;
Figura 9.3. Choque térmico em tanque em aço inox com 
água e gelo fundente
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14
Produção sustentável de Peixes Amazônicos I – 
Criação sustentável de peixes redondos
• alguns moluscos, como as lulas e os polvos;
• os anfíbios, como a rã.
O pescado é um alimento com excelente valor nutricional e muito saudável; contudo, é 
altamente perecível – o peixe mal conservado estragará rapidamente e ficará impróprio 
para consumo. A ingestão de pescado cuja conservação é duvidosa pode provocar 
doenças veiculadas por bactérias que encontraram no animal um ambiente propício à 
sua multiplicação.
O músculo do pescado vivo ou recém-abatido normalmente é estéril, porém, um grande 
número de bactérias está presente na superfície do corpo, guelras e intestino, as quais 
penetram gradualmente nos músculos e começam a se multiplicar quando o peixe é 
abatido. A multiplicação bacteriana faz com que a decomposição do pescado seja 
acelerada após o período de rigor mortis, quando as bactérias têm como substrato os 
produtos hidrolisados resultantes da autólise. É importante observar que a velocidade 
e a intensidade da ação da autólise e do desenvolvimento dos microrganismos 
dependem do método de conservação empregado, em especial, da temperatura de 
estocagem. 
Quando o pescado está exposto a temperaturas elevadas, sem contato com o gelo, 
por exemplo, a decomposição bacteriana é estimulada, o que gera a rápida perda 
de sua qualidade. O peixe, se for estocado sob temperaturas adequadas (próximas 
a 0 ºC), tem uma significativa redução das atividades enzimáticas, o que diminui o 
crescimento dos microrganismos, conservando um grau de frescor mais elevado por 
um período maior.
9.6.1 Recomendações práticas para conservar 
melhor o peixe
Antes de qualquer manipulação no momento da despesca, é muito importante que os 
produtores de peixes tenham consciência dos fatores que interferem na qualidade do 
pescado.
Com a morte do animal, todas as defesas naturais, que eram importantes para a 
saúde do peixe em vida, desaparecem. Caso as boas práticas não sejam adotadas, o 
processo de deterioração do pescado é acelerado. Veja as principais recomendações:
Toda a manipulação do pescado deve ser feita o mais rápido pos-
sível. 
Deve-se evitar deixar o peixe exposto a altas temperaturas por muito tempo. 
Essa exposição permite o início dos processos que estragam a sua carne.
15
Produção sustentável de Peixes Amazônicos I – 
Criação sustentável de peixes redondos
O tempo é um grande aliado das bactérias. 
Elas certamente vão se desenvolver no peixe e, em questão de horas, o 
produto não poderá mais ser consumido.
O tempo é também um importante companheiro das enzimas que 
destroem o pescado.
As enzimas são substâncias que existem no próprio peixe. Mesmo se 
conservado adequadamente, caso o prazo de validade seja ultrapassado, 
alterações poderão ocorrer devido aos processos enzimáticos. 
Cuidar da temperatura é primordial. 
Imediatamente após a captura ou despesca, o peixe deve ser mantido em 
temperaturas baixas, entre 0 °C e 5 °C. Normalmente, isso é feito com o 
emprego de gelo fabricado com água limpa e, de preferência, em formato de 
escamas ou bem triturado para não furar ou amassar o pescado. 
A grande quantidade de água de constituição, o elevado teor de gorduras insaturadas 
facilmente oxidáveis, o pH próximo à neutralidade e a existência de nutrientes 
propícios à disseminação de microrganismos favorecem o processo de deterioração 
do pescado após sua captura ou despesca, transformando o peixe em um alimento 
altamente perecível. 
Dessa forma, para que o processamento industrial e a comercialização sejam bem-
sucedidos, é necessário conhecer tecnologias e boas práticas para preservar a 
qualidade e agregar valor de mercado aos produtos. Os métodos de conservação são 
tecnologias que objetivam prolongar a vida de prateleira do pescado, pois buscam 
inibir ou destruir as atividades deteriorantes. 
16
Produção sustentável de Peixes Amazônicos I – 
Criação sustentável de peixes redondos
Fatores que levam à deterioração do pescado:
Demorar 
muito para o 
processamento
TEMPO TEMPERATURA
Deixar o peixe em 
temperatura 
ambiente
HIGIENE
Manter um ambiente 
sujo e faltar com a 
higiene pessoal do 
manipulador
PEIXE DETERIORADO
PEIXE FRESCO
As tecnologias tradicionais de conservação do produto aplicadas ao processamento 
de peixes redondos são:
• uso do frio industrial;
• desidratação industrial e artesanal para salga e secagem;
• defumação e fermentação;
• elaboração de carne mecanicamente separada (CMS); e
• surimi. 
9.6.2 Conservação pelo uso do frio 
O Regulamento Industrial de Inspeção Sanitária de Produtos de Origem Animal 
(RIISPOA) determina como pescado fresco o produto disponibilizado ao consumo sem 
ter sofrido qualquer processode conservação, a não ser a ação do gelo. Já o pescado 
resfriado é o produto devidamente acondicionado em gelo e mantido em temperatura 
entre -0,5 e -2 ºC. O pescado congelado é o produto tratado por processos adequados 
de congelamento, em temperatura não superior a -25 ºC.
Figura 9.4. Três importantes fatores na manipulação, desde a despesca até a 
comercialização e consumo
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17
Produção sustentável de Peixes Amazônicos I – 
Criação sustentável de peixes redondos
9.7 Secagem 
A secagem ou desidratação é um processo que consiste na remoção da água do 
alimento, sendo uma das técnicas tradicionais mais antigas de conservação. Pode 
representar um método único de conservação do pescado ou ser utilizado em 
combinação com a salga ou com a defumação.
9.7.1 Métodos de secagem 
A salga baseia-se no princípio da desidratação ocasionada por um desequilíbrio 
osmótico. Quando os peixes ainda estão vivos, as membranas presentes nos tecidos 
celulares são semipermeáveis à passagem de substâncias como a água e alguns 
sais, por exemplo. Após a morte do animal, essas membranas se tornam permeáveis 
e permitem processos de troca de substâncias entre as células e o ambiente 
extracelular. Dessa forma, o sal adicionado penetra no interior dos tecidos para causar 
sua desidratação. A remoção da água dos tecidos e a sua parcial substituição pelo sal 
impedem a decomposição, seja por autólise ou pela ação de microrganismos.
Clique no link inserido no título abaixo e assista a animação a seguir para conhecer 
mais sobre a salga e outros métodos de conservação, como o surimi, a defumação e 
a carne mecanicamente separadas (CMS), assista à animação a seguir:
Métodos de conservação e secagem
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Figura 9.5. Gelo em formato de escamas para o correto 
acondicionamento do pescado fresco
https://youtu.be/ON6casTashE
18
Produção sustentável de Peixes Amazônicos I – 
Criação sustentável de peixes redondos
9.8 Comercialização e políticas públicas
A partir daqui, vamos apresentar as formas mais comuns de organização social, as 
associações e cooperativas, e as vantagens de se trabalhar em grupo. 
Para ter o controle do quanto se gasta e do quanto se lucra com a produção do peixe, 
a piscicultura deve ser uma atividade sempre bem planejada. Os registros dos custos 
são importantes para orientar o manejo, a comercialização e o acompanhamento da 
piscicultura, auxiliando no planejamento. 
Os custos da piscicultura podem ser divididos em duas partes:
Custos de implantação
São os gastos com todos os investimentos 
necessários à infraestrutura da piscicultura, 
como a compra do terreno, a terraplanagem, a 
aquisição de equipamentos para movimentação 
de terra e de utensílios necessários na criação, os 
projetos de licenciamento etc.
Custos de produção
São os gastos com todos os insumos e serviços 
utilizados diretamente e constantemente na 
produção do peixe, como alevinos, ração, adubo 
etc., mão de obra, energia elétrica, manutenção, 
manejo e despesca.
9.8.1 Análise econômica dos custos de produção
Para melhor compreensão, vamos analisar a rentabilidade da piscicultura pelos custos 
de produção, considerando que o piscicultor utiliza uma infraestrutura já existente na 
propriedade, como açudes e viveiros, mas com pouco investimento.
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Produção sustentável de Peixes Amazônicos I – 
Criação sustentável de peixes redondos
Em uma análise econômica dos custos de produção da piscicultura, deve-se conhecer 
os seguintes conceitos:
Custos – gastos 
São valores relacionados aos custos de implantação e de manutenção da 
produção, como apresentado anteriormente.
Receita – apurado
Valor recebido com a venda dos peixes. Para o cálculo, deve-se multiplicar a 
quantidade vendida pelo preço do produto.
Lucro 
Diferença entre a receita e os custos. 
A piscicultura é economicamente viável quando a diferença entre a receita total e o 
custo total de produção é positiva. A receita com a venda do peixe deve cobrir pelo 
menos os gastos que se teve com a criação para não gerar prejuízos.
LUCRO = RECEITA TOTAL – CUSTO TOTAL DE PRODUÇÃO
9.8.2 Cálculo de análise econômica da 
piscicultura
Vejamos, como exemplo, a lista dos custos de produção e a receita obtida por um 
piscicultor de peixes redondos em viveiros escavados. Esses itens são os indicativos 
dos gastos necessários a um ciclo de produção de 10 meses em uma piscicultura 
pequena (barragem de 215 m2). 
Na Tabela 9.1, estão listados os itens essenciais para o cálculo do custo de produção 
por quilo de peixe.
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Produção sustentável de Peixes Amazônicos I – 
Criação sustentável de peixes redondos
Tabela 9.1 – Custo de produção para um ciclo de criação em barragem de 215 m2
Itens Quantidade Total
Ração 333 kg R$ 613,00
Alevinos 360 unidades R$ 75,00
Outros insumos (adubos) – R$ 2,90
Custo total – R$ 690,90
Quantidade produzida – 243 kg de peixe
Custo por kg – R$ 2,84/kg de peixe
Fonte: Adaptada de Lima et al. (2015, p. 103).
Nesse exemplo, o piscicultor produziu 243 kg de peixe. Considerando que o custo 
de produção foi de R$ 690,90, cada quilo de pescado custou R$ 2,84. Para o cálculo 
do desembolso por quilo, é necessário dividir as despesas totais da produção pela 
quantidade produzida:
CUSTO POR QUILO CUSTO TOTAL DE PRODUÇÃO 
QUANTIDADE PRODUZIDA
=
Assim, para o cálculo da receita no exemplo utilizado, teremos:
R$ 2,84/kg de peixe
R$ 690,90 
243 kg de peixe 
=
21
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Criação sustentável de peixes redondos
É importante destacar que, dos R$ 690,90 gastos na criação, o 
valor de R$ 613,00 foi com a compra de ração. Ou seja, no caso 
desse piscicultor, esse item representou 88% do custo de produção 
total. Isso demonstra a importância de se realizar o adequado 
manejo alimentar, a fim de garantir melhor aproveitamento da 
ração (ao melhorar a conversão alimentar) e, consequentemente, 
boa lucratividade.
Atenção
9.8.3 Cálculo da receita
A receita do piscicultor é calculada considerando a quantidade de peixe comercializada 
ao final do ciclo de produção e o valor cobrado pelo pescado. Para calcular a receita 
total, a quantidade vendida deve ser multiplicada pelo preço de venda:
QUANTIDADE VENDIDA x PREÇO DE VENDA = RECEITA TOTAL
Nesse exemplo, vamos imaginar que o quilo do peixe tenha sido vendido a R$ 8,00. 
Assim, para o cálculo da receita, teremos:
243 kg de peixe x R$ 8,00/kg = R$ 1.944,00
Tabela 9.2 – Receita gerada pela produção de peixes em viveiro
Preço médio de venda por quilo R$ 8,00
Produção de peixe 243 kg
Receita R$ 1.944,00
Fonte: Adaptada de Lima et al. (2015, p. 104).
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Criação sustentável de peixes redondos
Com os resultados dos custos de produção e da receita total, é possível verificar 
se a criação é viável, ou seja, se compensa o piscicultor cultivar o animal. Para ser 
uma atividade compensatória, é necessário que, com a venda dos peixes, o produtor 
consiga recuperar o dinheiro gasto com o manejo de engorda e crescimento do peixe.
9.8.4 Cálculo do lucro
Em nosso exemplo, veja qual foi o lucro médio:
R$ 1.944,00 (RECEITA) – R$ 690,90 (CUSTO DE PRODUÇÃO) = R$ 1.253,10 (LUCRO)
O resultado mostra que, caso o produtor consiga vender toda a sua produção, de 243 
kg de peixe, ao preço médio de R$ 8,00 por quilo, o lucro será de R$ 1.253,10.
É importante ressaltar que o lucro muitas vezes depende da 
venda de toda a produção. Caso o produtor não consiga vender 
todos os peixes, é desejável que, pelo menos, ele consiga cobrir 
seus gastos e obtenha algum rendimento. 
Reflita
Com os dados de nosso exemplo, o piscicultor deve vender no mínimo 86 kg de peixe 
ao preço de R$ 8,00 para que tenha renda. Caso venda menos de 86 kg, terá prejuízos.
9.9 Planejamento dacomercialização
Planejar a etapa de vendas é muito importante para o piscicultor, que deve ficar atento 
às técnicas de comercialização e possuir um bom relacionamento com potenciais 
compradores. Além disso, é preciso tomar cuidado com a fase final da produção, 
com a despesca e o transporte, para que não haja perda da qualidade do produto ou 
alteração no preço negociado.
Clique no link inserido no título abaixo e ouça o podcast a seguir e aprenda como 
organizar um planejamento eficaz.
23
Produção sustentável de Peixes Amazônicos I – 
Criação sustentável de peixes redondos
Aspectos que influenciam a ingestão de alimentos de peixes redondos 
cultivados em viveiros
9.10 Associativismo e acesso a políticas 
públicas
A piscicultura familiar ou de pequena escala pode ser viável e rentável, mas é uma 
atividade relativamente nova no Brasil e ainda precisa de muitos incentivos, seja 
tecnológico, de infraestrutura, assistência técnica ou políticas públicas. 
No Brasil, há dois principais perfis de piscicultores: 
1. o pequeno produtor familiar, considerado pequeno devido ao tamanho de sua 
criação, porém com escala de produção. Emprega principalmente mão de 
obra familiar e tem o controle dos custos de produção. Para esse profissional, 
a piscicultura é a principal atividade da propriedade;
2. o piscicultor familiar, que cria peixe como complemento de renda e promoção 
da segurança alimentar e nutricional. Esse tipo de produtor também atua 
em atividades agrícolas e está acostumado ao trabalho no campo, seja na 
plantação de grãos e hortaliças ou na criação de animais (gado, frango, porco 
etc.) e produção de seus derivados (leite, ovos etc.).
Assim como em outras atividades, na agricultura familiar, trabalhar 
sozinho para resolver problemas particulares ou da comunidade 
é um caminho longo e difícil se o desejo for alcançar o sucesso. 
Pessoas organizadas têm muito mais chances de solucionar os 
problemas coletivamente quando almejam o mesmo objetivo.
Reflita
9.10.1 Formas de associativismo
Sabemos que as pessoas se unem por diversos motivos. Em grupo, os piscicultores, 
ao se conhecerem melhor, sejam pertencentes a uma mesma comunidade ou não, 
https://ava.sede.embrapa.br/pluginfile.php/1444424/mod_resource/content/1/Planejamento.mp3
https://ava.sede.embrapa.br/pluginfile.php/1444424/mod_resource/content/1/Planejamento.mp3
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Criação sustentável de peixes redondos
podem compartilhar seus problemas e experiências. Ao contarem sua realidade, 
podem buscar soluções conjuntas.
Quando existem questões em comum a serem resolvidas, uma equipe pode ser 
constituída, legalmente ou não. A constituição legal ocorre, geralmente, em associações 
ou cooperativas.
Associação
É um grupo organizado de pessoas que decidem trabalhar em conjunto 
para resolver seus problemas – neste caso, os problemas da piscicultura. 
A consolidação da associação se dá por meio do estatuto, que precisa 
ser elaborado, compreendido e validado por todos os associados. Nesse 
documento, deve ser detalhada a forma como a associação funcionará, seus 
objetivos, sua área de atuação, sua administração, o perfil dos associados, 
seus direitos e deveres etc. 
Cooperativa
É uma forma de associação. É importante ressaltar que não se pode separar 
o associativismo do cooperativismo – eles se complementam –, porque, 
necessariamente, uma cooperativa nasce de uma associação de pessoas e 
sua continuidade depende dessa organização. 
O principal objetivo da associação é desempenhar ações que devem ser direta 
e indiretamente voltadas a satisfazer as necessidades do grupo. O que difere a 
cooperativa da associação é a gestão, que, no formato de cooperação, é direcionada ao 
interesse econômico direto, com divisão de sobras (lucros) em cotas aos cooperados. 
Veja, na Tabela 9.3 a seguir, alguns conceitos básicos que diferenciam as duas formas 
associativistas.
Tabela 9.3 – Principais diferenças entre associação e cooperativa no Brasil
Critério Associação Cooperativa
Definição Sociedade de pessoas sem fins lucrativos.
Sociedade de pessoas sem fins 
lucrativos, mas com atuação na 
atividade produtiva/comercial 
com fins econômicos.
Finalidade
Representar e defender os 
interesses dos associados. 
Estimular a melhoria técnica, 
profissional e social dos 
associados.
Desenvolver atividades 
de consumo, produção, 
prestação de serviços, crédito 
e comercialização, de acordo 
com os interesses dos seus 
cooperados.
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Critério Associação Cooperativa
Constituição Mínimo de duas pessoas. Mínimo de 20 pessoas físicas.
Legislação
Constituição Federal (art. 5o, 
incisos de XVII a XXI, e art. 174, 
parágrafo 2o) e Código Civil.
Lei n. 5.764/1971, Constituição 
Federal (art. 5o, incisos de XVII 
a XXI, e art. 174, parágrafo 2o) e 
Código Civil.
Patrimônio/ capital
Seu patrimônio é formado por 
taxas pagas pelos associados, 
doações, fundos e reservas. Não 
possui capital social, o que dificulta 
a obtenção de financiamento junto 
às instituições financeiras.
Possui capital social, o que 
facilita, portanto, a aprovação 
de financiamentos junto às 
instituições financeiras. O 
capital social é formado por 
quotas-partes e o grupo pode 
receber doações, empréstimos 
e processos de capitalização.
Forma de gestão
Decisão em assembleia geral (cada 
pessoa tem direito a um voto). 
As decisões devem sempre ser 
tomadas com a participação e o 
envolvimento dos associados.
Decisão em assembleia geral 
(cada pessoa tem direito a 
um voto). As decisões devem 
sempre ser tomadas com a 
participação e o envolvimento 
dos cooperados.
Operações
A associação não tem como 
finalidade realizar atividades de 
comércio, mas pode desempenhá-
las para a implementação de seus 
objetivos sociais. Pode realizar 
operações financeiras e bancárias 
usuais.
Realiza plena atividade 
comercial. Realiza operações 
financeiras, bancárias e pode 
candidatar-se a empréstimos e 
aquisições do governo federal. 
As cooperativas de produtores 
rurais são beneficiárias do 
crédito rural de repasse.
Responsabilidades
Os associados não são 
responsáveis diretamente pelas 
obrigações contraídas pela 
associação. A sua diretoria só pode 
ser responsabilizada se agir sem o 
consentimento dos associados.
Os cooperados não são 
responsáveis diretamente 
pelas obrigações contraídas 
pela cooperativa, a não ser 
no limite de suas quotas-
partes e também nos casos 
em que decidem que a sua 
responsabilidade é ilimitada. 
A sua diretoria só pode ser 
responsabilizada se agir 
sem o consentimento dos 
cooperados.
Remuneração
Os dirigentes não têm remuneração 
pelo exercício de suas funções; 
recebem apenas o reembolso 
das despesas feitas para o 
desempenho dos seus cargos.
Os dirigentes podem ser 
remunerados por retiradas 
mensais pró-labore, definidas 
pela assembleia, além de 
receberem o reembolso de suas 
despesas.
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Produção sustentável de Peixes Amazônicos I – 
Criação sustentável de peixes redondos
Critério Associação Cooperativa
Contabilidade Escrituração contábil simplificada.
A escrituração contábil é mais 
complexa em função do volume 
de negócios e em decorrência 
da necessidade de ter 
contabilidades separadas para 
as operações com os sócios e 
com os não sócios.
Resultados 
financeiros
As possíveis sobras obtidas de 
operações entre os associados 
serão aplicadas na própria 
associação.
Após decisão em assembleia, 
as sobras são divididas de 
acordo com o volume de 
negócios de cada associado. 
Destinam-se 10% para o 
fundo de reserva e 5% para o 
Fundo de Assistência Técnica, 
Educacional e Social (Fates).
Fonte: Adaptada de Lima et al. (2015, p. 110).
É importante que o compartilhamento de informações no âmbito das organizações 
coletivas aconteça periodicamente, em espaços de discussão coletiva, como reuniões, 
assembleias, fóruns etc. A busca por soluções pode ser planejada em conjunto como poder local ou com outras instituições que tenham relação direta e indireta com a 
piscicultura.
 As necessidades e prioridades podem ter diferentes naturezas e precisam ser 
trabalhadas e supridas de acordo com suas peculiaridades. A construção de viveiros 
ou a melhoria de estradas de acesso às cidades pode ser solicitada às prefeituras e 
câmaras de vereadores, por exemplo. Os problemas tecnológicos ligados à piscicultura 
podem ser resolvidos buscando formalmente as instituições que prestam os serviços 
de tecnologia, sejam públicas ou privadas. 
Diversos contratempos podem ser solucionados quando discutidos e analisados 
coletivamente. Quando falamos de piscicultura, as vantagens de se pensar em 
conjunto são muitas. A seguir, apresentamos as três principais.
a. Aumento do poder de negociação na compra de insumos e facilidade de 
acesso ao mercado 
Ao se trabalhar em conjunto, os rendimentos da piscicultura são maiores, pois agrega-
se mão de obra e há mais produção. As atividades são complementares e todos se 
ajudam e saem ganhando. 
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Criação sustentável de peixes redondos
O trabalho com a coletividade também diminui os custos com a compra de insumos. 
Compras coletivas de ração e alevinos, por exemplo, se forem feitas em volume maior, 
normalmente têm preços mais baixos. 
Para se conseguir preços competitivos, a ração deve ser adquirida 
em grandes quantidades, com transações feitas diretamente 
com as empresas fornecedoras. Caso contrário, os piscicultores 
são obrigados a negociar diretamente com o varejo, o que onera 
os custos de aquisição e pode, inclusive, inviabilizar a atividade. 
Atenção
A comercialização dos produtos da piscicultura familiar ainda são gargalos importantes 
para a expansão da criação de peixes no Brasil, principalmente para o pequeno 
produtor. Com um grupo unido e um volume de produção maior, as negociações com 
comerciantes tornam-se mais sólidas; o agrupamento pode ganhar cada vez mais 
confiança para aumentar seu poder de barganha. Ao mesmo tempo, os resultados nas 
vendas incentivam os investimentos em produção e tecnologia na criação de peixes, o 
que melhora a qualidade do pescado e abre caminho para consolidar e acessar novos 
mercados.
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Figura 9.6. A despesca coletiva agrega mão de obra e reduz custos
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Produção sustentável de Peixes Amazônicos I – 
Criação sustentável de peixes redondos
b. Valorização e divulgação da cultura local
Quando os piscicultores pertencentes a uma comunidade, possuem traços culturais 
tradicionais marcantes e podem integrar uma associação para consolidar costumes. 
É possível realizar eventos ligados à piscicultura e valorizar e divulgar a cultura local – 
as feiras temáticas são um exemplo. Muitas delas recebem os nomes dos peixes dos 
quais o local ou região é um polo produtor e utilizam a associação para promover a 
imagem das celebrações culturais, esportivas e culinárias.
Independentemente da forma associativa estabelecida pelos piscicultores, essa 
organização solidária de valorização e divulgação da cultura local dá acesso a uma nova 
realidade, porque, além da produção de pescado, também cria outras oportunidades 
de emprego e dá lugar a um novo cenário econômico. 
As dificuldades a serem enfrentadas pelos piscicultores dependem diretamente de sua 
proatividade e do poder de articulação para resolvê-las. As associações e cooperativas 
são importantes instrumentos para amparar o aumento organizado da criação de 
peixes, com ações coletivas que viabilizem a produção de forma sustentável, com 
menor custo e a promoção do bem-estar social.
c. Acesso a políticas públicas 
Os agricultores familiares, grupo que inclui os piscicultores familiares, foram 
reconhecidos como sujeitos de direitos após lutas políticas com o apoio de movimentos 
sociais. Depois de muito empenho, conseguiram articular espaços de diálogo junto ao 
Estado para ampliar o exercício da cidadania e o acesso a recursos públicos, antes 
destinados quase exclusivamente aos grandes produtores. 
É importante refletir que a unificação de diversos grupos 
sociais em uma mesma categoria política promoveu muitos 
ganhos, mas também ocultou muitas diferenças produtivas e 
socioculturais internas à agricultura familiar. Nos últimos anos, 
alguns grupos começaram a discutir demandas mais específicas 
por reconhecimento, visibilidade pública e políticas que atendam 
às suas peculiaridades. Com isso, também reivindicam um 
olhar específico do Estado e da sociedade em relação às suas 
características socioculturais.
Reflita
29
Produção sustentável de Peixes Amazônicos I – 
Criação sustentável de peixes redondos
Com o intuito de garantir a reprodução social da agricultura familiar e, sobretudo, 
consolidar seu papel de produtora de alimentos, diversas políticas públicas foram 
formuladas no Brasil, com destaque para:
• o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), 
criado em 1995;
• o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), de 2003;
• a Lei da Agricultura Familiar, implementada em 2006; 
• as alterações no Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), no 
ano de 2009, e na Política Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural 
(Pnater), em 2010. 
Com o intuito de liberar crédito rural para a capitalização e o acesso daqueles 
agricultores que se encontravam parcialmente inseridos nos circuitos de inovação 
tecnológica e de mercado, foi criado o Pronaf, primeira política agrícola do país 
direcionada aos agricultores familiares. O objetivo era tornar consolidados esses 
produtores agrícolas em transição. Entretanto, constatou-se que o Pronaf privilegiou 
modelos produtivos convencionais, com baixa capacidade de absorção de mão de 
obra, alto grau de especialização e integrados aos mercados convencionais. Isso 
refletiu em desigualdade, uma vez que o maior volume de investimentos continuou 
nas regiões Sul e Sudeste do país, onde o processo de modernização da agricultura 
havia avançado mais rapidamente desde os anos 1960. 
Em um segundo momento, foi criado um conjunto de políticas socioassistenciais 
(Bolsa Família, Bolsa Verde, Programa Brasil Sem Miséria, Fome Zero etc.) para 
diminuir a pobreza rural não retratada pela iniciativa pública, provocada pelos efeitos 
negativos e pelas insuficiências verificadas nas políticas de crédito rural.
Constatou-se que as políticas sociais têm sido fundamentais em áreas rurais 
empobrecidas, como no semiárido nordestino. Nessas regiões, foram observados 
melhores indicadores convencionais de desenvolvimento (por exemplo, redução da 
pobreza, diminuição de desigualdades sociais, incremento na renda, entre outros), 
que, provavelmente, não teriam sido alcançados apenas com políticas agrícolas. 
No entanto, essas políticas se mostraram menos exitosas na promoção da inclusão 
produtiva dos agricultores. 
Resultados mais positivos estão associados aos projetos voltados à construção de 
mercados para o fomento da segurança alimentar e ao estímulo à sustentabilidade 
ambiental. Nesse viés, a política mais impactante foi o Programa de Aquisição de 
Alimentos (PAA), criado em 2003 para articular a compra de alimentos produzidos no 
sistema de agricultura familiar com ações de segurança alimentar e nutricional para 
populações vulneráveis. 
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Produção sustentável de Peixes Amazônicos I – 
Criação sustentável de peixes redondos
Com a visibilidade do PAA e sua capilaridade, ele foi relevante para dinamizar as 
economias locais e fortalecer as organizações coletivas da agricultura familiar, inclusive 
com o debate a respeito da construção social de novos mercados agroalimentares. 
No ano de 2009, o Programa Nacional de Alimentação Escolar, 
com algumas similaridades ao PAA, foi redesenhado e passou a 
exigir que, pelo menos, 30% dos recursos governamentais para a 
alimentação escolar fossem utilizados para aquisição de itens 
produzidos por agricultores familiarese seus empreendimentos 
coletivos. 
Curiosidade
A formação de uma associação, cooperativa ou de outro grupo formalizado permite 
o acesso a diversas políticas voltadas à piscicultura, o que tem sido recorrente nos 
editais de chamadas públicas. 
Dificuldades como a carência de assistência técnica e a conquista do licenciamento 
ambiental são constantemente enfrentadas por piscicultores familiares. A ajuda 
especializada na área aquícola é um fator limitante ao desenvolvimento da criação de 
peixes, sendo em muitos países inexistente ou em número muito reduzido de técnicos 
habilitados para atender às demandas. 
No Brasil, em 2015, foram extintos o Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA) e uma 
assistência técnica específica aos piscicultores familiares (e pescadores artesanais) 
conhecida como Assistência Técnica e Extensão Pesqueira e Aquícola (Atepa). Em 
relação às licenças ambientais, a falta de informação técnica e de diálogo entre 
as instituições responsáveis pela área fez com que os produtores de pescado se 
arriscassem na clandestinidade.
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Produção sustentável de Peixes Amazônicos I – 
Criação sustentável de peixes redondos
Trabalhar em associações pode acelerar significativamente a resolução de muitos 
problemas. Além disso, a busca por parcerias contribui significativamente para 
potencializar as ações inerentes ao empreendimento coletivo, como é o caso do 
acesso às políticas públicas.
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Figura 9.7. Exemplo de fórum de uma associação de piscicultores
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Produção sustentável de Peixes Amazônicos I – 
Criação sustentável de peixes redondos
Síntese
Chegamos ao final do nono e último módulo do curso Criação Sustentável de Peixes 
Redondos. Aqui, você aprendeu a respeito do bem-estar animal nos procedimentos de 
despesca, pré-abate e abate, além de ter tido contato com noções de processamento 
do pescado e conservação e comercialização dos produtos. Também foi tema de 
estudo o planejamento da piscicultura, considerando gastos e lucros, e o trabalho 
coletivo na aquicultura. 
Foi um caminho repleto de conhecimentos para auxiliar na criação sustentável de 
peixes redondos.
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Produção sustentável de Peixes Amazônicos I – 
Criação sustentável de peixes redondos
Glossário
Autólise: processo pelo qual uma célula se autodestrói espontaneamente por fatores 
físicos ou químicos. 
Depuração: técnica que mantém os peixes em tanques com água em fluxo contínuo, 
para esvaziamento do trato intestinal antes do transporte ou para eliminar o sabor e o 
odor desagradáveis antes do abate. 
Ectotérmico: animal cuja temperatura corporal varia de acordo com a do ambiente. 
Hidrólise: ruptura de uma ligação química pela água. 
Nociceptor: é um receptor sensorial que, quando estimulado por uma ameaça em 
potencial ao organismo, responde emitindo o sinal responsável pela percepção da dor.
Senciência: é a capacidade de os seres perceberem sensações e sentimentos de 
forma consciente. 
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Produção sustentável de Peixes Amazônicos I – 
Criação sustentável de peixes redondos
Referências
LIMA, A. F. et al. Manual de piscicultura familiar em viveiros escavados. Palmas: 
Embrapa, 2015.
RODRIGUES, A. P. O. et al.  Piscicultura de água doce:  multiplicando 
conhecimentos. Brasília: Embrapa, 2013.

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