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Fundamentos de Cirurgia João Vitor P. Gama – MED 103 UV _______________________________________________________________________________________ PELE E TECIDO SUBCUTÂNEO Pele é formada por 3 camadas: epiderme, membrana basal e hipoderme LESÕES TRAUMÁTICAS ▪ Penetrantes ou não (contusas): apresentam soluções de continuidade da pele, bactérias que estão na pele penetram no tecido e são capazes de fazer infecção. ▪ Cisalhamento: várias forças incidindo em um tecido localizado, gerando alteração da microcirculação (injúria, isquemia, necrose). Úlceras de pressão ▪ Mordeduras: são muito infectadas, então lava-se a ferida, aproxima-se sem fechar completamente e faz-se antibioticoprofilaxia (amoxicilina/clavulanato) ▪ Desluvamento: geralmente perda da pele e subcutâneo. Desluvamento do dedo por aliança é comum. LESÕES ÁCIDAS OU ALCALINAS ▪ Causadas por exposição a substâncias caústicas ▪ Tratamento inicial com irrigação copiosa da lesão com soro fisiológico ▪ Ácido hidrofluórico: pode levar a queimaduras graves, profundas e arritmia cardíaca; precisa ser neutralizado com cálcio (gluconato de cálcio) ▪ Extravasamento de fluidos intravenosos (alguns quimioterápicos) podem gerar queimaduras químicas. Lavagem e desbridamento das bolhas. LESÕES HIPOTÉRMICAS E HIPERTÉRMICAS ▪ Lesões tópicas (pele) ▪ Isquemia → necrose → desnaturação de proteínas → morte celular ▪ Zona de coagulação (onde houve queimadura), zona de estase (troca celular), zona de hiperemia (vai diminuindo, formando uma área mais restrita) Fundamentos de Cirurgia João Vitor P. Gama – MED 103 UV _______________________________________________________________________________________ LESÕES POR RADIAÇÃO (UVA, UVB, UVC) ▪ UVA e UVB mais comum ▪ Peles mais claras são mais sensíveis ▪ Exposição prolongada pode evoluir para lesão maligna INFECÇÕES CUTÂNEAS E SUBCUTÂNEAS ▪ Foliculite: processo inflamatório do folículo piloso, que são invadidos por bactérias da pele. Geralmente associada a prestobarba/máquinas/lâminas o Agente etiológico: estafilococos (S. aureus). o Clínica: pústulas superficiais no óstio piloso, processo localizado ou extenso, geralmente na barba, virilha etc. o Tratamento: tópico ▪ Furúnculo: evolução da foliculite, com processo inflamatório e infeccioso da glândula sebácea (folículo pilossebáceo) o Agente etiológico: estafilococos (S. aureus). o Clínica: nódulo duro, eritematoso e doloroso, evoluindo para flutuação com secreção purulenta e material necrótico na parte central o Tratamento: tópico (drenagem quando estiver flutuação, analgesia e calor local quando estiver dura), antibiótico caso haja manifestações sistêmicas ou região periorbital/trígono perigoso (pode desenvolver meningite, cegueira) ▪ Carbúnculo: processo inflamatório de múltiplos folículos pilossebáceos, junção de vários furúnculos o Agente etiológico: estafilococos (S. aureus). o Clínica: nódulo duro, eritematoso e doloroso, evoluindo para flutuação com secreção purulenta e material necrótico. Vários furúnculos juntos, múltiplos orifícios de drenagem. o Tratamento: tópico (drenagem), antibiótico nas mesmas indicações de furúnculo Fundamentos de Cirurgia João Vitor P. Gama – MED 103 UV _______________________________________________________________________________________ ▪ Hidradenite supurativa: processo inflamatório infeccioso das glândulas sudoríparas apócrinas, obstrução do canalículo por anti-transpirante, principalmente nas regiões axilar, occipital, periareolar e perineal. o Agente etiológico: estafilococos (S. aureus). o Clínica: sinais flogísticos o Tratamento: drenagem e suspensão dos desodorantes anti-transpirantes. Processo crônico precisa de retirada em bloco (toda a glândula/segmento da axila) o Doença de Verneuil: autoimune, ocorrendo degeneração de todas as glândulas sudoríparas apócrinas do corpo. Mais comum na região axilar, nádegas. Tratamento por ressecção em bloco (alta taxa de recidiva) ▪ Infecções necrosantes dos tecidos moles: lesão grave, com bactérias bem mais virulentas (bacterioides, Clostridium, Gram-) o Gangrena gasosa (miosite gangrenosa): mionecrose grave, pós-trauma, procedimento cirúrgico ou injeções IM. ▪ Agente etiológico: Clostridium perfringes ▪ Clínica: ferida com ou sem necrose, presença de crepitação (produção de gás pela bactéria), aumento da resposta inflamatória (bactéria cai na corrente sanguínea, sinais de sepse) ▪ Tratamento: desbridamento agressivo e antibióticos de largo espectro o Fasciite necrotizante: infecção bacteriana grave, extensa necrose da fáscia superficial e profunda e da gordura subcutânea, com envolvimento secundário da pele. Mais comum em imunocomprometidos (DM, obesos, neoplasias) ▪ Agente etiológico: estreptococo, enterobactérias, estafilococo, anaeróbios bacterioides (posteriormente, conseguem sobreviver em meio de necrose) ▪ Clínica: semelhante a celulite (área extensa de hiperemia, necrose), sinais sistêmicos ▪ Tratamento: desbridamento agressivo e antibióticos de largo espectro Fundamentos de Cirurgia João Vitor P. Gama – MED 103 UV _______________________________________________________________________________________ ▪ Síndrome de Fournier: tipo de fasciite que acomete fáscia do subcutâneo e pele precocemente. Extensa necrose de pele e subcutâneo, com raro envolvimento secundário de planos profundos. Geralmente em imunocomprometidos. o Agente etiológico: estreptococo, enterobactérias, estafilococo, anaeróbios bacterioides (posteriormente, conseguem sobreviver em meio de necrose) o Clínica: lesão necrótica (principalmente perineal), com evolução rápida e comprometimento extenso o Tratamento: desbridamento agressivo e antibióticos de largo espectro, pós-operatório na UTI LESÕES POR PRESSÃO ▪ Pressão prolongada e excessiva no tecido, que leva a diminuição do fluxo vascular cutâneo, deixando os tecidos locais funcionalmente isquêmicos. ▪ Geralmente no tornozelo, sacro, calcâneo, escápula e cabeça. ▪ Mais comum em paraplégicos, acamados, internações prolongadas ▪ Pressão >60 mmHg por 1h → trombose venosa, degeneração muscular e necrose tecidual ▪ Tratamento: mudança de decúbito a cada 2h; desbridamento da área necrótica. Retalho caso a lesão seja muito extensa, terapia de pressão negativa também facilita cicatrização por segunda intenção. INFECÇÕES VIRAIS CUTÂNEAS E SUBCUTÂNEAS ▪ Papiloma vírus: infecção pelo HPV o Verruga comum (Verruca vulgaris), verruga plantar, verruga plana, verrugas venéreas (Condylomata acuminata). o Aparecem em diversos locais, trauma na verruga com sangramento pode ser uma das causas de aparecimento em outros locais. o Condiloma tem algumas cepas que são precursoras de carcinoma. o Tratamento: Ressecção química (podofilina, formalina ou ácido fenol-nítrico) ou cirúrgica Fundamentos de Cirurgia João Vitor P. Gama – MED 103 UV _______________________________________________________________________________________ ▪ Piodermite gangrenosa: lesão necrótica de crescimento rápido. Associada a algumas vasculites e ocorrência de embolização de arteríolas capilares (induzida por imunossupressão ou processo inflamatório crônico). o Associada a doença intestinal inflamatória, neoplasias malignas e doenças autoimunes. o Tratamento: corticoides e ciclosporina LESÕES CUTÂNEAS E SUBCUTÂNEAS ▪ Cistos (epidérmicos, dermoides, tricolemais): “cisto sebáceo”, formação cística formada por cápsula revestida por epitélio e conteúdo de ceratina, folículo sebáceo obstruído. o Clínica: liso, arredondado, duro e bem definido, pode estar aderido ao tecido adjacente. o Diagnóstico diferencial entre os tipos por meio de histopatológico. o Tratamento: ressecção o Cisto infectado: doloroso, às vezes com sinais de flutuação e eritema. Tratamento por drenagem, sem ressecção no momento. o Cistosepidérmicos: mais comum, localizado em qualquer parte do corpo, “cisto sebáceo antigo” o Cistos dermoides: congênitos, acontecem pelo aprisionamento do epitélio durante o fechamento da linha média fetal. Localização em qualquer local entre o nariz e a testa (mais comum próximo à sobrancelha). o Cistos tricolemais: segundo mais comum, mais comum no couro cabeludo de mulheres. Fundamentos de Cirurgia João Vitor P. Gama – MED 103 UV _______________________________________________________________________________________ ▪ Ceratose seborreica: relacionada à exposição ao sol, consideradas lesões pré-malignas (carcinoma espinocelular). Mais comum em pacientes idosos o Clínica: placas pequenas pigmentadas (pardas e pretas). Superfície verrucosa, granulosa, cistos córneos. o Tratamento: ressecção cirúrgica, crioterapia, eletrocoagulação ou cauterização química. ▪ Nevos: adquiridos, lesões benignas o Clínica: verrucosos ou planos o Tratamento: ressecção cirúrgica, crioterapia, eletrocoagulação ou cauterização química. o Juncionais: mais superficiais, células se acumulam na epiderme o Compostos: migram pela epiderme o Dérmicos: repousam completamente na derme ▪ Nevos melanocíticos congênitos: menos de 1% dos neonatos. Gigantes tem maior probabilidade de se transformarem em lesões malignas. o Clínica: podem ser lesões extensas, castanho-marrom até marrom-escuro e negra, podendo ser pilosos. Acentuada pigmentação na região central. o Tratamento: ressecção e retalho quando é extenso. ▪ Nevos displásicos (atípicos): neoplasias vasculares benignas, arteriais ou venosas, de crescimento rápido. Precursores para melanoma maligno. o Clínica: diâmetro > 5 mm e componente plano proeminente, 2 entre 3 características (contorno assimétrico e irregular, bordas pouco distintas, pigmentação variada) o Tratamento: ressecção Fundamentos de Cirurgia João Vitor P. Gama – MED 103 UV _______________________________________________________________________________________ ▪ Hemangioma: neoplasias vasculares benignas, crescimento rápido durante o primeiro ano de vida (até 90% involuem durante a infância) o Tratamento: agudo é limitado aos que comprometem respiração visão ou alimentação e aos que provocam trombocitopenia e insuficiência cardíaca de alto débito. Corticoides e interferon parecem diminuir o crescimento, mas na maioria conduta expectante (observação) ▪ Lipoma: tumor benigno do tecido adiposo, alguns podem ser associados aos lipossarcomas. o Clínica: mole, arredondado e às vezes lobulado, crescimento lento, geralmente não doloroso. Localizado nos braços, tronco e pescoço. A pele suprajacente é normal e se desloca sobre ele. o Tratamento: ressecção cirúrgica quando as lesões são muito extensas. TUMORES MALIGNOS CUTÂNEOS ▪ Carcinoma basocelular: origem na camada basal da epiderme, normalmente com crescimento lento e raramente metastatizam (basoespinocelular) o Clínica: lesões pequenas (< 2 mm) o Tratamento: para lesões pequenas faz-se curetagem com eletroddissecção e vaporização a laser, para lesões extensas e/ou agressivas faz-se ressecção com margem de segurança (0,5 a 1 cm) o Nodular: Nódulo cístico/ulcerativo é o mais frequente (70%): coloração creme, bordas roliças e peroladas com úlcera central, lesão eritematosa e descamativa. Acomete mais o tronco. o Pigmentado: coloração amarronzada a negra. Faz diagnóstico diferencial com nevo (pigmentado tem grau de elevação maior, nevo é mais plano) Fundamentos de Cirurgia João Vitor P. Gama – MED 103 UV _______________________________________________________________________________________ o Morfeiforme (faz teleangiectasias): lesão plana em formato de placa, mais agressivo. o Micronodular o Infiltrativo ▪ Carcinoma espinocelular: origem nos queratinócitos epidérmicos, menos comum que o basocelular. Mis invasivos (tendência maior a metástase, mais comum para cadeia linfonodal). Relacionados a dano solar cumulativo. o Tratamento: ressecção cirúrgica com margem de 1 cm. Carcinomas com espessura > 4 mm tem maior taxa de recidiva. o Áreas queimadas (Úlceras de marjolin), osteomielite crônica ou áreas lesionadas anteriormente: lesões crônicas podem se tornar carcinomas espinocelular. Podem ter metástase precoce. Tratamento com ressecção precoce. o In situ: Doença de Bowen (lesões perianais, semelhante a assaduras), indicado realizar biópsia o In situ no pênis: Eritoplasia de Queyrat, alguns podem evoluir para amputação ▪ Melanoma maligno: origem na transformação dos melanócitos, mais de 14% possuem padrão familiar. 90% originados na pele e 4% são metástases sem sítio primário conhecido. o Diagnóstico diferencial de nevo por meio de histopatológico. o Tratamento: excisão com margem de 1 cm (< 1 mm profundidade), 2 cm (2-4 mm), 2-3 cm (> 4 mm). Tecido adjacente deve ser removido até a fáscia, retirando todos os canais linfáticos. Todos os linfonodos positivos à microscopia devem ser removidos. o Prognóstico: Níveis de Clark (quanto mais profundo mais grave e menor sobrevida) e índice de Breslow (quanto mais profundo menor a sobrevida/tempo de vida) Fundamentos de Cirurgia João Vitor P. Gama – MED 103 UV _______________________________________________________________________________________ ▪ Carcinoma de Merckel: raro, difícil diagnóstico, geralmente agressivo. Origem neuroendócrina. ▪ Sarcoma de Kaposi: associado aos portadores de HIV. Lesões agressivas que causam lesão tecidual. ▪ Doença de Paget extra-mamária ▪ Angiossarcoma: crescimento rápido, agressivo, sem responder a quimio/radioterapia ▪ Dermatofibrossarcoma: crescimento rápido, agressivo, sem responder a quimio/radioterapia ▪ Lipossarcoma: crescimento rápido, agressivo, sem responder a quimio/radioterapia FUTURO DA CIRURGIA CUTÂNEA ▪ Enxertos autólogos ▪ Expansão tecidual com balão ▪ Materiais sintéticos, cadavéricos, bovino e de peixe ▪ Curativo biológico com pele de tilápia ▪ Cultivar (meio de cultura) pele do paciente para depois fazer o enxerto
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