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Yasmin Barbosa, M7. Do Parto ao Puerpério Parto Aumento da excitabilidade uterina próximo ao termo. Parto, significa o nascimento do bebê. Ao final da gravidez, o útero fica progressivamente mais excitável, até que finalmente desenvolve contrações rítmicas tão fortes que o bebê é expelido. Não se sabe a causa exata do aumento da atividade uterina, mas pelo menos duas categorias principais de eventos levam às contrações intensas responsáveis pelo parto. 1) Mudanças hormonais progressivas que aumentam a excitabilidade da musculatura uterina; 2) Mudanças mecânicas progressivas. Fatores Hormonais que aumentam a contratilidade uterina - Maior proporção de estrogênios em relação à progesterona. A progesterona inibe a contratilidade uterina durante a gravidez, ajudando a evitar a expulsão do feto. Em contrapartida, os estrogênios têm tendência definida para aumentar o grau de contratilidade uterina, em parte porque aumentam o número de junções comunicantes entre as células do músculo liso uterino adjacentes, mas também devido a outros efeitos pouco entendidos ainda. Tanto a progesterona quanto o estrogênio são secretados em quantidade progressivamente maior durante parte da gravidez, mas a partir do sétimo mês a secreção de estrogênio continua a aumentar, enquanto a secreção de progesterona permanece constante ou até mesmo diminui um pouco. Por isso, já se postulou que a produção de progesterona-estrogênio aumenta o suficiente até o final da gravidez para ser pelo menos parcialmente responsável pelo aumento da contratilidade uterina. - Ocitocina causa contração do útero. A ocitocina é um hormônio secretado pela neuro- hipófise que especificamente causa contrações uterinas. Existem 04 razões para acreditarmos que esse hormônio é de extrema importância para aumentar a contratilidade uterina durante o trabalho de parto: 1) A musculatura uterina aumenta seus receptores de ocitocina e, portanto aumenta sua sensibilidade a determinada dose de ocitocina durante os últimos meses de gravidez. 2) A secreção de ocitocina pela neuro-hipófise é consideravelmente maior no momento do parto. 3) Muito embora muitos animais hipofisectomizados ainda consigam ter seus filhos a termo, o trabalho de parto é prolongado. 4) Experimentos em animais indicam que a irritação ou a dilatação do colo uterino, como ocorre durante o trabalho de parto, pode causar reflexo neurogênico através dos núcleos paraventricular e supra-óptico que faz com que a neuro-hipófise aumente sua secreção de ocitocina. - Efeitos de hormônios fetais sobre o útero. A hipófise do feto secreta grande quantidade de ocitocina,o que teria um grande papel na excitação uterina. Além disso, as glândulas adrenais do feto secretam grande quantidade de cortisol, outro possível estimulante uterino. E mais, as membranas fetais liberam prostaglandinas em concentrações elevadas, no momento do trabalho de parto, que também podem aumentar a intensidade das contrações uterinas. Fatores mecânicos que aumentam a contratilidade uterina - Distensão da musculatura uterina. A simples distensão de musculatura lisa geralmente aumenta sua contratilidade. Como também, a distensão intermitente como ocorre repetidamente no útero, por causa dos movimentos fetais, pode também provocar a contração dos músculos lisos. Observe particularmente os gêmeos nasce em média 19 dias antes de um só bebê, o que enfatiza a importância da distensão mecânica em provocar contrações uterinas. - Distensão ou irritação do colo uterino. Há razões para acreditarmos que a distensão ou a irritação do colo uterino seja particularmente importante para provocar contrações uterinas. Por exemplo, a obstetra muitas vezes induz o trabalho de parto rompendo as membranas, de maneira que a cabeça do bebê distenda o colo uterino mais efetivamente que o usual, ou irritando-o de outras formas. Não se sabe o mecanismo pelo qual a irritação cervical excita o corpo uterino. Já se sugeriu que a distensão ou irritação de terminais sensoriais no colo uterino provoque contrações uterinas reflexas; no entanto, as contrações poderiam ser resultados da pura e simples Yasmin Barbosa, M7. transmissão miogênica de sinais do colo ao corpo uterino. Início do Trabalho de Parto Um mecanismo de feedback positivo para o seu desencadeamento. Durante grande parte da gravidez, o útero sofre episódios periódicos de contrações rítmicas fracas e lentas denominadas contrações de Braxton Hicks essas contrações ficam progressivamente mais fortes ao final da gravidez; então mudam subitamente, em questão de horas, e ficam excepcionalmente fortes, começando a distender o colo uterino e posteriormente forçando o bebê através do canal de parto. Esse processo é chamado de trabalho de parto e as contrações fortes que resultam na parturição final são denominadas contrações do parto. Não sabemos o que muda subitamente a ritmicidade lenta e fraca do útero para as contrações fortes do trabalho de parto. Contudo, com base na experiência em sistemas de controle fisiológico, propôs-se a teoria do feedback positivo. Essa teoria sugere que a distensão do colo uterino pela cabeça do feto fica finalmente tão grande que provoca forte reflexo de aumento da contratilidade do corpo uterino. Esse processo empurra o bebê ainda mais para a frente, o que distende mais o colo e desencadeia mais feedback positivo ao corpo uterino. Portanto, as contrações do trabalho de parto obedecem dois princípios de feedback positivo: 1) Quando a contração uterina ultrapassa certo valor crítico, cada contração leva a contrações subsequentes que vão se tornando cada vez mais fortes, até atingir o efeito máximo. 2) A distensão do colo uterino durante o trabalho de parto faz co que todo o corpo do útero se contraia, e tal contração distende o colo ainda mais, devido à força da cabeça do bebê para baixo, assim como a distensão cervical também faz com que a neuro-hipófise secrete ocitocina, que é outro meio de aumentar a contratilidade uterina. Resumindo, podemos perceber que múltiplos fatores aumentam a contratilidade do útero ao final da gravidez. Por fim, a contração uterina fica a forte o bastante para irritar o útero especialmente no colo, o que aumenta a contratilidade uterina ainda mais devido o feedback positivo, resultando em segunda contração mais forte do que a primeira, uma terceira mais forte do que a segunda e assim por diante. Quando essas contrações se tornam fortes o bastante para causar esse tipo de feedback com cada contração sucessiva mais forte que a precedente, o processo chega ao fim – isso explica-se porque o feedback positivo desencadeia um ciclo vicioso quando o ganho do processo de feedback ultrapassa certo nível crítico. Contrações musculares abdominais durante o trabalho de parto Quando as contrações uterinas se tornam cada vez mais fortes durante o trabalho de parto, sinais de dor originam-se tanto do útero quanto do canal de parto.Esses sinais além de causarem sofrimento, provocam reflexos neurogênicos na medula espinhal para os músculos abdominais, causando contrações intensas desses músculos. As contrações abdominais acrescentam muito à força que causa a expulsão do bebê. Antes de estudarmos o parto em si, é essencial o conhecimento sobre as relações uterofetais, com o estudo da estática fetal, de acordo com a atitude, situação, apresentação e posição do feto. Lembre-se de que para um ciclo virtuoso prosseguir, cada novo ciclo devido ao processo de feedback positivo deve ser mais forte que o precedente. Se algum momento, depois de iniciado o trabalho de parto, as contrações não conseguirem reexcitar o útero suficientemente, o feedback positivo poderia entrar em declínioretrógrado, e as contrações do trabalho de parto desapareceriam. Por isso, deve atentar-se aos casos de trabalho de parto falsos, nos quais as contrações ficam cada vez mais fortes e depois diminuem e desparecem. Yasmin Barbosa, M7. Estática fetal A atitude fetal compreende a relação entre as diversas partes fetais. O feto se aloja no útero em atitude de flexão generalizada, com a cabeça e o mento aproximando-se do tórax anterior; isso é possível graças à flexibilidade da coluna vertebral e da articulação occipitovertebral. A situação fetal é a relação entre o maior eixo da cavidade uterina e o maior eixo fetal. Sendo assim, quando ambos se coincidem , a situação será longitudinal (99,5% das vezes); quando perpendiculares, a situação é transversa; por fim, se forem cruzados, recebe o nome de oblíqua ou inclinada. Já apresentação fetal compreende a região fetal que ocupa o estreito superior da bacia materna. Assim como a situação fetal pode mudar ao longo da gestação até o momento do parto, quando, na maior parte das vezes, está com o polo cefálico encaixado. Quando a situação é transversa, estaremos sempre diante de uma apresentação córmica. Na situação longitudinal, é possível a apresentação cefálica (polo cefálico ) e a pélvica (polo pélvico). O polo cefálico pode estar totalmente fletido, com o mento próximo à face anterior do tórax ou se afastar do tórax em alguns graus de extensão. Na primeira situação, de acordo com a imagem, há a apresentação cefálica fletida. Nos demais casos, temos as apresentações defletidas, que podem ser de 1ºgrau ou bregmática, 2ºgrau ou de fronte, e de 3ºgrau ou de face. O último estudo sobre a estática fetal inclui a posição, que é a relação do dorso fetal com o dorso materno podendo ser direita, esquerda, anterior, posterior ou transversa. A variedade de posição é definida entre os pontos de referência maternos (púbis, eminências ileopectíneas, extremidades do diâmetro transverso máximo, sinostose sacroilíaca e sacro) e fetais. Para determinar a variedade de posição é importante saber a linha de orientação fetal/estrutura que está em relação ao diâmetro materno. São elas: Lambda e sutura sagital: apresentação cefálica fletida. Sutura sagital e metópica: apresentação cefálica defletida bregmática (grau 1). Yasmin Barbosa, M7. Sutura metópica: apresentação cefálica defletida fronte (grau 2); Linha facial (nariz até o mento): apresentação cefálica defletida facial (grau 3); Sulco interglúteo: apresentação pélvica. A nomenclatura final da estática fetal leva em consideração a situação, a apresentação, a posição e variedade de posição. A primeira letra se refere ao ponto de referência ósseo da apresentação fetal; as demais correspondem ao ponto de referência do estreito superior da bacia materna. Exemplo: OEA apresentação do occipital, sendo que o ponto de referência (lambda) está à esquerda e anterior em relação ao estreito superior. Sendo assim, considerando a apresentação cefálica fletida, podemos ter as seguintes variedades de posição: OP: occipitopubiana OEA: occípito-esquerda-anterior OET: occípito-esquerda-transversa OEP: occípito-esquerda-posterior OS: occipitossacra ODP: occípito-direita-posterior ODT: occípito-direita-transversa ODA: occípito-direita-anterior. Durante o trabalho de parto , a identificação da variedade de posição é feita pelo toque vaginal, que também estabelece a altura da apresentação. No início do trabalho de parto (ou alguns dias antes) o feto se encaixa na bacia quando a maior circunferência da apresentação fetal chega na área do estreito superior. A maior circunferência nas apresentações é o diâmetro biparietal; já nas apresentações pélvicas, é a distância britrocanteriana. A determinação da altura é feita, na maior parte das vezes, pelos critérios de DeLee. O plano 0 é o diâmetro da biespinha ciática, que é o plano de referência para os demais. O plano -1 consiste na apresentação 1 cm acima do plano 0; 2cm acima compreende o plano -2, e assim sucessivamente até o plano -5. Já o plano 1 é alcançado quando a apresentação ultrapassar 1 cm do plano 0; 2cm abaixo, encontra-se o plano 2, e assim sucessivamente até chegar o plano 5. Mecanismo do Parto Sob o ponto de vista do mecanismo do parto, o feto é o móvel ou objeto, que percorre o trajeto (bacia), impulsionado por um motor (contração uterina). Na sua atitude habitual de flexão da cabeça sobre o tronco e de entrecruzamento dos membros, que P=ant . S= post. E D OP OEA OTE OEP ODA OTD ODP OP Yasmin Barbosa, M7. também se dobram, o móvel assemelha-se a um ovoide – o ovoide fetal. Esse, por sua vez, é composto por dois segmentos semidependentes: o ovoide cefálico (cabeça) e o córmico (tronco e membros). Embora o ovoide córmico seja maior, seus diâmetros são facilmente redutíveis, tornando o polo cefálico mais importante durante a parturição. O trajeto, ou canal da parturição, estende-se do útero à fenda vulvar, constituído por formações de diversas naturezas,partes moles do canal do parto (segmento inferior, cérvice, vagina, região vulvoperineal), ou canal de parturição é sustentado por cintura óssea, também chamada de pequena pelve, pequena bacia ou escavação No seu transcurso através do canal parturitivo, impulsionado pela contratilidade uterina e pelos músculos da parede abdominal, o feto é compelido a executar certo número de movimentos, denominados mecanismo do parto. São movimentos puramente passivos, e procuram adaptar o feto às exiguidades e às diferenças de forma do canal. Com esses movimentos, os diâmetros fetais se reduzem e se acomodam aos pélvicos. Sendo assim, podemos dividi-lo em 3 partes: insinuação, descida e desprendimento. A insinuação indica a passagem do maior diâmetro do polo cefálico pelo estreito superior da bacia materna (plano 0 de DeLee). Nas primigestas, a insinuação do feto geralmente se dá cerca de 15 dias antes do parto; já nas multíparas, isso pode ocorrer a qualquer momento. Nesse período, ocorre a redução dos diâmetros fetais, o que no caso da apresentação cefálica, consiste na flexão (mais frequente) ou deflexão da cabeça. Há, ainda, movimentos de flexão lateral, já que um dos ossos parietais atravessará o estreito superior antes do outro; essa situação é denominada de assinclitismo. A descida é a passagem do polo fetal do estreito superior até o inferior, o que ocorre com movimentos rotacionais. Este tempo do mecanismo do parto pode ser dividido didaticamente em tempos acessórios : Rotação interna da cabeça, que tem o objetivo de coincidir o maior diâmetro do polo cefálico com o maior diâmetro da bacia, ou seja, fazer com que o polo cefálico se alinhe com o púbis. O grau da rotação interna varia de acordo com a variedade de posição da cabeça fetal. Ou seja, nas variedades anteriores, há rotação de 45°; nas transversais, de 90°; e nas posteriores, de 135°. Yasmin Barbosa, M7. Insinuação das espáduas no estreito superior da bacia, que ocorre simultaneamente à progressão no canal de parto. O diâmetro biacromial mede 12 cm, o que seria incompatível com os diâmetros do estreito superior; porém, no período da descida,os ombros se aconchegam, moldando-se conforme do diâmetro da bacia. Por fim, o último tempo do mecanismo de parto, o desprendimento, consiste na saída do polo cefálico do canal de parto e também pode ser dividido didaticamente em tempos acessórios. Rotação externa da cabeça, também chamada de restituição, que consiste em novo movimento logo após o desprendimento total da cabeça fetal, voltando para sua posição original na bacia. O diâmetro biacromial permanece em posição oblíqua ou transversa desde sua passagem pelo estreito superior; chegar no assoalho pélvico, há rotação das espáduas para que o diâmetro biacromial fique na direção anteroposterior da saída do canal. Assim, o ombro anterior fica sobre a arcada púbica e o posterior fica em contato com o cóccix materno. Por fim, há o desprendimento das espáduas, no qual, primeiramente, a espádua anterior aparece no orifício vulvar, seguida pela liberação da espádua posterior. Com a saída das espáduas, há liberação de todo o tronco fetal. Trabalho de parto O parto pode ser estudado analisando-se suas três fases principais: - Dilatação; -Expulsão; -Secundamento; - Período de Greenberg* Além do período premonitório (pré-parto). O período premonitório (não é fase clínica ainda) é caracterizado pela descida do fundo uterino (cerca de 2 a 4 cm), possibilitando maior amplitude de ventilação pulmonar. A insinuação do feto no estreito superior da bacia causa dores lombares com o estiramento das articulações da cintura pélvica. Há maior saída de muco via vaginal, que pode estar associada a pequena quantidade de sangue, além das percepções maternas das metrossístoles intermitentes. As metrossístoles podem ser dolorosas e vão aos poucos diminuindo o tempo de intervalo, assim como aumentando sua intensidade; são chamadas de dores preparantes. Neste período, há o amolecimento e apagamento do colo, que podem ser verificados pelo toque vaginal. Essa fase pode ser chamada de fase latente do parto, em que as contrações uterinas não determinam, ainda, a dilatação progressiva do colo. O diagnóstico do trabalho de parto é muito importante e nem sempre fácil de ser estabelecido. Deve ser considerado como um conjunto de alterações e não por elementos isolados. Sendo assim, as alterações significativas que devemos considerar são a presença de contrações dolorosas e rítmicas (no mínimo 2 em 10 minutos, com duração de 50-60 segundos cada); apagamento e dilatação do colo (2cm nas primíparas e 3cm nas multíparas); formação da bolsa-das- águas; e perda do tampão mucoso. Yasmin Barbosa, M7. Fases Clínicas e Assistência ao Parto O primeiro período do parto é a fase de dilatação, que se inicia com as alterações cervicais (dilatação e apagamento) e termina com a completa dilatação cervical (10cm). Sua duração é de cerca de 12 horas nas primíparas e 7 horas nas multíparas. O apagamento e dilatação do colo ocorrem em momentos diferentes nas primíparas, enquanto nas multíparas ocorrem simultaneamente. A bolsa-das- águas consiste no aparecimento das membranas ovulares (âmnio e cório) através do colo dilatado. No período de dilatação, a equipe de saúde deve ter alguns cuidados iniciais, como garantir a presença de um acompanhante durante todo o parto, além de realizar os toques vaginais seguintes para verificação das alterações cervicais. No toque vaginal, deve-se explorar o colo (apagamento, dilatação e consistência), além da bolsa-das-águas, a apresentação fetal e a altura da apresentação. Atualmente, tem sido empregada a ideia de fazer o toque vaginal o mínimo de vezes possível, no geral, a cada 2 ou até 4 horas. Durante todo o trabalho de parto, a equipe de saúde deve se atentar também a outros cuidados, como o acompanhamento da vitalidade fetal, através da ausculta dos batimentos cardiofetais, que, idealmente, deve ser feita a cada 30 minutos; a medição dos sinais vitais; alimentação adequada da parturiente; e estímulo à deambulação. A equipe deve procurar medidas para alívio das dores, sejam elas medicamentosas ou não, como uma posição mais confortável, banhos quentes e massagens, além do apoio psicológico. A analgesia via bloqueio raquimedular/peridural, no geral, é feita com 4-5 cm de dilatação, porém não é um procedimento de rotina, já que pode trazer complicações como vômitos, hipotensão, retenção urinária e período expulsivo prolongado, com maior uso do fórcipes. A rotura das membranas ovulares ocorre, na maioria das vezes, ao final do período de dilatação ou início da expulsão, com saída parcial do conteúdo líquido. A rotura artificial das membranas (amniotomia) não deve ser uma prática generalizada e sim restrita à situações em que é necessária pra a evolução do parto. O segundo período é a fase de expulsão, que se inicia com a dilatação completa do colo uterino e se prolonga até a saída do feto, tendo duração variável de 20 a 50 minutos. Corresponde ao período de maior intensidade e frequência das contrações uterinas, até consistirem em cerca de 5 contrações em cada 10 minutos. Nesse momento, a parturiente passa a sentir os puxos, comparável à “vontade de espremer”, como na evacuação ou micção dificultadas. No decorrer da descida do feto pelo canal de parto, percebe-se que a vulva se entreabre e se dilata, mostrando a apresentação fetal. Nesse período, a equipe de saúde deve orientar a parturiente sobre como agir diante das contrações uterinas. Dessa forma, orientar que deve fazer força apenas durante as contrações efetivas e descansar nos intervalos das mesmas. Deve-se realizar a antissepsia da região perineal e a colocação dos campos estéreis para isolar as partes maternas, exceto a vulva. Pode ser feita a analgesia locorregional, com bloqueio troncular do nervo pudendo interno, na extremidade da espinha ciática. Pode ser feita, se necessária, a episiotomia, com o objetivo de impedir ou diminuir o trauma dos tecidos do canal de parto e favorecer a descida e desprendimento do feto. A episiotomia pode ser mediana (perineotomia) ou mediolateral, podendo ser feita com tesoura ou bisturi. A O acompanhamento da dilatação cervical, assim como da altura da apresentação fetal consiste em um dos elementos mais importantes para a evolução do parto. Yasmin Barbosa, M7. mediolateral inclui lesão de mais tecido, tem maior sangramento, porém possui menor chance de rotura esfincteriana; já a mediana, não lesa músculos e sangra menos, ao tempo em que pode se estender até o esfíncter anal. As lacerações perineais podem ser classificadas em: 1º grau - compromete a pele e a mucosa 2º grau - lesão de pele, mucosa e músculos transverso superficial do períneo e bulbocavernoso 3º grau - atinge o esfíncter externo do ânus 4º grau - atinge o esfíncter interno do ânus e a mucosa retal. Algumas das indicações da episiotomia são: previsão de lacerão perineal grave (3º ou 4º grau); sofrimento fetal; distocia de ombros; uso de fórceps ou extrator à vácuo; fetos macrossômicos; e período expulsivo prolongado Outra forma de proteção do períneo é o apoio anterior e posterior, utilizando compressas, diante da saída do polo cefálico (Manobra de Ritgen); isso é feito para evitar a movimentação brusca da cabeça do feto e consequentemente, as lacerações. Após o desprendimento do polo cefálico, a equipe deve verificar a existência de circulares do cordão umbilical ao redor do pescoço do feto; se houver presença, estas devem ser desfeitas ou seccionadas. O profissional responsável pelo parto deve apoiar as mãos na apresentação e tracioná- la levementepara baixo, com o objetivo de liberar o ombro anterior. Em seguida, tracionar para cima, liberando o ombro posterior e consequentemente, todo o concepto. No momento do desprendimento das escápulas, a equipe de apoio deve realizar 10UI de ocitocina, via intramuscular (IM), para reduzir as perdas sanguíneas e acelerar a saída da placenta. O terceiro período é a fase de secundamento ou dequitação, que consiste no descolamento, descida e expulsão da placenta e deve ter duração máxima de 30 minutos. O descolamento da placenta pode ocorrer por dois mecanismos: Baudelocque-Schultze: é o mais frequente (75%) e ocorre quando placenta, inserida na parte superior do útero, se inverte e se desprende em forma de guarda-chuva. Nesses casos, há formação de hematoma retroplacentário, ou seja, há saída de sangue após a liberação da placenta. Baudelocque-Duncan: ocorre em 25% dos casos, quando a placenta está localizada na parede lateral do útero e seu desprendimento Yasmin Barbosa, M7. começa pela borda inferior. O sangue se exterioriza antes da saída total da placenta. A expulsão da placenta é realizada pelas contrações uterinas e pela ação gravitacional. Nesse momento, o profissional deve segurar o cordão umbilical e realizar tração controlada do cordão para estimular a saída placentária total. A placenta deve ser inspecionada para verificar sua integridade, bem como a integridade dos anexos através da análise das faces materna e fetal, que devem estar íntegras. Após a dequitação total, deve-se realizar a revisão do canal de parto, incluindo colo e vagina, à procura de possíveis lacerações e analisando se há presença de hemorragias significantes. Se houver a presença de lacerações ou episiotomia, deve -se realizar a rafia das mesmas com pontos simples realizados por planos anatômicos Alguns autores descrevem, ainda, um quarto período clínico para o parto, chamado de período de Greenberg, que compreende a primeira hora após a saída da placenta. Essa fase é considerada como parte do parto pelo grande risco de sangramento nesta primeira hora, principalmente diante de uma má assistência. Após a expulsão da placenta, o útero se contrai de forma intermitente, constituindo uma laqueadura viva dos vasos uterino abertos. A equipe deve estar atenta para a altura do fundo uterino e sua consistência contraída (globo de segurança de Pinard). Indução do Parto A indução do parto é um procedimento comum utilizado para alcançar o parto vaginal antes do seu início espontâneo. -Indicações: Indução indicada não médica. O parto não deve ser induzido eletivamente antes de 39 semanas de gestação, no chamado período termo precoce (37 +0 -38 +6 semanas). Inúmeras são as morbidades neonatais sinaladas; Indução indicada médica. Diversas são as condições médicas que indicam a interrupção da gravidez em benefício fetal ou materno, nos períodos pré-termo tardio (34 +0 -36 +6 semanas) e termo precoce (37 +0 -38 +6 semanas). Métodos de indução Os principais métodos de indução do parto podem ser divididos em dois grupos: Indutores da contração uterina: - Ocitocina; -Amniotomia Promotores do amadurecimento cervical: -Descolamento das membranas; -Sonda de Foley, com ou sem infusão salina extra-amniótica (ISEA) ; -Análogo da PGE1 : misoprostol; Yasmin Barbosa, M7. -PGE2 : dinoprostano (não existente no Brasil). Índice de Bishop. Se a indução estiver indicada e o estado do colo for desfavorável (imaturo), agentes devem ser utilizados para o seu amadurecimento. As condições do colo podem ser determinadas pelo índice de Bishop . O colo é considerado desfavorável se o índice for ≤ 6; se o índice totalizar > 8 a probabilidade do parto vaginal após a indução é similar à do parto espontâneo. Um inconveniente do índice de Bishop é o de que ele foi construído em multíparas. Descolamento das membranas. O descolamento das membranas é reservado para reduzir a necessidade formal da indução do parto (World Health Organization [WHO, 2011]). Como após o descolamento das membranas o tempo para o início do parto pode ser longo, ele está recomendado quando não há urgência para a indução. Especialmente indicado na gravidez com ≥ 41 semanas, com o colo favorável, para evitar a pósmaturidade (Society of Obstetricians and Gynaecologists of Canada [SOGC, 2013]). Por certo, deve haver certa dilatação cervical para a introdução do dedo. Misoprostol. O misoprostol é o fármaco habitualmente utilizado para o amadurecimento do colo. O esquema preferente é o da dose de 25 μg vaginal, a cada 3 a 6 h, até o amadurecimento cervical ou a indução do parto (ACOG, 2009). A WHO (2011) recomenda misoprostol oral, 25 μg de 2/2 h, como agente de escolha, e como alternativa o vaginal, 25 μg de 6/6 h. Ocitocina. Em continuação ao misoprostol utiliza- se a ocitocina sob bomba de infusão venosa, na dose de 1 a 8 mU/min, respeitando-se o intervalo mínimo de 4 h entre o seu início e a última administração do misoprostol. Se ao momento da indução o colo já estiver maduro, a ocitocina será a única medicação utilizada. Contratilidade uterina. O parto induzido deve ser sempre monitorado (ACOG, 2009). O ideal é obter-se até 5 contrações/10 min. É considerada taquissistolia a ocorrência de > 5 contrações/10 min, que pode estar associada a alterações desfavoráveis da frequência cardíaca fetal (FCF): ausência de oscilação, dips tardios ou umbilicais recorrentes, bradicardia (National Institute of Child Health and Human Development [NICHD, 2008]). Nessas condições, a ocitocina deve ser reduzida ou descontinuada e se não houver resposta às medidas corretivas de rotina (mudança do decúbito, administração de oxigênio e de cristaloides intravenosos), a cesárea estará indicada. A terbutalina subcutânea também pode ser tentada. Amniotomia. Pode ser utilizada para induzir o parto especialmente quando o colo é favorável. Empregada isoladamente é o pior dos procedimentos pela possibilidade de longo intervalo entre a ruptura e o início das contrações (ACOG, 2009). Sua principal indicação é no DPP com o feto morto. Sonda de Foley. Método de escolha para o amadurecimento cervical e a indução do parto tão eficaz quanto os procedimentos farmacológicos, com a vantagem de provocar menos anormalidades na contratilidade uterina (Sciscione, 2014). Indução com o feto morto. Até 28 semanas o misoprostol vaginal pode ser utilizado na dose de 200 mg, de 12/12 h durante 48 h, mesmo em mulheres com cesárea prévia. A SOGC (2013) proíbe o uso de prostaglandínicos em qualquer circunstância de cesárea prévia. Após 28 semanas, em mulheres com cesárea anterior, a melhor opção é a sonda de Foley (ACOG, 2009) Yasmin Barbosa, M7. Complicações Principalmente parto cesáreo, corioamnionite e atonia uterina. Miller et al. (2015), em nulíparas com o colo desfavorável, índice de Bishop ≤ 5, observaram que a indução eletiva do parto após 39 +0 semanas não afetou significativamente a taxa de cesarianas, quando comparada à de grávidas que tiveram o tratamento expectante. Puerpério O puerpério, também denominado pós-parto, é o período que sucede o parto e, sob o ponto de vista fisiológico, compreende os processos evolutivos e de recuperação do organismo materno após a gestação. Embora o caráter gradual e progressivo assumido por essas manifestações torne o puerpério um período de demarcação temporal imprecisa, é aceitável dividi-lo em: Pós-parto imediato, do 1º o ao 10º o dia;Pós-parto tardio, do 10º o ao 45º o dia; Pós-parto remoto, além do 45º o dia. Muitos estudos assumem como pós-parto os 12 meses que sucedem o parto. Além da relevância desses mecanismos fisiológicos para o restabelecimento do estado pré-gravídico da mulher, o puerpério é também caracterizado por marcantes mudanças em diversos outros aspectos da vida feminina, sejam eles conjugais, familiares, sociais ou profissionais. Nesse sentido, há de se compreender a importância de uma assistência materno-infantil multidisciplinar e integrada, projetada no sentido de favorecer uma experiência materna efetivamente saudável e de bem-estar. PS.: Zugaib et al classificam o puerpério em: puerpério imediato, que dura até a segunda hora do pós-parto; puerpério mediato, que dura desde a terceira hora até o fim do décimo dia pós-parto; e o puerpério tardio, que vai do 11º dia até o retorno das menstruações, ou 6-8 semanas nas lactantes. Fisiologia do puerpério INVOLUÇÃO UTERINA: Logo após o parto, o útero se encontra um pouco acima da cicatriz umbilical, a partir do qual inicia um processo de involução. O útero se contrai, comprimindo os vasos sanguíneos e causando uma aparência isquêmica. A contração também contrai os vasos intramiometriais, reduzindo o fluxo sanguíneo e prevenindo a hemorragia pós-parto. Além disso, os vasos calibrosos são obliterados (trombose), constituindo outro mecanismo hemostático para prevenir perda sanguínea. Após 24h, o fundo uterino atinge a cicatriz umbilical. Após uma semana, atinge a região entre a cicatriz umbilical e a sínfise púbica. Na segunda semana, deixa de ser palpável no abdome e, por fim, atinge as dimensões pré-gravídicas em 6-8 semanas após o parto. - O colo uterino, ao fim da dequitação, se encontra amolecido, com lacerações no orifício externo, que continua dilatado. A dilatação do colo regride de forma lenta, ficando entre 2-3 cm nos primeiros dias após o parto, e menos de 1cm com uma semana de puerpério. É comum haver cólicas abdominais nos primeiros 3 dias, e estas são mais fortes em multíparas e em lactantes, pois a estimulação do mamilo estimula a liberação de ocitocina pelo eixo neuro-hipofisário. Em relação às tubas uterinas, seu epitélio durante a gestação é predominantemnete composto de células não ciliadas, em decorrência do desequilíbrio entre os níveis de progesterona e estrogênio. Com a diminuição destes hormônios após o parto, há extrusão nuclear das células não ciliadas e diminuição Yasmin Barbosa, M7. do tamanho das células ciliadas e não-ciliadas. Também, há uma salpingite aguda em cerca de 38% dos casos, mas sem evidência de infecção. Além disso, após a dequitação, persiste a porção basal da decídua. Esta se divide em duas novas camadas: a superficial, que sofre descamação; e a profunda, que regenera o novo endométrio a partir das glândulas e do estroma da decídua basal, recobrindo a cavidade endometrial dentro de 16 dias após o parto. Lóquios Todo esse processo de involução uterina e regeneração endometrial gera a eliminação vaginal dos lóquios, líquido formado por exsudatos e transudatos, compostos de eritrócitos, leucócitos, porções da decídua, células epiteliais e bactérias. Nos primeiros dias, o maior número de eritrócitos conferem cor vermelha aos lóquios (lochia rubra). Após 3 a 4 dias, os lóquios adquirem aspecto serossanguíneo, mais acastanhados, devido à hemoglobina semidegradada. Após o 10º dia, pela incorporação de leucócitos e diminuição do volume de loquiação, os lóquios adquirem cor amarelada (lochia flava) e, por fim, esbranquiçada (lochia alba). À ultrassonografia, a cavidade uterina pode demorar até 5 semanas para retornar ao estado pré-gravídico VAGINA E VULVA A vagina está alargada e lisa logo após o parto. Gradualmente, suas dimensões se reduzem, mas não voltam ao estado pré-gravídico. A rugosidade vaginal reaparece na terceira semana, por redução do edema e da vascularização. Nódulos de mucosa fibrosados formam as carúnculas himenais devido ao rompimento do hímen no momento do parto. Por fim, a distensão fascial e possíveis lacerações causam afrouxamento da musculatura pélvica, que pode não regredir ao estado original. Em decorrência disso, o parto predispõe à incontinência urinária e fecal. Histologicamente, há progressiva atrofia do epitélio escamoso vaginal nos primeiros dez dias. No 15º dia, a descamação alcança seu pico e a regeneração se inicia. A partir do 25º dia, há alterações que geram epitélio eutrófico em mulheres que não amamentam, enquanto as que amamentam desenvolvem um epitélio vaginal subatrófico. PAREDE ABDOMINAL o puerpério, a musculatura da parede abdominal está afrouxada. Várias semanas depois, seu tônus normal é readquirido na maioria dos casos. Em algumas mulheres, no entanto, persiste a diástese do musculo reto abdominal. A pele pode ainda continuar frouxa, se houver ruptura extensa de fibras elásticas. SISTEMA ENDÓCRINO Ao fim da gravidez, os níveis de estrogênio e progesterona estão bastante elevados, assim como os de prolactina (PRL). Após a saída da placenta, diminuem os níveis de esteróides placentários e, a prolactina, apesar de cair um pouco, continua alta. As gonadotrofinas e esteroides sexuais atingem seus menores valores 2 a 3 semanas após o parto. A gonadotrofina coriônica (hCG) atinge o valor normal de 2 a 4 semanas após o parto. Na ausência da lactação, nas primeiras semanas, tanto o hormônio luteinizante (LH) quando o folículo- estimulante (FSH) se mantêm baixos, para então elevarem-se lentamente. No início do puerpério, o estrogênio se mantém baixo e a progesterona não é detectável. A recuperação das gonadotrofinas até os Yasmin Barbosa, M7. níveis pré-gravídicos depende da lactação. Mulheres lactantes tem a fertilidade inibida pela ação direta da sucção do mamilo sobre o hipotálamo por via neuro- endócrina, que eleva a PRL e inibe o LH e FSH. O PRL, por sua vez, inibe a liberação pulsátil do hormônio liberador de gonadotrofina (GnRH) pelo hipotálamo. O retorno da menstruação para as não-lactantes ocorre em 7 a 9 semanas, com média de 45 dias para nova ovulação. PERDA PONDERAL Após a gravidez, a mulher perde quase a totalidade do peso adquirido durante a gestação. Cerca de metade do peso ponderal adquirido é perdida durante as primeiras 6 semanas após o parto. O restante ocorre entre as 6 semanas e os 6 meses depois, sendo maior nos 3 primeiros meses. No entanto, cerca de 28% das mulheres não volta ao peso pré-gravidez, o que pode ser atribuído a diversos fatores, sendo alguns dos fatores de risco: ganho excessivo de peso durante a gestação, raça negra, obesidade, e interrupção do consumo de cigarros. Outros fatores que podem influenciar no acúmulo de peso após o parto são idade materna (adolescentes têm maior risco), paridade, etnia, estado civil, intervalo entre gestações e tempo de retorno à atividade profissional.. ALTERAÇÕES ÓSSEAS Há diminuição generalizada da densidade óssea em gestantes, voltando ao estado pré-gravidez dentro de 12 a 18 meses após o parto. Não é recomendada qualquer intervenção, sendo essas alterações auto- limitadas e reversíveis. ALTERAÇÕES HEMATOLÓGICAS Ao longo do parto e durante o puerpério imediato, é comum haver leucocitose, chegando a níveis de 30.000/ µl. A leucocitose é caracterizada pelo predomínio de granulócitos, linfopenia relativa e eosinofilia absoluta. Em geral, esses parâmetros se normalizam 5 a 6 dias após o parto. Quanto à série vermelha, os níveis de hematócrito e hemoglobina costumam flutuar moderadamente nos primeiros dias pós-parto. Quedas acentuadas nos seus valores podem traduzir uma perdasanguínea excessiva e, em aproximadamente 6 semanas após o parto, se encontra em níveis pré-gravídicos Modificações importantes ocorrem nos fatores de coagulação. Após a dequitação, há geralmente queda das plaquetas, com elevação secundária nos primeiros dias do pós-parto juntamente com a adesividade plaquetária. O fibrinogênio plasmático diminui em concentração no momento do parto, atingindo o seu menor nível no primeiro dia do puerpério e voltando a se elevar em seguida, igualando-se aos níveis pré- gravídicos entre o 3º e o 5º dia. SISTEMA CARDIOVASCULAR Na gestação, há aumento do volume de líquido extracelular, e a diurese no pós-parto corresponde à reversão desse processo. Pode haver, no entanto, pouca diurese no pós-parto devido à desidratação ocasionada pelo trabalho de parto. Nesse caso, a diurese que reverte a hipervolemia se dá entre o 2º e o 6º dias pós-parto Nesse sentido, alterações cardíacas e vasculares dependem do estado volêmico da paciente no pós parto. A frequência e o débito cardíacos se mantém elevados por 24h a 48h após o parto, voltando ao estado pré- -gravídico aproximadamente no 10º dia pós-parto. A resistência vascular, por sua vez, permanece diminuída por 48h e, a partir daí, retorna gradualmente aos níveis normais. SISTEMA URINÁRIO No puerpério imediato, a mucosa vesical está edemaciada, devido ao parto e ao trabalho de parto. Há também uma distensão vesical, o que predispõe à retenção urinária e esvaziamento incompleto ao urinar, causando urina residual. O uso de analgésicos, anestesia epidural e bloqueios espinhais contribuem para esse quadro. Até a sexta semana, na maioria das puérperas, o exame ultrassonográfico evidencia dilatação do sistema pielcalicial. Todos esses fatores citados são fator de risco para infecção do trato urinário. A retenção urinária pode ser definida como ausência de micção por 6h após o parto ou após a retirada da sonda vesical após cesariana. Está presente em 0,5% das gestantes no pós-parto imediato, resolvendo-se na primeira semana na maioria dos casos e pode decorrer de lesão no nervo pudendo. Seus fatores de risco incluem: primiparidade, parto instrumentado, primeiro e segundo períodos de parto prolongados, cesárea e anestesia epidural. PELE As estrias nas mamas e no abdome perdem a cor vermelho-arroxeada e se tornam esbranquiçadas. Essas estrias são irreversíveis. Já o cloasma gravídico, caracterizado por hiperpigmentação da face, regridem geralmente durante o período puerperal. Há também uma queda de cabelo comum entre 1 e 5 meses após o parto – o que leva à crença equivocada de que amamentar causa queda de cabelo, por coincidir com o momento da amamentação – essa queda de cabelo é autolimitada, e o cabelo retorna aos padrões normais de crescimentode 6 a 15 meses após o parto. Assitência pós-natal Cuidado hospitalar Yasmin Barbosa, M7. Na primeira hora após o parto, deve-se monitorar a puérpera cuidadosamente. Isso servirá para diagnosticar possíveis casos de hemorragia – decorrentes ou não de hipotonia uterina. Assim, a pressão arterial deve ser aferida e a frequência cardíaca monitorada a cada 15 mintuos, e deve-se assegurar que a hemorragia uterina esteja dentro da anormalidade e o útero esteja firmemente contraído. O fundo uterino deve ser palpado e, se houver hipotonia, deve ser realizada massagem uterina através da parede abdominal até que ele se contraia. Se necessário, pode ser administrada uterotoninas. O útero puerperal é firme, móvel e indolor. Uma bexiga cheia pode ocasionar a “subida” do útero no exame físico. Nas primeiras 12h, a altura do útero é de 12cm. Do 2º dia em diante, desce em média 1cm por dia Caso o parto tenha ocorrido com anestesia, deve haver acompanhamento próximo com equipe especializada. Se não houve complicações maternas ou neonatais, o contato mãe-filho (pele a pele) deve ser logo estimulado ainda na sala de parto. A amamentação deve ser encorajada nesse momento. Quanto à dieta, mulheres que tiveram parto normal podem alimentar-se normalmente após 2h do parto e sem complicações, sem restrição alimentar. Na amamentação, a quantidade calórica deve ser aumentada. Caso a mãe não amamente, seu aporte calórico deve ser igual ao do estado pré- -gravídico. Em alguns serviços, há a prática de manter suplementação de ferro por no mínimo 3 meses depois do parto e avaliar o hematócrito na primeira consulta após o puerpério. Além disso, a deambulação e o caminhar precoce reduzem a incidência de retenção urinária, constipação e fenômenos tromboembólicos. Após o parto normal, a paciente poderá deambular assim que se sinta preparada para tal. A primeira deambulação, no entanto, deve ser acompanhada por um profissional, pelo risco de síncope. Deve-se também orientar a mulher a realizar a higienização vulvar da anterior para posterior (sentido vagina -> ânus) e o uso de gelo no primeiro dia pode reduzir o desconforto por eventual laceração ou episiotomia. O uso de antissépticos locais em aerossol, bem como anti-inflamatórios (via oral ou retal), pode ser feito nos primeiros dias após o parto. Se houver dor excessiva na região, um exame físico cuidadoso é imperativo, para descartar hematomas ou infecção. Depois das primeiras 24h de puerpério, a gestante pode realizar banho de assento com água morna para aliviar a dor local. A incisão da episiotomia está totalmente cicatrizada e assintomática por volta da 3ª semana. Considerando a função vesical, vimos que a retenção urinária afeta até 5% dos partos vaginais. Dentre os fatores de risco, tem-se: primiparidade, doses elevadas de ocitocina, lacerações, cateterismo vesical durante trabalho de parto, parto instrumental, trabalho de parto com duração maior que 10h e analgesia peridural ou raquidiana. Mulheres com qualquer um desses fatores de risco devem ser monitoradas quanto ao débito urinário. Caso a paciente não urine nas primeiras 4h, não é provável que consiga espontâneamente. Realiza-se, então, um exame físico para identificar hematomas no períneo ou trato genital. Se a bexiga estiver distentida, devemos manter o cateter urinário até que as causas da distensão sejam resolvidas. Se a causa não é detectável, é orientado manter o cateter nas primeiras 24h, para dar tempo para a recuperação vesical. Quando o cateter for retirado, é necessário demonstrar que a paciente já consegue urinar espontaneamente. Caso a paciente não consiga urinar em até 4h, passa- se novamente o cateter urinário: se o volume de urina que vier for maior que 200mL, significa que há retenção urinária e o cateter deve ser mantido por mais um dia. Se menos de 200mL, o cateter pode ser retirado e, a paciente, reavaliada novamente horas depois. Por fim, muitas dessas pacientes desenvolvem bacteriúria, tornando racional tratá-las com dose única ou ciclo curto de antibioticoterapia após retirada do cateter. Quanto à temperatura, exceto nas primeiras 24h – quando pode haver alguma febre – o normal é ausência de febre (<38º). Existe um fenômero chamado “febre do leite”, que ocasionalmente coincide com o momento da apojadura, que é classificada como fisiológica por uns, embora alguns defendam que se trate da ascensão de germes vaginais à cavidade uterina. O cuidado com as mamas é outro ponto importante a ser abordado durante o cuidado hospitalar. Recomenda-se uso de porta-seios apropriado, prevenindo congestão sanguínea e galactoestase. Yasmin Barbosa, M7. Por fim, a paciente precisa passar por avaliação psicológica/psiquiátrica. O blues puerpeal, caracterizado por algum grau de humor deprimido nos primeiros dias após o parto, é muito comum entre puérperas nos primeiros dias. Instruções, detecção e tranquilizaçãoconstitui um tratamento eficaz para a maioria delas, sendo a condição autolimitada e de curta duração (2 a 3 dias), podendo durar até 10 dias. Se o humor deprimido existir, deve -se avaliá-la para depressão maior, que pode ocorrer em quase 20% das puérperas. Nas mulheres com transtorno psiquiátrico pré-existente, deve-se observá-la de perto pois a taxa de reinternação psiquiátrica aumenta significantemente. Ideias suicidas ou infanticidas devem ser levadas a sério. Como a depressão puerperal grave tem risco de recidiva de 25% em gestações subsequentes, recomenda-se fazer profilaxia farmacológica ao final da gravidez ou logo após o parto. Cuidados domiciliares Recomenda-se o acompanhamento da evolução do pós-parto, com consulta de 7 a 10 dias pós-natais e 6 semanas puerperais, quando o pós- -parto tardio se encerra. O risco relativo de doença tromboembólica (DTV) no puerpério é aumentado. Entre a 1ª e 3ª semana em 14 vezes a 78 vezes, entre a 4ª e 6ª semana de 5 a 7 vezes e, após 6 semanas, o risco é desconhecido. A primeira consulta, de 7 a 10 dias após o parto, deve ser usada para assegurar a saúde da mulher e do recém nascido, pois boa parte das condições que causam mobimortalidade materna e neonatal ocorre nessa semana. Nessa consulta, avalia-se o estado de saúde da mãe e do bebê, orienta-se e apoia-se a amamentação, orienta- -se sobre os cuidados com o recém-nascido, avaliar a interação mãe-filho, identificar situações de risco ou intercorrências e conduzi-las, além de orientar a anticoncepção e planejamento familiar, como veremos a seguir. Na segunda consulta, 6 semanas após o parto, deve- se, além de repetir o que foi feito na primeira consulta, avaliar o retorno do fluxo menstrual e da atividade sexual. Anticoncepção pós-parto Anticoncepcionais combinados aumentam o risco de doença tromboembólica e devem ser evitados nesse período, além de interferirem na amamentação. No pós-parto, tanto em lactantes como não-lactantes, é recomendado o uso de anticoncepcionais apenas de progesterona, que não aumentam o risco de doença tromboembólica venosa (DTV). Os DIUs de cobre e hormonal, exceto nos casos de infecção puerperal, são opções a se considerar.
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