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Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2022.2 Página | 1 Ginecologia & Obstetrícia SP 2.4: CHEGOU A HORA! 1) DESCREVER AS FASES CLÍNICAS DO TRABALHO DE PARTO TRANSVAGINAL; GUYTON AUMENTO DA EXCITABILIDADE UTERINA PRÓXIMO AO TERMO Parto significa o nascimento do bebê. Ao final da gravidez, o útero fica progressivamente mais excitável, até que, por fim, desenvolve contrações rítmicas tão fortes que o bebê é expelido. Não se sabe a causa exata do aumento da atividade uterina, mas pelo menos duas categorias principais de eventos levam às contrações intensas, responsáveis pelo parto: (1) mudanças hormonais progressivas que aumentam a excitabilidade da musculatura uterina; e (2) mudanças mecânicas progressivas. → Os fatores hormonais que aumentam a contratilidade uterina Maior Proporção de Estrogênios em Relação à Progesterona. A progesterona inibe a contratilidade uterina durante a gravidez, ajudando, assim, a evitar a expulsão do feto. Por sua vez, os estrogênios têm tendência definida para aumentar o grau de contratilidade uterina, em parte porque elevam o número de junções comunicantes entre as células do músculo liso uterino adjacentes, mas também devido a outros efeitos pouco entendidos ainda. Tanto a progesterona quanto o estrogênio são secretados em quantidades progressivamente maiores durante grande parte da gravidez, mas, a partir do sétimo mês, a secreção de estrogênio continua a aumentar, enquanto a de progesterona permanece constante ou até mesmo diminui um pouco. Por isso, já se postulou que a produção estrogênio-progesterona aumenta o suficiente até o final da gravidez para ser pelo menos parcialmente responsável pelo aumento da contratilidade uterina. A Ocitocina Causa Contração do Útero. A ocitocina é um hormônio secretado pela neuro-hipófise que, especificamente, causa contrações uterinas. Existem quatro razões para se acreditar que a ocitocina pode ser importante para aumentar a contratilidade do útero próximo ao termo: 1. A musculatura uterina aumenta seus receptores de ocitocina e, portanto, aumenta sua sensibilidade a uma determinada dose de ocitocina nos últimos meses de gravidez. 2. A secreção de ocitocina pela neuro-hipófise é, consideravelmente, maior no momento do parto. 3. Muito embora animais hipofisectomizados ainda consigam ter seus filhotes a termo, o trabalho de parto é prolongado. 4. Experimentos em animais indicam que a irritação ou a dilatação do colo uterino, como ocorre durante o trabalho de parto, pode causar reflexo neurogênico, através dos núcleos paraventricular e supraóptico, que faz com que a hipófise posterior (a neuro-hipófise) aumente sua secreção de ocitocina. Os Efeitos de Hormônios Fetais no Útero. A hipófise do feto secreta grande quantidade de ocitocina, o que teria algum papel na excitação uterina. Além disso, as glândulas adrenais do feto secretam grande quantidade de cortisol, outro possível estimulante uterino. E, mais, as membranas fetais liberam prostaglandinas em concentrações elevadas, no momento do trabalho de parto, que também podem aumentar a intensidade das contrações uterinas. → Os Fatores Mecânicos que Aumentam a Contratilidade Uterina Distensão da Musculatura Uterina. A simples distensão de órgãos de musculatura lisa geralmente aumenta sua contratilidade. Ademais, a distensão intermitente, como ocorre repetidamente no útero, por causa dos movimentos fetais, pode também provocar a contração dos músculos lisos. Observe, particularmente, que os gêmeos nascem em média 19 dias antes de um só bebê, o que enfatiza a importância da distensão mecânica em provocar contrações uterinas. Distensão ou Irritação do Colo Uterino. Há razões para se acreditar que a distensão ou a irritação do colo uterino seja particularmente importante para provocar contrações uterinas. Por exemplo, os próprios obstetras, muitas vezes, induzem o trabalho de parto, rompendo as membranas, de maneira que a cabeça do bebê distenda o colo uterino mais efetivamente que o usual, ou irritando-o de outras formas. Não se sabe o mecanismo pelo qual a irritação cervical excita o corpo uterino. Já foi sugerido que a distensão ou irritação de terminais sensoriais no colo uterino provoque contrações uterinas reflexas; no entanto, as contrações poderiam ser resultantes da pura e simples transmissão miogênica de sinais do colo ao corpo uterino. O INÍCIO DO TRABALHO DE PARTO - UM MECANISMO DE FEEDBACK POSITIVO PARA O SEU DESENCADEAMENTO Durante grande parte da gravidez, o útero sofre episódios periódicos de contrações rítmicas fracas e Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2022.2 Página | 2 lentas, denominadas contrações de Braxton Hicks. Essas contrações ficam progressivamente mais fortes ao final da gravidez; então, mudam subitamente, em questão de horas, e ficam excepcionalmente fortes, começando a distender o colo uterino e, posteriormente, forçando o bebê através do canal de parto, levando, assim, ao parto. Esse processo é denominado trabalho de parto, e as contrações fortes, que resultam na parturição final, são denominadas contrações do trabalho de parto. Não sabemos o que muda subitamente a ritmicidade lenta e fraca do útero para as contrações fortes do trabalho de parto. Entretanto, com base na experiência com outros tipos de sistemas de controle fisiológico, propôs-se uma teoria para explicar o início do trabalho de parto. A teoria de feedback positivo sugere que a distensão do colo uterino pela cabeça do feto torna-se, finalmente, tão grande que provoca forte reflexo no aumento da contratilidade do corpo uterino. Isso empurra o bebê para frente, o que distende mais o colo e desencadeia mais feedback positivo ao corpo uterino. Assim, o processo se repete até o bebê ser expelido. Em primeiro lugar, as contrações do trabalho de parto obedecem a todos os princípios de feedback positivo, ou seja, quando a força da contração uterina ultrapassa certo valor crítico, cada contração leva a contrações subsequentes que vão se tornando cada vez mais fortes, até atingir o efeito máximo. A respeito de feedback positivo nos sistemas de controle, é possível ver que se trata da natureza precisa de todos os mecanismos de feedback positivo quando o ganho de feedback ultrapassa o valor crítico. Em segundo lugar, dois conhecidos tipos de feedback positivo aumentam as contrações uterinas durante o trabalho de parto: (1) a distensão do colo uterino faz com que todo o corpo do útero se contraia, e tal contração distende o colo ainda mais, devido à força da cabeça do bebê para baixo; e (2) a distensão cervical também faz com que a hipófise secrete ocitocina, que é outro meio de aumentar a contratilidade uterina. Resumindo, podemos assumir que múltiplos fatores aumentam a contratilidade do útero ao final da gravidez. Por fim, uma contração uterina torna-se forte o bastante para irritar o útero, especialmente no colo, o que aumenta a contratilidade uterina ainda mais devido ao feedback positivo, resultando em segunda contração uterina mais forte que a primeira, uma terceira mais forte que a segunda, e assim por diante. Quando essas contrações se tornam fortes o bastante para causar esse tipo de feedback, com cada contração sucessiva mais forte que a precedente, o processo chega ao fim. Poderíamos questionar a respeito dos muitos casos de trabalho de parto falso, nos quais as contrações ficam cada vez mais fortes e depois diminuem e desaparecem. Lembre-se de que para o feedback positivo persistir, cada novo ciclo devido ao processo de feedback positivo deve ser mais forte que o precedente. Se em algum momento, depois de iniciado o trabalho de parto, as contrações não conseguirem reexcitar o útero suficientemente, o feedback positivo poderia entrar em declínioretrógrado, e as contrações do trabalho de parto desapareceriam. AS CONTRAÇÕES MUSCULARES ABDOMINAIS DURANTE O TRABALHO DE PARTO Quando as contrações uterinas se tornam fortes durante o trabalho de parto, sinais de dor originam-se tanto do útero quanto do canal de parto. Esses sinais, além de causarem sofrimento, provocam reflexos neurogênicos na medula espinal para os músculos abdominais, causando contrações intensas desses músculos. As contrações abdominais acrescentam muito à força que provoca a expulsão do bebê. Mecanismos do Parto As contrações uterinas durante o trabalho de parto começam basicamente no topo do fundo uterino e se espalham para baixo, por todo o corpo uterino. Além disso, a intensidade da contração é grande no topo e no corpo uterino, mas fraca no segmento inferior do útero adjacente ao colo. Portanto, cada contração uterina tende a forçar o bebê para baixo, na direção do colo uterino. No início do trabalho de parto, as contrações ocorrem apenas a cada 30 minutos. À medida que o trabalho de parto progride, as contrações finalmente surgem com tanta frequência quanto uma vez a cada 1 a 3 minutos, e sua intensidade aumenta bastante, com períodos muito breves de relaxamento entre elas. As contrações da musculatura uterina e abdominal combinadas Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2022.2 Página | 3 durante a expulsão do bebê causam força descendente do feto equivalente a 12 kg, durante cada contração forte. Felizmente, essas contrações do trabalho de parto ocorrem intermitentemente, pois contrações fortes impedem ou às vezes até mesmo interrompem o fluxo sanguíneo através da placenta e poderiam causar o óbito do feto, se fossem contínuas. Na verdade, o uso excessivo de diversos estimulantes uterinos, como a ocitocina, pode causar espasmo uterino em vez de contrações rítmicas e levar o feto ao óbito. Em mais de 95% dos nascimentos, a cabeça é a primeira parte do bebê a ser expelida e, na maioria dos outros casos, as nádegas apresentam-se primeiro. Quando o bebê entra no canal de parto primeiro com as nádegas ou os pés, isso é chamado apresentação pélvica. A cabeça age como uma cunha que abre as estruturas do canal de parto enquanto o feto é forçado para baixo. A primeira grande obstrução à expulsão do feto é o próprio colo uterino. Ao final da gravidez, o colo se torna friável, permitindo-lhe que se distenda quando as contrações do trabalho de parto começam no útero. O chamado primeiro estágio do trabalho de parto é o período de dilatação cervical progressiva, que dura até a abertura cervical estar tão grande quanto a cabeça do feto. Esse estágio, geralmente, tem duração de 8 a 24 horas, na primeira gestação, mas muitas vezes apenas alguns minutos depois de várias gestações. Quando o colo está totalmente dilatado, as membranas fetais geralmente se rompem, e o líquido amniótico vaza subitamente pela vagina. Em seguida, a cabeça do feto se move rapidamente para o canal de parto, e, com a força descendente adicional, ele continua a forçar caminho através do canal até a expulsão final. Trata-se do segundo estágio do trabalho de parto, e pode durar tão pouco quanto 1 minuto, depois de várias gestações, até 30 minutos ou mais, na primeira gestação. Separação e Expulsão da Placenta Durante 10 a 45 minutos depois do nascimento do bebê, o útero continua a se contrair, diminuindo cada vez mais de tamanho, causando efeito de cisalhamento entre as paredes uterinas e placentárias, separando, assim, a placenta do seu local de implantação. A separação da placenta abre os sinusoides placentários e provoca sangramento. A quantidade de sangue limita-se, em média, a 350 mililitros pelo seguinte mecanismo: as fibras dos músculos lisos da musculatura uterina estão dispostas em grupos de oito ao redor dos vasos sanguíneos, onde estes atravessam a parede uterina. Portanto, a contração do útero, depois da expulsão do bebê, contrai os vasos que antes proviam sangue à placenta. Além disso, acredita-se que prostaglandinas vasoconstritoras, formadas no local da separação placentária, causem mais espasmo nos vasos sanguíneos. Dores do Trabalho de Parto A cada contração uterina, a mãe sente dor considerável. A cólica, no início do trabalho de parto, provavelmente se deve, em grande parte, à hipoxia do músculo uterino, decorrente da compressão dos vasos sanguíneos no útero. Essa dor não é sentida quando os nervos hipogástricos sensoriais viscerais, que carregam as fibras sensoriais viscerais que saem do útero, tiverem sido seccionados. Entretanto, durante o segundo estágio do trabalho de parto, quando o feto está sendo expelido através do canal de parto, uma dor muito mais forte é causada pela distensão cervical, distensão perineal e distensão ou ruptura de estruturas no próprio canal vaginal. Essa dor é conduzida à medula espinal e ao cérebro da mãe por nervos somáticos, em vez de por nervos sensoriais viscerais. Involução do Útero depois do Parto Durante as primeiras 4 a 5 semanas depois do parto, o útero involui. Seu peso fica menor que a metade do peso imediatamente após o parto no prazo de uma semana; e, em quatro semanas, se a mãe amamentar, o útero torna-se tão pequeno quanto era antes da gravidez. Esse efeito da lactação resulta da supressão da secreção de gonadotropina hipofisária e dos hormônios ovarianos durante os primeiros meses de lactação, conforme discutiremos adiante. Durante a involução inicial do útero, o local placentário na superfície endometrial sofre autólise, causando uma excreção vaginal conhecida como “lóquia”, que primeiro é de natureza sanguinolenta e depois serosa, mantendo-se por cerca de 10 dias, no total. Depois desse tempo, a superfície endometrial é reepitalizada e pronta mais uma vez para a vida sexual normal não gravídica. FEBRASGO O momento do nascimento é determinado por um ajuste entre a maturação fetal e os mecanismos que deflagram a parturição, processos que ocorrem com características específicas e diferentes entre os mamíferos superiores (primatas). A média da duração da gravidez humana única é de 280 dias (40 semanas) contados a partir do primeiro dia do último período menstrual, sendo definida a gravidez a termo como o período de 259 dias até 293 dias, após o último ciclo (37 a 41 e 6/7 semanas). Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2022.2 Página | 4 Cumprida essa condição evolutiva biológica, inaugura-se o trabalho de parto (TP), processo fisiológico que envolve uma sequência de eventos integrados e de modificações no miométrio, decídua e colo uterino, que ocorrem gradualmente em período de dias ou de semanas seguidas. Essa sequência deve ser olhada e entendida como um confronto programado de efeitos inibidores alojados no miométrio e um processo ativo mediado por estimuladores sistêmicos das contrações uterinas. Clinicamente, o TP é definido por uma mudança na atividade uterina, que em nenhum momento durante o ciclo gestatório é absolutamente quiescente ou ausente, com a escalada de aumento progressivo de contrações, de maior duração, intensidade e ritmicidade, progressivo esvaecimento, afinamento e dilatação do colo uterino, elementos que se combinam para desencadear os fenômenos passivos indicadores de seu início. Os processos fisiológicos que regulam o processo de parturição e do parto continuam em estudo para serem definidos claramente. Está assentado que o início do evento representa o ápice de uma série de mudanças bioquímicas no colo e no corpo do útero, que provêm de sinais endócrinos e parácrinos emitidos da mãe e do feto de modo simultâneo. Esse mecanismo, que parece ser espécie-relacionado, varia nos diferentes mamíferos, constatação que infelizmente não contribui para a elucidação consistente dosfatores que regulam o parto na espécie humana. O PROCESSO DO PARTO E O PAPEL DO FETO O TP é caracterizado por aumento da atividade miometrial ou, mais precisamente, mudança dos padrões contráteis de baixa frequência e intensidade, para um modelo de contrações de alta intensidade e frequência, resultando em esvaecimento progressivo e dilatação do colo uterino. O TP e o parto não podem ser considerados um processo passivo no qual um motor de contrações empurra um objeto rígido inanimado através de uma abertura fixa. A habilidade do feto em “negociar” o sucesso final de passar por essa trajetória depende de uma complexa interação de três variáveis: • O poder propulsor, fornecido pelas contrações uterinas; • A mobilidade do passageiro (móvel-feto); e • A passagem (trajeto duro e mole do canal de parto). A capacidade do feto em fornecer sinais endócrinos para a iniciação dos fenômenos do parto é descrita há muitos anos em muitas espécies animais. Uma das experiências mais citadas é a realizada por Liggins et al. há mais de 30 anos em ovelhas prenhes, que demonstrou que esse sinal é originado no eixo hipotálamohipófise-adrenal fetal. Há consideráveis evidências de que, na maioria dos vivíparos, são os fetos que controlam o momento exato de deflagrar o TP. Desde um conceito anterior, antigo e ultrapassado, de que fatores mecânicos associados às diferentes posições e movimentos fetais de acomodação na matriz, ao longo da gravidez, e particularmente em seu final, resultariam em sua propulsão através do canal de parto, sucedeu-se um período novo de pensar, no qual se centrou a investigação nas mudanças que ocorrem nos níveis de hormônios na circulação da mãe e do concepto, para determinar seu início e manutenção. Os estudos atuais têm se concentrado no diálogo bioquímico dinâmico entre o feto e a mãe (eventos parácrinos e autócrinos) para compreender os mecanismos moleculares que regulam essas interações. Também a regulação genética desses eventos vem sendo estudada, com resultados promissores. O conceito de que a contratilidade é a principal mentora do sucesso desse evento não encontra suporte na literatura científica. Segundo Norwitz et al. a parturição mais rápida resultaria muito mais da diminuição progressiva da resistência de tecidos moles da pélvis do que da alta atividade miometrial. AS FASES DA FISIOLOGIA DA ATIVIDADE CONTRÁTIL UTERINA De modo didático, a atividade miometrial ao longo da gravidez poderia ser dividida nas seguintes fases. Fase zero: inibição ativa A atividade miometrial inibida: durante a maior parte do período gestacional o útero tem sua cinética quiescente, decorrente da ação atribuída a várias substâncias inibidoras, a saber: • Progesterona; • Prostaciclinas (prostaglandina – PG – 1 e 2); • Relaxina; • Óxido nítrico; • Peptídeos relacionados ao gene da calcitonina; • Peptídeos relacionados ao hormônio da paratireoide; • Adrenomodulina; • Peptídeo vasoativo intestinal. Importante destacar que o útero apresenta atividade contrátil durante toda a gravidez, embora a frequência, localização e intensidade das contrações, cujo somatório define o chamado trabalho uterino (conforme Alvarez e Caldeyro-Barcia descreveram na metade do século passado, 1948), não são suficientes para deflagrar o processo da parturição. Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2022.2 Página | 5 Fase 1: Atividade miometrial Período próximo ao termo, quando o útero começa a reagir às ações de substâncias com poder uterotrópico, por exemplo, os estrogênios. A fase é reconhecida pela ativação dos receptores associados a proteínas (CAP), principalmente os de ocitocina e de PGs, dos canais de íons e aumento das chamadas conexinas-43, que fazem parte das GAP (comunicações intercelulares). Esse processo aumenta a sincronia elétrica miometrial e facilita a efetiva coordenação das contrações. Fase 2 Fase de estimulação, quando o útero, “devidamente preparado”, pode ser estimulado pelos agonistas uterotônicos como as PGs E2 e F2-alfa, as endotelinas- 1 e a ocitocina. Teleologicamente, é razoável considerar que o feto, alcançando suficiência na maturidade de seus órgãos, “sinalizasse” para o processo de parturição se iniciar. O “sinal” que seria emitido pelo concepto não é conhecido ou foi identificado no ser humano, sendo apenas sugerido. Em ovelhas, o “sinal” emitido pelo feto suspenderia a fase zero de completa inibição, fato que coincidiria com a queda vertiginosa da progesterona em circulação. O circuito desse processo caminharia a partir do cérebro, hipófise, adrenais, sangue fetal e trofoblasto. A interrupção da fase zero se faria pelo aumento do cortisol produzido na adrenal fetal, geneticamente codificada para ativar enzimas responsáveis pela esteroidogênese. Alternativamente, nos humanos, o “sinal de partida” poderia ser transmitido dos pulmões ou rins, por meio de secreções ou excreções desses órgãos, para o interior do líquido amniótico – o braço parácrino do sistema de comunicação do binômio mãe-feto. Esta fase do processo poderia ser dividida em três estágios individualizados: A) O primeiro deles começa quando podem ser identificadas contrações com frequência, intensidade e duração suficientes para provocar demonstráveis esvaecimento e dilatação do colo uterino. Terminaria quando a dilatação atingisse suficiente espaço para permitir a passagem do feto, havendo importante liberação da ocitocina no plasma materno nesse momento, mas predominam os níveis de PGs no líquido amniótico e na corrente sanguínea materna, que aumentam de modo significativo durante todo o processo; B) O segundo estágio começaria quando a dilatação atingisse seu máximo e terminaria quando o feto é expulso do ventre materno. Neste momento, a ocitocina plasmática aumenta de modo dramaticamente intenso; C) O terceiro estágio inicia-se imediatamente após o parto do feto, terminando com a expulsão completa da placenta e das membranas e, ao contrário do que se considera em geral, com o prosseguimento regular da atividade uterina, com contrações muito fortes e de alta intensidade, agora desacompanhadas de dores ou desconforto maiores, mas passíveis de serem demonstradas ou até percebidas pela mãe. Há forte retração do volume uterino com a saída de seu conteúdo principal e a placenta se separa, em mecanismo originado pela desproporção de dimensões entre o sítio de sua implantação e do músculo uterino encolhido, clivagem ademais facilitada pela natureza da estrutura esponjosa da decídua subjacente. Acompanhando de modo passivo o processo de redução da superfície uterina, as membranas começam a se descolar submetidas gravitacionalmente pelo peso da placenta, com tração de seu conjunto de páreas e pela forte contração da massa muscular uterina, terminando por serem expulsas, quando, então, se aproximam mais as paredes do útero, restando em aposição, quase obliterando por completo a cavidade. O processo, realizado de modo espontâneo e fisiológico, auxilia de modo poderoso a primeira fase do tamponamento uterino, evitando perdas sanguíneas maiores e desnecessárias. Fase 3 A involução uterina pós-parto é mediada primariamente pela ocitocina. De modo geral, esse neuro-hormônio está em níveis elevados no segundo período do TP (final da fase 3), no início do pós-parto e durante a maior parte do tempo de aleitamento. Sua necessidade torna-se mais evidente no processo final de contração e retração uterinas firmes e persistentes, providências essenciais para evitar as hemorragias pós- parto, após a saída do feto, placenta e membranas. A ocitocina garantiria contrações persistentes e por mecanismos mais complexos, a involução uterina até o fim do puerpério tardio. Para a ejeção láctea, sua presençaé fundamental e a amamentação estimula sua presença permanente e prolongada na circulação, assegurando mais rápido o processo de involução uterina. CASCATA ENDÓCRINA FETAL QUE LEVA AO TRABALHO DE PARTO Esse processo, em sua totalidade, é conhecido como “cascata endócrina da parturição”, quando são removidos os mecanismos de inibição uterina e recrutados os fatores que promovem a modificação da atividade uterina. Esse mecanismo é fundamental para assegurar o processo de manutenção da gestação (e preservação Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2022.2 Página | 6 da espécie) e desembocar no nascimento. Observa-se um modelo em que cada peça da engrenagem se conecta com a subsequente, caracterizando o típico mecanismo em “cascata”. Não será possível de modo isolado destacar nesse contexto apenas um elemento responsável pelo sucesso da iniciação do TP. HORMÔNIOS ENVOLVIDOS NA PARTURIÇÃO (DETERMINISMO) No processo da iniciação e ativação do TP, independentemente de não poder se afirmar de modo categórico que o “gatilho’ (trigger) está localizado dentro ou fora do feto, existe um caminho final comum e conhecido pela ativação dos tecidos uterinos maternos, em relativo repouso até então, com a suspensão progressiva desta quiescência até o início e regularidade das contrações efetivas. As pesquisas dessa engrenagem ainda estão em andamento, para compreender melhor os sinais fetais que determinam o início do parto. → Prostaglandinas São hormônios predominantemente parácrinos e/ou autócrinos, isto é, atuam em seu próprio sítio de produção ou em células contíguas. O aumento de sua biossíntese é observado tanto nos partos a termo como nos pré-termo, particularmente as PGs das séries de subtipos E e F, dentro do compartimento uterino, com predomínio para as decíduas e para as membranas fetais. As evidências da importância e do papel das PGs podem ser sumariadas: • Os tecidos do útero humano são seletivamente ricos em ácido araquidônico, precursor fundamental para a biossíntese das PGs; • Há aumento das concentrações de PGs durante o parto no líquido amniótico, plasma e urina maternos; • A administração vaginal, intravenosa e intra- amniótica de PG exógena pode iniciar o parto em qualquer época da gravidez e em qualquer espécie animal. Estão envolvidas em três importantes eventos: sincronização das contrações, esvaecimento cervical e aumento da responsividade uterina à ação da ocitocina, devido ao aumento da produção das GAP e da concentração dos receptores da ocitocina. Inibidores de síntese das PGs, como os anti- inflamatórios não hormonais (AINH), podem suprimir a contratilidade uterina in vivo e in vitro e prolongar a duração da gestação. As PGs F2-alfa estão claramente envolvidas no processo de início da atividade miometrial e as PGs E, no processo de esvaecimento e remodelação do colo uterino. → Progesterona A administração de um antagonista desse hormônio, ou a remoção precoce do corpo lúteo, inicialmente o principal produtor de progesterona, antes de sete semanas, induz o aborto, sugerindo sua importância no processo de manutenção da gravidez. Se administrada após a luteotectomia nesta fase, previne o abortamento, comprovando-se sua importância no processo inicial de manutenção da gravidez, em quantidades crescentes pelos ovários, substituídos após algumas semanas pela produção placentária, que passa a ser dominante. Sua função nas fases mais tardias da gestação não está bem compreendida. A queda de seus níveis não acontece antes de iniciado o TP, sendo mesmo semelhantes a seus níveis medidos uma semana antes de seu início. Tampouco sua administração, nesse momento, posterga o início do parto nos primatas, e o uso de antagonistas de seus receptores não é capaz de induzir o TP a termo. Os dados sugerem que sua redução não é pré- requisito para o parto em humanos, ao menos na circulação sanguínea, embora não se possa afirmar que não ocorra em nível dos tecidos uterinos. Sabe-se, por outro lado, que sua administração reduz o risco de parto pré-termo em mulheres de risco para esse evento. Faltam, entretanto, estudos definitivos para a compreensão clara de seu mecanismo de ação. → Estrogênios Sua principal fonte de produção na gestação é a placenta. Não são primariamente causa de contrações miometriais e a administração de estradiol em macacos rhesus não tem efeito na duração da gravidez desses primatas. Por outro lado, são reconhecidos como atuantes na regulação das junções GAP e receptores uterotônicos, incluindo os de ocitocina, criando condições para o miométrio gerar contrações. Importante registrar que a placenta não é capaz de finalizar isoladamente sua produção, necessitando de precursores adicionados pela ação da adrenal fetal, em especial a dehidroepiandrostenediona. → Ocitocina A ocitocina é um hormônio peptídeo produzido no hipotálamo e liberado pela neuro-hipófise, com meia- vida curta de 3 ou 4 minutos, que parece se encurtar ainda mais quando doses grandes são infundidas. É inativada no fígado e nos rins, embora durante a gravidez seja degradada por ação da ocitocinase placentária. Por ser bem conhecida sua capacidade de induzir com sucesso o TP, considerou-se que essa ação fosse a Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2022.2 Página | 7 maneira lógica de explicar o seu início. Além do mais, é uma uterotonina potente e é encontrada naturalmente em todos os seres humanos. As evidências de seu papel na parturição que se conhecem estão sumariadas abaixo: • É o mais potente agente uterotônico de produção endógena; • A frequência e amplitude de suas contrações induzidas são idênticas às do TP; • Contrações uterinas podem ser provocadas pela estimulação elétrica da hipófise posterior ou por estimulação dos mamilos (o controverso reflexo de Fergunson), com aumento de sua circulação no sangue; • Os análogos de ocitocina que competem por seus receptores, bloqueando-os, inibem o TP; • O número de seus receptores aumenta ao final da gestação nos tecidos deciduais e no miométrio; • A ocitocina age na decídua para promover a liberação de PGs; • Há dados abundantes para sustentar seu papel no segundo estágio do TP, no puerpério imediato e durante o aleitamento. → Relaxina Embora esse hormônio possa desempenhar papel complementar na quiescência uterina, também tem reconhecidos papéis na fase 2 do TP, participando da remodelação da matriz extracelular uterina, do colo, vagina, mamas, bem como da proliferação celular e inibição da apoptose. Considera-se ser possível atuar indiretamente ao promover o relaxamento miometrial pela estimulação da produção das prostaciclinas. Seus níveis estão mais altos entre 8 e 12 semanas, declinando após a substituição do corpo lúteo, onde está a maior fonte de sua produção, e permanecem baixos até o termo. Seu verdadeiro papel e sua forma de agir permanecem controversos. FATORES HIPOTALÂMICOS, PITUITÁRIOS E ADRENAIS O caminho final comum da iniciação do TP em quase todas as espécies passa pelo eixo hipotalâmico- hipófise-adrenal. Envolve vários hormônios. → Hormônio corticotrópico (CRH) A ativação do eixo nas fases finais da gravidez resulta na liberação de importantes quantidades de cortisol fetal, glicocorticoide que é um potente estimulante da liberação da corticotropina placentária. Também aumentam sua produção citocinas, catecolaminas, acetilcolina e ocitocina, enquanto a progesterona e o óxido nítrico têm efeito inverso. Seu crescimento aumenta de modo dramático nas últimas quatro a seis semanas antes do parto. O CRH não tem ação inotrópica direta sobre o miométrio, mas aumenta várias ações sobre o útero a termo: • É secretado dentro do compartimento fetal, onde atua em conjunto com a liberaçãode ACTH pituitário envolvido com o avanço do TP; • Atua localmente na placenta promovendo vasodilatação fetoplacentária; • Estimula diretamente a secreção de DHEA-S na adrenal fetal, via do sistema de proteínas quinases; • Exerce efeitos sobre o útero e cérvix, pela regulação do óxido nítrico e aumento dos efeitos dos estrógenos nos tecidos; • Estimula a produção de PG no âmnio, cório e decídua; • Age potencializando os efeitos da ocitocina sobre o miométrio. → Glicocorticoides Esses hormônios têm várias ações concorrentes a preparar o útero para o TP: • São diretamente envolvidos na regulação da produção de PG nas membranas fetais a termo; • In vitro, o cortisol parece estimular a produção de CRH, o que parece também acontecer in vivo, em estudos envolvendo mulheres que receberam glicocorticoides anteparto para acelerar a maturidade dos pulmões fetais. • Seu aumento entre 28 e 30 semanas de gravidez associa-se ao aumento da chance de desenvolver parto pré-termo. → Outros Vários neuropeptídios e hormônios podem influir na contratilidade miometrial uterina. A concentração de alguns deles muda em vários momentos da gravidez, sugerindo um modelo de atuação endócrino, enquanto outros atuam localmente ou próximo de onde são produzidos, sugerindo um modelo de ação parácrina e autócrina. Estudos experimentais e imunológicos comparam o feto com um aloenxerto, destacando o papel de diferentes populações de linfócitos com papéis definidos na manutenção da gravidez. Citocinas secretadas pelas diferentes populações, que incluem interleucinas, FNT, quantidades de gamainterferona, além do fator de crescimento vascular (VEGF), têm efeitos inflamatórios que tendem a “rejeitar” os enxertos em indivíduos da mesma espécie. CONSIDERAÇÕES FINAIS O TP a termo é evento de natureza multifatorial e seu determinismo envolve vários mecanismos que ocorrem gradualmente por vários dias e semanas, no interior dos tecidos uterinos maternos. Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2022.2 Página | 8 As principais mudanças incluem aumento da biossíntese de PG e sua liberação no útero, aumento das junções GAP e da liberação dos receptores de ocitocina. Quando o miométrio e a cérvix estão preparados, os fatores endócrinos, parácrinos e autócrinos da unidade fetoplacentária modificam seu padrão irregular para regular, iniciando-se a ativação miometrial compatível com a parturição. O feto parece estar no controle do início do TP, coordenando a ligação da produção dos hormônios esteroides sexuais sobre: atividade miometrial, mecanismo de distensão do útero, secreção de hormônios da neuro-hipófise e estimulação da síntese de PGs. FASES CLÍNICAS DO PARTO O trabalho de parto é caracterizado pela presença de contrações uterinas sequenciais capazes de gerar mudanças plásticas do colo uterino e a descida da apresentação fetal. Em alguns fetos com algum grau de má adaptação intraútero e com baixa reserva de oxigênio, considera-se um momento crítico. Reconhecer o início do trabalho de parto é um desafio. A definição de trabalho de parto baseia-se no início das contrações uterinas, apagamento do colo uterino com consequente dilatação cervical e expulsão fetal. Alguns dias antes do início do trabalho de parto, ocorre aumento gradativo das contrações uterinas, dando início a insinuação da apresentação fetal, esvaecimento e dilatação progressiva do colo e distensão do segmento inferior para preparar o útero para o trabalho de parto. A fase preparatória, denominada de pré-parto, precede esses eventos em alguns dias ou semanas. Os sinais mais importantes dessa fase são: descida do fundo uterino geralmente de 2 a 4 cm, eliminação do muco pelas glândulas cervicais podendo vir acompanhado ou não de pequena perda sanguínea, amolecimento do colo com posterior apagamento, modificação do direcionamento do colo para o centro do eixo da vagina, contrações uterinas dolorosas, incoordenadas e irregulares. As fases clínicas do parto são processos fisiológicos que culminarão com o parto propriamente dito, divididos em quatro períodos ou fases clínicas principais: • Primeiro período, ou fase de dilatação; • Segundo período, ou fase de expulsão; • Terceiro período, ou secundamento; • Quarto período, ou primeira hora pós-parto. O início do trabalho de parto pode ser definido no momento da admissão da paciente ao centro obstétrico. A partir do momento que ela chega com membranas íntegras e contrações efetivas, pressupõe- se dilatação cervical de 3 a 4 cm ou mais como sendo dados confiáveis para o diagnóstico do trabalho de parto, momento em que termina a fase de pré-parto e se inicia a fase de dilatação. Laughon (2012) comparou a duração dos trabalhos de parto espontâneos de nulíparas que tiveram parto nos EUA entre 1959 e 1966 com a duração dos partos das parturientes que deram à luz entre 2002 e 2008 e concluiu que a duração do trabalho de parto aumentou em 2 horas. → Primeiro período do trabalho de parto – fase de dilatação Período de esvaecimento e dilatação do colo uterino e formação do segmento inferior do útero e da “bolsa das águas”. Nas nulíparas, geralmente o esvaecimento do colo precede a dilatação, enquanto nas multíparas esses processos são concomitantes. Começa com contrações uterinas (metrossístoles) intensas, dolorosas e regulares que se iniciam a cada 30 minutos e vão aumentando de intensidade e frequência. Para um efetivo trabalho de parto, essas contrações devem apresentar frequência regular entre duas e três contrações a cada 10 minutos, intensidade em média de 40 mmHg e duração entre 30 e 90 segundos (média de 60 segundos). A sensação dolorosa se deve à hipóxia das fibras musculares do útero durante as contrações. Essas contrações, ditas efetivas, provocarão a dilatação do colo devido à tração que as fibras musculares do corpo uterino exercem sobre o segmento inferior e pela apresentação fetal insinuada, que exerce pressão hidrostática sobre a cérvix. Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2022.2 Página | 9 A dilatação do orifício externo do colo tem por finalidade ampliar o canal e completar a continuidade entre o útero e a vagina, sendo assim se formará um espaço entre o útero e a vagina, no qual será coletado o líquido amniótico (bolsa das águas) que auxiliará as contrações uterinas no deslocamento do istmo. A pressão exercida pela apresentação fetal e pela bolsa das águas forma o segundo fator responsável pela dilatação das porções baixas do útero. Friedman, em 1954, descreveu uma abordagem científica que caracterizou um padrão sigmoide para o trabalho de parto ao elaborar um gráfico de dilatação cervical em relação ao tempo. Com base nas observações gráficas, elaborou o conceito de três divisões funcionais do trabalho de parto. Na primeira divisão, divisão preparatória ou de aceleração, mesmo que haja dilatação mínima, já se iniciam alterações plásticas do colo. A analgesia de parto pode interromper essa divisão do trabalho de parto. A divisão de aceleração máxima ou de dilatação, período de dilatação rápida, quando a dilatação vai de 3 a 9 cm, não é afetada pela analgesia de parto. Por fim, a divisão pélvica ou de desaceleração precede a dilatação completa. O padrão de dilatação cervical durante as divisões de aceleração e de dilatação é representado por uma curva sigmoide dividida em duas fases. A fase latente, que corresponde à divisão de preparação, e a fase ativa, que corresponde à dilatação, sendo esta composta, segundo Friedman, em fase de aceleração, fase de aceleração máxima e fase de desaceleração. Fase latente. Friedman (1972) definiu essa fase como o momento em que a parturiente percebe as contrações uterinas regulares, pouco dolorosas. Normalmente, éo período até a dilatação de 3 a 5 cm, definido como limite de dilatação da fase latente e o início da fase ativa. A dilatação nessa fase é em média de 0,35 cm por hora, com duração variável, de difícil delimitação. A fase latente é considerada prolongada quando se estende por mais de 20 horas nas nulíparas e 14 horas nas multíparas. Fase ativa. Fase caracterizada por contrações dolorosas, com aumento gradual de frequência e intensidade, levando à rápida dilatação do colo. As taxas de dilatação cervical, segundo Friedman (1972), variam de 1,2 a 6,8 cm por hora. A fase ativa tradicionalmente se inicia com entre 3 e 4 cm; multíparas evoluem, em média, 1,5 cm por hora, com 2,4 horas (máximo de 5,2 horas) de duração, e nulíparas, 1,2 cm por hora, com 4,6 horas (máximo de 11,7 horas) de duração. As anormalidades da fase ativa ocorrem em 25% das nulíparas e 15% das multíparas em trabalho de parto (Sokol, 1977). Friedman (1972) subdividiu os problemas da fase ativa em taxa lenta de dilatação cervical e descida (protração) e parada; nas nulíparas, menos 1,2 cm por hora de dilatação, ou menos de 1 cm de descida por hora; nas multíparas, menos 1,5 cm por hora, ou menos de 2 cm de descida por hora. A parada da dilatação foi definida como 2 horas sem alterações cervical, enquanto parada de descida, como 1 hora sem descida fetal. Friedman analisou que 30% Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2022.2 Página | 10 das mulheres com distúrbio de dilatação tinham desproporção cefalopélvica (DCP) e 45%, distúrbio de parada. Zhang et al. (2010) publicaram novas curvas de trabalho de parto em um estudo feito com 62.415 pacientes de 19 hospitais nos EUA, de paridade variada entre os anos 2002 e 2008, que tiveram gestações a termo com partos normais com resultados neonatais normais. Estratificaram por paridade e concluíram que nulíparas e multíparas progrediram de forma semelhante até 6 cm de dilatação. Observou-se que existe dilatação relativamente lenta (< 1 cm por hora), podendo demorar até 7 horas para avançar de 4 a 5 cm e mais de 3 horas para passar de 6 cm. Após 6 cm, o trabalho de parto progrediu mais rapidamente, principalmente nas multíparas, indicando a fase ativa do trabalho de parto. Na fase ativa, analisaram que pode levar 1,4 a 2,2 horas para progredir cada centímetro nas nulíparas e 0,8 a 1,8 hora para as multíparas. A análise dos dados de Zhang et al. (2010) mostra a progressão mais lenta da dilatação do colo dos 4 aos 6 cm, independentemente da paridade da paciente, e demonstrou que, a partir de 6 cm, a velocidade de dilatação aumenta, sendo maior em multíparas quando comparadas às primigestas. As novas curvas de progressão do trabalho de parto permite mostrar uma transição da fase latente para a ativa com 6 cm de dilatação cervical. Antes de 6 cm, a fase latente é mais longa e progride mais lentamente do que a descrita por Friedman. No entanto, a fase ativa do trabalho de parto progride mais rapidamente, em particular nas multíparas. Na curva descrita por Zhang, não há fase de desaceleração próxima a 10 cm. No trabalho de Zhang et al. (2010), foram incluídas apenas gestações de fetos cefálicos em trabalho de parto espontâneo a termo e que tiveram como desfecho o parto normal com resultado perinatal normal. Foram excluídas as pacientes submetidas à cesárea, à indução do trabalho de parto, com duração do trabalho de parto com menos de 3 horas, fetos grandes ou recém-nascidos com baixo peso. Entre as pacientes, 47% utilizaram ocitocina e 71% a 84% foram submetidas à analgesia de parto. → Segundo período do trabalho de parto – fase de expulsão O período se inicia com a dilatação cervical total estendendo-se até o nascimento do feto. Tem duração média de aproximadamente 50 minutos para nulíparas e 20 minutos para multíparas. A evolução de descida do polo cefálico é representada por uma curva hiperbólica e divide-se em fase pélvica e fase perineal. A fase pélvica representa a dilatação total do segmento do colo uterino com apresentação fetal acima do plano +3 de DeLee, já na fase perineal a apresentação encontra-se inferior ao plano +3 de DeLee. Alguns fatores podem influenciar no tempo de duração desse período; no caso de mulheres com pelve contraída, feto grande a para idade gestacional ou com efeito de analgesia, esse período pode tornar-se mais duradouro. Um estudo realizado por Robinson et al. (2011) evidenciou que o índice de massa corporal elevado não interfere no segundo estágio do trabalho de parto. O tempo calculado demonstra, em média, para as nulíparas sem analgesia 0,6 hora e com analgesia 1,1 hora, enquanto para multíparas sem analgesia 0,2 hora e 0,4 hora com analgesia. Considera- se período expulsivo prolongado, segundo a American College of Obstetricians and Gynecologists (ACOG), quando em nulíparas o período perdura por mais de 3 horas com analgesia e mais de 2 horas sem analgesia e em multíparas mais de 2 horas com analgesia e 1 hora sem analgesia. O trabalho de Zhang et al. (2010) estabeleceu novos limites superiores da normalidade para a duração do período expulsivo para primigestas, de 3,6 horas com analgesia de parto e 2,8 horas sem analgesia; independente da progressão da descida fetal, acrescentam 1 hora aos estabelecidos por Friedman. → Terceiro período do trabalho de parto – fase de dequitação Período também denominado de secundamento, delivramento ou decedura. Corresponde ao período do nascimento do feto até a expulsão da placenta e membranas. A descida da placenta provoca contrações uterinas pouco dolorosas e novamente sensação de puxos maternos à medida que a placenta vai se aproximando do canal vaginal. O fundo uterino passa a se localizar abaixo do nível da cicatriz umbilical e, com essa diminuição, diminuirá a área de implantação da placenta e forçará que ela seja expulsa do útero, o que Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2022.2 Página | 11 é facilitado pela estrutura frouxa da decídua esponjosa. À medida que essa separação acontece, forma-se um hematoma entre a placenta com a decídua separada e a decídua que permanece junto ao miométrio. Existem dois tipos de mecanismo de dequitação, conforme o local do útero em que a placenta está inserida. Mecanismos de dequitação: A. Baudelocque Schultze (central) e B. Baudelocque Duncan (periférico) • Baudelocque-Schultze (BS): mecanismo central de decedura, em que a placenta se encontra inserida posteriormente no fundo do útero: no momento do descolamento, ocorrerá primeiro a exteriorização pela face fetal da placenta, para então haver a eliminação do coágulo (hematoma retroplacentário). Acontece em 85% dos casos; • Baudelocque-Duncan (BD): mecanismo periférico, menos comum, de secundamento, a placenta se encontra inserida na parede lateral do útero: no momento do descolamento pela face materna, ocorre primeiro o sangramento e logo em seguida a exteriorização da placenta. Nesse processo de dequitação, independentemente do mecanismo, ocorre perda de sangue de aproximadamente 300 a 500 mL, que normalmente é bem tolerada pela paciente sem comorbidades. O sangramento, em condições fisiológicas normais, cessará após a expulsão da placenta. O processo de dequitação dá-se em média de 5 a 10 minutos em 80% dos casos, sendo considerado prolongado se acima de 30 minutos, quando complicações hemorrágicas se tornam mais frequentes. → Quarto período do trabalho de parto – primeira hora pós-parto Denominado de quarto período de Greenberg, corresponde à primeira hora após a dequitação. Nesse período, após o desprendimento da placenta, ocorre a retração uterina com a formação de coágulos fisiológicos. Deve-se ter cuidado particular nesse período, devido ao fato de que poderão ocorrer hemorragiassignificativas, tendo como causa a atonia uterina. Esse período é caracterizado por mecanismos que atuarão na prevenção fisiológica do sangramento do leito uteroplacentário. O primeiro mecanismo é a contração do útero, pós-dequitação, provocando obliteração dos vasos miometriais pela contração muscular, o miotamponamento, descrito por Pinard e denominado de ligaduras vivas de Pinard. Provocando um tamponamento devido à formação de trombos intravasculares que obliteram os grandes vasos uteroplacentários e de coágulos que preenchem a cavidade uterina, fase conhecida como segunda fase de proteção contra a hemorragia, o trombotamponamento. Conforme Greenberg, a retirada desses coágulos, por manobras de expressão do útero no pós-parto, deve ser evitada e considerada não fisiológica. Na fase de indiferença miouterina, o útero intercala períodos de contração e relaxamento miometrial, podendo haver períodos de sangramento por enchimento de sangue intrauterino. Alguns fatores podem prolongar essa fase de indiferença miouterina e comprometer a hemostasia uterina, como: trabalho de parto prolongado ou excessivamente rápido, gestações múltiplas, fetos macrossômicos ou polidrâmnio, por hiperdistensão uterina. Após 1 hora do parto, o útero evoluirá com a fase de contração uterina fixa, por adquirir maior tônus, mantendo a hemostasia. 2) DESCREVER OS FENÔMENOS MECÂNICOS DO TRABALHO DE PARTO; O parto pelas vias naturais é desencadeado, na maioria das vezes, de forma espontânea, quando o feto atinge sua maturidade e por determinismos que não cabe discutir neste capítulo, com suas nuances diferenciadas nas primíparas e nas multíparas. O feto, considerado nesse processo como o objeto, deve transitar pela pelve, atravessando as partes ósseas e moles, reconhecidas como o trajeto, e esse caminhar ocorre por uma atividade propulsora que, ao mesmo tempo em que promove a cervicodilatação, atua impulsionando o feto pelo canal pelvigenital, sendo esse o terceiro elemento do parto, o qual se chama de motor, que são as contrações. Assim, o nosso objeto em análise (feto), com auxílio do motor (contrações), deve atravessar o trajeto (bacia) e, para tanto, é submetido a uma série de movimentos e fenômenos massivamente passivos aos quais se denomina, no conjunto, mecanismo de parto. O mecanismo de parto, embora ocorra na intimidade da mulher em parturição e de maneira passiva, deve ser do conhecimento de quem a assiste, pois, por meio da propedêutica obstétrica, é possível ser acompanhado e de forma muito correta, assim podendo-se identificar fatores e situações que, desviadas da normalidade, possam interferir no parto, levando a morosidade e dificuldades que possam culminar com agravos maternos e fetais. O feto, no momento do parto, na maioria dos casos, se encontra em situação longitudinal, isto é, somente 1% está em situação transversa. Pela teoria da acomodação e pela ação da gravidade, justifica-se que Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2022.2 Página | 12 96,5% se encontrem em apresentação cefálica e, desses, somente 1% está defletido, portanto 95,5% das gestantes no momento do trabalho de parto devem estar com seus fetos em apresentação cefálica fletida. Assim, o mecanismo de parto na apresentação cefálica fletida é o mais eutócico possível. O mecanismo de parto nessa condição apresenta os movimentos passivos, fazendo com que haja redução dos diâmetros pela máxima flexão do polo cefálico e, assim, permite a adequação dos diâmetros fetais aos da bacia óssea, de modo que os menores fetais ocupem os menores da bacia e os maiores fetais se adequem aos maiores da bacia, isso em cada estreito da bacia óssea. Essas adequações dos diâmetros fetais aos da bacia em cada estreito são possíveis graças aos movimentos que a cabeça executa na sua descida; são os movimentos cardinais do feto, e é o que se estuda no mecanismo de parto. Relembrando, a bacia obstétrica ginecoide, que corresponde a mais comum e fisiológica, apresenta no estreito superior predomínio do diâmetro transverso e oblíquos sobre o anteroposterior, no estreito médio existe relativa igualdade dos diâmetros e no estreito inferior há predomínio do anteroposterior sobre o transverso. Dessa forma, tendo-se em mente que o feto apresentará seus diâmetros para passar nesse chamado desfiladeiro pélvico, seus maiores diâmetros na área do estreito superior deverão se acomodar ao diâmetro transverso ou oblíquo e, conforme o polo cefálico se aprofundar na bacia, esses diâmetros deverão procurar se acomodar para que, no estreito inferior, se localizem em relação ao diâmetro anteroposterior. Em relação ao feto, na apresentação cefálica fletida, também chamada de apresentação de vértice, o ponto de reparo ou de referência fetal é a fontanela lambdoide ou lambda ou pequena fontanela, que, na nomenclatura obstétrica, se representa como occipício (O). A linha de orientação é a sutura sagital. O diâmetro do polo cefálico que se apresenta ao estreito superior para insinuação é o occipitofrontal (OF) quando numa atitude indiferente e que, na ocorrência da máxima flexão, passa a assumir o menor diâmetro, que é o suboccipitobregmático (SOB), permitindo a insinuação. Com base na lei de Sellheim, dois ovais desiguais (polo cefálico e bacia obstétrica) só podem se orientar conjugando seus maiores diâmetros. O maior diâmetro fetal, que é o occipitofrontal e que, fletindo, por força da pressão axial do feto, passa a ser o suboccipitobregmático, que se orienta num dos maiores diâmetros da pelve, oblíquo ou transverso. É mais frequente a insinuação no diâmetro transverso (60%) e depois nos oblíquos (18,5% no primeiro oblíquo, 16% no segundo oblíquo e 5,5% no anteroposterior, lembrando que o primeiro oblíquo é o estabelecido da eminência ileopectínea esquerda à sinostose sacroilíaca direita e o segundo, da eminência ileopectínea direita à sinostose sacroilíaca esquerda). São mais frequentes os esquerdos, o que se explica pelo fato de estar o útero mais para a esquerda pela escoliose lombar fisiológica da gravidez. DIAGNÓSTICO CLÍNICO DA APRESENTAÇÃO DE VÉRTICE O palpar obstétrico é tempo propedêutico fundamental, seja o palpar mensurador, pelo qual se obterá a medida da altura uterina, com evidente importância clínica, mas também a identificação da situação fetal, apresentação e posição (Figura 90.1). Nos casos da apresentação cefálica, a identificação do dorso já qualifica, sendo fletida, a possibilidade de se inferir a posição, que seria a relação do ponto de referência fetal, que é o occipício e o ponto de referência materno como esquerdo ou direito. Maiores referências são obtidas pelo exame de toque, assim podese identificar as variedades de posição como a occipitopúbica (OP) quando o ponto de referência fetal está alinhado com a sínfise púbica. Usando a eminência ileopectínea esquerda ou direita como referência materna, identifica-se que o ponto de referência fetal se relaciona com a parte anterior da bacia e é representado como OEA (occipito esquerda anterior) ou ODA (occipito direita anterior). Nos casos em que o occipício se relaciona com o diâmetro transverso da bacia, diz-se OET ou ODT, se o occipício estiver à esquerda ou à direita, respectivamente. Nos casos em que o occipício se relaciona com a sinostose sacroilíaca direita ou esquerda, diz-se ODP ou OEP, respectivamente. Quando o occipício estiver em relação ao sacro, se diz OS (occipitossacra). Conforme já foi explicado, se a linha de orientação do polo cefálico estiver no primeiro oblíquo, pode-se ter um feto em OEA ou ODP e, no caso de estar no segundo oblíquo, em ODA ou OEP. Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2022.2 Página | 13 No toque, além da identificação da linha de orientaçãoe do ponto de referência fetal caracterizando a variedade de posição, deve-se avaliar o grau de descida da apresentação, que trará informações importantes conforme se verá adiante. Para o diagnóstico do grau de insinuação, pode ser usado o sinal de Farabeuf, expressado pela distância entre a cabeça fetal e o períneo, utilizando o toque digital. A avaliação da altura da apresentação também é feita pelo método de DeLee, em que se considera plano zero quando o ponto mais baixo da apresentação está no plano das espinhas isquiáticas e, em centímetros, -1, - 2, -3, quando acima, e +1, +2 e +3, se estiver abaixo desse plano. TEMPOS DO MECANISMO DE PARTO Para Fernando Magalhães, expressando de forma simplista, o mecanismo de parto se desenvolve em três tempos: insinuação ou encaixamento, descida e desprendimento. Entretanto, para tornar-se mais didático, pode-se dividir o mecanismo de parto em seis tempos: insinuação, descida, rotação interna da cabeça, desprendimento da cabeça, rotação externa da cabeça e desprendimento das espáduas. Na verdade, os movimentos são contínuos e sucessivos. Há quem considere a rotação interna da cabeça como um tempo acessório da descida, e não o terceiro tempo do mecanismo de parto. → Primeiro tempo – Insinuação Insinuação é a passagem pelo estreito superior da bacia do maior diâmetro perpendicular à linha de orientação e como no caso em estudo se trata de apresentação cefálica fletida, a insinuação fica caracterizada como a passagem no diâmetro biparietal pelo plano do estreito superior. Na prática, a avaliação real desse feito é permitida se fazer avaliando quando o occipício atinge o plano das espinhas isquiáticas, ou seja, o plano zero de DeLee; então se fala que nessas condições o polo cefálico está insinuado. Nas primíparas, a insinuação pode ocorrer antes do início do trabalho de parto, num período que se chama de pré-parto e pode anteceder o desencadeamento do parto em 15 dias. Nas multíparas ocorre imediatamente antes da descida, normalmente durante o trabalho de parto. A insinuação da cabeça possui dois movimentos: orientação e flexão. Orientação acomoda o diâmetro OF ao diâmetro mais favorável do estreito superior da pelve materna. A flexão se dá pela contração do útero pressionando o fundo uterino sobre a nádega e a coluna vertebral do feto. → Segundo tempo – Descida A descida ocorre utilizando o diâmetro oblíquo ou o transverso ao qual se orientou. A descida pode ser de duas formas: sinclítica – quando os dois parietais descem de forma simultânea e assinclítica – quando acontecem movimentos de inclinação lateral, movimentos em “badalo de sino”, de forma que um dos parietais desce antes que o outro. O assinclitismo pode ser anterior ou posterior. No anterior, desce primeiro o parietal anterior, logo, a sutura sagital fica mais próxima do sacro. É chamado de “obliquidade de Nägele”. No assinclitismo posterior, desce primeiro o parietal posterior, logo, a sutura sagital fica mais próxima do pube. É chamado de “obliquidade de Litzman”. Normalmente, o assinclitismo é transitório e considerado acomodação da apresentação. O assinclitismo permanente configura distocia. Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2022.2 Página | 14 O assinclitismo posterior ocorre mais frequentemente em primigestas, pois a parede abdominal mais firme, tende a levar o feto para trás, fazendo com que o polo cefálico bascule, levando o parietal posterior a descer antes do anterior. Já nas multíparas ocorre o inverso, a flacidez da parede pende o feto para frente e o parietal anterior tende a descer antes, caracterizando o assinclitismo anterior. → Terceiro tempo – Rotação interna da cabeça A cabeça roda procurando adaptar seu maior diâmetro ao maior diâmetro da bacia, que, no estreito inferior, é o anteroposterior. As variedades anteriores rodam 45° e as posteriores, a 135°. O occipital se move gradativamente de sua posição oblíqua ou transversa para a sínfise púbica. É pouco frequente a rotação para o promontório do sacro (rotação posterior ou sacra), quando a expulsão poderá ocorrer em occipitossacra (OS). Nesse caso, leva um tempo mais prolongado. O diâmetro SOB se conjuga com o diâmetro anteroposterior do estreito inferior da pelve materna, que vai do pube ao cóccix. É alcançado o facílimo de flexão, posição ideal para o desprendimento. Normalmente, num movimento turbinal, a rotação interna da cabeça é simultânea à descida até o quarto plano de Hodge ou +3 de DeLee. → Quarto tempo – Desprendimento da cabeça O occipício está abaixo do pube – hipomóclio – ponto de maior flexibilidade, quando se inicia o desprendimento. O occipício fixa um ponto de alavanca no subpube e, por movimento de deflexão, libera a fronte e a face. O desprendimento se realiza por deflexão, chamado movimento de “chifrada”. A cabeça avança e recua a cada contração. Há oposição da vagina, vulva e períneo. Este se abaula e o ânus se entreabre. Aparecem os parietais e a grande fontanela. A base do nariz se encontra em contato com o cóccix. Sai o resto da cabeça com a face voltada para o chão. → Quinto tempo – Rotação externa da cabeça Estando a cabeça fora da pelve, ela tende a adotar a mesma posição que possuía antes da rotação interna, daí o nome de “restituição”. O diâmetro biacromial descreve os mesmos movimentos que a cabeça adotou, portanto, encaixamento, descida e desprendimento. A descida se dá em oblíquo direito. A rotação interna das espáduas ocorre ao chegar no joelho do canal do parto – o biacrômio roda 45º no sentido horário para se conjugar com o diâmetro anteroposterior do estreito inferior, o mais favorável da pelve materna. A rotação interna permite vencer o joelho e colocar o tronco no seu facílimo de flexão. Ombro anterior em hipomóclio, abaixo do pube e ombro posterior na concavidade sacra. Isso ocorre na altura do estreito médio. → Sexto tempo – Desprendimento das espáduas Ao desprendimento da cabeça se segue o desprendimento das espáduas. Primeiro o ombro anterior, por baixo do pube e, depois, o posterior, que distende o períneo. A pelve fetal tem o diâmetro bitrocanteriano como o executante do mecanismo de parto, que apresenta também os três tempos: insinuação, descida e desprendimento. Só que esses tempos se realizam com grande rapidez e normalmente sem problemas. MECANISMO DE PARTO NAS VARIEDADES OCCIPITOPOSTERIORES Nas posições de vértice em oblíquo posterior, a cabeça tem que rodar 135º para chegar a occipitopúbica (OP). Para que ocorra essa rotação, normalmente as contrações têm que ser eficientes, a cabeça deve estar bem fletida e o feto não pode ser grande. Caso contrário, pode haver parada de rotação em oblíquo posterior ou transversa. Muitas vezes, essa ocorrência se confunde com uma apresentação defletida de primeiro grau. Assim, uma apresentação Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2022.2 Página | 15 em ODP pode simular uma defletida de primeiro grau em BEA e que, no seu processo de rotação de ODP para OP, equivaleria à rotação de BEA, que acaba fletindo nessa manobra. Finalizando, é muito importante que o obstetra tenha habilidade no reconhecimento dessas características, sempre identificando inicialmente pela palpação a apresentação, a posição e, no exame de toque, mesmo com pouca dilatação, identificando a sutura sagital e os pontos de referência fetal, podendo acompanhar esse mecanismo exposto por meio da evolução da apresentação, seja na relação com os pontos de referência maternos, seja na descida da apresentação, além do que a observação da presença de fenômenos plásticos do polo cefálico também poderá orientar sobre possíveis distocias. 3) CARACTERIZAR O PARTOGRAMA, SUA IMPORTÂNCIA E APLICAÇÃO NO SEGUIMENTO DA PARTURIENTE;Partograma é a representação gráfica do trabalho de parto. É um instrumento fácil de ser utilizado, prático e barato que permite documentar sua evolução, diagnosticar alterações e indicar intervenções apropriadas para s correção desses desvios ou distocias, evitando, assim, que se adotem condutas desnecessárias na assistência à parturiente (Brasil, 2001). Como possibilita o registro da evolução do trabalho de parto, o partograma detecta quando ele não está progredindo normalmente e, se adequadamente interpretado, indica quando há necessidade de estímulo desse trabalho de parto ou se há desproporção cefalopélvica. No entanto, a função do partograma vai muito além de possibilitar o diagnóstico de distocias. Ao comportar dados maternos e os relacionados ao controle de vitalidade fetal, o partograma permite que se identifiquem condições de risco do binômio. Com uso possível desde 1970, trata-se de uma ferramenta que serve como um sistema de aviso precoce e auxilia na decisão de transferir a paciente para centros com maiores recursos, de instituir intervenções ou resolver a gestação, além de incrementar a qualidade e regularidade das observações maternas e fetais durante a assistência ao parto. Revisões sistemáticas e metanálises foram realizadas para se determinar o efeito do uso do partograma sobre a morbimortalidade perinatal e materna e recomendações foram feitas com base nesses estudos. Ao se considerarem parturientes que tiveram seu trabalho de parto registrado em partograma com aquelas nas quais não se utilizou esse instrumento, os estudos não demonstraram evidências de diferenças nas taxas de cesárea, de parto vaginal assistido e incidência de índice de Apgar abaixo de 7 no quinto minuto de vida neonatal. Ao se dar ênfase a outros resultados secundários, não se observaram maiores taxas de estimulação do trabalho de parto, parto vaginal espontâneo, analgesia farmacológica, mortalidade perinatal e admissão de recém-nascido à unidade de cuidados intensivos. Os autores desses trabalhos sugerem que não há evidências de qualidade suficiente para recomendar o uso rotineiro do partograma como parte da assistência obstétrica. No entanto, vale destacar que os trabalhos incluídos nesses estudos são considerados de baixa qualidade e com elevada probabilidade de relevantes vieses. No entanto, como o partograma atualmente é de uso generalizado e geralmente bem aceito, os autores recomendam a utilização dessa ferramenta adaptada para cada serviço. A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda fortemente o uso do partograma na assistência obstétrica desde 1994. Essa recomendação ficou clara após o lançamento da série de quatro documentos publicados. Em 2014, a OMS reuniu as melhores evidências sobre condutas adotadas na primeira fase clínica do parto e publicou 20 recomendações referentes a diagnóstico, prevenção e tratamento de distocias e cuidados para mulheres submetidas à estimulação do trabalho de parto. De acordo com essas diretrizes, recomenda-se o uso do partograma, com linha de ação de 4 horas (modelo da OMS), para monitorização da evolução da fase ativa da dilatação, com força de recomendação forte, apesar da qualidade de evidência ser muito baixa. No Brasil, o uso do partograma é recomendado desde a instituição do Programa de Humanização do Parto (Portaria/GM nº 569, de 1º de junho de 2000) e publicação do manual “Parto, aborto e puerpério: assistência humanizada à mulher”, em 2001, pelo Ministério da Saúde (MS). Em 2015, a diretoria colegiada da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) adotou a Resolução Normativa nº 368, que dispõe sobre a utilização do partograma, entre outros benefícios, no âmbito da saúde suplementar. O artigo 8 o, Capítulo II, Seção II, diz que o partograma é um documento gráfico no qual são feitos os registros do desenvolvimento do trabalho de parto, das condições maternas e fetais e deverá conter, no mínimo, as informações indicadas pela OMS. Em 2016, o MS do Brasil, assessorado pela Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (Conitec), publicou a “Diretriz Nacional de Assistência ao Parto Normal” com o objetivo de garantir o melhor cuidado de saúde possível diante do contexto brasileiro e dos recursos disponíveis no Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2022.2 Página | 16 sistema de saúde. Nesse documento, a utilização de partograma com linha de ação de 4 horas, modelo da OMS ou equivalente, é recomendada para registro do progresso do parto. Por todo o exposto, o partograma é desenhado para uso em qualquer serviço de assistência obstétrica, porém com diferentes funções a depender do nível dessa assistência. Em centros de parto, a principal função desse instrumento é alertar, precocemente, os profissionais que assistem parturientes sobre anormalidades na progressão do trabalho de parto e indicar transferência da mulher para uma unidade hospitalar. Dentro de hospitais, o diagnóstico de distocia no partograma serve para intensificar a vigilância maternofetal e indicar instituição de intervenções que visem à sua correção. COMPONENTES DO PARTOGRAMA Inicialmente, é importante salientar que o partograma deve ser utilizado por profissionais de saúde com treino adequado para conduzir um trabalho de parto normal, que saiba realizar toques vaginais e avaliar corretamente a dilatação cervical e que tenha conhecimento de como preencher essa ferramenta. O partograma pode ser utilizado durante todos os trabalhos de parto conduzidos em ambiente hospitalar e, quando fora dele, apenas em casos de gestação de risco habitual, a termo e com início espontâneo. O modelo de partograma mais utilizado e testado e do qual derivam os vários existentes é o da OMS. Na sua primeira versão (1994), o partograma possuía um local referente à fase latente da dilatação, e a fase ativa começava com 3 cm. Na versão modificada (2000), a fase latente foi excluída e a fase ativa começa com 4 cm. No Brasil, o partograma mais usado é o preconizado pelo MS, que tem semelhanças com o da OMS e é de mais fácil preenchimento. Como já comentado, o partograma torna possível a representação gráfica dos eventos ocorridos no trabalho de parto ao longo do tempo, em horas. Por isso, ele contém três partes. Parte 1: progressão do trabalho de parto Essa seção é destinada à avaliação da progressão do trabalho de parto e compreende o preenchimento do cervicograma e a avaliação das contrações uterinas maternas. No cervicograma se faz o registro da dilatação cervical e altura da apresentação, em função do tempo. Para que o seu preenchimento seja correto, é importante entender os conceitos de trabalho de parto e suas diversas fases clínicas estabelecidos por Emanuel Friedman, nas décadas de 1950 e 1960. Recentemente, as divisões do trabalho de parto propostas por esse pesquisador foram corroboradas pela OMS. → Fase de dilatação Em 1954, ao descrever o trabalho de parto de 500 nulíparas, Friedman demonstrou que a relação entre a progressão da dilatação cervical e o tempo, (na primeira fase clínica do parto ou de dilatação) é representada por uma curva sigmoide. Além disso, essa fase foi historicamente dividida em latente e ativa, a depender da velocidade com que a dilatação ocorre. A fase latente se inicia com o diagnóstico de trabalho de parto, ou seja, com a associação de pelo menos duas contrações rítmicas em 10 minutos e dilatação cervical de 2 a 3 cm, e se estende até 4 cm de dilatação. É a fase mais longa, com duração média de 8 horas, mas podendo ter até 20 horas. Na fase ativa, que se inicia com 4 cm e termina com a dilatação completa do colo, a velocidade da dilatação cervical aumenta significativamente e é de 1 cm por hora, em média. Nessa fase é possível estabeleceros diagnósticos de distocias, também definidos por Friedman. Sendo assim, é importante salientar que, para análise da progressão do trabalho de parto, a fase de interesse para aplicação do partograma é a fase ativa da dilatação. Portanto, o partograma deve ser iniciado no momento em que a parturiente apresenta dilatação Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2022.2 Página | 17 cervical de 4 cm. A abertura do partograma na fase latente implicaria intervenções desnecessárias. Observações clínicas realizadas nessa fase, caso a parturiente seja internada nesse momento, devem ser anotadas em outro local. Em sua forma mais comum, o cervicograma é documentado em papel quadriculado. Na abscissa (eixo X), coloca-se o tempo, sendo cada divisória correspondente a meia hora no partograma da OMS e a 1 hora no do MS do Brasil. Nas ordenadas (eixo Y) do partograma da OMS, a dilatação cervical e a descida fetal são representadas à esquerda. No partograma do MS do Brasil, a dilatação é representada à esquerda e a descida da apresentação à direita. Em ambos os partogramas, cada divisória das ordenadas corresponde a 1 cm. Na representação da descida fetal, considera-se como plano zero de DeLee (ou plano III de Hodge) aquele das espinhas ciáticas, no estreito médio da pelve materna. Acima desse ponto estão os valores negativos e abaixo, os positivos de DeLee. O modo de utilização do cervicograma pode ser adaptado para diferentes realidades. O mais importante e conhecido foi o realizado por Philpott e Castle (1972), dois professores da universidade da Rodésia (atual Zimbabwe), que atuavam em uma região carente de leitos obstétricos e onde a maioria dos partos era realizada por parteiras. Esses pesquisadores acrescentaram mudanças ao cervicograma na tentativa de identificar pacientes com maior risco de precisarem de pessoal mais capacitado para resolver suas gestações e que, portanto, deveriam ser encaminhadas a hospitais. Com base nos conhecimentos de Friedman, eles construíram duas linhas diagonais no cervicograma e as denominaram linha de alerta e ação. A linha de alerta tem seu início nos 4 cm e tem inclinação suficiente para que a representação da dilatação cervical, em trabalhos de parto normais, coincida com ela ou fique imediatamente à sua esquerda, a depender do partograma utilizado. Quando a dilatação cervical cruzava a linha de alerta, a paciente seria classificada como de maior risco para distocia, seja por contrações ineficazes ou por desproporção cefalopélvica, e deveria ser encaminhada ao hospital mais próximo. A linha de ação foi construída paralela à de alerta, com intervalo de 4 horas. Esse era o tempo suficiente para que a paciente chegasse ao hospital de referência em segurança. Nos dias atuais, a maioria dos partogramas é utilizada em ambiente hospitalar. Logo, não existe a necessidade de instituir intervenções imediatas em casos em que a dilatação cruza a linha de alerta. Esse fato apenas significa que a parturiente e seu feto demandam melhor observação clínica. Medidas não invasivas como mudanças de posturas e liberdade de movimentos podem auxiliar na correção de possíveis distocias nesse momento. Intervenções mais invasivas se tornam necessárias quando a dilatação cervical atinge a linha de ação e elas não são necessariamente cirúrgicas. A revisão sistemática de Lavender et al. (2013), realizada com o objetivo de determinar o efeito do partograma e seu desenho sobre os resultados maternos e perinatais, demonstrou que parturientes que tiveram a fase de dilatação documentada em partogramas com linha de ação a 2 horas da de alerta receberam mais ocitocina quando comparadas a mulheres com partogramas com linha de ação de 4 horas. Mulheres com partogramas com linha de ação de 4 horas também tiveram menores taxas de cesárea quando comparadas àquelas com partogramas com linha de ação de 3 horas. Vale enfatizar que, no cervicograma do partograma do MS, a dilatação cervical é representada por um triângulo colocado na linha que representa quantos centímetros a paciente apresenta no momento de sua avaliação, imediatamente à esquerda da linha de alerta. A apresentação fetal é representada por um desenho que demonstra a variedade de posição. No partograma da OMS, a dilatação cervical é representada por um “x” plotado na intersecção da linha de alerta com a linha que representa quantos centímetros a parturiente apresenta. Em trabalhos de parto com progressão normal, as marcações ficarão na linha ou à sua esquerda. O intervalo em que a paciente é submetida a toques vaginais para seu preenchimento varia de 2 a 4 horas, a depender da parturiente e evolução de seu trabalho de parto. → Período expulsivo O período expulsivo ou segunda fase clínica do parto também deve ser documentado no partograma e, por isso, conceitos referentes a ele merecem ser discutidos. Segundo Friedman, o tempo máximo de Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2022.2 Página | 18 período expulsivo é de aproximadamente 2 horas e 1 hora, considerando nulíparas e multíparas, respectivamente. Mais recentemente, vários pesquisadores têm investigado a relação entre a duração desse período e os resultados maternos e neonatais adversos, na tentativa de se definir o que pode ser considerado “normal”. Com as melhorias na monitorização fetal intraparto, desfechos adversos em RN de primigestas não têm sido associados à duração do expulsivo. Para multíparas, apesar de existirem poucos trabalhos na literatura, parece que resultados adversos neonatais só foram encontrados quando o período expulsivo foi superior a 2 horas. Por outro lado, complicações maternas e maiores taxas de cesárea foram associadas ao prolongamento do expulsivo. No entanto, esses resultados adversos estão mais associados às ações e intervenções realizadas pelos profissionais que assistem a paciente que pela duração desse período por si só. O American College of Obstetricians and Gynecologists sugere manter a tentativa de parto vaginal por pelo menos 2 horas em gestantes multíparas e 3 horas em primigestas, se as condições maternas e fetais assim o permitirem. Períodos mais longos podem ser apropriados e adotados de forma individualizada, em pacientes com analgesia farmacológica e com fetos em apresentações anômalas, desde que a progressão da descida fetal seja documentada. O trabalho de Friedman foi brilhante pela repercussão que teve na assistência obstétrica, entretanto essa assistência mudou muito desde então, assim como as características das parturientes. Vários autores tentaram estabelecer novas curvas com suas populações, mas foram os trabalhos de Zhang et al. que mudaram esse cenário. Em sua publicação de 2002, Zhang et al. avaliaram a curva de evolução da dilatação cervical ao longo do trabalho de parto de primigestas, demonstrando que a transição da fase latente para a ativa é mais gradual do que a observada na curva de Friedman. Além disso, os autores mostraram que, dos 4 aos 6 cm, a velocidade da dilatação cervical é mais lenta que a historicamente descrita, podendo essa transição durar até 10 horas, e que somente após os 6 cm a dilatação ocorre na velocidade relatada anteriormente por Friedman. Por isso, as distocias só poderiam ser diagnosticadas a partir dos 6 cm, quando então se iniciaria a fase ativa do trabalho de parto. Em 2010, Zhang et al. publicaram dados mais robustos do estudo retrospectivo multicêntrico Consortium on Safe Labor, no qual sugeriram novos conceitos para a progressão “normal” do trabalho de parto e correção de distocias. Esse estudo extraiu dados de partos de 62.415 mulheres, de paridade variada, em 19 hospitais nos Estados Unidos da América, nos anos de 2002 a 2008. A análise dos dados coletados
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