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44 Unidade II Unidade II 3 MOBILIÁRIO CLÁSSICO Depois de fazer levantamentos, as comparações e as discussões sobre as vantagens e as desvantagens de adquirir um móvel comercial ou de projetar uma peça exclusiva, você e seu cliente chegaram à conclusão de que o ideal é que se pense em uma peça particularizada, que atenda às necessidades específicas dele. O ideal é fazer o projeto do mobiliário de acordo com todas as opções de projeto que serão feitas para a edificação. Antes de começar a fase de criação da peça, é preciso que seja feita uma opção de estilo para o projeto, pois ela vai ter influência em seu método construtivo, em sua forma, nos detalhes e até mesmo nos materiais que serão escolhidos para a construção e o acabamento. Vamos conhecer alguns dos principais estilos de mobiliário para as peças que serão construídas. É claro que o estilo do seu móvel estará ligado ao tipo de decoração que você escolheu para seu cliente, mas é interessante conhecer as características mais importantes para conceituar a sua criação. Tipos e estilos também são importantes, pois muitos clientes procuram os designers de interiores com pedidos específicos para seus projetos, ou mesmo uma peça de mobiliário com determinada particularidade, que pode ser uma herança de família, e é preciso fazer um projeto em que essa peça se encaixe de maneira perfeita. Desde o início da história da humanidade já se construíam peças de mobiliário, pois as pessoas sempre precisaram se sentar, trabalhar e fazer as suas atividades. Os primeiros móveis eram de pedra e galhos; conforme a humanidade foi evoluindo, esses materiais e a tecnologia para o seu uso também foi melhorando. Com o surgimento de civilizações mais avançadas, como os egípcios, gregos e romanos, podemos perceber uma evolução muito grande no mobiliário e nos métodos construtivos das peças. É possível notar, através de pinturas, o desenho e os detalhes das peças. Um dos estilos clássicos mais utilizados ainda hoje é o dos reis franceses Luís XIV, XV e XVI. A tendência de Luís XIV é o início do Barroco, o qual começa a ser marcado pelos excessos. Os móveis são grandes e luxuosos, os pés das cadeiras, e de todo o mobiliário, eram unidos com travas em forma de X ou H – sendo esta uma das características que tornam esse tipo de móvel fácil de ser reconhecido. Novos móveis foram criados em função das necessidades da época, como escrivaninhas e cômodas. A figura a seguir mostra uma mesa no estilo Luís XIV com as suas principais características, como a união dos pés do mobiliário, além do acabamento luxuoso. 45 PROJETO DO OBJETO (PRODUTO) Figura 20 – Mesa estilo Luís XIV Continuando no período Barroco, chegamos ao reinado de Luís XV, que era bisneto de Luís XIV. Esse momento é usualmente chamado de Rococó, sendo marcado pelo excesso de ornamentação nas peças. O mobiliário, apesar de guardar uma série de semelhanças, passa a ter diferenças importantes. As linhas passam a ser mais orgânicas, e os móveis são mais entalhados, feitos em mogno ou nogueira, que são madeiras mais nobres; os estofados são revestidos com cores mais claras e padrões florais. As proporções dos móveis diminuem, propiciando uma atmosfera mais íntima. Na figura a seguir é possível notar a diferença entre os estilos. O assento não é mais tão quadrado, mas ganha uma abertura maior na parte frontal, para acomodar as saias estruturadas, as quais eram muito características na época; o espaldar ganha uma pequena inclinação, isto é, o encosto não é mais perpendicular em relação ao assento, o que o torna mais confortável. É possível perceber que este é um estilo mais opulento e mais rico que o de seu antecessor. Figura 21 – Cadeira Luís XV 46 Unidade II Finalizando o período Barroco, temos o neto de Luís XV, Luís XVI. O mobiliário dessa época é mais reto e austero, e bem menos adornado que o anterior, retomando conceitos clássicos greco‑romanos. Os assentos retomam um formato mais quadrado, e o espaldar pode ter uma forma mais arredondada, revestido com seda lisa ou listrada, e que muitas vezes é chamado de “medalhão”. A figura a seguir mostra uma cadeira no estilo Luís XVI. É possível comparar os estilos e notar como evoluíram em algumas décadas. Figura 22 – Cadeira Luís XVI Lembrete Você se recorda da cadeira Louis Ghost, que vimos anteriormente? Percebe como o conhecimento de história do mobiliário ajudou o designer? Continue se aprofundando neste tema! Os estilos de móveis que estudamos até agora eram produto de um trabalho artesanal, feitos por artesãos, frutos de um trabalho basicamente manual e difíceis de serem replicados, algo que iria mudar em pouco tempo. De maneira geral, os artesãos e produtores dessas peças não levavam o crédito nem pela criação, nem pela execução delas. 47 PROJETO DO OBJETO (PRODUTO) No entanto, tudo mudou bem rápido com a chegada da Revolução Industrial, que não mirava a produção moveleira, mas ela foi grandemente alterada com esse acontecimento. Até hoje falamos em móveis produzidos industrialmente. Os produtos da empresa Thonet são um ótimo exemplo da Revolução Industrial, bem como uma novidade e grande diferença em relação a tudo o que aconteceu antes dessa época. Michael Thonet desenvolveu um método de curvar madeira e criou uma série de modelos de móveis utilizando tal metodologia. A cadeira 214, o maior sucesso da empresa, foi criada em 1859, ou seja, há mais de 150 anos. Esses móveis representavam de forma fiel o espírito da Revolução Industrial. O design era simples e elegante, e podia ser replicado indefinidamente; utilizava um material abundante e barato na época (a madeira e o assento em palha); eram vendidas desmontadas, o que facilitava a estocagem e o transporte, e podia ser montada pelo comprador, devido a sua simplicidade. Esse modelo está em linha até hoje e pode ser comprado pelo mundo todo, inclusive no Brasil. A figura a seguir mostra o modelo 214, o mais conhecido e o maior sucesso de vendas da empresa até os dias de hoje. Figura 23 – Cadeira Thonet, modelo 214 48 Unidade II Logo após o início da Revolução Industrial, que primava pela produção em série de peças uniformizadas, como a cadeira 214, da Thonet, já começavam a surgir movimentos artísticos e sociais que pregavam uma volta às origens da arte e do artesanato criativo. O movimento Arts and Crafts, ou Artes e Ofícios, tentava transformar o artista e o artesão em uma única pessoa (que mais tarde seria conhecida como designer). Esse movimento tentava colocar uma face mais pessoal na produção de móveis e objetos, fazendo com que a produção das peças fosse pequena e personalizada. Mesmo tendo começado na Inglaterra, ele se espalhou por vários países, mas teve uma duração relativamente curta. No entanto, foi uma grande influência para vários movimentos e estilos que se seguiram, tendo aspectos que até hoje são replicados. Caracterizado pela simplicidade das linhas e pelo uso frequente de madeira, o movimento valoriza o aspecto artesanal dos móveis, com acabamentos simples e naturais, como madeira envernizada e couro. Atualmente, estamos vivendo uma volta a essa tendência, de valorização do trabalho artesanal, com a diferença de que este trabalho já não é mais considerado um trabalho artístico, mas sim uma produção personalizada. A figura a seguir ilustra o tipo de mobiliário e as características desse movimento. É possível notar a atenção aos detalhes e as linhas simples e agradáveis das peças. Apesar de ser um trabalho manual, este movimento visava uma produção que não devia ser artesanal, no sentido de poder ser replicado; logo, algumas dessas características são conhecidas. Figura 24 – Mobiliário no estilo Arts and Crafts Esse movimento foi representado de forma muito emblemática por um arquiteto americano de fama internacional e com muitos projetos que utilizam esta filosofia: Frank Lloyd Wright. Os trabalhos feitos por este arquiteto geralmente incluíam o projeto de mobiliário, e ambos49 PROJETO DO OBJETO (PRODUTO) representam os pontos principais do Arts and Crafts, como pode ser visto na figura a seguir. Nela, vemos a sala de um dos projetos feitos pelo arquiteto, a Robie House, que se localiza em Chicago, nos Estados Unidos, construída entre 1908 e 1910. Além do mobiliário, feito em madeira e couro, os materiais utilizados na construção representam a filosofia deste movimento, pois são encontrados próximos ao local da obra. Figura 25 – Robie House O Arts and Crafts foi o predecessor do primeiro movimento artístico genuinamente mundial. Ele chegou a praticamente todos os países ocidentais através de arquitetos, designers e artistas O movimento Art Nouveau teve uma influência grande em praticamente todos os países do mundo ocidental, até mesmo aqui no Brasil. Nós temos vários exemplos de edificações e de mobiliário neste estilo, como veremos a seguir. Por ter uma raiz arquitetônica muito forte, o Art Nouveau criou um pensamento que podemos até chamar de “arquitetônico” no desenho do mobiliário. Esse é um dos motivos que indicam que muito do mobiliário desse estilo foi criado por arquitetos. No estilo Art Nouveau, linhas e curvas são usadas como se fossem ornamentos, ou seja, o desenho da peça é ornamental, e madeiras duras e aço eram usados para dar leveza e resistência à estrutura do mobiliário. Na figura a seguir é possível ver algumas características do estilo, como a simplicidade nas linhas do móvel e a pouca ornamentação com cores ou detalhes. Existe, porém, a presença marcante de curvas em toda a peça, isto é, o móvel é o próprio ornamento no ambiente em que será colocado. A figura apresenta uma cadeira e uma escrivaninha, projeto de Hector Guimard, da primeira década do século XX. Outra característica importante da época é que o nome do designer responsável pela peça começa a ser conhecido, e este começa a se transformar em uma marca. Até então, o nome do criador das peças não era um dado importante na história do mobiliário. 50 Unidade II Figura 26 – Mobiliário de Hector Guimard Observação Aprofunde‑se nos seus estudos de história da arte, e ficará mais simples entender a história e a evolução do mobiliário. Tente associar as principais características de cada um destes movimentos e assim você notará as várias semelhanças que eles possuem. No Brasil, temos vários exemplos de arquitetura e design no estilo Art Nouveau, trazidos por arquitetos como o sueco Carlos Eckmann, que projetou o casarão da Vila Penteado, em São Paulo, em 1902, e por outros arquitetos e designers europeus. No Rio de Janeiro, a reforma feita em 1912 na Confeitaria Colombo também trouxe várias características desse movimento, como o desenho do mobiliário que foi feito para o espaço. Na figura a seguir temos um detalhe do interior da Vila Penteado. Essa edificação, que é tombada pelo patrimônio histórico, hoje em dia sedia o curso de pós‑graduação da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo. Ela passou por vários restauros, mas mantém grande parte de suas características originais. As paredes do casarão são enfeitadas com afrescos, e os pisos possuem vários mosaicos. Toda esta decoração se refere à história da indústria brasileira. Os móveis que restaram são os que estão fixos na edificação. O mobiliário e os acabamentos foram projetados pelo arquiteto responsável pela obra. Tal procedimento era muito comum na época, isto é, um projeto de arquitetura incluía o projeto de mobiliário, de luminárias, de decoração, além de todos os demais projetos complementares. Na figura é possível ver um detalhe de uma das portas. 51 PROJETO DO OBJETO (PRODUTO) Figura 27 – Vila Penteado – detalhe das portas O Art Nouveau foi um dos últimos movimentos artísticos do final do século XIX e chegou até o começo do século XX. No Brasil, como vimos, estas construções datam do início do século passado. Saiba mais A apostila no link a seguir vai agregar mais conhecimento ao seu repertório. Você verá que este conhecimento vai inspirar as suas criações e vai deixar os seus projetos de interiores mais ricos! GALVÃO, A. História do mobiliário. UFPR, [s.d.]. Disponível em: <http://www.exatas.ufpr.br/portal/degraf_arabella/wp‑content/uploads/ sites/28/2016/08/Apostila‑Hist%C3%B3ria‑do‑Mobili%C3%A1rio.pdf>. Acesso em: 3 jun. 2019. 4 MOBILIÁRIO MODERNO E CONTEMPORÂNEO Nas primeiras décadas do século XX aconteceram vários movimentos em países europeus, os quais contribuíram para o surgimento da escola que inaugurou o que entendemos por movimento moderno e que foi a primeira escola de design do mundo. Estamos falando da Bauhaus, uma escola alemã, fundada em Weimar, em 1919, e que unia artes plásticas, arquitetura, design, tecelagem e artesanato. Muitos móveis modernos clássicos que conhecemos hoje foram criados pelos professores e alunos da Bauhaus, como, por exemplo, a poltrona Wassily, do designer húngaro Marcel Breuer, criada em 1925 e nomeada em homenagem a um outro professor da escola, o pintor russo Wassily Kandinsky. Esta peça tem um desenho contemporâneo, apesar de ter sido criada há quase cem anos. A figura a seguir mostra a cadeira que estamos falando. 52 Unidade II Figura 28 – Cadeira Wassily A produção da Bauhaus é muito ampla e conta com vários móveis icônicos, além de objeto para casa, luminárias, artes gráficas, tapeçaria, cenografia e uma vasta gama de peças. Outra cadeira muito famosa, produzida na época da Bauhaus, é a cadeira Brno, criada por um professor da escola, o arquiteto alemão Ludwig Mies Van Der Rohe. Posteriormente, Mies foi nomeado diretor da Bauhaus e é até hoje um dos arquitetos mais influentes do mundo. Em 1929, no entanto, para um projeto anterior, ele criou esta cadeira, que possuía uma estrutura nova e revolucionária, de chapa de aço curvada. Este é outro exemplo de uma cadeira que você conhece, mas muitas vezes não sabe o nome. A figura a seguir apresenta o modelo. Figura 29 – Cadeira Brno 53 PROJETO DO OBJETO (PRODUTO) Uma das características mais marcantes deste mobiliário produzido na escola Bauhaus é a simplicidade das suas linhas. É possível perceber nos dois exemplos que vimos (e em qualquer outro que você encontre produzido nesta escola) que a forma segue estritamente a função, além do uso de um material que era novo na época, o aço inoxidável. É importante saber disso caso queira projetar um móvel com as características desta escola. Você vai perceber que é muito comum que clientes seus tenham, por exemplo, uma dessas duas cadeiras (ou alguma outra que tenha este mesmo estilo), e que você precise produzir outras peças que mantenham um diálogo com esses ícones do design. É muito importante conhecer esses estilos, pois eles foram muito influentes em tudo o que veio depois. A Bauhaus, principalmente, moldou muito do que consideramos esteticamente agradável hoje em dia, além de afetar diretamente a maior parte dos movimentos artísticos e arquitetônicos posteriores. Continuando o nosso estudo dos movimentos artísticos do início do século XX e do Modernismo, vamos ver o movimento chamado Art Déco. Ele representava uma diferença em relação às linhas sinuosas do Art Nouveau ao utilizar linhas simétricas e simples no desenho de mobiliário. As peças dessa época mostram uma opulência nesta simplicidade, como pode ser visto na figura a seguir. Figura 30 – Mobiliário Art‑Déco Este estilo também teve influência no desenho de mobiliário brasileiro. Na década de 1920, Celso Martinez Carrera criou a cama Patente, feita em madeira com estrado em malha metálica e com uma forte influência Art Déco. Este foi um dos móveis precursores da indústria moveleira brasileira, um dos primeiros produzidos industrialmente no Brasil. Até há alguns anos, era muito comum encontrar essa cama em várias residências brasileiras. 54 Unidade II Saiba mais Para saber mais sobre a história da cama Patente, acesse o link a seguir: LIMA, V. Exposição cama Patente: democracia em forma demóvel. Saiba mais. Casa e Jardim, [s.d.]. Disponível em: <http://revistacasaejardim.globo.com/Revista/ Common/0,,EMI250820‑17699,00‑EXPOSICAO+CAMA+PATENTE+DEMOCRACI A+EM+FORMA+DE+MOVEL+SAIBA+MAIS.html>. Acesso em: 6 jun. 2019. O início do Modernismo marcou uma mudança na forma como o design de mobiliário funcionava. No começo do movimento modernista, no entanto, muitos arquitetos desenhavam os móveis para cada um de seus projetos, de maneira muito específica, sem pensar na industrialização. No Brasil, por exemplo, em 1930, o arquiteto russo Gregori Warchavchik, que arquitetou a casa Modernista da Rua Itápolis, em São Paulo, projetou todos os móveis e objetos da casa. A figura a seguir mostra o interior da casa, em uma foto da época. Figura 31 – Interior da casa modernista da Rua Itápolis Após a Segunda Grande Guerra, a população nas cidades aumentou de maneira inacreditável, e era necessário suprir as pessoas com moradia, comida, mobiliário e até mesmo de objetos cotidianos. Contudo, como fazer isso com os recursos disponíveis? Uma solução precisava ser encontrada. Era preciso racionalizar a construção de todos estes itens, industrializando todas as etapas, e utilizar todos os materiais novos que estavam à disposição, como a madeira compensada, a fibra de vidro etc. Os arquitetos e designers modernistas tinham de encontrar uma forma de racionalizar e industrializar a produção de edificações, mobiliário e objetos, para atender à demanda, o que significava repensar o modo como as coisas eram feitas até então. Na arquitetura, foi preciso modificar a maneira de construir e os materiais que eram usados, serializando a forma de construção e agilizando o processo. 55 PROJETO DO OBJETO (PRODUTO) No design, foi necessário que acontecesse um processo semelhante, já que era preciso atender às necessidades desta população, e o trabalho artesanal não seria capaz de suprir esta demanda. Foi preciso aprender a trabalhar com estes novos materiais e criar novas maneiras de projetar. Os ornamentos e enfeites que vimos antes, que eram características de vários movimentos anteriores em diferentes graus, deram lugar a uma nova estética, mais próxima de linhas arquitetônicas, mais simples e racional. As cadeiras que estudamos há pouco, produto dos alunos e professores da Bauhaus, eram uma primeira tentativa de satisfazer essas necessidades, pois utilizavam materiais e tecnologias que eram bastante inovadoras para a época. Uma outra característica muito importante é a posição do designer como figura central, como participante principal do processo, e não apenas o móvel como resultado. Como já foi dito, o nome do designer começa a ser tão significativo quanto a peça. Um dos primeiros arquitetos e designers a trabalhar com um desses materiais recentes, a madeira compensada, com resultados muitos bons e pensando em uma produção industrial, foi o finlandês Alvar Aalto, que criou peças icônicas com madeira compensada curvada e fundou a loja Artek, responsável pela comercialização do seu mobiliário. Ele também é um dos responsáveis pelo que é conhecido como estilo escandinavo de mobiliário, o qual é caracterizado pela madeira aparente, com cores claras e estofados com algodão e tecidos naturais. Um de seus primeiros trabalhos é a cadeira Paimio, criada em 1932, pensada para um projeto específico e fruto de uma grande pesquisa com a curvatura da madeira compensada, mas que foi depois comercializada em larga escala. A figura a seguir apresenta esta peça. Figura 32 – Cadeira Paimio Pouco anos depois que essas peças foram criadas, surge um casal de arquitetos e designers que também trabalhou com esse material de uma forma tão genial quanto Aalto, com móveis que são clássicos e objetos de desejo de muitas pessoas. Estamos falando de Charles e Ray Eames. A figura a seguir mostra uma das suas peças mais conhecidas, a cadeira LCW, feita em compensado de madeira, de 1946. 56 Unidade II Figura 33 – Cadeira LCW Outro arquiteto moderno, o suíço Le Corbusier, também criou móveis icônicos que logo ganharam o mercado e passaram a ser fabricados em escala industrial. A cadeira LC1, mostrada na figura a seguir, é um de seus primeiros trabalhos com tubos de aço e couro. Figura 34 – Cadeira LC1 57 PROJETO DO OBJETO (PRODUTO) Percebeu as características mais comuns do mobiliário moderno? Os pontos comuns são as linhas retas e os materiais utilizados, como aço e couro, além da madeira. Caso você precise projetar algum móvel com essas características, já tem uma base para começar. É importante perceber as características habituais aos vários estilos que estamos estudando, já que este conhecimento vai permitir que você projete as peças que precisar seguindo o estilo que for necessário, ou seja, caso queira projetar uma peça em estilo moderno, já sabe que vai trabalhar com linhas retas e com estilo mais simples e leve. Na sequência, continuamos o nosso estudo com mais alguns estilos. Fique atento às características que os marcam, pois isso vai lhe ajudar a projetar suas peças, além de reconhecer as peças que encontrar. Este repertório também vai ampliar as possibilidades de criação, ao lhe permitir, por exemplo, fazer releituras de peças. O desenvolvimento de novos materiais e tecnologias de produção permitiram também uma liberdade muito grande para os designers, que se viram livres das linhas retas do Modernismo. Estamos entrando no movimento conhecido como Pós‑Modernismo, ou seja, que segue o Modernismo e que questiona várias das características deste, como o desenho com linhas retas, o uso de metal e madeira, além da falta de cores nas peças. Os designers pós‑modernistas podiam trabalhar com um material novo e muito mais simples de ser moldado: a fibra de vidro. Foram feitas peças maravilhosas, como veremos em seguida. O casal Eames, em 1948, mais uma vez chegou a uma solução genial para um assento, feito em fibra de vidro, e que podia ser combinado com uma grande variedade de tipos de pés: em madeira, alumínio e cabos de aço (em uma base chamada de torre Eiffel), que podem ser vistos na figura a seguir. A cadeira Eames parou de ser fabricada em 1968, quando descobriu‑se que a fibra de vidro era um material cancerígeno, mas voltou a linha em 1998, feita em outro material, o polipropileno. Figura 35 – Cadeira Eames 58 Unidade II Em 1955, um arquiteto e designer, amigo do casal Eames, o finlandês Eero Saarinen, criou uma outra cadeira em fibra de vidro que também marcou época por suas linhas, consideradas futuristas para a época: a cadeira Tulipa. A base da cadeira, feita em alumínio revestido, já que a fibra de vidro se quebrava com o esforço a que era submetida durante o uso, deu origem a uma série de outros móveis relacionados, como mesas e bancos. Assim, a partir da cadeira, criou‑se uma grande linha de móveis. Figura 36 – Cadeira Tulipa Outra cadeira que marcou época, tanto por sua forma, como por seu método de execução, já que foi a primeira cadeira produzida em plástico injetado, foi a cadeira Panton, criada em 1960 pelo arquiteto e designer dinamarquês Verner Panton. Podemos perceber, cada vez mais, a distância que o pós‑moderno vai tendo em relação ao movimento anterior e como vai adquirindo uma identidade única. Figura 37 – Cadeira Panton 59 PROJETO DO OBJETO (PRODUTO) Agora que já vimos alguns exemplos de mobiliário pós‑moderno, podemos identificar algumas características comuns a todas as peças. As linhas orgânicas são as mais comuns; isto é, o mobiliário dessa época quase não tem nenhuma linha reta. A outra característica é o uso de cores. O mobiliário pós‑moderno usa muitas cores em virtude dos materiais que são utilizados na sua construção, como a fibra de vidro e o plástico injetado. Chegamos, agora, ao design contemporâneo. A poltrona Donna, ou Up5, junto com o apoio para pés Up6, do arquiteto e designer italiano Gaetano Pesce, é uma boa amostra deste novo design. Criada em 1969, as peças são feitas em espuma de poliuretanoe revestidas com um tecido elástico. Elas lembram as formas femininas, mais leves e divertidas, de acordo com a concepção mais contemporânea do design, do qual também são aproveitadas as novas formas de construção e os materiais que surgem com cada vez mais frequência. Figura 38 – Poltrona Donna A estante Carlton, do arquiteto e designer austro‑italiano Ettore Sottsass, criada em 1981, foi feita em MDF (um material recente na época), também representa esta nova concepção de design, bem menos rígida, e com o uso de cores e de linhas oblíquas, ou seja, o móvel tem outras funções que não apenas a prática e óbvia. A estante pode ter várias funções, inclusive a de ser uma estante, ou simplesmente ser um objeto de decoração. 60 Unidade II Figura 39 – Estante Carlton Os designers contemporâneos cada vez mais se aproveitam dos novos materiais e das possibilidades que eles oferecem. Em 1993, por exemplo, o designer israelense Ron Arad criou a estante Bookworm, em PVC estruturado. Essa tecnologia permite que a peça seja fixada na forma desejada pelo cliente, fazendo com que ele seja um participante no design, e não apenas um consumidor de produtos prontos. A figura a seguir mostra uma das possibilidades de fixação desta peça. Este material, bem como a tecnologia utilizada em sua fabricação, permitiram que o designer trabalhasse com várias cores, personalizando ainda mais a peça comprada pelo consumidor. Figura 40 – Estante Bookworm O desenvolvimento de novas tecnologias permitiu que os designers revisitassem os clássicos e fizessem releituras com uma tecnologia e um pensamento projetual mais atual. A cadeira Louis Ghost, vista anteriormente, representa de maneira perfeita o uso destes novos materiais e das novas tecnologias. 61 PROJETO DO OBJETO (PRODUTO) O nome Ghost (fantasma), pelo fato de ser transparente, é mais uma brincadeira do designer. Esta, aliás, é uma das características do design contemporâneo, ele é mais livre e divertido. Como já vimos nos exemplos anteriores, outra característica que é muito presente nesse estilo de design é o uso de materiais e tecnologias de ponta, explorando as possibilidades oferecidas por estas novidades. É sempre bom estar atualizado e conhecer as novidades, pesquisando as opções construtivas e de materiais disponíveis no mercado. Ao utilizar o estilo contemporâneo para a criação de peças, você tem uma grande liberdade, podendo abusar do uso de cores e texturas, além de materiais e métodos construtivos diferentes. Lembrete Perceba como a evolução das técnicas construtivas e os novos materiais influenciam diretamente a forma e o estilo dos móveis. Veja como os móveis contemporâneos vão ganhando linhas mais orgânicas devido a esses fatores que acabamos de entender. Deu para perceber que podemos conceber nossas peças utilizando um estilo específico, ou mesmo misturando referências de vários períodos, fazendo releituras de peças específicas, ou até mesmo utilizando peças clássicas de uma maneira diferente. Assim, novamente, aprofunde a sua pesquisa! Comece com os estilos e designers que mais lhe agradam, pois, muito provavelmente, essa vai ser uma tendência, indicando que você vai se sentir mais à vontade projetando, seja em suas peças de mobiliário, seja em seus projetos de interiores. Enquanto tudo isso ocorria intencionalmente, no Brasil, o nosso design, com o passar dos anos, foi sendo aceito pelo público. Surgindo no começo do século XX, o movimento Moderno com uma cara mais brasileira acabou por ser uma unanimidade, abraçada por várias áreas, especialmente a arquitetura e o design. Na década de 1960, por exemplo, o português Joaquim Tenreiro desenhou a cadeira U, distanciando‑se do Modernismo europeu e trazendo a leveza e os materiais brasileiros para o design, criando um modernismo mais adaptado às nossas terras. Figura 41 – Cadeira U 62 Unidade II Durante a década de 1940 até 1960 surgiram várias lojas e indústrias, provocando um grande crescimento no mercado de móveis, o que acabou dando oportunidade para vários designers experimentarem e mostrarem seu trabalho. O baiano José Zanine Caldas criou vários móveis com compensado Naval e os comercializava em sua loja, a móveis Artísticos Z, como uma forma de baratear os custos e popularizar a produção. A poltrona N, de 1954, indicada na figura a seguir, por exemplo, é feita de compensado naval, espuma e tecido. Figura 42 – Poltrona N O nosso Modernismo é diferente daquilo que estava sendo produzido fora do país. Designers e arquitetos brasileiros adaptaram os princípios a nossa realidade, fazendo que esse movimento fosse absorvido pelas pessoas, e se preocuparam em deixar‑lhe com uma aparência mais próxima da nossa realidade. Essa é uma das razões para que esse movimento fosse tão duradouro e tenha tido tanto sucesso em todo o mundo e, em especial, no Brasil. Um dos designers mais conhecidos e emblemáticos do nosso país, e um dos grandes representantes deste modernismo com características brasileiras, é Sergio Rodrigues. Na década de 1950, o designer abriu uma das principais lojas de design do país: a Oca. Em 1957, criou para a sua loja uma das peças mais conhecidas do design brasileiro: a poltrona Mole. Figura 43 – Poltrona Mole 63 PROJETO DO OBJETO (PRODUTO) Diferente do que aconteceu no resto do mundo, no Brasil não tivemos um Pós‑Modernismo, mas sim uma diminuição da produção de bom design e arquitetura durante o regime militar dos anos 1960. A partir dos anos 1980/90, o país voltou a exportar grandes designers e ótimas peças. Com participações muito significativas em salões de móveis e competições de Design, o Brasil voltou a ser conhecido como um produtor de bom design. Os irmãos Campana são alguns dos designers brasileiros mais conhecidos no mundo. Eles já expuseram, por exemplo, no Museu Victoria & Albert, em Londres. Seu trabalho começou no final da década de 1980 e é produzido por empresas europeias, sendo distribuído para todo o mundo. Observação Perceba como os movimentos se conectam, isto é, como o desenho de mobiliário e produto influenciam a arquitetura, e são influenciados por ela, e como os movimentos artísticos também são inspirados e inspiram os primeiros. Outro escritório de design premiado é o ,Ovo. Uma de suas criações mais recentes, o sistema modular Boiling, ganhou vários prêmios. Além de ousado, é resultado do uso destas novas tecnologias que estão disponíveis no mercado. Composto de peças com módulos de diferentes tamanhos, que se conectam através de imãs, permitindo que o consumidor monte‑as como preferir, dando uma liberdade que é muito interessante, possibilitando que o cliente participe do design. As opções de montagem e combinações são muito grandes, o que torna as peças muito interessantes. Carlos Motta também é um designer que começou sua carreira há bastante tempo. Ele é especialista no trabalho com madeira, que é uma característica do design brasileiro. Seu mobiliário já ganhou vários prêmios, além de ter participado de mostras em vários países. A cadeira Rio, de 2012, mantém a preocupação ambiental, que está em todos os trabalhos do designer. Ele sempre procura trabalhar com madeira certificada ou recuperada. Figura 44 – Cadeira Rio 64 Unidade II Esta conceituação vai ajudar no momento do projeto de um determinado móvel. Você já vai ter o que chamamos em projeto de “partido”, ou seja, terá um ponto de onde começar, o qual pode ser, por exemplo, o estilo de design que achou mais interessante, ou uma cor ou material com o qual você acha que terá um resultado mais interessante. Saiba mais Reportagem interessante a respeito de designers contemporâneos de mobiliário; vale a pena conhecer estes profissionais. FACHIN, G. D. 10 designers de mobiliário brasileiros que você precisa conhecer. Casa Claudia, 4 ago. 2017. Disponível em: <https://casaclaudia. abril.com.br/profissionais/10‑designers‑de‑mobiliario‑brasileiros‑que‑ voce‑precisa‑conhecer/>. Acesso em: 3 jun. 2019.Resumo Entendemos um pouco da história e da evolução dos estilos de mobiliário e como eles estão intimamente ligados aos estilos de decoração que utilizamos. Conhecemos vários exemplos de cada um dos estilos mais comuns e como podemos reconhecer estas tendências, analisando e entendendo as suas principais características. Analisar tais características nos permite atender de maneira mais completa às expectativas de um cliente, criando peças que reflitam melhor as suas preferências, complementando de maneira mais harmônica e agradável o projeto de decoração que foi criado. Tal conhecimento também possibilita a realização de releituras de peças que tenham características próprias, ou muito marcantes, como foi estudado com a cadeira Louis Ghost. O repertório que adquirimos também será utilizado para que possamos entender a evolução que houve no mobiliário, bem como o desenvolvimento que ocorreu nas outras artes, o que nos dá uma visão mais holística do universo do design de interiores como uma arte em desenvolvimento. Finalmente, entendemos a evolução dos materiais e da tecnologia para a construção de móveis que estão disponíveis atualmente, aumentando a liberdade criativa do designer, permitindo que quase tudo o que possa ser imaginado possa ser executado, além de expandir as alternativas existentes no atendimento e na satisfação dos desejos de nossos clientes. 65 PROJETO DO OBJETO (PRODUTO) Exercícios Questão 1. Leia o texto e em seguida responda à pergunta: Os produtos da empresa Thonet são um ótimo exemplo da Revolução Industrial e uma novidade e uma grande diferença em relação a tudo o que aconteceu antes desta época. Michael Thonet desenvolveu um método de curvar madeira e criou uma série de modelos de móveis utilizando esta metodologia. A cadeira 214, o maior sucesso da empresa, foi criado em 1859, ou seja, há mais de 150 anos. Esses móveis representavam de forma fiel o espírito da Revolução Industrial: – O design era simples e elegante, e podia ser replicado indefinidamente; utilizava um material abundante e barato na época, a madeira e o assento em palha. – Eram vendidos desmontados, o que facilitava a estocagem e o transporte. – Podiam ser montados pelo comprador, devido a sua simplicidade. Esses modelos estão em linha até hoje e podem ser comprados pelo mundo todo, inclusive no Brasil. Você certamente conhece esta cadeira, provavelmente já usou uma destas e, muito provavelmente também, vai utilizar uma em algum projeto que você vai fazer. O sucesso dessa cadeira se justifica pelas características citadas, mas que pertencem a praticamente todos os outros modelos desenvolvidos por Thonet. I – Podia ser montada pelo comprador. II – O design era elegante e simples, e podia ser replicado em grandes quantidades. III – O projeto utilizava materiais abundantes e baratos na época, a madeira e a palha (usada no assento). IV – Eram vendidas desmontadas. Quais características, entre as citadas, se destacam, por permitirem a produção em massa? A) I e II. B) I, III e IV. C) II e III. D) II e IV. E) I e IV. 66 Unidade II Resposta correta: alternativa C. Análise das afirmativas I – Afirmativa incorreta. Justificativa: apesar de ser uma afirmativa que descreve uma característica verdadeira da cadeira Thonet, o fato de ela poder ser montada pelo comprador não significa que ela poderia ser produzida em grandes quantidades. II – Afirmativa correta. Justificativa: a afirmativa descreve que a cadeira podia ser reproduzida em grandes quantidades, e um design simples contribui muito para isso. III – Afirmativa correta. Justificativa: usar materiais fáceis de serem conseguidos ajuda bastante a produzir algo em quantidade. IV – Afirmativa incorreta. Justificativa: apesar de ser verdade que as cadeiras Thonet eram vendidas desmontadas, essa característica não faz necessariamente que um produto seja produzido em grandes quantidades. Questão 2. Após a Segunda Grande Guerra, a população nas cidades aumentou muito, e era necessário suprir essas pessoas com moradia, comida, móveis e até mesmo com objetos cotidianos, mas essa era uma situação nova, que nunca havia acontecido antes naquela escala. Uma solução precisava ser encontrada: era preciso racionalizar a construção e a produção de todos estes itens, industrializando todas as etapas e utilizando todos os materiais novos que estavam à disposição, como a madeira compensada, a fibra de vidro etc. Os arquitetos e designers modernistas tiveram de encontrar uma forma de racionalizar e industrializar a produção de edificações, mobiliário e objetos, para atender à demanda, o que significava repensar o modo como as coisas eram feitas até então. Na arquitetura, foi preciso modificar a maneira de construir e os materiais que eram usados, serializando e agilizando o processo da construção. No design, foi preciso que acontecesse um processo semelhante, já que era preciso atender às necessidades desta população, e um trabalho artesanal não seria capaz de suprir esta demanda. Escolha a alternativa correta de acordo com o texto: A) A produção artesanal é capaz de atender a grandes demandas de produtos. B) A produção industrial é limitada e não consegue gerar grandes quantidades de produtos. 67 PROJETO DO OBJETO (PRODUTO) C) A produção artesanal é de melhor qualidade que a industrial e por isso foi a solução adotada na época. D) A produção industrial, tanto de objetos quanto de construções, foi a melhor solução para a época. E) A produção artesanal complementava a produção industrial, que só conseguia atender a uma parte da demanda. Resolução desta questão na plataforma.
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