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CURSO DE MESTRADO EM ENFERMAGEM DE SAUDE MENTAL E PSIQUIATRIA CANNABIS NA ADOLESCÊNCIA E ESQUIZOFRENIA – O que sabem os jovens e o que devem saber Carmen Flora Xavier de Oliveira Coimbra, Abril de 2012 CURSO DE MESTRADO EM ENFERMAGEM DE SAUDE MENTAL E PSIQUIATRIA CANNABIS NA ADOLESCÊNCIA E ESQUIZOFRENIA – O que sabem os jovens e o que devem saber Carmen Flora Xavier de Oliveira Orientadora Professora Doutora Aida Maria de Oliveira Cruz Mendes da Escola Superior de Enfermagem de Coimbra Co-Orientadora Professora Doutora Maria Luísa da Silva Brito da Escola Superior de Enfermagem de Coimbra Dissertação apresentada à Escola Superior de Enfermagem de Coimbra para obtenção de grau de Mestre em Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiatria Coimbra, Abril de 2012 DEDICATÓRIA Dedicamos este trabalho a todos os que nos momentos de maior stress e angústia, nos souberam ouvir e compreender, dando-nos força e reforços positivos para continuar, no fundo aqueles que com muito carinho chamamos de “amigos”. Dedicamo-lo, também à nossa família… Em especial ao To Zé e à Beatriz. AGRADECIMENTOS Em primeiro lugar o meu agradecimento é para a Professora Maria Luísa da Silva Brito, excelente orientadora deste trabalho, que demonstrou e transmitiu sempre total disponibilidade, competência e interesse ao longo desta caminhada, tendo sido indiscutivelmente um agradável estímulo para a sua realização. Gostaríamos também de agradecer à Enfermeira Aliete Cunha Oliveira, pelo desafio e apoio disponibilizado. À Dr.ª Conceição Mendes, Dr.ª Ana Catroga e Dr.ª Olga Rodrigues e restantes Professores e Funcionários envolvidos. A todos os alunos que facultaram a realização deste trabalho. Aos Colegas do Serviço de Psiquiatria Mulheres e à Enfermeira Chefe, pela disponibilidade e apoio nos momentos mais críticos. Aos Colegas do Curso, pela total solidariedade, cumplicidade e apoio emocional nos momentos mais difíceis, o meu sentido agradecimento e os maiores sucessos ao longo das vossas vidas. À minha família, por todo o apoio e convívio que lhes privei, pela paciência e interesse demonstrado. Por fim, a todos os que tornaram possível a realização deste trabalho e não foram mencionados. Muito Obrigada… SIGLAS ACES Agrupamentos de Centros de Saúde CHPC Centro Hospitalar Psiquiátrico de Coimbra CNRSSM Comissão Nacional para a Reestruturação dos Serviços de Saúde Mental EEESM Enfermeiro Especialista em Enfermagem de Saúde Mental EU European Union GEPE Gabinete de Estatística e Planeamento da Educação HBSC Health Behaviour in School-aged Children IDT Instituto da Droga e da Toxicodependência LSD Dietalamida do Àcido Lisérgico OEDT Observatório Europeu da Droga e da Toxicodependência OMS Organização Mundial de Saúde PNS Plano Nacional de Saúde PNSE Programa Nacional de Saúde Escolar PNSM Plano Nacional de Saúde Mental SPSS Statistical Package for the Social Sciences THC Tetrahidrocannabinol UCC Unidade de Cuidados na Comunidade RESUMO Em Portugal, entre 2001 e 2007, registou-se um aumento do consumo de cannabis de 12,4% para 17% na população jovem adulta (IDT, 2008). Os estudos científicos mais recentes apontam para uma relação causal entre o uso de cannabis na adolescência e o aumento da ocorrência de esquizofrenia. Dada a gravidade desta patologia, considera-se por isso necessário intervir, de forma preventiva e o mais precocemente possível. As questões de investigação formuladas foram as seguintes: Qual o conhecimento dos jovens acerca da relação entre cannabis e esquizofrenia? Que intervenções podem ser realizadas para promover a saúde mental destes jovens, em função dos ciclos escolares? Pretende-se assim realizar o diagnóstico de situação acerca do conhecimento dos jovens sobre a cannabis e a sua relação com a esquizofrenia, seguindo-se a formulação de propostas de intervenção nesta área. Foi para isso desenvolvido um estudo de caráter descritivo e exploratório, com base numa amostra aleatória estratificada, constituída por estudantes do 2º e 3º ciclo e secundário das escolas da área de abrangência do Centro de Saúde de Celas, num total de 688 alunos. A colheita de dados foi realizada através de um questionário de autopreenchimento, por nós elaborado, respondido em sala de aula, seguindo-se, a pretexto da sua correção, uma sessão de educação para a saúde sobre o tema – “Cannabis e Esquizofrenia na Adolescência – o que sabem os jovens e o que devem saber? ”. O tratamento dos dados baseou-se na estatística descritiva. Os resultados deste nosso estudo, permitiram-nos concluir existir ainda muita falta de informação acerca da relação entre o consumo de cannabis e a ocorrência mais frequente e precoce de esquizofrenia e, que ações de educação para a saúde, mesmo de curta duração, estruturadas e desenvolvidas com base nos conhecimentos identificados, são eficazes na aquisição de conhecimentos e na mudança de algumas atitudes e comportamentos nos adolescentes. ABSTRACT In Portugal, between 2001 and 2007 there was an increase in the cannabis consumption from 12, 4% to 17% among the young adult population (IDT, 2008). The latest scientific studies point to a relation between the use of cannabis in the adolescence and the increase of schizophrenia occurrences. Due to the seriousness of this pathology, it is, therefore, necessary to intervene in a preventive way as soon as possible. The investigation questions formulated were the following: What is the young people’s knowledge about the relation between cannabis use and schizophrenia? What interventions can be done to promote the mental health of these young people according to the school cycles? It is, thus, intended to diagnose young people’s knowledge about the use of cannabis and its relation to schizophrenia and present the intervention proposals in this area. Therefore, a descriptive and exploratory study was carried out based on a random and stratified sample composed of a total of 688 students(elementary and secondary)who attend the schools in the area of the Celas Health Center. The data collection was carried out through an individual questionnaire answered in the classroom and elaborated by us. On the pretext of its correction, there was a health education session on the topic-”Cannabis and Schizophrenia in Adolescence”- what do young people know and what should they know about it?” The data treatment was based on descriptive statistics. The results of this study allowed us to conclude that there is still a lack of information on the relation between the consumption of cannabis and the more frequent and precocious occurrences of schizophrenia and that even short, but structured health education sessions, developed based on the identified knowledge, are effective in the acquisition of information and in the change of some attitudes and behaviours in the adolescents. ÍNDICE DE TABELAS Pag. TABELA 1 Distribuição dos alunos segundo o género 43 TABELA 2 Distribuição dos alunos segundo o género e o grupo de idades 44 TABELA 3 Distribuição dos alunos segundo o género e o ano de escolaridade 44 TABELA 4 Distribuição dos pais dos alunos segundo o grupo profissional 45 TABELA 5 Distribuição dos alunos acerca do conhecimento dos nomes habituais pelos quais é conhecida a cannabis 46 TABELA 6 Distribuição dos alunos segundo o conhecimento que têm acerca dos efeitos da cannabis 47 TABELA 7 Distribuição dos alunos segundo o conhecimento que têm acerca dos mecanismos de ação e efeitos do consumo regular de cannabis 48 TABELA 8 Distribuição dos alunos segundo a opinião que têm acerca das motivações dos jovens para o consumo de cannabis 49 TABELA 9 Distribuiçãodos alunos segundo a perceção que têm acerca dos efeitos sobre as funções cognitivas e comportamentais decorrentes do consumo repetido e regular de cannabis 50 TABELA 10 Distribuição dos alunos segundo a sua perceção acerca dos comportamentos dos jovens decorrentes do consumo repetido e regular de cannabis 52 TABELA 11 Distribuição dos alunos segundo as suas principais fontes de informação acerca da cannabis 53 TABELA 12 Distribuição dos alunos segundo o conhecimento que têm acerca da esquizofrenia 54 TABELA 13 Distribuição dos alunos segundo o conhecimento que têm acerca da sintomatologia associada à esquizofrenia 55 TABELA 14 Distribuição dos alunos segundo a sua perceção acerca da etiologia da esquizofrenia 57 TABELA 15 Distribuição dos alunos segundo a perceção que têm sobre as semelhanças encontradas entre os efeitos da cannabis e os sintomas da esquizofrenia 58 TABELA 16 Ordenação das respostas dos alunos que referiram semelhanças entre os efeitos da cannabis e alguns sintomas da esquizofrenia 58 TABELA 17 Distribuição acerca da eventual patologia/causa apresentada pelo jovem dado como exemplo 59 TABELA 18 Distribuição dos alunos segundo o conhecimento acerca da relação entre o consumo 60 TABELA 19 Distribuição dos alunos segundo o conhecimento acerca da relação entre o consumo de cannabis e o aumento do risco de se ter esquizofrenia 60 ÍNDICE Pag. INTRODUÇÃO 11 PPAARRTTEE UUMM:: EENNQQUUAADDRRAAMMEENNTTOO TTEEÓÓRRIICCOO 17 CAPITULO I. COMPREENDER A ADOLESCÊNCIA 19 1. ADOLESCÊNCIA 19 1.1. A IMPORTÂNCIA DA FAMILIA NA FORMAÇÃO DA IDENTIDADE DO ADOLESCENTE 21 1.2. O GRUPO DE PARES E A ESCOLA 22 2. CANNABIS NA ADOLESCÊNCIA 24 3. ESQUIZOFRENIA 27 4. INTERVENÇÃO NAS ESCOLAS 30 PPAARRTTEE DDOOIISS:: EESSTTUUDDOO EEMMPPÍÍRRIICCOO 35 CAPITULO II. METODOLOGIA 37 1. QUESTÕES DE INVESTIGAÇÃO 37 2. TIPO DE ESTUDO 37 3. INSTRUMENTO DE COLHEITA DE DADOS 38 4. PROCEDIMENTOS ÉTICOS E LEGAIS NA COLHEITA DE DADOS E CONSTITUIÇÃO DA AMOSTRA 39 5. TRATAMENTO DOS DADOS 42 CAPITULO III. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS 43 1. CARACTERIZAÇÃO SOCIODEMOGRÁFICA DA AMOSTRA 43 2. CONHECIMENTO DOS ALUNOS ACERCA DA CANNABIS 45 3. CONHECIMENTO DOS ALUNOS ACERCA DA ESQUIZOFRENIA 53 CAPITULO IV. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 61 CAPITULO V. CONCLUSÕES E SUGESTÕES 70 BIBLIOGRAFIA 76 APÊNDICES APÊNDICE I Questionário de Colheita de Dados APÊNDICE II Pedido Formal à Coordenadora do Projeto da Unidade de Cuidados na Comunidade APÊNDICE III Sessão de Educação para a Saúde sobre o tema: “Cannabis e Esquizofrenia na Adolescência – o que sabem os jovens, e o que devem saber?” APÊNDICE IV Carta de Pedido de Autorização aos Pais/Encarregados de Educação ANEXOS ANEXO I Programa de Saúde Escolar sobre o tema - “Consumo de Substâncias Psicoativas” da Unidade de Cuidados na Comunidade - Ares do Mondego Coimbra CANNABIS NA ADOLESCÊNCIA E ESQUIZOFRENIA – O que sabem os jovens e o que devem saber _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ CARMEN OLIVEIRA 11 INTRODUÇÃO A esquizofrenia é uma doença mental grave e crónica, muito incapacitante, que afeta não só a forma como a pessoa pensa e sente as coisas, assim como o seu modo de se relacionar com os outros. Estima-se que a sua prevalência seja aproximadamente de 1% da população geral, afetando cerca de 100.000 pessoas em Portugal (CNRSSM, 2007). Manifesta-se habitualmente no final da adolescência ou inicio da idade adulta, sendo mais precoce nos jovens do sexo masculino, entre os 15 e os 25 anos, surgindo mais tardiamente nos jovens do sexo feminino entre os 25 e os 30 anos de idade (Afonso, 2010). A doença, pode manifestar-se de forma súbita, através de um surto psicótico, ou de forma insidiosa. Os sintomas relacionam-se com aspetos que envolvem o pensamento (forma e conteúdo), a perceção, o rendimento cognitivo, a afetividade e o comportamento, levando a défices nas relações interpessoais, com perda de contacto com a realidade (Afonso, 2010). Não podemos atualmente definir uma causa específica para a esquizofrenia, no entanto considera-se que a sua etiopatogenia seja multifatorial (Afonso, 2010; Van Os J et al., 2008; Oliveira e Moreira, 2007), que pode ser potenciada por fatores ambientais, se existir predisposição genética e vulnerabilidade biológica no indivíduo (Afonso, 2010). Existem evidências crescentes, tanto epidemiológicas como biológicas de que o consumo de cannabis pode desencadear o início da esquizofrenia. Como afirma Parolano (2010), as características do desenvolvimento neuronal do adolescente provavelmente criam circunstâncias mais vulneráveis à cannabis, produzindo sintomas psicóticos e possivelmente causando esquizofrenia. Durante o Ensino Clínico em Enfermagem de Saúde Mental Comunitária, do Curso de Enfermagem de Especialização em Saúde Mental e Psiquiatria que decorreu no Centro de Saúde de Celas em Coimbra, tivemos a oportunidade de colaborar na Área da Saúde Escolar, apercebemo-nos da necessidade das populações estudantis em obter conhecimentos adequados nesta área. CANNABIS NA ADOLESCÊNCIA E ESQUIZOFRENIA – O que sabem os jovens e o que devem saber _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ CARMEN OLIVEIRA 12 Como Profissionais da Área da Saúde Mental ao mostrar interesse por esta temática, e em particular pela correlação entre o consumo de cannabis e o risco de esquizofrenia, levou a que nos fosse feito o convite pela Enfermeira Coordenadora da Saúde Escolar, para conhecer o novo projeto – Unidade de Cuidados na Comunidade (UCC) – Ares do Mondego, do qual é também Coordenadora, em colaboração com outros profissionais da área da saúde. Este é um projeto comunitário, que pretende responder de forma eficaz e eficiente às necessidades da população, sendo a comunidade estudantil uma prioridade no âmbito da saúde escolar. Dos profissionais envolvidos, nenhum é da área da Saúde Mental e Psiquiatria. O interesse por nós demonstrado, e o facto de sermos Enfermeiros com formação e experiência na Área da Saúde Mental, foram responsáveis pela proposta feita pela Enfermeira Coordenadora da UCC, em trabalhar esta área tão específica, deixando- nos especialmente gratos e empenhados em desenvolver este trabalho, como Enfermeiros Especialistas em Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiatra. Consideramos que a importância atribuída aos Enfermeiros Especialistas de Saúde Mental se revelou pertinente para o estudo em causa, pois além da sua experiência na práticade cuidar pessoas com perturbações mentais, são os profissionais que reúnem competências no desenvolvimento de intervenções terapêuticas eficazes na promoção e proteção da saúde mental, na prevenção da doença mental, no tratamento e na sua reabilitação psicossocial. O Programa de Saúde Escolar definido para esta população destaca entre outros aspetos, a importância da adoção/manutenção de hábitos de vida saudáveis, incluindo no seu Programa de Saúde Escolar o tema: Consumo de Substâncias Psicoativas. Deste modo, iremos dar resposta a este tema, mais concretamente à Atividade A33 do referido programa – “realização do diagnóstico de situação sobre conhecimentos, comportamentos e atitudes relacionadas com o consumo de substâncias psicoativas”, optando-se por incidir especificamente na prevenção dos consumos de cannabis, referente aos alunos das escolas da área de abrangência do Centro de Saúde de Celas, para que futuramente essa informação possa vir a ser utilizada por um grupo de trabalho com responsabilidades de planeamento, organização, implementação e avaliação de atividades relacionadas com a promoção de estilos de vida saudáveis nesta população. CANNABIS NA ADOLESCÊNCIA E ESQUIZOFRENIA – O que sabem os jovens e o que devem saber _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ CARMEN OLIVEIRA 13 O Consumo de Substâncias Psicoativas é um problema comum a um grande número de adolescentes, devido às características desta fase da sua vida, com vulnerabilidades diversas tanto a nível neurodesenvolvimental, como a nível das relações que estabelece com a família, grupo de pares e escola. Sendo a Esquizofrenia uma doença mental grave, muito incapacitante, que tem o seu início na adolescência e que pode ser potenciada por consumos de cannabis, em indivíduos com vulnerabilidade biológica e predisposição genética, torna-se absolutamente pertinente a realização deste estudo, levando-nos a formular as seguintes questões de investigação: Qual o conhecimento dos jovens acerca da relação entre cannabis e esquizofrenia? Que intervenções podem ser realizadas para promover a saúde mental destes jovens, em função dos ciclos escolares? Seguidamente definimos os objetivos para este nosso trabalho, relembrando que num trabalho de investigação representam aquilo que o investigador pretende alcançar. Estes servem de orientação para toda a pesquisa, indo de encontro às questões de investigação formuladas. Assim no nosso estudo, definimos como objetivo geral: Colaborar no Programa de Saúde Escolar da UCC- Ares do Mondego do Centro de Saúde de Celas, como Enfermeiros de Saúde Mental e Psiquiatria. Como objetivos específicos, definimos: Avaliar o conhecimento dos jovens acerca da cannabis Avaliar o conhecimento dos jovens acerca da esquizofrenia Identificar o conhecimento dos jovens acerca da relação entre cannabis e esquizofrenia Identificar necessidades específicas de informação em cada ciclo escolar (2º e 3º ciclos e secundário) Intervir ao nível da promoção da Saúde Mental, através da transmissão de conhecimentos sobre as temáticas analisadas Elaborar propostas de intervenção para cada ciclo escolar Este trabalho “Cannabis na Adolescência e Esquizofrenia – o que sabem os jovens e o que devem saber” - inclui numa primeira parte o enquadramento teórico, onde são abordadas questões relativas à adolescência, como a importância da família, grupo de CANNABIS NA ADOLESCÊNCIA E ESQUIZOFRENIA – O que sabem os jovens e o que devem saber _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ CARMEN OLIVEIRA 14 pares e escola, e de que forma estes podem influenciar os comportamentos destes jovens, de modo a torná-los mais responsáveis e autónomos nas suas tomadas de decisão. Apresentamos uma breve abordagem sobre a cannabis e a adolescência, evidenciando a prevalência de consumos nesta fase da vida dos jovens e os riscos associados ao seu consumo, apresentando estudos que comprovam a evidência, de que efetivamente o consumo de cannabis é um factor de risco para a ocorrência de esquizofrenia. Para melhor compreensão desta problemática, fazemos também uma breve apresentação da esquizofrenia, no que respeita às características da doença e etiopatogenia. Terminamos este capítulo, com uma referência às questões relativas à intervenção nas escolas, fazendo de forma breve o seu enquadramento legal, assumindo que a prevenção através de sessões de educação para a saúde nas escolas, junto destes jovens, é a ferramenta ideal para a promoção de hábitos de vida saudáveis, reduzindo assim comportamentos de risco, através de atitudes assertivas e responsáveis. Estas intervenções devem também ser dirigidas aos pais, professores e a toda a comunidade educativa. A segunda parte deste trabalho -estudo empírico -, integra o capítulo II (Metodologia), onde estão formuladas as questões de investigação, definindo também os métodos utilizados para obter as respostas às questões de investigação formuladas. O tipo de estudo que escolhemos foi o descritivo e exploratório, pois permite além da descrição dos factos, um maior conhecimento do estudo de uma forma global. Para instrumento de colheita de dados optámos por um questionário de autopreenchimento, onde foi realizado o pré teste, a uma pequena amostra. Foram cumpridos os procedimentos éticos e legais, tanto na colheita de dados, como na constituição da amostra. No capítulo III (Apresentação e Análise dos Resultados), começamos por apresentar a caracterização sócio demográfica da amostra, seguindo-se os dados obtidos relativos ao conhecimento dos alunos sobre a cannabis e sobre a esquizofrenia. A apresentação dos dados foi feita através de tabelas, e a sua análise baseou-se na estatística descritiva. O capítulo IV, refere-se à Discussão dos Resultados, sendo feita uma reflexão sobre os aspetos metodológicos do trabalho, assim como sobre as características da amostra e resultados obtidos relativamente às questões de investigação. Pretendemos com esta reflexão, integrar os aspectos teóricos relacionados com a problemática em CANNABIS NA ADOLESCÊNCIA E ESQUIZOFRENIA – O que sabem os jovens e o que devem saber _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________CARMEN OLIVEIRA 15 estudo, assim como analisar as implicações para a prática, tendo presente o enquadramento sociopolítico e legal das intervenções preconizadas. Concluímos o nosso trabalho com algumas sugestões, onde apresentamos uma perspetiva global da forma como desenvolvemos o estudo, deixando propostas de intervenção baseadas nos resultados obtidos, que no nosso entender poderão e deverão sustentar intervenções de promoção da saúde mental a ser utilizadas pelos Enfermeiros de Saúde Mental nos Centros de Saúde e em particular no Centro de Saúde de Celas. CANNABIS NA ADOLESCÊNCIA E ESQUIZOFRENIA – O que sabem os jovens e o que devem saber _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ CARMEN OLIVEIRA 16 CANNABIS NA ADOLESCÊNCIA E ESQUIZOFRENIA – O que sabem os jovens e o que devem saber _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ CARMEN OLIVEIRA 17 PPAARRTTEE UUMM:: EENNQQUUAADDRRAAMMEENNTTOO TTEEÓÓRRIICCOO CANNABIS NA ADOLESCÊNCIA E ESQUIZOFRENIA – O que sabem os jovens e o que devem saber _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ CARMEN OLIVEIRA 18 CANNABIS NA ADOLESCÊNCIA E ESQUIZOFRENIA – O que sabem os jovens e o que devem saber _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ CARMEN OLIVEIRA 19 CAPITULO I. COMPREENDER A ADOLESCÊNCIA 1. ADOLESCÊNCIA A adolescência é considerada uma etapa do desenvolvimento humano caracterizada por transformações profundas, onde se verifica uma marcada atividade de crescimento, não apenas físico mas também cognitivo, afetivo, psicológico e relacional, estando em importante relação com fatores sociais e contextuais nomeadamente a família, grupo de pares e escola. É nesta fase que o adolescente desenvolve características pessoais e sociais imprescindíveis, que o acompanham posteriormente na vida adulta. Este período de transição da infância para a idade adulta, impõe uma abordagem particular, sendo fundamental compreender efetivamente o mais possível sobre adolescência. Etiologicamente a palavra adolescência advêm de duas raízes latinas inter-relacionadas: ad (a, para) e olescer (crescer), e ainda de adolesce (origem da palavra adoecer). Isto significa dizer que a adolescência, devido às transformações biopsicossociais que ocorrem nessa fase de desenvolvimento da pessoa, é marcada tanto pela capacidade para o crescimento físico, emocional e psicológico, como por um elevado potencial para o adoecimento (Costa, 2006;apud Machado, 2009). Segundo a perspetiva de Erickson (1987), esta fase do desenvolvimento humano carateriza-se pelo estádio - Identidade versus Confusão, onde se verificam acontecimentos relevantes para a personalidade adulta. Este estádio atinge contornos diferentes, devido à crise psicossocial que nele decorre, no entanto cada estádio contribui para a formação da identidade. Cada estádio é uma crise básica, que será mais evidente em cada estádio específico, mas também nos seguintes, a nível de consequências, tendo raízes prévias nos anteriores. É nesta fase que o adolescente se testa a si próprio, de forma a compreender a sua singularidade e assim perceber qual o seu papel no mundo, passando pela chamada moratória psicossocial. CANNABIS NA ADOLESCÊNCIA E ESQUIZOFRENIA – O que sabem os jovens e o que devem saber _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ CARMEN OLIVEIRA 20 Como salientam Monteiro e Santos (2002,p.56) - ” Esta moratória é um compasso de espera nos compromissos adultos. É um período de pausa necessária a muitos jovens, de procura de alternativas e de experimentação de papéis, que vai permitir um trabalho de elaboração interna”. Esta é a vertente positiva deste estádio, em que o adolescente adquire a sua própria identidade pessoal. O versus negativo – Confusão, faz referência aos aspetos de quem ainda não se descobriu a si próprio, não sabendo o que pretende, tendo muitas dificuldades em optar, e consequentemente em se afirmar. Do ponto de vista cronológico, a Organização Mundial da Saúde (OMS), define a adolescência como a faixa etária compreendida entre os 10 e os 19 anos. Segundo critérios físicos abrange as modificações anatómicas e fisiológicas que transformam a criança em adulto, correspondendo ao período que vai desde o aparecimento dos caracteres sexuais secundários e início da aceleração do crescimento, até o apogeu do desenvolvimento com a paragem do crescimento (Faustini et al, 2003). A adolescência e o período do jovem adulto é caraterizada por mudanças críticas no crescimento cerebral, uma vez que compreende a maturação cognitiva, emocional e social, sendo o cérebro do adolescente um cérebro de transição, que em termos anatómicos e neuro químicos difere do cérebro do individuo adulto. Psicologicamente, o adolescente estabelece uma identidade pessoal queé atravessada por desequilíbrios e instabilidades extremas que envolve riscos e medos. A formação da identidade pessoal é um processo dinâmico, em permanente mudança, encarado como integrador das transformações pessoais, das exigências sociais assim como das expetativas relativas ao futuro. Erickson (1991; citado por Sprinthall & Collins, 2008, p.202) é da opinião que a formação da identidade envolve: “A criação de um sentido de unicidade; a unidade da personalidade é sentida agora, pelo indivíduo e reconhecida pelos outros, como tendo uma certa consistência ao longo do tempo – como se fosse, por assim dizer um fator histórico irreversível ”. Ballone (2003; citado por Machado 2009, p.8) reforça que “… é uma etapa particularmente rica em possibilidades desestabilizadoras…” sendo esta ideia também corroborada por Silva e Deus (2005), que referem que nesta fase de transformações físicas e emocionais, o adolescente sente a necessidade de se confrontar, de CANNABIS NA ADOLESCÊNCIA E ESQUIZOFRENIA – O que sabem os jovens e o que devem saber _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ CARMEN OLIVEIRA 21 experimentar limites, mesmo de os transgredir, e na tentativa de fugir das angústias e ansiedades causadas por tais mudanças, pode procurar refúgio no uso de drogas. As dificuldades com a imagem corporal, a intolerância em relação aos familiares e a sensação de omnipotência podem levar a tal comportamento de risco. Quanto maior o nível de saúde mental do jovem, mais ele tende a utilizar estratégias saudáveis para lidar com a angústia, ansiedade e fragilidade. O grupo a quem o jovem recorre, embora contribua para a separação parental, constitui um fator de risco, à medida que funciona como uma caixa-de-ressonância, um amplificador dos comportamentos desviantes. O consumo de drogas pode ser visto pelo adolescente como uma forma pela qual este pode tentar insurgir-se contra a autoridade parental, legal e da sociedade, podendo para além de isso ser encarado pelo adolescente como uma forma de socialização, que possibilita a sua integração num grupo ou a não exclusão deste. Assim a adolescência, tem por vezes, a capacidade cruel de poder desviar o curso de vida dos jovens de forma irreversível. 1.1. A IMPORTÂNCIA DA FAMILIA NA FORMAÇÃO DA IDENTIDADE DO ADOLESCENTE A influência da família no desenvolvimento do adolescente tem repercussões muito importantes que irão determinar a forma como este se vai relacionar com os seus pais, grupo de pares e amigos, assim como se irá formar enquanto Pessoa. Este crescimento considera-se bem sucedido, quando a adolescência se converte num período de sucessos, resultantes numa identidade estável e saudável, tornando-se o jovem num adulto com um sistema de crenças e valores bem definidos. Sprinthall & Collins (2008,p.295) reforçam esta ideia ao afirmar que a família tem sido encarada como o “ponto crucial da identidade”. A comunicação no seio da família deve permitir que se respeitem as opiniões de todos, comunicando-se de forma transparente, para que as decisões tomadas sejam devidamente esclarecidas, estabelecendo-se sempre uma relação afetuosa, permitindo o desenvolvimento positivo do seu autoconceito e autoestima tão CANNABIS NA ADOLESCÊNCIA E ESQUIZOFRENIA – O que sabem os jovens e o que devem saber _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ CARMEN OLIVEIRA 22 importantes nesta fase da vida, assim como das suas competências e responsabilidades sociais, da sua independência e autonomia. A conquista de autonomia, que se irá consolidar na idade adulta, só é possível se a relação com os pais for segura, saudável e de confiança para os adolescentes. Obviamente que a relação com os pais sofre algumas alterações, pois o jovem vai reservando mais a sua intimidade, solicitando menos os pais para a resolução dos seus problemas, assim como partilhando menos tempo e atividades com eles. Por vezes neste processo educativo, os pais sentem-se inseguros e com muitas dúvidas e receios, colocando em causa uma negociação com sucesso relativamente à autonomia dos seus filhos. As regras e papéis dos vários elementos da família têm que ser negociadas e renegociadas repetidamente, permitindo que a mudança se desenvolva e a identidade familiar não se altere. Sampaio e Matos (2009, p.190), afirmam que: “As relações positivas na família, o apoio emocional e social e um estilo de disciplina parental construtivo e consistente tendem a estar relacionados com maiores índices de bem-estar e de ajustamento na adolescência e menor envolvimento em comportamentos de risco e em grupos de pares desviantes”. 1.2. O GRUPO DE PARES E A ESCOLA O meio extrafamiliar é indispensável para o desenvolvimento psicossocial do adolescente, surgindo assim o relacionamento com os pares. A identificação e criação de relações com os pares tornam-se cada vez mais importantes na vida do adolescente, uma vez que é inserido no grupo que o jovem se identifica, encontrando afinidades e desenvolvendo competências sociais. O grupo de pares passa a ser o ambiente onde o jovem partilha as suas preocupações, angústias, medos, conhecimentos e novas experiências, propiciando experiencias emocionais positivas e sentimentos de pertença. No entanto, e tendo em conta a vulnerabilidade caraterística da adolescência, nomeadamente em relação aos reajustamentos de identidade e relacionais, a pressão do grupo de pares pode funcionar ora como fator protetor ora como fator ameaçador dos comportamentos destes jovens. CANNABIS NA ADOLESCÊNCIA E ESQUIZOFRENIA – O que sabem os jovens e o que devem saber _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ CARMEN OLIVEIRA 23 Este terá a capacidade de influenciar as suas ações e comportamentos levando à adoção de atitudes que não serão mais do que a prova da sua aceitação no grupo. Assim, a influência do grupo tanto pode ter repercussões positivas, funcionando como um fator de bem-estar, responsabilidade e desenvolvimento saudável, como repercussões negativas como por exemplo a adesão a comportamentos de risco, colocando em causa a saúde mental do adolescente. A maturaçãodas capacidades para raciocinar acerca do mundo, das coisas, dos acontecimentos, das pessoas e das relações que estabelece é particularmente importante para o desenvolvimento social do adolescente; passa a ser esperado dele que faça ajustamentos adequados nas suas relações com os pais, o grupo de amigos e os adultos. Como referem Sprinthall & Collins, (2008, p.186), “estes tornam-se mais capazes de considerar uma variedade de circunstâncias e acontecimentos que podem ocorrer, sendo, por isso especialmente propensos a reconhecer as discrepâncias entre o real e o possível; “ os adolescentes vão sendo, progressivamente capazes de inferir as características pessoais, as motivações e outros aspetos que se encontram implícitos nos acontecimentos e comportamentos sociais” e “os adolescentes começam a tomar conhecimento de que os diferentes indivíduos, incluindo eles próprios, possuem perspetivas distintas acerca do mesmo conjunto de circunstâncias. Também a escola desempenha um papel crucial no desenvolvimento do adolescente, sendo responsável pela transmissão de regras e padrões comportamentais determinantes no seu processo de socialização. Tratando-se de um ambiente externo à casa/família constitui um importante período de aprendizagem e de teste das competências sociais e pessoais do jovem. Permite juntar diferentes comunidades de pares, promovendo a autoestima e o desenvolvimento harmonioso entre os adolescentes, sendo um excelente e privilegiado espaço de convivência social. Esta convivência social, em especial com o grupo de pares, é marcante na vida do adolescente, pois se por um lado proporciona o seu crescimento e amadurecimento pessoal, dando relevância a valores como a amizade, lealdade e respeito pelo outro, pode por outro lado, conduzir o adolescente a sentir uma turbulência difícil de suportar, marcada por conflitos quer internos, quer externos, que podem originar dificuldades CANNABIS NA ADOLESCÊNCIA E ESQUIZOFRENIA – O que sabem os jovens e o que devem saber _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ CARMEN OLIVEIRA 24 relacionais e enviesar a consolidação da sua identidade, levando à adoção de comportamentos de risco, entre os quais o consumo de substâncias. Relativamente a esta problemática, Sampaio e Matos (2009,p.92), entendem importante ainda referir “a existência de fatores de risco cumulativos, que acarretam uma maior vulnerabilidade por parte do adolescente, nomeadamente em situações de disfunção familiar concomitantes com a influência negativa dos pares”. Os mesmos autores afirmam que o “ O contexto escolar (grupo de pares) e social em que o adolescente está inserido tem sido apontado como o preditor mais consistente do uso de substâncias na adolescência...” 2. CANNABIS NA ADOLESCÊNCIA É unânime o facto de que o uso de drogas é um fenómeno bastante antigo, com raízes que advêm do início da história da humanidade, sendo encontradas referências ao seu uso em rituais religiosos, cerimónias, celebrações ou festas, em praticamente todas as culturas e povos. Concetualmente, como afirmam Reis e Silva (2009), droga pode ser definida como toda e qualquer substância que inalada, ingerida ou injetada, causa alterações no funcionamento de um órgão ou organismo. Por substâncias psicoativas – palavra originária do grego e que pode ser traduzida como aquilo que age sobre a mente – entendem-se as substâncias ilícitas (usualmente designadas drogas), lícitas (tabaco e álcool) ou medicinais constituídas por um produto químico ou mais, que ao ser inserido no organismo provoca alterações no sistema nervoso central, interferindo ativamente na perceção do indivíduo, podendo intensificar ou deprimir o estado de ânimo ou as emoções, alterando o seu estado de consciência e comportamento. As diferentes classes de substâncias psicoativas podem ser divididas em depressoras (ex: álcool, sedativos, hipnóticos), estimulantes (ex. nicotina, cocaína, anfetaminas, ecstasy), opióides (ex. morfina e heroína) e alucinógenos (ex. LSD, cannabis). Queirós et al, (2004,p.62) são da opinião que “ A cannabis é provavelmente a substância ilícita mais consumida mundialmente”, referindo ainda que ” A adolescência CANNABIS NA ADOLESCÊNCIA E ESQUIZOFRENIA – O que sabem os jovens e o que devem saber _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ CARMEN OLIVEIRA 25 é a fase de desenvolvimento na qual emergem os padrões de consumo de tóxicos, em especial o consumo de cannabis, e esta faixa etária apresenta maior vulnerabilidade que a idade adulta aos efeitos deste tóxico”. Nas três últimas décadas, muitas investigações de caráter epidemiológico, adotando metodologias centradas no uso de questionários, escalas e entrevistas dirigidas, foram realizadas, evidenciando a prevalência do consumo de cannabis na adolescência (Wright e Pearl, 1986; Silber e Souza, 1998; Tavares et al., 2001; Baús et al., 2002; Tonkin, 2002; Soldera et al., 2004; Pavani et al., 2007; Sengik e Scortegagna, 2008; Reis e Silva, 2009), o que vai ao encontro dos resultados dos vários estudos epidemiológicos nacionais realizados, onde a cannabis surge sempre como a droga que apresenta prevalências de consumo mais elevadas. Em Portugal e tendo em conta os dados do Instituto da Droga e da Toxicodependência (IDT) - 2008, a cannabis foi a substância que registou as maiores prevalências de consumo quer na população total (15-64 anos), quer na população jovem adulta (15- 34 anos), registando-se a maior prevalência entre os jovens dos 15 aos 24 anos. Relativamente à análise por género, esta evidencia prevalências de consumo mais elevadas no género masculino, assim como taxas de continuidade do consumo também mais elevadas no sexo masculino. Há já várias décadas que duram as polémicas em torno do consumo da cannabis Vista por uns como altamente perigosa, tanto no plano individual como social, é apresentada por outros como perfeitamente inofensiva, considerada muitas vezes pela sociedade atual como uma droga leve, e aceite como um “mal menor” tendo-se tornado um modo de socialização. Como refere Tonkin (2002), a cultura adulta contemporânea aceita a noção de que a cannabis é uma droga recreativa segura, argumentando inclusive que é menos lesiva que o tabaco e o álcool. O que torna este facto preocupante, porque atrás da designação de drogas leves existe um comportamento mais permissivo e flexível quanto ao seu uso e experimentação (Silva e Deus, 2005). Reforçando esta ideia, Pavani et al (2007) referem que a cannabis está presente na rotina de muitos adolescentes como forma de socialização, considerada frequentemente por estes menos maléfica do que outras drogas ilícitas ou mesmo lícitas, e mais aceite socialmente, mesmocom o reconhecimento dos comprometimentos familiares, sociais e biológicos consequentes do seu uso contínuo. CANNABIS NA ADOLESCÊNCIA E ESQUIZOFRENIA – O que sabem os jovens e o que devem saber _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ CARMEN OLIVEIRA 26 Teoria adotada politicamente por alguns países como a Holanda, Suíça, Inglaterra e alguns estados do Canadá e da Austrália, no sentido da despenalização da posse de cannabis, levando os jovens a interpretar estas medidas de forma a considerarem esta como uma droga benigna, ou a questionarem se é sequer uma droga (Witton e Murray, 2004). Esta noção de benignidade e de uso seguro, sugerida pelo movimento pacifista hippie durante as décadas de 50/60, não pode contudo continuar a ser ignorada. Segundo o Relatório Anual de 2010: A Evolução do Fenómeno da Droga na Europa, foram analisados os efeitos adversos para a saúde associados ao consumo de cannabis (OEDT, 2008 a; Hall e Degenhardt, 2009), incluindo-se efeitos agudos como a ansiedade, ataques de pânico e sintomas psicóticos, que foram referenciados por indivíduos que consumiram pela primeira vez. O mesmo documento citado por Hall e Degenhardt (2009) e Moore et al. (2007) reforça esta informação ao afirmar que, “o consumo regular de cannabis na adolescência pode ter efeitos adversos na saúde mental dos jovens adultos, havendo dados que apontam para um maior risco de sintomas psicóticos e de perturbações que aumentam com a frequência do consumo”. Efetivamente as características de neuro desenvolvimento da adolescência potenciam uma maior vulnerabilidade aos consumos de cannabis, podendo alterar os processos normais de desenvolvimento neuronal envolvidos na maturação do cérebro, possivelmente induzindo disfunções nos sistemas neurotransmissores mais relevantes (Parolaro, 2010). As mudanças que ocorrem no cérebro conduzem a alterações nas denominadas vias de recompensa do cérebro (brain reward pathways), permitindo ao individuo que desenvolva comportamentos aprendidos de forma a responder a situações desagradáveis e agradáveis, sendo o mesolímbico o principal regulador da resposta. Os cannabinóides influenciam direta ou indiretamente, o sistema dopaminérgico, nomeadamente a atividade dos neurónios dopaminérgicos no córtex pré-frontal, o que poderá explicar os défices cognitivos e sintomas negativos induzidos pela cannabis, sendo que os sintomas positivos pelo THC surgem no seguimento da hiperatividade dopaminérgica mesolímbica. Estes sistemas de neurotransmissão são os mesmos que os alterados na esquizofrenia e, com efeito a revisão da literatura permite-nos verificar a existência de CANNABIS NA ADOLESCÊNCIA E ESQUIZOFRENIA – O que sabem os jovens e o que devem saber _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ CARMEN OLIVEIRA 27 relação entre o consumo de cannabis e a ocorrência de esquizofrenia, tendo vindo a conjugar-se evidências de que a cannabis constitui um fator de risco para a esquizofrenia (Andreasson et al., 1987; Zammit et al., 2002; Van Os et al., 2002; Fergusson, Horwood e Swain-Campbell, 2003; Smit, Bolier e Cuijpers, 2004; Arseneault et al., 2004; Stefanis et al., 2004; Arenth et al., 2005; Henquet et al., 2005; Moore et al., 2007; Oliveira e Moreira, 2007; Arendt et al., 2008; Van Ours e Williams, 2009; D´Souza, Sewell e Ranganathan, 2010; Bossong e Niesink, 2010; Shapiro e Buckler-Hunter, 2010; Parolaro, 2010; Malone et al., 2010;Sugranges, Flamarique, Parellada et al., 2010 e Dragt et al., 2010. 3. ESQUIZOFRENIA A esquizofrenia é um distúrbio psiquiátrico relatado desde as civilizações mais remotas, sendo considerada uma das perturbações mais estudadas no domínio da psiquiatria (Oliveira e Moreira, 2007). De acordo com a OMS (2002), a esquizofrenia atinge aproximadamente 1,1% da população mundial, encontrando-se identificada praticamente em todo o mundo, atingindo todas as classes sociais e raças (Afonso, 2010), sendo do consenso geral que, de todas as doenças mentais, é sem dúvida a que acarreta maiores custos pessoais, emocionais e sociais (Stuart e Laraica, 2001; Townsend, 2002). Os sintomas geralmente aparecem no final da adolescência ou início da idade adulta, variando o seu aparecimento nos homens entre os 15 e os 25 anos e nas mulheres mais tardiamente entre os 25 e 30 anos de idade (Afonso, 2010). Há geralmente um período prodrómico antes do aparecimento dos primeiros sintomas da esquizofrenia, em que a pessoa, de forma gradual, vai alterando a sua forma de perceber o mundo à sua volta e o relacionamento com os outros (Brussen et al., 2009). Os sintomas da esquizofrenia são complexos, envolvendo aspetos ligados ao pensamento, à perceção, ao rendimento cognitivo, à afetividade e ao comportamento, levando a défices nas relações interpessoais e a uma perda do contacto com a realidade (Afonso, 2010). CANNABIS NA ADOLESCÊNCIA E ESQUIZOFRENIA – O que sabem os jovens e o que devem saber _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ CARMEN OLIVEIRA 28 Tal como o referido por Bressan et al (2009,p.5), “…as pessoas que têm predisposição para a doença são mais vulneráveis ao stress e às deceções perante a vida pelo que, quando elas acontecem, funcionam muitas vezes como os elementos que disparam o processo que desencadeia os sintomas da esquizofrenia”. Os sintomas da esquizofrenia, são classificados em sintomas positivos e sintomas negativos que podem aparecer de forma insidiosa e gradual ou manifestarem-se de modo explosivo e instantâneo. Os sintomas positivos, mais visíveis e presentes na fase aguda da doença são os que mais se reconhecem associados a esta patologia. Resultam de um exagero das funções normais, envolvendo a distorção da realidade e a desorganização do pensamento, através de delírios e alucinações, com a aceleração e desorganização do discurso e do comportamento. Os sintomas negativos refletem um estado deficitário ao nível da motivação, das emoções, do discurso, do pensamento e das relações interpessoais (Afonso, 2010). O individuo apresenta dificuldades na atenção e concentração, o que vai condicionar o seu desempenho tanto laboralcomo escolar, levando os jovens, em particular, a baixar o seu rendimento escolar e mesmo a abandonar os estudos. O desinteresse por atividades até então desenvolvidas como desporto, música entre outras, passa a não ter interesse para o indivíduo, que se afasta destes ambientes, isolando-se socialmente, sendo muitas vezes acusados pela família e amigos como antissocial e preguiçoso. Segundo Bressan et al. (2009), a diminuição do desempenho do indivíduo e o seu gradual isolamento marcam o começo do aparecimento da esquizofrenia. Deste modo e tendo em conta o seu aparecimento precoce, esta doença pode afetar gravemente a personalidade e o decurso de formação profissional da pessoa, comprometendo seriamente o seu futuro como indivíduo autónomo e socialmente produtivo. Podemos assim dizer que o indivíduo sente e pensa de maneira diferente, o que e irá refletir no seu comportamento e na forma como se relaciona com os outros. Apesar de a sua etiopatogenia não estar devidamente esclarecida, acredita-se que a esquizofrenia seja uma doença multifatorial (Van Os J et al., 2008; Oliveira e Moreira, 2007), na qual em alguns casos haverá uma predisposição genética, mas em que são necessários fatores ambientais desencadeantes para ela se manifestar. Afonso (2010) CANNABIS NA ADOLESCÊNCIA E ESQUIZOFRENIA – O que sabem os jovens e o que devem saber _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ CARMEN OLIVEIRA 29 reforça esta ideia ao afirmar que “os fatores genéticos representam um elemento importante na suscetibilidade para a esquizofrenia” no entanto considera que “há provas crescentes que implicam a existência de uma contribuição ambiental para o aparecimento da doença”. Efetivamente a predisposição genética e a vulnerabilidade biológica, por si só, não justificam a ocorrência de esquizofrenia, havendo evidência crescente relativamente à importância de fatores ambientais no desenvolvimento de alterações no cérebro do individuo, que poderão evoluir para a doença. Destacam-se as complicações pré e perinatais, como infeções virusais, intoxicações alimentares, alterações nutricionais e complicações obstétricas, como prematuridade, utilização de fórceps à nascença entre outras complicações causadoras de hipóxia (Afonso, 2010). A hipótese virusal, como a infeção pelo vírus da gripe A, durante os primeiros trimestres de gestação, pode também ser responsável por alterações no desenvolvimento do cérebro da criança. A ação de retrovírus, assim como a exposição ao herpes simples, podem explicar o aparecimento da doença mais tardiamente. Malone et al. (2010), reforçam estas afirmações, referindo que a doença pode resultar, quer de lesões cerebrais na fase pré ou perinatal, quer de distúrbios cerebrais durante a adolescência. D´Souza, Sewell e Ranganathan (2010), sugerem que a exposição à cannabis é uma das causas que, em interação com outros fatores de risco, pode originar o aparecimento de esquizofrenia. Também Shapiro e Buckley-Hunter (2010),confirmam a relação entre o consumo de cannabis e a ocorrência de esquizofrenia, concluindo haver evidência científica que sugere que a cannabis é um fator de risco significativo na etiologia da doença e que os adolescentes são mais vulneráveis, tendo em conta as alterações que surgem no seu crescimento cerebral. Parolano (2010), concluiu através das suas investigações, que o consumo de cannabis pode alterar os processos normais de desenvolvimento neuronal envolvidos na maturação do cérebro dos adolescentes, conduzindo a uma predisposição para o desenvolvimento de esquizofrenia, e que em indivíduos com predisposição para a doença, o consumo de cannabis exacerba os sintomas e piora o prognóstico da doença. CANNABIS NA ADOLESCÊNCIA E ESQUIZOFRENIA – O que sabem os jovens e o que devem saber _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ CARMEN OLIVEIRA 30 Podemos então concluir, com base na evidência científica, que a exposição à cannabis é uma causa ou uma componente contribuinte, que interage com outros fatores de vulnerabilidade, culminando na esquizofrenia. 4. INTERVENÇÃO NAS ESCOLAS A tutela da Saúde Escolar é desde 2002 da responsabilidade do Ministério da Saúde, sendo a sua implementação da responsabilidade dos Centros de Saúde (Programa Nacional de Saúde Escolar – PNSE- Portugal 2006). As formas de operacionalizar a Saúde Escolar e de avaliar o seu impacto têm de ter sempre em conta que “ a Escola deve continuar a ser a grande promotora da saúde” (PNSE, 2006, p.3). No Sistema de Saúde, foi aprovado o Plano Nacional de Saúde (PNS, 2004-2010), em que são definidas as prioridades de saúde baseadas na evidência científica, com o objetivo de obter ganhos em saúde a médio e longo prazo. A estratégia de implementação deste Plano, tendo em vista as necessidades promotoras de saúde, insere-se em programas nacionais, que se pretende sejam desenvolvidos nos ambientes onde os indivíduos vivem, trabalham ou estudam. Também o Plano Nacional de Saúde Mental (PNSM) – (2007-2016, p.29), com base no documento da Rede Europeia para a Promoção da Saúde Mental e a Prevenção das Perturbações Mentais (EU, 2006), privilegia algumas estratégias, como “programas de educação sobre saúde mental na idade escolar…aconselhamento para adolescentes com problemas específicos…” e “sensibilização e informação em diversos sectores como as escolas”. A escola é fundamental para a socialização, para a formação da identidade e para a construção de valores dos jovens, sendo o local onde estes passam a maior parte do seu tempo. Também PNSE (2006,p.3) afirma que “… a escola deve também, educar para os valores, promover a saúde, a formação e a participação cívica dos alunos, num processo de aquisição de competências que sustentem as aprendizagens ao longo da vida e promovam a autonomia”. CANNABIS NA ADOLESCÊNCIA E ESQUIZOFRENIA – O que sabem os jovens e o que devem saber _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ CARMEN OLIVEIRA 31 Assim, ao constituir-se como um espaço seguro e saudável, a escola deve facilitar a adoção de comportamentos mais saudáveis, encontrando-se por isso numa posiçãoideal para promover e manter a saúde da comunidade educativa e da comunidade envolvente (PNSE, 2006). O processo de responsabilização sobre o próprio estado de saúde começa, como em geral todos os aspetos relacionados com o desenvolvimento pessoal, no seio da família, mas necessita de ser reforçado na escola, pois são estes os locais onde os jovens passam a maior parte do seu tempo. (Silva e Deus, 2005). Portugal integra a Rede Europeia de Escolas Promotoras de Saúde, devendo estas escolas distinguir-se pela inovação, cultura de desenvolvimento individual e organizacional, bem como pela implementação efetiva dos princípios e das práticas da promoção da saúde, para que os profissionais de saúde e de educação consigam traduzir esses investimentos em ganhos em saúde. O processo de responsabilização sobre o próprio estado de saúde começa, como em geral todos os aspetos relacionados com o desenvolvimento pessoal, no seio da família, mas necessita de ser reforçado na escola, pois são estes os locais onde os jovens passam a maior parte do seu tempo. (Silva e Deus, 2005). De facto, neste processo considera-se que não são apenas os profissionais de saúde e educação, mas também a família e comunidade, que se devem articular promovendo debates, reflexões, estudos e metodologias diferenciadas centradas no adolescente. Também o PNSE (2006, p.5), reforça esta ideia ao considerar que “ uma escola que se proponha promover a saúde, deve mobilizar a participação direta da comunidade, desde as suas decisões sobre o projeto, ao envolvimento da própria escola, dos serviços de saúde, da comunidade de pais, dos voluntários, das empresas, dos parceiros diversos, até à sua execução e avaliação”. Segundo Reis e Silva (2009), numa equipa multiprofissional é o Enfermeiro quem realiza uma abordagem holística e integradora que tende à aproximação e conquista da confiança e respeito por parte das pessoas, estabelecendo um vínculo mais próximo, sensibilizando os adolescentes para a importância da educação para a saúde com vista à adoção de hábitos de vida saudáveis. Estas intervenções de educação para a saúde além de transmitirem conhecimentos considerados pertinentes, deverão também trabalhar a questão das atitudes, auto- estima, auto-confiança, assertividade e processo de tomada de decisão para CANNABIS NA ADOLESCÊNCIA E ESQUIZOFRENIA – O que sabem os jovens e o que devem saber _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ CARMEN OLIVEIRA 32 desenvolver competências que ajudem estes adolescentes a dizer não aos comportamentos de risco (Andrade et al., 2005). Neste sentido, é possível dar resposta a uma das finalidades do PNSE – “reforçar os fatores de proteção relacionados com os estilos de vida saudáveis” (2006,p.7), através de intervenções de educação/ prevenção para o consumo de substâncias na adolescência. O consumo de cannabis pelos adolescentes, como vários estudos o demonstram constitui uma ameaça, pelo que as ações educativas e as medidas preventivas devem ser múltiplas, e com suporte ativo e convicto de todos os envolvidos, em particular os profissionais educativos e de saúde. Também Sampaio e Matos (2009, p.92) afirmam que, “numa perspetiva de promoção e educação para a saúde, os jovens são um importante alvo no combate ao consumo de substâncias, sendo de prever ações específicas para cenários específicos”. A prevenção primária é apontada como a estratégia ideal a desenvolver com estes jovens, pois é a mais referenciada pelos autores (Arseneault et al., 2002; Van Os et al., 2002; Arseneault et al., 2004; Smit, Bolier e Cuijers, 2004; Arenth et al., 2005; Hall e Degenhardt, 2008). Nesta perspetiva, e segundo o PSNS (2006,p.16) “ o trabalho de promoção da saúde com os alunos tem como ponto de partida o que eles sabem e o que eles podem fazer para se proteger, desenvolvendo em cada um a capacidade de interpretar o real e atuar de modo a induzir atitudes e/ou comportamentos adequados”. Quaisquer medidas de intervenção a implementar, são mais eficazes quando são planeadas tendo em conta as características das pessoas a que se dirigem. Uma das características de uma população alvo, é o conhecimento que detém sobre determinada temática. Os adolescentes devem ser devidamente informados de forma a evitarem o consumo de cannabis, ou atrasarem esse consumo, embora o desejável é mesmo nunca consumirem, reduzindo deste modo a incidência de esquizofrenia (Hall e Degenhardt, 2008). Segundo o PNSE (2006,p.17),”…na prevenção de consumos nocivos e comportamentos de risco, a prioridade deverá ser dada às alternativas saudáveis e promoção de atitudes assertivas”, de forma a promover a autonomia e a CANNABIS NA ADOLESCÊNCIA E ESQUIZOFRENIA – O que sabem os jovens e o que devem saber _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ CARMEN OLIVEIRA 33 responsabilização dos jovens”… no sentido de reduzir as possibilidades ou adiar o início do consumo de uma substância”. No entanto, o PNSE (2006), aponta ainda para a importância da formação de professores, educadores e pais, para a promoção de estilos de vida saudáveis, referindo que as equipas de saúde têm um papel fundamental na sensibilização e reforço de tais competências. A investigação permite-nos hoje intervir de forma refletida e adequada, no que concerne ao consumo de substâncias, verificando-se um cenário positivo, com diminuição dos consumos, possivelmente associado a todas as intervenções educativas que entretanto ocorreram em Portugal. “Um programa de saúde escolar efetivo… é o investimento de custo benefício mais eficaz que um País pode fazer para melhorar, simultaneamente, a educação e a saúde” (PNSE, 2006,p.3). “…os profissionais de saúde e em especial os Enfermeiros da área da Saúde Mental, devem sistematicamente por em prática as diferentes intervenções propostas, dado que a prevenção do consumo de Cannabis pelos adolescentes permitirá reduzir a incidência e a morbilidade da esquizofrenia que, como é sabido, é uma doença mental que ocasiona graves e persistentes prejuízos, não só na vida das pessoas doentes, mas também das suas famílias e sociedade”. Brito et al, (2010). CANNABIS NA ADOLESCÊNCIA E ESQUIZOFRENIA – O que sabem os jovens e o que devem saber _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ CARMEN OLIVEIRA 34 CANNABIS NA ADOLESCÊNCIA E ESQUIZOFRENIA – O que sabem os jovens e o que devem saber _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ CARMEN OLIVEIRA 35 PPAARRTTEE DDOOIISS:: EESSTTUUDDOO EEMMPPÍÍRRIICCOO CANNABIS NA ADOLESCÊNCIA E ESQUIZOFRENIA – O que sabem os jovens e o que devem saber _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ CARMEN OLIVEIRA 36 CANNABIS NA ADOLESCÊNCIA E ESQUIZOFRENIA – O que sabem os jovens e o que devem saber _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ CARMEN OLIVEIRA 37 CAPITULO II. METODOLOGIA Neste capítulo são apresentados os aspetos metodológicos a utilizar para obter as respostas às seguintes questões de investigação 1. QUESTÕES DE INVESTIGAÇÃO Face à problemática em estudo sobre a relação entre o consumo de cannabis na adolescência e o risco acrescido de ocorrência de esquizofrenia e tendo por base a revisão da literatura, formulámos as seguintes questões de investigação: Qual o conhecimento dos jovens acerca da relação entre cannabis e esquizofrenia? Que intervenções podem ser realizadas para promover a saúde mental destes jovens, em função dos ciclos escolares? 2. TIPO DE ESTUDO Para dar resposta às questões de investigação propostas, optámos pela realização de um estudo exploratório e descritivo. Descritivo porque pretende descrever os factos e fenómenos de determinada realidade e exploratório pois permite ao investigador aumentar a sua experiência, aprofundar o seu estudo e adquirir um maior conhecimento a respeito de um problema, podendo ainda servir para levantar possíveis problemas de pesquisa. Assim e tendo em conta o Programa de Saúde Escolar desta UCC, iremos dar resposta ao tema “Consumo de Substâncias Psicoativas, mais concretamente à Atividade A33 – “Realização do diagnóstico de situação sobre conhecimentos, comportamentos e atitudes relacionadas com o consumo de substâncias psicoativas dos alunos, em concreto sobre a cannabis (Anexo I). CANNABIS NA ADOLESCÊNCIA E ESQUIZOFRENIA – O que sabem os jovens e o que devem saber _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ CARMEN OLIVEIRA 38 3. INSTRUMENTO DE COLHEITA DE DADOS Na opinião de Hill (2002), o questionário é uma das mais importantes e significativas técnicas para a obtenção de dados. Assim no presente trabalho decidimos elaborar um questionário, estruturado em quatro partes distintas (Apêndice I): A primeira inclui as variáveis de caracterização, nomeadamente: idade, género, ano de escolaridade e profissão dos pais; A segunda parte inclui sete questões relacionadas com o conhecimento acerca da cannabis e dos seus efeitos/complicações; A terceira parte inclui cinco questões relacionadas com o conhecimento dos adolescentes acerca da esquizofrenia; A última parte inclui duas questões relacionadas com a relação entre o consumo de cannabis e a ocorrência de esquizofrenia. Trata-se de um questionário de auto preenchimento, em que se solicita que se coloque no quadrado referente a cada resposta verdadeira, um (V), e nas respostas que considerem falsas, um (F).Os alunos foram informados acerca do anonimato do questionário, assim como da confidencialidade das respostas. Para nos assegurarmos da qualidade das respostas, e tendo em conta que um dos problemas relacionados com a precisão e validade dos questionários respondidos pelos adolescentes, pode ser devido à não compreensão das questões colocadas, fez- se um pré teste do documento a utilizar, a uma amostra reduzida, num total de 14 alunos, 2 de cada ano de escolaridade. Concluímos que para as respostas que os inquiridos não sabiam responder, não tínhamos definido forma clara de o revelarem, tendo-se decidido que neste caso o quadrado à frente da resposta ficaria em branco. Relativamente à compreensão das questões, não foram reportadas dificuldades, a não ser no conceito de apatia, que grande parte dos jovens não sabia o significado, tendo-se ajustado esta dificuldade, colocando-se a seguir ao termo apatia o seu conceito. As alterações efetuadas não modificaram a estrutura básica do instrumento de colheita de dados, permitindo-nos temporizar o seu preenchimento em cerca de 25 a 30 minutos. CANNABIS NA ADOLESCÊNCIA E ESQUIZOFRENIA – O que sabem os jovens e o que devem saber _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ CARMEN OLIVEIRA 39 4. PROCEDIMENTOS ÉTICOS E LEGAIS NA COLHEITA DE DADOS E CONSTITUIÇÃO DA AMOSTRA Para a realização da nossa pesquisa foram desenvolvidas estratégias de modo a adotar alguns dos princípios éticos essenciais a qualquer trabalho de investigação. Deste modo, e uma vez que este trabalho foi uma proposta da Coordenadora da Saúde Escolar
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