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Cannabis, Fibromialgia e Dor - Uma Breve Revisão - TCC


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SBEC – SOCIEDADE BRASILEIRA DE ESTUDOS DA CANNABIS 
 
 
BRUNO PEROZZO 
 
 
 
 
 
 
CANNABIS, FIBROMIALGIA E DOR: UMA BREVE REVISÃO 
 
 
 
 
 
 
 
São Paulo 
2019 
CANNABIS, FIBROMIALGIA E DOR: UMA BREVE REVISÃO 
 
 
 
BRUNO PEROZZO 
 
 
 
Médico veterinário – UNIPINHAL – Centro Regional de Espírito Santo do Pinhal 
 
 
 
 
Orientador: Professor Doutor Paulo Rogério Morais 
 
 
 
 
São Paulo 
2019 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
"Dedico este trabalho àqueles que sofrem em silêncio. 
Seja sofrimento mental, físico ou emocional, 
sua angústia é respeitada, merece compaixão e suporte. 
Sinta-se amado, sinta-se querido, sinta-se heroico. 
Seja forte, aguente firme e nunca desista!" 
RESUMO 
 
Há milhares de anos a Cannabis tem sido utilizada pelos seres humanos e, com o 
aumento do número de países regulamentando seu uso e permitindo o acesso, surge 
a necessidade de conhecer melhor sua capacidade medicinal no tratamento da dor e 
da qualidade de vida, mais especificamente em portadores de fibromialgia. Dentre 
trabalhos, livros e revisões de artigos, pode-se confirmar o potencial terapêutico 
positivo com efeitos colaterais menos danosos quando comparada aos alopáticos. 
Apesar do acesso à cannabis medicinal no Brasil ainda ser restrito, novos caminhos 
se abrem - aos poucos - e trazem esperança a um tratamento digno, eficaz e mais 
completo em alternativa aos tratamentos disponíveis no mercado. 
 
Palavras-chave: Cannabis; fibromialgia; dor; qualidade de vida. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ABSTRACT 
 
For thousands years cannabis has been used by humans and with the increasing 
number of countries regulating its use and allowing access to it, there is need to know 
more about it’s medicinal capacity in the treatment of pain and quality of life more 
specifically in patients with fibromyalgia. Among works, books and articles reviews, it's 
possible to confirm your positive therapeutic potential with less side effects when 
compared to allopathic ones. Although access to medical cannabis in Brazil is still 
restricted, new paths open up and bring hope from a dignified, effective and more 
complete treatment as an alternative to the available treatments in the market. 
Keywords: Cannabis; fibromyalgia; pain; quality of life. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
1. INTRODUÇÃO................................................................................1 
2. FIBROMIALGIA...............................................................................2 
3. CANNABINÓIDES, ENDOCANNABINÓIDES, 
FITOCANNABINÓIDES E RECEPTORES..............................................5 
4. TRATAMENTO..............................................................................10 
5. EFEITOS ADVERSOS E RISCOS................................................13 
6. CONCLUSÃO................................................................................15 
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.............................................19 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE FIGURAS 
 
Figura 1 – Pontos gatilho para identificação da fibromialgia.....................3 
Figura 2 – Molécula de THC e CBD..........................................................6 
Figura 3 – Distribuição de receptores CB1 e CB2 no corpo humano........7 
Figura 4 – Molécula de nabilona................................................................9 
Figura 5 – Molécula de dronabinol.............................................................9 
 
 
1 
 
1. INTRODUÇÃO 
A fibromialgia é um distúrbio comum e sua prevalência na população do planeta 
é de 7% (Habib, G. & Avisar, I. 2018). Após muitos anos de pesquisa, ainda não existe 
uma medicação efetiva (Ivker, 2018) e o tratamento principal é o uso de analgésicos 
para controle da dor. Alguns pacientes relatam melhora com uso de 
benzodiazepínicos, antidepressivos tricíclicos e outros antidepressivos, no entanto 
muitas dessas medicações expõem o paciente a efeitos adversos (Habib, G. & Avisar, 
I. 2018). O diagnóstico é clinico, ou seja, não necessita de exames complementares 
para comprovar que ela está presente (Sociedade Brasileira de Reumatologia, 2011). 
Este trabalho busca, na revisão de literatura, trazer informações acerca do 
potencial terapêutico da cannabis no controle da dor crônica, especificamente em 
portadores de fibromialgia. Conhecer a efetividade da cannabis como opção ao 
controle da dor e qual o grau de alívio apresenta para os pacientes. Além da dor, 
buscamos descobrir se há auxílio em outros sintomas apresentados pelos portadores. 
Visto que a fibromialgia é uma síndrome complexa e que demanda uso de 
vários grupos farmacológicos, nos interessa informações sobre interações 
medicamentosas e efeitos adversos que possam ocorrer nos pacientes que fazem uso 
de alopáticos concomitantes à cannabis. 
Neste trabalho será apresentada e investigada a patologia. Haverá menção e 
descrição dos canabinóides e processos farmacocinéticos acerca deles, bem como 
relato de efeitos adversos e resultados de tratamento, caracterizado como uma nova 
opção a ser explorada pela medicina. 
 
 
2 
 
2. FIBROMIALGIA 
A fibromialgia é uma doença caracterizada por dor crônica generalizada, 
combinada com alguma forma de acometimento psiquiátrico. (Blesching, 2015) 
Ivker (2018) define que os sintomas primários da fibromialgia são dores 
musculares generalizadas, sensibilidade muscular, rigidez muscular e fadiga 
significante. Outros sintomas incluem distúrbios do sono, depressão, memória fraca e 
baixa concentração; dor de cabeça ou enxaqueca, tontura, formigamento de 
extremidades, síndrome do intestino irritado, urgência em urinar e síndromes da 
articulação temporomandibular (ATM). 
A fibromialgia acomete principalmente mulheres (10 mulheres para cada 
homem) com idade entre 25 e 50 anos. Estima-se que 15 a 20% dos pacientes que 
se consultam com reumatologista tenham fibromialgia. (Ivker, 2018) 
Não existe teste específico que proporcione um diagnóstico preciso. Os 
sintomas geralmente são similares aos do reumatismo, artrite e osteoporose. 
(Blesching, 2015). Hemogramas e radiografias normalmente não revelam alterações 
específicas. (Ivker, 2018) 
Bleshing (2015) informa que o critério estabelecido para o diagnóstico pelo 
Colégio Americano de Reumatologia inclui histórico de dor difusa pelo corpo e dor 
crônica persistente há mais de três meses, presente nos quatro quadrantes do corpo 
bem como a presença de dor em 11 de 18 pontos gatilhos específicos. 
3 
 
 
Figura 1 – Pontos gatilhos da fibromialgia. 
Fonte: https://www.lilly.com.br/Areas_Terapeuticas/Fibromialgia 
 
Pacientes portadores de fibromialgia desenvolvem alterações anatômicas, 
fisiológicas e químicas no Sistema Nervoso Central (SNC) que contribuem 
potencialmente para os sintomas experimentados por eles. (Blesching, 2015) 
Apesar das numerosas alterações cerebrais, fibromialgia pode não ser o 
primeiro distúrbio do cérebro, mas sim a consequência de estresse precoce ou 
estresse severo prolongado, afetando a o circuito de modulação cerebral da dor e 
emoção em indivíduos geneticamente suscetíveis. (Blesching, Uwe. 2015). Para Ivker 
(2018), os fatores de risco estão sempre associados com síndrome de fadiga crônica. 
Pesquisadores sugerem danos à produção de energia nas células mitocondriais (o 
centro de produção de energia das células), como resultado de um excesso de 
4 
 
radicais livres, sendo a causa primária da fibromialgia. Baixos níveis do 
neurotransmissor Serotonina também contribuem para o desenvolvimento da 
fibromialgia. O desligamento metabólico das células musculares pode ser possível 
devido ao acúmulo de fosfato e ácido úrico. 
Sabe-se que em portadores de fibromialgia, o corpo quebra proteína muscular 
em uma taxa excepcionalmente alta e converteisso em glicose para energia. Há 
teorias que isso aumenta a ruptura do tecido muscular, sendo a causa primária da dor, 
fadiga e latejamento. (Ivker, 2018) 
A Sociedade Brasileira de Reumatologia relata que, habitualmente, o paciente 
tem dificuldade de definir quando começou a dor, se começou isolado e difundiu ou 
se já começou no corpo todo. O paciente sente mais dor no fim do dia, mas também 
pode haver dor pela manhã. A dor é sentida “nos ossos”, “na carne” e ao redor das 
articulações. 
Portadores de fibromialgia têm maior sensibilidade ao toque, sendo que muitos 
pacientes não toleram nem mesmo serem abraçados. Não há inchaço nas 
articulações pois elas não estão inflamadas. O inchaço pode aparecer pela contração 
da musculatura em resposta à dor. 
Alteração do sono é frequente, afetando aproximadamente 95% dos 
portadores. No início da década de 80, descobriu-se um defeito típico: dificuldade em 
manter o sono profundo. O sono tende a ser superficial e/ou interrompido. A depressão 
pode ser observada em 50% dos pacientes com fibromialgia. Isto quer dizer duas 
coisas: que a depressão é comum nestes pacientes e que nem todo paciente com 
fibromialgia tem depressão. Não se pode deixar a depressão de lado ao avaliar o 
5 
 
portador de fibromialgia. A depressão, por si só, piora o sono, aumenta a fadiga e 
sensibilidade do corpo. (Sociedade Brasileira de Reumatologia, 2011) 
Um relato comum dos portadores de fibromialgia é sobre alterações na 
memória e atenção. Isso se deve mais ao fato da dor crônica do que alguma lesão 
cerebral grave. Para o corpo, a dor é sempre um sintoma importante e o cérebro 
dedica energia lidando com esta dor. Assim, deixa outras tarefas como memória e 
atenção prejudicadas. (Sociedade Brasileira de Reumatologia, 2011) 
 
3. CANABINÓIDES, ENDOCANABINÓIDES, FITOCANABINÓIDES E 
RECEPTORES 
Os canabinóides são derivados de plantas do gênero Cannabis spp. que é 
considerada ilícita na grande maioria dos países, contudo é utilizada legal ou 
ilegalmente de forma ampla (Habib, G. & Artul, S. 2018). 
Habib & Artul (2018) relatam que as duas espécies mais importantes da planta 
são a Cannabis sativa e Cannabis indica. A maioria das espécies hoje são híbridas 
das duas, sendo as derivadas da sativa destinada ao uso matutino, já que induz a 
“energia”, e as derivadas de indica destinadas ao período noturno, já que induz ao 
relaxamento e sono. As flores de cannabis possuem mais de 100 tipos de 
fitocanabinóides. A maioria dos estudos focam no THC e CBD, pois ambos são 
encontrados em concentrações mais altas na planta. 
6 
 
 
Figura 2 – Moléculas de THC e CBD 
Fonte: https://www.philosopherseeds.com/blog/en/cannabinoids-marijuana/ 
 
Muitos dos pacientes costumam utilizar de 02 a 03 cepas de cannabis a 
procurando obter diferentes fitocanabinóides. Isso indica que uma única cepa não é 
suficiente para as diferentes queixas como dor, insônia, ansiedade ou falta de energia. 
Diferentes cepas e diferentes concentrações de THC e CBD amenizam tais relatos. 
(Habib, G., & Avisar, I. 2018) 
Para Whiteley, 2016, os canabinóides aliviam a dor por uma variedade de 
mecanismos: diretamente pelos receptores CB1 e CB2 do corpo bem como por 
mecanismo não-receptor, modulação de neurotransmissores (NT) e interação com 
opióides endógenos (produzidos internamente) como a endorfina. 
Existem 02 receptores conhecidos de canabinóides endógenos 
(endocanabinóides): CB1 e CB2. CB1 é mais comumente encontrado no sistema 
nervoso central; CB2 é encontrado em diferentes órgãos do corpo, e sua atividade 
também está relacionada ao sistema imunológico. O THC é agonista parcial dos 
receptores CB1 e CB2, e o CBD é o antagonista. A ativação do CB1 resulta na 
diminuição dos sinais sinápticos e excitabilidade neurológica. (Habib, G., & Artul, S. 
2018). 
7 
 
 
Figura 3 – Distribuição de receptores CB1 e CB2 
Fonte: https://medium.com/cbd-origin/the-endocannabinoid-system-everything-you-need-to-
know-1c38a648cafb 
 
Receptores CB1 e CB2 e os endocanabinóides 2AG e anandamida possuem 
funções diferentes na modulação da dor. Por exemplo, THC (tetra-hidrocanabinol) tem 
relativamente maior afinidade pelo receptor CB1; ele é fortemente atraído para se 
encaixar neste receptor. THC é um agonista CB1 que aumenta a atividade do Sistema 
Endocanabinóide. Quando a molécula do THC se encaixa ao receptor CB1, ativando 
aquela parte do Sistema Endocanabinóide, temos os efeitos eufóricos bem 
conhecidos do THC e seu potente efeito analgésico; quando os receptores CB2 são 
ativados, inflamação crônica e dor neuropática passa a ser modulada. O THC também 
ativa os receptores CB2. (Whiteley, 2016) 
Whiteley (2016) também afirma que o CBD (canabidiol), segundo 
fitocanabinóide mais evidente próximo ao THC, também é analgésico. O CBD não se 
8 
 
encaixa em qualquer receptor CB1 ou CB2. Ele atua como um estimulante do Sistema 
Endocanabinóide suprimindo a enzima FAAH (Hidrolase da Amida de Ácidos Gordos), 
que quebra a anandamida que se encaixa no CB1. Portanto, o consumo de CBD leva 
a menor quebra de anandamida, o que a faz permanecer no organismo por mais 
tempo. Em outras palavras: o CBD aumenta o poder dos endocanabinóides do corpo. 
Juntos, THC e CBD são melhores moduladores da dor do que separados. 
Outros fitocanabinóides como o CBC (canabicromeno), CBG (canabigerol) e 
THCV (tetrahidrocanabivarina) bem como os terpenos mirceno (analgésico), beta-
cariofileno (analgésico, anti-inflamatório), alfa-pineno (antibiótico, anti-inflamatório, 
broncodilatador) e linalol (anestésico), também contribuem para a modulação da dor. 
(Whiteley, 2016) 
Os avanços científicos permitiram extrair os princípios ativos da cannabis e 
desenvolvê-los sinteticamente, prometendo redução da dor de forma segura e efetiva. 
Essa hipótese é baseada no caminho da farmacologia, a fim de desenvolver drogas 
mais seguras e efetivas que as próprias plantas. Por exemplo, nabilona e dronabinol 
são canabinóides sintéticos, cujas moléculas são compatíveis com o THC. Estão 
disponíveis e foram aprovadas pelo FDA (Food and Drug Administration) nos EUA. 
(Romero-Sandoval et al. 2018) 
 
 
9 
 
 
Figura 4 – Molécula de nabilona 
Fonte: https://www.rxlist.com/cesamet-
drug.htm#description 
Figura 5 – Molécula de dronabinol 
Fonte: 
https://www.philosopherseeds.com/blog/en/canna
binoids-marijuana/ 
 
Supreendentemente, como um paradoxo farmacológico moderno jamais visto 
nas diretrizes do FDA, canabinóides sintéticos orais demonstram conflitos nos 
resultados dos pacientes com dor crônica (avaliados de “não significante” para “baixa 
significância” na redução da dor quando comparado a placebos). Eles também 
apresentam benefícios parciais em alguns aspectos relacionados a dor crônica, sono 
e qualidade de vida. Em adição à sua eficácia limitada para tratar a dor, a tolerância 
parece ser a limitação principal para seu uso. O número de pacientes que parou o 
tratamento com canabinóides sintéticos orais devido aos relatos de efeitos adversos 
ou baixa eficiência é maior que aqueles observados quando tratados com 
fitocanabinóides. Essa evidência indica que os perfis de tolerância e eficácia de 
canabinóides sintéticos são inferiores aos fitocanabinóides. Isso também é notado nos 
pacientes de dor crônica que preferem fazer uso da planta toda em vez de 
canabinóides orais. (Romero-Sandoval et al. 2018). 
Em um estudo de 48 semanas, dronabinol não mostrou superioridade ao 
placebo. Curiosamente, a indução de efeitos adversos pelo dronabinol foi maior que 
10 
 
o placebo, porém, reduzido após 4 semanas de administração, sugerindo que 
tolerância pode ser desenvolvida em um curto espaço de tempo quando THC puro 
sintético é administrado por via oral. (Romero-Sandoval et al. 2018) 
Em avaliações aleatórias de ensaios clínicos de cannabis inalada para controle 
de dor crônica, a concentração de THC na cannabis nuncafoi superior a 10%, 
variando entre 0 – 1,29% a 9,4%. De fato, em vários estudos, baixas concentrações 
de THC (1%, 1,29% e 2,9%) mostraram, significativamente, eficácia para controle da 
dor. Além disso, em praticamente todos estudos com alto teor de THC, apresentaram 
consistentemente efeitos colaterais, causando na maioria dos pacientes a 
descontinuação do tratamento. (Romero-Sandoval et al. 2018) 
Enquanto a alta concentração de THC é focada pelos consumidores 
recreativos, farmacologicamente falando mais THC não é, necessariamente, melhor 
para os pacientes. Isso é observado em usuários experientes de cannabis, que 
encontram alívio para a dor quando utilizam cannabis com 12,5% de concentração de 
THC durante 12 meses. (Romero-Sandoval et al. 2018) 
 
4. TRATAMENTO 
De acordo com Blesching, 2015, o tratamento da fibromialgia por grupo 
alopático inclui relaxante muscular, analgésicos opióides, antidepressivos, 
anticonvulsivantes, agonista de dopamina e canabinóides. 
O anticonvulsivante pregabalina (nome comercial Lyrica) é frequentemente 
prescrito para dor fibromiálgica. No entanto, a pregabalina pode causar sonolência, 
tontura, xerostomia (boca seca), constipação e visão borrada. Antidepressivos como 
a duloxetina (nome comercial Cymbalta) são utilizados a fim de proporcionar alívio a 
11 
 
curto prazo para o sono e depressão, enquanto anti-inflamatórios são utilizados para 
tratar a dor, com resultados muito baixos de efetividade. (Ivker, 2018) 
Whiteley, 2016, relata que certas patologias com altas taxas de dor como 
fibromialgia e enxaqueca, podem ser associadas à deficiência de endocanabinóides. 
Isso ajuda explicar, em partes, por que cannabis é efetiva nessas patologias. Elas 
demonstram padrões clínicos, bioquímicos e patofisiológicos que sugerem deficiência 
de endocanabinóides e que podem ser tratados adequadamente com medicina 
endocanabinóide. 
Existem poucos estudos na literatura sobre o uso de canabinóides em 
pacientes com fibromialgia. Nesses estudos, os pacientes utilizam cannabis sem 
licença e de diferentes fornecedores e os estudos também não apresentam 
informação ou quantidade (em gramas) de cannabis utilizada. No geral, os pacientes 
desses estudos relatam efeitos favoráveis ao uso de cannabis. Uma revisão 
sistemática sobre o uso de canabinóides sintéticos (Nabilona) em fibromialgia 
apresentou evidência (de baixa qualidade) de redução na dor e limitações de saúde e 
qualidade de vida no grupo de usuários de canabinóides sintéticos em comparação 
ao grupo placebo e melhoras no efeito do sono quando comparado a Amitriptilina 
(Habib, G. & Artul, S. 2018). 
Neste estudo, o autor obteve dados de 02 hospitais de Israel sobre pacientes 
portadores de fibromialgia que eram tratados com cannabis. Foram identificados 30 
pacientes e somente 26 foram incluídos no estudo. Havia 19 pacientes do sexo 
feminino (73%), e a média de idade do grupo era 37,8 ± 7,6 anos. A dose média de 
cannabis utilizada foi 26 ± 8,3 gramas ao mês, e a duração do tratamento com 
cannabis foi 10,4 ± 11,3 meses, com duração média de 03 meses. Após o início do 
tratamento, todos os pacientes reportaram melhora significativa em cada parâmetro 
12 
 
analisado; 13 pacientes (50%) pararam totalmente com outros medicamentos para 
fibromialgia. Oito pacientes (30%) relataram efeitos adversos bem leves. (Habib, G. & 
Artul, S. 2018). 
A dose média de consumo mensal foi de 26 ± 8,3, o que indica que 
aproximadamente 1 grama de cannabis ao dia pode ser suficiente para controlar os 
sintomas da fibromialgia. (Habib, G. & Artul, S. 2018). 
Como formas de administração, a vaporização aparece como alternativa 
primária para pacientes que não querem fumar, enquanto gotas de óleo de 
canabinóides sintéticos são consideradas fracas em termo de eficácia e geralmente 
utilizadas para complementar a vaporização. A vantagem do óleo em relação a 
vaporização é que nele podemos mensurar a concentração e a dose que o paciente 
toma. (Habib, G. & Avisar, I. 2018) 
Desde que a fadiga é um sintoma proeminente na fibromialgia, recomenda-se 
evitar o uso de cepas de cannabis indica e ricas em CBD, já que podem elevar a 
fadiga. Melhores resultados são encontrados quando utilizamos produtos de uso 
tópico, como patches transdérmicos (1:1 CBD:THC), vaporização de cepas 50:50 
(sativa-indica) ou híbridas sativa dominante (60:40, 70:30) caso o paciente suporte os 
efeitos psicoativos, e óleo full spectrum na proporção 1:1 (Ivker, 2018) 
Para Romero-Sandoval et al., o CBD pode reduzir efeitos psicoativos não 
desejáveis do THC e potencializar outros efeitos (dos anticonvulsivantes e 
analgésicos) quando utilizado em conjunto. Provavelmente por não executar efeitos 
em receptor CB1 ou por sua modulação positiva do sistema endocanabinóide. Outros 
estudos mostram que o CBD oral não altera os efeitos psicoativos induzidos por 
cannabis fumada, o que indica que a interação entre CBD e THC depende da 
13 
 
farmacocinética e via de administração em adição às suas ações nos receptores CB1 
e CB2. 
Outra consideração óbvia no tratamento da dor crônica e uso de canabinóides 
é sobre sua potencial interação com opióides. Mais de 35% dos pacientes utilizam 
canabinóides em substituição aos opióides para tratamento da dor. Além disso, 
canabinóides inalados proporcionam melhor analgesia quando combinados com 
opióides. Similarmente, pacientes que utilizam drogas controladas e usam 
canabinóides para controle da dor, relatam que os canabinóides são mais eficientes 
que as drogas controladas. Em estudo, cannabis (6%-14% THC e 0,2%-3,8% CBD) 
utilizada diariamente por 6 meses resultou em redução significante dos sintomas da 
dor, intensidade da dor e interferência da dor. Neste mesmo estudo, uma significante 
proporção de pacientes (44%) descontinuou o uso de opióides com a intervenção da 
cannabis. (Romero-Sandoval et al. 2018) 
Este estudo demonstra que cannabis não só dispõe de potencial uso clínico 
como também demonstra que é clinicamente útil para o tratamento da dor crônica e é 
mais segura e tolerável por uso prolongado sob supervisão médica. Entretanto, 
monitoramento de parâmetros do paciente e cautela são requisitos para padronizar 
seu uso. (Romero-Sandoval et al. 2018) 
 
5. EFEITOS ADVERSOS E RISCOS 
A grande maioria dos efeitos adversos relatados tem relação com a forma de 
uso da cannabis. A mais prejudicial, sem dúvida, é a forma fumada/inalada. Segundo 
Romero-Sandoval et al. 2018, A inalação dos subprodutos da combustão representa 
o maior risco à saúde. 
14 
 
Xerostomia (boca seca), vermelhidão dos olhos e fome também são 
destacados. Tais efeitos apareceram no início do tratamento e, os dois primeiros 
(xerostomia e vermelhidão dos olhos) são transitórios, encontrados apenas quando 
se fuma a cannabis. (Habib, G. & Artul, S. 2018) 
Habib & Avisar (2018) demonstram que, quando inalada/fumada, os efeitos 
adversos relatados foram leves e transitórios como irritação dos olhos ou garganta 
(sem dados registrados). Vale ressaltar que somente em 8% dos usuários de cannabis 
medicinal foi detectado dependência enquanto em alopáticos identificou-se 66%. Em 
85% dos casos, os pacientes pararam completamente com medicação alopática ou 
reduziram a dose. Isso reflete a vantagem da cannabis medicinal em relação aos 
demais tratamentos, somados aos efeitos favoráveis no sono e humor. Em 81% dos 
pacientes, houve relato no aumento da capacidade de execução de tarefas diárias e 
64% relatou voltar ao trabalho ou atividades em período integral, ponto importante 
para o paciente pessoalmente, sua família e para sociedade em geral. 
De acordo com a Academia Nacional de Ciências em Cannabis Medicinal 
(National Academy of Sciences on Medicinal Cannabis), existem evidencias 
substanciais que sugerem que o consumo de cannabis em idade precoce, representa 
risco de desenvolver uso abusivo de cannabis. O relatório tambémindica que a 
frequência do uso de cannabis é associada à progressão ao abuso. Aproximadamente 
18,8% das pessoas que utilizam cannabis diariamente desenvolvem algum tipo de 
desordem em seu uso. (Romero-Sandoval et al., 2018) 
Romero-Sandoval et al. 2018, indica que pessoas com depressão são mais 
vulneráveis a desenvolver vício em cannabis. Entretanto, em outro estudo, pacientes 
com dor crônica que utilizam cannabis apresentam taxas mais baixas de depressão e 
ansiedade em comparação à pacientes de dor crônica que se tratam com drogas 
15 
 
prescritas ou opióides. Já que a depressão geralmente acompanha dor crônica, os 
médicos devem dedicar atenção especial à pacientes que fazem uso de cannabis 
medicinal e sofrem de dor crônica e depressão. 
Pacientes com estresse pós-traumático e com histórico de doença psiquiátrica 
também devem ser monitorados. Há evidências moderadas de que o abuso de 
cannabis associado com tratamento psiquiátrico aumenta a severidade dos sintomas 
pós-traumáticos. (Romero-Sandoval et al., 2018) 
O uso de cannabis aumenta o risco de desenvolver resultados psicóticos. Esse 
risco tem concentração uso e frequência-dependente de THC. Pacientes com 
psicoses induzidas por cannabis tem risco maior (50%) de desenvolver esquizofrenia 
ou transtorno bipolar, especialmente jovens adultos (16-25 anos). Essa evidência 
argumenta contra o uso de altas concentrações de THC (>10-15%) por longos 
períodos, o que tem relevância particular com o tratamento da dor crônica. (Romero-
Sandoval et al., 2018) 
Romero-Sandoval et al. (2018) destacam que o abuso potencial ou risco de 
abuso de cannabis vs. opióides é muito mais favorável à cannabis. 
 
6. CONCLUSÃO 
O motivo pela qual algumas pessoas desenvolvem fibromialgia e outras não, 
ainda é desconhecido. (Sociedade Brasileira de Reumatologia, 2011) 
O que não mais se discute é se a dor do paciente é real ou não. Hoje, com 
técnicas de pesquisas que permitem ver o cérebro em funcionamento em tempo real, 
16 
 
confirmou-se que os pacientes estão sentindo a dor que referem. (Sociedade 
Brasileira de Reumatologia, 2011) 
Apesar de ser extremamente limitante, a fibromialgia é considerada benigna. 
Ela não causa ataque cardíaco, AVC, câncer ou perda de vida. (American College of 
Reumathology, 2019) 
Para Habib & Artul (2018), o tratamento com cannabis é associado a 
significantes resultados favoráveis, com baixos efeitos colaterais, em cada avaliação 
do paciente. Em alguns casos, a melhoria foi tão marcante que os pacientes cessaram 
totalmente o uso de alopáticos e, em outros casos, houve redução significativa. Os 
pacientes expressaram os resultados em suas próprias palavras, como “eu gostaria 
de ter conhecido esse tratamento antes”, eu voltei a ser a pessoa que eu era antes”, 
“eu recuperei minha saúde” e “este é um tratamento milagroso”. 
Num estudo em Israel, alto percentual de pacientes (94%) relatou alívio da dor; 
o impacto positivo no sono, problema comum em grande parte dos pacientes, também 
foi similar (93%), fazendo da cannabis um remédio versátil. Ela também auxilia na 
depressão e ansiedade, apesar de ser relatado por baixa porcentagem de pacientes. 
Esses pontos tornam a cannabis muito atraente para os portadores de fibromialgia. 
(Habib, G., & Avisar, I. 2018) 
A dose média de consumo mensal foi de 26 ± 8,3, o que indica que 
aproximadamente 1 grama de cannabis ao dia pode ser suficiente para controlar os 
sintomas da fibromialgia. (Habib, G., & Artul, S. 2018). 
A exposição de pacientes de dor crônica à altas concentrações de THC os 
coloca em risco de efeitos adversos ou quadros sem efeitos benéficos adicionais, 
17 
 
desenvolverem tolerância ou potencial abuso. (Romero-Sandoval, E. A., Fincham, J. 
E., Kolano, A. L., Sharpe, B. N., & Alvarado-Vázquez, P. A. 2018) 
Embora pesquisas anteriores tenham proposto um papel para a deficiência 
endocanabinóide na fibromialgia, o papel potencial dos canabinóides endógenos na 
patogênese da fibromialgia ainda é desconhecido. Mais estudos são necessários para 
identificar tais papéis. A distribuição de receptores endocanabinóides pelo corpo 
favorece a teoria proposta de sensibilização central na patogênese da fibromialgia. 
(Habib, G., & Artul, S. 2018). 
Para Romero-Sandoval et al. (2018), o conteúdo molecular de canabinóides 
sintéticos vs. fitocanabinóides pode determinar a eficácia diferencial no tratamento da 
dor. Canabinóides sintéticos possuem a vantagem de padronização e apresentação 
de dose. Em contrapartida, fitocanabinóides possuem dezenas de canabinóides. A 
combinação de todas as moléculas exclusivas de cannabis, mais a possível interação 
dos principais canabinóides com outras moléculas presentes na planta fornecem um 
efeito benéfico adicional para o tratamento da dor que atualmente não é conhecido 
mas é, definitivamente, uma possibilidade. 
A legalização da cannabis com finalidade medicinal permitirá vantagem 
significante no controle da qualidade da planta permitindo padronizar cepas e atingir 
“grau farmacêutico”, com certificação de limpeza e segurança, livre de toxinas e com 
a concentração de canabinóides conhecida. (Romero-Sandoval, E. A., Fincham, J. E., 
Kolano, A. L., Sharpe, B. N., & Alvarado-Vázquez, P. A. 2018) 
Romero-Sandoval et al. (2018), defendem que a medicina moderna e a 
comunidade de pesquisa devem implementar novos parâmetros para atuar frente os 
desafios da cannabis, com intuito de proporcionar abordagem e manutenção segura 
18 
 
do paciente. É necessária mais pesquisa científica para entender os mecanismos de 
ação da cannabis a fim de desenvolver terapias mais eficazes com reduzidos efeitos 
colaterais. A necessidade desses avanços seria alcançada de forma mais eficiente se 
as restrições de acesso à cannabis fossem reduzidas. 
Baseado em evidências, pode-se concluir que cannabis demonstra ter potencial 
para redução do consumo de opióides e é efetiva contra dor crônica (Romero-
Sandoval et al. (2018), além disso, atua positivamente em outros sintomas 
apresentados pelos portadores de fibromialgia, tornando-a um forte aliado no 
tratamento dos pacientes que buscam amenizar o sofrimento invisível e garantir 
qualidade de vida. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
19 
 
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
AMIGUES, Isabelle. Fibromyalgia - American College of Rheumatology. Estados Unidos, 
Março 2019. Disponível em: https://www.rheumatology.org/I-Am-A/Patient-
Caregiver/Diseases-Conditions/Fibromyalgia. Acesso em: 1 maio 2019. 
BLESCHING, Uwe. Fibromyalgia. In: BLESCHING, Uwe. The Cannabis Health Index: 
Combining the Science of Medical Marijuana with Mindfulness Techniques To Heal 100 
Chronic Symptoms and Diseases. [S. l.]: North Atlantic Books, 2015. 
FIBROMIALGIA – Definição, Sintomas e Porque Acontece - Sociedade Brasileira de 
Reumatologia. Brasil, 20 abr. 2011. Disponível em: 
https://www.reumatologia.org.br/orientacoes-ao-paciente/fibromialgia-definicao-sintomas-
e-porque-acontece/. Acesso em: 1 maio 2019. 
Habib, G., & Artul, S. (2018). Medical Cannabis for the Treatment of Fibromyalgia. 
JCR: Journal of Clinical Rheumatology, 24(5), 255–258. 
Habib, G., & Avisar, I. (2018). The Consumption of Cannabis by Fibromyalgia 
Patients in Israel. Pain Research and Treatment, 2018, 1–
5.doi:10.1155/2018/7829427 
IVKER, Rav. Fibromyalgia - You‘re Your Highest Priority. In: IVKER, Rav. Cannabis for Chronic 
Pain: A Proven Prescription for Using Marijuana to Relieve Your Pain and Heal Your 
Life. [S. l.]: Atria Books, 2018. 
Romero-Sandoval, E. A., Fincham, J. E., Kolano, A. L., Sharpe, B. N., & Alvarado-
Vázquez, P. A. (2018). Cannabis for Chronic Pain: Challenges and Considerations. 
Pharmacotherapy: The Journal of Human Pharmacology and Drug Therapy, 38(6), 
651–662. 
 
WHITELEY, Nishi. Chapter five: the common denominator of illness - pain. In: WHITELEY, 
Nishi. Chronic Relief: A Guide to Cannabis for the Terminally and ChronicallyIll. [S. l.]: 
Allivio LLC, 2016.