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i UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ ELAINE CRISTINA LENGOWSKI EFEITO DA TERMORRETIFICAÇÃO NAS PROPRIEDADES ANATÔMICAS, FÍSICO- MECÂNICAS E QUÍMICAS DAS MADEIRAS DE Pinus taeda, Eucalyptus grandis E Tectona grandis CURITIBA 2011 ii ELAINE CRISTINA LENGOWSKI EFEITO DA TERMORRETIFICAÇÃO NAS PROPRIEDADES ANATÔMICAS, FÍSICO- MECÂNICAS E QUÍMICAS DAS MADEIRAS DE Pinus taeda, Eucalyptus grandis E Tectona grandis CURITIBA 2011 Trabalho de Conclusão apresentado à Disciplina Estágio Profissionalizante em Engenharia Industrial Madeireira - Departamento de Engenharia e Tecnologia Florestal, do Curso de Engenharia Industrial Madeireira, Setor de Ciências Agrárias, da Universidade Federal do Paraná, como requisito parcial para a obtenção do título de “Engenheiro Industrial Madeireiro”. Orientador: Dra. Graciela Inês Bolzon de Muñiz Co-orientador: Dra. Silvana Nisgoski iii AGRADECIMENTOS Agradecer é antes de tudo reconhecer que nada fazemos sozinhos. É reconhecer aqueles que nos apoiaram e depuseram confiança em nossa capacidade. A dedicação e o empenho de muitos que fizeram com que esse trabalho fosse concretizado. Inicialmente quero agradecer a Deus, pois nos momentos difíceis foi Nele que busquei forças para continuar. A minha família que sempre me apoiou e manteve um ambiente propício para minha criação e formação humana e social. Em especial aos meus pais, irmãs, avós e minha sobrinha. A minha orientadora Prof. Dra. Graciela I. B. de Muniz por toda a paciência, amizade, orientação, confiança e ensinamentos ao longo destes anos. A Prof. Dra. Silvana Nisgoski pela orientação, amizade, apoio, disponibilidade , colaboração e ensinamentos. Ao Prof. Dr. Umberto Klock pela presença, orientação, convivência e ensinamentos. Aos colegas do Laboratório de Anatomia e Qualidade da Madeira, em especial a Priscila Catapan pela amizade, apoio e incentivo e para aluna de Doutorado Marina Mieko Nishidate Kumode pela amizade e ensinamentos. A indústria TWBRAZIL pela doação do material para análise. Aos colegas de turma, pelo convívio. A todos meus verdadeiros amigos, que estando longe ou próximos, que fizeram ou fazem parte de minha caminhada. A Universidade Federal do Paraná pela oportunidade e disponibilidade dos laboratórios. Aos Professores do curso de Engenharia Industrial Madeireira pelo conhecimento e formação. Aos servidores do Departamento de Tecnologia e Engenharia Florestal e aqueles que direta ou indiretamente participaram da execução deste trabalho. iv RESUMO A presente pesquisa objetivou investigar o efeito da técnica da termorretificação, nas propriedades mecânicas, físicas, químicas e anatômicas empregadas nas três espécies exóticas mais utilizadas na indústria brasileira: Eucalyptus grandis, Pinus taeda e Tectona grandis, comparando-as com os resultados obtidos para a madeira sem tratamento. Para tanto, as amostras tratadas à temperatura de 160ºC em autoclave foram fornecidas pela empresa TWBrazil. As amostras foram coletadas aleatoriamente dos lotes, tomando cuidado para selecionar as tratadas e não tratadas de mesma espécie do mesmo lote após a madeira estar seca a uma umidade ambiente. As propriedades anatômicas foram avaliadas por meio da confecção de laminas histológicas e microscopia eletrônica para as madeiras tratadas. As propriedades físicas analisadas foram a massa específica, umidade de equilíbrio, contração tangencial, radial e volumétrica e coeficiente de anisotropia. As propriedades mecânicas consistiram na avaliação do módulo de elasticidade e ruptura em flexão estática e dureza Janka. Os resultados obtidos indicaram que o tratamento térmico empregado, provocou alterações morfológicas na estrutura das espécies, devido às alterações químicas provocadas pelo aquecimento, se mostrando eficiente na redução da higroscopicidade e aumento da estabilidade dimensional para as três espécies. Para as propriedades mecânicas, os tratamentos térmicos promoveram efeitos diversos, chegando a um incremento da resistência para certas propriedades. Palavras chave: Termorretificação da madeira; higroscopicidade; resistência mecânica. v ABSTRACT This study investigated the effect of thermal treatment technique on mechanical, hygroscopic, physic, chemical and anatomic properties employed in the three exotic species most used in Brazilian industry: the Pinus taeda L., Eucalyptus grandis W. Hill ex Maiden and Tectona grandis L.. woods, comparing them with the results obtained for the untreated wood. For that, samples treated at 160°C in autoclave were furnished by TWBrazil industry. The samples were collected randomly from batches, being careful to select the treated and untreated of the same species from the same batch after the wood has dried to a moisture environment. The anatomical properties were evaluated through the preparation of histological slides and by electron microscopy for treated wood. The physical properties evaluated were specific weight, equilibrium moisture content, tangential, radial, and volumetric contraction and coefficient of anisotropy, the mechanical properties consisted in evaluating the modulus of elasticity and rupture in bending and Janka hardness. The results indicated that the heat treatment employed caused morphological changes in the structure of the species due to chemical changes caused by warming, proving effective in reducing the hygroscopicity and increased dimensional stability to the three species. To provide the mechanical properties, thermal treatments promoted different effects reaching an increase of resistance to certain properties. Key words: Thermal treatment of wood; hygroscopicity; mechanical strength. vi LISTA DE FIGURAS FIGURA 1 - FORMAÇÃO DA CADEIA DE CELULOSE PELA UNIÃO DE UNIDADES DE ß-D-GLUCOSE.........................................................................29 FIGURA 2 - AÇÚCARES QUE COMPÕEM AS HEMICELULOSES.................30 FIGURA 3 - TÁBUAS DAS MADEIRAS TERMOTRATADAS E SEM TRATAMENTO................................................................................................. 43 FIGURA 4 - ESQUEMA BÁSICO CONJUNTO GERADOR DE VAPOR/AUTOCLAVE........................................................................................44 FIGURA 5 - TMT AUTOMATIZADO..................................................................44 FIGURA 6 - METODOLOGIA UTILIZADA PARA DESCRIÇÃO DOS CARACTERES ANATÔMICO............................................................................46 FIGURA 7 - METODOLOGIA UTILIZADA PARA COMPARAÇÃO ANATOMICA ENTRE A MADEIRA TERMORETIFICADA E SEM TRATAMENTO.................46 FIGURA 8 - EQUIPAMENTOS UTILIZADOS NAS ANÁLISES QUÍMICAS.........................................................................................................50 FIGURA 9 - ENSAIOS MECÂNICOS................................................................51 FIGURA 10- ENSAIOS TGA- EQUIPAMENTO NETZSCH DSC 209...............52 FIGURA 11 - ASPECTOS ANATÔMICOS DA MADEIRA DE Pinus taeda......53 FIGURA 12 - ASPECTOS ANATÔMICOS DA MADEIRA DE Eucalyptus grandis...............................................................................................................54 FIGURA 13 - ASPECTOS ANATÔMICOS DA MADEIRA DE Tectona grandis...............................................................................................................55 FIGURA 14 - MORFOLOGIA ANTES E APÓS O TRATAMENTO NA MADEIRA DE Pinus taeda..................................................................................................56 FIGURA 15 - MORFOLOGIA ANTES E APÓS O TRATAMENTONA MADEIRA DE Eucalyptus grandis.......................................................................................58 FIGURA 16 - MORFOLOGIA ANTES E APÓS O TRATAMENTO NA MADEIRA DE Tectona grandis.......................................................................................... 60 FIGURA 17 - MADEIRA DE Tectona grandis APÓS O TRATAMENTO..................................................................................................61 FIGURA 18 - VARIAÇÃO DA DENSIDADE BÁSICA DAS ESPÉCIES Pinus taeda, Eucalyptus grandis e Tectona grandis APÓS O TRATAMENTO...........66 FIGURA 20- TERMOGRAMA OBTIDO PARA AS MADEIRAS COM E SEM TRATAMENTO..................................................................................................84 vii LISTA DE TABELAS TABELA 1 - COMPOSIÇÃO APROXIMADA DOS CONSTITUINTES DA MADEIRA DE CONÍFERAS E FOLHOSAS.......................................................28 TABELA 2 - VALORES MÉDIOS DE UMIDADE DE EQUILIBRIO DA MADEIRA...........................................................................................................62 TABELA 3 - VALORES MÉDIOS DE MASSA ESPECÍFICA BÁSICA DA MADEIRA...........................................................................................................64 TABELA 4 - VALORES MÉDIOS DE CONTRAÇÃO VOLUMÉTRICA DA MADEIRA...........................................................................................................67 TABELA 5 - VALORES MÉDIOS DE CONTRAÇÃO LINEAR LONGITUDINAL DA MADEIRA ....................................................................................................68 TABELA 6 - VALORES MÉDIOS DE CONTRAÇÃO LINEAR RADIAL DA MADEIRA...........................................................................................................69 TABELA 7 - VALORES MÉDIOS DE CONTRAÇÃO LINEAR TANGENCIAL DA MADEIRA...........................................................................................................71 TABELA 8 - VALORES MÉDIOS DE ANISOTROPIA DE CONTRAÇÃO DA MADEIRA...........................................................................................................72 TABELA 9 - VALORES MÉDIOS DOS COMPONENTES QUÍMICOS DA MADEIRA...........................................................................................................73 TABELA 10 - VALORES MÉDIOS DA FLEXÃO ESTÁTICA DA MADEIRA......76 TABELA 11 - VALORES MÉDIOS DA DUREZA TANGENCIAL DA MADEIRA...........................................................................................................79 TABELA 12 - VALORES MÉDIOS DA DUREZA LONGITUDINAL DA MADEIRA...........................................................................................................81 TABELA 13 - VALORES MÉDIOS DA DUREZA RADIAL DA MADEIRA.........82 viii LISTA DE SIGLAS ABRAF - Associação Brasileira de Produtores de Florestas Plantadas ABIMCI - Associação Brasileira da Indústria da Madeira Processada Mecanicamente BRACELPA - Associação Brasileira de Celulose e Papel. CCA - Arseniato de Cobre Cromatado CCB - Borato de Cobre Cromatado COPANT – Comissão Panamericana de Normas Técnicas IAWA – International Association of Wood Anatomists IPT- Instituto de Pesquisas Tecnologicas IRA- Índice de Retração Anisotrópica LACTEC- Instituto de Tecnologia para o Desenvolvimento MEV - Microscopia Eletrônica de Varredura MOE - Módulo de Elasticidade MOR – Módulo de Ruptura OHT - Oil Heat Treatment (Tratamento com oleo aquecido) PSF - Ponto de Saturação das Fibras TGA- Thermal Gravimetric Analysis (Análise Térmica Gravimétrica) TMT- Madeira Termicamente Modificada VTT- Finnish State Research UE- Umidade de Equilíbrio USDA - United States Department of Agriculture ix LISTA DE ABREVIATURAS PT – Pinus taeda EG – Eucalyptus grandis TG – Tectona grandis CT – Com tratamento ST– sem tratamento CV- coeficiente de variação Min- valor mínimo Max- valor máximo 10 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................................... 12 2 OBJETIVOS ............................................................................................................................ 14 2.1 OBJETIVO GERAL ......................................................................................................... 14 2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ............................................................................................ 14 3 REVISÃO DE LITERATURA ................................................................................................ 15 3.1 O GÊNERO Pinus NO BRASIL ....................................................................................... 15 3.2 O GÊNERO Eucalyptus NO BRASIL .............................................................................. 16 3.3 A ESPÉCIE Tectona grandis LINN.F NO BRASIL ........................................................ 17 3.4 CARACTERÍSTICAS ANATÔMICAS DA MADEIRA ................................................ 19 3.5 CARACTERÍSTICAS FÍSICAS E MECÂNICAS ........................................................... 21 3.5.1 DENSIDADE ............................................................................................................. 22 3.5.2 RETRATIBILIDADE ................................................................................................ 24 3.6 CARACTERÍSTICAS MECÂNICAS .............................................................................. 25 3.6.1 FLEXÃO ESTÁTICA ................................................................................................ 26 3.6.2 DUREZA .................................................................................................................... 27 3.7 CONSTITUINTES QUÍMICOS DA MADEIRA ............................................................. 27 3.7.1 CELULOSE ............................................................................................................... 28 3.7.2 HEMICELULOSES ................................................................................................... 29 3.7.3 LIGNINA ................................................................................................................... 30 3.7.4 EXTRATIVOS ........................................................................................................... 31 3.8 DURABILIDADE NATURAL DA MADEIRA. ............................................................. 31 3.9 PRESERVAÇÃO DE MADEIRAS .................................................................................. 33 3.10 TERMORRETIFICAÇÃO DE MADEIRAS .................................................................. 34 4 MÉTODOS .............................................................................................................................. 43 4.1 MATERIAIS ..................................................................................................................... 43 4.2 MÉTODOS ....................................................................................................................... 44 4.2.1 TERMORRETIFICAÇÃO ......................................................................................... 44 4.2.2 PREPARAÇÃO DOS CORPOS DE PROVA ........................................................... 45 4.2.3 CARACTERIZAÇÃO ANATÔMICA ...................................................................... 45 5 RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................................................................. 53 11 5.1 CARACTERIZAÇÃO ANATÔMICA ............................................................................. 53 5.1.1 Pinus taeda ................................................................................................................. 53 5.1.2Eucalyptus grandis ..................................................................................................... 54 5.1.3 Tectona grandis .......................................................................................................... 54 5.2 COMPARAÇÃO MORFOLÓGICA ENTRE A MADEIRA TRATADA COM A SEM TRATAMENTO ..................................................................................................................... 55 5.2.1 Pinus taeda ................................................................................................................. 55 5.2.2 Eucalyptus grandis ..................................................................................................... 57 5.2.3 Tectona grandis .......................................................................................................... 59 5.3 UMIDADE DE EQUILIBRIO .......................................................................................... 62 5.4 MASSA ESPECÍFICA ...................................................................................................... 64 5.5 RETRATIBILIDADE ....................................................................................................... 67 5.5.1 CONTRAÇÃO VOLUMÉTRICA .......................................................................... 67 5.5.2 CONTRAÇÃO LINEAR LONGITUDINAL ........................................................ 68 5.5.4 CONTRAÇÃO LINEAR TANGENCIAL ............................................................. 71 5.5.5 ANISOTROPIA DE CONTRAÇÃO ...................................................................... 72 5.6 CARACTERIZAÇÃO QUÍMICA .................................................................................... 73 5.7 CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA ................................................................................ 76 5.7.1 FLEXÃO ESTÁTICA .............................................................................................. 76 5.7.2 DUREZA ................................................................................................................... 79 5.8 ANÁLISE TERMOGRAVIMÉTRICA ............................................................................ 83 6 CONCLUSÃO ......................................................................................................................... 85 7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................................... 87 12 1 INTRODUÇÃO A madeira, produto resultante do metabolismo de espécies arbóreas lenhosas, é uma matéria-prima que se caracteriza fundamentalmente por ser orgânica, heterogênea, porosa, higroscópica e anisotrópica. A anisotropia e heterogeneidade são atributos intrínsecos à natureza da madeira e constituem o ponto central a ser analisado quando de sua utilização. Outro fator muito importante a ser considerado é sua biodegradabilidade, onde produtos ou tratamentos devem ser empregados visando maior tempo de empregabilidade do material (SEVERO et al., 2006). A madeira apresenta uma posição destacada em relação a outros materiais, pois permite uma ampla gama de aplicações. Além disso, possui uma série de propriedades que à convertem em matéria-prima de excelente qualidade para a fabricação de certos produtos, pelo fato de apresentar uma massa específica relativamente baixa e uma resistência mecânica alta, quando comparada a outros materiais. É um material fácil de trabalhar e de ligar-se por meio de uniões simples e quando seca, é um excelente isolante térmico, elétrico e acústico (PAES; LIMA; SILVA, 1995). Por muitos anos a preservação da madeira é realizada através da utilização de produtos químicos como CCA e CCB, sendo que muitos são tóxicos ao homem, principalmente quando utilizados em ambientes fechados. (MORESCHI,s/d). A preocupação com a preservação da qualidade da matéria ao longo de sua utilização, da saúde das pessoas que usufruem desse material e das questões ambientais vem trazendo enfoque a utilização de um novo tratamento no Brasil, o termo tratamento. A madeira termorretificada é uma nova geração de materiais, onde é utilizado calor e vapor para o tratamento, sem quaisquer aditivos químicos. O aquecimento resulta em alterações moleculares na composição da madeira, o que confere ao material propriedades únicas como repelência a água, resistência a intempéries, estabilidade dimensional e uma tonalidade marrom. (KAMDEM et al., 2002). 13 Devido ao interesse da aplicação desse tratamento nas espécies utilizadas no Brasil e avaliação da influência do mesmo nas propriedades da madeira, surgiu a necessidade do desenvolvimento desse trabalho. 14 2 OBJETIVOS 2.1 OBJETIVO GERAL Avaliar as propriedades da madeira de Eucalyptus grandis, Pinus taeda e Tectona grandis após a termorretificação quando comparada à sem tratamento de mesmo lote. 2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS Para atingir o objetivo geral, a madeira das espécies Eucalyptus grandis, Pinus taeda e Tectona grandis, com e sem tratamento, foram avaliadas e comparadas nos seguintes aspectos: • Propriedades anatômicas; • Umidade de equilíbrio; • Densidade; • Retratibilidade e anisotropia de contração; • Propriedades mecânicas, sendo avaliada a dureza e flexão estática; • Propriedades químicas; • Comportamento térmico. 15 3 REVISÃO DE LITERATURA 3.1 O GÊNERO Pinus NO BRASIL As espécies de Pinus vêm sendo introduzidas no Brasil há mais de um século para variadas finalidades. Muitas delas foram trazidas por imigrantes europeus, para fins ornamentais e para a produção de madeira. As primeiras introduções de que se tem notícia foram de Pinus canariensis, provenientes das Ilhas Canárias, no Rio Grande do Sul, em torno de 1880 (NAHUZ, 2004). Por volta de 1936, foram realizados os primeiros ensaios de introdução de pinus para fins silviculturais, com espécies européias. No entanto não houve sucesso devido à má adaptação ao nosso clima. Somente em 1948, através do Serviço Florestal do Estado de São Paulo, foram introduzidas espécies americanas, conhecidas originalmente como “pinheiros amarelos”, que incluem Pinus palustris, Pinus echinata, Pinus elliottii e Pinus taeda. Estas duas últimas foram as que mais se destacaram pela facilidade nos tratos culturais, rápido crescimento e reprodução intensa no Sul e Sudeste do Brasil (SHIMIZU, 2005). O incremento na produção de madeira de Pinus spp. pode ser observado analisando os dados da Associação Brasileira da Indústria de Madeira Processada Mecanicamente (ABIMCI, 2009), onde se verifica uma produção toras de Pinus spp., em 2007, de 50,6 milhões de metros cúbicos, contra 42 milhões de metros cúbicos em 1997, portanto, um acréscimo de produção de 20,48% em dez anos. Segundo Marto (2006), que cita Ballarin e Palma (2003), o uso das espécies do gênero Pinus como fonte para atender os diversos seguimentos do setor madeireiro tem sido crescente. As estimativas indicam que 35% do volume de madeira serrada produzida é formado por espécies desse gênero. No que se refere à área de florestas plantadas no país, a maior concentração está na região Sul que possui 1432 dos 1808 milhões de hectares, o que corresponde a quase 80% do total (ABIMCI, 2008). Várias características do gênero Pinus estão sob controle genético moderado a alto, que têm reflexo direto no valor econômico da madeira, e 16 podem ser melhorados através da seleção de matrizes e reprodução controlada entre elas. Atualmente, com uso de semente geneticamente melhorada, não só aumentou a produtividade de madeira, mas, também, melhorou, substancialmente, a qualidade do fuste. Shimizu (2005) completaque a madeira juvenil de pinus apresenta muitas características indesejáveis para a produção de peças sólidas e sua presença é inevitável nas toras, pois é a madeira formada nos primeiros anos de vida da árvore. No entanto, a densidade não é a única característica ligada à juvenilidade da madeira. As características dos traqueóides (“fibras”) também se alteram na madeira adulta, em relação à juvenil. 3.2 O GÊNERO Eucalyptus NO BRASIL O gênero Eucalyptus pertence à família Myrtaceae e é quase inteiramente australiano, com apenas algumas espécies não endêmicas: Eucalyptus urophylla, no Timor Leste e algumas ilhas adjacentes da Indonésia; e Eucalyptus deglupta na Papua Nova Guiné, algumas ilhas da Indonésia e nas Filipinas (BATISTA, 2009). Embora o gênero Eucalyptus tenha sido introduzido em países do Cone Sul no final do século XIX, foi a partir da década de 1960 que se verificou um aumento expressivo da área plantada. A política de incentivos no Brasil (final da década de 60) e na Argentina (década de 70) promoveu o conhecimento das espécies mais adequadas e das vantagens da cultura florestal; verificando-se posteriormente o incremento das plantações no Chile (décadas de 70 e 80), no Uruguai e no Paraguai, já na década de 90 (JANKOWSKY et al., 2003). Kumode (2008) cita que o Brasil coloca o Eucalyptus spp. entre as espécies preferidas para o reflorestamento do país porque este apresenta características excepcionais e também, pela perfeita aclimatação de suas várias espécies às mais diversas condições climáticas e de solos. São árvores de grande porte e de rápido crescimento, mesmo as espécies produtoras de 17 madeiras mais densas como até a algum tempo conhecida como Eucalyptus citriodora. De acordo com dados de 2007 da BRACELPA, a área plantada de Eucalyptus grandis responde por pouco mais de 15% de toda a área de Eucalyptus no Brasil. A área de florestas com eucalipto está em franca expansão na maioria dos estados brasileiros com tradição na silvicultura deste grupo de espécies, ou em estados considerados como novas fronteiras da silvicultura, com crescimento médio no país de 7,1% ao ano entre 2004‑2009, totalizando 41,1% nesse período. No entanto, em 2009 o crescimento foi relativamente modesto em relação ao ano anterior, atingindo cerca de 200 mil ha, comparado a aproximadamente 350 mil ha no ano anterior, (ABRAF, 2010). A expansão na área plantada com eucalipto é resultado de um conjunto de fatores que vêm favorecendo o plantio em larga escala deste gênero. Entre os aspectos mais relevantes estão o rápido crescimento em ciclo de curta rotação, a alta produtividade florestal e a expansão e direcionamento de novos investimentos por parte de empresas de segmentos que utilizam sua madeira como matéria prima em processos industriais. Em particular, as expansões previstas no segmento de celulose e papel têm sido a alavanca do crescimento nas áreas plantadas deste grupo de espécies. 3.3 A ESPÉCIE Tectona grandis LINN.F NO BRASIL A Tectona grandis Linn.F., popularmente chamada de teca pertence a família Verbenaceae, é uma espécie arbórea de grande porte e rápido crescimento, produtora de madeira nobre, famosa por sua beleza, resistência e durabilidade, sendo originária do Sudoeste Asiático. É uma planta fácil de cultivar, pouco susceptível ao ataque de pragas e doenças e muito resistente ao fogo. A teca é uma árvore de alta adaptabilidade nativa de florestas tropicais índicas e asiáticas, e no Brasil é plantada em escala comercial, principalmente, nos estados do Mato Grosso, Amazonas e Acre (FIGUEIREDO et al.,2005). 18 A madeira de Teca tem sua importância não só por suas propriedades físico-mecânicas desejáveis, por possuir boa resistência em relação ao peso, quanto à tração, flexão e outros esforços mecânicos importantes para a produção de móveis, demonstrando leveza e alta resistência, quanto também por apresentar características estéticas e de durabilidade natural (MACEDO, 2005). É conhecida por apresentar uma boa estabilidade dimensional e alta durabilidade natural devido à presença de duas substâncias: o caucho, tipo de látex responsável pela redução da absorção de água; e a tectoquinona, um preservante natural contido nas células da madeira, razão pela qual é empregada principalmente em aplicações externas (KOKUTSE et al., 2006). Entretanto, alguns estudos têm demonstrado que a madeira de teca proveniente de reflorestamentos apresenta menores teores de tectoquinona e baixa durabilidade, características associadas à idade da árvore (HAUPT et al., 2003). Cultivada desde o século XVIII, quando se destinava principalmente à construção naval, a teca atualmente serve para múltiplos fins, tais como na construção civil, na fabricação de assoalhos e decks, sendo também destinada ao setor mobiliário, de embarcações, laminados decorativos e adornos em geral. A área de florestas plantadas com teca no Brasil atingiu, em 2009, estimados 65.240 ha, enquanto em 2008 o total foi de 58.810 ha. Tais áreas representam crescimento de 10,9% na área plantada deste grupo de espécies no país, indicando o interesse crescente por tal gênero florestal, principalmente em função das expectativas de retorno financeiro em projetos com a mesma, (ABRAF, 2010). Na Ásia, o seu ciclo de rotação é variável de 60 a 100 anos, já no Mato Grosso, esse ciclo é reduzido para cerca de 25 a 30 anos (MACEDO et al., 1999). A madeira de teca tem grande procura no mercado mundial, podendo alcançar preços até três vezes superior ao do mogno, sendo utilizada na produção de móveis, esquadrias de alto padrão, embarcações e decoração (MACEDO,2005). 19 A produção mundial de madeira de Teca é estimada em 3 milhões de m³/ano, o que é extremamente baixa pela demanda atual dessa espécie no mercado exterior (FIGUEIREDO et al.,2005). . 3.4 CARACTERÍSTICAS ANATÔMICAS DA MADEIRA A madeira é um conjunto heterogêneo, com diferentes tipos de células, cada qual com propriedades específicas para desempenharem as suas funções vitais como: condução de líquidos e substâncias nutritivas, armazenamento de substâncias nutritivas e sustentação do vegetal (BURGER et al. 1991). No sentido radial, a madeira pode ser dividida entre lenho juvenil, próximo à medula, e lenho adulto, próximo à casca. Esse desenvolvimento caracteriza-se por mudanças progressivas no câmbio e consequentemente nas dimensões das células por ele geradas, o que influencia nas propriedades da madeira, como a densidade básica (PANSHIW e DE ZEEUW, 1964; ZOBEL e BUIJTENEN, 1989). Essa variação afeta todas as propriedades da madeira, entre elas as propriedades físicas, químicas e mecânicas, o que torna a madeira um material complexo, mas extremamente interessante nas mais diversas empregabilidades. Nesse contexto, estudos que avaliem a variação radial e axial no tronco, além de possibilitar um entendimento da arquitetura adotada pelas diferentes espécies para tornar eficiente e seguro o transporte de água (FAN et al., 2009), são de extrema importância comercial, pois a partir dos resultados é possível estabelecer a matéria-prima mais indicada comercialmente para uma determinada aplicação. Segundo Kopaè e Šali (2003) as variações anatômicas – arranjo e dimensões das células – e na densidade influenciam a resposta da madeira a diferentes ferramentas, nessas variações podendo ser acentuadas ao longo das camadas de crescimento. Os principais elementos constituintes da madeira são fibras (folhosas) e traqueóides (coníferas) que são os elementos de sustentação do vegetal, células parenquimáticas, que atuam na função de armazenamento e condução 20 de água e substâncias nutritivas, pontoação, em suas mais diversas formas e disposições, que tem como função a comunicação entre os elementosconstituintes. Nas coníferas a presença de canais resiníferos também é um grande diferencial enquanto nas folhosas tem-se a presença de células oleíferas. Cada espécie apresenta uma organização diferenciada desses elementos, em menor ou maior quantidade, o que lhes confere propriedades que tornam algumas espécies mais apropriadas a determinados usos. Essa variação pode ser encontrada dentro de uma mesma espécie e dentro da própria árvore dependendo da posição do tronco que será avaliada. (BURGER e RICHTER, 1991) Os traqueóides axiais comumente chamados de fibras são células alongadas, fusiformes, com extremidades afinadas e dotadas de pontoações que permitem a passagem de líquidos entre as células. Cumpre a dupla função de transportar líquidos e servir de sustentação à estrutura lenhosa. Os traqueóides correspondem às células de maior comprimento nas coníferas (BURGER e RICHTER, 1991). Nas folhosas esse papel é desempenhado pelas fibras. Durante seu desenvolvimento, a madeira passa por uma série de condições, seja ela o seu envelhecimento ou intempéries as quais são sujeitas, que as tornam com características peculiares, variando sua estrutura entre espécies e dentro da própria espécie. A árvore não produz exatamente o mesmo tipo de células durante seu desenvolvimento. Durante a fase inicial, o lenho juvenil é formado, o qual apresenta características distintas do lenho adulto que é formado numa fase posterior do seu desenvolvimento (MIMMS, 1993). A passagem do lenho juvenil para o adulto é gradativa, de forma que a madeira juvenil é comumente definida como a zona que se estende no sentido radial da medula para a casca, desta forma diversas características, tais como as dimensões dos traqueóides, densidade básica e resistência vão se modificando até atingirem uma certa estabilidade no lenho adulto (BENDTSEN, 1978). Burger e Richter (1991) relatam que nas coníferas, os anéis de crescimento distinguem-se normalmente em duas partes: o lenho inicial 21 correspondente ao crescimento da árvore no início do período vegetativo, normalmente na primavera. As células da madeira formada nesta ocasião caracterizam-se por suas paredes finas e lumes de maior diâmetro, que lhes conferem em conjunto uma coloração clara. Com a aproximação do fim do período vegetativo, normalmente outono, as células vão diminuindo gradativamente sua atividade fisiológica. Em conseqüência deste fato, suas paredes vão se tornando gradativamente mais espessas e seus lumes de menor diâmetro, distinguindo-se do lenho anterior por apresentar, em conjunto, uma tonalidade mais escura (lenho tardio). Segundo o mesmo autor, as folhosas apresentam uma característica relativa à disposição dos poros em relação aos anéis de crescimento. A porosidade pode ser classificada como em porosidade em anel ou difusa. Na porosidade em anel os vasos que se formam no lenho inicial são maiores do que os que se formam no lenho tardio. A porosidade em anel ainda pode ser classificada em circular, onde a diminuição dos poros do lenho inicial para o tardio é brusca, ou semi circular, onde a diminuição dos poros do lenho inicial para o tardio é gradual. Já a porosidade difusa: os diâmetros dos vasos são praticamente iguais ao longo de todo o anel de crescimento. Essa variação acarreta em variação das propriedades no interior da madeira, como a diminuição da densidade no início do período vegetativo da árvore. 3.5 CARACTERÍSTICAS FÍSICAS E MECÂNICAS A madeira, que é composta por agregações de células vegetais, é uma das principais matérias-primas industriais, apresenta características tais como anisotropia (propriedades distintas nos diferentes sentidos de crescimento), higroscopicidade (capacidade de perder ou adquirir umidade dependendo das condições ambientais) e variabilidade nas propriedades (KLOCK, 2000). Dados de trabalhos anteriores Panshin e Zeeuw (1980), Evans et al. (2000) e Tomazello Filho (1985) indicaram que existem importantes variações nas propriedades físico-mecânicas entre as árvores, mesmo quando são originadas do mesmo clone e do mesmo sítio. Isso se deve à característica 22 biológica das árvores, a qual possui fontes naturais de variação que, muitas vezes, não podem ser eliminadas. A variabilidade da madeira ocorre de diferenças estruturais desde a ultraestrutura da parede celular, as geográficas, sendo que a fonte de variação que ocorre dentro da árvore talvez seja a mais significativa (COWN, 1974). As principais propriedades físicas e mecânicas da madeira que provocam impacto na qualidade do produto final a ser produzido são identificadas como: resistência mecânica, massa específica aparente e estabilidade dimensional, e os principais impactos tecnológicos nas características das madeiras passam pelo melhoramento florestal e práticas silviculturais e de manejo, além das etapas de processamentos primário e secundário (EUCALIPTO, 2003). 3.5.1 DENSIDADE A densidade é uma das propriedades físicas mais importantes na caracterização tecnológica da madeira, visto que sua variação afeta a resistência mecânica e a estabilidade dimensional da madeira (ARGANBRIGHT, 1971). Segundo Shimoyama (1990), a densidade é uma quantificação direta do material lenhoso por unidade de volume, estando relacionada a muitas propriedades e características tecnológicas fundamentais para a produção e utilização dos produtos florestais, pois afeta todas as demais propriedades da madeira. Seus efeitos, porém, são interativos e difíceis de serem avaliados isoladamente. Segundo Panshin e Zeeuw (1980), há uma diminuição da densidade no sentido base–topo, à exceção das espécies de bases expandidas, que crescem em regiões alagadas e, conseqüentemente, apresentam aumento da densidade no sentido casca–medula. Tomazello Filho (1985) verificou, em amostras de madeira de Eucalyptus grandis W. Hill ex Maiden., que a região central do tronco apresentava densidades mais baixas próximo da medula e menores variações 23 ao longo do raio, com tendência à formação de anéis de crescimento mais largos próximo à periferia e, consequentemente, ocorriam grandes alterações na densidade na direção radial dessa árvore. Latorraca et al. (2000) observaram que as propriedades da madeira variam conforme o crescimento da árvore, com a ressalva de que a porção da madeira correspondente aos primeiros anéis formados apresenta menor massa específica e fibras mais curtas, entre outras características, ou seja, a diferença entre lenho juvenil e adulto. Verificaram que há aumento da massa específica, bem como da espessura da parede celular em anéis sucessivos, a partir do centro para a periferia do tronco da árvore, no sentido medula casca. Também foi verificado que a densidade tende a aumentar com a idade, com conseqüente aumento da espessura da parede celular e diminuição da largura das células. A variação da densidade em um fuste é reflexo da porcentagem dos diferentes constituintes da madeira, que são celulose, hemiceluloses, lignina e extrativos. É influenciada também pelas dimensões dos elementos anatômicos como comprimento, largura, espessura da parede e diâmetro do lúme das fibras ou traqueídeos. (PANSHIN e ZEEUW, 1970; ARGANBRIGHT, 1971). Segundo Panshin e Zeeuw (1980), a densidade básica em função da idade da árvore em geral aumenta rapidamente durante o período juvenil, depois mais lentamente até atingir a maturidade, quando permanece mais ou menos constante, e a madeira de lenho tardio apresentava densidade básica maior que a de lenho juvenil. Segundo Dias (2000), dependendo da condição de umidade da amostra, a densidade pode ser descrita de várias formas. As duas formas mais usuais de determinação são a densidade básica e a densidade aparente. A primeira forma, densidade básica, relaciona a massada madeira completamente seca em estufa, com o seu respectivo volume saturado, ou seja, acima do ponto de saturação das fibras (PSF). A segunda, que do ponto de vista prático, é maior o interesse na sua determinação, devido ao fato desta ter influência da porosidade da madeira, é feita com determinação de massa e volume a um mesmo valor de teor de umidade, para as condições internacionais é de 12%. 24 3.5.2 RETRATIBILIDADE Quando a madeira entra em contato com a umidade, as moléculas de água, seja no estado de vapor ou líquido, penetram na parede da célula e, pela união através de pontes de hidrogênio, passam a fazer parte dos seus componentes. Dessa forma é que a madeira poderá aumentar ou diminuir seu volume em razão do ganho ou perda de água até o PSF (COSTA et al. 2001). O mesmo autor realça que dentre os principais componentes da madeira, a hemicelulose é o material mais hidrófilo e higroscópico, à qual tem sido atribuída grande parte dos fenômenos de adsorção e inchamento da madeira. A celulose, por sua vez, é acessível à água somente nas áreas amorfas e nas superfícies das áreas cristalinas, enquanto a lignina é considerada uma substância altamente hidrófoba, pouco contribuindo para a aquisição de água na madeira. Segundo Sousa Junior (2004), a retratibilidade é a movimentação da madeira (inchamento ou encolhimento) pelo ganho ou perda de água abaixo do PSF. A retração tangencial é maior que a radial, enquanto que a retração longitudinal é praticamente desprezível. Outro parâmetro importante é o Índice de Retração Anisotrópica (IRA), razão entre as retrações tangencial e radial. De uma maneira geral, quanto mais baixa esta razão, isto é, quanto mais próxima de um, melhor é a espécie para beneficiamento. Para Hillis (1978), a retratibilidade excessivamente alta da madeira dos eucaliptos é um dos principais problemas para a sua utilização como madeira sólida. Os efeitos combinados da retração tangencial e radial ocasionam mudanças na forma das peças de madeira por causa das diferenças nas retrações e na curvatura dos anéis de crescimento. Segundo USDA (1974), citado por Sousa Junior (2004), a retração e a deformação variam conforme a posição radial de onde a peça de madeira foi retirada. Segundo Silva e Oliveira (2003) as variações dimensionais provocadas pela contração e pelo inchamento da madeira, constituem, conjuntamente com a anisotropia, características indesejáveis da madeira, limitando o seu uso para diversas finalidades ou, ainda, exigindo técnicas específicas de utilização. 25 Segundo Durlo e Marchiori (1992) e Chies (2005), o mais importante índice para se avaliar a estabilidade dimensional da madeira é o coeficiente ou fator anisotrópico, definido pela relação entre as contrações tangencial e radial. Garbe (2008) também define a anisotropia de contração como a relação entre a contração máxima tangencial e a contração máxima radial. Para Kollmann e Côté (1968), a retração da madeira aumenta com o aumento de sua massa específica. Chafe (1986) afirma que esta relação não é valida para os eucaliptos devido à excessiva quantidade de extrativos encontrada neste gênero. Uma das causas das propriedades anisotrópicas da madeira é a orientação das micelas, fibrilas e fibras que formam o tecido lenhoso. Segundo os autores, o volume dos raios, a dimensão radial das fibras e as diferenciações químicas entre as paredes radiais e tangenciais são responsáveis pela anisotropia da madeira (SILVA e OLIVEIRA, 2003). Uma anisotropia de contração igual a 1 representa uma alteração igual de dimensões nos sentidos radial e tangencial, situação considerada ideal e que não provocaria formação de tensões internas (DURLO e MARCHIORI, 1992; CHIES, 2005). Os mesmos autores estabeleceram a seguinte classificação da madeira em função dos seus coeficientes de anisotropia: • 1,2 a 1,5 - considerada excelente, ocorrendo em madeiras como cedro, sucupira, mogno, balsa, entre outras espécies; • 1,5 a 2,0 - considerada normal, ocorrendo em madeiras como ipê, pinus, peroba rosa, teca, entre outras espécies; • Acima de 2,0 – considerada como ruim, que poderá ocorrer em madeiras de araucária, imbuia, álamo, jatobá, entre outras espécies. 3.6 CARACTERÍSTICAS MECÂNICAS Sabe-se que as propriedades mecânicas da madeira são dependentes, principalmente, da densidade básica, da porcentagem de madeira juvenil, da largura dos anéis, do ângulo das microfibrilas, da inclinação da grã, da 26 quantidade de extrativos, do teor de umidade, da intensidade ao ataque de insetos, do tipo e da localização e quantidade de nós, dentre outros fatores (EVANS et al., 2000). Segundo Panshin e de Zeeuw (1980), a relação entre densidade e as propriedades mecânicas pode ser alterada pela presença de extrativos que se adicionam à massa lenhosa, aumentando, principalmente, a resistência à compressão axial da madeira, e a efetiva resistência desta a alguma forma particular de aplicação de esforços é uma função não só da quantidade total da parede celular, mas também da proporção dos componentes das células estabelecidas em dada espécie e da quantidade de extrativos presentes no lúme das células. Malan e Verryn (1996), trabalhando com Eucalyptus grandis e híbridos desta com outras três espécies, também não encontraram correlações entre a densidade básica e as retrações da madeira. 3.6.1 FLEXÃO ESTÁTICA O ensaio de flexão estática consiste na aplicação de carga a meio vão de uma peça simplesmente apoiada nas extremidades, sendo a carga introduzida a uma velocidade constante. Num ensaio de flexão estática, o corpo de prova fica sujeito à ação de todos os três tipos de forças, tração, compressão e corte, acabando a ruptura por ocorrer por tração. Este ensaio fornece informação muito útil no que respeita ao cálculo de estruturas, pois com ele é possível a determinação do módulo de elasticidade (MOE). O módulo de elasticidade mede a rigidez da madeira, característica mecânica muito importante em produtos de uso estrutural, já que tem um impacto direto na deformabilidade da estrutura (IVKOVIC et al., 2009). Segundo Panshin e de Zeeuw (1980), a variabilidade da maior parte das propriedades mecânicas da madeira pode ser estimada com base na variação da densidade. Isso pode ser explicado porque as propriedades de resistência à flexão estática e o seu MOE (módulo de elasticidade) estão correlacionados com a densidade, a qual, por sua vez, também está correlacionada com as dimensões das células. 27 De acordo com Carvalho (1996), a deflexão de uma viga varia inversamente com o MOE, ou seja, quanto menor o módulo de elasticidade maior a deflexão, para elementos de igual secção transversal. O módulo da ruptura (MOR) e o módulo da elasticidade (MOE) são dois parâmetros normalmente determinados em testes de flexão estática e são de grande importância na caracterização tecnológica da madeira, porque ambos estimam a resistência do material submetido a uma força aplicada perpendicularmente ao eixo longitudinal da peça. 3.6.2 DUREZA A dureza consiste na capacidade de um corpo resistir à deformação localizada. Num típico teste de dureza, uma ferramenta com uma geometria conhecida é forçada a penetrar no material. (DOYLE e WALKER, 1984). Segundo Tsoumis (1991), esta propriedade está relacionada com a facilidade ou dificuldade de trabalhar uma madeira. Segundo Norman (1972), a espessura definitiva da parede das fibras ocasiona somente uma dureza mais elevada de uma madeira, mas sem afetar, de maneira marcante, a sua densidade e suas propriedades mecânicas. Segundo Meyer (1930), citado por Gonçalez (1993), a proporção de raios tem ligação com a dureza da madeira. Os métodos de determinação da dureza diferenciam-se uns dosoutros pelo tipo de ferramenta utilizada. Assim, existem métodos que utilizam esferas. cilindros, cones e cunhas. A dureza de Janka consiste em fazer penetrar na madeira metade do diâmetro de uma esfera (DOYLE e WALKER, 1984). 3.7 CONSTITUINTES QUÍMICOS DA MADEIRA A composição química da madeira é caracterizada pela presença de componentes fundamentais e acidentais (SEVERO et al., 2006). São considerados componentes fundamentais a celulose, as hemiceluloses e a lignina (OLIVEIRA, 1997; SILVA, 2002). O conjunto da celulose e das 28 hemiceluloses compõe o conteúdo total de polissacarídeos contidos na madeira e é denominado holocelulose (ZOBEL e VAN BUIJTENEN, 1989). As substâncias orgânicas constituintes da madeira podem ser classificadas em componentes da parede celular e extrativos. Os componentes principais das células da madeira são os carboidratos e as substâncias fenólicas. Os carboidratos são essencialmente macromoléculas (polissacarídeos) e são aproximadamente 75% das substâncias presentes na madeira. Os elementos estruturais (celulose, hemiceluloses e lignina) determinam as propriedades físicas da madeira (JAYNE e BODIG, 1993) e, alem destes, existem ainda, na composição das madeiras, os extrativos, considerados por vários autores como constituintes secundários (MORAIS et al., 2005). Na TABELA 1, apresenta-se a quantidade aproximada em que os constituintes macromoleculares estruturais (celulose, hemiceluloses e lignina) e extrativos estão presentes nas madeiras de coníferas e folhosas. TABELA 1 - COMPOSIÇÃO APROXIMADA DOS CONSTITUINTES DA MADEIRA DE CONÍFERAS E FOLHOSAS. Constituinte Coníferas Folhosas Celulose 42 ±2% 45 ±2% Hemiceluloses 27 ±2% 30 ±5% Lignina 28 ±2% 20 ±4% Extrativos 5 ±3% 3 ±2% FONTE: SJÖSTRÖM (1993) 3.7.1 CELULOSE Dentre os carboidratos, a celulose é o componente primário da parede celular. De acordo com Jayne e Bodig (1993) é o material químico orgânico mais abundante na natureza e é produzido pela polimerização biocintética de unidades básicas de moléculas de ß-D-glucose, um açúcar simples – monossacarídeo hexose (C 6 H 12 O 6 ), podendo chegar a 15.000 unidades numa cadeia polimérica, dependendo da sua localização na parede celular. 29 Na FIGURA 1, apresenta-se a formação da molécula de celulose via eliminação de água. FIGURA 1 - FORMAÇÃO DA CADEIA DE CELULOSE PELA UNIÃO DE UNIDADES DE ß-D-GLUCOSE FONTE: SJÖSTRÖM (1993) 3.7.2 HEMICELULOSES O termo hemiceluloses se refere a polissacarídeos que possuem cadeias mais curtas, os quais estão intimamente associados à celulose nos tecidos das plantas. Enquanto a celulose, como substância química, contém como unidade fundamental exclusivamente moléculas de ß-D-glucose, as hemiceluloses são polímeros em cuja composição podem aparecer, condensadas em proporções variadas, diversas unidades de açúcar, como apresentado na FIGURA 2 (FENGEL e WEGENER, 1989; SJÖSTRÖM, 1993). De acordo com Hachmi e Campbell (1989), as hemiceluloses apresentam estrutura ramificada, amorfa, com peso molecular muito baixo (grau de polimerização entre 100 e 250), são solúveis em água e soluções alcalinas, o que permite serem facilmente removidas, solubilizadas e degradadas. 30 FIGURA 2 - AÇÚCARES QUE COMPÕEM AS HEMICELULOSES FONTE: SJÖSTRÖM (1993) 3.7.3 LIGNINA A lignina que também apresenta a mesma composição elementar da celulose representa cerca de 20 - 30 % da madeira, porém seus três constituintes estão organizados em uma estrutura carbônica constituída por uma cadeia alífática e um anel benzênico. A unidade formadora da lignina é o fenilpropano (FENGEL e WEGENER, 1984). Conforme Klock (2000) quando a lignina é tratada com soluções alcalinas a temperaturas elevadas podem ocorrer rupturas nas ligações entre as unidades de fenil propano, formando grupos fenólicos, responsáveis pela sua solubilização. 31 3.7.4 EXTRATIVOS Os extrativos são compostos químicos que não fazem parte da estrutura da parede celular. São constituídos por substâncias como taninos, açucares simples, sais, gomas, corantes, amidos, gorduras, resinas, fitosteróis, terpenos, terpenóides, entre outros (HACHMI e CAMPBELL, 1989) e, podem ser removidos com tratamentos simples, como extração com água fria ou quente ou com solventes orgânicos, como etanol, tolueno, acetona ou diclorometano (SJÖSTRÖM, 1993). Estão presentes principalmente na casca das árvores (MORAIS et al., 2005). Para Jayne e Bodig (1993), os extrativos são responsáveis, também, por importantes modificações nas características físicas da madeira. 3.8 DURABILIDADE NATURAL DA MADEIRA. A madeira apresenta inúmeras vantagens e opções de utilização, ocupando um lugar de destaque na economia brasileira. Porém, por ser um material de origem orgânica, está exposta a uma série de ataques, sejam por microorganismos, fungos, insetos, xilófagos marinhos ou por causas não biológicas como desgaste mecânico, físico e químico, ou ainda por degradação fotoquímica, que atuando em conjunto acelera o processo de deterioração. O tipo de degradação presente na peça de madeira poderá ser definido em função da classe de exposição ou risco em que a peça está exposta (KUMODE, 2008). Segundo Filho (2006), observa-se uma certa resistência quanto a utilização da madeira, fato justificado devido à baixa resistência e durabilidade a determinados usos. Ainda segundo o autor, os problemas relacionados à resistência podem ser solucionados por técnicas apropriadas e de fácil operação e aplicação. Já os problemas relacionados à durabilidade abrangem vários fatores como ataque de fungos, insetos, e fenômenos climático- meteorológicos isolados ou em conjunto. 32 Sales et al. (2003) definem a durabilidade como a capacidade de se manter em serviço, por longo tempo, mantendo as características e qualidades originais envolvendo um número de propriedades distintas da madeira, como a resistência ao ataque biológico, químico e físico. A resistência biológica inclui a resistência a fungos, aos insetos e perfuradores marinhos sendo considerados os mais agressivos à madeira. A resistência química diz respeito a ácidos e álcalis, entre outros. A resistência física diz respeito à abrasão. Há também a resistência a efeitos das radiações solares. De acordo com Deón (1989), não se pode dizer o grau de durabilidade da madeira sem conhecer suas condições de uso e os riscos de deterioração presentes. O tipo de ataque que a peça poderá sofrer no decorrer de sua vida útil é influenciado pela durabilidade natural da madeira, pelas condições de temperatura, aeração e umidade. Outro fator que pode interferir na decomposição da madeira de acordo com Oliveira et al. (1986) são o teor e a natureza de extrativos existentes na madeira, que na maioria das vezes se apresentam em pequenas proporções variando de espécie para espécie. Barillari (2002) ao avaliar vida útil da madeira de pinus, quando exposta em contato direto com o solo, observou durabilidade inferior a um ano. Porém, com tratamento adequado, e nas mesmas condições de serviço pode permanecer por 20 anos ou mais sem indícios de ataques por fungos ou insetos. Segundo o mesmo autor, para madeiras provenientes do gênero Eucalyptus a resistência natural se constituiu numa importante propriedade, uma vez que na grande maioria apresentam dificuldade de penetração de substância preservante no cerne da madeira; já para teca, a durabilidade da madeira é uma característica marcante dessa espécie. A durabilidade do cerne deve-se a tectoquinona, um preservativo natural contido nas células da madeira. Oliveira et al (2005), determinaram a resistência natural da madeira de sete espécies de eucalipto, todos com 16 anos deidade, ao fungo causador da podridão parda Gloeophyllum trabeum. O resultado mostrou que a madeira das espécies Eucalyptus tereticornis, E. pillularis e E. grandis foram as mais 33 resistentes ao ataque do fungo enquanto as madeiras das espécies Corymbia citriodora e Eucalyptus cloeziana foram as menos resistentes. Oliveira et al. (2005) avaliaram a influência dos extrativos na resistência ao apodrecimento de quatro espécies nativas (candeia, cedro, cerejeira e jacarandá – caviúva) e duas espécies exóticas (Corymbia citriodora e Eucalyptus. gumifera) pelo fungo de podridão parda, Gloeophyllum trabeum. Os resultados revelaram que todas as espécies apresentavam elevada resistência natural em função da baixa perda de massa, entretanto quando os extrativos foram extraídos, estes apresentaram elevados valores de perda de massa. Moreschi (s/d) ressalta que a resistência natural das madeiras que contém substâncias tóxicas a organismos xilófagos é variável em função dos organismos e interações que possam ocorrer nas condições ambientais em que elas são utilizadas, mas principalmente, entre os tipos de substâncias que são impregnadas naturalmente. 3.9 PRESERVAÇÃO DE MADEIRAS No âmbito legislativo, a preservação de madeiras, no Brasil, é regida pela lei federal nº 4.797, de 20 de outubro de 1965, a qual dispõe sobre a obrigatoriedade do tratamento de madeiras para fins de utilidade pública, quando as mesmas são passíveis de tratamento. A regulamentação dessa lei é feita pelo Decreto nº 58.016, de 18 de março de 1966 o qual infere que “são passíveis de tratamento preservativo todas as madeiras portadoras de alburno ou as que, sendo de puro cerne, apresentem alguma permeabilidade à penetração de soluções preservativas em seus tecidos, vedadas a eliminação do alburno” (Art 2º), citado por Borges (2008). Sob a ótica científica, a preservação de madeiras pode ser dividida em preservação natural, indireta, biológica e química, sendo definida como o conjunto de produtos, métodos e pesquisas destinados a alterar, medir ou estudar a durabilidade da madeira (CAVALCANTI, 1983). 34 Segundo Moraes, citado por Barillari (2002), a preservação natural refere-se à utilização da madeira de modo a evitar a ação de agentes deterioradores. A preservação indireta pode ser conceituada como o tratamento do meio em que a madeira está sendo utilizada, enquanto a preservação biológica envolve o emprego de organismos vivos na prevenção ao ataque de organismos xilófagos. A preservação química da madeira é provavelmente o método mais antigo e apesar dos possíveis riscos no manuseio e uso de biocidas, ainda é a forma mais usual na prevenção do ataque biológico (BARILLARI, 2002). A utilização de substâncias químicas para envenenamento dos componentes celulares da madeira vem sendo utilizada ao longo dos anos buscando uma maior durabilidade da madeira nas mais diversificadas aplicações. No entanto para ser um bom preservante, o produto deve ter boa toxidez, não ser volátil nem lixiviável, ter alta fixação na madeira, não corroer metais, não ser inflamável, não alterar as propriedades físico-mecânicas da madeira, e não ser tóxico ao homem nem animais (MENDES e ALVES, 1988). Todas essas características não são passiveis de ser encontradas em um produto químico. Além disso, as constantes pressões ambientais apelam para utilização de tecnologias/processos que utilizem produtos menos tóxicos e poluentes. 3.10 TERMORRETIFICAÇÃO DE MADEIRAS A termorretificação da madeira foi estudado de forma científica por Stamm e Hansen nos anos 30, na Alemanha, e por White nos anos 40, nos Estados Unidos. Nos anos 50, os alemães Bavendam, Runkel e Buro continuaram a investigação sobre o assunto. Kollman e Schneider publicaram as suas descobertas nos anos 60, Rusche e Burmester nos anos 70. Mais recentemente, nos anos 90, foi realizado um trabalho de pesquisa na Finlândia, França e Holanda. O trabalho de pesquisa mais completo foi conduzido pelo VTT (Finnish State Research Center) na Finlândia. Nesse trabalho a madeira é aquecida a temperaturas próximas de 200 ºC enquanto é protegida com vapor de água (ESTEVES et al. 2008). 35 Segundo Rodrigues (2009) em face às inúmeras vantagens que o tratamento térmico traz às propriedades físico-mecânicas da madeira, esse tratamento, já é um processo em escala industrial em vários países europeus, mais em voga na Finlândia, França, Alemanha e Holanda, respectivamente denominados Finnish Thermowood, French Retification e Bois Perdure, Oil Heat Treatment e Dutch Plato Wood. Esse mesmo autor informa que em 2001, a capacidade de produção estimada de madeira termicamente tratada na Europa era de 165.000 m³. Conforme Esteves e Pereira (2009), nesses países, a madeira tratada por esses processos tem uma larga aplicação para usos ao ar livre, decks, móveis para jardim, molduras de janelas, bem como para uso interno, como na confecção de armários para cozinhas, parquet, painéis decorativos e, principalmente, para o interior de saunas. O tratamento de termorretificação da madeira tem sido largamente estudado nos últimos anos devido à maior estabilidade dimensional e maior durabilidade natural proporcionadas à madeira termorretificada. As principais diferenças entre os processos envolvem a temperatura e tempo de tratamento, o teor de umidade inicial da madeira, a utilização de oxigênio ou nitrogênio, a presença ou ausência de vapor, processo seco ou úmido e a utilização de óleos (MILITZ, 2002). A descrição de cada etapa desses processos de tratamento é realizada por Nunes (2009), e estão na sequência. Retifiction (Bois Retifié): Essa tecnologia é aplicada quando a madeira apresenta um teor de umidade inicial de 12%, a qual é tratada com temperaturas variando entre 210 e 240ºC, na presença de nitrogênio; • Bois Perdure: processo também desenvolvido na França como o anterior, no qual a madeira verde é tratada à 230ºC, sob o vapor gerado pela água contida na própria madeira; • Oil Heat Treatment - OHT: Processo bastante diferenciado, em que a madeira é tratada em um tanque fechado imersa em óleo quente, com temperaturas variando entre 180 e 220ºC, durante 2-4 horas, não considerando o tempo de aquecimento inicial e resfriamento pós tratamento; 36 • PLATO WOOD: Essa tecnologia é baseada em quatro etapas: (a) hidrotermólise: tratamento térmico a 150-180ºC, em condição aquosa sob pressão atmosférica (4-5 horas); (b) secagem convencional (3-5 dias); (c) tratamento térmico a 150-190ºC sob condições secas (14-16 horas); e (d) condicionamento (2-3 dias); • THERMOWOOD: Esse tratamento apresenta três diferentes fases: (a) secagem da madeira verde à alta temperatura (100-130ºC); (b) tratamento térmico a 190 ± 2ºC (Madeira Thermo-S) ou 212 ± 2ºC (Madeira Thermo-D), durante 2-4 horas, dependendo do produto final que se deseja obter; e (c) resfriamento e reumidificação da madeira a 4-8%. A letra “S” no Thermo-S indica estabilidade, já a letra “D” no Thermo-D indica durabilidade, ambos referentes a propriedade utilizada na classificação dos produtos nessa classe de tratamento. De acordo com Esteves e Pereira (2009), o processo Thermowood, desenvolvido pela VTT, é provavelmente o mais bem sucedido na Europa. De acordo com os mesmos autores, produziram-se cerca de 130.800 m³ de madeira termorretificada em 2007, representando a madeira tratada pelo processo Thermowood mais de 50%, tanto que as vendas de madeira tratada por este processo aumentaram de 18.799 m³ em 2001 para 72.485 m³ em 2007. A maioria da madeira em 2007 (92%) foi vendida na Europa, sendo 19% na Finlândia e 73% em outros países europeus. Modes (2010), afirma que a técnica de modificação térmica da madeira tem evoluído em termos comerciais nos últimos anos, porcausa principalmente do baixo custo do processo. Como na Europa, onde o assunto já foi bastante explorado, produtos termorretificados são comercializados para piso, e já foi utilizada madeira torrada como termo-redutor na indústria siderúrgica (REMADE, 2006). Além de fornecer proteção, o vapor de água também afeta as alterações químicas que acorrem na madeira. Como resultado deste tratamento, a cor da madeira escurece, é mais estável do que a madeira normal em condições de mudança de umidade, e as suas propriedades de isolamento térmico são melhoradas. Se o tratamento for efetuado a uma temperatura elevada, também torna a madeira resistente à degradação por 37 organismos xilófagos. Essa durabilidade ocorre devido à degradação das hemiceluloses (arabinose, galactose, xilose, manose), que são nutriententes para as bactérias e fungos causadores do apodrecimento (KANDEM et al. 2002). Segundo Kandem et al. (2002), a termorretificação ajuda a liberar as tensões da madeira após a remoção da hemicelulose e, em função da degradação térmica, ocorre uma redução na aspereza e escurecimento da superfície das madeiras tratadas. Segundo Fengel e Wegener (1984), a temperatura também influencia as propriedades químicas, físicas e estruturais da madeira, sendo que as alterações químicas podem ser observadas até mesmo quando a madeira é aquecida a apenas 103ºC durante longos períodos (TSOUMIS,1991). Quando aquecida a 150 °C a madeira pode sofrer alterações permanentes em suas propriedades químicas e físicas (YILDIZ et al.2006). Segundo Figueroa (2008), na faixa de temperatura em que se encaixa a termorretificação, ocorre uma decomposição térmica parcial dos constituintes. Para Poncsak et al. (2006), a hemicelulose degrada primeiro (entre 160 e 260°C), devido ao seu baixo peso molecular e estrutura amorfa (menos densa), o que facilita a sua mais rápida degradação comparada com outros componentes presentes na madeira; a eliminação da hemicelulose ramificada, com temperatura entre 160 e 220°C, resulta em um aumento no índice de cristalinidade da celulose. As hemiceluloses são menos estáveis, por isso pode ser facilmente degradada nos estágios iniciais do aquecimento, resultando em perda direta da resistência da madeira. Essa perda de resistência das hemiceluloses a ação de temperaturas elevadas deve-se à ausência de cristalinidade, baixa massa molecular, configuração irregular e ramificada, o que facilita a absorção de água e, consequentemente a degradação (SEVERO e TOMASELLI, 2003). Weiland e Gyonnet (2003), Rousset et al. (2004), Wikberg e Maunu (2004) afirmam que a madeira termorretificada apresenta aumento significativo na estabilidade dimensional devido à redução da higroscopicidade, à degradação das hemiceluloses, à ruptura dos grupos hidroxílicos livres da região amorfa da celulose e à reticulação dos polímeros que compõem a 38 madeira durante o tratamento. Madeiras de Pinus sp., Picea abies Karst. e Betula pendula Roth. quando submetidas ao tratamento térmico apresentaram reduções de 50% nos teores de umidade de equilíbrio higroscópico, devido à diminuição dos sítios de adsorção da parede celular e,consequentemente, uma melhora na estabilidade dimensional em torno de 50 a 90% (JÄMSA e VIITANIEMI, 2001). Segundo Homan et al. (2000), o tratamento de termorretificação provoca alterações, seja por fenômenos como recombinação, substituição dos grupos OH por outros de caráter hidrofóbico, eliminação de grupos OH ou indesejável quebra de cadeias, todas resultando em restrição da capacidade da madeira de trocar água com o meio circundante. De acordo com Sundqvist (2004), os grupos O-acetil são formados pela degradação da hemicelulose, e liberados da madeira na forma de ácido acético. O resultado do tratamento térmico é altamente dependente da presença de oxigênio e água. A presença do primeiro levará a reações de oxidação, que podem ser prevenidas pelo tratamento em uma atmosfera inerte como óleo, nitrogênio, água ou vapor. O uso de vapor é um modo eficiente e econômico de criar uma atmosfera inerte, mas que também influencia as reações que ocorrem durante o tratamento (JOHANSSON, 2008). Segundo Severo e Tomaselli (2003), em alta umidade relativa a madeira degrada predominantemente por hidrólise ácida e a taxa de degradação, nesse caso, é maior que a degradação térmica ou pirolítica. Na primeira, a água faz com que sejam quebrados os grupos acetilas, com a formação de ácido acético, responsável pela degradação da madeira. Deve-se, no entanto, considerar que o excesso de água reduz a quantidade de oxigênio no ar, podendo retardar a reação da hidrólise. De acordo com Weiland e Guyonnet (2005), peças de madeira termorretificadas são menos higroscópicas que as não tratadas, fato verificado pelo ângulo de contato formado entre a água, ou outro solvente orgânico, e a superfície da madeira. Ainda segundo os autores, quando a madeira de Pinus pinaster é aquecida entre 230°C e 260°C as peças apresentam variação volumétrica 25% inferior às não tratadas; já a madeira de Fagus silvatica, quando aquecida entre 230°C e 240°C, contrai 36% menos do que as peças 39 não expostas à ação do calor. Brito et al. (2006) submeteram a madeira de Eucalyptus grandis a um processo de termorretificação cuja temperatura máxima foi de 200ºC durante 24 horas e conseguiram reduzir em 25% a retratibilidade original da espécie. A melhoria na estabilidade dimensional pode ser explicada pela alta degradação das hemiceluloses, o mais hidrofílico dos constituintes da madeira e, por conseguinte, da redução dos sítios de sorção da madeira, principalmente as hidroxilas (BRITO et al., 2006; WEILAND e GUYONNET, 2005). Todavia, Repellin e Guyonnet (2005), ao avaliar a influência de dez tratamentos térmicos sob madeiras de pinho marítimo e faia, sugerem que, não apenas a degradação da hemicelulose é determinante para a redução da higroscopicidade, mas também a modificação da estrutura da lignina. Quando a madeira é aquecida em um ambiente de alta umidade relativa do ar o efeito da degradação térmica é maior do que em ambientes secos. Uma peça de madeira que sofreu degradação pela luz perde o brilho mais facilmente quando aquecida em ambientes úmidos (MITSUI et al., 2004; SEHLSTEDT-PERSSON, 2003). Korkut et al. (2008), verificou uma redução da aspereza da superfície das amostras tratadas em função da intensidade do tratamento, o que se traduz em um maior acabamento de superfície em madeira que serão submetidas ao resserramento. Ainda destaca que o tratamento térmico resultou em uma plasticização da superfície da madeira sólida e que altas temperaturas, acima de 160°C, levam a lignina a uma condição termoplástica e, assim, densifica e compacta a superfície da madeira sólida. As mudanças decorrentes do tratamento sobre as propriedades da superfície da madeira melhoram sua compatibilidade com componentes orgânicos, como as resinas ou polímeros, o que facilita as operações de impregnação, aderência, fabricação de derivados e o uso de produtos para revestimento de superfície (AZEVEDO e QUIRINO, 2006). Poncsák et al. (2006), ao avaliarem o efeito da temperatura sobre a resistência da madeira de Betula papyrifera, constataram que o módulo de ruptura diminui com o aumento da temperatura do tratamento térmico ou com a diminuição da taxa de aquecimento. Essas mudanças puderam ser claramente 40 observadas quando a temperatura de aquecimento utilizada era superior a 200ºC, provavelmente devido à quebra das moléculas de celulose e hemicelulose. Além disso, um dos fatores que contribuem para a perda de resistência é que o tratamento de termorretificação resulta em perda de peso pela madeira, dependendo da temperatura e tempo de exposição ao tratamento (GUNDUZ et al., 2009).Segundo Esteves e Pereira (2009), a degradação das hemiceluloses, em produtos voláteis, e a evaporação de extrativos são as principais razões para a redução da massa específica da madeira. Durante a termorretificação há uma perda de umidade de aproximadamente 30% de massa, constituída pelos subprodutos, provenientes da degradação da madeira e da umidade contida na mesma, sendo esta massa composta por 50,4 % de água, 20,7% de condensáveis (ácido pirolenhoso, furfural, ácido acético) e 28,9% de gases não condensáveis (CO2, N2, CO) (AZEVEDO e QUIRINO, 2006). A degradação da hemicelulose também tem sido proposta como o principal fator para a perda de resistência mecânica da madeira, bem como a cristalinidade da celulose amorfa (ESTEVES e PEREIRA, 2009). Segundo o mesmo autor, o menor conteúdo de umidade de equilíbrio pode afetar positivamente as propriedades de resistência da madeira tratada, mas esse efeito é superado pela degradação dos componentes químicos da madeira. De acordo com Vernois (2000), dependendo da madeira utilizada, as propriedades mecânicas a temperaturas de até 210°C permanecem com valores próximos dos originais. Já à temperatura de 230°C decréscimos nos módulos de ruptura (MOR), podem chegar perto de 40%, tornando-a mais frágil e quebradiça. Em espécies de maior densidade, essa redução é mais acentuada, devido à tendência do tratamento térmico induzir a formação de rachaduras nas peças. Quando exposta a temperaturas inferiores a 100ºC a madeira não sofre alterações em suas propriedades mecânicas. Entretanto a exposição prolongada a altas temperaturas provoca a diminuição sua resistência, tornando a madeira quebradiça (PONCSÁK et al., 2006. HEYGREENE e BROWYER, 1996). Para Bekhta e Niewz (2003) o módulo de ruptura de 41 amostras de madeira aquecidas a altas temperaturas diminui entre 44 e 50% já o módulo de elasticidade cai entre quatro e nove porcento. Segundo Yildiz et al. (2006), as alterações na resistência a compressão da madeira de Spruce somente são observadas a partir de 180ºC. De acordo com Shi et al. (2007), em madeiras submetidas a tratamentos com temperaturas acima de 200ºC, geralmente a redução do módulo de elasticidade é menor que o de ruptura. Há casos de folhosas em que o módulo de elasticidade pode aumentar em até 30% em relação à madeira não tratada. Entretanto, os artigos são contraditórios com relação ao na rigidez da madeira. Alguns autores afirmam que há um aumento da espessura da região cristalina da celulose, que é capaz de impedir a diminuição da rigidez do material devido à perda de massa, outros mostram que a perda de massa acentuada, provocada pela termorretificação, é suficiente para reduzir o módulo de elasticidade das madeiras. A termorretificação aumenta a resistência da madeira ao ataque de fungos, pois o tratamento altera a composição química da madeira e promove a indisponibilidade de alimentos aos fungos, reduz o teor de umidade de equilíbrio, promove a criação de novas moléculas livres que atuam como fungicidas, além de reticular a rede de lignina dificultando o reconhecimento do substrato pelos fungos (VERNOIS, 2001; WEILAND e GUYONNET, 2003). Momohara et al. (2003) trataram o cerne da madeira de Cryptomerica japonica D. Don., entre 105ºC e 150ºC por períodos de 6 a 72 horas, e concluíram que quanto maior o tempo e a temperatura de tratamento melhor foi a resistência da madeira ao fungo Fomitopsis palustris. A perda de massa, mediante ao ataque de fungo durante 8 semanas em condições de laboratório, foi de 30% para a madeira controle e de 10% para a madeira tratada à 150ºC, durante 24 horas. A termorretificação da madeira é considerado um tratamento alternativo e ecologicamente amigável (sem adição de produtos químicos) aplicado para melhorar a qualidade da madeira (AWOYEMI e JONES, 2010). Entre as melhorias proporcionadas à madeira pelo tratamento estão a maior estabilidade dimensional (GARCIA et al., 2010), maior durabilidade (KAMDEM et al., 2002), maior resistência ao intemperismo natural 42 (NUOPPONEN et al., 2004), maior uniformidade da cor (SAILER et al., 2000) e maior estabilidade da cor (AYADI et al., 2003). Gouveia (2008) estudou o efeito do tratamento térmico na estabilidade da cor de madeiras tropicais após exposição à radiação UV. As madeiras de Simarouba amara (marupá) e Sextonia rubra (louro-vermelho) tratadas a 200°C (1 h) e 150°C (2 h), respectivamente, apresentaram uma menor variação de cor. O tratamento térmico também tem sido utilizado na Europa, EUA e Canadá para modificar a cor original de madeiras de baixo valor comercial visando obter produtos de maior valor agregado. Este processo também é denominado de: envelhecimento controlado, conversão de madeiras leves para nativas (devido ao escurecimento da madeira e comercialização de madeiras exóticas como nativas), tratamento ecológico sem químicos e também chamado de tropicalização de coníferas, no qual madeiras claras e provenientes de reflorestamentos podem adquirir cores escuras, semelhantes às madeiras tropicais. No Brasil, algumas pesquisas têm sido realizadas com o tratamento de termorretificação da madeira de Eucalyptus sp, espécie exótica e largamente cultivada no país visando a melhoria de suas propriedades e, consequentemente a obtenção de um produto de maior valor agregado (GARCIA et al., 2010; PALERMO, 2010; CALONEGO, 2009). Brito et al. (2006) estudaram a retratibilidade e a perda de massa da madeira de Eucalyptus grandis Hill Ex. Maiden submetida à faixas de temperatura entre 120 e 200ºC com duração máxima de 24 horas. As amostras termorretificadas foram comparadas com amostras da madeira original. Os resultados mostraram uma redução significativa de 25% da retratibilidade para a madeira tratada em condições mais severas (200ºC durante 24 horas) enquanto que os demais tratamentos de termorretificação demonstraram resultados similares aos da madeira original. O efeito do tratamento depende principalmente das condições do processo (temperatura e tempo) e das características da madeira (espécie, dimensões da amostra e características anatômicas e químicas) (MILITZ, 2002). 43 4 MÉTODOS 4.1 MATERIAIS As amostras da madeira termorretificada e sem tratamento, foram fornecidas pela empresa TWBRAZIL, localizado na região de Ponta Grossa no Estado do Paraná. As amostras foram selecionadas ao acaso, oriundas de um mesmo lote de tábuas que chegaram à empresa para realização do tratamento. As espécies utilizadas foram Eucalyptus grandis, Pinus taeda e Tectona grandis. O material foi recebido em forma de tábuas, em número de cinco para cada espécie e tratamento (com e sem tratamento), totalizando 30 amostras. As amostras podem ser observadas na FIGURA 3. FIGURA 3 - TÁBUAS DAS MADEIRAS TRATADAS E SEM TRATAMENTO. A- Pinus taeda TRATADO. B- Pinus taeda SEM TRATAMENTO. C- Eucalyptus grandis TRATADO. D- Eucalyptus grandis SEM TRATAMENTO. E- Tectona grandis TRATADA. F- Tectona grandis SEM TRATAMENTO FONTE: A autora (2011) 44 4.2 MÉTODOS 4.2.1 TERMORRETIFICAÇÃO A TWBRAZIL iniciou sua pesquisa com aplicação de calor a elevadas temperaturas utilizando vapor saturado, aliado a uma eficiente eliminação de oxigênio, denominado “VAP HolzSisteme”, adotando a terminologia TMT ao processo. Os equipamentos utilizados para o tratamento consistem basicamente de: um gerador de vapor saturado gradual; um vaso de pressão, ou seja, uma (ou mais) câmara(s); Esfriamento Controlado a Umidade Constante; Sistema de controle do processo; autoclave onde as madeiras são colocadas. Esquematicamente o sistema funciona da maneira ilustrada na FIGURA 4. O sistema TMT pode ser visualizado com mais detalhes na FIGURA 5. FIGURA 4 - ESQUEMA BÁSICO CONJUNTO GERADOR DE VAPOR/AUTOCLAVE
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