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Processo Civil I Maria Catarina Farias COMPETÊNCIA 1. Conceito: A competência pode ser definida como a medida da jurisdição, ou seja, a quantidade de jurisdição que é atribuída a um grupo de órgãos jurisdicionais pela lei; se caracteriza como pressuposto processual de validade. Todo juiz possui jurisdição, mas nem todos se apresentam com competência para conhecer e julgar determinado litígio; em vista da extensão territorial/social do país, é necessário especialização para uma maior efetividade na decisão. Dessa forma, entende- se que a função jurisdicional deve ser exercida de modo fracionado entre os diversos órgãos competentes do Poder Judiciário. 2. Distribuição de competência: Terá que analisar critérios como soberania nacional (competência internacional), espaço territorial (competência territorial e de foro), hierarquia dos órgãos jurisdicionais (competência funcional), valor da causa e pessoas envolvidas no litígio. CPC, Art. 44. Obedecidos os limites estabelecidos pela Constituição Federal, a competência é determinada pelas normas previstas neste Código ou em legislação especial, pelas normas de organização judiciária e, ainda, no que couber, pelas constituições dos Estados. Obs. Ainda é possível falar em uma competência que tem o negócio jurídico processual como fonte normativa: o foro de eleição. • Princípios da tipicidade da competência e da indisponibilidade da competência → Fazem parte do conteúdo do princípio do juiz natural, a tipicidade é a regra de que as competências dos órgãos constitucionais são aquelas expressas na Constituição; e a indisponibilidade, entende a impossibilidade de haver transferência de competência para órgãos diferentes daqueles estabelecidos na Constituição. Obs.: Competência implícita e ausência de vácuo de competência: O STF admite que nos casos em que não existindo regra expressa, algum órgão haverá de ter competência para apreciar o tema – a existência desse instituto, competência implícitas, é essencial para garantir a completude do ordenamento jurídico, inexistindo qualquer vácuo de competência. • Regra da KOMPETENZKOMPETENZ ou Princípio da Competência Competência → todo órgão jurisdicional possui uma competência mínima (atômica), para o controle da própria competência; ou seja, o próprio juiz pode decidir acerca da sua competência no processo. 3. Perpetuatio jurisdictionis: também chamada de princípio da perpetuação da jurisdição, determina que a competência é fixada no momento do registro ou da distribuição da petição inicial até a prolação da decisão, tornando-se, em regra, inalterável em razão de circunstâncias supervenientes – haverá exceções como é o caso Processo Civil I Maria Catarina Farias da conexão e continência, estudadas a seguir. Constitui regra indispensável, tendo em vista a sua importância na garantia da estabilidade e segurança jurídica do processo, impedindo a influência de mudanças externas posteriores (ex. mudança de domicílio do réu) sobre a competência do órgão jurisdicional. CPC, Art. 43. Determina-se a competência no momento do registro ou da distribuição da petição inicial, sendo irrelevantes as modificações do estado de fato ou de direito ocorridas posteriormente, salvo quando suprimirem órgão judiciário ou alterarem a competência absoluta. • Exceções: a) Supressão do órgão judiciário, a extinção de uma vara ou comarca – nos casos de desmembramento de comarca, só implicará a redistribuição se houver alteração da competência absoluta; b) Alteração superveniente da competência absoluta, a alteração em razão da matéria, da função ou em razão da pessoa – todas espécies de competência absoluta autorizam a alteração da competência inicialmente estabelecida. Obs. Se a alteração de competência absoluta ocorrer após sentença, não haverá a redistribuição do processo com a quebra de perpetuação da competência, visto que já houve julgamento; entende-se então, que a não se alcança os processos já sentenciados – Súmula 367 do STJ. Obs.² O STJ consagrou em jurisprudência a possibilidade de quebra da perpetuação da jurisdição em casos que envolvam o interesse de menores, mesmo sem as prerrogativas de competência absoluta, aplicando-se o princípio do melhor interesse do menor (desde que não haja identificação de objetivos escusos, má fé, pelas partes). • Competência por distribuição: Nas varas em que há mais de um juiz, os processos devem ser distribuídos, de modo alternado e aleatório; a distribuição deve ser feita imediatamente, na data da propositura da ação (art. 93, XV, CF/88) – sendo suas regras cogentes, de competência absoluta. Fixa a competência concreta do juízo, compondo o princípio do juiz natural. CPC, Art. 284. Todos os processos estão sujeitos a registro, devendo ser distribuídos onde houver mais de um juiz. 4. Classificação da competência Competência do foro (territorial), foro é o local onde o órgão jurisdicional exerce as suas funções, ou seja, identifica o território de jurisdição e os correspondentes limites, é regulada pelo CPC. Competência do juízo, o juízo é a unidade administrativa (vara, cartório), dessa forma, quando houver, no mesmo território, vários juízes com atribuições similares, identifica-se qual deles terá competência para processar e julgar a lide, sendo matéria das leis de organização judiciária. Processo Civil I Maria Catarina Farias Competência originária, é aquela atribuída ao órgão jurisdicional para conhecer da causa em primeiro lugar, ou seja, julgar a causa em primeiro grau de jurisdição – pode ser atribuída ao juízo singular, ou, excepcionalmente ao tribunal (ex. ação rescisória, mandado de segurança contra ato judicial etc.). Competência derivada, também chamada de recursal, é atribuída ao órgão jurisdicional com o objetivo de rever a decisão já proferida na primeira instância – normalmente, compete ao tribunal (colegiado), mas há situações em que o próprio magistrado de primeira instância possui competência recursal (ex. embargos infringentes de alçadas, serão julgados pelo mesmo juízo prolator da sentença). Obs. Ambas são espécies de competência funcional (relaciona-se as funções desempenhadas pelos órgãos jurisdicionais nos diversos graus de jurisdição) e absoluta. COMPETÊNCIA ABSOLUTA COMPETÊNCIA RELATIVA Atender interesse público. Atender interesse particular (das partes). Pode ser alegada a qualquer tempo e grau de jurisdição, por qualquer parte, inclusive de ofício pelo juiz (ex officio, CPC, art. 64, §1º) e como preliminar de contestação pelo réu (CPC, art. 64). Se configura como defeito grave, podendo, mesmo após trânsito em julgado da última decisão, utilizar no prazo de dois anos a ação rescisória para desconstituição (CPC, art. 966, II). Somente pode ser alegada pelo réu, na contestação, sob pena de preclusão e prorrogação da competência do juízo. Não pode ser conhecida de ofício pelo magistrado (CPC, art. 65; Súmula 33, STJ) A jurisprudência entendeu que o Ministério Público pode alegar a incompetência relativa nas causas em que atuar como fiscal da ordem jurídica, custos legis (CPC, art. 65, parágrafo único). Não havendo sua alegação o juiz torna-se competente. Não pode ser alterada por vontade das partes. As partes podem alterar. Ex. Foro de eleição, negócio processual. Não pode ser alterada com conexão (processos com mesma causa de pedir) ou continência (um processo contido no outro). Pode ser modificada por conexão ou continência. Art. 54. A competência relativa poderá modificar-se pela conexão ou pela continência, observado o disposto nesta Seção. Competências em razão da matéria, da pessoa e funcional são absolutas. A competência em razão do valor da causa é Competência territorial é, em regra, relativa (nas ações civis públicas é absoluta). Também é relativa quanto ao valorda causa quando ficar aquém do limite estabelecido por lei. Processo Civil I Maria Catarina Farias absoluta quando extrapolar o valor dos limites estabelecidos por lei. Em alguns casos, a competência territorial também é absoluta (ação civil pública). Ex. O juizado especial tem um teto de 40 salários-mínimos; L9099 - Art. 3º O Juizado Especial Cível tem competência para conciliação, processo e julgamento das causas cíveis de menor complexidade, assim consideradas: I - as causas cujo valor não exceda a quarenta vezes o salário mínimo; Os valores além de 40 salários é obrigatório ir pra justiça comum. • Translatio iudicii: é a manutenção da litispendência (processos com causas idênticas) e dos seus efeitos (materiais ou processuais), mesmo com o reconhecimento da incompetência; dessa forma, por conta de sua existência, o juiz competente pode analisar se os atos não decisórios do juiz anterior (classificado como incompetente) podem ser utilizados. CPC, art.64, §4º Salvo decisão judicial em sentido contrário, conservar-se-ão os efeitos de decisão proferida pelo juízo incompetente até que outra seja proferida, se for o caso, pelo juízo competente. • Foros concorrentes: nas situações em que há mais de um foro competente para o julgamento da demanda, fala-se em foros concorrentes. a) Forum shopping – é a possibilidade que a parte têm para decidir sobre qual o foro que quer; b) Forum non conveniens. – buscando a manutenção do princípio da boa-fé, criou-se esse instituto jurisprudencial, possibilitando que em determinados casos a escolha do foro pode ser limitada pelo próprio juízo, quando este, em frente ao concorrente, não se entender como mais adequado (ou, identificando abuso de direito) para a causa em questão - Princípio da competência competência. Exemplo: CPC, Art. 47. Para as ações fundadas em direito real sobre imóveis é competente o foro de situação da coisa. § 1º O autor pode optar pelo foro de domicílio do réu ou pelo foro de eleição se o litígio não recair sobre direito de propriedade, vizinhança, servidão, divisão e demarcação de terras e de nunciação de obra nova. 5. Competência internacional: visa delimitar os espaços em que pode atuar a jurisdição (competência de jurisdição), onde o Estado pode fazer cumprir soberanamente suas sentenças; é a aplicação do princípio da efetividade “o Estado deve abster-se de julgar se a sentença não tem como ser reconhecida onde deve exclusivamente produzir efeitos.” Processo Civil I Maria Catarina Farias • Competência internacional concorrente ou cumulativa: CPC, Art. 21. Compete à autoridade judiciária brasileira processar e julgar as ações em que: I - o réu, qualquer que seja a sua nacionalidade, estiver domiciliado no Brasil; II - no Brasil tiver de ser cumprida a obrigação; III - o fundamento seja fato ocorrido ou ato praticado no Brasil. Parágrafo único. Para o fim do disposto no inciso I, considera-se domiciliada no Brasil a pessoa jurídica estrangeira que nele tiver agência, filial ou sucursal. CPC, Art. 22. Compete, ainda, à autoridade judiciária brasileira processar e julgar as ações: I - de alimentos, quando: o credor tiver domicílio ou residência no Brasil; o réu mantiver vínculos no Brasil, tais como posse ou propriedade de bens, recebimento de renda ou obtenção de benefícios econômicos; II - decorrentes de relações de consumo, quando o consumidor tiver domicílio ou residência no Brasil; III - em que as partes, expressa ou tacitamente, se submeterem à jurisdição nacional. • Necessidade de homologação pelo STJ da decisão em tribunal estrangeiro CPC, Art. 963. Constituem requisitos indispensáveis à homologação da decisão: I - ser proferida por autoridade competente; II - ser precedida de citação regular, ainda que verificada a revelia; III - ser eficaz no país em que foi proferida; IV - não ofender a coisa julgada brasileira; V - estar acompanhada de tradução oficial, salvo disposição que a dispense prevista em tratado; VI - não conter manifesta ofensa à ordem pública. • Competência internacional exclusiva – aqui, as sentenças estrangeiras proferidas não produz nenhum efeito no território brasileiro, não podendo ser homologada. CPC, Art. 23. Compete à autoridade judiciária brasileira, com exclusão de qualquer outra: I - conhecer de ações relativas a imóveis situados no Brasil; II - em matéria de sucessão hereditária, proceder à confirmação de testamento particular e ao inventário e à partilha de bens situados no Brasil, ainda que o autor da herança seja de nacionalidade estrangeira ou tenha domicílio fora do território nacional; III - em divórcio, separação judicial ou dissolução de união estável, proceder à partilha de bens situados no Brasil, ainda que o titular seja de nacionalidade estrangeira ou tenha domicílio fora do território nacional. Processo Civil I Maria Catarina Farias • Competência concorrente e litispendência do tribunal estrangeiro Art. 24. A ação proposta perante tribunal estrangeiro não induz litispendência e não obsta a que a autoridade judiciária brasileira conheça da mesma causa e das que lhe são conexas, ressalvadas as disposições em contrário de tratados internacionais e acordos bilaterais em vigor no Brasil. Parágrafo único. A pendência de causa perante a jurisdição brasileira não impede a homologação de sentença judicial estrangeira quando exigida para produzir efeitos no Brasil. Alguns outros princípios definem as regras de competência internacional: a) Plenitudo jurisdictionis, “o poder/dever de conceder a prestação jurisdicional nos limites do seu território é pleno e ilimitado, assim proclamado como regra geral pelo direito internacional, excepcionado apenas pelas limitações estabelecidas por sua própria legislação e, em alguns casos, por construção jurisprudencial" b) Exclusividade: "é aquele em razão do qual os tribunais de cada país, uma vez acionados, aplicarão sempre as regras delimitadoras de jurisdição que integram a sua própria ordem jurídica, abstendo-se de aplicar aquelas que pertençam à esfera de outro Estado, embora possam aquelas serem consultadas em circunstâncias especiais, quando se trata de reconhecimento de sentenças estrangeiras". c) Unilateralidade: à norma delimitadora da jurisdição estatal, que afirma ou afasta a competência internacional do Estado, não se concede o poder de atribuir competência internacional a outro Estado. Assim, não enquadrada uma demanda em alguma hipótese de competência internacional, fica excluída a possibilidade de essa mesma hipótese servir para que se remeta o julgamento à jurisdição de outro Estado, sob pena de ofensa à soberania estrangeira. d) Imunidade de jurisdição: trata-se do princípio segundo o qual a jurisdição deixa de ser exercida em razão da qualidade do réu. Um Estado soberano não tem como julgar outro Estado igualmente soberano sem o consentimento deste. Trata-se de princípio de direito internacional (par in par non habet iudicium). Atinge também os chefes de Estado, pessoas por ele designadas, além de determinadas pessoas físicas e jurídicas, em razão das funções que exercem. "Com a evolução das relações internacionais e passando os Estados a ocupar com mais frequência a posição de parte nas atividades comerciais, impunha-se o abrandamento do princípio. Surgiu. assim a teoria da imunidade relativa, distinguindo os atos de gestão - ius gestionis – em função da sua natureza ou da sua finalidade, dos atos de império - ius imperii, só estes garantidores da jurisdição privilegiada, pois praticados pelo Estado enquanto titular do poder soberano". e) Proibição de denegação de justiça: para evitar uma denegação de justiça. o Estado inicialmente incompetente para apreciar a demanda, deve julgá-la quando ficar constatado que ela não poderá ser proposta em qualquer outro tribunalestrangeiro. "A atribuição de jurisdição ao Estado para decidir medidas cautelares destinadas a produzir efeitos em seu próprio território emerge do princípio que veda a denegação de justiça". f) Autonomia da vontade: reconhece-se a possibilidade de escolha da jurisdição, em caso de concorrência, inclusive com foro de eleição. Gerou o forum shopping e a doutrina do forum non conveniens, "que deixa ao arbítrio do juízo acionado a possibilidade de recusar a prestação jurisdicional se entender comprovada a existência de outra jurisdição internacional invocada como concorrente e mais adequada para atender aos interesses das partes, ou aos reclamos da justiça em geral" Processo Civil I Maria Catarina Farias 6. Identificação do juiz competente: Verificar se a justiça brasileira é competente Analisar se o caso é de competência originária de tribunal - Constituição Não sendo o caso, verificar se é justiça especial (trabalhista, eleitoral e militar) ou justiça comum. Se for comum, saber se é federal (arts. 108-109 CF), não sendo federal será justiça estadual que é residual. Sendo estadual buscar o foro competente segundo CPC. Após saber o foro competente, verificar o juízo competente. – regimentos internos dos tribunais, verificar a divisão das varas 7. Determinação de distribuição de competência: Para a distribuição alguns critérios precisam ser observados, é importante comentar que em algumas situações um dos critérios pode ser irrelevante (ex. exame de competência territorial de um tribunal superior que exerce jurisdição em todo o país). • Critério objetivo – se leva em conta o tipo de demanda apresentada, para saber esse critério é necessário saber os elementos do processo: partes, pedido e causa de pedir. a) competência em razão da pessoa (absoluta): aqui, a competência é fixada analisando as partes envolvidas, ex. mandado de segurança contra ato do Presidente > o STF é o competente. Obs. Cabe lembrar o enunciado n. 206 da súmula do STJ: "A existência de vara privativa, instituída por lei estadual, não altera a competência territorial resultante das leis do processo.” A existência de vara privativa implica que, na comarca onde ela existir, as causas contra a Fazenda Pública devem ser perante ela ajuizadas. Não significa que todas as causas contra a Fazenda Pública devem ser lá processadas; não se trata de um juízo universal. Se na comarca não há vara privativa, a demanda contra o Estado deve ser processada na vara que para tanto tiver competência (uma vara comum, por exemplo). b) competência em razão da matéria (absoluta): é determinada pela natureza da relação jurídica em questão, ou seja, definida pelo fato jurídico que lhe dá causa, pela causa de pedir que contém a afirmação do direito discutido, ex. ação de alimentos > Vara de Família. c) competência em razão do valor da causa (relativa): o valor da causa é definido a partir do valor do pedido (um dos elementos da demanda), ex. causas cujo valor não exceda a quarenta vezes o salário mínimo > Juizados Especiais. Processo Civil I Maria Catarina Farias Obs. Importante lembra que apesar do valor da causa ser considerado competência relativa, há casos em que será estabelecido como competência absoluta – ex. quando couber Juizados Especiais. • Critério funcional - relaciona-se com a distribuição das funções que devem ser exercidas no processo, são aspectos internos – acerca do exercício das atribuições que são exigidas do magistrado na condução do processo. a) por graus de jurisdição: originária e recursal b) por fases do processo: conhecimento e execução, ex. apuração dos crimes dolosos contra a vida > Juízo singular pronuncia o réu > Conselho de Sentença condena > Juiz presidente faz a dosimetria da pena. c) por objeto do juízo: assunção de competência (art. 947) ou arguição de inconstitucionalidade em tribunal (art. 948) • Critério territorial – é a regra que determina em que território a causa deve ser processada, ou seja, distribui a competência em razão do lugar; em regra, será competência relativa, derrogável pelas partes; mas há casos em que irá se equiparar a competência absoluta, como na proposição de ação civil pública. Regras Gerais de competência territorial: CPC, Art. 46. A ação fundada em direito pessoal ou em direito real sobre bens móveis será proposta, em regra, no foro de domicílio do réu. § 1o Tendo mais de um domicílio, o réu será demandado no foro de qualquer deles. § 2o Sendo incerto ou desconhecido o domicílio do réu, ele poderá ser demandado onde for encontrado ou no foro de domicílio do autor. § 3o Quando o réu não tiver domicílio ou residência no Brasil, a ação será proposta no foro de domicílio do autor, e, se este também residir fora do Brasil, a ação será proposta em qualquer foro. § 4o Havendo 2 (dois) ou mais réus com diferentes domicílios, serão demandados no foro de qualquer deles, à escolha do autor. Regras Especiais de competência territorial: ✔ Art. 101, I, CDC – nos casos de relação de consumo, o foro competente é o domicílio do autor-consumidor. (não se trata de regra de competência absoluta, podendo o beneficiário dela abrir mão, elegendo o foro da regra geral – domicílio do demandado) ✔ Art. 47 do CPC - Para as ações fundadas em direito real sobre imóveis é competente o foro de situação da coisa. (fórum rei sitae) § 1o O autor pode optar pelo foro de domicílio do réu ou pelo foro de eleição se o litígio não recair sobre direito de propriedade, vizinhança, servidão, divisão e demarcação de terras e de nunciação de obra nova. § 2o A ação possessória imobiliária será proposta no foro de situação da coisa, cujo juízo tem competência absoluta. Processo Civil I Maria Catarina Farias ✔ Art. 48 do CPC - O foro de domicílio do autor da herança, no Brasil, é o competente para o inventário, a partilha, a arrecadação, o cumprimento de disposições de última vontade, a impugnação ou anulação de partilha extrajudicial e para todas as ações em que o espólio for réu, ainda que o óbito tenha ocorrido no estrangeiro. Parágrafo único. Se o autor da herança não possuía domicílio certo, é competente: I - o foro de situação dos bens imóveis; II - havendo bens imóveis em foros diferentes, qualquer destes; III - não havendo bens imóveis, o foro do local de qualquer dos bens do espólio. ✔ Art. 49 do CPC. A ação em que o ausente for réu será proposta no foro de seu último domicílio, também competente para a arrecadação, o inventário, a partilha e o cumprimento de disposições testamentárias. ✔ Art. 76, Par. Ún, CC + Art. 50 CPC: A ação em que o incapaz for réu será proposta no foro de domicílio de seu representante ou assistente. ✔ Art. 53. É competente o foro: I - para a ação de divórcio, separação, anulação de casamento e reconhecimento ou dissolução de união estável: a) de domicílio do guardião de filho incapaz; b) do último domicílio do casal, caso não haja filho incapaz; c) de domicílio do réu, se nenhuma das partes residir no antigo domicílio do casal; II - de domicílio ou residência do alimentando, para a ação em que se pedem alimentos; III - do lugar: a) onde está a sede, para a ação em que for ré pessoa jurídica; b) onde se acha agência ou sucursal, quanto às obrigações que a pessoa jurídica contraiu; c) onde exerce suas atividades, para a ação em que for ré sociedade ou associação sem personalidade jurídica; d) onde a obrigação deve ser satisfeita, para a ação em que se lhe exigir o cumprimento; e) de residência do idoso, para a causa que verse sobre direito previsto no respectivo estatuto; f) da sede da serventia notarial ou de registro, para a ação de reparação de dano por ato praticado em razão do ofício; IV - do lugar do ato ou fato para a ação: a) de reparação de dano; b) em que for réu administrador ougestor de negócios alheios; V - de domicílio do autor ou do local do fato, para a ação de reparação de dano sofrido em razão de delito ou acidente de veículos, inclusive aeronaves. ✔ Art. 7. da lei 11.340/2006 – causas de violência doméstica e familiar contra a mulher, tramitam a depender da escolha da autora: no seu domicílio, lugar do fato ou domicílio do suposto agressor. Processo Civil I Maria Catarina Farias 8. Modificação de competência (só acontece em competência relativa): • Hipóteses Legais a) Conexão: CPC, Art. 55. Reputam-se conexas 2 (duas) ou mais ações quando lhes for comum o pedido ou a causa de pedir. §1º Os processos de ações conexas serão reunidos para decisão conjunta, salvo se um deles já houver sido sentenciado. §2º Aplica-se o disposto no caput: I - à execução de título extrajudicial e à ação de conhecimento relativa ao mesmo ato jurídico; II - às execuções fundadas no mesmo título executivo. §3º Serão reunidos para julgamento conjunto os processos que possam gerar risco de prolação de decisões conflitantes ou contraditórias caso decididos separadamente, mesmo sem conexão entre eles. *Conexão por afinidade, trata-se de designação para certo tipo de vínculo entre causas já bastante consagrada na doutrina brasileira, que serve à aplicação do inciso III do art. 113 do CPC (litisconsórcio por afinidade). As "causas repetitivas" muitas vezes são aquelas em que os autores poderiam ter sido litisconsortes por afinidade, mas, por variadas razões, optaram por demandar isoladamente. b) Continência CPC, Art. 56. Dá-se a continência entre 2 (duas) ou mais ações quando houver identidade quanto às partes e à causa de pedir, mas o pedido de uma, por ser mais amplo, abrange o das demais. Conexão x Continência: A conexão pode advir das situações em que ações diferentes possuem vinculação quanto ao objeto, a causa de pedir; buscando a eficiência processual e manutenção da segurança jurídica ao evitar decisões contraditórias, quando verificada a identidade entre o pedido e possibilidade de reunião, é permitida a modificação de competência, para uma decisão conjunta. Definida no CPC em seu art. 55, para Cristiano Chaves a conexão tem seu conceito como gênero, ao qual a continência torna-se espécie, visto que, para essa última, há a necessidade de identidade quanto às partes (art. 56); então, ao final, a continência é um exemplo de conexão. Pode-se concluir que o legislador ao determinar a conexão, não induz a obrigatoriedade de igualdade entre partes para a ação deste instituto jurídico; mas, nos casos em que essa característica se apresenta há uma outra possibilidade, a utilização da continência. Qualquer das partes pode alegar a conexão/continência, normalmente o autor o faz na petição inicial (pedido de incontinenti, distribuição por dependência), ao réu cabe alegar a conexão em preliminar de contestação. O juiz poderá reconhecer de ofício a conexão/continência quando for alegação de modificação legal da competência (parte-se da premissa de que o órgão jurisdicional é competente, mas, em razão da prorrogação da competência, deve a causa ser remetida a outro órgão jurisdicional, o prevento). Processo Civil I Maria Catarina Farias • Hipóteses voluntárias a) Foro de Eleição – aqui, em acordo à vontade das partes, vai haver a eleição do foro (não o juízo) ao qual serão propostas as ações oriundas de direitos obrigacionais (art. 63, caput, CPC). Para que haja a eleição, é imprescindível que haja a documentação escrita, indicando expressamente o negócio jurídico determinado (art. 63, §1º, CPC), podendo obrigar herdeiros e sucessores. É interessante que o dispositivo normativo não impede a eleição de mais de um foro pelas partes contratantes, ex. uma situação em que o contratante A escolhe um foro para o caso de se tornar autor, enquanto o B escolhe outro para o caso de ser o demandante. Também existe a possibilidade de, em um mesmo negócio jurídico, haja a eleição do foro e a convenção de arbitragem; nesse caso, o foro de eleição servirá para a identificação do juízo competente para demandar uma futura execução da sentença arbitral, ou de efetivação de mediadas urgentes para além da competência do juízo arbitral. Há uma divergência acerca da extensão do foro de eleição, Moniz de Aragão segue o princípio de que a competência do foro de eleição estaria restrita as questões que resultam do contrato em que foi especificada; entretanto, há julgados que, mesmo em causas acerca da validade do negócio jurídico, não excluem a competência do foro de eleição para processar e julgar a demanda, visto que as partes ainda seriam as que compactuaram na eleição do foro (STJ, 4ª. T., REsp n. 287.600-PR, rei. Min. Ruy Rosado de Aguiar, j. em 01.03.2001). A abusividade de cláusula de foro de eleição é defeito que pode ser reconhecido ex ofício pelo órgão jurisdicional, excepcionando a regra de incompetência relativa, pode ser de ofício até a citação do réu. CPC, Art. 63, § 3º Antes da citação, a cláusula de eleição de foro, se abusiva, pode ser reputada ineficaz de ofício pelo juiz, que determinará a remessa dos autos ao juízo do foro de domicílio do réu. Considera-se abusiva a cláusula de foro de eleição em contratos de consumo: i) se, no momento da celebração, a parte aderente não dispunha de intelecção suficiente para compreender o sentido e as consequências da estipulação contratual; ii) se dá prevalência de tal estipulação resultar inviabilidade ou especial dificuldade de acesso ao judiciário; iii) se se tratar de contrato de obrigatória adesão, assim entendido o que tenha por objeto produto ou serviço fornecido com exclusividade por determinada empresa (STJ, 4ª T., Resp. 56.711-4-SP, rel. Min. Sálvio de Figueiredo, j. 07.02.1995). Os fundamentos servem, mutatis mutandis, para os negócios que não são de consumo, podendo continuar com a devida alteração. Admite-se a escolha de foro exclusivo estrangeiro, na elaboração de contratos internacionais (CPC, art. 25), trata-se de acordo de jurisdição, pelo qual se escolhe o país onde a causa deve tramitar – seguirá a mesma definição que cuida de foro de eleição interno (CPC, art. 63). Excetua-se os casos em que há competência internacional exclusiva da justiça brasileira. Processo Civil I Maria Catarina Farias b) Não alegação de incompetência relativa – ocorre quando o réu, em sua preliminar de contestação, não argui a incompetência do juízo; dessa forma, prorroga-se a competência. Obs. Nos casos em que o MP for réu, este, alegará a incompetência, assim como, em processos que atuar como fiscal da ordem jurídica na defesa do incapaz também há essa prerrogativa. 9. Cooperação Nacional CPC, Art. 67. Aos órgãos do Poder Judiciário, estadual ou federal, especializado ou comum, em todas as instâncias e graus de jurisdição, inclusive aos tribunais superiores, incumbe o dever de recíproca cooperação, por meio de seus magistrados e servidores. Art. 68. Os juízos poderão formular entre si pedido de cooperação para prática de qualquer ato processual. Art. 69. O pedido de cooperação jurisdicional deve ser prontamente atendido, prescinde de forma específica e pode ser executado como: I - auxílio direto; II - reunião ou apensamento de processos; III - prestação de informações; IV - atos concertados entre os juízes cooperantes. § 1º As cartas de ordem, precatória e arbitral seguirão o regime previsto neste Código. § 2º Os atos concertados entre os juízes cooperantes poderão consistir, além de outros, no estabelecimento de procedimento para: I - a prática de citação, intimação ou notificação de ato; II - a obtenção e apresentação de provas e a coleta de depoimentos; III - a efetivação de tutela provisória; IV - a efetivação de medidas e providências para recuperaçãoe preservação de empresas; V - a facilitação de habilitação de créditos na falência e na recuperação judicial; VI - a centralização de processos repetitivos; VII - a execução de decisão jurisdicional. § 3º O pedido de cooperação judiciária pode ser realizado entre órgãos jurisdicionais de diferentes ramos do Poder Judiciário. *inclui-se o juízo arbitral* 10. Prevenção: A prevenção é critério para exclusão dos demais juízos competentes de um mesmo foro ou tribunal; por força da prevenção permanece apenas a competência de um entre vários juízos competentes. Funciona como mecanismo de integração em casos de conexão: é o instrumento para que se saiba em qual juízo serão reunidas as causas conexas. Prevento é o juízo a que primeiramente foi designada uma das causas conexas. CPC, Art. 59. O registro ou a distribuição da petição inicial torna prevento o juízo. Processo Civil I Maria Catarina Farias Obs. Existe ainda outras regras de modificação de competência como é o caso das ações relativas a imóvel situado em mais de um Estado, comarca, seção ou subseção judiciária (art. 60, CPC), estendendo-se ao juiz prevento; e as ações acessórias (art. 61, CPC) que terá como competente o juízo da ação principal. Obs.² Didier acredita que a possibilidade de utilização do agravo de instrumento para rejeitar a alegação de convenção de arbitragem (art.1.015, III, CPC) devem ser expandidas a qualquer decisão sobre a competência do juízo, seja ela relativa, seja ela absoluta. 11. Conflito de competência CPC, Art. 66. Há conflito de competência quando: I - 2 (dois) ou mais juízes se declaram competentes; (conflito competência positiva) II - 2 (dois) ou mais juízes se consideram incompetentes, atribuindo um ao outro a competência; (conflito competência negativa) III - entre 2 (dois) ou mais juízes surge controvérsia acerca da reunião ou separação de processos. Parágrafo único. O juiz que não acolher a competência declinada deverá suscitar o conflito, salvo se a atribuir a outro juízo. Obs. Não haverá conflito de competência se uma das causas já foi julgada (Súmula 59, STJ). Obs.² Também não há conflito se entre os juízos houver diferença hierárquica, prevalecendo o posicionamento do juízo hierarquicamente superior, por exemplo: não há conflito entre STF e qualquer outro juízo. É possível, porém, que surja conflito entre um tribunal e um juiz a ele não vinculado. • Legitimidade para suscitar conflito – podem provocar a existência de conflito o juiz ou tribunal, membro do Ministério Público ou qualquer das partes. CPC, Art. 953. O conflito será suscitado ao tribunal: I - pelo juiz, por ofício; II - pela parte e pelo Ministério Público, por petição. Art. 951. O conflito de competência pode ser suscitado por qualquer das partes, pelo Ministério Público ou pelo juiz. Parágrafo único. O Ministério Público somente será ouvido nos conflitos de competência relativos aos processos previstos no art. 178, mas terá qualidade de parte nos conflitos que suscitar. Processo Civil I Maria Catarina Farias Obs. Não pode suscitar o conflito a parte que alegou incompetência relativa anteriormente – venire contra factum proprium (art. 953, CPC). Contudo, em momento posterior, se surgir conflito de competência relativo a objeto distinto da alegação antes oferecida pela parte, ela terá legitimidade para suscitar. • Competência para julgar o conflito (será sempre de um tribunal) I. Competência do STF CF, Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe: I - processar e julgar, originariamente: [...] o) os conflitos de competência entre o Superior Tribunal de Justiça e quaisquer tribunais, entre Tribunais Superiores, ou entre estes e qualquer outro tribunal; II. Competência do STJ CF, Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça: I - processar e julgar, originariamente: [...] d) os conflitos de competência entre quaisquer tribunais, ressalvado o disposto no art. 102, I, "o", bem como entre tribunal e juízes a ele não vinculados e entre juízes vinculados a tribunais diversos; III. Competência dos TRF´s e TJ´S → Súmula 428, STJ "Compete ao Tribunal Regional Federal decidir os conflitos de competência entre juizado especial federal e juízo federal da mesma seção judiciária". IV. Arbitragem → o árbitro é quem vai decidir a sua própria competência (princípio da competência competência), dessa forma, a arbitragem é mantida se o árbitro se define competente. 12. Procedimento CPC, Art. 954. Após a distribuição, o relator determinará a oitiva dos juízes em conflito ou, se um deles for suscitante, apenas do suscitado. Art. 955. O relator poderá, de ofício ou a requerimento de qualquer das partes, determinar, quando o conflito for positivo, o sobrestamento do processo e, nesse caso, bem como no de conflito negativo, designará um dos juízes para resolver, em caráter provisório, as medidas urgentes. Processo Civil I Maria Catarina Farias Parágrafo único. O relator poderá julgar de plano o conflito de competência quando sua decisão se fundar em: I - súmula do Supremo Tribunal Federal, do Superior Tribunal de Justiça ou do próprio tribunal; II - tese firmada em julgamento de casos repetitivos ou em incidente de assunção de competência. Art. 956. Decorrido o prazo designado pelo relator, será ouvido o Ministério Público, no prazo de 5 (cinco) dias, ainda que as informações não tenham sido prestadas, e, em seguida, o conflito irá a julgamento. Art. 957. Ao decidir o conflito, o tribunal declarará qual o juízo competente, pronunciando-se também sobre a validade dos atos do juízo incompetente. Parágrafo único. Os autos do processo em que se manifestou o conflito serão remetidos ao juiz declarado competente. Art. 958. No conflito que envolva órgãos fracionários dos tribunais, desembargadores e juízes em exercício no tribunal, observar-se-á o que dispuser o regimento interno do tribunal. Art. 959. O regimento interno do tribunal regulará o processo e o julgamento do conflito de atribuições entre autoridade judiciária e autoridade administrativa.
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