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ESTUDO DAS ATIVIDADES DE LAZER, RECREATIVAS, EXPRESSIVAS E CRIATIVAS PROF.A DRA. DANUSA MENEGAT Reitor: Prof. Me. Ricardo Benedito de Oliveira Pró-Reitoria Acadêmica Maria Albertina Ferreira do Nascimento Diretoria EAD: Prof.a Dra. Gisele Caroline Novakowski PRODUÇÃO DE MATERIAIS Diagramação: Alan Michel Bariani Thiago Bruno Peraro Revisão Textual: Fernando Sachetti Bomfim Marta Yumi Ando Simone Barbosa Produção Audiovisual: Adriano Vieira Marques Márcio Alexandre Júnior Lara Osmar da Conceição Calisto Gestão de Produção: Cristiane Alves © Direitos reservados à UNINGÁ - Reprodução Proibida. - Rodovia PR 317 (Av. Morangueira), n° 6114 Prezado (a) Acadêmico (a), bem-vindo (a) à UNINGÁ – Centro Universitário Ingá. Primeiramente, deixo uma frase de Sócrates para reflexão: “a vida sem desafios não vale a pena ser vivida.” Cada um de nós tem uma grande responsabilidade sobre as escolhas que fazemos, e essas nos guiarão por toda a vida acadêmica e profissional, refletindo diretamente em nossa vida pessoal e em nossas relações com a sociedade. Hoje em dia, essa sociedade é exigente e busca por tecnologia, informação e conhecimento advindos de profissionais que possuam novas habilidades para liderança e sobrevivência no mercado de trabalho. De fato, a tecnologia e a comunicação têm nos aproximado cada vez mais de pessoas, diminuindo distâncias, rompendo fronteiras e nos proporcionando momentos inesquecíveis. Assim, a UNINGÁ se dispõe, através do Ensino a Distância, a proporcionar um ensino de qualidade, capaz de formar cidadãos integrantes de uma sociedade justa, preparados para o mercado de trabalho, como planejadores e líderes atuantes. Que esta nova caminhada lhes traga muita experiência, conhecimento e sucesso. Prof. Me. Ricardo Benedito de Oliveira REITOR 33WWW.UNINGA.BR U N I D A D E 01 SUMÁRIO DA UNIDADE INTRODUÇÃO ................................................................................................................................................................4 1. LAZER, PARTICIPAÇÃO SOCIAL E TERAPIA OCUPACIONAL ................................................................................5 2. LAZER COMO DIREITO SOCIAL .............................................................................................................................. 7 3. AVALIAÇÃO E INTERVENÇÃO PARA ATIVIDADES DE LAZER ...............................................................................8 4. ANÁLISE DAS ATIVIDADES DE LAZER .................................................................................................................. 11 4.1 LAZER E PARTICIPAÇÃO SOCIAL: CRIANÇA E ADOLESCENTE ......................................................................... 11 4.2 LAZER E PARTICIPAÇÃO SOCIAL: IDOSOS ......................................................................................................... 12 4.3 LAZER E PARTICIPAÇÃO SOCIAL: ABORDAGENS COMUNITÁRIAS E TERRITORIAIS EM REABILITAÇÃO DE PESSOAS COM DEFICIÊNCIAS .................................................................................................................................. 13 5. PROCESSOS PARA GRUPOS .................................................................................................................................. 15 6. PROBLEMAS DE COMPORTAMENTO QUE AFETAM A PARTICIPAÇÃO EM ATIVIDADES ............................... 17 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...........................................................................................................................................20 ATIVIDADES DE LAZER PROF.A MDRA. DANUSA MENEGAT ENSINO A DISTÂNCIA DISCIPLINA: ESTUDO DAS ATIVIDADES DE LAZER, RECREATIVAS, EXPRESSIVAS E CRIATIVAS 4WWW.UNINGA.BR ES TU DO D AS A TI VI DA DE S DE L AZ ER , R EC RE AT IV AS , E XP RE SS IV AS E C RI AT IV AS | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA INTRODUÇÃO O presente material foi organizado com o objetivo de introduzir você ao conteúdo das atividades de lazer. Iniciaremos com os conceitos de lazer na perspectiva da terapia ocupacional, área que visa a avaliar o cotidiano das pessoas, identificar possíveis limitações e oportunidades, além de buscar estratégias para o desenvolvimento adequado do lazer, tido como relevante à saúde e à cidadania das pessoas. Para que o processo de aprendizagem seja exitoso, é necessário que você faça as leituras e assista aos vídeos propostos ao longo deste material, acerca dos temas abordados. 5WWW.UNINGA.BR ES TU DO D AS A TI VI DA DE S DE L AZ ER , R EC RE AT IV AS , E XP RE SS IV AS E C RI AT IV AS | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA 1. LAZER, PARTICIPAÇÃO SOCIAL E TERAPIA OCUPACIONAL O uso das atividades pelo terapeuta ocupacional (doravante, TO) objetiva auxiliar o homem a apropriar-se do seu fazer com satisfação, ou seja, a obter qualidade de vida no desempenho de suas atividades práticas, em seus diferentes papéis sociais: vida profissional, social, afetiva e política (MEDEIROS, 2003). O lazer é pouco reconhecido e compreendido como instrumento de ocupação, e pouco se valoriza o potencial que ele promove no desenvolvimento pessoal e de inclusão das pessoas (com deficiência) em ambientes sociais. Assim, oportunizar condições para que o ser humano manifeste interesses e apresente capacidade de escolha, com autonomia e liberdade, constitui função do TO – o que pode ser propiciado a partir das atividades de lazer (MARTELLI, 2011). O lazer é considerado uma atividade que faz parte de todos os ciclos do desenvolvimento humano, sendo desempenhado a partir da motivação do indivíduo. Ele poderá promover diversão, momentos de descontração e relaxamento, além de estímulo ao convívio social (CAVALCANTI, 2007). Etimologicamente, a palavra “lazer” é originada do Latim e significa “lícito, permitido, ter o direito, poder”. Em seu conceito histórico, o lazer incorpora valores associados ao não trabalho e opera ações no cotidiano das pessoas (GOMES, 2008). De acordo com a Associação Americana de Terapia Ocupacional (doravante, AOTA), lazer e participação social são descritos como ocupações (AOTA, 2015). A ocupação do lazer é dividida em duas categorias: exploração e participação no lazer. A participação social é caracterizada como a inter-relação de ocupações a fim de apoiar o envolvimento desejado em atividades comunitárias e familiares, com pares e amigos (GILLEN; BOYT SCHELL, 2014). OCUPAÇÃO CATEGORIAS DESCRIÇÃO LAZER Exploração do lazer Identificação de interesses e habilidades. Participação no lazer Manutenção do equilíbrio entre atividades de lazer e demais ocupações. PARTICIPAÇÃO SOCIAL Comunidade Envolver-se em atividades que resultem em relação bem-sucedida ao nível da comunidade (trabalho, es- cola, religião/espiritualidade). Família Envolver-se em atividades que resultem em relação bem-sucedida em papéis familiares (necessários e/ou desejados). Pares, amigos Envolver-se em atividades com diversos graus de inte-ração e intimidade. Quadro 1 - Divisão da ocupação de lazer e da participação social. Fonte: AOTA (2015). 6WWW.UNINGA.BR ES TU DO D AS A TI VI DA DE S DE L AZ ER , R EC RE AT IV AS , E XP RE SS IV AS E C RI AT IV AS | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA As pesquisas referentes ao lazer tiveram início com os estudos do sociólogo francês Joffre Dumazedier (1976), o qual define o lazer como um conjunto de ocupações a que o indivíduo entrega-se livremente de acordo com a própria vontade. Ou seja, é uma participação social voluntária, com o intuito de repousar, divertir-se, recrear-se ou entreter-se. De acordo com Parham e Fazio (1997, p. 250), o lazer significa “[...] uma atividade não obrigatória que é intrinsecamente motivada e realizada durante o tempo livre”. Ele apresenta variados graus de importância no decorrer da vida adulta, sendo definido como uma atividade de livre escolha, movida apenas peloprazer, livre de restrições e com o mínimo de obrigações sociais. Ainda, os papéis sociais no lazer preenchem as necessidades de pertencimento e de afeto, além de proporcionarem a sensação de bem-estar (GLANTZ; RICHMAN, 2005). O lazer oferece às pessoas uma oportunidade para construírem a própria identidade, obterem reconhecimento e possuírem novas experiências. Daí, percebe-se a importância das atividades de lazer na intervenção terapêutica ocupacional. Atividades de lazer são constituídas como possibilidade de realização pessoal, pois elas dependem de interesses individuais e de livre escolha. O lazer é caracterizado como a atividade que a pessoa realiza conforme a sua vontade. A pessoa alcança realização pessoal, que interfere em sua vida de maneira satisfatória, permitindo que ela tenha novas descobertas e expresse capacidades a serem exploradas pelo TO. Figura 1 - Classificação do lazer. Fonte: Bacheladenski e Matiello (2010). Dumazedier (1976) considera as atividades de lazer como satisfação de determinadas necessidades humanas e de desenvolvimento da personalidade. Ainda, ressalta a importância de se estudar a situação social e cultural (necessidades da sociedade). Para o autor, as atividades de lazer são classificadas em seis categorias: 1. Atividades artísticas; 2. Atividades físico-esportivas; 3. Atividades intelectuais; 4. Atividades manuais; 5. Atividades sociais; e 6. Atividades turísticas. Considera-se a abordagem dos condicionantes socioeconômicos e culturais que podem facilitar ou interferir no acesso ao lazer, organizar as atividades de lazer de acordo com a faixa etária da população analisada e os interesses por classe social ou ocupacional (DUMAZEDIER, 1999). Quanto à legitimação da terapia ocupacional, a profissão transita em diferentes espaços e conhecimentos, além de contribuir para o desenvolvimento das potencialidades da pessoa e para a melhoria da sua qualidade de vida (LUIZ; MACEDO, 2003). Quando a realização das atividades de lazer é prejudicada (por barreiras ambientais, físicas, atitudinais, psicossociais ou socioeconômicas), o TO tem papel fundamental na identificação de recursos disponíveis e na estimulação do desenvolvimento de habilidades psicossociais, socioculturais e motoras da pessoa atendida (GLANTZ; RICHMAN, 2005). 7WWW.UNINGA.BR ES TU DO D AS A TI VI DA DE S DE L AZ ER , R EC RE AT IV AS , E XP RE SS IV AS E C RI AT IV AS | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Segundo Ribeiro (2007), o TO tem como finalidade investir na inclusão social de indivíduos em todos os aspectos que compõem sua vida cotidiana, focando na independência e autonomia dessas pessoas e no desempenho de seus papéis. Referente à construção histórica em terapia ocupacional, em 1990, os profissionais começaram a se preocupar com a reabilitação dos espaços vividos (a comunidade e a cidade). Até então, o foco do TO se centrava no conjunto das necessidades expressas pelo sujeito. Os espaços que o indivíduo ocupa passaram a ser vistos como ambientes propícios para o encontro de recursos e das necessidades dos sujeitos, interligados ao momento e ao lugar onde vivem. Nesse período, a saúde passou a ser compreendida como produção de vida, não mais como reparação do dano ou do bem-estar físico, psíquico e social (CASTRO; LIMA; BRUNELLO, 2001). 2. LAZER COMO DIREITO SOCIAL O lazer é considerado um direito social. Nesse sentido, ressaltem-se dois documentos oficiais, quais sejam: - Declaração Universal dos Direitos Humanos (Assembleia Geral das Nações Unidas, a 10 de dezembro de 1948). “[...] Artigo 24 - Toda pessoa tem direito a repouso e lazer, inclusive a limitação razoável das horas de trabalho e férias periódicas remuneradas” (ONU, 1948, grifo do autor). - Constituição da República Federativa do Brasil. [...] IV - salário mínimo, fixado em lei, nacionalmente unificado, capaz de atender às suas necessidades vitais básicas e às de sua família com moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social, com reajustes periódicos que lhe preservem o poder aquisitivo, sendo vedada sua vinculação para qualquer fim (BRASIL, 1988, grifo do autor). E, ainda, no Título VIII (“Da Ordem Social”), no capítulo VII (“Da Família, da Criança, do Adolescente, do Jovem e do Idoso”): [...] Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá- los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão (BRASIL, 1988, grifo do autor). 8WWW.UNINGA.BR ES TU DO D AS A TI VI DA DE S DE L AZ ER , R EC RE AT IV AS , E XP RE SS IV AS E C RI AT IV AS | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Destaca-se, ainda, o Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH-3), de 21 de dezembro de 2009, atualizado em 12 de maio de 2010: [...] Objetivo estratégico VIII: Promoção do direito à cultura, lazer e esporte como elementos formadores de cidadania. Ações programáticas: [...] c) Fomentar políticas públicas de esporte e lazer, considerando as diversidades locais, de forma a atender todas as faixas etárias e os grupos sociais; [...] e) Ampliar e desconcentrar os pólos culturais e pontos de cultura para garantir o acesso das populações de regiões periféricas e de baixa renda; f) Fomentar políticas públicas de formação em esporte e lazer, com foco na intersetorialidade, na ação comunitária, na intergeracionalidade e na diversidade cultural; [...] h) Assegurar o direito das pessoas com deficiência e em sofrimento mental de participarem da vida cultural em igualdade de oportunidade com as demais, e de desenvolver e utilizar o seu potencial criativo, artístico e intelectual; i) Fortalecer e ampliar programas que contemplem participação dos idosos nas atividades de esporte e lazer (BRASIL, 2009, grifo do autor). 3. AVALIAÇÃO E INTERVENÇÃO PARA ATIVIDADES DE LAZER As atividades de lazer possibilitam o desenvolvimento de técnicas compensatórias que permitem a sensação de competência e ajudam na manutenção da autoestima (GLANTZ; RICHMAN, 2005). Para que ocorra o desempenho satisfatório nas atividades de lazer, o TO deve considerar, na sua avaliação, os seguintes componentes: • Material demográfico. • Informação social. • Histórico educacional. • Histórico ocupacional. • Envolvimento militar. • Envolvimento com a comunidade e a igreja. • Rotina diária típica. • Interesses e hobbies. • Interesses alimentares. • Capacidades. • Componentes sensoriais e motores. • Componentes cognitivos. • Componentes psicossociais (GLANTZ; RICHMAN, 2005). 9WWW.UNINGA.BR ES TU DO D AS A TI VI DA DE S DE L AZ ER , R EC RE AT IV AS , E XP RE SS IV AS E C RI AT IV AS | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Considerando os componentes citados, a avaliação do TO deverá focar nos problemas/ dificuldades que poderiam inibir a participação das pessoas em atividades de lazer que lhes interessem. Ao identificar o problema em questão, o terapeuta explora os seus componentes e os fatores envolvidos. Considerando que o TO propõe atividades que transmitem significado para a pessoa atendida, é importante que o profissional conheça o contexto cultural em que se insere. Os valores do sujeito influenciam na organização de quais tarefas são importantes. Assim, o lazer pode ser adaptado para satisfazer as necessidades do sujeito e ser incorporado ao plano terapêutico ocupacional, com o intuito de estimular a consciência cognitiva e as capacidades de processamento perceptivo. Dentre as atribuições do TO, destaca-se a busca por satisfazer o envolvimento com o lazer. Para isso, o profissional recorre à variedade de atividades recreativas e comunitárias disponíveis,considerando, se for o caso, as incapacidades de cada sujeito. Na comunidade, é possível realizar busca ativa por grupos de pessoas que se encontram em determinado local e horário para frequentar teatros, igrejas ou atividades de caminhada. Para o deslocamento, também é atribuição do TO investigar, se for o caso, um meio de transporte acessível para que a participação seja efetivada. Ademais, o terapeuta deve conhecer a capacidade particular do sujeito para participar de determinadas atividades comunitárias de lazer (se tolerará os riscos que poderá ocorrer), identificar os recursos disponíveis e desenvolver as habilidades necessárias para participar da atividade. Essas interferências devem ser avaliadas previamente. No Brasil, a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) define as normas de acessibilidade, mobiliário, espaços e equipamentos urbanos. A NBR-9050 determina a adequação dos espaços físicos. A NBR 14350-1 e a NBR 14350-2 definem os parâmetros para a construção, adaptação e manutenção de playgrounds. De acordo com a norma 9050, promover acessibilidade significa a remoção de barreiras arquitetônicas, urbanísticas ou ambientais, que impeçam a aproximação, transferência ou circulação de pessoas. Assim, os indivíduos que apresentam mobilidade reduzida (deficiência, idoso, obeso, gestante, dentre outros), seja temporária seja permanente, apresentam limitada capacidade de interagir com o meio e de utilizá-lo (ABNT, 2004). Nesse contexto, percebe-se a importância da intervenção do TO. 10WWW.UNINGA.BR ES TU DO D AS A TI VI DA DE S DE L AZ ER , R EC RE AT IV AS , E XP RE SS IV AS E C RI AT IV AS | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Segue modelo de roteiro para estudo dos espaços de lazer. Localização (central, periférica). Deslocamento e transporte (linhas de ônibus adaptadas, frequência, custo, acessibilidade, ponto de chegada). Espaço público ou privado (custo, desconto para população específica). Regras do local (horário, dias de funcionamento). Manutenção do espaço (conservado, degradado, segurança local). Frequentado por quais faixas etárias? (autorização, acompanhante) O que o espaço oferece? (demandas das atividades) Quais as possibilidades de utilização do espaço? (demandas das atividades) Condições climáticas interferem na realização da atividade ou no acesso ao local? Possui um espaço destinado à refeição/alimentação? Qual o custo estimado? Qual a qualidade do lazer (entretenimento, consumo, produção cultural)? Facilitadores e barreiras do local (banheiro adaptado, rampa, elevador, vagas reservadas de estacionamento, distância entre áreas úteis, materiais informativos, equipamentos para prática de esporte) Há indicação de aspectos históricos no local? Aspectos culturais relacionados à comunidade Aspectos relacionados ao participante (interesse, condições socioeconômicas e de saúde e demandas do cliente). Quadro 2 - Roteiro para estudo dos espaços de lazer. Fonte: A autora. 11WWW.UNINGA.BR ES TU DO D AS A TI VI DA DE S DE L AZ ER , R EC RE AT IV AS , E XP RE SS IV AS E C RI AT IV AS | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA 4. ANÁLISE DAS ATIVIDADES DE LAZER O TO almeja facilitar o envolvimento do sujeito durante a ocupação de lazer, de sua livre escolha. Figura 2 - Avaliação das atividades de lazer. Fonte: Glantz e Richman (2005). 4.1 Lazer e Participação Social: Criança e Adolescente O Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei 8069, de 13 de julho de 1990) assim destaca o lazer e os direitos sociais: [...] Art. 4º É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária. [...] Art. 15. A criança e o adolescente têm direito à liberdade, ao respeito e à dignidade como pessoas humanas em processo de desenvolvimento e como sujeitos de direitos civis, humanos e sociais garantidos na Constituição e nas leis. Art. 16. O direito à liberdade compreende os seguintes aspectos: I - ir, vir e estar nos logradouros públicos e espaços comunitários, ressalvadas as restrições legais; [...] IV - brincar, praticar esportes e divertir-se. [...] Art. 59. Os municípios, com apoio dos estados e da União, estimularão e facilitarão a destinação de recursos e espaços para programações culturais, esportivas e de lazer voltadas para a infância e a juventude. [...] Art. 71. A criança e o adolescente têm direito à informação, cultura, lazer, esportes, diversões, espetáculos e produtos e serviços que respeitem sua condição peculiar de pessoa em desenvolvimento. [...] Art. 94. As entidades que desenvolvem programas de internação têm as seguintes obrigações, entre outras: XI - propiciar atividades culturais, esportivas e de lazer (BRASIL, 1990, grifo do autor). Primeau (2011) destaca quatro definições para brincadeira e lazer: 1. Brincadeira e lazer como tempo sem limitações. 2. Brincadeira e lazer como contexto. 3. Brincadeira e lazer como atividade ou comportamento observável e brincadeira. 4. Lazer como atitude ou experiência. 12WWW.UNINGA.BR ES TU DO D AS A TI VI DA DE S DE L AZ ER , R EC RE AT IV AS , E XP RE SS IV AS E C RI AT IV AS | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA A brincadeira e o lazer são quantificados como o tempo gasto e o engajamento do indivíduo. Destaca-se a necessidade de identificar o contexto (limitações culturais e crenças), a atividade (comportamentos) e a experiência (engajamento do cliente na brincadeira e no lazer). A avaliação dos contextos de brincadeira e lazer relaciona-se aos aspectos culturais, físicos, sociais, pessoais, espirituais, temporais e virtuais. Os profissionais identificam os aspectos contextuais dos ambientes de interesse de seus clientes e, em seguida, determinam se esses fatores facilitam ou inibem a participação na brincadeira e no lazer nos ambientes específicos. A avaliação da atividade de brincadeira e lazer, com relação à experiência, irá explorar a experiência subjetiva, o significado pessoal e a satisfação do sujeito com a experiência. É importante ressaltar que a avaliação considera: as atividades de interesse (geradoras de prazer e satisfação); as opções de atividade (examinando o que os clientes fazem, com quem e com qual frequência); a experiência subjetiva (estado de espírito e experiência afetiva); significado pessoal (atende as necessidades conscientes e inconscientes); e a satisfação com a experiência em relação às suas experiências de brincadeira e lazer (PRIMEAU, 2011). 4.2 Lazer e Participação Social: Idosos Destaca-se o Estatuto do Idoso, em seu Capítulo V (“Da Educação, Cultura, Esporte e Lazer”): [...] Art. 20. O idoso tem direito à educação, cultura, esporte, lazer, diversões, espetáculos, produtos e serviços que respeitem sua peculiar condição de idade. [...] Art. 23. A participação dos idosos em atividades culturais e de lazer será proporcionada mediante descontos de pelo menos 50% (cinquenta por cento) nos ingressos para eventos artísticos, culturais, esportivos e de lazer, bem como o acesso preferencial aos respectivos locais (BRASIL, 2003, grifo do autor). Estudos contemporâneos mostram que o afastamento social dos idosos geralmente está relacionado a sintomas de depressão. Vale ressaltar que o isolamento social pode acarretar deterioração dos receptores sensoriais e, consequentemente, sintomas de demência. O TO apresenta importante função nos cuidados com a demência e capacidades para o lazer, pois o processo de intervenção engloba a interação entre o indivíduo e o ambiente (aspectos físicos, sociais e culturais), preocupando-se com o envolvimento pessoal em atividades significativas e com propósito. Para idosos com demência, as atividades são focadas em tudo o que o indivíduo pode fazer,e não naquilo que ele não pode, podendo ser realizadas adaptações (GLANTZ; RICHMAN, 2005). Indicamos que você leia o artigo intitulado Terapia ocupacional: construindo possibilidades para diversão e socialização de crianças com deficiência física em parques infantis, disponível em http:// www.inicepg.univap.br/cd/INIC_2006/inic/inic/03/INIC0000672. pdf. http://www.inicepg.univap.br/cd/INIC_2006/inic/inic/03/INIC0000672.pdf http://www.inicepg.univap.br/cd/INIC_2006/inic/inic/03/INIC0000672.pdf http://www.inicepg.univap.br/cd/INIC_2006/inic/inic/03/INIC0000672.pdf 13WWW.UNINGA.BR ES TU DO D AS A TI VI DA DE S DE L AZ ER , R EC RE AT IV AS , E XP RE SS IV AS E C RI AT IV AS | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA 4.3 Lazer e Participação Social: Abordagens Comunitárias e Territoriais em Reabilitação de Pessoas com Deficiências Os termos “território” e “comunidade” são frequentemente utilizados na atuação do TO. A palavra “território” procura “[...] expressar a existência de relação direta entre a ação profissional e o contexto concreto em que vive o sujeito-alvo da ação” (ALMEIDA; OLIVER, 2001, p. 81). A expressão “comunidade” refere-se a um conjunto de pessoas que se identificam por apresentar características comuns. Ela também pode ser definida como uma cultura particular ou como a existência de uma delimitação espacial própria a um grupo específico de pessoas (ALMEIDA; OLIVER, 2001). Considerando a reabilitação no território, o TO deve construir propostas relacionadas à garantia de direitos, direito à saúde e reabilitação como política pública, tudo integrado ao desenvolvimento cultural e político, sempre buscando oportunizar a redução das desigualdades sociais. Para analisar as práticas realizadas com uma população que apresenta alguma deficiência, Dumazedier (1976) ressalta a necessidade do cumprimento de três funções (os famosos 3 Ds), quais sejam: - Descanso: considerar o cansaço nas atividades de reabilitação. - Diversão: romper o tédio ocasionado pela rotina diária. - Desenvolvimento: promover maior participação social das pessoas, opondo-se aos automatismos cotidianos. Oliver et al. (1999) explicam que, na prática da atenção territorial, é comum que as pessoas com deficiências não possuam acesso aos serviços de atenção em reabilitação e saúde. Muitas vezes, encontram-se confinadas nos domicílios devido à falta de oportunidades de se inserirem nos espaços que possibilitam trocas sociais, além de desconhecerem dispositivos assistenciais. Os autores ainda ressaltam as significativas condições ou barreiras (arquitetônicas, geográficas ou psicossociais) vivenciadas. As dificuldades perpassam a falta de acesso aos serviços de saúde e reabilitação, destacando-se barreiras arquitetônicas ou geográficas (que limitam o acesso à saúde, escola), barreiras psicossociais (que promovem o isolamento no domicílio), inexistência de cuidadores (que auxiliam no deslocamento ao território) e as condições socioeconômicas da família para ofertar cuidados/atenção referentes à saúde e reabilitação em equipamentos sociais existentes (ALMEIDA; OLIVER, 2001). 14WWW.UNINGA.BR ES TU DO D AS A TI VI DA DE S DE L AZ ER , R EC RE AT IV AS , E XP RE SS IV AS E C RI AT IV AS | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Ainda de acordo com Almeida e Oliver (2001), ações da TO no território devem mudar de princípio, deixando de lado a concepção de reabilitação voltada à “pessoa com deficiência” para adotar a concepção de reabilitação voltada à “pessoa com deficiência em seu contexto”. Essa mudança implica a compreensão de que pessoas com deficiência pertencem a um contexto sociocultural, em permanente diálogo com direitos e oportunidades para todos. Figura 3 - Intervenções do TO com pessoas com deficiência. Fonte: Almeida e Oliver (2011). A avaliação do TO deve contribuir para a percepção da complexidade do sujeito em seu contexto. O enfoque da atuação não se limita às incapacidades e problemas funcionais (decorrentes das deficiências e suas sequelas), mas abrange a pessoa em seus contextos familiar e sociocultural. Nesse sentido, o plano de intervenção realizado deverá avaliar a condição da pessoa e do contexto a fim de reunir elementos (demandas e necessidades) para a definição de objetivos e estratégias de atuação (ALMEIDA; OLIVER, 2001). 15WWW.UNINGA.BR ES TU DO D AS A TI VI DA DE S DE L AZ ER , R EC RE AT IV AS , E XP RE SS IV AS E C RI AT IV AS | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA 5. PROCESSOS PARA GRUPOS O TO pode, por meio de grupos, atingir a satisfação dos sujeitos (necessidade de pertencimento e manutenção de relacionamentos significativos com outras pessoas). A participação em atividades de lazer poderá ocorrer em grupos grandes, pequenos ou individualmente e poderá ser classificada como arte e artesanato, recreação ativa, recreação social, religiosa, intelectual ou educacional, comunitária ou serviços a terceiros (GLANTZ; RICHMAN, 2005). Benefícios Psicossociais · Maior senso de valor pessoal. · Libera a agressividade. · Controle de si mesmo e do meio ambiente. · Livre escolha. · Maior socialização. · Desenvolvimento de liderança. · Habilidade para lidar com situações adversas. · Maior alcance de atenção. · Ajuste à organização da vida. · Aumento da tolerância. · Experiência de estímulos intelectuais. Benefícios Físicos · Melhora da circulação. · Melhora da coordenação motora ampla, fina, bilateral e mãos-olhos. · Estímulos vestibulares e sensoriais. · Maior planejamento motor. · Melhora ou manutenção de habilidades perceptivas. · Habilidade para lidar com situações adversas. · Maior força, alcance e tolerância física. · Melhor equilíbrio. · Oportunidade para graduar a atividade. Quadro 3 - Benefícios dos grupos. Fonte: Glantz e Richman (2005). Assista ao documentário Arte, Cultura e Acessibilidade. Trata-se de um documentário sobre o Projeto Arte, Cultura e Acessibilidade, rea- lizado pelo curso de Terapia Ocupacional da UFRJ, em parceria com o Ministério da Cultura. É um projeto piloto, cujo objetivo é investir na promoção de cidadania cultural de crianças e adolescentes com autismo. Configura-se como uma ação cultural e transdisciplinar que visa a explorar as habilidades em arte, o potencial criativo e o convívio socio- cultural desses sujeitos. Teve como objetivo desenvolver metodologias de intervenção aliadas à expressão estética, como meios dialógicos de desenvolvimento de tecnologias de inclusão sociocultural de crianças e adolescentes com autismo, tendo como eixo meto- dológico principal a construção de uma sala plurissensorial onde são realizadas experiências baseadas nas obras e performances dos artistas Lygia Clark, Hélio Oiticica e Neide Sá. O link para acesso ao vídeo é o https://www.youtube.com/watch?v=TjkkurKSkMk. https://www.youtube.com/watch?v=TjkkurKSkMk 16WWW.UNINGA.BR ES TU DO D AS A TI VI DA DE S DE L AZ ER , R EC RE AT IV AS , E XP RE SS IV AS E C RI AT IV AS | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Para De Carlo e Bartalotti (2001), em uma comunidade, o acompanhamento em grupos ocorre quando é possível para o sujeito e cuidadores reconhecer o espaço de convivência com os outros como potente na solução das demandas individuais das pessoas. Assim, pode-se questionar de que maneira é possível estruturar os grupos para desenvolver intervenções em saúde: organizar por sexo, por idade, por demandas relativas às incapacidades, por características das deficiências, por interesses ou por tecnologias de atenção a serem propostas. Ainda, faz-se necessário estabelecer objetivos para a constituição de grupos, levando- se em consideração as demandas que se busca responder. É importante identificar os sujeitos, grupos sociais depertencimento, demandas e possibilidades de intervenção que os recursos locais possam oferecer (DE CARLO; BARTALOTTI, 2001). A seguir, seguem exemplos de alguns grupos coordenados por TOs: • Grupo de geração de renda e trabalho: constituir-se como sujeitos, socialização e apoio por meio da geração de renda, oficinas para confecção de objetos para venda. • Grupo de mães: possibilitar espaço de escuta e de trocas acerca dos cuidados realizados por essas mães, trocas de experiências acerca da rotina das atividades de vida diária (AVD). • Grupo para promover o desenvolvimento infantil: orientação referente ao desenvolvimento neuropsicomotor e social, utilização de recursos lúdicos. • Grupo de intervenção sobre as dificuldades no desempenho escolar formal: orientações sobre aprendizagem e incentivo à criação de rotinas de estudo. • Grupo para possibilitar a convivência e o desenvolvimento de atividades sociorrecreativas. • Grupo de jovens: possibilitar a criação de espaços de expressão/criação e de autonomia. • Grupo de adultos: para autocuidado e autonomia pessoal, desenvolvimento de atividades instrumentais da vida diária (AIVD). • Grupo de orientação: cuidados gerais com crianças pequenas (menores de 5 anos de idade). • Grupo na comunidade para discussões sobre direitos e deveres da pessoa portadora de deficiência e de direitos fundamentais da pessoa: discutir possibilidades de melhoria das condições de acessibilidade a equipamentos sociais locais. • Grupo para discussão sobre atenção e vigilância de crianças vítimas de maus-tratos ou de negligência, além daquelas com transtornos graves (ALMEIDA; OLIVER, 2001; CARVALHO; SCATOLINI, 2013). A geração de trabalho e renda é misturada com a geração de sentido para cada um, no mesmo espaço-tempo da oficina, intenção de que os participantes sejam cada vez mais autônomos e protagonistas de suas histórias (RODRIGUES; YASUI, 2016). 17WWW.UNINGA.BR ES TU DO D AS A TI VI DA DE S DE L AZ ER , R EC RE AT IV AS , E XP RE SS IV AS E C RI AT IV AS | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA 6. PROBLEMAS DE COMPORTAMENTO QUE AFETAM A PARTICIPAÇÃO EM ATIVIDADES O comportamento afeta o desempenho das pessoas no engajamento em atividades. Para compreender os problemas de comportamento, o TO deve questionar quais situações antecedem o comportamento problemático (GLANTZ; RICHMAN, 2005). Ainda, é importante questionar: “Qual é o comportamento?”, “Por que é um problema?”, “Quando é um problema?”, “Onde é um problema?” e “Para quem é um problema?” (GLANTZ; RICHMAN, 2005). Exemplifique-se: se a pessoa manifesta uma reação catastrófica diante de atividades “bagunçadas”, aquelas atividades que envolvem pinturas com os dedos não seriam escolhidas. Aoki (2009) ressalta que as práticas profissionais dos TOs se encontram intimamente relacionadas aos passeios que podem ser considerados lazer, ou seja, uma demanda para determinado grupo são espaços desejados/motivados pelas pessoas atendidas. A participação social e a realização de atividades são atributos das diversas áreas do viver e são importantes na compreensão dos processos saúde-doença. A Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF) se compõe de características que poderão interferir nas condições de saúde das pessoas. Na CIF, atividades e participação são consideradas domínios de funcionalidade do sujeito e devem servir como subsídios para a atuação do TO. Seguem obras que sugerimos que você leia: - CASSAPIAN, M. R.; RECHIA, S. Lazer para todos? Análise de acessibilidade de alguns parques de Curitiba, PR. Cadernos Brasileiros de Terapia Ocupacional, São Carlos, v. 22, n. 1, 2014. - SILVA, M. J.; OLIVEIRA, M. J; MALFITANO, A. P. S. O uso do espaço público da praça: considerações sobre a atuação do Terapeuta Ocupacional social. Cadernos Brasileiros de Terapia Ocupacional, São Carlos, v. 27, n. 2, 2019. A CIF descreve situações relacionadas às funções do ser humano. A classificação divide-se em: 1 - Compo’nente da Funcionalidade e Incapacidade, composto por estruturas e funções dos sistemas do corpo e o desempenho e capacidade nas atividades e participação; e 2 - Componentes dos Fatores Contextuais, compostos pelo ambiente físico, social e de atitude em que as pessoas vivem e levam suas vidas. 18WWW.UNINGA.BR ES TU DO D AS A TI VI DA DE S DE L AZ ER , R EC RE AT IV AS , E XP RE SS IV AS E C RI AT IV AS | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Por meio da utilização da CIF, é possível descrever a atividade, a participação (envolvimento da pessoa em determinada situação da vida), as limitações da atividade (dificuldades enfrentadas para a realização da atividade) e as restrições de participação (dificuldades encontradas quando o sujeito se envolve nas situações). O lazer é apresentado no capítulo da CIF e corresponde às ações e às tarefas essenciais para a participação da vida em sociedade (áreas comunitária, social e cívica). No item “recreação e lazer”, são descritas atividades de ação (jogos, praticar esportes, arte e cultura, artesanato, hobbies e socialização). Na Figura 4, é apresentado o modelo da CIF. Figura 4 - Componentes da Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde. Fonte: OMS (2013). De acordo com o modelo da Figura 4, seguem as definições contidas na CIF. • Incapacidade – termo abrangente para deficiências, limitações de atividade e restrições de participação. Compõe os aspectos negativos da relação entre o indivíduo e os fatores contextuais (ambientais e pessoais). • Funcionalidade – termo abrangente para funções do corpo, estruturas do corpo, atividades e participação. Compõe os aspectos positivos da relação entre o indivíduo e os fatores contextuais (ambientais e pessoais). • Funções do corpo – são as funções fisiológicas dos sistemas orgânicos (incluindo as funções psicológicas). • Estruturas do corpo – as partes anatômicas do corpo (órgãos, membros e seus componentes). • Deficiências – são problemas nas funções ou nas estruturas do corpo. • Atividade – é a execução de uma tarefa ou ação por um indivíduo. • Participação – é o envolvimento de um indivíduo em situações da vida diária. 19WWW.UNINGA.BR ES TU DO D AS A TI VI DA DE S DE L AZ ER , R EC RE AT IV AS , E XP RE SS IV AS E C RI AT IV AS | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA • Limitações de atividade – são dificuldades que um indivíduo pode encontrar ao realizar uma atividade. • Restrições de participação – são problemas que um indivíduo pode enfrentar quando se encontra envolvido em situações da vida real. • Fatores ambientais – constituem o ambiente físico, social e atitudinal em que as pessoas vivem. Os fatores ambientais podem ser barreiras ou facilitadores para a funcionalidade da pessoa (OMS, 2013). Como o lazer pode se transformar em um recurso terapêutico? Quando classificamos atividades, elas ganham uma dimensão, claro que se a gente for pegar o cinema, ela está muito mais para lazer do que para trabalho, certo? Um passeio está muito mais para lazer do que para trabalho, mas, às vezes, a sua atividade de trabalho é levar alguém para passear, certo? Então, o lazer, ele está vinculado diretamente ao uso do tempo livre para uma atividade que produza relaxamento. Muitas vezes, ela não é caracterizada como lazer, mas ela pode, em algum momento, lhe dar algum sentido de prazer porque você pode, nesse processo, relaxar, ficar bem e, aí, aquilo ganha um cunho de lazer, além de ser uma forma de comunicação social. Então, envolver os pacientes numa atividade de lazer é fundamental, porque, se o TO quer que o paciente produza potência na atividade, é por meio das atividades de lazer, ou seja, tudo que é feito com o sujeito tem de ser com a finalidade de levá-lo a produzir um divertimento com aquilo que está fazendo, ou seja, não é a atividade em si. A atividade em si não precisa ser reconhecida como divertimento,mas ela tem de levar o sujeito a ir para o divertimento (FURTADO, 2010, p. 125). 20WWW.UNINGA.BR ES TU DO D AS A TI VI DA DE S DE L AZ ER , R EC RE AT IV AS , E XP RE SS IV AS E C RI AT IV AS | U NI DA DE 1 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA CONSIDERAÇÕES FINAIS Nesta unidade, foi possível conhecer o lazer humano e sua relação com o contexto cultural, bem como se refletiu acerca das políticas públicas de lazer e participação social. Na ocupação do lazer, o TO apresenta ferramentas essenciais para a identificação e análise dos espaços de lazer, considerando os diferentes ciclos de vida. 2121WWW.UNINGA.BR U N I D A D E 02 SUMÁRIO DA UNIDADE INTRODUÇÃO ...............................................................................................................................................................23 1. A IMPORTÂNCIA DO BRINCAR: ASPECTOS HISTÓRICOS .................................................................................24 2. O BRINCAR SOB A PERSPECTIVA DA TERAPIA OCUPACIONAL ........................................................................25 2.1 JOGO, BRINQUEDO E BRINCADEIRA ....................................................................................................................29 2.2 BRINCAR COMO OCUPAÇÃO FUNDAMENTAL DA INFÂNCIA ...........................................................................29 2.3 CLASSIFICAÇÃO DAS BRINCADEIRAS ................................................................................................................30 3. O MODELO LÚDICO ................................................................................................................................................. 31 3.1 AVALIAÇÃO DO COMPORTAMENTO LÚDICO ......................................................................................................32 3.2 A ENTREVISTA INICIAL COM OS PAIS ...............................................................................................................33 3.3 IMPACTO DAS DISFUNÇÕES NO BRINCAR........................................................................................................33 ATIVIDADES RECREATIVAS PROF.A MDRA. DANUSA MENEGAT ENSINO A DISTÂNCIA DISCIPLINA: ESTUDO DAS ATIVIDADES DE LAZER, RECREATIVAS, EXPRESSIVAS E CRIATIVAS 22WWW.UNINGA.BR 3.4 ANÁLISE DE BRINQUEDOS E BRINCADEIRAS ...................................................................................................34 4. ANÁLISE DA ATIVIDADE .........................................................................................................................................35 5. O BRINCAR E O DESENVOLVIMENTO NEUROPSICOMOTOR ............................................................................36 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...........................................................................................................................................39 23WWW.UNINGA.BR ES TU DO D AS A TI VI DA DE S DE L AZ ER , R EC RE AT IV AS , E XP RE SS IV AS E C RI AT IV AS | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA INTRODUÇÃO O presente material foi organizado com o objetivo de apresentar você ao conteúdo das atividades recreativas, especificamente, o brincar. Iniciaremos com os conceitos de brincar na perspectiva do TO. Passaremos pela introdução aos conceitos de jogos, brinquedos e brincadeiras. Chegaremos ao conhecimento teórico e experimental das principais técnicas de análise de atividades relacionadas ao brincar e às fases do desenvolvimento infantil. Avaliaremos o comportamento lúdico e, de uma forma geral, instrumentalizaremos você para fazer uso de técnicas de jogos, brincadeiras e brinquedos no processo terapêutico como recurso terapêutico ocupacional. Reiteramos que, para que o processo de aprendizagem seja exitoso, é necessário que você faça as leituras e assista aos vídeos propostos ao longo deste material, acerca dos temas abordados. 24WWW.UNINGA.BR ES TU DO D AS A TI VI DA DE S DE L AZ ER , R EC RE AT IV AS , E XP RE SS IV AS E C RI AT IV AS | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA 1. A IMPORTÂNCIA DO BRINCAR: ASPECTOS HISTÓRICOS O brincar é considerado uma ocupação infantil significativa e fundamental e, em geral, é utilizado como recurso terapêutico ocupacional na promoção do desenvolvimento de habilidades físicas, cognitivas, emocionais, relacionais e sociais. O brincar é percebido como o principal papel ocupacional da criança (REILLY, 1974; KIELHOFNER; BURKE, 1990; HAGEDORN, 2001). Stagnitti (2004) descreve o brincar como um comportamento complexo, motivado mais internamente do que externamente, que transcende a realidade e que é controlado pela criança. É por meio da experimentação que a criança se insere no brincar e que constrói seu conhecimento a partir de experiências anteriores (PIAGET, 1975; VYGOTSKY, 1984), bem como se constitui como sujeito. Winnicott (1975) considera o brincar como um aspecto inerente à natureza humana; no entanto, existem indivíduos que, em função de doenças, podem apresentar dificuldades para se engajar na atividade do brincar. Quanto ao panorama histórico, foram já os povos gregos e romanos que iniciaram a percepção da relevância do brincar na educação. No entanto, do período medieval ao final do século XIX e primeira metade do século XX, o brincar teve um caráter pejorativo, sendo visto como uma forma de “passar o tempo”. O pedagogo Friedrich Froebel criou, no século XIX, o jardim da infância, considerando o brincar como atividade espontânea/livre no favorecimento do desenvolvimento físico, moral e intelectual da criança (KISHIMOTO, 2005). 25WWW.UNINGA.BR ES TU DO D AS A TI VI DA DE S DE L AZ ER , R EC RE AT IV AS , E XP RE SS IV AS E C RI AT IV AS | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA No século XX, estudos realizados por Piaget (1975), Freud (1976), Bruner (2001) e Vygotsky (2000) destacaram a importância do brincar e sua atuação no desenvolvimento e na aprendizagem da criança. A Figura 1 traz um breve resumo sobre as percepções e classificações desses estudiosos. Figura 1 - Estudos realizados por Piaget, Freud, Bruner e Vygotsky. Fonte: A autora. 2. O BRINCAR SOB A PERSPECTIVA DA TERAPIA OCUPACIONAL Na TO, o brincar é visto como uma ocupação infantil significativa e fundamental. Ele é utilizado como recurso para promover o desenvolvimento de habilidades físicas, cognitivas, emocionais, relacionais e sociais. O brincar surge como uma possibilidade de modificar o cotidiano, produzindo uma realidade própria e singular para a criança, além de favorecer o desenvolvimento infantil (KUDO et al., 1997). É fundamental, portanto, permitir que a criança continue a ser criança e intervir na ativação de seu potencial lúdico mesmo nas condições mais graves, como no adoecimento. Nessa condição, a comunicação também se faz fundamental: é preciso conversar com ela sobre o ambiente, a situação em que se encontra, o que será feito com ela etc. A brincadeira pode ser um recurso importante para que essa comunicação aconteça. É comum que, na brincadeira, emerjam sentimentos, angústias, medos e preocupações da criança. 26WWW.UNINGA.BR ES TU DO D AS A TI VI DA DE S DE L AZ ER , R EC RE AT IV AS , E XP RE SS IV AS E C RI AT IV AS | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Kudo et al. (1997) pontuam estas áreas específicas a serem consideradas na avaliação terapêutica ocupacional pediátrica: • Estágios de desenvolvimento. • Aspectos sensório-motores. • Aspectos neuromusculares. • Integração dos reflexos. • Percepção sensorial. • Coordenação motora. • Força e equilíbrio. • Integração sensorial (habilidades táteis, vestibulares e proprioceptivas). • Cognição. • Orientação. • Compreensão. • Amplitude de movimento (ativa e passiva). • Condição emocional. • Dor (incluindo dor física, emocional, psicossocial e espiritual). • Brincar/lazer. • Habilidades deautocuidado. • Necessidade de equipamentos para independência. • Atividades sociais. • Tecnologia assistiva para controle do ambiente. • Aspectos escolares. • Condições habitacionais. • Situação familiar. • O que é significativo para a criança. Para Ferland (2006), o brincar é uma forma de dominar a realidade visto que, a partir da brincadeira, a criança faz uma conexão entre o familiar e o desconhecido. O brincar é considerado um processo natural, que permite à criança desenvolver capacidades de adaptação e interação que poderão ser transferidas para situações reais vivenciadas em seu cotidiano. Chateau (1987) descreve os jogos de regras. Para o autor, é por meio do jogo que a criança desenvolve possibilidades que emergem em sua estrutura particular, permitindo a fuga do mundo real. 27WWW.UNINGA.BR ES TU DO D AS A TI VI DA DE S DE L AZ ER , R EC RE AT IV AS , E XP RE SS IV AS E C RI AT IV AS | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Segundo Ferland (2006), há duas correntes que tratam da utilização do brincar em terapia ocupacional: 1) Utilização do brincar como instrumento para despertar o interesse da criança em relação à terapia. 2) Criatividade e imaginação como parte da terapia, possibilitando à criança uma dimensão amplificada das experiências. No contexto da terapia ocupacional, o brincar configura-se como “[...] qualquer atividade espontânea e organizada que proporciona prazer, entretenimento e diversão” (PARHAM; FAZIO, 1997, p. 252). Emmel e Figueiredo (2011) ressaltam que o brincar se distingue de acordo com as fases do desenvolvimento. Durante a infância, as crianças desenvolvem e aprimoram diversos aspectos, dentre eles: esquema corporal, lateralidade, coordenação motora global, coordenação motora fina, orientação espacial, orientação temporal e ritmo. A seguir, apresentar-se-ão algumas atividades e o olhar do TO segundo Pfeifer, Carvalho e Santos (2004). - Atividade de motricidade global: futebol (regras, associação visual-motora, lateralidade, direcionalidade, vivência em equipe). - Atividade de motricidade fina: pega-vareta (regras, trabalho cognitivo ao lidar com diferentes cores e soma dos pontos). - Atividade com enfoque no cognitivo: jogo da memória (concentração, capacidade de memorizar, voltar a atenção às jogadas dos demais, reconhecer igualdade das figuras). O brincar é utilizado na prática da TO, considerando que é a principal ocupação durante a infância e permeia todo o seu cotidiano. Terapeutas ocupacionais se focam nas habilidades e potencialidades de cada criança por meio da vivência do brincar e se preocupam com facilitar tal ocupação, buscando ambientes livres de barreiras sociais, físicas e culturais (ZAGUINI et al., 2011). Figura 2 - Benefícios do brincar. Fonte: Fônseca e Silva (2015). 28WWW.UNINGA.BR ES TU DO D AS A TI VI DA DE S DE L AZ ER , R EC RE AT IV AS , E XP RE SS IV AS E C RI AT IV AS | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Para Silva e Pontes (2013), dentre os principais objetivos de se utilizar o brincar, destacam- se: trabalhar as dificuldades, limitações e potencialidades da criança; favorecer experiências para o desenvolvimento infantil; alcançar o desenvolvimento mais próximo levando-se em conta a idade; facilitar o aprendizado (seja na habilitação ou reabilitação); e, é claro, utilizar o brincar como fim em si mesmo. O mesmo estudo procurou identificar e caracterizar práticas desenvolvidas por TOs quanto à utilização do brincar. Os dados do estudo mostraram metodologias e/ou referenciais teóricos utilizados na atuação profissional: 1) integração sensorial; 2) método Bobath; 3) Piaget; 4) modelo lúdico; 5) Skinner; 6) Vygotsky e 7) abordagem psicanalítica. O referencial da integração sensorial foi frequentemente utilizado; nele, parte da intervenção é dirigida pelo terapeuta ocupacional, que deve preparar o ambiente a fim de propiciar a estimulação das habilidades da criança. Nessa abordagem, a ação da criança, ao explorar o ambiente e brincar de forma livre adquirindo habilidades, é parte fundamental do processo terapêutico (SILVA; PONTES, 2013). Ressaltem-se a relação estabelecida entre pais e TO durante a terapia (sendo livre o acesso dos pais durante a intervenção terapêutica) e a orientação aos pais acerca do brincar e das atividades a serem desempenhadas fora da terapia. Assim, autores sinalizam para a importância de se reservarem minutos finais da sessão para que sejam repassadas orientações aos pais (SILVA; PONTES, 2013). Integração sensorial é o processo pelo qual o cérebro organiza as informações de modo a responder de forma adaptativa e adequada, organizando, assim, as sensações do próprio corpo e do ambiente. Vale a pena relembrar a importância das brincadeiras quando evocamos lembranças de nossa infância. De quê gostávamos de brincar: de imitar personagens, jogar futebol, brincar de pique, brincar de boneca ou ficar o dia inteiro diante do vídeo game? Essas brincadeiras fizeram parte da nossa história e foram benéficas para o desenvolvimento de nosso equilíbrio motor, nosso processo de socialização e desenvolvimento emocional. 29WWW.UNINGA.BR ES TU DO D AS A TI VI DA DE S DE L AZ ER , R EC RE AT IV AS , E XP RE SS IV AS E C RI AT IV AS | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA 2.1 Jogo, Brinquedo e Brincadeira Frequentemente, os termos jogo, brinquedo e brincadeira têm sido utilizados como sinônimos; porém, eles assumem diversos significados em diferentes culturas. Jogo refere-se ao modo como se brinca, podendo ser visto de três maneiras: 1. Observar o contexto social, pois o jogo tem sentido dentro de um contexto. 2. Sistema de regras, sendo que em qualquer jogo se identifica uma estrutura sequencial que especifica sua modalidade. 3. Jogo visto como objeto (KISHIMOTO, 2005). O brinquedo manifesta uma relação íntima com a criança e uma indeterminação quanto ao seu uso (ausência de regras). Ainda, o brinquedo propõe um mundo imaginário e permite a representação de certas realidades. No caso das crianças, é possível relacionar a manipulação do brinquedo à substituição de objetos reais (representação do cotidiano). Kishimoto (2005) descreve objeto como suporte da brincadeira. A brincadeira seria uma conduta estruturada, com regras implícitas ou explícitas em que se utiliza ou não do objeto brinquedo (brincar de casinha, de boneca, de faz-de-conta). A brincadeira é composta por diversos estímulos que favorecem o desenvolvimento sensório-motor, cognitivo, da criatividade, da imaginação e da autoestima da criança (SANTOS; MARQUES; PFEIFER, 2006). 2.2 Brincar como Ocupação Fundamental da Infância O TO se caracteriza como o profissional que facilita o engajamento em ocupações a fim de facilitar a participação das pessoas em diferentes contextos (AOTA, 2015). O desempenho do brincar é considerado intervenção do TO, sendo imprescindível considerar os diversos fatores que podem contribuir ou comprometer o desenvolvimento saudável do indivíduo. Para Reis e Rezende (2007), há seis fatores que definem o brincar: 1. Motivação intrínseca. 2. Ênfase nos meios, e não no fim. 3. Comportamento centralizado no organismo, e não no objeto. 4. Relação com comportamentos instrumentais. 5. Liberdade em relação às regras externamente impostas. 6. Envolvimento ativo. Florey (1981) desenvolveu a teoria da motivação intrínseca ao considerar que toda criança apresenta uma necessidade inata para o brincar. Para a autora, o brincar se configura como a ação sobre objetos humanos (sendo brincadeiras com o próprio corpo ou com o corpo do outro) e sobre objetos não humanos, que se constituem de brincadeiras com brinquedos que modificam sua forma quando manuseados (massinha), brincadeiras com brinquedos que, quando combinados, mudam de forma (jogos de montar peças) e os brinquedos que, quando combinados ou manuseados, não mudam de forma (bonecas e carrinhos). O brincar é consideradoum conjunto complexo de comportamentos, que envolve atitudes e ações particulares, exploração, experimentação, repetição da experiência e imitação. A ocupação do brincar pode ser dividida em seis etapas lúdicas: sensório-motora, simbólica e construtiva simples, dramática, construtiva complexa e pré-jogo, jogo e recreativa (TAKATA, 1971). 30WWW.UNINGA.BR ES TU DO D AS A TI VI DA DE S DE L AZ ER , R EC RE AT IV AS , E XP RE SS IV AS E C RI AT IV AS | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Em 1974, Reilly descreveu a teoria do continuum do brincar ao considerar que o brincar e o trabalho são contextos que permitem o surgimento do controle, da aquisição e da adaptação. A autora preconiza que o brincar constitui-se em veículo fundamental para se adquirirem habilidades, capacidades, interesses e hábitos de competição e cooperação importantes para a vida adulta. De acordo com Reilly (1974), há três estágios que ocorrem de maneira progressiva e sequencial quando ocorre a experimentação de uma nova atividade: 1. exploração (foco nos meios, e não no fim); 2. competência (capacidade de atender adequadamente às demandas); 3. realização (sucesso ou fracasso). 2.3 Classificação das Brincadeiras As brincadeiras são classificadas em: sensório-motoras, motoras-globais, motoras-finas, viso-motoras, interpretação e faz de conta. Apenas na década de 1990, o faz-de-conta passa a ser considerado como brincar. A partir dos dois anos de idade, a criança começa a brincar de maneira simbólica, destacando-se o faz-de-conta, o qual representa situações e relações com o mundo e estimula a inteligência e a criatividade (CUNHA, 2007). De acordo com Joaquim, Silva e Lourenço (2018), o faz-de-conta possui interações linguísticas complexas, importantes para o desenvolvimento da linguagem, habilidade, competência e comunicação infantis. Destaca-se a Child Initiated Pretend Play Assessment (ChiPPA), uma avaliação padronizada e desenvolvida pela TO Karen Stagnitti para crianças de 3 a 7 anos e 11 meses. O instrumento avalia o brincar simbólico e o brincar imaginativo convencional, mensurando a habilidade da criança de iniciar e manter-se no faz-de-conta. Para compreender a importância das atividades lúdicas, assista ao filme Tarja Branca. O filme pode ser acessado por meio do link http://bit.ly/especial-vc-tarjabranca. Após assistir ao filme, você terá refletido acerca da importância das atividades lúdicas na nossa formação social, intelectual e afetiva. Fonte: Video Camp (2020). http://bit.ly/especial-vc-tarjabranca 31WWW.UNINGA.BR ES TU DO D AS A TI VI DA DE S DE L AZ ER , R EC RE AT IV AS , E XP RE SS IV AS E C RI AT IV AS | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA 3. O MODELO LÚDICO Em 1994, a TO Francine Ferland criou o modelo lúdico para intervenção clínica da terapia ocupacional. O modelo considera o brincar como atividade própria da criança, e proporcionar essa vivência é permitir que a criança brinque independentemente das dificuldades que possa apresentar (uma deficiência física, por exemplo) (FERLAND, 2006). Figura 3 - Sete conceitos-chave do modelo lúdico. Fonte: Ferland (2006). Na clínica, a utilização do modelo lúdico, de acordo com os sete conceitos descritos, possibilita que a criança com deficiência física descubra o prazer de fazer e de desenvolver sua capacidade, independentemente de limitações motoras. A partir dos conceitos descritos no modelo lúdico, propõem-se dois instrumentos para avaliar o comportamento lúdico da criança: avaliação do comportamento lúdico e entrevista inicial com os pais. 32WWW.UNINGA.BR ES TU DO D AS A TI VI DA DE S DE L AZ ER , R EC RE AT IV AS , E XP RE SS IV AS E C RI AT IV AS | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA 3.1 Avaliação do Comportamento Lúdico O brincar é definido pela interação de três elementos: atitude, ação e interesse. Assim, o brincar gera o prazer de ação e a capacidade de agir, que proporcionam à criança o desenvolvimento de sua autonomia e o sentimento de bem-estar (FERLAND, 2006). A Figura 4 apresenta o modo conceitual do modelo lúdico. Figura 4 - Estrutura conceitual do modelo lúdico. Fonte: Zen e Omairi (2009). A interligação entre atitude, ação e interesse gera o prazer da ação e a capacidade de agir. O interesse se manifestará durante todo o processo, pois é um elemento imprescindível para o surgimento e manutenção do prazer na intervenção do modelo lúdico. O modelo se propõe a buscar o potencial da criança a partir da sua atitude lúdica, preocupando-se com suas capacidades (atuais e potenciais), bem como com a ausência das capacidades (FERLAND, 2006). O modelo lúdico se baseia em dois elementos fundamentais: o prazer e a capacidade de agir da criança. Ele tem por objetivo compreendê-la por meio do seu comportamento de brincar, seus interesses em geral, suas capacidades e sua atitude lúdica. O processo para a aplicação acontece a partir da observação do brincar livre da criança, enfocando sua atitude e seu interesse pelo brincar, não necessitando de qualquer material específico, mas tão somente de brinquedos interessantes para a faixa etária envolvida (FERLAND, 2006). É necessário cerca de uma hora para a aplicação da avaliação do comportamento lúdico, e Ferland (2006) ressalta que o avaliador deve apresentar-se de maneira espontânea, expressando prazer em relação à ação da criança e ao fato de estar com ela. É fundamental o conhecimento dos dados clínicos e características motoras e sensoriais de cada criança. Essa avaliação descreve o aspecto qualitativo e individualizado de cinco dimensões do comportamento lúdico: interesse geral pelo ambiente humano e sensorial; interesse pelo brincar; capacidades lúdicas para utilizar os objetos e os espaços; atitude lúdica; comunicação de suas necessidades e sentimentos. Os elementos observados na avaliação do comportamento lúdico recebem uma pontuação. Esses escores são complementados por comentários relacionados, que servirão para conduzir e elaborar os objetivos a serem alcançados na intervenção (FERLAND, 2006). 33WWW.UNINGA.BR ES TU DO D AS A TI VI DA DE S DE L AZ ER , R EC RE AT IV AS , E XP RE SS IV AS E C RI AT IV AS | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Destacam-se, ainda, outras avaliações na área da TO, quais sejam: • Histórico Lúdico Takata (TAKATA, 1974). • Teste de Entretenimento (BUNDY, 2002). • Avaliação transdisciplinar baseada no brincar (LINDER, 1993). • Escala Lúdica pré-escolar de Knox – Revisada (KNOX, 2002). • Avaliação do Comportamento Lúdico (ACL) + entrevista inicial com pais (EIP). • Avaliação do brincar de faz-de-conta iniciado pela criança – ChIPPA (STAGNITTI, 2007). 3.2 A Entrevista Inicial com os Pais O instrumento propõe conhecer o comportamento lúdico da criança em ambiente domiciliar, sendo aplicado com os pais ou responsável. Por intermédio da entrevista, conhecem- se os interesses da criança, sua maneira de se comunicar, do que gosta e do que não gosta, como brinca, os brinquedos com que ela tem contato, se brinca com outros(as) e quais suas preferências. A partir dessas informações, o TO reúne dados para elaborar sua avaliação, além de comparar o comportamento descrito pelos pais no momento da avaliação da criança (FERLAND, 2006). 3.3 Impacto das Disfunções no Brincar Quando a criança apresenta alguma deficiência (física, sensorial ou cognitiva), é função do TO propiciar condições de vivências ambientais e experimentação de interação com outras crianças. A socialização é outro ponto fundamental, além de aprimorar o desenvolvimento neuropsicomotor de crianças com atraso no desenvolvimento, em decorrência da privação de estímulos (CARVALHO; SCATOLINI, 2016). Atraso no desenvolvimento é expressão utilizada para descrever crianças que não alcançaram os marcos desenvolvimentais esperados para a sua faixa etária. A criança com deficiência física, por exemplo, apresenta menormobilidade, comunicação limitada, dificuldade no alcance e na preensão, além de deficiência nas respostas sensoriais. Essas condições interferem na habilidade da criança para o brincar (CAVALCANTI; GALVÃO, 2007). Para conhecer e aprofundar seus conhecimentos a respeito dos instrumentos citados, acesse o link e leia o material disponível em http://www.unisalesiano.edu.br/biblioteca/monografias/46195. pdf. http://www.unisalesiano.edu.br/biblioteca/monografias/46195.pdf http://www.unisalesiano.edu.br/biblioteca/monografias/46195.pdf 34WWW.UNINGA.BR ES TU DO D AS A TI VI DA DE S DE L AZ ER , R EC RE AT IV AS , E XP RE SS IV AS E C RI AT IV AS | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Com relação ao brincar da criança com deficiência, Blanche (2002) descreve que o brincar é um procedimento terapêutico planejado de acordo com os objetivos de tratamento previamente definidos. Assim, considera três papéis: 1. brincar como ocupação importante da infância, que promove o contexto fundamental para a aprendizagem e a adaptação (preparação para o desempenho da vida adulta); 2. brincar como recompensa ou motivação da criança na sessão de terapia ocupacional, interação com o ambiente e disposição de brinquedos, atividades e jogos apropriados (utilizados com um direcionamento pelo profissional) para encorajar a participação ativa da criança; 3. brincar como meio de aquisição de atividades funcionais. Para Cavalcanti e Galvão (2007), o TO deve utilizar métodos e técnicas de avaliação e de intervenção capazes de potencializar as oportunidades para que a criança fique motivada para o brincar e para que isso estimule o desenvolvimento do faz-de-conta. Os mesmos autores ainda consideram o posicionamento adequado como estratégia importante para potencializar o brincar de crianças com deficiência física, com o objetivo de melhorar seu desenvolvimento global. A postura correta favorece o uso das mãos, melhora a visão, incentiva a interação com as pessoas e evita deformidades (coluna, quadril, perna, pé) e fadiga muscular. O TO poderá se apropriar de adaptações de tecnologia assistiva para motivar a criança ao brincar livre (postura, alcance, preensão, mobilidade). Ainda, dentre as barreiras que limitam o brincar livre, consideram-se aquelas presentes no domicílio, na comunidade, na escola e na estrutura dos brinquedos, que podem limitar a habilidade de ser funcional. 3.4 Análise de Brinquedos e Brincadeiras Para Fontes et al. (2010), existem dois tipos de brinquedos: - Normativos: atividades espontâneas e prazerosas, sem a necessidade de um objetivo. - Terapêuticos: necessita-se da presença de um profissional para direcionar a criança. A utilização do brinquedo permite conduzir a criança, e o ambiente deve ser previamente preparado (brinquedos e técnicas específicas). No setting terapêutico, o brincar se transforma em ferramenta primordial ao favorecimento do desenvolvimento gradual, considerando-se três papéis importantes: 1 – Papel de recreação ou ocupação: importante na infância, pois promove aprendizagem e adaptação. 2- Papel como recompensa: motivação que instiga a criança a interagir com o ambiente e, em consequência, alcançar os objetivos do tratamento. 3 – Papel como experiência enriquecedora: para favorecer as maturidades motora e emocional (CARVALHO; SCATOLINI, 2016). O brincar é utilizado pelo TO como recurso terapêutico, independentemente de a criança possuir algum comprometimento (motor, cognitivo, social, comunicativo ou comportamental). A criança que tem oportunidade de brincar manifesta melhora no desempenho de suas atividades da vida diária e nas atividades instrumentais da vida diária. Ao brincar, a criança vivencia requisitos, como coordenação motora, atenção, concentração, movimentos finos, iniciativa, autonomia, independência, disciplina, obediência e organização ocupacional (CARVALHO; SCATOLINI, 2016). Para a análise de brinquedos e brincadeiras, o TO frequentemente utiliza os seguintes três instrumentos: Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF); Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde para Crianças e Jovens (CIF-CJ); e a AOTA (2015). 35WWW.UNINGA.BR ES TU DO D AS A TI VI DA DE S DE L AZ ER , R EC RE AT IV AS , E XP RE SS IV AS E C RI AT IV AS | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA 4. ANÁLISE DA ATIVIDADE O brincar é considerado uma das ocupações incluídas nos aspectos do domínio da terapia ocupacional. A ocupação é conceituada como os diversos tipos de atividades cotidianas nas quais indivíduos, grupos ou populações se envolvem, incluindo: atividades de vida diária (AVD), atividades instrumentais de vida diária (AIVDs), descanso e sono, educação, trabalho, brincar, lazer e participação social (AOTA, 2015). Para a elaboração de um relatório de avaliação da criança, o TO deve atentar-se ao perfil ocupacional, organizando informações que descrevam quem é essa criança: nome, idade, quem são seus pais, qual a idade deles, o que fazem, se moram na mesma casa, se tem irmãos; histórico gestacional (pré-, peri- e pós-natal); rotina da criança (se estuda, quem cuida); quais suas brincadeiras preferidas, local onde brinca e com quem brinca. Com as informações reunidas, o terapeuta inicia o planejamento da intervenção: atividades a serem realizadas, quais os recursos/materiais utilizados, procedimentos e estratégias e de que forma a organização das atividades foi apropriada à criança para, a partir dessa reflexão, modificá-las ou mantê-las ao longo dos atendimentos. De acordo com Carvalho e Scatolini (2016), a orientação familiar é percebida como essencial para o desenvolvimento da atividade lúdica, sendo função do TO, em conjunto com as famílias, direcionar a melhor maneira de estimular a criança, pois se deve utilizar um brinquedo adequado à sua faixa etária. Figura 5 - Modelo de análise de atividade. Fonte: A autora. A estimulação deve ser centrada na família, pois é a família que passa a maior parte do tempo com a criança. O atendimento em terapia dura um tempo menor. O TO orientará como desempenhar esses recursos, inclusive para a construção de brinquedos recicláveis. 36WWW.UNINGA.BR ES TU DO D AS A TI VI DA DE S DE L AZ ER , R EC RE AT IV AS , E XP RE SS IV AS E C RI AT IV AS | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA 5. O BRINCAR E O DESENVOLVIMENTO NEUROPSICOMOTOR Takata (1974), que é uma TO, define o brincar como um conjunto complexo de comportamentos, em um processo dinâmico composto por atitudes e ações particulares. A autora explica que o brincar interfere no desenvolvimento da criança, tornando-se mais complexo ao longo do tempo. Segundo essa premissa, é importante conhecer o desenvolvimento neuropsicomotor para estimular a criança, selecionando brinquedos/brincadeiras em conformidade com a sua faixa etária. Ainda de acordo com Takata (1974), o brincar é puramente autotélico, com sensações e movimentação (bater palmas, imitar pais, derrubar objetos, vivência de novas capacidades motoras e resolução de problemas simples). No decorrer do tempo, como descreve Ferland (2006), há evolução do comportamento lúdico, e a criança procura por respostas sensoriais (atitude e ação lúdica). Faixa etária Desenvolvimento neuropsicomotor Primeiro mês Atividade reflexa, criança explora partes do seu próprio corpo e objetos. Segundo mês Reações circulares – repetição. Brinquedos: face humana, móbiles, argola de borracha para morder, chocalho, esconde-esconde (pessoa ou objeto devem aparecer sempre no mesmo local para a criança). Quarto mês Ações intencionais. Leva tudo à boca. Interessa-se por: chocalho, bichinhos de borracha; móbile que, ao ser tocado, produza ação; bola transparente, com água e pequenos objetos dentro; objetos para a criança levar à boca (atóxicos, não pontiagudos etc.). Sexto mês Noção de permanência de objeto, ou seja, começa a perceber que os objetosexistem apesar de não estarem sendo vistos. Brinquedos: móbiles colocados ao alcance da mão da criança; chocalhos pequenos; brinquedos para morder; bichinhos de vinil; bola de diferentes texturas; objetos que possam ser batidos uns contra os outros; objetos embru- lhados para a criança desembrulhar; amassar papel para o bebê olhar e repetir a ação; pegar coisas que o bebê joga no chão; brincar com os pés; brincar de esconder e achar (face, objetos). Oito aos doze meses Significativo desenvolvimento motor. Desenvolvimento de pinça e é capaz de passar os objetos de uma mão para a outra; pôr, tirar, atirar, empilhar, experimentar. Para satisfa- zer sua necessidade de exploração, precisamos dar-lhe muitos materiais para manipular: brinquedos de puxar e de empurrar; livros de pano; bichos de pelúcia, enfim, brinquedos que possam ser manipulados, sem oferecer perigo, e que estimulem a criança a interagir. Doze aos dezoito meses Criança começa a observar o efeito de sua conduta no ambiente à sua volta. Nesta fase, são interessantes os brinquedos que oferecem oportunidade de manipulação realizando alguma proposta, como encaixar argolas, brinquedos com cordão para puxar, cantar, dançar. Dezoito aos vinte e quatro meses (2 anos) A criança começa a internalizar as ações realizadas e passa a se lembrar de pessoas e coisas. A motricidade aperfeiçoa-se, começa a querer ser independente e fazer tudo so- zinha mesmo que ainda não consiga (também nas AVDS). Precisa de brinquedos que satisfaçam sua necessidade de movimentação: brinquedos de empurrar; carrinhos ou outros brinquedos de puxar; blocos de construção; barro ou argila; massa de modelar para misturar e amassar. 37WWW.UNINGA.BR ES TU DO D AS A TI VI DA DE S DE L AZ ER , R EC RE AT IV AS , E XP RE SS IV AS E C RI AT IV AS | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Período pré-operacional (2 a 7 anos) Relaciona tudo ao seu redor com seus sentimentos e ações. Considera que objetos, plan- tas ou nuvens também podem ter sentimentos (animismo). Período intuitivo (4 a 7 anos) Criança começa a argumentar. Está mais hábil e gosta de montar e desmontar, assim como de desenhar. O grupo de amigos passa a ser importante; estabelece e cobra regras; a linguagem se amplia, assim como o interesse pela escrita e leitura. Gosta de competições e de jogar com os amiguinhos. Sugestões de brinquedos: Faz-de-conta: casinha com mobília para vários ambientes; miniaturas de cidades, tendas de feira; miniaturas de fazendas e animais domésticos; bonecos representando profis- sões, com trajes regionais, palhaços; equipamento para médicos e enfermeiro; bonecos que possibilitem trocas de roupas; fantasia e baú para guardá-la. Jogos que desenvolvem a destreza manual: encaixe com rosca manual pequena, com ou sem ferramenta; brinquedos com botões, zíper, colchetes; carros e trenzinhos desmontá- veis; jogos de montar com pinos menores; bordados de alinhavo. Livros e músicas: livros de história com figuras grandes; xilofone, piano e sanfonas pe- quenos. Atividades ao ar livre: triciclo ou bicicleta com rodinhas; bola para jogar com as mãos, chutar, cabecear; jogos de argolas; carrinhos para a criança entrar; corda para pular; pa- tinete; bichos de estimação: peixe, tartarugas, pequenos mamíferos. Atividades expressivas manuais: lápis de cor grande; tesoura sem ponta; cola e papel colorido; tintas atóxicas e pincéis grandes; quadro negro e giz; mesa e cadeiras pequenas Jogos perceptivos: quebra-cabeça; figuras com detalhes e divididas em peças grandes; fi- guras de corpo humano: partes ou total; relógio e calendários; blocos lógicos/jogos com sequência lógica; jogos simples de memória; jogos com letras/sequência numérica; jogos que relacionem números e quantidades; jogos de sorte, com dados e sequência numérica (loto, banco imobiliário); blocos de construção; material para pintura e desenho; jogos de dominó; jogos de circuito; jogos de dama. 38WWW.UNINGA.BR ES TU DO D AS A TI VI DA DE S DE L AZ ER , R EC RE AT IV AS , E XP RE SS IV AS E C RI AT IV AS | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Período das operações concretas (7 aos 12 anos) O pensamento da criança ultrapassa o nível sensorial. A noção de tempo é mais objetiva; usa o relógio e calendário; situa passado, presente e futuro. Tem maior senso de responsabilidade e pode compreender a consequência dos seus atos. Gosta de assumir pequenas tarefas e escolhe companheiros por afinidade. É sensível à crítica e gosta de receber elogios. Embora o faz-de-conta possa acontecer, já é totalmente separado da realidade, pois a criança agora quer ser realista e descobrir a verdade dos fatos. Sugestões de brinquedos: Faz-de-conta: teatro de bonecos; dramatização; jogos que desenvolvem a destreza ma- nual: passar cordão, dar nó e laços; jogos competitivos que requeiram coordenação mo- tora fina (pega-varetas); jogo de botão; sinuca/ pebolim; livros de contos juvenis; aulas para tocar instrumentos musicais; atividades ao ar livre: peteca; bicicleta, instrumento de jardinagem; bichos de estimação; jogos de bola, que exijam pontaria para agarrar e lançar; esportes. Atividades expressivas manuais: canetas hidrográficas coloridas; tintas e pincéis finos; jogos perceptivos: encaixes classificados de acordo com uma ou mais variáveis: cor, ta- manho, forma; quebra-cabeça com peças menores; jogos com letras, sílabas e palavras; bingo de números e letras; jogos competitivos que envolvam raciocínio complexo; jo- gos de cartas, baralhos; jogos de sequência lógica complexa; dominó com associação de ideias; jogo-da-velha; jogos com associação de figuras e palavras; coleção de papel de carta, selos, figurinhas, coleção de um modo geral; batalha naval/caça ao tesouro; montagem de sistemas eletrônicos simples; jogos de tabuleiro; bolas e raquetes; boliche; futebol de botão; peteca; jogos de montar que sejam desafiantes; jogos de construção; jogos de circuito; jogos de perguntas e respostas; quebra-cabeças mais difíceis; jogo de dama e jogo de xadrez. Quadro 1 - O brincar e o desenvolvimento neuropsicomotor. Fonte: A autora. Para mais informações acerca dos brinquedos, brincadeiras e jogos que poderão ser utilizados em terapia, leia os dois artigos que seguem: - SILVA, C. C. B.; EMMEL, M. L. G. Jogos e brincadeiras: roteiro de análise de atividades para o terapeuta ocupacional. Caderno de Terapia Ocupacional da UFSCar, São Carlos, v. 4, n. 1-2, 1993. O material está disponível em http://www.cadernosdeterapiaocupacional.ufscar.br/index.php/cadernos/article/ view/60/49. - WAKSMAN, R. D.; HARADA, M. de J. C. S. Escolha de brinquedos seguros e o desenvolvimento infantil. Revista Paulista de Pediatria, v. 23, n. 1, 2005. Esse artigo pode ser acessado por meio do link https://www.redalyc.org/pdf/4060/406038909008.pdf. http://www.cadernosdeterapiaocupacional.ufscar.br/index.php/cadernos/article/view/60/49 http://www.cadernosdeterapiaocupacional.ufscar.br/index.php/cadernos/article/view/60/49 https://www.redalyc.org/pdf/4060/406038909008.pdf 39WWW.UNINGA.BR ES TU DO D AS A TI VI DA DE S DE L AZ ER , R EC RE AT IV AS , E XP RE SS IV AS E C RI AT IV AS | U NI DA DE 2 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA CONSIDERAÇÕES FINAIS Nesta unidade, conhecemos diversas classificações e definições do brincar na perspectiva da terapia ocupacional. Percebeu-se a importância fundamental do TO na ocupação do brincar, considerando sua relevante contribuição ao dominar teorias, técnicas e aspectos referentes à análise de atividade para intervenção prática. O TO reúne conhecimentos referentes aos aspectos físicos, cognitivos, motores e sensoriais, aliados à análise dos diversos contextos (ambiental, econômico, social) em que cada criança se encontra inserida. A partir disso, o TO traça o plano de intervenção terapêutico-ocupacional, utilizando estratégias e intervenções que facilitem a
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