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Introdução ‘A consciência humana normal consiste em conscientizações refletivas, limitadas, organizadas, ordenadas de acordo com o tempo e de modo seriado de si mesmo e do ambiente. Além disso, é uma experiência de complexidade e volume graduados.’ Schiff e Plum, J Clin Neurophys, 2000. Alterações clínicas da consciência e o estado de coma, são espectros clínicos da alteração da atenção e vigília. Dessa forma, define-se coma, como uma síndrome clínica caracterizada por uma diminuição de despertar e do conteúdo da consciência. O estado de come é um estado de perda da consciência que difere do sono pelo fato de ser um déficit neurológico e de não ser prontamente revertido. Anatomia Existem 3 estruturas que são básicas para a manutenção da vigília e consciência: sistema reticular ativador ascendente (SRAA), os hemisférios cerebrais e o sistema límbico. • SRAA → realiza a ativação do córtex e regulação do ciclo sono e vigília; • Córtex → é ativado pelo SRAA e envia impulsos que iniciam e comandam os fenômenos psíquicos. A alteração desses mecanismos fisiológicos se dão na forma de coma ou alteração do estado de consciência em diferentes níveis, sendo avaliado pela Escala de Coma de Glasgow. Os diferentes níveis são: letargia, obnubilação, torpor e coma. Existe um estado especial, chamado estado confusional ou deliriam que descrevem um estado de desatenção, alteração do conteúdo cognitivo e, às vezes, hiperatividade, ao invés da redução da vigília. Esse estado pode anteceder ou alternar com obnubilação, torpor e coma. Sistema Reticular Ativador Ascendente É a agregação mais ou menos difusa de neurônios de tamanhos e tipos diferentes, sendo um conjunto de estruturas intermediárias situadas entre a substância branca e cinzenta do tronco cerebral. São filogeneticamente antiga e preenche espaços ‘vazios’ entre os tractos ascendentes e descendentes que passam pelo tronco encefálico. Estão presentes desde os níveis mais altos da medula ao diencéfalo. Os principais núcleos são: núcleos da Rafe, Locus coeruleus, área tegmental ventral e substância cinzenta periaquedutal. Avaliação da Consciência e Manejo do Paciente Devemos lembrar que em pacientes na UTI, a avaliação neurológica acurada do nível de consciência só pode ser realizada após a interrupção ou para da administração de sedativos. A avaliação da consciência nem sempre é fácil, mas existe um algoritmo para realizá-la. 1º - Aplicar os princípios do ATLS e determinar se ele possui risco imediato de vida. O manejo inicial do comatoso deve sempre focar no ABC: vias respiratórias, ventilação e circulação. RISCO IMEDIATO DE VIDA → pare e resolva o problema que causa o risco de vida. 2º - Realizar um ECG, glicemia capilar e glicose 50% + tiamina. O ECG ajuda previnir uma forma evitável de morte por arritmias perigosas e infarto. A glicemia capilar (HGT) deve ser determinada e, se houver dúvidas, glicose 50% + tiamina deve ser administrada via IV. A tiamina é necessário pois a administração de glicose isoladamente em um paciente com deficiência de tiamina pode precipitar síndrome de Wernicke-Korsakoff. ‘E se o paciente for diabético?’ Faça mesmo que houver dúvidas! O risco de fazer glicose em um paciente diabético não existe, mas sim o de não fazer a administração da glicose. Ele morre de hipoglicemia não de hiperglicemia. Pode ser feito glicose em uma quantidade de 6 ampolas, por exemplo. Não deve ser feito 5g de glicose, porque isso é muito pouco. É uma colher de café e em um paciente adulto não vai ajudar em nada. O exame do paciente deve-se afastar a intoxicação por opioides, que em casa de dúvidas a administração de Naloxona IV deve ser realizada. Gabriel Bagarolo Petronilho TXVIII- MEDICINA FAG Síndrome de Wernicke-Korsakoff É um estado confusional, desatenção, indiferença, letargia, torpor e coma, ou seja, relacionado o SRAA. Ocorre devido perda neuronal, axonal e mielínica. Possui uma influência genética e a causa mais frequente é devido o álcool - ‘o álcool dissolve o neurônio’. O tratamento é realizado com Tiamina 50-100mg/dia, com mortalidade de 10% dos pacientes tratados. De todos os pacientes, mesmo que muito bem tratados, cerca de 80% ainda apresenta uma sequela definitiva, amnésia de Korsakoff. Anamnese e Exame do Comatoso É investigado: quando começou, onde, quem viu, como foi, horário, entre outros. Deve-se perguntar tudo sobre o que aconteceu, como uma anamnese comum. O exame físico é feito pela avaliação de pele, mucosas, hálito, fundo de olho, temperatura do corpo, assimetria de pulsos, incontinência, couro cabeludo, resistência a flexão cervical (cuidar em trauma!). Não teste a resistência cervical a não ser que você possua certeza ABSOLUTA que o paciente não possui trauma cervical. Não é parte obrigatória do exame testar a resistência cervical, mas é ter certeza que não houve trauma. Exame Neurológico Dirigido Respostas Motoras - Resposta motoras espontâneas a estímulos → apropriadas, impróprias ou ausentes. - Rigidez decorticada → membros superiores flexionados, aduzidos e rodados internamente e membros inferiores estendidos; lesão mais rostral e melhor prognóstico. - Rigidez descerebrada → MMSS e MMII em extensão; lesão mais caudal e pior prognóstico. - Deterioração rosto - caudal → ocorre uma extensão dos MMSS e flexão dos MMII seguida de paralisia flácida e ausência de resposta aos estímulos ; é muito grave. - Paralisia Flácida do Membro → sempre deve suspeitar de t rauma cerv ica l , Gui l la in -Bar rè ou s índrome do encarceramento. Respiração - Eupneica - Cheyne-Stokes → lesões graves, hérnia tentorial, doença cerebral bilateral e encefalopatia metabólica; pode ser de ciclo longo ou curto. - Biot → lesão bulbar ou medular superior - Maldição de Ondina - perda da respiração automática com preservação da respiração voluntária. - Kussmaul →hiperventilação prolongada; aspectos e compensação metabólica. - Apneustica → lesões de ponte (AVC’s); são longas paradas respiratórias Gabriel Bagarolo Petronilho TXVIII- MEDICINA FAG Gabriel Bagarolo Petronilho Gabriel Bagarolo Petronilho Pupilas As alterações pupilares refletem um desequilíbrio do sistema nervoso e até mesmo lesão das fibras parassimpáticas e simpáticas. Em alguns pacientes a desigualdade pupilar é presente durante a vida, porém, no paciente comatoso toda anisocoria será considerada patológica e graves. As pupilas devem ser iluminadas com a mesma incidência de luz para as duas. Devemos lembrar que lesão de retina ou nervo óptico não causa anisocoria. Dilatação Pupilar → lesão parassimpática: compressão do oculomotor por hérnia de úncus ou ruptura de aneurisma de artéria comunicante posterior. Miose e Sd. De Horner → lesão simpática: lesão hipotalâmica, infarto bulbar lateral ou invasão do gânglio cervical superior por processo expansivo. Sd. De Horner → miose, ptose, anidrose, hiperemia e hipertermia. Pálpebras e Movimentos Oculares O movimento de piscar dos olhos está relacionado com a ponte superior. Quando existe um desvio conjugado para ‘longe’, ou seja oposto, dos membros hemiparéticos dizemos que há indicação de lesão cerebral destrutiva no lado para qual os olhos apontam - ‘olhar a lesão’. Já quando há desvio do olhar para o lado pirético há indício de lesão da ponte. Se já foi descartada a possibilidade de lesão cervical, podemos realizar algumas manobras com o paciente para avaliar movimento dos olhos: • Manobra dos Olhos de Boneca ou Teste Oculocefálico → realiza-se a rotação passiva da cabeça de um lado para o outro; quando o arco reflexo está presente (olhos se movem de modo conjugado para direção oposta ao movimento da cabeça) evidencia conexão do sistema vestibular - tronco encefálico - músculos oculares íntegra. Isso é um dos critérios para morte encefálica. • Reflexo Oculovestibular ou Irrigação → consiste nairrigação do ouvido com 30-60ml de água fria; o nistagmo oposto ao ouvido estimulado ou ausência de nistagmo indica patologia; em casos de coma, a cabeceira deve ser elevada a 30º graus e com a irrigação de água fria o nistagmo de fase rápida corre para o lado da irrigação, portanto, com água quente corre para o lado contrário. A oftalmoplegia completa pode ocorrer após lesão significativa do tronco encefálico ou coma metabólico exceto na intoxicação por barbitúricos ou fenitoína, no qual os movimentos oculares permanecem preservados na encefalopatia metabólica. O desvio conjugado dos olhos para baixo ocorre em lesões do tálamo na área pré-tectal do mesencéfalo e pode ser acompanhado de pupilar não fotorreativas (Síndrome de Parinaud). O desvio dos olhos para baixo também acontece em coma metabólico, principalmente por barbitúricos e após crise epiléptica. Exames Diagnósticos A TC ou RM de crânio deve ser realizada imediatamente sempre que não houver uma explicação para o coma. Em caso de suspeita de meningite, a punção lombar para análise do LCR deve ser realizada antes do exame de imagem. Caso contrário, o exame de imagem é o primeiro a ser realizado. Os exames laboratoriais, em situação de emergência, que devem ser solicitados são: - Glicose sérica - Sódio - Cálcio - Potássio - Hemograma - EEG → pode diferenciar o coma da ausência de responsividade de origem psíquica ou síndrome do encarceramento; no coma metabólico o EEG sempre é anormal. - ECG Gabriel Bagarolo Petronilho TXVIII- MEDICINA FAG As causas mais comum de coma metabólico são hipóxia (isquemia difusa, hipoglicemia, deficiência de Tiamina na síndrome de Wernicke-korsakoff), toxinas exógenas (sedativos, narcóticos, etc). Morte Encefálica O termo ‘morte encefálica’ significa que o telencéfalo e o tronco encefálico foram destruídos de modo permanente. A única atividade espontânea que ocorre é a cardiovascular e os reflexos são mediados pela medula espinal. No adulto a morte cerebral raramente dura mais de alguns dias e sempre é seguida por colapso circulatório, apesar da manutenção da ventilação mecânica. Nos EUA, a morte encefálica é considerado como morte legal, ou seja, quando os critérios estão presentes todo o suporte e ventilação mecânica são interrompidos, intendente da intenção de doação de órgãos. Os critérios clínicos da morte encefálica são: - Coma - Apneia - Temperatura corporal acima de 34ºC - Ausência de reflexos cefálicos → pupilas, oculocefálico, corneanos. - Ausência de intoxicação por drogas, etanol e sedativos. Os estudos para confirmação são: - EEG - Potencial evocado de tronco encefálico - Angiografia cerebral digital → ausência da circulação (Sinal de Sutton) Existe um protocolo de morto encefálica que pode ser acessado para o direcionamento do diagnóstico e manejo do paciente. Gabriel Bagarolo Petronilho TXVIII- MEDICINA FAG Classificação de Plum e Posner - Hérnias • Lesão Supratentorial → são as hérnias transtentoriais que podem ser laterais e mediais, são as hérnias de úncus e hérnias por hemorragia talâmica respectivamente. Hérnia de Úncus - Laterais Causadas por hematomas subdurais e extradurais. Na degeneração rostro-caudal ocorre: anisocoria (pupilas médias ou midriáticas), torpor, paralisias oculomotoras, respiração de Cheyne-Stokes ou atáxica, postura decorticada, aprofundamento do coma e morte. Hérnia de Medial - Hemorragia Talâmica A evolução ocorre da seguinte maneira: rápido aprofundamento do nível de consciência, pupilas normais, pupilas fixas medianas, oftalmoplegia, anormalidades respiratórias e posturais - é a sequência vida-morte. Síndrome do Encarceramento Ocorre um infarto, hemorragia ou mielinólise pontina cerebral que destroem a parte basilar da ponte, provocando paralisia total dos nervos cranianos inferiores e dos músculos dos membros, com preservação da vigília e respiração. No primeiro momento, o paciente parece não responder aos estímulos, porém, o exame revela movimento oculares verticais voluntários, inclusive piscadelas.
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