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Behaviorismo Radical, Ética e Política: aspectos teóricos do compromisso social

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS 
CENTRO DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS HUMANAS 
DEPARTAMENTO DE FILOSOFIA 
E METODOLOGIA DAS CIÊNCIAS 
 
 
 
 
BEHAVIORISMO RADICAL, ÉTICA E POLÍTICA : 
ASPECTOS TEÓRICOS DO COMPROMISSO SOCIAL 
(vol. I) 
 
 
Alexandre Dittrich1 
 
 
 
Tese desenvolvida sob a orientação do 
Prof. Dr. José Antônio Damásio Abib, 
apresentada ao Programa de 
Doutorado em Filosofia da 
Universidade Federal de São Carlos, 
como parte dos requisitos necessários 
à obtenção do título de Doutor 
 
 
 
SÃO CARLOS/SP 
2004 
 
 
1 Bolsista FAPESP (processo 02-02734-7). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Ficha catalográfica elaborada pelo DePT da 
Biblioteca Comunitária/UFSCar 
 
 
 
D617br 
 
Dittrich, Alexandre. 
 Behaviorismo radical, ética e política: aspectos teóricos 
do compromisso social / Alexandre Dittrich -- São Carlos : 
UFSCar, 2004. 
 480 p. 
 
 Tese (Doutorado) -- Universidade Federal de São Carlos, 
2004. 
 
 1. Behaviorismo (psicologia). 2. Cultura. 3. ètica. 4. 
Política cultural. I. Título. 
 
 
 CDD: 150.1943 (20a) 
 
 
 
RESUMO 
 
Utilizando-se do método epistemológico-hermenêutico e da análise 
estrutural de texto, o presente trabalho visa, inicialmente, expor os 
fundamentos filosóficos e metodológicos da análise do comportamento. 
Para tanto, busca desenhar uma metáfora que – diferentemente das 
tradicionais metáforas arquitetônicas – retrate a irregularidade e a 
assimetria das relações entre método e metafísica, bem como o controle 
exercido pelas conseqüências da atividade filosófica e científica sobre sua 
própria configuração. Em seguida, aborda-se o modelo de seleção por 
conseqüências – fundamento das explicações causais na análise do 
comportamento –, com o objetivo de avaliar as semelhanças e diferenças 
entre os processos seletivos nos três níveis estabelecidos pelo modelo. A 
partir dessa avaliação, procura-se extrair um julgamento sobre a validade 
das analogias ali contidas, assim como sobre seus méritos e limites. Na 
seqüência, busca-se caracterizar o sistema ético skinneriano – analisando, 
em especial, a adeqüabilidade da sobrevivência das culturas enquanto 
diretriz ética fundamental da tecnologia comportamental e a tensão entre 
os aspectos descritivos e prescritivos daquele sistema. Procura-se, em 
seguida, caracterizar a filosofia política skinneriana, a partir de suas 
concepções sobre agências de controle governamentais e do modelo de 
governo apresentado no projeto utópico skinneriano. Por fim, busca-se 
localizar o behaviorismo radical no espectro da filosofia política, através 
de uma análise preliminar sobre as possíveis similaridades e divergências 
entre esta filosofia e as correntes comumente identificadas pela filosofia 
política tradicional. Paralelamente, o trabalho aponta algumas das 
conseqüências éticas e políticas de suas conclusões para a prática dos 
analistas do comportamento. 
 
Palavras-chave: behaviorismo radical; cultura; ética; política. 
 
 
 
 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
 
Tudo o que você faz, permanece 
Muito tempo após a sua partida 
- Neil Finn 
 
Essas são as últimas palavras que escrevo para este trabalho – e 
são, sem dúvida, as mais prazerosas. Esse prazer, porém, surge-me 
acompanhado por uma vaga melancolia. 
 
Durante os últimos quatro anos de minha vida, dediquei minhas 
melhores energias para a realização dessa tese de doutorado. Quando 
olho para trás, vejo-a em seus inícios, ainda como uma dissertação de 
mestrado, ainda sem forma e sem direção. Mas vejo muito mais: vejo-me 
deixando para trás a segurança de Blumenau – e como foi difícil!; vejo-me 
chegando a São Carlos em um dia de chuva, feliz mas apreensivo, com 
algumas roupas, alguns discos e alguns livros; vejo-me dando um último 
abraço em minha mãe... foi como o derradeiro corte do cordão umbilical! 
Consigo lembrar-me de muitos bons momentos em minha 
infância e juventude, mas os quatro anos que passei em São Carlos estão 
entre os mais felizes de minha vida. Vou tentar explicar os motivos disso 
(embora não esteja certo do interesse do leitor em tais pormenores!). 
Em primeiro lugar, aqui encontrei minha realização intelectual. 
Sob esse aspecto, devo meus principais agradecimentos ao meu 
orientador, Prof. Abib. Já tive a oportunidade de falar pessoalmente a ele 
muito do que relatarei a seguir – e espero que ele me perdoe a indiscrição 
de tornar isso público! Prestei os exames para o mestrado no 
Departamento de Filosofia sabendo que o Prof. Abib fazia parte dele – e 
por causa disso. Ainda na graduação, via-me intrigado e estimulado por 
alguns de seus textos. A partir desses textos, descobri que o behaviorismo 
radical podia, sim, responder às minhas inquietações intelectuais. 
Contudo, essas inquietações permaneceriam, provavelmente, sem 
resposta, não fosse a confiança depositada em mim pelo Prof. Abib, do 
começo ao fim de nosso trabalho conjunto. 
O que eu pedia do behaviorismo radical não era muito: 
basicamente, eu queria compreender o mundo e achar um sentido na 
vida. Eu não sou pretensioso, mas acho que consegui! Contudo – e isso é 
o mais importante –, hoje consigo ver nitidamente que as verdades que 
me servem e satisfazem não precisam ser as verdades que servem e 
satisfazem ao outro (e nem por isso o outro precisa ser meu inimigo!). 
Uma das vantagens de se estudar filosofia e psicologia é que, não raro, o 
crescimento intelectual traduz-se em crescimento pessoal. Por tudo isso, 
Prof. Abib – por ter me ajudado a crescer –, sou-lhe e serei sempre muito 
grato. 
O Departamento de Filosofia da UFSCar serviu-me como uma 
espécie de segunda casa em São Carlos. Ali, sempre me senti 
absolutamente à vontade. E quantas coisas importantes em minha vida 
aconteceram naquele pequeno espaço! Gostaria de agradecer a todas as 
pessoas que fazem o Departamento – em especial, aos professores com 
quem tive a oportunidade de aprimorar meus conhecimentos e à Rose, 
secretária do Departamento, que vou lembrar também pela presteza, mas 
sobretudo pelo bom humor e pelo carinho. 
Alguns dos professores do Departamento, e outros de fora 
dele, dispuseram-se, gentilmente, a participar de minhas bancas de 
qualificação e defesa. Sua contribuição para o progresso de minhas 
reflexões e para a qualidade deste trabalho foi inestimável. Tenho orgulho 
em citá-los e agradecê-los, pois sei que representam o melhor em suas 
respectivas áreas: Bento Prado Jr., Bento Prado Neto, Deisy das Graças 
de Souza, João de Fernandes Teixeira, Júlio César C. de Rose, Kester 
Carrara e Tereza Maria de Azevedo Pires Sério. 
Quando cheguei a São Carlos, precisei contar com a ajuda 
financeira de meus pais por alguns meses – não bastasse tê-lo feito 
durante toda a minha vida até ali, quer estivesse empregado ou não! 
Pouco tempo após minha entrada no mestrado, enviei à Fundação de 
Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) uma solicitação de 
bolsa – que, para minha alegria, foi aprovada. Isso me permitiu tirar o 
máximo proveito de meus estudos. Para além do apoio financeiro, o alto 
grau de exigência acadêmica da FAPESP cria em seus bolsistas uma 
disciplina intelectual que contribui marcadamente para seu desempenho. 
Longe de sentir-me compelido a cumprir uma tarefa formal, quero 
registrar meu sincero agradecimento às pessoas que fazem a FAPESP – e, 
em especial, ao assessor(a) anônimo(a) que avaliou meu trabalho durante 
os últimos quatro anos. Penso ter honrado todo o investimento realizado, 
emborasaiba que meu trabalho está apenas começando. 
 
Ao iniciar meus estudos na UFSCar, tive a grata satisfação de 
perceber que conviveria com diversas pessoas que partilhavam de meus 
interesses intelectuais. Com essas pessoas, aprendi tanto quanto em meus 
estudos formais. Nesse agradável ambiente, também surgiram minhas 
primeiras amizades em São Carlos – e com quanta saudade relembro 
desses primeiros momentos! Para muitos de nós que chegávamos à cidade 
e ao mestrado naquele momento – alguns vindos de longe –, a apreensão 
inicial transformou-se, rapidamente, no prazer de compartilhar essas 
novas experiências com pessoas de espírito aberto e amigável: a Naiene, a 
Fátima, a Fernanda, o Isaías, o Kinouchi, a Léa e o Alessandro, o Manoel, 
a Maria, a Marília, o Péricles, o Saulo... 
As pessoas vão e vêm; assim é a vida. Com alguns desses 
primeiros amigos, ainda tenho bastante contato; com outros, nem tanto; e 
com outros, nenhum. Mas todos estão eternizados em minha memória 
como a minha primeira “turma” em São Carlos. 
Com o passar do tempo, conforme ia me habituando à cidade, 
fui conhecendo muitas outras pessoas, dentro e fora do ambiente 
acadêmico. Excelentes amizades surgiram a partir daí. Fiquei um bom 
tempo imaginando formas de agradecer a todas essas pessoas, mas sem 
ter que citar os nomes delas! Quando começo a pensar em todas as 
pessoas que conheci nesses quatro anos, vejo que são muitas, e tenho 
medo de esquecer alguém. Eu poderia, simplesmente, recorrer àquela 
velha frase: “Vocês sabem quem são!” Mas isso seria muito impessoal – e, 
além disso, é um recurso demasiadamente cômodo, pois transfere a 
responsabilidade para o leitor. 
Também pensei em solucionar o problema dizendo algo mais 
ou menos assim: “Considere-se lembrada, abraçada e agradecida toda e 
qualquer pessoa com quem eu tive a oportunidade de tomar uma cerveja 
no saudoso Bar da Tia ou na chácara da Lili”. (Catedrais, armazéns, ócios 
e cafés, que me desculpem!) Não consigo lembrar de ninguém entre essas 
pessoas com quem eu não tenha tido, na pior das hipóteses, uma 
conversa simpática – e, na melhor, uma grande amizade. 
Porém, é claro que, dentre as tantas pessoas que conhecemos 
durante nossas vidas, algumas tornam-se especiais – afetivamente especiais. 
Às vezes, é difícil distinguir amizades de meros encontros casuais – e, 
afinal, uma pessoa não tem menos valor apenas pelo fato de não termos 
tido a chance de aprofundar nossos laços com ela. Mas eu sei que os 
nomes exercem um certo poder de encantamento sobre seus proprietários 
– portanto, vou correr o risco. 
Andréa, Camila, Carmen, Cláudia, Dani, Fernanda e Lili: jamais 
antes em minha vida eu havia tido um círculo de amizades do qual 
sentisse tanto orgulho ao estar perto, e tanta saudade ao estar longe. 
Vocês foram minha alegria e meu abrigo durante uma etapa muito 
importante da minha vida, e por isso eu as guardarei na lembrança para 
sempre, com todo o cuidado e o carinho que vocês merecem. 
Apenas duas pessoas acompanharam toda a minha trajetória em 
São Carlos, do início ao fim. Para minha sorte, elas se revelaram minhas 
maiores amizades, meus pontos de apoio, minha família longe de casa. 
Chan: se bem me lembro, você foi a primeira pessoa com quem 
tive contato ao chegar de mudança em São Carlos; e – ironia do destino! – 
provavelmente será também a última! Lembro-me bem da Casa do 
Estudante, quando dividíamos a moradia com mais treze ou quatorze 
pessoas, e contávamos cada centavo para poder comprar o básico. Foi 
uma época difícil, mas também muito divertida! 
Dizem que a primeira impressão é a que fica, mas você me fez 
mudar de idéia. Como você sabe, eu te achava antipático e arrogante 
quando te conheci. Mano, como pode alguém se enganar tanto assim? 
Não só descobri o quanto você é gentil e prestativo, como tive com você 
muitas lições de ética e honestidade, nas pequenas coisas do dia-a-dia. Eu, 
que passei quatro anos estudando ética na academia, descobri o quanto 
podia aprender com uma pessoa completamente “leiga” no assunto! 
Acredite: eu morei com muitas pessoas em São Carlos, mas só com você 
eu me sentia – e ainda me sinto – como se estivesse em casa. Chinês e 
Galego: uma dupla imbatível! 
Naiene: você sabe o quanto foi especial para mim. Você foi 
meu ponto de apoio, minha referência em todos os momentos – e eu 
tentei, na medida do possível, retribuir isso. Uma nostalgia alegre e 
levemente dolorosa toma conta de mim quando olho para trás e lembro 
tudo o que passamos juntos – como nossa amizade foi evoluindo até 
tornar-se o que é hoje: a forma mais pura e honesta de relacionamento 
que pode haver entre duas pessoas. Eu aprendi a dar muito valor à nossa 
amizade – primeiro, porque ela é fruto de uma longa construção; mas 
sobretudo porque ela é rara, muito rara... 
Sempre tememos por esse momento, mas chegou, enfim, a 
hora de trilharmos caminhos diferentes. A lembrança e o carinho 
permanecerão para sempre, é claro – mas as amizades se sustentam pela 
convivência, e saber disso é o que me dói mais. Sei que, nesse momento, a 
dor que sinto é apenas uma fração da dor que ainda virá. Mas também sei 
que a vida seguirá seu rumo – e que, como dizem, o tempo tudo cura. 
Espero que a vida ainda nos dê a chance de muitos reencontros. Em cada 
um deles, nossa história nos lembrará do que fomos um para o outro – 
dos sentimentos que não podem ser comprados. 
 
Minhas raízes estão em Blumenau. No momento em que redijo 
essas palavras, ainda não sei se voltarei para junto delas – um dia voltarei, 
mas não sei quando. Lá estão algumas das pessoas mais importantes em 
minha vida. Elas também estiveram junto de mim nos últimos quatro 
anos, e sei que estarão para sempre. 
Meu amigo Mueller: ainda somos muito novos, mas é 
impressionante olhar para trás e ver que já temos vinte anos de amizade. 
Quantas pessoas da nossa idade preservam amizades por tanto tempo? 
Fico feliz em saber que nossos interesses convergem cada vez mais, pois é 
isso o que nos une. Espero que nossas vidas façam o mesmo – e sei que 
farão. 
Meu irmão Cícero e minha cunhada Adriana: a vida seria 
terrível se não tivéssemos com quem partilhar alegrias e tristezas. É por 
isso que valorizo, sinceramente, a presença e o companheirismo de vocês. 
Todos ainda temos muito a aprender da vida – mas dizem que aprender 
em grupo é muito melhor! Alegra-me pensar que estaremos juntos, lado a 
lado, nesse aprendizado – celebrando a vida e, se necessário, sofrendo por 
ela. 
Meus pais, Haraldo e Úrsula: sei que ninguém, mais do que 
vocês, trabalhou e torceu para o meu sucesso. Nesses últimos quatro 
anos, passamos por alguns momentos bastante difíceis – e é nessas horas, 
sem dúvida, que pais e filhos provam seu amor recíproco. Nada me doeu 
mais do que deixá-los e ir para longe. Parece-me que, na vida, todos 
procuram por segurança – e vocês sempre foram, para mim, a tradução 
perfeita dessa palavra. Ao deixar nossa cidade – ao deixar vocês – senti-
me, por alguns momentos, como se essa segurança me faltasse. Mas hoje 
percebo, com toda a clareza, que o amor incondicional que vocês me 
dedicam ignora qualquer distância – e como sou feliz por isso! 
Pai e mãe: devo-lhes tudo; devo-lhes a vida. 
 
Ao leitor, peço desculpas por acrescentar mais páginas a um 
trabalho já relativamente volumoso. Trabalhei basicamente com palavras 
nos últimos quatro anos, e aprendi a gostar muito delas. Tento usá-las 
com economia e parcimônia, para que minha afeição não se transforme 
em excesso – mas nem sempre consigo! Com essas palavras – essas 
últimas palavras –, sinto-me como que encerrando um capítulode minha 
vida, marcado por novas experiências, novas descobertas, novos amores e 
novas amizades. Em meu coração, experimento uma inédita e estranha 
conjunção de sentimentos, cada um deles buscando sua expressão através 
das palavras que escrevo. (Novamente as palavras! Nunca antes, como 
agora, percebo quão limitadas são elas!) 
Sinto uma grande satisfação pelo dever cumprido; sinto 
excitação e apreensão, pelos desafios que me esperam na construção de 
minha trajetória profissional; e sinto, sobretudo, uma profunda, indizível 
tristeza por deixar para trás tudo o que esse pequeno pedaço do mundo 
chamado São Carlos significou para mim. 
. 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
 INTRODUÇÃO ...................................................................................... 01 
 
 
1. O BEHAVIORISMO RADICAL E A 
 CIÊNCIA DO COMPORTAMENTO .............................................. 06 
 1.1. Método e metafísica: o projeto científico de Skinner ................................ 06 
 1.1.1. O método skinneriano: a análise experimental do comportamento .. 34 
1.1.2. A metafísica skinneriana: ontologia .............................................. 60 
1.1.3. A metafísica skinneriana: epistemologia ........................................ 71 
Adendo: O conceito skinneriano de verdade ................................. 104 
 
 
2. O MODELO DE SELEÇÃO DO 
COMPORTAMENTO POR CONSEQÜÊNCIAS .................... 121 
2.1. O que é selecionado? ............................................................................. 123 
2.1.1. Nível 1 ..................................................................................... 123 
 2.1.2. Nível 2 ..................................................................................... 126 
2.1.3. Nível 3 ..................................................................................... 131 
2.2. Reprodução e variação das unidades de seleção ....................................... 142 
2.2.1. Nível 1 ...................................................................................... 143 
2.2.2. Nível 2 ...................................................................................... 145 
2.2.3. Nível 3 ...................................................................................... 159 
2.3. Como ocorre a seleção? .......................................................................... 169 
2.3.1. Nível 1 ...................................................................................... 170 
2.3.2. Nível 2 ...................................................................................... 172 
2.3.3. Nível 3 ...................................................................................... 173 
2.4. Méritos e limites do modelo de seleção por conseqüências .......................... 199 
 
 
 
 
 
 
3. O SISTEMA ÉTICO SKINNERIANO E A 
TECNOLOGIA DO COMPORTAMENTO ................................ 210 
 3.1. A questão dos valores na filosofia moral skinneriana .............................. 211 
 3.2. A sobrevivência das culturas enquanto 
 valor na filosofia moral skinneriana ....................................................... 239 
 3.3. O sistema ético skinneriano e a tecnologia do comportamento ................... 268 
 
 
 
4. AGÊNCIAS GOVERNAMENTAIS E 
 FILOSOFIA POLÍTICA SKINNERIANA ................................... 287 
 4.1. Filosofia política skinneriana: considerações preliminares ......................... 287 
 4.2. Filosofia política skinneriana: um roteiro de análise ............................... 303 
 4.2.1. Agências de controle na filosofia política skinneriana .....................304 
 4.2.2. Agências governamentais na filosofia política skinneriana ............. 307 
 4.2.3. A crítica de Skinner à filosofia política 
 e às agências governamentais ......................................................... 311 
 Adendo 1: O welfare state e o behaviorismo radical ........…………… 317 
 Adendo 2: A economia em Walden II e os dois efeitos 
 das conseqüências reforçadoras positivas ................................... 323 
 
 
 
5. A UTOPIA SKINNERIANA E A FILOSOFIA 
POLÍTICA DO BEHAVIORISMO RADICAL ........................... 329 
 5.1. Características gerais de Walden II ....................................................... 329 
 5.2. A agência governamental em Walden II 
 e a filosofia política skinneriana ........................................................... 333 
 5.3. Possibilidades de universalização da utopia skinneriana: 
 a expansão do modelo Walden II .......................................................... 377 
 5.4. O analista do comportamento enquanto agente político .............................389 
 5.4.1. O projeto utópico de Skinner 
 enquanto alternativa de ação política ......................................... 395 
 5.4.2. Alternativas de ação política 
 não comprometida com projetos utópicos ..................................... 400 
 
 
 
 
 
 
 
 
6. A POSIÇÃO DO BEHAVIORISMO RADICAL 
 NO ESPECTRO DA FILOSOFIA POLÍTICA ........................... 411 
 6.1. Considerações preliminares ..................................................................... 411 
 
 6.2. Conservadorismo .................................................................................... 414 
 6.2.1. Caracterização .................................................................................... 414 
 6.2.2. Análise comparativa ........................................................................... 416 
 
 6.3. Fascismo ............................................................................................... 418 
 6.3.1. Caracterização .................................................................................... 418 
 6.3.2. Análise comparativa ........................................................................... 421 
 
 6.4. Socialismo ............................................................................................. 427 
 6.4.1. Caracterização .................................................................................... 427 
 6.4.2. Análise comparativa ........................................................................... 430 
 
 6.5. Liberalismo ........................................................................................... 436 
 6.5.1. Caracterização .................................................................................... 436 
 6.5.2. Análise comparativa ........................................................................... 441 
 
 6.6. Anarquismo .......................................................................................... 444 
 6.6.1. Caracterização .................................................................................... 444 
 6.6.2. Análise comparativa ........................................................................... 448 
 
 6.7. Ecologismo e feminismo .......................................................................... 455 
 
 6.8. Behaviorismo radical: novidade na filosofia política? ................................ 459 
 
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................ 465 
 
 
 1
INTRODUÇÃO 
 
A teoria da seleção do comportamento por suas conseqüências, 
elaborada por B.F. Skinner (1981/1984b), prevê a ação de variáveis 
selecionadoras nos níveis filogenético, ontogenético e cultural. O primeiro 
nível é compreendido no âmbito da teoria da seleção natural darwiniana; 
o segundo, no âmbito da seleção do comportamento operante por 
contingências de reforço;o terceiro, por fim, refere-se à seleção de 
práticas culturais que promovem a sobrevivência das culturas que as 
executam. De acordo com Skinner, culturas são compostas pelas 
contingências de reforço mantidas pelos diversos grupos sociais 
(1953/1965, p. 419; 1974, p. 203). A tecnologia comportamental permite, 
em princípio, o planejamento e manipulação das práticas que compõem 
uma cultura – e que, portanto, controlam o comportamento de seus 
integrantes: as práticas governamentais, educacionais, organizacionais, 
comunitárias, etc. Estaríamos, assim, ao transformar o comportamento 
dos membros de um grupo social, gerando as “mutações” culturais que 
trarão certas conseqüências para as possibilidades de manutenção das 
culturas. 
Esse tipo de intervenção, porém – em especial, ao lidar com 
populações amplas – suscita questionamentos sobre as diretrizes éticas e 
 2
políticas da análise do comportamento. Contudo, Skinner (1953/1965, 
cap. 28; 1971, cap. 6) trata das questões éticas e políticas de forma 
divergente da usual. Tradicionalmente, assume-se que juízos de valor 
estão fora da alçada científica, cabendo a esta o juízo sobre “fatos”. Para 
Skinner, questões éticas e políticas situam-se, sim, no âmbito da ciência do 
comportamento – e, portanto, a ciência do comportamento é, também, 
ciência dos valores e ciência da política. Se valores estão nas 
contingências, valores são objeto de estudo da ciência do comportamento. 
Parte-se do princípio de que o estudo da ética e da política é o estudo de 
fatos comportamentais. Porém, assim como nos demais sistemas 
filosóficos dedicados ao estudo da ética e da política, também no 
behaviorismo radical impõe-se a tensão entre descrição e prescrição. 
Este trabalho visa caracterizar, a partir do texto skinneriano, a 
posição do behaviorismo radical em relação às questões éticas e políticas. 
A partir dessa caracterização, busca indicar algumas das possibilidades 
para a promoção de ações ética e politicamente comprometidas por parte 
da comunidade dos analistas do comportamento. A estrutura do trabalho 
compreende seis capítulos: o primeiro busca descrever as relações entre 
método e metafísica no projeto científico skinneriano; o segundo analisa 
os detalhes do modelo de seleção do comportamento por conseqüências, 
bem como os méritos e limites da analogia entre os três níveis seletivos; o 
 3
terceiro aprofunda o tema da sobrevivência das culturas, relacionando-o 
com o sistema ético skinneriano e investigando algumas de suas possíveis 
conseqüências para a prática dos analistas do comportamento; o quarto 
capítulo aborda o conceito de agências governamentais no interior da 
filosofia política skinneriana; no quinto capítulo, aprofunda-se a 
caracterização dessa filosofia política – agora, com auxílio do projeto 
utópico de Skinner – e aponta-se, também, algumas possibilidades para a 
ação politicamente orientada por parte dos analistas do comportamento; 
por fim, o sexto e último capítulo busca localizar a filosofia política 
behaviorista radical diante das correntes tradicionais da filosofia política. 
De acordo com Abib (1996), a pesquisa epistemológica tem 
como objeto o discurso – em forma de texto – das diversas formas de 
conhecimento – dentre estas, o conhecimento psicológico. Trata-se, 
portanto, de discurso de segunda ordem, realizado sobre um discurso de 
primeira ordem. No caso da psicologia, os paradigmas e tradições de 
pensamento fundadas por tais discursos são notavelmente plurais, e a 
pesquisa epistemológica busca, exatamente, esclarecer tal pluralidade, 
investigando os fundamentos do discurso psicológico. 
Para realizar essa tarefa, o método epistemológico lança mão: 
1) das categorias clássicas da epistemologia, em suas diversas vertentes e 
variações semânticas: possibilidade, fundamentos e verdade do 
 4
conhecimento – supondo que tais categorias, mesmo que não declaradas, 
atravessam subliminarmente o texto, compondo seu pré-texto; 2) do estudo 
do horizonte cultural e intelectual no qual o texto foi concebido, visando, 
através desta análise de seu contexto, ampliar a compreensão do texto e do 
pré-texto; 3) da hermenêutica, que, além do sentido do texto – circunscrito 
ao contexto de sua produção –, busca também seu significado – isto é, as 
possibilidades que oferece para além de seu próprio contexto. 
Tal método caracteriza-se como transdisciplinar, pois não 
restringe a epistemologia enquanto disciplina filosófica; do contrário, 
busca um intercâmbio dinâmico não só com outras áreas da filosofia 
(lógica, metafísica, ética, filosofia política e social), como também com as 
disciplinas científicas cujos textos lhe servem de objeto. Em assim 
fazendo, o pesquisador pretende obter o quadro mais completo possível 
da situação investigada, utilizando, além de sua competência filosófica, sua 
competência no campo científico gerador do texto que interpela. 
O método de investigação do presente projeto baseia-se, em 
parte, nas diretrizes do método epistemológico-hermenêutico descrito 
acima, e, em parte, em uma análise estrutural do texto de B.F. Skinner. 
Assim, da perspectiva de uma análise estrutural, foram selecionados, 
inicialmente, textos de Skinner diretamente relacionados aos temas 
investigados no presente trabalho. Em seguida, foram identificadas e 
 5
definidas as principais categorias conceituais encontradas nesses textos. 
Por fim, outras categorias referidas por Skinner nos textos sob 
investigação foram investigadas, na medida em que identificá-las, defini-
las e relacioná-las às categorias conceituais originais tenha-se mostrado 
importante para esclarecê-las. 
Da perspectiva das diretrizes do método epistemológico-
hermenêutico, foram utilizados textos básicos relativos aos assuntos 
investigados, através dos quais fosse possível definir as principais 
categorias conceituais dessas áreas de conhecimento, a fim de utilizá-las 
como recursos auxiliares na identificação de categorias dessa natureza nos 
textos de Skinner. Finalmente, ainda dessa perspectiva, foram utilizados 
também textos que pudessem contribuir para formar uma perspectiva do 
horizonte intelectual de onde o discurso de Skinner pudesse ser melhor 
compreendido. 
 
 
 
 
 
 
 
1. O BEHAVIORISMO RADICAL E A 
 6
CIÊNCIA DO COMPORTAMENTO 
 
1.1. Método e metafísica: o projeto científico de Skinner 
Um projeto científico, qualquer que seja o campo do saber ao 
qual se aplique, não pode ser adequadamente retratado apenas através da 
descrição de suas atividades empíricas. A atividade científica está sempre 
sustentada por um conjunto de pressupostos sobre (1) seu objeto de 
investigação e (2) o método adequado para investigar tal objeto. Trata-se, 
respectivamente, dos pressupostos ontológicos e epistemológicos do 
método – este produzindo, por fim, os enunciados do discurso científico. 
A ontologia e a epistemologia integram, em conjunto, a metafísica do 
método científico (Abib, 1993a).1 Assim, a metafísica – uma disciplina 
pertencente ao campo filosófico – não apenas integra um projeto 
científico, mas constitui seu próprio fundamento. Isso é válido mesmo 
quando essa metafísica não é declarada, não é explicitada, ou ainda 
quando sua necessidade é negada ou ignorada: uma vez de posse de uma 
descrição do método de determinada ciência, sempre será possível, em 
princípio, percorrer o caminho que liga o método à sua raiz metafísica. O 
 
1 O termo “metafísica” será aqui utilizado apenas nesse sentido de conjunção entre 
epistemologia e ontologia (embora seja comumente utilizado também com referência apenas à 
ontologia).A palavra também pode ser entendida, nesse sentido, como sinônimo de “filosofia 
da ciência”, enquanto investigação dos fundamentos metafísicos da ciência (Abib, 1993a). 
Embora tal definição permita-nos afirmar que a metafísica é um tema freqüente na obra de 
Skinner, é preciso deixar claro, desde já, que o autor não emprega o termo em seus escritos. 
 7
método, por si só, não é auto-suficiente. A atividade científica não parte 
do vazio. 
Skinner (1963/1969b, p. 221; 1974, p. 03; 1977/1980, p. 200) 
percebeu claramente esse fato. Tanto que constituiu seu projeto científico 
através de uma ciência do comportamento – cujo método é a análise 
experimental do comportamento – e de uma metafísica desta ciência – o 
behaviorismo radical. O trajeto de Skinner (1956/1972j; 1977/1980; 
1989e) na constituição deste projeto científico, porém, inicia-se na prática 
da ciência do comportamento, para só depois estabelecer seus 
fundamentos filosóficos. A ciência do comportamento praticada por 
Skinner no início de sua carreira científica tinha como principal base 
filosófica o behaviorismo clássico – este tendo em Watson (1913/1995) 
seu maior expoente. Nesta ciência, o reflexo era o conceito central – e foi 
balizado por este conceito que Skinner realizou e reportou suas primeiras 
experiências sobre o comportamento animal. À certa altura dessas 
experiências, porém, Skinner passou a dirigir seu interesse para 
determinadas relações entre comportamento e ambiente cuja descrição 
não era contemplada pelo estudo do reflexo realizado pela ciência do 
comportamento de então. 
Nos primórdios de seu trabalho experimental, Skinner 
(1956/1972j, pp. 104-108; 1977/1980, pp. 192-193) estudou, de forma 
 8
breve, o efeito de estímulos sonoros sobre o comportamento exploratório 
de ratos. Em seguida, passou a estudar seus reflexos posturais. Durante 
essa última atividade, porém, o efeito do alimento presente no aparato 
experimental sobre o comportamento dos sujeitos fez com que Skinner 
modificasse completamente a direção de suas pesquisas. Em seu primeiro 
artigo experimental (On the conditions of elicitation of certain eating reflexes, 
citado em Skinner, 1977/1980, p. 193), descreveu a relação funcional 
entre a quantidade de alimento ingerida pelo sujeito experimental e a taxa 
de ingestão subseqüente. Para analisar tal processo com mais detalhe, 
modificou seu aparato experimental até chegar próximo ao que se 
conhece hoje, popularmente, como Skinner box ou “caixa de Skinner”. 
Esse aparato, conforme notou Skinner (1977/1980, p. 193), assemelhava-
se ao utilizado por Thorndike na demonstração da Lei do Efeito. Porém, 
na preparação de seu setting experimental, Skinner (1977/1980, p.193; 
1987/1989a, p. 62) seguiu as recomendações de Pavlov quanto aos 
cuidados para perturbar ao mínimo possível o animal sob estudo.2 Com 
isso, evitou a ocorrência de comportamentos “malsucedidos” por parte 
do sujeito experimental – comuns no processo de aprendizagem tal como 
analisado por Thorndike. 
 
2 Esse processo é descrito com detalhes em Skinner (1938/1966, pp. 55-57). 
 9
Nos experimentos realizados por Skinner (1956/1972j, pp. 
108-110; 1977/1980, pp. 193-194; 1989e, pp. 123-124) com o auxílio 
desse aparato, o acréscimo na taxa de respostas “bem sucedidas” tornou-se, 
rapidamente, um dado importante – bem como, em seguida, a extinção 
dessas respostas em função da desconexão entre sua ocorrência e a 
apresentação de alimento (utilizado como reforçador).3 Essa taxa tornou-se 
significativa porque apresentava mudanças ordenadas em face de certas 
modificações nas variáveis independentes. Além disso, mostrou-se 
teoricamente relevante por sua relação com outro conceito central na 
teoria do comportamento operante: a probabilidade de ocorrência de certa 
resposta por parte do organismo, durante determinado período de tempo 
(1966/1969c, pp. 75-78; 1977/1980, p. 194; 1989e, p. 124). 
Skinner, porém, continuou a utilizar-se do conceito de reflexo, 
mesmo após a construção do delineamento experimental típico do estudo 
do comportamento operante – que completou-se com a inclusão, no 
aparato experimental, de um estímulo luminoso que possibilitava o 
reforçamento diferencial das respostas emitidas pelo animal (Skinner, 
1977/1980, p. 195; 1989e, pp. 127-128).4 A distinção entre o 
condicionamento experimental realizado por Skinner e o 
 
3 Skinner (1977/1980, p. 194) nota que Thorndike não havia investigado o processo de 
extinção. 
 10
condicionamento pavloviano fazia-se clara já em Two types of conditioned 
reflex and a pseudo-type (1935/1972a), mas o termo operante só apareceria em 
1937, no artigo Two types of conditioned reflex: A reply to Konorski and Miller 
(1937/1972b) (no qual Skinner aplicou também o termo respondente em 
referência ao condicionamento pavloviano). No ano seguinte, porém, 
Skinner ainda aplicaria o conceito de reflexo em seu primeiro livro, The 
Behavior of Organisms (1938), com referência tanto ao comportamento 
respondente quanto ao operante. Posteriormente, ele mesmo comentaria 
a situação: “Levei muitos anos para libertar-me de meu próprio controle 
por estímulos no campo do comportamento operante. Desse ponto em 
diante, contudo, eu claramente não era mais um psicólogo S-R” 
(1977/1980, p. 196). 
A noção de contingência de reforço surge como um 
desenvolvimento original em relação ao modelo respondente, 
estabelecendo um novo campo de estudos: a análise experimental do 
comportamento operante. Trata-se de uma mudança dramática, que impõe 
uma cisão entre as duas tradições de pesquisa – já que a compreensão do 
comportamento em ambas é sumamente incompatível. Porém, se temos, 
 
4 Trata-se, obviamente, do estímulo discriminativo, com o qual Skinner chegou à definição dos 
três termos do conceito de contingência de reforço: estímulo discriminativo, resposta e 
estímulo reforçador. 
 11
agora, duas tradições experimentais diversas, os pressupostos metafísicos 
de ambas as tradições devem ser, também eles, diversos entre si. 
Havíamos afirmado que o trajeto de Skinner na constituição de 
seu projeto científico teve início na prática da ciência do comportamento. 
Foi exatamente esse aspecto de tal trajeto que procuramos apontar até 
aqui, ainda que de forma breve. O que houve nesse primeiro momento, 
no nascimento do projeto científico skinneriano? Inicialmente, Skinner 
observou experimentalmente a existência de determinadas relações entre 
comportamento e ambiente. Além disso, constatou que os métodos de 
investigação apoiados pelo behaviorismo clássico não eram adequados 
para o estudo dessas relações. Urgia, portanto, a criação de um novo 
método, que pudesse ser aplicado a tal estudo. Skinner criou esse método 
– que seria denominado, posteriormente, análise experimental do 
comportamento. 
Contudo, também havíamos afirmado que um método, que 
produz enunciados científicos, está sempre apoiado por pressupostos 
ontológicos e epistemológicos – isto é, por uma metafísica. De fato, 
Skinner viria a lançar, posteriormente, a estrutura metafísica que apóia seu 
projeto científico; a essa estrutura chamamos behaviorismo radical. 
Esclareça-se, portanto, que o sentido do trajeto percorrido por Skinner 
nesse momento inicial – da metodologia à metafísica – é perfeitamente 
 12
admissível (Abib, 1993a) – e mesmo freqüente na ciência em geral. A 
construção de um projeto científico não precisa seguir um ordenamento 
estrito – isto é, partir,obrigatoriamente, de bases filosóficas, para só então 
desenvolver um método. É importante tornar isso claro, pois é recorrente 
na história da filosofia e da ciência a utilização de certas metáforas 
arquitetônicas para a descrição de projetos científicos.5 Mesmo no 
presente texto temos nos utilizado de tais metáforas – por exemplo, 
quando nos valemos de termos tais como construção, sustentação, fundamentos, 
estrutura, apoio ou bases com referência à constituição desses projetos. 
Assim, o estabelecimento de um método científico desprovido de seus 
“fundamentos” filosóficos poderia soar, à primeira vista, como algo 
condenável: uma “construção” desse tipo – sem infra-estrutura – 
pareceria condenada à ruína. 
 
5 Alguns exemplos clássicos podem, facilmente, ilustrar essa afirmação. Descartes foi pródigo 
na utilização de metáforas arquitetônicas. O filósofo desenvolveu seu trabalho solitariamente, 
pois notou que “(...) os edifícios empreendidos e concluídos por um só arquiteto costumam 
ser mais belos e melhor ordenados do que aqueles que muitos procuraram reformar, fazendo 
uso de velhas paredes construídas para outros fins” (1637/1991a, p. 34). Ao invés de destruir 
por inteiro os edifícios de opiniões infundadas, Descartes procurou simplesmente solapar seus 
alicerces, “(...) visto que a ruína dos alicerces carrega consigo todo o resto do edifício” 
(1641/1991b, p. 167). Só aí poderia “(...) começar tudo novamente desde os fundamentos, se 
quisesse estabelecer algo de firme e constante nas ciências” (p. 167). Kant também valeu-se da 
analogia, ao realizar a descrição dos fundamentos subjetivos a priori dos – então já erigidos – 
“monumentos da razão” (lógica aristotélica, geometria euclidiana, física newtoniana): “Na 
verdade, parece natural que, tão logo se tenha abandonado o solo da experiência, não se erija 
imediatamente, com conhecimentos que se possui sem saber de onde e sobre o crédito de 
princípios de origem desconhecida, um edifício, sem antes estar assegurado dos fundamentos 
mediante cuidadosas investigações (...)” (1787/1999, p. 56). 
 
 13
É preciso deixar claro, portanto, que a metáfora arquitetônica é 
um artifício lingüístico limitado. A metafísica, de fato, constitui o 
fundamento de todos os projetos científicos. Porém, a gênese de tais 
projetos não segue, obrigatoriamente, a lógica arquitetônica: seus 
fundamentos podem, sem prejuízo de legitimidade, ser lançados a 
posteriori. A censura deve dirigir-se, isto sim, aos projetos científicos que, 
arrogando-se uma existência independente de fundamentos metafísicos, 
desconhecem que os carregam em seu próprio cerne, ou tratam-nos como 
corpos estranhos, os quais cabe extirpar. Nesse sentido, o trajeto de 
Skinner é particularmente legítimo. Tão logo estabelece a originalidade de 
seu método, o autor lança-se à tarefa de fundamentá-lo filosoficamente – 
uma tarefa que exigirá parte significativa de seus esforços posteriores. 
Ainda é preciso, porém, aprofundar a análise das relações entre 
método e metafísica em Skinner. Assim como é pobre a metáfora 
arquitetônica – na qual a metafísica fornece, unilateralmente, os 
fundamentos do método –, também a metáfora oposta não parece 
satisfazer completamente à necessidade de retratar o trajeto de Skinner na 
construção de seu projeto científico. A escassez de detalhes no relato feito 
há pouco sobre as atividades experimentais iniciais de Skinner pode criar 
uma falsa impressão de ordem e simplicidade: abandona-se um método 
insatisfatório para o estudo de certo problema, elabora-se outro mais 
 14
apurado e lança-se suas bases metafísicas. Ao invés de uma passagem 
simples e ordenada da metafísica ao método, teríamos, assim, uma 
passagem simples e ordenada do método à metafísica. Ambas as 
descrições são atraentes em sua economia; porém, devem ser 
aprofundadas se pretendemos discursar sobre a atividade científica – e, 
em especial, sobre a relação entre behaviorismo radical e análise 
experimental do comportamento – de modo menos idealizado. Seria 
possível reformular nossa metáfora original, a fim de que ganhe mais 
consistência? A resposta deriva de certas características especiais do 
projeto científico skinneriano, que discutiremos a seguir. 
Cabe notar, de início, que há algo diferenciado em uma 
psicologia definida como estudo do comportamento: ela pode, em algum 
estágio de seu desenvolvimento, passar a discursar cientificamente sobre a 
atividade de conhecer o mundo – e, mais ainda, sobre a atividade de 
conhecer o mundo cientificamente (Abib, 1993b; Skinner, 1945/1972c, p. 
380; 1963/1969b, p. 228; 1974, pp. 234-237; Zuriff, 1980).6 Tal psicologia 
pode, dessa forma, fundar um discurso metodológico e metafísico 
original, penetrando em campos tradicionalmente reservados apenas à 
filosofia. Se a atividade científica é comportamento, não poderia a 
 
6 Zuriff (1980) sintetiza a situação desta forma: “Uma ciência do comportamento 
inevitavelmente volta-se para dentro de si mesma” (p. 337). 
 
 15
psicologia, com mais propriedade do que a metafísica ou a metodologia, 
investigar a natureza do comportamento denominado “científico”? Essa 
é, de fato, a opinião de Skinner. Entretanto, tal opinião é justificada com 
afirmações como esta: “(...) nós, como psicólogos, nos encontramos em 
posição de recordar-lhes [aos estudiosos de metodologia e estatística] de 
que não contam com os métodos apropriados para a observação empírica 
ou a análise funcional de tais dados” (1956/1972j, p. 102, nosso itálico). 
Os “tais dados” aos quais Skinner se refere nessa passagem são, 
exatamente, o conjunto de comportamentos denominado “científico”. 
Algo, porém, torna-se confuso e paradoxal na compreensão 
desse percurso: não afirmávamos, há pouco, que um projeto científico 
fundamenta-se sempre em uma metafísica – isto é, em uma filosofia da 
ciência? Se assim ocorre, pode um projeto científico gerar seus próprios 
fundamentos metafísicos? Em princípio, tal projeto deixa transparecer 
certa pretensão de libertar-se da necessidade da metafísica, constituindo-
se em um empreendimento independente da filosofia. O paradoxo 
aprofunda-se se notarmos que a ciência do comportamento operante, ao 
mesmo tempo em que lança um discurso sobre a natureza do 
conhecimento científico, tem sua própria cientificidade questionada por 
outras áreas do saber, dentro e fora da psicologia (Abib, 1993b). Assim 
 
 
 16
sendo, como Skinner pode afirmar que a análise experimental do 
comportamento é o método apropriado para o estudo do comportamento 
científico – ou mesmo para o estudo de qualquer comportamento em 
qualquer organismo? É possível fazer tal afirmação sem recorrer a uma 
metafísica derivada de reflexão filosófica? É necessário retomar com mais 
detalhe o desenvolvimento do projeto científico skinneriano para 
compreender como esse paradoxo situa-se em tal contexto. 
Realizamos há pouco uma descrição pouco acurada do 
processo que levou Skinner a reformular seu método de investigação do 
comportamento. O que teria, de fato, ocorrido durante tal trajeto? É 
possível descrevê-lo em poucas palavras? Alguns poucos princípios de 
metodologia científica podem explicá-lo? Certamente que não, diria 
Skinner (1945/1972c, p. 380; 1956/1972j; 1974, p. 236). Daí deriva a 
crítica que o autor lança contra certas disciplinas (metodologia, lógica, 
estatística) que, ao resumirem o trabalho do cientista através de certas 
regras, oferecem uma descrição idealizada e incompleta desta atividade. O 
comportamentodo cientista está, em grande parte, sob controle das 
contingências da situação experimental. Nesse contexto, muito do que 
ocorre é de natureza acidental, imprevista, fortuita. Descobertas 
relevantes ocorrem sem que tenham sido antevistas ou explicitamente 
perseguidas. Modificações metodológicas importantes ocorrem porque 
 17
certas características da situação experimental – até então ignoradas ou 
tidas como pouco interessantes – tornam-se conspícuas. Características 
aparentemente banais das condições materiais de suporte ao experimento 
levam a reformulações importantes nos procedimentos experimentais. E 
assim, acidentalmente e sem planejamento prévio, modifica-se, 
aperfeiçoa-se, refina-se o método experimental. Em paralelo, mudam 
também as características da situação experimental que controlam a 
atenção do cientista em sua busca por ordem e regularidade. Como 
resumiu precisamente o próprio Skinner (1956/1972j), “o organismo cuja 
conduta é mais amplamente modificada e mais completamente controlada 
na pesquisa (...) é o próprio experimentador” (p. 122). 
A criação de um novo método experimental não pode, 
portanto, ser explicada meramente apelando-se ao “comportamento 
criativo” do pesquisador. As próprias características da situação 
experimental exercem influência decisiva sobre os procedimentos 
empregados. O desenvolvimento do método skinneriano – a análise 
experimental do comportamento – não se deu através de um percurso 
estável e ordenado, mas sim acidentado e irregular (o que o torna, por 
vezes, irônico, para quem acompanha o relato do processo na expectativa 
de encontrar uma história dentro dos padrões habituais da metodologia). 
Compreende-se mais claramente as particularidades de tal percurso 
 18
notando-se que as contingências da situação experimental que modelam o 
comportamento dos cientistas também não são inteiramente ordenadas e 
planejadas: eventualmente, também elas são acidentais e irregulares. 
Descrever verbalmente tal processo de modo relativamente simples e 
facilmente inteligível é uma exigência da metodologia, enquanto 
disciplina. Essa ordem é útil para a construção e transmissão de regras, 
mas há algo nas regras que “congela” a experiência original, ao dela 
subtrair os detalhes e nuances que lhe conferem sua singularidade (Abib, 
1993b, p. 481; Skinner, 1966/1969d, pp. 146-152; pp. 166-171; 1969h, p. 
289). Assim, o comportamento inicialmente gerado por tais regras será 
tão “frio”, “mecânico” e incompleto quanto as próprias regras. Esse 
repertório comportamental incompleto deverá ser modificado e 
suplementado pelas contingências da situação experimental – quando, aí 
sim, surgirá um repertório comportamental condizente com a atividade 
científica, porque modelado pelas contingências típicas dessa atividade. 
Variedade e novidade são características das contingências, em oposição à 
uniformidade das regras (Skinner, 1966/1969d, p. 170; 1989c, p. 44). 
Assim, embora as regras tenham óbvia utilidade, a ciência progride e 
evolui exatamente porque expõe-se às contingências geradas por sua 
própria atividade.7 
 
7 Em última análise, as regras são sempre secundárias em relação às contingências que 
 19
Havíamos formulado duas indagações no decorrer de nossa 
reflexão. Abordemos a primeira, que diz respeito à tentativa de retratar, 
através de uma metáfora, as relações entre método e metafísica no projeto 
científico skinneriano. Já concluímos, anteriormente, que se a metáfora 
arquitetônica – da metafísica ao método – não é adequada para tanto, 
tampouco o é a metáfora inversa – do método à metafísica. Ambas 
idealizam e simplificam um processo que, quando de sua ocorrência, é 
freqüentemente desordenado, irregular, acidental. Restam duas opções: 
tentar construir uma metáfora aceitável ou desistir da tarefa. 
Considerando que as metáforas – assim como as regras – possuem 
limitações inerentes, é preciso reconhecer, ainda assim, sua utilidade e 
necessidade: metáforas são tão inevitáveis quanto suas limitações, e sua 
virtual capacidade de gerar reveses não deve privar-nos de seus potenciais 
benefícios. Basta que se reconheça as metáforas pelo que são: artifícios 
úteis – porém imperfeitos – empregados pelo homem no controle de seu 
próprio comportamento. 
Dito isso, quais seriam as características de uma metáfora 
minimamente adequada para lidar com a relação entre método e 
metafísica, em especial no interior do projeto científico skinneriano? 
 
modelaram o comportamento original, pois surgem a partir de descrições dos efeitos deste 
comportamento. Assim, de acordo com Skinner (1989c), “novas ciências surgem apenas a 
partir de contingências (...) As contingências sempre vêm primeiro” (p. 44). 
 20
Considerando-se que a separação estrita entre método e metafísica é, por 
si só, meramente um artifício que visa facilitar sua compreensão, 
comecemos por remover qualquer barreira rígida entre ambos. Para evitar 
que se tornem indistinguíveis, porém, separemo-los com uma nova 
barreira, desta vez com certo grau de permeabilidade. Essa 
permeabilidade, porém, é oscilante. Varia da permeabilidade total à 
impermeabilidade absoluta, admitindo diversos graus entre estes 
extremos. Podemos, agora, admitir alguma troca entre esses dois pólos. 
Tais trocas, porém, não apresentam qualquer característica de constância 
ou regularidade. Uma pequena modificação em um dos pólos pode 
acarretar grandes modificações em outro; por outro lado, grandes 
mudanças em um pólo podem ser acompanhadas por pequenas mudanças 
em seu par, ou pela ausência de qualquer mudança correspondente. Um 
dos pólos pode sofrer modificações por longo tempo sem influenciar o 
outro; porém, uma rápida mudança em um dos pólos pode acarretar um 
longo processo de reestruturação no outro. 
Nossa metáfora começa a ganhar novos contornos. Antes, era 
necessário que um dos pólos sofresse uma mudança integral, para que, só 
então, seu par fosse submetido a mudança correspondente. Além disso, 
era necessário que algum dos pólos possuísse “prioridade causal” sobre o 
 
 
 21
outro. Sob nossa nova concepção, há movimento, troca e influência 
constantes entre método e metafísica. 
A metáfora torna-se ainda mais complexa ao assumirmos o 
seguinte pressuposto: enquanto partes integrantes de um projeto 
científico, método e metafísica são comportamento8 – e, desta forma, são 
processos contínuos, e não objetos estáveis (Skinner, 1953/1965, p. 15). 
Enquanto processos comportamentais contínuos, método e metafísica 
estão constantemente sujeitos a modificações – a despeito de qualquer 
tentativa de sistematizá-los e apresentá-los como disciplinas com algum 
tipo de existência independente da ação humana. 
Assim, no interior de um projeto científico, uma modificação 
pode ocorrer tanto no método quanto na metafísica. Essa modificação, 
por sua vez, influenciará, em maior ou menor grau, as atividades que 
 
8 Em especial no caso da metafísica, a afirmação pode soar estranha num primeiro momento. 
A idéia será desenvolvida adiante – mas cabe, desde já, apontar a forma pela qual a metafísica 
apresenta-se de modo mais freqüente, qual seja: como comportamento verbal gerador de 
estímulos verbais textuais (Skinner, 1957, pp. 65-69). Em outras palavras, certos falantes (em 
geral, filósofos ou cientistas) produzem, através de seu comportamentoverbal, estímulos 
discriminativos verbais (em geral, na forma de texto) que afetam o comportamento de certos 
ouvintes (em geral, a comunidade filosófica ou científica). Essas comunidades, por sua vez, 
modelam o comportamento verbal inicial de seus falantes, tendo como critério certas regras 
que abordaremos em seguida. Assim considerada, a metafísica está sujeita às mesmas leis que 
governam qualquer comportamento. Poderíamos mesmo adotar a sugestão de Hineline (1980, 
citado em Chiesa, 1994, p. 39), “(...) transformando palavras que soam como coisas (...) em 
descrições do comportamento (...)”. Assim, no presente caso, seria suficiente lembrar que a 
utilização da palavra “metafísica” refere-se a “comportamento verbal metafísico” ou “discurso 
metafísico” – com o adjetivo “metafísico” indicando as conseqüências que controlam este tipo 
de comportamento. (A natureza dessas conseqüências será analisada em breve.) Essa forma de 
abordagem ao problema coaduna-se com as considerações de Skinner (1945/1972c, p. 380; 
1963/1969b, p. 228; 1974, pp. 234-237) quanto às possibilidades de uma análise funcional do 
comportamento científico e filosófico. 
 
 22
integram as outras partes desse projeto. Qual seria, porém, a fonte 
primária de tais modificações? Para responder a essa pergunta, é preciso 
esboçar uma análise funcional do projeto científico skinneriano.9 Ao 
assim agir, evitamos em definitivo qualquer aproximação com uma 
descrição de cunho estruturalista desse projeto – prática freqüentemente 
condenada por Skinner (1953/1965, cap. 13; 1966/1969c, p. 96; 1974, pp. 
11-13; pp. 64-68; p. 225). 
O comportamento, de acordo com Skinner (1953/1965, p. 59; 
1963/1969a, p. 108; 1974, p. 46), é modificado por suas conseqüências. 
Método e metafísica são palavras que descrevem certos conjuntos de 
comportamentos. Assim, para que sejam modificados, método e 
metafísica devem ser afetados por suas conseqüências. O próprio Skinner 
(1956/1972j) descreve claramente o processo através do qual, na situação 
experimental, as conseqüências do método retroagem sobre ele e 
modificam-no. Isso acrescenta um terceiro elemento à metáfora que 
vínhamos desenvolvendo. Método e metafísica influenciam-se 
mutuamente em graus variáveis, mas as mudanças que dinamizam essa 
interação não surgem espontaneamente: são fruto das conseqüências 
geradas pelo método na situação experimental. Porém, se o método é, 
 
9 “Esboçar” é o verbo adequado para a tarefa, dadas as dimensões do problema abordado. O 
rigor de uma análise funcional completa – por impossível, neste caso – não faz parte de nossas 
pretensões. (Sobre esse assunto, ver também a nota 69.) 
 23
assim como a metafísica, modificado por suas conseqüências, que tipo de 
conseqüências modifica a metafísica? Não nos basta afirmar que, uma vez 
modificado o método, a metafísica deve acompanhar naturalmente essa 
mudança, pois estamos procurando, exatamente, compreender como se 
dá tal processo. 
Sendo a metafísica um certo conjunto de comportamentos 
verbais – isto é, um conjunto de pressupostos que buscam justificar e 
sustentar um método10 –, esta só será reforçada enquanto constituir-se, de 
fato, em justificativa e sustentação para o método. Modificando-se o 
método por suas conseqüências, também a metafísica está sujeita – ainda 
que não obrigada – a modificar-se para adaptar-se ao método. Uma 
metafísica que não justifica e não sustenta um método correspondente 
tende a gerar conseqüências que levam à sua modificação ou extinção. 
Em outras palavras, uma metafísica é reforçada exatamente porque 
justifica e sustenta um método, e continuará sendo reforçada conquanto 
desempenhe satisfatoriamente esta função.11 
 
10 Note-se que essa definição ajusta-se não apenas à epistemologia, mas também à ontologia – 
posto que ambas visam fundamentar práticas metodológicas. 
11 “Justificar e sustentar um método” é, por certo, uma designação bastante genérica para um 
amplo conjunto de comportamentos verbais, governados por regras provenientes de diversas 
subdivisões da filosofia (em especial da lógica, como indicam os verbos “justificar” e 
“sustentar”). Da mesma forma, as condições sob as quais esses comportamentos verbais serão 
reforçados – isto é, a determinação de seu grau de sucesso na justificação e sustentação do 
método – também dependem da análise especializada de tais comportamentos de acordo com 
as regras filosóficas convenientes. Assim, as conseqüências sutis que controlam o 
comportamento verbal metafísico são dispensadas pela comunidade verbal no interior da qual 
 24
Enquanto conjunto de comportamentos verbais, portanto, uma 
metafísica é afetada por suas conseqüências em relação ao método. O 
método, por sua vez, enquanto conjunto de comportamentos, é afetado 
por suas conseqüências em relação à situação investigada no âmbito de 
determinado projeto científico. Esse quadro, no qual as conseqüências da 
atividade científica são analisadas a partir de seus efeitos sobre a própria 
configuração desta atividade, permite-nos também explicar porque a 
barreira que utilizamos em nossa metáfora a fim de mediar as relações 
entre método e metafísica apresenta permeabilidade variável. Um método 
modificado por suas conseqüências pode implicar a obsolência da 
metafísica que o sustenta, mas não é necessário que o faça. O 
aperfeiçoamento de um determinado equipamento, por exemplo12, pode 
trazer mudanças dramáticas para o método de certa ciência, mas isso não 
implica que a metafísica de tal método deixe de sustentá-lo. Outras 
variações no método, no entanto, podem implicar profundas mudanças 
na metafísica que o apóia.13 Verifica-se, portanto, uma relação assimétrica 
 
se dá este discurso – mais especificamente, pela comunidade científica ou filosófica que 
constitui a audiência para o falante em questão. 
12 É o caso do desenvolvimento, por parte de Skinner (1956/1972j, pp. 108-109), do registro 
da taxa de respostas em forma de curva, em substituição ao registro poligráfico original. 
13 O exemplo óbvio, neste caso, ocorre quando Skinner (1956/1972j, pp. 106-108) constata o 
efeito exercido pelas conseqüências sobre o comportamento operante. A relação entre 
ambiente e comportamento apresenta-se, a partir daí, muito mais complexa do que aquela 
retratada pela psicologia S-R. Note-se que, tanto neste caso quanto no anterior, o método foi 
modificado por suas conseqüências sobre a situação experimental. Ainda mais: em ambos os 
casos, essas conseqüências foram acidentais – isto é, reforçaram procedimentos 
metodológicos de importância aparentemente secundária. 
 25
entre as modificações ocorridas no método e a influência destas sobre a 
metafísica. Para saber em que grau as modificações no método exercem 
influência sobre a metafísica, pode-se perguntar o seguinte: em que 
medida as novas características do método implicam diferentes 
pressupostos epistemológicos e/ou ontológicos sobre o método e sobre o 
objeto investigado? A resposta a essa pergunta determina a 
permeabilidade da barreira entre método e metafísica, quando ocorre 
alguma modificação no método. 
Temos privilegiado, até aqui, uma análise da influência das 
modificações metodológicas sobre seus pressupostos metafísicos. 
Fizemo-lo porque é este o enfoque utilizado por Skinner (1956/1972j) ao 
relatar a história do desenvolvimento de seu projeto científico. Mas é 
preciso lembrar – como sugeríamos ao iniciar o delineamento de nossa 
metáfora – que pode ocorrer uma dupla direcionalidade nesse processo: 
uma alteração nos pressupostosmetafísicos de um método também pode 
modificá-lo (Abib, 1993a, pp. 457-459). Como a metafísica é, em 
princípio, modificada por suas conseqüências (isto é, por sua capacidade 
de justificar e sustentar um método), é natural que qualquer alteração que 
lhe ocorra seja considerada – como foi até o momento – uma decorrência 
óbvia de alguma modificação no próprio método (esta decorrente, por 
sua vez, das conseqüências do método sobre a situação experimental). Se 
 26
assim ocorresse em todas as ocasiões, o método teria “prioridade causal” 
na relação método-metafísica.14 Porém – e este é o cerne de nossa 
discussão –, ciência é comportamento, e o comportamento escapa às 
especificações aparentemente lógicas que as regras procuram conferir-lhe 
ao descrevê-lo. Assim, uma metafísica, enquanto parte de um projeto 
científico, pode ser afetada por outras conseqüências além daquelas 
advindas de sua função de justificação e sustentação do método (assim 
como um método também pode ser afetado por outras conseqüências 
além daquelas verificadas na situação experimental). Fora da relação 
método-metafísica, é possível apontar diversas situações nas quais uma 
metafísica pode ser modificada por suas conseqüências. Para utilizar um 
exemplo simples, um cientista pode, como participante de uma discussão 
sobre filosofia da ciência, concluir que a metafísica que utiliza é 
inadequada para o tipo de problema que estuda. Pode, a partir daí, adotar 
novos pressupostos sobre seu objeto de investigação – isto é, ontológicos 
– e sobre o método adequado para investigar tal objeto – isto é, 
epistemológicos. Dependendo da natureza e da extensão dessas mudanças 
em relação aos pressupostos que utilizava originalmente, tal cientista pode 
 
14 Apontar “prioridades causais” é, obviamente, um artifício, pois todo e qualquer 
comportamento – incluindo, naturalmente, o comportamento científico – é controlado por 
contingências (Skinner, 1974, p. 206; p. 234; 1957, p. 460). Tal prática justifica-se por sua 
utilidade diante de fins específicos, da mesma forma que a criação de metáforas e a utilização 
de regras. 
 
 27
modificar ou não seu método, em maior ou menor grau, para que se 
adeqüe à nova metafísica que adotou. Para saber em que grau as 
modificações na metafísica exercem influência sobre o método, pode-se 
perguntar o seguinte: em que medida os diferentes pressupostos 
epistemológicos e/ou ontológicos sobre o método e o objeto investigado 
implicam novas características para o método que apóiam? A resposta a 
essa pergunta determina a permeabilidade da barreira entre método e 
metafísica, quando ocorre alguma modificação na metafísica. 
Até o momento, portanto, procuramos justificar nossa 
metáfora sobre as relações entre método e metafísica, com o auxílio da 
noção de modificação do comportamento por suas conseqüências. Vimos 
que tanto o método quanto a metafísica são modificados pelos efeitos que 
ocasionam. Certos tipos de conseqüências são mais comuns em cada caso, 
mas, em princípio, admite-se que qualquer tipo de conseqüência pode 
modificar algum dos pólos. Ocorrendo uma modificação em um deles, o 
outro pode ou não ser modificado, em maior ou menor grau, dependendo 
da natureza e da extensão da modificação no pólo original.15 Porém, a 
 
15 Algo como essa bidirecionalidade não obrigatória entre método e metafísica repete-se 
também nas relações entre epistemologia e ontologia (Abib, 1993a). Em certos momentos, 
porém, os limites entre epistemologia e ontologia tornam-se nebulosos. Ambas as disciplinas 
surtem efeito sobre o método, e isso torna difícil determinar quando certa asserção sobre o 
objeto da pesquisa refere-se ao próprio objeto ou à forma escolhida para estudá-lo. 
 
 28
metafísica deve sempre providenciar justificativa e sustentação para o 
método, pois esta é sua função básica enquanto prática verbal. 
Em princípio, essa metáfora aplica-se a qualquer projeto 
científico, pois permite a interpretação de um amplo espectro de 
comportamentos no âmbito da ciência. Lembremo-nos, agora, daquela 
característica especial de uma ciência do comportamento: ao estudar o 
comportamento científico, ela volta-se sobre sua própria atividade. Com 
isso, sempre que surgem dados capazes de lançar alguma luz sobre a 
natureza do comportamento científico, essa mesma ciência vê-se 
compelida a revisitar seus métodos de investigação, podendo também 
reformular, a partir daí, seus pressupostos metafísicos. Novos dados 
gerados por esse método ampliado ou refinado, por sua vez, podem 
aprofundar ainda mais a compreensão do comportamento científico, 
revelando sutilezas até então insuspeitas e promovendo novas 
modificações no método e em seus pressupostos metafísicos. Ainda além, 
a análise do comportamento científico pode incluir uma análise do 
comportamento de filósofos que produzem o comportamento verbal 
classificado como epistemologia, ontologia, lógica, etc. – já que, como 
afirmamos, estas atividades integram qualquer projeto científico. Os 
resultados dessa análise podem modificar os pressupostos metafísicos da 
 29
análise experimental do comportamento, tais modificações gerando (ou 
não) reflexos neste método. 
Uma ciência do comportamento possui, portanto, uma 
característica adicional em relação às demais ciências. É essa característica 
que confere a tal ciência a possibilidade de fundar um discurso original 
sobre a atividade científica (Abib, 1993b). Podemos agregar tal 
característica à estrutura da metáfora que vínhamos desenvolvendo até o 
momento, se considerarmos que fatos científicos16 sobre o 
comportamento de cientistas e filósofos da ciência são conseqüências do 
comportamento de cientistas. Enquanto conseqüências, aqueles fatos 
exercem um efeito óbvio sobre essa atividade – isto é, eles reforçam as 
características do comportamento dos cientistas que levaram à sua 
obtenção. Assim, se a utilização de um determinado método resulta na 
obtenção de fatos científicos, este método tende a ser reforçado por tais 
resultados.17 Trata-se, nesse caso, de modelagem por contingências, mas 
há um segundo efeito possível. O poder reforçador dos fatos científicos 
deriva, em grande parte, de sua capacidade de permitir ações efetivas 
 
16 “Fatos científicos” são entendidos, aqui, como regras para a ação efetiva sobre o mundo 
(Skinner, 1953/1965, p. 14; 1974, p. 235; 1989c, p. 43). 
17 O processo é, obviamente, muito mais complexo. Nenhum cientista trabalha “para obter 
fatos científicos”, assim como nenhum agricultor planta na primavera “para colher no outono” 
(Skinner, 1968c, pp. 155-156). A questão não é simplesmente evitar explicações teleológicas do 
comportamento, mas sim lembrar que os comportamentos que, por fim, produzem 
reforçadores finais temporalmente remotos – como “colheitas” e “fatos científicos” – são 
 30
sobre o ambiente físico e social. Fatos científicos sobre o comportamento 
de cientistas e filósofos revelam as variáveis das quais o comportamento 
de cientistas e filósofos é função. Uma vez de posse de tais fatos – ou de 
tais regras para a ação efetiva – é possível, em princípio, manipular essas 
variáveis, direcionando a atividade científica e filosófica para modos de 
proceder cada vez mais efetivos.18 
Assim, enquanto conseqüências da atividade científica, fatos 
científicos podem modificar o comportamento de cientistas de duas 
formas: 1) como estímulos reforçadores nas contingências de reforço 
atuantes nas comunidades científicas; 2) como regras para a ação efetiva 
em relação ao comportamento de cientistas e filósofosda ciência. Dessa 
forma, ao modelar e/ou governar o comportamento de cientistas e 
filósofos, tais fatos geram modificações metodológicas, epistemológicas e 
ontológicas na atividade científica e filosófica. A partir daí, toda sorte de 
comércio pode ocorrer entre essas disciplinas, como havíamos sublinhado 
anteriormente: podem influenciar-se (ou não) mutuamente, nos mais 
diversos graus e extensões. Com isso, adicionamos um último elemento à 
nossa metáfora: no âmbito de uma ciência do comportamento, o 
 
sustentados por conseqüências intermediárias mais sutis. É essa cadeia de contingências que 
liga os comportamentos científicos a seus resultados finais, justificando a presente analogia. 
 
18 Esse é um bom exemplo de como “uma ciência do comportamento (...) volta-se para dentro 
de si mesma” (Zuriff, 1980, p. 337). No presente caso, o processo pode ser chamado 
 31
comportamento dos cientistas não é controlado apenas pelas 
conseqüências imediatas da situação experimental, mas também por 
conseqüências mais remotas, às quais denominamos “fatos”, “leis”, 
“teorias”, etc., estas podendo funcionar tanto como reforçadores quanto 
como regras.19 
É preciso, a bem da verdade, deixar claro que a análise do 
comportamento de cientistas e filósofos ainda é um procedimento 
interpretativo, possibilitado pelas regularidades comportamentais 
observadas pela análise experimental do comportamento. A noção de 
modificação do comportamento por suas conseqüências oferece uma 
chave interpretativa de amplo espectro, aplicável a virtualmente todas as 
atividades humanas. Porém, o próprio Skinner (1956/1972j, p. 102) 
admite que sabemos pouco sobre o comportamento do cientista. Talvez 
ainda não seja possível, portanto, substituir as disciplinas que 
tradicionalmente retratam a atividade científica por uma análise científica 
desta própria atividade. Não obstante, Skinner (pp. 122-124) sugere que 
sejam abandonadas, desde já, as tentativas habituais de descrição da 
 
“autocontrole”, embora Skinner (1953/1965) tenha utilizado o termo com referência apenas a 
indivíduos (cap. 15). 
19 É óbvio, repita-se, que conseqüências de outros tipos fazem parte desse controle. 
Analisamos aqui apenas as conseqüências mais óbvias – presumivelmente, comuns à maioria 
dos empreendimentos científicos. 
 
 32
atividade científica, substituindo-as pela análise do comportamento dos 
cientistas – mesmo que esta análise seja, ainda, de cunho interpretativo. 
Temos, agora, uma metáfora que se assemelha ao processo que 
busca descrever: menos ordenada e mais caótica, menos regular e mais 
variável, menos planejada e mais acidental. Emerge dessa metáfora um 
retrato da ciência muito diferente daquele que tínhamos de início. Temos 
que lidar, agora, com um quadro instável e irregular. A elegância e a 
simplicidade cedem lugar a uma imagem de formas complexas, na qual há 
espaço para o erro, a sutileza e a mudança. Completamos, desta forma, a 
primeira tarefa que havíamos proposto durante nossa discussão: 
construímos uma metáfora que descreve as relações entre método e 
metafísica, buscando manter alguma fidelidade aos processos 
comportamentais que controlam essas atividades. Como qualquer 
metáfora, também essa é imperfeita e incompleta, pois a riqueza do 
comportamento humano escapa a qualquer tentativa de especificação 
verbal.20 É óbvio que, uma vez reconhecidos tais limites, algo pode e deve 
ser feito, por imperfeito que seja. No entanto, é impossível esgotar 
qualquer assunto com palavras. 
 
20 Paradoxalmente, uma metáfora perfeita – se exeqüível – não mais seria uma metáfora, mas 
uma descrição completa. Essa descrição completa – ou absolutamente “verdadeira” – é, 
obviamente, uma impossibilidade. Descrições são exemplos de comportamento verbal, e, 
enquanto tais, são funções das variáveis que as controlam. Provém daí não só suas 
possibilidades, mas também suas limitações (Skinner, 1974, p. 136). 
 
 33
Havia-nos restado uma segunda tarefa. Vimos que um projeto 
científico fundamenta-se sempre em uma metafísica. Também vimos que 
o projeto científico skinneriano começa a demarcar sua originalidade em 
relação ao projeto científico watsoniano a partir de seu método. Além 
disso, vimos ainda que esse método original acaba por fomentar uma 
metafísica também original – pois que esta metafísica apresenta certa 
autonomia em relação à filosofia (Abib, 1993b, p. 484). Seria lícita essa 
pretensão de constituir um projeto científico independente da filosofia? 
Pode um projeto científico gerar seus próprios fundamentos metafísicos? 
Até que ponto esses fundamentos deixam de ser filosóficos apenas 
porque surgem do discurso científico? Como é possível à ciência do 
comportamento operante lidar com o paradoxo de ter sua própria 
cientificidade questionada por outras áreas do saber, dentro e fora da 
psicologia (Abib, 1993b), e ao mesmo tempo lançar um discurso sobre a 
natureza do conhecimento científico? Repitamos, ainda, mais duas 
perguntas que já havíamos formulado: como Skinner pode afirmar que a 
análise experimental do comportamento é o método apropriado para o 
estudo do comportamento científico – ou mesmo para o estudo de 
qualquer tipo de comportamento? É possível fazer tal afirmação sem 
recorrer a uma metafísica derivada da reflexão filosófica? Nossa discussão 
até o momento deve ter esclarecido alguns dos aspectos relacionados a 
 34
tais questões. Porém, para responder a essas perguntas, precisamos 
discorrer com mais detalhe sobre o método skinneriano. 
 
1.1.1. O método skinneriano: a análise experimental do comportamento 
Um método é um modo de proceder (Ferreira, 1986, p. 1128). 
Um método científico é um modo de proceder na obtenção de certos 
objetivos, específicos a cada ciência. Enquanto modo de proceder, o 
método é comportamento, podendo ser: 1) governado por regras de uma 
comunidade científica e/ou 2) modelado por contingências de reforço 
próprias à atividade científica. Por muito tempo, porém, o método 
científico foi, majoritariamente, modelado por contingências. A 
metodologia científica, enquanto disciplina, surgiu muito recentemente na 
história da ciência, e várias descobertas científicas ocorreram sem o apoio 
de regras metodológicas específicas (Skinner, 1956/1972j, p. 101). 
Enquanto disciplina, a metodologia científica é descritiva e 
prescritiva: descreve o comportamento dos cientistas – isto é, observa suas 
características regulares e deriva regras desta observação – e prescreve o 
comportamento a ser seguido pelos cientistas – isto é, reforça a 
obediência às regras que apresenta à comunidade científica. Enquanto 
disciplina, portanto, a metodologia científica lida, essencialmente, com 
regras derivadas da descrição do comportamento dos cientistas. Como 
 35
vimos, porém, o alcance das regras é limitado. Regras jamais descrevem, 
de modo completo e acurado, os comportamentos dos quais são 
derivadas. São uma simplificação útil, mas imperfeita, das contingências. 
E mais: conferem à metodologia científica, enquanto disciplina, uma 
aparência de ordem, planejamento e previsão absolutos – características 
freqüentemente ausentes do trabalho experimental (Skinner, 1956/1972j). 
Ao método desenvolvido por Skinner denomina-se análise 
experimental do comportamento. Dentro do behaviorismo e da psicologia, seu 
surgimento representou um modo original de proceder no estudo do 
comportamento

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