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A entrevista de anamnese é a coleta de informações aprofundadas sobre o avaliando, com foco principal em aspectos históricos do sujeito, em aspectos desenvolvimentais e nos motivos que levam a criança ou adolescente ao tratamento; sendo essa etapa fundamental para o planejamento do tratamento que se inicia a partir da aceitação da psicoterapia (SILVA; BANDEIRA, 2016 apud TISSER, 2018 p.23). Antes de mais nada, uma das primeiras coisas que devem ser questionadas, é a respeito de quem procurou a psicoterapia. É raro que uma criança seja trazida à consulta por vontade própria, na maioria das vezes, a criança vem para tratamento como uma espécie de “imposição” dos pais, em virtude de um problema identificado por eles, ou através de uma recomendação da escola, do pediatra, por reforços legais, entre outros (CASTRO; STÜRMER, 2009). Precisamos compreender que nesse momento inicial, muitas ansiedades e medos dos pais são colocados em cheque, visto que, o estigma associado a psicoterapia é muito enraizado, principalmente na psicoterapia infantil, onde socialmente pode parecer que os pais de certa forma “falharam” no seu trabalho. Diante dessa questão, cabe os seguintes questionamentos: Por que a procura de atendimento nesse momento em específico? há algum episódio em especial que Motivou a busca por ajuda? De quem é a demanda? Do pai? Da mãe? De que modo o funcionamento dessa criança está prejudicado?...Diante dessas questões, poderemos começar a compreender a dinâmica da criança e dessa família (CASTRO; STÜRMER, 2009). De acordo com Castro e Sturmer (2009), a entrevista inicial, é o período no qual se faz necessário compreender dados globais do paciente, os quais incluem elementos do funcionamento e organização da família em termos de hábitos, rotinas, valores, assim como elementos da criança, como a fase de desenvolvimento em que se encontra, quais as queixas... dentre outros aspectos próprios da criança, que vão sendo delimitados a partir da demanda. recomendando-se que ela seja realizada nos primeiros encontros com os pais ou responsáveis, pois é nesse primeiro contato que as primeiras hipóteses, levantadas no momento do encaminhamento, são confirmadas ou refutadas, e o psicoterapeuta pode começar a formular as suas próprias hipóteses sobre (SERAFINI, 2016 apud TISSER, 2018). é o levantamento detalhado da história da criança, assim, busca estabelecer relações entre a sua história de vida e a queixa ou motivo de busca apresentado (TISSER, 2018). A construção do vínculo logo nessa etapa inicial, é de suma importância para que o processo possa se desenvolver, uma vez que, é fundamental estabelecer uma relação colaborativa, empática e de confiança entre o psicoterapeuta e os pais, para que os temas de interesse que vão emergir durante o processo, possam ser trabalhados (TISSER, 2018). Nesse sentido, precisamos ter em mente, que essa etapa não pode ser apenas considerada uma coleta de dados da história e do contexto da criança, pois não trata-se de um interrogatório com esses pais, mas de um levantamento empático de dados (CASTRO; STÜRMER, 2009). De acordo com Tisser (2018), enquanto técnica, pode ser realizada de forma cronológica, para uma compreensão global da vida do paciente, levando em consideração o objetivo da anamnese, o motivo da busca de atendimento e a demanda em questão. Para que a anamnese seja realizada de forma eficaz, é crucial considerar: fatores contextuais, como os ambientes de cuidado em casa, na escola, influências dos cuidadores, estrutura familiar, fatores socioculturais; Os fatores desenvolvimentais como: linguagem, cognição entre outros; além de adequar a anamnese ao objetivo da demanda e utilizar os instrumentos adequados (TISSER, 2018). A entrevista inicial, normalmente é realizada com os pais, isso quer dizer, que vamos conhecer essa criança inicialmente pela “lente” dos pais. Já nos primeiros contatos, é possível verificar inúmeras razões pelas quais uma criança é levada para atendimento, razões que muitas vezes são demandas dos pais, da escola, dos avós e não da própria criança (CASTRO; STÜRMER, 2009). A forma como os pais costumam descrever as crianças e a demanda, é apenas uma das formas de enxergar essa situação. Muitas vezes, a forma como os responsáveis percebem o sofrimento daquela criança, pode ser um bom indicador para a anamnese, em muitos casos, relatam os comportamentos como: birra, malcriação, manha... Inicialmente, deverá comparecer à primeira consulta: via de regra, apenas os pais ou responsáveis, sem a criança. Mesmo nesse contato inicial sem a criança, é importante saber a idade dela, observar qual dos responsáveis procurou a psicoterapia, qual se posiciona mais, observar o tom de voz, aspectos não verbais, entre outros (TISSER, 2018). É Importante ter conhecimentos sobre o desenvolvimento infantil normal e patológico, estando apto a diferenciar questões comuns ao desenvolvimento normal (muitas vezes desfazemos diagnósticos), sintomas decorrentes de fatores orgânicos daqueles de origem emocional, entre outros (CASTRO; STÜRMER, 2009). A anamnese não é um interrogatório. É quase impossível que todas essas perguntas sejam respondidas em apenas uma sessão inicial com os pais. Algumas dessas questões serão respondidas e construídas aos poucos de acordo com o “desenrolar” do caso . é uma das informações mais cruciais na psicoterapia infantil, visto que, a mesma pode dizer muito a respeito do paciente que nos procura (TISSER, 2018). Rapport é uma palavra de origem francesa, que significa “criar uma relação”, e é utilizada para designar a técnica de criar uma ligação de empatia com outra pessoa. Assim, na hora de iniciar a anamnese, a construção do vínculo com os pais é iniciada; de acordo com Serafini (2016 apud TISSER, 2018 p.27), o psicólogo pode: apresentar-se, explicar brevemente o objetivo da consulta, buscar tranquilizar e reduzir a ansiedade inerente aos primeiros contatos.... Além disso, podemos iniciar a entrevista com o questionamento a respeito do motivo da busca e buscar compreender, como eles percebem as queixas relativas a seu filho etc... (TISSER, 2018). Isto é, a investigação da história pré e perinatal e a compreensão dos aspectos desenvolvimentais infantis que são centrais para a compreensão do caso (TISSER, 2018). Ou seja, uma boa anamnese, deve incluir aspectos como: dados da gestação, parto, os primeiros anos de vida da criança, informações acerca do período de amamentação e desmame, alimentação, qualidade do sono etc... Essa criança, não vive isolada, ela faz parte de todo um sistema exterior a ela, e que podem exercer influências significativas sobre ela. Conhecer um pouco das relações familiares, os eventos de vida significativos, como mortes, separações, mudanças de casa, de escola, institucionalização; vivência de situações traumáticas como violência, acidentes, testemunho de violência doméstica, maus-tratos (abuso sexual, abuso emocional, abuso físico e negligência); atividades realizadas em família entre outras questões (PETERSEN, 2011 apud TISSER, 2018). A história dos pais também é levada em conta, visto que, eles são o primeiro “grupo” que a criança mantém contato (TISSER, 2018). Levamos em conta: o contexto em que a criança foi concebida, como era a relação dos pais, como a notícia da gestação foi recebida, a forma como a família lidou com a chegada da criança, os aspectos físicos e emocionais da mãe durante a gestação, medicações, situações estressoras... (TISSER, 2018). Quando a criança não apresenta capacidades esperadas para a sua faixa etária, é preciso que seja investigado, se isso ocorre por dificuldades desenvolvimentais da própria criança ou se está maisrelacionado a questões ambientais, como superproteção dos pais, por exemplo (TISSER, 2018, p.28). De acordo com Tisser (2018), outro aspecto fundamental é compreender: como se relaciona com irmãos, quais brincadeiras escolhe, se costuma brigar, se prefere brincar com crianças mais novas ou crianças mais velhas, se tem dificuldade para fazer amigos, se prefere brincar sozinha, quem são os amigos da criança e como ela lida com eles etc... Compreender a rotina da criança, também pode ser crucial, pois algo da demanda, pode ser compreendido através desses dados, assim, é possível compreender: quem são os cuidadores, quem a leva e busca na escola, que horários realiza atividades escolares, que horário e com quem dorme, se é uma criança supervisionada ou se é deixada sozinha inadequadamente etc... (TISSER, 2018). TISSER, Luciana. Transtornos psicopatológicos na infância e na adolescência. Novo Hamburgo: Sinopsys, 2018. CASTRO, Maria da Graça Kern; STÜRMER, Anie. Crianças e adolescentes em psicoterapia: a abordagem psicanalítica. Artmed Editora, 2009.
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