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Daniela Santos Rocha TAQUICARDIA PAROXÍSTICA SUPRAVENTRICULAR INTRODUÇÃO_______________________________________ São taquiarritmias originadas em estruturas localizadas acima da bifurcação do feixe de His (originadas nos átrios ou que dependem dele para que ocorram). Excluindo-se a fibrilação atrial (FA), a taquicardia por reentrada nodal (TRN) é a mais comum (56%), seguida da taquicardia por reentrada atrioventricular (TAV) e da taquicardia atrial (TA). • 90% delas apresentam QRS estreito, enquanto 10% ocorrem com aberrância de condução, ou seja, QRS largo. E com exceção da fibrilação atrial e da taquicardia atrial multifocal, são taquicardias regulares. As manifestações são variáveis, desde casos assintomáticos, aqueles que referem palpitação ou até mais graves, como dispneia, dor torácica, tonturas e síncope. Na sala de emergência e importante diferenciar de taquiarritmia supraventricular com aberrância de condução de taquicardia ventricular por causa de sua implicação prognostica. Automatismo é a propriedade de despolarização espontânea que algumas células cardíacas apresentam. Reentrada é o retorno do estímulo quando há duas vias de condução de velocidades diferentes. ETIOLOGIAS________________________________________ QRS estreito e ritmo irregular 1. Fibrilação atrial A fibrilação atrial (FA) é a arritmia mais comum da prática clínica e caracteriza-se ao eletrocardiograma pela ausência de ondas P e intervalo irregular entre os complexos QRS. Pode levar à redução significativa do status funcional e da qualidade de vida dos pacientes acometidos. O risco de desenvolvimento de FA aumenta com a idade e com a presença de doença cardíaca estrutural. Geralmente está associada a uma doença cardíaca de base em que haja aumento do átrio esquerdo, aumento da pressão intra-atrial ou inflamação atrial. (HAS e DAC-pós-infarto agudo do miocárdio ou miocardiopatia isquêmica) ECG: Caracteriza-se por ausência de onda P e irregularidade entre os complexos QRS. Porém outros aspectos a serem avaliados ao ECG são: critérios para sobrecarga ventricular esquerda, áreas inativas sugestivas de IAM prévio e miocardiopatia isquêmica, pré-excitação, bloqueios de ramo (doença do sistema de condução) e intervalo QT (risco potencial para terapia antiarrítmica). Relembrando... 12 PASSOS PARA INTERPRETAÇÃO DO ECG 1-Identificação do paciente 2-Onda P: ritmo 3-Onda P: frequência 4-Onda P: sobrecarga atriais 5-Onda P: Intervalo PR 6-QRS: Orientação 7-QRS: Duração 8-QRS: Sobrecarga ventricular 9-QRS: Áreas inativas 10-Onda T: segmento ST 11-Onda T: morfologia da onda T 12-Miscelânia- intervalo QT; onda U Daniela Santos Rocha 2. Flutter atrial Taquicardia que ocorre independentemente do nó atrioventricular, envolvendo o tecido de condução atrial, principalmente do átrio direito e com mecanismo de macrorreentrada. O flutter atrial pode evoluir para fibrilação atrial. ECG: o flutter se expressa por ondas serrilhadas, sem linha de base entre as ondas atriais, chamadas de ondas f. No flutter típico as ondas f são negativas na parede inferior Manobra vagal ou adenosina: aumentam o grau de bloqueio atrioventricular e revela as ondas f. 3. Taquicardia atrial multifocal Originada no miocárdio atrial. ECG: observa-se uma taquicardia com QRS estreito; o intervalo RR é irregular e a frequência ventricular é > 100 bpm. As ondas P também são separadas por uma linha isoelétrica. O que caracteriza fortemente esta arritmia é a presença de ondas P organizadas com pelo menos 3 morfologias diferentes na mesma derivação do eletrocardiograma Ocorre principalmente em idosos e portadores de doença pulmonar. Manobra vagal ou adenosina: lentificação da taquicardia (atenção para contraindicações em pneumopatas). QRS estreito e ritmo regular 1. Taquicardia por reentrada nodal Taquicardia resultante da reentrada do estímulo no nó atrioventricular e estrutura perinodal. no nó atrioventricular existem duas vias de condução distintas: uma via de condução rápida (beta) e uma via de condução lenta (alfa). Após um deflagrador (extrassístole atrial, p. ex.), o estímulo encontra a via rápida em período refratário e desce pela via lenta. Em seguida é capaz de subir pela via rápida que já recuperou sua capacidade de condução. Dessa forma o estímulo passa a reentrar sucessivamente gerando a taquicardia. Início e término súbitos. Frequência cardíaca entre 150 e 250 bpm. O ritmo é regular. Tipo mais comum de TPSV. Ocorre geralmente em paciente com coração estruturalmente normal e se inicia na terceira ou quarta década de vida. ECG: RP’ curto, de maneira que a onda P está concomitante ou logo após o complexo QRS, resultando em alteração sutil do mesmo comparado ao eletrocardiograma de base (pseudo S em D2 ou pseudo r’ em V1) Manobra vagal ou adenosina: reversão da taquicardia 2. Taquicardia por reentrada atrioventricular Taquicardia por reentrada que depende do nó atrioventricular e de via acessória que conecta o tecido atrial e ventricular. ECG: a via acessória, por não ter a característica decremental do nó atrioventricular, pode gerar um intervalo PR curto e uma ativação inicial lenta do ventrículo, traduzida como a onda delta no complexo Daniela Santos Rocha QRS. A essas características do eletrocardiograma é dado o nome de pré-excitação ventricular. A síndrome de Wolff-Parkinson-White é definida pela presença da via acessória, associada à taquicardia por reentrada. Manobra vagal ou adenosina: reversão da arritmia. 3. Taquicardia juncional Rritmo regular, com QRS estreito, na ausência de onda P. ECG: observa-se uma taquicardia com QRS estreito, intervalo RR regular e presença de ondas P dissociadas ou após o complexo QRS. (PR> 70ms (TRN < 70ms) Características: situação rara, mais comum em crianças. Também pode ser vista após isquemia miocárdica, cirurgias cardíacas, processos inflamatórios cardíacos ou intoxicação digitálica. Manobra vagal ou adenosina: nenhum efeito ou lentificação da taquicardia. 4. Taquicardia atrial Originada no miocárdio atrial e a onda P tem características morfológicas diferentes da onda P sinusal. Taquicardia atrial pode ocorrer em pessoas com coração estruturalmente normal ou em pessoas com doenças cardíacas estruturais, tais como cardiopatias congênitas ou doenças valvares. A taquicardia atrial é definida como uma TSV que não requer a participação da junção atrioventricular, vias acessórias ou tecido ventricular para o início e manutenção da taquicardia. Mecanismo: diversos mecanismos, sendo os mais comuns a reentrada e o automatismo. Não há envolvimento do nó atrioventricular. RP’ geralmente longo. ECG: Taquicardia com QRS estreito, frequência ventricular entre 100 a 250 bpm, com intervalo RR geralmente regular, mas podendo tornar-se irregular na presença de bloqueio atrioventricular variável. O ritmo atrial geralmente é regular. As ondas P são separadas por uma linha isoelétrica (diferentemente do flutter atrial quando existe uma ondulação da linha de base), com morfologias distintas do ritmo sinusal. Para distinguir o foco da arritmia (se átrio direito ou átrio esquerdo), basta analisar a morfologia da onda P nas derivações avL e V1. Uma onda P bifásica ou positiva em avL tem sensibilidade = 88% e especificidade = 79% para átrio direito. Já uma onda P positiva em V1 tem sensibilidade = 93% e especificidade = 88% para predizer átrio esquerdo Manobra vagal ou adenosina: nas automáticas pode haver lentificação da taquicardia. Já nas por reentrada pode haver lentificação ou aumento do grau de bloqueio atrioventricular. 5. Outras taquicardias Taquicardia por reentrada nodal incomum: taquicardia com condução retrógradalenta, onda P retrógrada usualmente após o final da onda T e difícil diagnóstico diferencial com taquicardia atrial. Taquicardia de Coumel: taquicardia atrioventricular com condução retrógrada decremental e via acessória situada na região septal posterior. A onda P retrógrada é negativa e profunda na parede inferior. Característica incessante e por isso pode ocasionar taquicardiomiopatia. Daniela Santos Rocha QRS largo Caracterizadas por FC superior a 100 bpm e duração do QRS maior que 120 ms. Suas causas podem ser taquicardias supraventriculares com bloqueio de ramo funcional ou preexistente, ou pré-excitadas, taquicardia mediada por marca-passo, distúrbios eletrolíticos ou taquicardia ventricular (TV). A TV é responsável por mais de 80% das taquicardias de QRS largo atendidas em emergência. SINAIS E SINTOMAS___________________________ ✓ FC uniforme e rápida (160 a 220 batimentos por minuto) começa e termina subitamente • Percepção incômoda dos batimentos cardíacos (palpitações), falta de ar e dor torácica. • Ansiedade ✓ TRN • Sinal de frog +. • Sexo feminino, quarta década de vida. • Raramente leva à instabilidade hemodinâmica e síncope. ✓ Na TAV • Dor precordial durante a taquiarritmia. • Pacientes jovens. ✓ TA é • Idosos, com doença pulmonar ou doença cardíaca estrutural. DIAGNOSTICO______________________________________ Eletrocardiograma (ECG) + História clinica 1- Onda P (é sinusal? / é seguida de QRS?) 2-Frequencia cardíaca (>150bpm) 3-QRS estreito (<120ms) ou largo (>120ms) 4-Intervalo R-R regular ou irregular Daniela Santos Rocha TRATAMENTO_____________________________________ O manejo das TSV no pronto-socorro tem o objetivo de abortar a crise ou controlar a frequência ventricular e prevenir agravamento do quadro e instabilidade hemodinâmica. Nos pacientes instáveis, independente da etiologia, deve-se realizar a cardioversão elétrica sincronizada sob sedação. Consideram-se critérios de instabilidade a presença de • Hipotensão arterial • Síncope • Dispneia • Dor torácica • Diminuição do nível de consciência. Em pacientes estáveis, deve-se monitorizar o paciente e realizar eletrocardiograma de 12 derivações. O eletrocardiograma com uma derivação longa (usualmente D2) pode auxiliar no diagnóstico etiológico da taquicardia. 1. Tratamento não medicamentoso • Compressão do seio carotídeo*: compressão por 5 a 10 segundos do seio carotídeo. Contraindicada a pacientes com infarto agudo do miocárdio (IAM), acidente vascular cerebral isquêmico (AVCI) ou acidente isquêmico transitório (AIT) nos últimos três meses ou pacientes com sopro carotídeo. Sempre realizar sob monitorização e com paciente deitado. Somente pode ser realizada pelo médico. • Manobra de Valsalva: solicitar ao paciente que encha o peito de ar e sopre contra o braço sem deixar escapar o ar. • Indução do vômito. • Beber um copo de água gelada rapidamente. * O reflexo aumenta o débito parassimpático no coração pelo nervo vago (NC X), por meio da transmissão aferente do nervo glossofaríngeo (NC IX) ao núcleo do trato solitário na medula. Os núcleos vagais da medula enviam resposta parassimpática eferente pelo nervo vago direito, que estimula o nó sinoatrial, e esquerdo, que inerva o nó atrioventricular. Desse modo, há redução da frequência cardíaca, podendo retardar ou mesmo interromper taquiarritmia. As manobras vagais ou o bloqueio farmacológico do nó AV podem ajudar a distinguir entre as taquicardias. Com tais manobras, a taquicardia sinusal não é interrompida, mas diminui a frequência ou provoca BAV, revelando as ondas P normais. Da mesma forma, o flutter atrial e a taquicardia atrial verdadeira geralmente não são interrompidos, mas o BAV revela as ondas do flutter ou as ondas P anormais. As formas mais comuns de TSV paroxísticas (taquicardia recíproca ortodrômica e por reentrada nodal AV) podem ser interrompidas, se ocorrer o BAV. 2. Tratamento medicamentoso Adenosina Dose inicial de 6 mg, endovenosa (EV), em bolus, seguida por flush de 20 mL de água destilada. Podem ser repetidas mais duas doses de 12 mg cada uma (dose máxima: 30 mg). Raramente reverte TA e flutter, porem pode lentifica- los e tornar o diagnóstico mais fácil. Contraindicações: bloqueio atrioventricular (BAV) de segundo ou terceiro grau, histórico de broncoespasmo. Verapamil Dose inicial 5 mg, EV, em 15 minutos. Pode-se repetir até a dose máxima de 30 mg. Contraindicações: BAV de segundo ou terceiro grau, hipotensão, bradicardia, bloqueio sinoatrial, FA complicando Wolf-Parkinson-White, insuficiência cardíaca e insuficiência ventricular esquerda. Diltiazem Dose inicial de 15 a 20 mg, EV, em 2 minutos. Pode-se repetir 20 a 25 mg após 15 minutos da primeira dose. Contraindicações: BAV de segundo ou terceiro grau, hipotensão, bradicardia, bloqueio sinoatrial, FA complicando Wolf-Parkinson-White, insuficiência cardíaca e insuficiência ventricular esquerda. Metoprolol Dose inicial 5 mg, EV, lento (2 a 5 minutos). Podem ser repetidas mais duas doses de 5 mg cada uma (dose máxima: 15 mg). Contraindicações: BAV de segundo ou terceiro grau, hipotensão, bradicardia, bloqueio sinoatrial, FA complicando Wolf-Parkinson-White, insuficiência cardíaca, insuficiência ventricular esquerda, asma e doença pulmonar obstrutiva crônica. Amiodarona Dose de ataque de 150 a 300 mg, EV, podendo-se repetir mais 150 mg após 15 minutos. Dose de manutenção de 1 mg/min por 6 horas, seguida de 0,5 mg/min por 18 horas. Dose máxima de 2,2 g em 24 horas. Daniela Santos Rocha Geralmente pouco usada na TRN e TAV, mais usada em TA e em paciente com disfunção ventricular. Contraindicações: as mesmas citadas para o metoprolol (quadro acima). 3. Tratamento de manutenção TRN Betabloqueadores Propranolol 80 a 240 mg/dia; ou Atenolol 25 a 100 mg/dia; ou Metoprolol 25 a 200 mg/dia. Contraindicações: as mesmas citadas para o metoprolol (acima) Bloqueadores do canal de cálcio Verapamil 360 a 480 mg/dia; ou Diltiazem 120 a 360 mg/dia. Contraindicações: as mesmas citadas para o diltiazem Outros Somente em caso de refratariedade. Propafenona 300 a 900 mg/dia (contraindicada a pacientes com doença cardíaca estrutural); ou Sotalol 160 a 320 mg/dia (cuidado com prolongamento do intervalo QT – solicitar ECG uma semana após início da droga); ou Amiodarona 200 a 600 mg/dia. Considerar ablação em pacientes com taquicardia refrataria ao tratamento. TAV Não se deve usar medicações que bloqueiem o no atrioventricular (AV) por facilitar a condução pela via anômala, principalmente com pre-excitacao manifesta no ECG de base. Propafenona 300 a 900 mg/dia (contraindicada a pacientes com doença cardíaca estrutural); ou Sotalol 160 a 320 mg/dia (cuidado com prolongamento do intervalo QT – solicitar ECG uma semana após início da droga). Considerar ablação em pacientes que ja tenham apresentado taquicardia documentada e pacientes com profissão de risco (piloto de avião, motorista). TA Tratar sempre a doença de base. Para os demais casos: bloqueadores de cálcio, betabloqueadores ou até ablação com radiofrequência. Betabloqueadores Propranolol 80 a 240 mg/dia; ou Atenolol 25 a 100 mg/dia; ou Metoprolol 25 a 200 mg/dia. Contraindicações: BAV de segundo ou terceiro grau, hipotensão, bradicardia, bloqueio sinoatrial, insuficiência cardíaca, insuficiência ventricular esquerda, asma e doença pulmonar obstrutiva crônica. Bloqueadores do canal de cálcio Verapamil 360 a 480 mg/dia; ou Diltiazem 120 a 360 mg/dia. BAV de segundo ou terceiro grau, hipotensão, bradicardia, bloqueio sinoatrial, insuficiência cardíaca e insuficiência ventricular esquerda. Outros Somente em caso de refratariedade. Propafenona300 a 900 mg/dia (contraindicada a pacientes com doença cardíaca estrutural); ou Sotalol 160 a 320 mg/dia (cuidado com prolongamento do intervalo QT – solicitar ECG uma semana após início da droga); ou Amiodarona 200 a 600 mg/dia. Considerar ablação nos casos refratários ou por decisão do paciente. Resultados menos bem-sucedidos que na TRN e TAV.
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