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MICROBIOLOGIA CLÍNICA Miriãn Ferrão Maciel Fiuza Controle de qualidade em microbiologia clínica Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Explicar as principais etapas do controle de qualidade em microbio- logia clínica. � Identificar as normas e regulamentações em microbiologia clínica e órgãos fiscalizadores. � Reconhecer os processos de acreditação dos laboratórios de micro- biologia clínica. Introdução Um laboratório de microbiologia pode atuar com um grande escopo de trabalho, contendo diversas atividades como ensaios para detecção, isolamento e identificação de microrganismos. Diante de tais atividades, cabe ao gestor do laboratório garantir a efetiva qualidade dos processos analíticos, além de obter conformidade legal junto aos órgãos reguladores, habilitando seu funcionamento. Neste capítulo, você vai estudar as principais etapas do controle de qualidade em microbiologia. Vai ver quais são as normas e regulamen- tações e conhecer os órgãos fiscalizadores. Além disso, vai ler sobre os processos de acreditação dos laboratórios de microbiologia clínica. 1 Etapas do controle de qualidade em microbiologia clínica No laboratório de microbiologia clínica, várias etapas, conhecidas como fases pré-analítica, analítica e pós-analítica, são necessárias até a identificação de um microrganismo patogênico, como você pode ver no Quadro 1. Dentro de cada etapa, diversos fatores podem interferir ou contribuir para o correto diagnóstico do paciente, sendo de responsabilidade dos profissionais atuantes a capacidade de distinguir um crescimento significativo da presença de um contaminante. Dessa forma, um efetivo programa de controle de qualidade laboratorial é de extrema importância para reduzir ou eliminar procedimentos inadequados que possam confundir e interferir na adequada rotina diagnóstica. O laboratório clínico deve ser capaz de garantir a confiabilidade dos re- sultados liberados por meio do controle de qualidade, utilizando controles internos e externos de qualidade, que devem ser executados e analisados de forma padronizada e frequente por todo o quadro de colaboradores. O controle da qualidade representa o conjunto de ações planejadas e sistemáticas com o propósito de preencher determinados requisitos de qualidade. A garantia da qualidade dos resultados de um laboratório de microbiologia pode ser verificada de duas formas: por meio de controle interno e de controle externo, também chamado de ensaio de proficiência (AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA [ANVISA], 2005; FIGUEIRA, 2016). O controle interno de qualidade é definido como os diversos processos conduzidos em conjunto com a análise de amostras de pacientes para verificar se o sistema analítico está funcionando dentro de limites pré-definidos. Dessa forma, ele envolve todas as estratégias adotadas por um laboratório para avaliar o seu trabalho de forma contínua, monitorando frequentemente a sua reprodutibilidade analítica e garantindo a coerência dos resultados diários e sua concordância com critérios definidos (ANVISA, 2005; EURACHEM, 2005). Controle de qualidade em microbiologia clínica2 Fonte: Adaptado de Machado e Kohler (2018). Etapa Atividades Tipos de erros Porcentagem de erros (%) Pré- -analítica � Indicação do exame. � Redação do pedido. � Preparo do paciente. � Coleta. � Acondiciona- mento. � Transporte. � Preparo da amostra. � Requisição incorreta. � Identificação errada do paciente. � Preparo inadequado do paciente. � Volume insuficiente na coleta. � Utilização de tubo inadequado. � Transporte inadequado. 68,2 Analítica � Análise. � Falha no equipamento. � Perda da amostra. � Contaminação entre amostras. 13,3 Pós- -analítica � Emissão do laudo. � Perda do resultado. � Interpretação incorreta. � Erro na transcrição do resultado. � Tempo de liberação acima do especificado. 18,5 Quadro 1. Fases do processo analítico 3Controle de qualidade em microbiologia clínica Os componentes desse sistema devem ser registrados, estando à disposição para a utilização de cada membro da equipe. Os laboratórios devem deter- minar seus sistemas, compromissos e objetivos conforme as boas práticas de laboratório e da qualidade nas análises clínicas. Os resultados das análises do controle interno devem ser lançados em um gráfico de controle que con- tenha limites de controle (LC), obtidos a partir da média e desvio-padrão. Quando os valores estão dentro do LC, o método analítico está funcionando adequadamente. Já quando os resultados estão fora de LC, significa que há possibilidade de falhas na análise. O estabelecimento e conferência desses limites melhora a qualidade e permite que a equipe possa classificar as causas de variações dos dados, contribuindo com a investigação da origem do erro (MACHADO; KOHLER, 2018; MOTTA, 2003). Para garantir a continuidade do processo, é indispensável a implantação de um programa de verificações periódicas que demonstre que a variabilidade está sob controle. Todos os testes que estão incluídos nos exames oferecidos pelo laboratório precisam ser avaliados. O programa pode incluir a utilização de amostras artificialmente contaminadas, uso de materiais de referência, replicatas de ensaios e replicatas das avaliações dos resultados de ensaio (ANVISA, 2005; MOTTA, 2003). Os laboratórios podem adquirir, por meio de compra, controles de empresas referência em controle de qualidade laboratorial. No Brasil, os dois principais fornecedores desses controles são o Programa Nacional de Controle de Quali- dade e a Controllab. Geralmente, as amostras adquiridas são bactérias validadas pelo programa da empresa ou soro humano liofilizado. Tais programas dispo- nibilizam uma tabela de valores médios dos controles, obtidos por consenso dos resultados de laboratórios participantes. Esses valores são apresentados por metodologia ou equipamento. De acordo com sua variabilidade analítica, o laboratório participante tem como dever a confirmação dos valores médios, a preparação dos gráficos de Levey-Jennings (Figura 1), a avaliação diária do seu funcionamento e a devida aplicação de ações corretivas nas não confor- midades. Além disso, é necessário que o laboratório participante estabeleça suas médias específicas, conforme a variabilidade analítica existente em seu laboratório (MOTTA, 2003; PROGRAMA NACIONAL DE CONTROLE DE QUALIDADE [PNCQ], 2016/2017). Controle de qualidade em microbiologia clínica4 Figura 1. Gráfico de Levey-Jennings. Fonte: Costa ([201-], documento on-line). O gráfico de Levey-Jennings é um gráfico de controle em que os resultados da corrida analítica são plotados em função do tempo ou número de corridas. Ele é um importante aliado do profissional de laboratório no controle interno da qualidade, evidenciando o estado do sistema analítico e ajudando a garantir a confiabilidade dos resultados entregues. Durante o controle interno da qualidade algumas situações de erros podem ocorrer. A análise do gráfico contribui para a compreensão da variabilidade dos resultados obtidos dos materiais e pode apontar se há erro aleatório ou erro sistemático ainda na fase em preparo. É nessa fase que se buscam definir os valores próprios do laboratório, para média e desvio-padrão (GRÁFICO..., c2012). O controle externo ou ensaio de proficiência é uma prova prática pe- riódica realizada pelos laboratórios. Essa avaliação, que deve ser realizada regularmente, tem o objetivo de detectar problemas e verificar a validade de todo o sistema de qualidade. Trata-se de uma ferramenta que tem como principal objetivo identificar desvios sistematizados do processo e desvios que não são facilmente identificados por outras ferramentas de controle. Sendo assim, funciona como um controle final que auxilia no monitoramento das múltiplas etapas do processo, podendo identificar necessidades de melhoria nas demaisferramentas de controle e de gestão. 5Controle de qualidade em microbiologia clínica O ensaio de proficiência é composto por diversas amostras-controle, rece- bidas pelos laboratórios participantes por programas de controle de qualidade. As amostras são recebidas mensalmente para determinar a precisão e exatidão dos resultados laboratoriais. Esses controles devem ser analisados juntamente com outras amostras, sem receber atenção especial, para que isso não interfira na veracidade dos resultados. Os parâmetros são agrupados por métodos ou equipamentos e submetidos aos cálculos para obtenção da média, do desvio- padrão e do coeficiente de variação. A dispersão do resultado do laboratório participante em relação ao valor do parâmetro é medida pelo desvio-padrão ou coeficiente de variação. No Brasil, a participação dos laboratórios nesse tipo de controle é regulada pela Resolução de Diretoria Colegiada (RDC) nº 302, de 13 de outubro de 2005 (BRASIL, 2005), que define sua utilização para todos os ensaios para os quais exista disponibilidade da ferramenta e o uso de controles alternativos descritos na literatura para os demais. O ensaio de proficiência é considerado uma oportunidade de acompanhar todo o processo analítico, evidenciado seu bom funcionamento e a necessidade de correções e melhorias (EURACHEM, 2005; PNCQ, 2016/2017; SOCIEDADE BRASILEIRA DE PATOLOGIA CLÍNICA/MEDICINA LABORATORIAL [SBPC/ML], 2015). Segundo a Eurachem (2005), alguns procedimentos alternativos de controle interno podem ser realizados, como ter a amostra dividida, em que um laboratório envia para outro uma alíquota de sua amostra para confirmação de resultado. Além disso, pode ser realizada repetição das dosagens sob a supervisão de outro profissional; utilização de calibradores de fabricantes dos reagentes; utilização de amostras de clientes em que os resultados foram confirmados por correlação clínica; utilização das médias, obtidas em amostras de pacientes; utilização das amostras-controle dos provedores de ensaios de proficiência; utilização das faixas de valores de referência; e revisão de lâminas por outro profissional ou supervisor, em análises morfológicas. Controle de qualidade em microbiologia clínica6 2 Normas e regulamentações em microbiologia clínica O funcionamento de um laboratório clínico pode ser caracterizado como um processo composto por diversas fases com ordem cronológica, desde a recepção do paciente até a liberação do laudo. Para poder desempenhar essas atividades, com conformidade legal e habilitação para seu funcionamento, os laboratórios de análises clínicas devem cumprir as normas determinadas pelos órgãos competentes. Para o laboratório ou setor de microbiologia, as exigências não são diferentes, estando também sujeito à regulamentação de sua área. As normas geralmente determinam requisitos gerais para qualquer tipo de laboratório, em nível nacional, estadual ou municipal; porém, pode haver regras específicas conforme o serviço. Entre essas normas, uma das mais importantes é a Resolução de Diretoria Colegiada (RDC) nº 302 (BRASIL, 2005), que define um regulamente técnico com o objetivo de estabelecer os requisitos para o funcionamento dos laboratórios clínicos e postos de coleta laboratorial, sejam eles públicos, sejam privados, e que realizam atividades na área de análises clínicas, patologia clínica e citologia (ANVISA, 2005; MACHADO; KOHLER, 2018; SBPC/ML, 2015). A RDC nº 302/2005 (BRASIL, 2005) é um decreto, uma ordem proveniente de um órgão superior, neste caso a Anvisa, contendo as diretrizes e normas regulamentadoras. Esse decreto define especificações gerais de funcionamento e requisitos relacionados, e estabelece que a construção, reforma ou adaptação na estrutura física do laboratório deve ter seu projeto anteriormente apro- vado junto à autoridade sanitária local, em conformidade com a RDC nº 50, de 21 de fevereiro de 2002 (BRASIL, 2002a), e a RDC nº 189, de 18 de julho de 2003 (BRASIL, 2003), suas atualizações ou qualquer documento legal que possa substituí-las. Além disso, no documento também está definido que as secretarias de saúde estaduais, municipais e do Distrito Federal devem exe- cutar os procedimentos para utilização do regulamento técnico estabelecido por essa RDC, podendo adotar normas complementares para adaptação as especificidades locais (SBPC/ML, 2015). A RDC nº 302/2005 (BRASIL, 2005) traz considerações sobre a organiza- ção da empresa, desde a obtenção do alvará de funcionamento até funções de direção e do responsável técnico. Inclui orientações sobre recursos humanos, equipamentos, produtos para diagnóstico in vitro, biossegurança, limpeza, desinfecção e esterilização, e descarte de resíduos e rejeitos, sendo que o 7Controle de qualidade em microbiologia clínica descarte de resíduos deve atender a RDC nº 306, de 7 de setembro de 2004 (BRASIL, 2004). No documento também constam instruções sobre os proces- sos operacionais do laboratório, contemplando as fases pré-analítica, analítica e pós-analítica dos exames, além de diretrizes sobre os registros, garantia e controle de qualidade. Esse decreto teve algumas exigências esclarecidas pela nota técnica nº 039, de 10 de dezembro de 2014 (ANVISA, 2014) e pela RDC nº 30, de 24 de julho de 2015 (BRASIL, 2015). A RDC nº 50/2002 orienta sobre planejamento, programação, elaboração e avaliação de projetos físicos de estabelecimentos assistenciais de saúde em todo o território nacional, na área pública e privada. Essa norma contempla as construções novas de todo o país, as áreas a serem ampliadas de estabe- lecimentos já existentes e as reformas de estabelecimentos já existentes e os anteriormente não destinados a estabelecimentos de saúde. Sendo assim, todos os projetos de estabelecimentos assistenciais de saúde (EAS) devem, de forma obrigatória, ser desenvolvidos em conformidade com as disposições dessa norma (BRASIL, 2002a). A RDC nº 50/2002 também engloba normas complementares, como a NBR 6492, de 30 de abril de 1994, da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), que trata da representação de projetos de arquitetura; a ABNT NBR nº 13532, de 30 de novembro de 1995, que dispõe sobre a elaboração de projetos de edificações; e a ABNT NBR 14100, de 30 de maio de 1998, que contempla a proteção contra incêndios. Desse modo, a RDC nº 50/2002 contempla várias atividades relacionadas à construção, complementação, reforma ou ampliação de uma edificação ou conjunto de edificações (BRASIL, 2002a; SBPC/ML, 2015). A RDC nº 307, de 14 de novembro de 2002, altera a RDC nº 50/2002, especialmente em áreas em que há assistência de pacientes. Essa alteração traz mudanças quanto à elaboração de projetos físicos, organização físico-funcional e dimensionamento, quantificação e instalações prediais dos ambientes, entre outros. Todos os projetos de arquitetura do laboratório devem ser baseados em um planejamento físico-funcional preestabelecido, em que estão definidas as condutas a serem desenvolvidas e as metas a serem alcançadas, assim como estão determinadas as diferentes tecnologias de operação, delimitando no seu conjunto o índice de atribuições (BRASIL, 2002b). Controle de qualidade em microbiologia clínica8 Em relação à prestação de atendimento de apoio ao diagnóstico e à terapia, está determinado na RDC nº 50/2002 que as atividades da patologia clínica que podem ser extrapoladas para os laboratórios de microbiologia são a coleta e triagem do material; análise e procedimentos laboratoriais com finalidade diagnóstica e de pesquisa; preparo de reagentes ou soluções; desinfecção do material analisado a ser descartado; lavagem e preparo do material utilizado; e laudo das análises realizadas. Se o laboratório fizer atendimento ao paciente, há necessidade de um espaço de apoio para sua recepção, contendo áreas como sala de espera para pacientes e acompanhantes e área para registro desses, sempre considerando aacessibilidade (BRASIL, 2002a; SBPC/ML, 2015). Todas as exigências descritas na RDC nº 302/2005, principal norma re- gulamentadora dos laboratórios clínicos, pretendem evitar que a equipe de colaboradores tenha contato direto ou indireto com qualquer material biológico, agulhas, instrumentos e equipamentos inseridos nos diversos procedimentos diagnósticos. Com isso, minimizam-se riscos de disseminação, aquisição e/ou transmissão de microrganismos, assim como a transmissão de infecções adqui- ridas em seu ambiente. Essa norma se aplica a todos os laboratórios clínicos, abrangendo todos os seus setores, incluindo hematologia e bioquímica, entre outros. No entanto, para que essa RDC e as demais normas complementares tenham efetividade, as secretarias de vigilância regionais devem fiscalizar os laboratórios clínicos, contribuindo com a garantia da segurança a todas as pessoas envolvidas no processo (BRASIL, 2005; SBPC/ML, 2015). 3 Processos de acreditação dos laboratórios de microbiologia clínica A acreditação é um processo de avaliação e certificação, no qual a empresa é analisada para verificar se cumpre as exigências estabelecidas para exercer suas atividades. Esse processo tem o objetivo de instituir ou aperfeiçoar padrões de prática laboratorial por meio de normas e requisitos previamente definidos. Dessa forma, a qualidade e a segurança da assistência no setor de saúde são promovidas, mostrando aos clientes a credibilidade dos serviços da empresa (LIMA, 2003; MACHADO; KOHLER, 2018). 9Controle de qualidade em microbiologia clínica O método de acreditação é realizado de forma voluntária. Trata-se de um programa de educação continuada das instituições prestadoras de serviços de saúde. Associações científicas concedem a certificação ao laboratório, comprovando a implementação dos seus respectivos sistemas de qualidade, declarando a capacidade organizacional e técnica do laboratório participante. No Brasil, estão disponíveis três programas de acreditação de laboratórios clínicos (MACHADO; KOHLER, 2018; SISTEMA NACIONAL DE ACRE- DITAÇÃO [DICQ], 2013): � Programa de Inspeção e Credenciamento da Qualidade, atual Sistema Nacional de Acreditação (DICQ), patrocinado pela Sociedade Brasileira de Análises Clínicas (SBAC). � Programa de Acreditação de Laboratórios Clínicos (PALC), de autoria da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica Medicina Laboratorial (SBPC/ML). � Programa de Acreditação da Organização Nacional de Acreditação (ONA). O DICQ foi fundando em 1997 pela Sociedade Brasileira de Análises Clínicas com o objetivo de desenvolver, implantar e operacionalizar a acredi- tação de laboratórios clínicos e organizações prestadoras de serviços de saúde. Trata-se de uma empresa técnico-científica que realiza inspeções, auditorias, credenciamento e acreditação do sistema da qualidade. Esse programa tem critérios e requisitos próprios, porém leva em consideração normas nacionais e internacionais de qualidade e emite o certificado para as empresas que cum- prirem os requisitos de qualidade estabelecidos nessas normas (DICQ, 2013). O PALC, amplamente reconhecido por instituições e entidades nacionais e estrangeiras, foi fundado em 1998, tendo seus critérios baseados em nor- mas específicas de qualidade que contemplam as atividades laboratoriais. O programa afirma atuar em caráter educativo e não punitivo, preservando a confidencialidade das informações prestadas pelo laboratório, assim como os resultados das auditorias. O PALC faz uso de suas auditorias para verificar a conformidade com seus requisitos e os resultados obtidos em ensaios de proficiência, avaliando a competência técnica e de qualidade, para garantir melhoria contínua dos serviços prestados pelos laboratórios ( SBPC/ML, 2016). A ONA atua desde 1999 com o objetivo de disseminar um atendimento de saúde dentro dos padrões de qualidade e segurança. A organização se dedica Controle de qualidade em microbiologia clínica10 à adoção, por parte das instituições de saúde, de práticas assistenciais e de gestão que promovam a melhoria do cuidado para o paciente. Segundo a ONA, as instituições podem ser acreditas em três níveis: Acreditado, Acreditado Pleno e Acreditado com Excelência. Esses níveis de acreditação variam conforme o cumprimento dos padrões de qualidade e segurança estabelecidos pela organização, permitindo auxiliar as empresas no desenvolvimento da gestão integrada, segurança dos processos e evolução institucional. A metodologia da ONA não tem caráter prescritivo, portanto não traz recomendações específicas que devam ser seguidas pelas organizações que se submetem à avaliação. Os requisitos gerais para a habilitação de laboratórios são apresentados na Norma Internacional: Requisitos Gerais para a Competência de Laboratórios de Ensaio e Calibração (ISO/IEC 17025 1ª ed., 1999), comumente chamada de ISO 17025. Todas as exigências descritas no documento devem ser atendidas pelos laboratórios que buscam habilitação. A ISO 17025 é uma norma utilizada para o desenvolvimento de um sistema de gestão de qualidade, operações técnicas e administrativas. Nela estão descritas todas as condições que os laboratórios de ensaios e calibrações têm de cumprir para obterem sua acreditação e serem reconhecidos por sua competência técnica. Entre os tópicos abordados estão gestão da qualidade, competência técnica, padrão, acreditação, rastreabilidade e avaliação de confor- midade. Dessa forma, seguindo seus requisitos, os laboratórios proporcionam capacitação técnica dos envolvidos, confiabilidade dos resultados obtidos, aumento da credibilidade do laboratório, diferencial competitivo, fidelização e conquista de novos clientes (EURACHEM, 2005; SBPC/ML, 2015). Para obter a certificação ISO 17025 o laboratório precisa se importar com todos os processos, desde a gestão até os processos técnicos. A Anvisa traduziu, em 2005, um documento da Eurachem (2005) intitulado Acreditação para Laboratórios de Microbiologia. Esse documento se aplica à habilitação na Rede Brasileira de Laboratórios Analíticos em Saúde (Reblas) e é considerado complementar à ISO 17025, fornecendo orientação específica para laboratórios que realizam ensaios microbiológicos. Segundo o próprio documento, ele pode ser considerado um “documento de aplicação” para ensaios microbiológicos. Ensaios microbiológicos incluem testes de esterilidade, detecção, isolamento, enumeração e identificação de microrganismos e seus metabólitos, ou qualquer tipo de ensaio que utilize microrganismos como parte do método de detecção. No documento estão contidas diversas orientações referentes ao laboratório de microbiologia, desde equipe e dependências até descarte de resíduos con- 11Controle de qualidade em microbiologia clínica taminados, enfatizando a qualidade dos resultados de ensaios (EURACHEM, 2005; SBPC/ML, 2015). Em 9 fevereiro de 2015 foi publicada a norma ABNT NBR ISO 15189:2015, que estabelece os requisitos gerais para que se reconheça a competência de um laboratório para realizar ensaios e/ou calibrações. Essa norma traz orientações específicas para laboratórios clínicos, por esse motivo tem sido utilizada como referência em gestão de qualidade por diversas instituições. A norma é dividida em duas partes, a gestão correspondente aos requisitos para a certificação do sistema de qualidade e a técnica que descreve os exigências para o pessoal, instalações, equipamentos, procedimentos, garantia de qualidade e relatórios (INSTITUTO PORTUGUÊS DE ACREDITAÇÃO [IPAC], 2017). AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA (ANVISA). Gerência de Regulação e Controle Sanitário (GRECS). Nota técnica nº 39, de 10 de setembro de 2014. Esclare- cimentos sobre a RDC/Anvisa nº 302, de 13 de outubro de 2005, que dispõe sobre Regulamento Técnico para funcionamento de laboratórios clínicos. Brasília: ANVISA, 2014. Disponível em: http://sbac.org.br/wp-content/uploads/2016/01/nt_039_2014. pdf. Acesso em: 16 jun.2020. AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA (ANVISA). Segurança e controle de quali- dade no laboratório de microbiologia clínica: módulo II. Brasília: ANVISA: 2005. Disponível em: http://www.anvisa.gov.br/servicosaude/manuais/microbiologia/mod_2_2004. pdf. Acesso em: 16 jun. 2020. BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). Resolução – RDC nº 30, de 24 de julho de 2015. Altera a Resolução – RDC nº 302, de 13 de outubro de 2005, que dispõe sobre o Regulamento Técnico para funcionamento de Laboratórios Clínicos. Brasília: ANVISA, 2015. Disponível em: http://bvsms.saude.gov. br/bvs/saudelegis/anvisa/2015/rdc0030_24_07_2015.pdf. Acesso em: 16 jun. 2020. BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). Resolução – RDC nº 50, de 21 de fevereiro de 2002. Dispõe sobre o Regulamento Técnico para plane- jamento, programação, elaboração e avaliação de projetos físicos de estabelecimentos assistenciais de saúde. Brasília: ANVISA, 2002a. Disponível em: https://bvsms.saude.gov. br/bvs/saudelegis/anvisa/2002/res0050_21_02_2002.html. Acesso em: 16 jun. 2020. Controle de qualidade em microbiologia clínica12 BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). Reso- lução – RDC nº 189, de 18 de julho de 2003. Dispõe sobre a regulamentação dos proce- dimentos de análise, avaliação e aprovação dos projetos físicos de estabelecimentos de saúde no Sistema Nacional de Vigilância Sanitária, altera o Regulamento Técnico aprovado pela RDC nº 50, de 21 de fevereiro de 2002 e dá outras providências. Brasília: ANVISA, 2003. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/anvisa/2003/ res0189_18_07_2003.html. Acesso em: 16 jun. 2020. BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). Reso- lução – RDC nº 302, de 13 de outubro de 2005. Dispõe sobre Regulamento Técnico para funcionamento de Laboratórios Clínicos. Brasília: ANVISA, 2005. Disponível em: http:// portal.anvisa.gov.br/documents/10181/2718376/RDC_302_2005_COMP.pdf/7038e853- afae-4729-948b-ef6eb3931b19. Acesso em: 16 jun. 2020. BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). Resolu- ção – RDC nº 306, de 7 de dezembro de 2004. Dispõe sobre o Regulamento Técnico para o gerenciamento de resíduos de serviços de saúde. Brasília: ANVISA, 2004. Disponível em: http://portal.anvisa.gov.br/documents/33880/2568070/res0306_07_12_2004. pdf/95eac678-d441-4033-a5ab-f0276d56aaa6. Acesso em: 16 jun. 2020. BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). Reso- lução – RDC nº 307, de 14 de novembro de 2002. Altera a Resolução – RDC nº 50 de 21 de fevereiro de 2002 que dispõe sobre o Regulamento Técnico para planejamento, programação, elaboração e avaliação de projetos físicos de estabelecimentos assis- tenciais de saúde. Brasília: ANVISA, 2002b. Disponível em: https://cevs.rs.gov.br/upload/ arquivos/201612/15140404-vigilncia-sanitria-rdc-307-02.pdf. Acesso em: 16 jun. 2020. COSTA, C. S. Capacitação em boas práticas de inspeção e sistema de gestão da qualidade: gestão de não conformidades e reclamações. Brasília: Agência Nacional de Vigilância Sa- nitária, [201-?]. Disponível em: http://portal.anvisa.gov.br/documents/4048533/4992156/ Gest%C3%A3o+de+N%C3%A3o+Conformidades.pdf/c9d4633b-0503-4a74-aa0d- f4af49833efd. Acesso em: 16 jun 2020. EURACHEM. Acreditação para laboratórios de microbiologia/Eurachem Netherlands Laboratory of the Government Chemist of United Kingdom. Tradução Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). Brasília: Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), 2005. (Série Habilitação) FIGUEIRA, A. S. O. A importância do controle de qualidade dos laboratórios de microbiologia clínica. 2016. 40 f. Monografia (MBA de Gestão em Saúde e Controle de Infecção) – Faculdade Método São Paulo, São Paulo, 2016. GRÁFICO de Levey-Jennings: grande aliado para o controle da qualidade. In: QUALI- CHART. Belo Horizonte, c2012. Disponível em: https://www.qualichart.com.br/blog/ grafico-de-levey-jennings-grande-aliado-para-o-controle-interno-da-qualidade/. Acesso em: 16 jun. 2020. INSTITUTO PORTUGUÊS DE ACREDITAÇÃO (IPAC). Guia para a aplicação da NP EN ISO 15189. Caparica: IPAC, 2017. Disponível em: http://www.ipac.pt/docs/publicdocs/ requisitos/OGC004_GuiaAplicacao15189_v20170622.pdf. Acesso em: 16 jun. 2020. 13Controle de qualidade em microbiologia clínica LIMA, J. C. C. (Ed.). Diretriz de patologia clínica/medicina laboratorial de cardiologia. Arquivo Brasileiro de Cardiologia, São Paulo, v. 81, supl. VII, p. 1-4, 2003. MACHADO, L. B.; KOHLER, L. M. Controle de qualidade interno e externo nos laboratórios de análises clínicas no município de Manhuaçu, Minas Gerais. Revista Educação, Meio Ambiente e Saúde, [s. l.], v. 8, n. 2, p. 12-24, 2018. MOTTA, V. T. Bioquímica clínica para o laboratório: princípios e interpretações. São Paulo: Missau. São Paulo, 2003. PROGRAMA NACIONAL DE CONTROLE DE QUALIDADE (PNCQ). Manual do Laboratório Participante. Rio de Janeiro: PNCQ, 2016/2017. SISTEMA NACIONAL DE ACREDITAÇÃO (DICQ). Manual para acreditação do sistema de gestão da qualidade de laboratórios clínicos. 6. ed. Rio de Janeiro: DICQ, 2013. Disponível em: http://acreditacao.org.br/manual_DICQ/Manual%20DICQ%206%20Edicao.pdf. Acesso em: 16 jun. 2020. SOCIEDADE BRASILEIRA DE PATOLOGIA CLÍNICA/MEDICINA LABORATORIAL (SBPC/ ML). Programa de acreditação de laboratórios clínicos (PALC) – Norma 2016. Rio de Ja- neiro: SBPC/ML, 2016. 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