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Trypanosoma cruzi

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TRYPANOSOMA CRUZI E DOENÇA DE CHAGAS 
 
● Morfologia 
Hospedeiro vertebrado 
 
Intracelularmente são encontradas as formas amastigotas e extracelularmente as formas 
tripomastigotas, presente no sangue circulante. São formas infectantes. Em todas as formas 
observa-se um cinetoplasto (mitocôndria, rica em DNA). Sua análise é um dos parâmetros 
utilizados na caracterização bioquímica de diferentes amostras ou cepas de T. cruzi. 
Os tripomastigotas sanguíneos apresentam variações morfológicas denominadas 
‘polimorfismos’ 
Trypanosoma cruzi: formas amastigotas no tecido 
muscular 
 
 Trypanosoma cruzi: 1, 2 e 3, formas 
tripomastigotas largas, encontradas no sangue circulante; 4, 5 e 6, formas tripomastigotas delgadas, encontradas 
no sangue circulante; 7 e 8, formas epimastlgotas encontras em dejetos de triatomineos e meios de cultura; 9 e 
10, formas tripomastlgotas encontradas em dejetos de triatomineos e meios de cultura. 
Hospedeiro invertebrado 
 
Inicialmente são encontradas formas arredondadas com flagelo circundando o corpo 
(esferomastigotas) presentes no estômago e intestino do triatomineo; Formas epimastigotas 
estão presentes em todo o intestino e tripomastigotas presentes no reto. O tripomastigota 
metacíclico constitui a forma mais natural de infecção para o hospedeiro vertebrado. 
 
 
● Ciclo Biológico 
É do tipo heteroxênico, passando por fase de multiplicação intracelular no hospedeiro 
vertebrado (homem e mamíferos) e extracelular no inseto vetor (triatomíneos). 
Ciclo biológico no hospedeiro vertebrado 
 
Amastigotas, epimastigotas e tripomastigotas interagem com céls do hospedeiro vertebrado 
e apenas as epimastigotas não são capazes de nelas se desenvolver e multiplicar. 
Os tripomastigotas metacíclicos são eliminados na fezes e urina do vetor (triatomíneo), 
durante ou após o repasto sanguíneo e penetram pelo local da picada e interagem com céls 
do SMF da pele e mucosas. Aqui ocorre a transformação dos tripomastigotas em amastigotas, 
que se multiplicam por divisão binária simples. Daí ocorre a diferenciação dos amastigotas 
em tripomastigotas, que são liberados da cél hospedeira caindo no interstício. Esses caem 
na corrente circulatória, atingem outras céls de qualquer tecido ou órgão para se reproduzir 
ou são destruídos por mecanismos imunológicos. Podem ser ingeridos por triatomíneos, 
cumprindo ciclo extracelular.. No início da infec. (fase aguda), a parasitemia é mais elevada, 
podendo ocorrer a morte do hospedeiro. Em humanos, nessa fase, a maior mortalidade é em 
crianças. Quando o hospedeiro desenvolve resposta imune eficaz, diminui a parasitemia e a 
infecção se cronifica. Nessa fase, o nº de parasitas é pequeno na circulação, só sendo 
detectado por métodos especiais (xenodiagnóstico, hemocultura e inoculação em 
camundongos). A evolução e desenvolvimento dessa doença ocorre lentamente. O 
mecanismo de interação entre o parasito e as céls chama endocitose, no qual participam 
tanto a cél quanto o parasito. Ocorre em 3 fases: 
1) Adesão celular: ambos se reconhecem e o contato membrana-membrana ocorre; 
2) Interiorização: formação de pseudópodes e a conseq. formação do vacúolo 
fagocitário. 
3) Fenômenos intracel.: quando as formas epimastigotas são destruídas dentro do 
fagolisossima e os tripomastigotas sobrevivem resistindo às ações das enzimas 
lisossômicas e desenvolvendo-se livremente no citoplasma da cél (se transformam 
em amastigota 3h após interiorização). A cada 12h há 9 gerações, se diferenciam em 
tripomastigotas, a cél hospedeira se rompe liberando os parasitos. 
 
Ciclo biológico no hospedeiro invertebrado 
 
Os triatomíneos se infectam ingerindo formas tripomastigotas presentes na corrente 
sanguínea do hospedeiro vertebrado durante o hematofagismo. Em seu estômago, se 
transformam em formas arredondadas (esferomastigotas) e epimastigotas. No intestino 
médio, epimastigotas se multiplicam por divisão binária simples, sendo responsáveis pela 
manutenção da infecção do vetor. No reto, os epimastigotas se diferenciam em 
tripomastigotas (infectante), sendo eliminados nas fezes e na urina 
 
 
Ciclo do T. cruzi. 1) penetraçáo do tripomastigota metaclclica (ou tripomastigota) em uma célula; 2) transformação 
do tripomastigota em amastigota; 3) essa forma multiplica-se intensamente por divisão binária dentro da célula; 
4) rompimento da célula parasitada, liberando tripomastigota; 5) forma tripomastlgota no sangue circulante; pode 
penetrar em outra célula (1) ou ser ingerida pelo triatomlneo (6); 6) forma tripomastlgota no estbomago do 
triatomineo; 7) transformação da forma tripomastigota em epimastigota no intestino posterior do inseto; 8) forma 
epimastigota em multiplicação por divisão binária; 9) forma epimastigota transforma-se em forma tripomastlgota 
metaciclica no reto do inseto; 10) forma tripomastlgota metaciclica, nas fezes do triatomlneo, apta a penetrar em 
c8lulas do hospedeiro mamifero. 
 
 
Transmissão: 
Pelo vetor durante o hematofagismo, por transfusão sanguínea, transmissão congênita, 
acidentes laboratoriais, transmissão oral (amamentação, canibalismo, alimentos 
contaminados c/ fezes de triatomíneos), coito (apenas experimental), transplante 
(desencadeia fase aguda - imunossupressores), feridas. 
 
● Apresentações clínicas 
Fase aguda 
 
Pode ser assintomática ou sintomática - depende do estado imunológico do hospedeiro. 
Predomínio da forma aguda sintomática na primeira infância. Essa fase inicia-se com 
manifestações locais quando penetra na conjuntiva (sinal de Romanã) ou na pele (chagoma 
de inoculação). Aparecem em 50% dos casos dentro de 4-10 dias, regredindo em 1 ou 2 
meses. Há o aparecimento de chagoma primário (inflamação aguda local na derme e 
hipoderme) em qualquer parte de corpo. Manifestações gerais: febre, edema localizado e 
generalizado, poliadenia, hepatomegalia, esplenomegalia e, as vzs, ic e perturbações 
neurológicas (essa última e rara e é consequência da meningoencefalite em crianças muito 
jovens e pacientes imunossuprimidos). 
 
Fase crônica assintomática 
Forma indeterminada: após a fase a aguda, há um período assintomático (10-30 anos), 
chamada de forma latente e é caracterizada por: 1) + de exames sorológicos e/ou parasitol., 
2) ausência de sintomas e/ou sinais da doença, 3) eletro convencional normal, 4) coração, 
esôfago e cólon radiologicamente normais. Pode haver morte súbita. 
 
Fase crônica sintomática 
 
Alguns, após o período assintomático, podem apresentar sintomatologia relacionada com o 
sistema cardiovascular (forma cardíaca), digestivo (forma digestiva) ou ambos (forma 
cardiodigestiva ou mista). Tem reativação intensa do processo inflamatório, com dano destes 
órgãos. 
Forma cardíaca: ICC, CCC (cardiopatia chagásica crônica) fenômenos tromboembólicos 
(pode originar infartos em diversos órgãos), cardiomegalia intensa. 
Forma digestiva: megaesôfago e megacólon, disfagia, odinofagia, dor retroesternal, 
regurgitação, pirose, soluço, tosse e sialose, peritonite. 
Forma nervosa: Alterações psicológicas, comportamentais e perda de memória. 
 
● Diagnóstico 
Clínico: origem do paciente, presença dos sinais de porta de entrada, febre irregular ou 
ausente, adenopatia-satélite ou generalizada, hepatoesplenomegalia, taquicardia, edema 
generalizado ou dos pés (fase aguda). Alterações cardíacas + sinais de IC confirmadas por 
eletro e alterações digestivas e do esôfago e cólon (revelada por raio X) - fase crônica. Ambos 
os casos precisa de confirmação do diagnóstico laboratorial. 
 
Laboratorial: Fase aguda: alta parasitemia, presença de Ac inespecíficos e início de 
formação de Ac específicos (IgM e IgG), podendo atingir níveis elevados - recomenda-se 
pesquisa direta e indireta do parasito. Fase crônica: baixa parasitemia, presença de IgG - 
recomenda-se métodos sorológicos (imunofluorescência indireta, ELISA, hemaglutinação 
indireta ou fixação do complemento) oupesquisa do parasito por métodos indiretos 
(xenodiagnóstico, hemocultura ou inoculação em animais de lab.) Usa-se eles quando a 
sorologia é duvidosa ou quando se desejar verificar a eficácia de tratamento. 
 
FASE AGUDA 
Exames parasitológicos 
Exame de sangue a fresco c/ gosta de sangue colocado entre lâmina e lamínula; 
Exame de sangue em gota espessa (+ chance de detectar o parasito por concentrar maior 
quantidade de sangue em um mesmo espaço); 
Esfregaço sanguíneo corado pelo Giemsa - permite obs a morfologia do parasito (precisa de 
parasitemia elevada); 
Cultura de sangue ou material de biópsia (linfonodos) em meios próprios como LOT ou NNN 
ou meios difásicos de ágar sangue; 
Inoculação do sangue (0,5ml) em camundongos jovens; 
Métodos de concentração - deixar sangue coagular, retrair o coágulo e examinar o mesmo 
(sedimento ou inoculação) 
Xenodiagnóstico e hemocultura muito sensíveis na fase aguda (não são muito indicados pois 
o resultado sai após 30 dias. 
Exames sorológicos 
Reação de precipitação ou precipitina, reação sensível e específica realizada com um Ag 
homólogo, formando precipitado na interface do Ag, c/ o soro, e reação Ac-Ag - técnica em 
desuso. 
Reação de imunofluorescência indireta (RIFI) alta sensibilidade a partir do 15º dia de infec., 
detecta IgM - reação sorológica de escolha pra fase aguda. 
Enzima-liked-immunosorbent-assay (ELISA) detecta classes específicas de Ac, 
recomendada pra fase aguda, utiliza-se conjugado anti-IgM. 
 
FASE CRÔNICA 
Exames parasitológicos 
Xenodiagnóstico - método indireto de escolha para detectar o parasito na fase crônica 
(encontra-se epimastigotas ou tripomastigotas); 
Hemocultura - se usado em paralelo com o Xenodiagnóstico, apresenta maior sensibilidade. 
Sua maior limitação é a necessidade de meio de cultura especial; 
Inoculação em camundongos jovens - msm do da fase aguda; 
 
Exames Sorológicos 
Evidencia a presença de Ac específicos no soro do paciente. 
Reação de fixação de complemento (RFC) ou de Guerreiro e Machado - é a mais antiga. Feita 
c Ag homólogo, altamente sensível, técnica em desuso; 
Reações de imunofluorescência indireta (RIFI) - muito sensível e mais utilizada atualmente. 
Consiste em reagir Ag fixos em lâminas de M.O, Ac do soro do paciente add posteriormente 
do conjugado (antiimunoglobulina marcada com subs fluorescência). A fluorescência pode 
ser visualizada por equipamento adequado adaptado ao M.O, revelando a presença de Ac. A 
padronização dos reagentes (conjugado e Ag) permite alta confiabilidade dos resultados. 
Apresenta resultado falso-positivo em caso de Leishmanioses. 
Reação de hemaglutinação indireta (RHA) - técnica simples e sensível (+ 90%), usada em 
diagnóstico de fase aguda e crônica (seminário); 
Enzima-liked-immunosorbent-assay (ELISA) - semelhante ao RIFI porém o conjugado é 
marcado com uma enzima. A interação da enzima c/ substrato adequado dá cor à reação, 
leitura c/ espectofotômetro. Permite a pesquisa de classes específicas de Ac. Oferece 
vantagem em relação às demais técnicas sorológicas por permitir a realização de um grande 
nº de testes de uma só vez. + sensível que o RIFI. 
 
A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda que o diagnóstico sorológico da doença 
de Chagas seja realizado utilizando sempre dois testes sorológicos diferentes em paralelo, 
para a obtenção de resultados mais precisos. No caso de resultados duvidosos, devem-se 
empregar outras técnicas e repetir as reações. Se dois métodos apresentarem re- 
sultados contraditórios, realizar um terceiro método de princípio diferente. Se permanecer a 
dúvida, realizar um quarto método de imunodiagnóstico e se ainda permanecer a dúvi- 
da realizar um método de diagnóstico não-imunológico. No caso de banco de sangue 
recomenda-se o uso de três técnicas de princípios diferentes para assegurar a detecção da 
maioria dos casos. Durante ou mesmo algum tempo após tratamento, o paciente pode 
apresentar testes sorológicos negativos, sem, contudo, significar cura da infecção. 
 
Método Parasitológico-Molecular 
Reação em cadeia da polimerase (PCR)- amplificação in vitro de fragmentos de kDNA de T. 
cruzi presentes em amostras de sangue, soro ou tecidos do paciente infectado. É de alta 
sensibilidade pois é capaz de detectar quantidades de DNA de uma única cél do parasito. 
 
CRITÉRIO DE CURA 
Denomina-se critério de cura o conjunto de parâmetros (clínicos e laboratoriais) utilizados na 
verificação da eficácia do tratamento de um paciente. Os critérios clínicos são de valor 
limitado, especialmente na fase crônica da infecção, quando o paciente pode ser 
assintomático ou possuir lesões viscerais irreversiveis. Vários métodos de exames laborato- 
riais são indicados como critério de cura: 
a) Parasitológicos: xenodiagnóstico (Xd) e hemocultura Hc); 
b) Parasitológico molecular (PCR); 
c) Sorológicos convencionais (RIFI, ELISA, RHA etc.); 
d) Sorológicos não-convencionais (LMCo e pesquisa de AATV por citometria de fluxo). 
Considera-se "curado" todo paciente que apresentar além da negativação parasitológica 
(xenodiagnóstico, hemocultura e PCR), negativação da sorologia convencional, LMCo e 
pesquisa de AATV. Isto porque já foi verificado que pacientes que apresentaram exames 
parasitológicos negativos e sorologia convencional com títulos persistentemente baixos, 
voltaram a apresentar positividade dos exames parasitológicos e elevação dos títulos 
sorológicos em tempo variável após o fim do tratamento. Os pacientes "não-curados" são 
aqueles que apresentam positividade em qualquer dos métodos de todas as categorias. 
Existe ainda uma terceira categoria de pacientes denominada "dissociado" que se refere 
àqueles pacientes que apresentam resultados dos exames parasitológicos persistentemente 
negativos, sorologia convencional positiva e sorologia não-convencional persistentemente 
negativa. O tempo prolongado de observação destes pacientes tem mostrado que apesar 
desta categoria apresentar sorologia convencional negativa, eles podem também ser 
considerados "curados".

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