Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS Curso de Engenharia Civil Fabiana Cristina de Souza A IMPORTÂNCIA E O IMPACTO DO PLANEJAMENTO E DO GERENCIAMENTO EM HABIATAÇÕES DE INTERESSE SOCIAL –HIS NO MUNICÍPIOS DE CALDAS- MG Poços de Caldas 2019 Fabiana Cristina de Souza A IMPORTÂNCIA E O IMPACTO DO PLANEJAMENTO E DO GERENCIAMENTO EM HABIATAÇÕES DE INTERESSE SOCIAL –HIS NO MUNICÍPIOS DE CALDAS- MG Projeto de Pesquisa apresentado ao Curso de Engenharia Civil da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, campus Poços de Caldas. Orientadora Prof.ª Mª. Marialva Mota Ribeiro Área de atuação: Planejamento Urbano. Poços de Caldas 2019 Dedico este trabalho a minha família e aos meus grandes amigos, que acreditaram no meu potencial e sempre estiveram ao meu lado. AGRADECIMENTOS Agradeço, em especial a Prof.ª. Mª. Marialva Mota Ribeiro, que foi a minha companheira e orientadora neste trabalho. À Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais - PUC Minas, pela oportunidade da realização deste projeto de pesquisa. Aos residentes das casas do projeto de Habitação de Interesse Social implantado no Bairro Recanto Amigo, em Caldas – MG, pelas informações disponibilizadas para que os objetivos deste trabalho fossem alcançados. Ao Engenheiro civil Paulo Luan Paulino, pela atenção e disponibilidade em contribuir, também, com informações cruciais sobre o projeto supracitado. Ao professor Leandro Letti da Silva Araujo, pelo profissionalismo e disponibilidade em oferecer informações técnicas que contribuíram para o entendimento e análise dos dados e informações captadas durante a realização deste projeto de pesquisa. E, finalmente, a todas as pessoas que direta ou indiretamente contribuíram para que este trabalho fosse realizado. “Jamais considere seus estudos como uma obrigação, mas como uma oportunidade invejável para aprender a conhecer a influência libertadora da beleza do reino do espírito, para seu próprio prazer pessoal e para proveito da comunidade à qual seu futuro trabalho pertencer.” (Albert Einstein) RESUMO A pesquisa apresentada neste projeto visa identificar a importância e o impacto do planejamento e gerenciamento em projetos de Habitações de Interesse Social – HIS. Atualmente, faz-se necessário um estudo cada vez maior de sistemas de gestão adaptados para projetos de HIS, já que o conhecimento mais abrangente do planejamento e gerenciamento de projetos habitacionais possibilita a diminuição das perdas de recursos, a otimização dos custos e do tempo e a melhoraria da qualidade das HIS. A fim de alcançar o objetivo supracitado, realizou-se um estudo do projeto de HIS elaborado e implantado, em parceria com Prefeitura Municipal de Caldas e a Companhia de Habitação do Estado de Minas Gerais – COHAB MINAS, no Bairro Recanto Amigo no referido município. Para tal, utilizaram-se os tipos de pesquisa qualitativa, quantitativa, bibliográfica, documental e de campo, que possibilitaram a identificação das boas práticas de gestão de projetos necessárias para um projeto de HIS e os requisitos de habitabilidade estabelecidos pela Norma de Desempenho, além da análise da relação existente entre os parâmetros estabelecidos no planejamento do projeto objeto de estudo, as práticas realizadas e os resultados obtidos durante e após a sua implantação. Como resultados, obteve-se a identificação de como se planejou e gerenciou o projeto supracitado, as consequências obtidas com a sua implantação, a percepção dos residentes nas edificações construídas quanto ao cumprimento dos requisitos de habitabilidade identificados e o impacto gerado por tais informações no projeto objeto de estudo. Finalmente, apresentam-se sugestões de melhorias, visando orientar e aprimorar futuros projetos de HIS Palavras-chave: Habitação de Interesse Popular. Planejamento. Gerenciamento de projetos. LISTA DE FIGURAS Figura 9 - Exemplo genérico de um sistema de pisos e seus elementos ....................................... 32 Figura 18 - Zoneamento bioclimático brasileiro ........................................................................... 36 Figura 19 - Incidência solar ........................................................................................................... 40 Figura 22 - Cotas da janela ............................................................................................................ 41 Figura 23 - Dimensões mínimas de mobiliário e circulação ......................................................... 45 Figura 1-Localização do Bairro Recanto Amigo em Caldas-MG ................................................. 51 Figura 2 - Levantamento topográfico inicial ................................................................................. 54 Figura 3 - Terreno antes das construções ...................................................................................... 55 Figura 4 - Terreno após das construções ....................................................................................... 56 Figura 5 - Projeto Arquitetônico do padrão habitacional MG-80-I-2-36 ...................................... 57 Figura 6 - Projeto de Água Fria do padrão habitacional MG-80-I-2-36 ....................................... 58 Figura 7-Projeto de Esgoto Sanitário do padrão habitacional MG-80-I-2-36 ............................... 59 Figura 8 - Projeto Elétrico Padrão habitacional MG-80-I-2-36 .................................................... 60 Figura 10 - Encosta que carrega a enxurrada ................................................................................ 61 Figura 11 - Murro de arrimo (a) .................................................................................................... 62 Figura 12 - Murro de arrimo (b) .................................................................................................... 62 Figura 13 - Obras de drenagem do Bairro inacabadas ................................................................... 63 Figura 14 - Área mofada nas vedações externa ............................................................................. 64 Figura 15 - Porta apresentando unidade ........................................................................................ 65 Figura 16 - Janela não estanque ..................................................................................................... 65 Figura 17 - Telhado com mancha de mofos .................................................................................. 66 Figura 20 - Obstrução pelo barranco ............................................................................................. 67 Figura 21 - Obstrução pela complementação de obra ................................................................... 67 Figura 24 - Planta Layout do Padrão habitacional MG-80-I-2-36 ................................................ 70 Figura 25 – Proposta de Ampliação .............................................................................................. 71 Figura 26 - Bairro Recanto Amigo ................................................................................................ 73 Figura 27 – Localização do Bairro recanto Amigo ....................................................................... 75 Figura 28 – Acesso pela rua Rainha do Céu no Bairro Santa Cruz ............................................... 75 Figura 29 – Rua Dr. Ney Westin de Carvalho ............................................................................... 76 Figura 31 – Casas complementadas e/ou reformadas (a).............................................................. 81 Figura 32 – Casas complementadas e/ou reformadas (b) .............................................................. 82 Figura 33 – Lavanderia complementada ....................................................................................... 82 Figura 34 - Cozinha complementada ............................................................................................. 83 Figura 35 - Complementação de garagem (a) ............................................................................... 83 Figura 36 - Complementação de área de serviço ........................................................................... 84 Figura 37 – Banheiro reformado ................................................................................................... 84 Figura 38 - Complementação de garagem (b) ............................................................................... 85 Figura 39 - Patologia em elemento de vedação (a) ....................................................................... 86 Figura 40 – Patologia em elemento de vedação (b)....................................................................... 86 Figura 41 – Fenômenos Patológicos .............................................................................................. 87 Figura 42 – Fenômenos Patológicos em elementos de vedação ( c ) ............................................ 87 Figura 43 – Fenômeno Patológico em elementos de vedação (d) ................................................. 88 Figura 44 - Fenômeno Patológico em elemento de vedação (e)................................................... 88 Figura 45 – Fenômeno patológico em elementos de vedação (f) .................................................. 89 Figura 46 – Fenômeno Patológico na cobertura ............................................................................ 89 Figura 47 – Trincas na alvenaria (a) .............................................................................................. 90 Figura 48 – Trincas na alvenaria (b) .............................................................................................. 90 Figura 49 - Trincas na alvenaria (c )............................................................................................. 91 Figura 50 – Rachaduras na alvenaria (a) ...................................................................................... 91 Figura 51 - Trincas na alvenaria (d) ............................................................................................. 92 Figura 52 – Trincas na alvenaria (e) .............................................................................................. 92 Figura 53 – Fissuras na alvenaria (a) ............................................................................................. 93 Figura 54 - Fissuras na alvenaria(b) .............................................................................................. 93 Figura 55 - Fissuras na alvenaria(c ) ............................................................................................. 94 Figura 56 - Trincas na alvenaria (f) ............................................................................................... 94 Figura 57 - Aquecedores solares ................................................................................................... 95 LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1 – Faixa etária dos respondentes ..................................................................................... 74 Gráfico 3 – Altura do pé direito..................................................................................................... 77 Gráfico 4 - Insolação ..................................................................................................................... 78 Gráfico 5 - Ventilação ................................................................................................................... 78 Gráfico 6 – Estanqueidade das esquadrias .................................................................................... 79 Gráfico 7 -Acabamento ................................................................................................................. 79 Gráfico 8 – Instalação Hidráulica .................................................................................................. 80 Gráfico 9 – Instalação Elétrica ...................................................................................................... 80 Gráfico 10 - Telhado...................................................................................................................... 81 LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Transmitância térmica de paredes externas: ................................................................. 37 Tabela 2 - Capacitância térmica de paredes externas: ................................................................... 37 Tabela 3 - Área mínima de ventilação em dormitórios e sala de estar .......................................... 38 Tabela 4 - Critérios de cobertura quanto à transmitância térmica ................................................. 38 Tabela 5 - Conformidade ............................................................................................................... 39 Tabela 6 - Móveis e equipamentos-padrão .................................................................................... 44 Tabela 7 - Dimensões mínimas de mobiliário e circulação (continuação) .................................... 45 Tabela 8 - Dimensões mínimas de mobiliário e circulação (continuação) .................................... 46 Tabela 9 - Acessibilidade .............................................................................................................. 47 LISTA DE ABREVIATURAS Dr. Doutor LISTA DE SIGLAS ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas ANEEL Agência Nacional de Energia Elétrica ANVISA Agência Nacional de Vigilância Sanitária CEMIG Companhia Energética de Minas Gerais CH Conjunto Habitacional COHAB Companhia de Habitação Popular COHAB MINAS Companhia de Habitação do Estado de Minas Gerais COPASA Companhia de Água de Minas Gerais HIS Habitação de interesse social CT Capacidade Térmica MG Minas Gerais NBR Normas Brasileiras Regulamentadoras PMBOK Project Management Body of Knowledge PMDI Plano Mineiro de Desenvolvimento Integrado U Transmitância Térmica SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 14 1.1 Justificativa ............................................................................................................................ 15 1.2 Objetivos ................................................................................................................................. 17 1.2.1 Objetivo geral ....................................................................................................................... 17 1.2.2 Objetivos específicos ............................................................................................................ 17 1.3 Estrutura do trabalho ........................................................................................................... 18 2 REVISÃO DA LITERATURA ............................................................................................... 19 2.1 Planejamento Urbano ...........................................................................................................19 2.2 Moradia e habitação .............................................................................................................. 21 2.3 O planejamento e o gerenciamento de Habitações de Interesse Social (HIS) .................. 24 2.4 Um Guia do Conhecimento em Gerenciamento de Projetos ............................................. 26 2.5 Os programas de qualidade .................................................................................................. 28 2.6 A normalização ...................................................................................................................... 30 2.6.1 Estanqueidade ...................................................................................................................... 33 2.6.2 Desempenho Térmico .......................................................................................................... 35 2.6.3 Desempenho Lumínico ........................................................................................................ 40 2.6.4 Desempenho acústico .......................................................................................................... 41 2.6.5 Saúde, Higiene e Qualidade do ar ...................................................................................... 42 2.6.6 Funcionalidade e acessibilidade ......................................................................................... 43 2.6.7 Conforto astrodinâmico ....................................................................................................... 48 3 METODOLOGIA ..................................................................................................................... 49 4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS ....................................................... 51 4.1 A Companhia de Habitação do estado de Minas gerais ..................................................... 52 4.2 Requisitos de habitabilidades ............................................................................................... 61 4.2.1 Estanqueidade ...................................................................................................................... 61 4.2.2 Desempenho térmico ........................................................................................................... 66 4.2.3 Desempenho lumínico ......................................................................................................... 68 4.2.4 Desempenho acústico .......................................................................................................... 68 4.2.5 Saúde, Higiene e Qualidade do ar ...................................................................................... 68 4.2.6 Funcionalidade e acessibilidade ......................................................................................... 69 4.3.7 Conforto astrodinâmico ....................................................................................................... 71 4.3 Análise da pesquisa nas casas populares ............................................................................. 72 5 PROPOSTA DE MELHORIA ................................................................................................ 97 6 CONCLUSÃO ........................................................................................................................... 98 REFERÊNCIAS .................................................................................................................... 100 ANEXO A - NOTICIA DO BAIRRO RECANTO AMIGO, ETAPA I ........................... 104 ANEXO B - NOTICIA DO BAIRRO RECANTO AMIGO, ETAPA II ......................... 105 APÊNDICE A – QUESTIONÁRIO DA PESQUISA DE CAMPO .................................. 106 APÊNDICE B – ENTREVISTA COM EX - DIRETOR MUNICIPAL DE OBRAS DE CALDAS: PAULO LUAN PAULINO ................................................................................ 107 APÊNDICE C – HISTÓRICO – BAIRRO RECANTO AMIGO .................................... 109 14 1 INTRODUÇÃO A pesquisa proposta neste projeto visa identificar a importância do planejamento e gerenciamento em projetos de Habitações de Interesse Social – HIS no município de Caldas - MG. Por projeto entende-se um empreendimento singular, com objetivo ou objetivos pré- definidos, que deverá ser implantado com base em um plano e critérios previamente definidos de custo, tempo, risco e qualidade. Para que um projeto seja bem-sucedido, o equilíbrio entre as demandas concorrentes e complementares de escopo, organograma, orçamento, qualidade, recursos e riscos para criar o produto, serviço ou resultado especificado deve ser o foco das atividades de planejamento e gerenciamento. O planejamento de um projeto deve ser realizado com enfoque sistêmico, que se relaciona com a realimentação ou retroalimentação das várias fases em que se constituem as etapas de um projeto, visto que é um processo dinâmico de suporte à tomada de decisões, possibilitando a previsão e avaliação de cursos alternativos e futuros e a otimização do uso dos recursos de produção. Destaca-se, entretanto, que as causas mais frequentes dos sérios problemas ocorridos em planejamento de projetos de edificações são a distribuição deficiente de recursos, a perda de informações e as constantes mudanças no projeto. Na Indústria da construção civil, no setor de edificações, vários são os projetos desenvolvidos sem planejamento, limitando a realização de seus gerenciamentos, entendido como o conjunto de métodos, técnicas e ferramentas, também conhecidos por boas práticas, aplicado para que os parâmetros previamente estabelecidos durante a etapa de planejamento sejam cumpridos. No que diz respeito ao atendimento das demandas habitacionais sociais, existem limitações na implementação de inovações tecnológicas de produtos e processos construtivos, bem como de metodologias de gestão de projetos, conforme divulgado em diversos meios de comunicação e identificado em vários municípios. Como consequências dessas limitações tem-se o não cumprimento de escopos, prazos e orçamentos, assim como a entrega de produtos com não conformidades identificadas durante o processo de sua edificação ou no resultado final. Tendo em vista essa realidade, faz-se necessário um estudo comprovando a importância do planejamento e gerenciamento de projetos nesse contexto, bem como os benefícios gerados por estes e suas contribuições na tomada de decisão, em definição de diretrizes para o projeto, alocação de recursos, no controle da execução dos serviços necessários, entre outros. 15 Neste contexto, almeja-se realizar um estudo nas Habitações de Interesse Social localizadas no Bairro Recanto Amigo, na cidade de Caldas-MG, situada no interior do Estado de Minas Gerais, com população estimada de 14.529 habitantes, para 2017, com extensão territorial de 711,414 Km² e densidade demográfica de 19,16 hab./Km² em 2010. (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2016). 1.1 Justificativa A moradia é uma questão contemplada em políticas públicas urbanas e um desafio social, em âmbito nacional. De acordo com levantamentos, o déficit habitacional brasileiro é estimado em mais de 6 milhões de moradias. (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA ESTATÍSTICA, 2014). No relatório divulgado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (2013), encontra-se uma estimativa ainda maior, um déficit habitacional de 7,9 milhões de moradias no país. Com esse grande número de famílias a serem atendidas, torna-se necessário um sistema de gestão adequado e eficiente para projetos HIS. Lembrando que este mercado atende uma população com crescente exigência de qualidade e cada vez mais consciente dos seus direitos. O planejamento de um projeto de edificação consiste na organização para a execução e, apenas por meio dele, é possível uma execução eficaz. “O planejamento e o controle implicamnum processo decisório contínuo, pois planejar é decidir por antecipação, e controlar objetiva, fundamentalmente, conhecer e corrigir os desvios que venham a ocorrer em relação ao planejamento.” (LIMMER, 1996, p. 16) em projetos de HIS (Habitações de Interesse Social) o planejamento e a gestão de projetos se tornam essenciais, já que existe uma grande demanda a ser sanada com recursos públicos. A necessidade de construções de moradias populares para população de baixa renda tem se tornado cada vez maior. “A habitação digna e o acesso à infraestrutura urbana são dois direitos fundamentais do cidadão, necessidades de primeira ordem na vida de qualquer indivíduo, estando intimamente relacionados à qualidade de vida do ser humano” (PEREIRA apud MACHADO et. al, 2017). Atualmente, faz-se necessário um estudo cada vez maior de sistemas de gestão adaptados para projetos de HIS já que, um conhecimento mais abrangente do planejamento e gerenciamento de projetos habitacional pode tornar possível a diminuição das perdas de materiais, a redução dos custos e a melhoraria da qualidade e das durabilidades HIS “O grande desafio que se coloca na 16 gestão de empreendimentos habitacionais é a necessidade de se construir um grande número de unidades a um baixo custo, com o mínimo de desperdício, com boa qualidade, em um curto espaço de tempo e que sejam atendidos adequadamente por serviços básicos de infraestrutura.” (ABIKO, 1995, p. 9) Neste contexto, justifica-se o estudo apresentado neste projeto de pesquisa, realizado nas Habitações de Interesse Social construídas em 2010, localizadas no Bairro Recanto Amigo, na cidade de Caldas-MG, situada no interior do Estado de Minas Gerais, com população estimada de 14.529 habitantes, para 2017, com extensão territorial de 711,414 Km² e densidade demográfica de 19,16 hab./Km² em 2010. (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2016). Comumente, a construção civil tem dificuldade à implementação de novos processos de planejamento e gerenciamento. Uma das formas para aprimorar os sistemas de gestão tem sido a implementação de sistemas estruturados de garantia e gestão da qualidade. Entre os principais sistemas de gestão implementados temos o Programa Brasileiro da Qualidade e Produtividade no Habitat (PBQP-H), que se propõe a organizar o setor da construção civil em torno da melhoria da qualidade e da modernização produtiva. Considerando a melhor qualidade e o menor custo, para a redução do déficit habitacional, o PBQP-H, consta requisitos básicos de habitabilidade, desde aspectos já observados em projetos arquitetônicos e estruturais até detalhes mais específicos que também devem ser observados, tais como evitar defeitos (patologias), garantir a habitabilidade (conforto térmico, acústico, alumínio etc.), reduzir o impacto urbano e garantir a durabilidade, entre outros. (PBQP-H, SISTEMA DE AVALIAÇÃO DA CONFORMIDADE DE EMPRESAS DE SERVIÇOS E OBRAS DA CONSTRUÇÃO CIVIL, 2017) Em concordância, as moradias provenientes dos programas “Minha Casa, Minha Vida”, assim como as moradias das “COHAB” (Companhias de Habitação Popular), devem seguir os requisitos citados acima, para um bom resultado em seu produto. A garantia desta qualidade abrange um amplo leque de ações, incluindo o uso de materiais em conformidade com as normas técnicas, capacitação da mão de obra, certificação de sistemas da qualidade e avaliação da qualidade do projeto por órgãos regulamentadores e financiadores. Com a demonstração em pesquisa da importância do planejamento e gestão de projeto, visa-se conscientizar profissionais envolvidos em projetos de HIS, principalmente os que atuam nestes projetos no município de Caldas MG, sobre os benefícios de aplicar o Sistema de Gestão 17 da Qualidade (SGQ) e atender as normas de desempenho. Para a autora do trabalho, a realização das pesquisas apresentadas neste projeto é um diferencial para a vida profissional e pessoal, pois possibilitou a compreensão da importância de um sistema de gestão eficiente e os benefícios de se trabalhar em conformidade com as normas de desempenho e as boas práticas em gestão de projetos em projetos de HIS. Destaca-se, entretanto, que o interesse da autora em relação à temática abordada neste trabalho deve-se ao fato de ter atuado como estagiária na Prefeitura Municipal de Caldas e, por isso, ter facilidade para o acesso e obtenção de informações e, também de que concluirá o curso de graduação ao final de 2018. 1.2 Objetivos 1.2.1 Objetivo geral Identificar a importância e o impacto do planejamento e gerenciamento de projetos de Habitações de Interesse Social – HIS- implantados no município de Caldas-MG. 1.2.2 Objetivos específicos • Identificar os parâmetros estabelecidos no planejamento dos projetos de HIS implantados no município de Caldas – MG. • Identificar as boas práticas de gestão de projetos necessárias para um projeto de HIS, assim como os benefícios de seguir as normas de desempenho. • Identificar as práticas realizadas nos projetos de HIS implantados no município de Caldas – MG. • Identificar a relação entre os parâmetros estabelecidos e os resultados obtidos nos projetos de HIS implantados no município de Caldas – MG • Elaborar sugestões de melhoria. 18 1.3 Estrutura do trabalho Este trabalho encontra-se estruturado em 5 partes. Na Introdução apresentam-se a temática e a problemática que nortearam as pesquisas realizadas, assim como a justificativa de suas realizações e os objetivos almejados. No Referencial Teórico apresentam-se os embasamentos teóricos utilizados para a compreensão da temática abordada no trabalho e das informações obtidas durante a sua realização, assim como para as análises realizadas. Na metodologia apresentam-se os tipos de pesquisa e de técnicas de captação de dados utilizados para que os objetivos do trabalho fossem alcançados. Na etapa seguinte, apresentam-se os dados e informações captadas durantes as pesquisas realizadas, culminando com as suas análises, com base no embasamento teórico estruturado para tal. Finalmente, apresentam-se as considerações finais sobre as pesquisas realizadas e os resultados obtidos. 19 2 REVISÃO DA LITERATURA A fim de atingir os objetivos destacados na Introdução do presente trabalho, apresentam- se, a seguir, conceitos e teorias utilizados para o entendimento dos assuntos abordados, assim como a compreensão dos resultados discutidos neste trabalho. 2.1 Planejamento Urbano O planejamento urbano é o processo de idealização, criação e desenvolvimento de soluções que visam melhorar ou revitalizar certos aspectos dentro de uma determinada área urbana ou do planejamento de uma nova área urbana em uma determinada região, tendo como objetivo principal proporcionar aos habitantes uma melhoria na qualidade de vida. Segundo um ponto de vista contemporâneo, o planejamento urbano, trata basicamente com os processos de produção, estruturação e apropriação do espaço urbano. As práticas de planejamento urbano são instrumentos na busca do crescimento estruturado, aliado à preservação do meio ambiente, à qualidade da infraestrutura urbana e da qualidade de vida da população. (HENS, OLIVEIRA; BERTOLLO, 2016) Dessa forma, confirma-se que planejar o espaço urbano significa remeter ao futuro das cidades, buscando medidas de precaução contra problemas e dificuldades, ou ainda, aproveitando melhor possíveis benefícios (RODRIGUES, 2001). Há uma relação direta, e necessária, entre o Planejamento Urbano e a possibilidade de a cidade produzir acesso à moradia, para a população de baixa e de média renda. O direito à moradia é ter direito de acesso à habitação, e deve ser garantido a todos pelos instrumentos de planejamento urbano. (BRASIL,1988; BRASIL, 2001). Sobre a relação existentes entre o planejamento urbano e moradia, destaca-se que Ao longo do tempo,o modelo de planejamento urbano nas cidades brasileiras tem fomentado uma ocupação urbana excludente, reservando às populações carentes determinados locais que são geralmente periféricos e de difícil acesso à moradia. (...) As normas relativas ao planejamento e ao uso do solo urbano também encampam importantes instrumentos de representação político-democrática nas cidades, poderosas ferramentas que podem viabilizar o “direito à moradia” para a população. (SILVA,2013. p. 2). Sobre os direitos a serem garantidos à população: Especificamente, com relação ao direito à moradia, verifica-se que este direito está longe de ser garantido a toda população, pois muitas destas estão segregadas e vivem sem nenhum dos direitos que compõem o direito à cidade moderna, como saneamento, 20 transportes coletivos, saúde, educação, segurança, entre outros, e por consequência, tem restrito os direitos de natureza social. (SILVA,2013. p. 3). O artigo XXV da Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 10 de dezembro de 1948, dispõe os critérios necessários, para que a pessoa tenha um padrão de vida capaz de prover o bem-estar a si e a sua família. Entre estes critérios inclui a habitação: Todo ser humano tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar-lhe, e a sua família, saúde e bem-estar, inclusive alimentação, vestuário, habitação, cuidados médicos e os serviços sociais indispensáveis, e direito à segurança em caso de desemprego, doença, invalidez, viuvez, velhice ou outros casos de perda dos meios de subsistência em circunstancias fora de seu controle. (DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS,1948) De acordo com o artigo sexto da Constituição Federal, a moradia é um dos direitos fundamentais de todo cidadão: “Art. 6. São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição. ” (BRASIL,1988). Detalhando e desenvolvendo os artigos 182 e 183, o Estatuto da Cidade, denominação oficial da Lei 10.257 de 10 de julho de 2001 (BRASIL, 2001), regulamenta o capítulo referente à “Política Urbana” da Constituição Federal. O Estatuto tem a moradia como um dos direitos fundamentais da pessoa humana e destaca a competência da União neste contexto, conforme destacado a seguir: Art. 2o A política urbana tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e da propriedade urbana, mediante as seguintes diretrizes gerais: I – Garantia do direito a cidades sustentáveis, entendido como o direito à terra urbana, à moradia, ao saneamento ambiental, à infraestrutura urbana, ao transporte e aos serviços públicos, ao trabalho e ao lazer, para as presentes e futuras gerações. (BRASIL, 2001) Art. 3o Compete à União, entre outras atribuições de interesse da política urbana: III - promover, por iniciativa própria e em conjunto com os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, programas de construção de moradias e melhoria das condições habitacionais, de saneamento básico, das calçadas, dos passeios públicos, do mobiliário urbano e dos demais espaços de uso público. (BRASIL, 2001). O Estatuto da cidade (BRASIL, 2001) apresenta, também, entre seus instrumentos de planejamento municipal, o plano diretor, a disciplina do parcelamento do uso e ocupação do solo, o zoneamento ambiental, o plano plurianual, as diretrizes orçamentárias e orçamento anual, a 21 gestão de orçamentária e orçamento anual, a gestão orçamentária participativa, planos, programas e projetos setoriais, planos de desenvolvimento econômico e social. No âmbito da saúde, a Lei 8.080 (BRASIL, 1990) dispõe sobre as condições básicas para promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes e cita a moradia como fator determinante e condicionante para saúde do indivíduo: Art. 3o Os níveis saúde expressam a organização social e econômica do País, tendo a saúde como determinantes e condicionantes, entre outros, a alimentação, a moradia, o saneamento básico, o meio ambiente, o trabalho, a renda, a educação, a atividade física, o transporte, o lazer e acesso aos bens e serviços essenciais. (BRASIL, 1990). Os termos moradia e habitação comumente são utilizadas de forma indistinta, tanto em documentos legais, textos acadêmicos e debates sociais. No entanto, dependendo do contexto em que se utiliza, se torna de suma importância identificar as distinções entre esses termos. 2.2 Moradia e habitação Souza (2004), percebendo a necessidade de distinguir os termos moradia e habitação, explica: “Moradia é o elemento essencial do ser humano e um bem extrapatrimonial [...] Habitação é o exercício efetivo da moradia sobre determinado bem imóvel. ” (SOUZA,2004. p. 45) No caso da habitação, o enfoque é o local, o bem imóvel, ou seja, o objeto verbi gratia, porque se exerce a habitação numa hotelaria, numa casa de praia, em flats etc. E, no caso do conceito de moradia, concebemo-la sob o enfoque subjetivo, pois pertence à pessoa o exercício da moradia, sendo-lhe inerente (SOUZA, 2004. p. 46). Sobre o direito à habitação, Garcia (2013) destaca que: O direito à habitação implica normas legais de sua conscientização e mais normas de referência necessária – ou, em outras palavras, normas legais de meio ambiente, atinentes à habitação e à urbanização, à cidade. [...] O direito à cidade, pelo qual o direito à habitação se concretiza, constitui, conjuntamente, em direito social e um direito político, feição que assume pela via da democracia participativa nas decisões sobre assuntos de âmbito social, numa sociedade de consentimento. (GARCIA,2013. p.121). 22 Medeiros (2016), descreve claramente as diferenças entre habitação e moradia, destacando que: [...] por habitação se entende a estrutura material que abriga e serve de referência para uma pessoa ou para uma família. [...] por moradia se entende uma exigência que decorre da própria situação humana, referente à necessidade de o homem proteger-se das intempéries e possuir um espaço que sirva como referencial para sua vida social. (MEDEIROS,2016. p. 3). Em outras palavras, não seria apropriado dizer que o direito à moradia de uma pessoa é sua casa, sua habitação. Pelo contrário, a estrutura material que lhe serve de abrigo é o objeto que satisfaz a necessidade permanente dessa pessoa de efetivar o seu direito à moradia. (MEDEIROS,2016. p. 3). A materialização do direito à alimentação se dá com o alimento, com a comida. No entanto, o direito à alimentação não é o mesmo que a comida. Esta última é o objeto que permite a satisfação do direito. O mesmo se dá com o direito à moradia, que se concretiza na posse de uma habitação, seu objeto satisfativo. (MEDEIROS,2016. p. 4). Na visão de Rodrigues (2001) De alguma maneira é preciso morar. No campo, na pequena cidade, na metrópole, morar como vestir, alimentar, é uma das necessidades básicas dos indivíduos. Historicamente mudam as características da habitação, no entanto é sempre preciso morar, pois não é possível viver sem ocupar espaço. No interior da casa é onde se realizam outras necessidades; além de se ter um abrigo, é onde se dorme, tem privacidade, faz-se as refeições, realiza-se higiene pessoal, convive-se com o grupo doméstico, etc. A moradia também é local de trabalho: sempre se trabalha na casa para a própria manutenção, como lavar, cozinhar, passar e, muitas vezes, para a concretização de um valor em dinheiro para subsistência. (RODRIGUES, 2001, p.11) A habitação é uma expressão direta das mudanças de valores, imagens, percepções e modos de vidas que afeta o comportamento e a maneira de viver seus moradores. A forma de habitação ainda é afetada pelaforma da cidade, por suas áreas de lazer, suas áreas não domésticas, seus locais de reunião e pela maneira como são usados como são usados. O modo com que se utiliza o espaço urbano influi muito na forma da habitação, através de várias transições para a rua e daí para as outras partes da cidade. (DIAS, 1989) A importância da moradia adequada para todos, indivíduos, famílias e comunidades, é óbvia. A moradia e as questões a ela ligadas são de interesse de todos e estão constantemente no centro das atenções públicas. Apesar disso, bilhões de pessoas vivem em condições inadequadas de moradia no mundo, inclusive nos países ricos. Sobre o crescimento populacional, a falta de habitação, e os direitos básicos não atendidos 23 a população destaca-se que: Nasce gente depressa demais no Brasil. Na Copa do Mundo de 1970, éramos 90 milhões em ação num país desigual; em 30 anos, dobramos a população e multiplicamos os problemas sociais. Otimistas irresponsáveis, procuramos consolo para essa explosão demográfica absurda nos dados do IBGE que mostram queda progressiva da natalidade nos últimos 50 anos. De fato, a média de 6,2 filhos por mulher brasileira existente em 1950 caiu para 4,4 filhos em 1980 e para 2,3 no ano 2000. [...] O número de brasileiros duplicou, a periferia das cidades incha sem parar, não conseguimos construir escolas, hospitais e habitações para atender à demanda crescente, nem cadeias no ritmo necessário para acompanhar a velocidade com que os bandidos arregimentam seguidores nas comunidades carentes. (VARELLA,2002). Garcia (2013) complementa alertando sobre o excesso populacional e suas consequências: É o que se verifica nas cidades supervoadas: O excesso de demanda aos mesmos serviços públicos, a moradia, ao emprego, a extrema proximidade dos grupos humanos em locais reduzidos e o prejuízo à intimidade, a vida privada, a falta de ocupação, enfim fatos comuns da centralização de muitos no mesmo espaço levam ao acirramento de atitudes intolerantes indiscriminada, contra e contra todos, à de sagração da família. (GARCIA, 2013. p. 118). Em 1996, Limmer (1996) já mencionava o problema do déficit nacional brasileiro, e citava o planejamento como um dos processos para se conseguir atender a demanda e sanar o problema do déficit habitacional brasileiro: O Brasil cresce a uma taxa de cerca de 5% e sua população, aproximadamente, de 2% ao ano. Existe hoje um déficit habitacional estimando em torno de 12 milhões de habitações. Admitindo-se que haja um programa para construir 1 milhão de habitações por ano, seriam necessários 12 anos para cobrir esse déficit. Entretanto, nesses 12 anos a demanda aumentará anualmente cerca de 700 mil novas habitações. Isso envolve não só a habitação propriamente dita, mas também toda a parte de infraestrutura: saneamento, transporte, energia, comunicações e abastecimento é preciso criar meios para atender essa demanda. O caminho está no incremento da educação e da saúde públicas, bem como no desenvolvimento e aplicação de tecnologias, métodos e processos de construção que melhorem a qualidade e o custo do produto, sendo o planejamento um desses processos. (LIMMER, 1996, p. 6). Em relação à construção de moradias para a população de baixa renda, Carpinteiro (1997) destaca a formulação da política habitacional no Brasil nas décadas de 20 e 30: Lembramos que, até os anos 20, encontramos iniciativas isoladas no campo da construção de moradias para a população de baixa-renda. Tais iniciativas ficavam sob a responsabilidade dos municípios, ou então, dos empresários e das construtoras particulares. A partir dos anos 30, mudanças ocorrem na história das resoluções dos problemas de edificação de moradias para a população carente. Isto porque todas as 24 questões que vinham anteriormente sendo debatidas pelos médicos, políticos e empresários passaram a ser encapadas pelo Estado. (CARPINTÉRO,1997, p. 11) [...] foi no decorrer dos encontros, palestras e reuniões do instituto de Engenharia, que o urbanismo moderno, a partir dos anos 20, passou a adquirir novos adeptos em todo Brasil. Foi também o Instituto de Engenharia o responsável pela realização do Primeiro Congresso de habitação, no ano de 1931, em São Paulo. Cabe ressaltar a importância assuntos concernentes à habitação econômica no Brasil. (CARPINTÉRO,1997, p. 74) Com a grande demanda de moradias a serem construídas por iniciativas governamentais, o planejamento e o gerenciamento se tornam fundamentais para garantir a redução de custos, controle de tempo e risco, e melhoria da qualidade. Sobre a relação entre a gestão de projeto e prazo, custo e qualidade da obra, Limmer (1996) afirma que: O gerenciamento de um projeto tem por objetivo executá-lo de modo a que sejam atingidos os padrões de prazo, custo e qualidade previamente estabelecidos. O prazo de execução é determinado a partir do elenco de atividades, a serem executadas, da sua sequência lógica, do seu inter-relacionamento, da metodologia e dos processos de execução e da disponibilidade dos recursos necessários. O custo deriva dos mesmos fatores alinhados para prazo de execução e, também, da disponibilidade de recurso financeiro, o qual, em última análise, retroalimenta a determinação do prazo. [...] A qualidade tem um elevado custo de implementação, custo este que é recuperado, porém, ao longo de sua operacionalização. “ (LIMMER, 1996, p. 187,188). Oliveira (2015) salienta a importância do planejamento e gestão para construção diária, de uma sociedade idealizada e desejada por seus habitantes: Agentes qualificados, planejamento realista, gestão competente e mecanismos adequados tornam-se indispensável para alcançar este objetivo. (...) de importância fundamental e indispensável na ação governamental: o planejamento. A ação governamental não pode ser fruto da improvisação. É mister que seja precedida de planejamento, cuja a ideia está intrínseca e infestável do seu conceito. (OLIVEIRA,2005, p. 213, 219.) Tal ação deve se fazer presente nas Habitações de Interesse Social. 2.3 O planejamento e o gerenciamento de Habitações de Interesse Social (HIS) Sobre o planejamento e gerenciamento de obras de Habitações de Interesse social - HIS, enfatiza-se que 25 O conhecimento mais abrangente do gerenciamento habitacional pode tornar possível a diminuição das perdas, a redução dos custos e a melhoraria da qualidade das Habitações de Interesse Social. Esta realidade tem gerado a necessidade de se desenvolver um sistema de gestão adaptado para a construção de Habitações de Interesse Social, de forma a permitir que o planejamento garanta um melhor treinamento da mão-de-obra e a implantação de um controle da qualidade com foco na produtividade e no menor custo dos empreendimentos além de maior qualidade e durabilidade da habitação. (PEREIRA, 2009, p. 1). Por planejamento entende-se o Processo por meio do qual se estabelecem objetivos, discutem-se expectativas de ocorrências de situações previstas, veiculam-se informações e comunicam-se resultados pretendidos entre pessoas, entre unidades de trabalho, entre departamento de uma empresa e mesmo, entre empresas. (LIMMER, 1996, p.15). Quando ao Gerenciamento de projetos, Limmer (1996) destaca que O gerenciamento de um projeto é, portanto, a coordenação eficaz e eficiente de recursos de diferentes tipos, como recursos humanos, materiais, financeiros, políticos, equipamentos, e de esforços necessários para obter-se o produto final desejado – a obra construída-, atendendo-se a parâmetros preestabelecidos de prazo, custo, qualidade e risco. Por outro lado, gerenciar um projeto é assegurar também que o mesmo seja planejado em todas as suas fases, permitindo, através de mecanismos de controle, uma vigilância contínua onde os impactos de prazos e/ou custossejam analisados e projetados para um horizonte de curto e médios prazos, possibilitando antecipar decisões gerenciais que garantem a execução do projeto no curso desejado. (LIMMER, 1996, p.12). Para se atingir um padrão de qualidade, o planejamento, gestão e controle são fundamentais. Numa época que se fala em qualidade e, por via de consequência, em produtividade, é preciso que o gerenciamento de um projeto seja feito como um todo, concatenando-se recursos humanos, materiais, equipamentos e também políticos, de forma a obter-se o produto desejado – a obra construída – dentro dos parâmetros de prazo, custo, qualidade e risco previamente estabelecidos. Para tanto é necessário planejar e controlar o projeto, visto que planejar e controlar são atividades mutuamente exclusivas: Uma não existe sem a outra. (LIMMER, 1996, p. 2) A preocupação com a qualidade é enfatizada desde meados do século XX, Os médicos e os higienistas procuravam apontar os inúmeros problemas decorrentes da cidade industrial. Entre estes problemas, constatamos a preocupação do saber médico com o meio ambiente da população pobre; as pesquisas e as teses médicas ressaltavam a importância da penetração dos fluídos como a água, a luz e o ar no interior das casas dos trabalhadores urbanos. (...) (CARPINTEIRO, 1997, p. 73) 26 Comumente utilizado nos sistemas de gestão como uma padronização que identifica e conceitua processos, áreas de conhecimento, ferramentas e técnicas, boas práticas em gestão de projetos, o Guia PMBOK® (Um Guia do Conhecimento em Gerenciamento de Projetos), fornece diretrizes para o gerenciamento de projetos individuais e define os conceitos relacionados com o gerenciamento de projetos. “ Este Guia PMBOK® identifica um subconjunto de conhecimentos em gerenciamento de projetos geralmente reconhecidos como boas práticas. Este Guia PMBOK® e uma base sobre a qual as organizações podem criar metodologias, politicas, procedimentos, regras, ferramentas e técnicas e fases do ciclo de vida necessários para a pratica do gerenciamento de projetos. (PROJECT MANAGEMENT INSTITUTE, 2017, p.38) 2.4 Um Guia do Conhecimento em Gerenciamento de Projetos O Project Management Institute – PMI (2017), na 6ª. edição do PMBOK, define dez áreas de gerenciamento de projetos, conforme destacado a seguir: • O gerenciamento da integração do projeto, a fim de atender os requisitos dos projetos e gerenciar as expectativas das partes interessadas “inclui características de unificação, consolidação, comunicação inter-relacionamentos. Estas ações devem ser aplicadas desde o início do projeto até a sua conclusão”. (PROJECT MANAGEMENT INSTITUTE, 2017, p.105). • O gerenciamento do escopo do projeto, tem como objetivo definir e controlar se o que está sendo realizado está sendo cumprido conforme definição na etapa do planejamento. “A conclusão do escopo do projeto é medida em relação ao plano de gerenciamento do projeto. A conclusão do escopo do produto é medida em relação aos requisitos do produto” (PROJECT MANAGEMENT INSTITUTE, 2017, p. 710). • O gerenciamento de tempo do projeto, “garante ao projeto um término pontual, tem entre seus processos, o planejamento e gerenciamento do cronograma; definição e sequenciamento das atividades; estimativas dos recursos pelas atividades e das durações de cada atividade; e o desenvolvimento e controle do cronograma de todo os projetos. ” (PROJECT MANAGEMENT INSTITUTE, 2017, p. 209). http://www.projectbuilder.com.br/blog-pb/entry/estrategia/5-ferramentas-de-gestao-simples-que-nao-podem-faltar-em-um-projeto 27 • O gerenciamento de custos do projeto, abrange os “processos envolvidos em planejamento, estimativas, orçamentos, financiamentos, gerenciamento e controle dos custos, de modo que o projeto possa ser terminado dentro do orçamento aprovado. ” (PROJECT MANAGEMENT INSTITUTE, 2017, p. 589). • O gerenciamento da qualidade do projeto, “inclui os processos para incorporação da política de qualidade da organização com relação ao planejamento, gerenciamento e controle dos requisitos de qualidade do projeto e do produto para atender as expectativas das partes interessadas. ” (PROJECT MANAGEMENT INSTITUTE, 2017, p. 589). • O gerenciamento dos recursos humanos do projeto, contém para identificar, adquirir e gerenciar os recursos necessários para a conclusão bem-sucedida do projeto” (PROJECT MANAGEMENT INSTITUTE, 2017, p. 60). • O gerenciamento das comunicações do projeto “inclui os processos necessários para garantir que as necessidades de informações do projeto e de suas partes interessadas sejam satisfeitas, com o desenvolvimento de artefatos e a implementação de atividades projetadas para realizar a troca eficaz de informações”. (PROJECT MANAGEMENT INSTITUTE, 2017, p. 395). Também visa “assegurar que as informações do projeto sejam planejadas, coletadas, criadas, distribuídas, armazenadas, recuperadas, gerenciadas, controladas, monitoradas e finalmente dispostas de maneira oportuna e apropriada” (PROJECT MANAGEMENT INSTITUTE, 2017, p. 60). • O gerenciamento dos riscos do projeto “inclui os processos de condução do planejamento, da identificação, da análise, do planejamento das respostas, da implementação das respostas e do monitoramento dos riscos em um projeto. O gerenciamento dos riscos do projeto tem por objetivo aumentar a probabilidade e/ou o impacto dos riscos positivos e diminuir a probabilidade e/ou o impacto dos riscos negativos, a fim de otimizar as chances de sucesso do projeto.” (PROJECT MANAGEMENT INSTITUTE, 2017, p. 431). • O gerenciamento das aquisições do projeto, engloba “os processos necessários para comprar ou adquirir produtos, serviços ou resultados externos à equipe do projeto.” (PROJECT MANAGEMENT INSTITUTE, 2013, p. 60). 28 • O gerenciamento das partes interessadas possibilita o gerente de projetos “identificar todas as pessoas, grupos ou organizações que podem impactar ou serem impactados pelo projeto, analisar as expectativas das partes interessadas, seu impacto no projeto e desenvolver estratégias de gerenciamento apropriadas para o engajamento eficaz das partes interessadas nas decisões e na execução do projeto” (PROJECT MANAGEMENT INSTITUTE, 2017, p. 503). Neste contexto, visando aprimorar os sistemas de gestão de obras brasileiras, Em dezembro de 1998, foi instituído pelo Governo Federal, com abrangência nacional, o Programa Brasileiro da Qualidade e Produtividade na Construção Habitacional. [...] O PBQP-H, foi criado em 1991, com a finalidade de difundir os novos conceitos de qualidade, gestão e organização da produção que estão revolucionando a economia mundial, indispensáveis à modernização e competitividade das empresas brasileiras, [...] definindo assim o seu objetivo: “Elevar os patamares da qualidade e produtividade da construção civil, por meio da criação e implantação de mecanismos de modernização tecnológica e gerencial, contribuindo para ampliar o acesso à moradia para a população de menor renda” (PBQP-H, 2017). 2.5 Os programas de qualidade Tendo em vista que o desenvolvimento da construção civil, voltados para construções de HIS, é necessário a existência de padrões mínimos técnicos para que esse tipo de empreendimento atendam as obrigatoriedades das normas vigentes. A Cohab Minas, buscam contratar empresas que possuam certificados do seu sistema de gestão da qualidade. A Companhia aderiu ao Programa Mineiro da Qualidade e Produtividade no Habitat – PMQP, criado pelo Decreto 43.418/2003, na intenção de alcançar a melhoria da qualidade da construção, garantindo a satisfação total dos clientes finais, bem como a boa aplicação dos recursos públicos, maior vida útil das obras públicas, menor custo de manutenção, cumprimento dos prazos e atendimento aos requisitos especificados pelo programa. (COHABMINAS, 2019). O PMQP-H tem suasdiretrizes embasadas no Programa Brasileiro da Qualidade e Produtividade no Habitat – PBQP-H (Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade na Construção habitacional). Instituído pelo governo federal o – PBQP-H tem como objetivo organizar o setor da construção, em torno da melhoria da qualidade do habitat e a modernização produtiva. (PBQP-H,2019) Ele serve como critério para distribuição de recurso para o mercado de habitação, garantindo a qualidade da habitação. Albuquerque (2013), explica a atuação do 29 programa, forma como vem atuando até os dias de hoje: O PBQP-H e um programa que atua com todos os intervenientes da construção civil, como: empresas de materiais, componentes e sistemas construtivos, sistemas inovadores de construção e construtoras. (CERTIFICACAOISO,2019). O PBQP_H funciona como um sistema de gestão de qualidade e foi modificada no dia 14 de junho de 2018, conforme alterações anunciadas na Portaria n° 383 do SiAC- Edificações. Essas alterações, facilitou a adaptação das empresas e apresenta o Regimento Específico da Especialidade Técnica Execução de Obras do SiAC, e serve como os referenciais normativos para os níveis B e A, que são níveis de adesão de caráter evolutivo (PBQP-H, 2019). No caso das edificações do nosso objeto de estudo, para Cohab Minas é exigido o nível A, ou seja, 100% de controle da gestão de recurso e materiais: Desde abril de 2010, a Cohab Minas exige o Certificado de Habilitação do PMQP-H no nível “A”, como requisito de habilitação de empresas em suas licitações. Dessa forma, as empresas interessadas em prestar serviços de qualidade à Cohab Minas devem se adaptar às novas condições que certamente trarão benefícios tanto para a COHAB e seus usuários finais como para a própria empresa, que poderá aprimorar a qualidade de seus serviços, aumentando a competitividade e melhorando os processos internos. (COHABMINAS, 2019) Com alterações em 2018, foi necessário um alinhamento maior com a ISO 9001:2015 que permite que empresas que buscam a certificação no Nível “A” do Regimento Normativo do PBQP-h, também possam se certificar nos requisitos da ISO 9001, lembrando que ABNT NBR ISO 9001 é a versão brasileira da norma internacional ISO 9001 que estabelece requisitos para o Sistema de Gestão da Qualidade (SGQ). Sendo assim as empresas do setor da construção civil devem comprovar padrões de qualidade para participar dos incentivos criados pelo Governo Federal: Um dos projetos propulsores do PBQP-H é o Sistema de Avaliação da Conformidade de Empresas de Serviços e Obras (SiAC), que é o resultado da revisão e ampliação do antigo SiQ (Sistema de Qualificação de Empresas de Serviços e Obras). O SiAC tem como objetivo avaliar a conformidade do sistema de gestão da qualidade das empresas de serviços e obras, considerando as características específicas da atuação dessas empresas no setor da construção civil, e baseando-se na série de normas ISO 9000.O Sistema busca contribuir para a evolução dos patamares de qualidade do setor, envolvendo especialidades técnicas de execução de obras, serviços especializados de execução de obras, gerenciamento de obras e de empreendimentos e elaboração de projetos. (PBQP-H, 2019). 30 Em 2017 entre os requisitos normativos do PQBH em 2017 foi incluído a NBR 15775 Norma de desemprenho 15575 – Edificações habitacionais – Desempenho. A aplicabilidade dessa norma é específica para edificações habitacionais. Ela não se aplica aos outros dois segmentos do PQBH: saneamento, obras viárias e especiais. Para este trabalho será efetuada um estudo dos requisitos básicos de habitabilidade necessários nas construções de HIS baseados na ABNT NBR 15575:2013 – Edificações habitacionais – Desempenho e a NBR 15220:2005 - Zoneamento bioclimático brasileiro e diretrizes construtivas para habitações unifamiliares de interesse social. 2.6 A normalização A Norma Brasileira NBR 15575:2013, da Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT, conhecida como Norma de Desempenho, tem o desafio de promover uma melhoria na qualidade das edificações, apresentando conceito de comportamento em uso de uso de componentes e sistemas, para que a construção habitacional atendas exigências dos usuários, mesmo com passar dos anos. Esta Norma foi publicada em 2010 e entrou em vigor em 19 de julho 2013. Inicialmente, a sua aplicação era válida para edificações de até cinco pavimentos, atualmente estendeu-se para toda e qualquer edificação residencial, independentemente do número de pavimentos, geminadas ou isoladas. Por Norma de desempenho entende-se o “conjunto de requisitos e critérios estabelecidos para uma edificação habitacional e seus sistemas, com base em exigências do usuário, independentemente da sua forma ou dos materiais constituintes. ” (NBR 15575-1, 2013, p 9). Ela visa oferecer aos seus usuários a garantia de qualidade das edificações residenciais a partir de requisitos mínimos. A NBR 15575-6 (, 2013, p.2), sob título geral Edificações Habitacionais- Desempenho, tem contém as seguintes partes: – Parte 1: Requisitos Gerais; – Parte 2: Requisitos para os sistemas estrutura; – Parte 3: Requisitos para os sistemas de pisos; – Parte 4: Requisitos para os sistemas de vedações verticais internas e externas; – Parte 5: Requisitos para os sistemas de coberturas; – Parte 6: Requisitos para os sistemas hidrossanitários. 31 A parte 1, denominada Requisitos Gerais, apresenta uma lista geral de exigência dos usuários e é utilizada “como referência para o estabelecimento dos requisitos e critérios” (NBR 15575-1,2013, p.11): Segurança - As exigências do usuário relativas à segurança são expressas pelos seguintes fatores: segurança estrutural, segurança contra o fogo, segurança no uso e na operação. Sustentabilidade -As exigências do usuário relativas à sustentabilidade são expressas pelos seguintes fatores: durabilidade, manutenibilidade e impacto ambiental. Habitabilidade -As exigências do usuário relativas à habitabilidade são expressas pelos seguintes fatores: estanqueidade, desempenho térmico, desempenho acústico, desempenho lumínico, saúde, higiene e qualidade do ar, funcionalidade e acessibilidade, conforto tátil e antropodinâmico. Os requisitos de habitabilidade interferem diretamente na qualidade de vida dos usuários. Por isso nesse trabalho, será feita a análise desses requisitos. Uma análise de forma geral, baseado nessa primeira parte da norma e, uma análise de maneira mais específica, dos requisitos de habitabilidade de cada um dos principais sistemas da edificação, baseado na parte 2 a 6 da norma. A NBR 15575-2 (2013) estabelece “Requisitos para sistemas estruturais”, como, por exemplo, o critério de estabilidade e resistência da edificação e métodos para medir que tipos de impactos a estrutura pode aguentar sem apresentar falhas, fissuras ou rachaduras. Esta parte da norma não será abordada no nosso trabalho, já que as referências neste item para os requisitos de habitabilidades, estão todas contidos na primeira parte da norma. Na parte 3 da ABNT NBR 15575 :2013, Requisitos para os sistemas de pisos, são estabelecidos requisitos técnicos de segurança para o usuário, resistência ao fogo, estanqueidade e durabilidade para os sistemas de pisos, estando eles em ambientes internos ou externos” (BATAGLIN ,2014, p.32). O conceito de sistemas de pisos é explicado na Norma e demostrados na figura 9 abaixo: Sistema de piso: sistema horizontal ou inclinado composto por um conjunto parcial ou total de camadas (por exemplo, camada estrutural, camada de contrapiso, camada de fixação, camada de acabamento) destinado a atender à função de estrutura, vedação e tráfego (NBR 15.575 -3, 2013 p. 5). 32 Figura 1 - Exemplo genérico de um sistema de pisos e seus elementos Fonte: NBR 15575-3,2013, p. 5Os sistemas de pisos devem impedir a ascensão da umidade proveniente do solo e os pisos das áreas molhadas e devem impedir a passagem de umidade para outros elementos construtivos. (NBR 15575-3,2013, p. 17). Os sistemas de vedações verticais “não devem ser tratados como uma parte isolada, mas sim como uma parte que pode ser influenciada e que pode influenciar bastante os outros elementos da construção.” (PIRES, 2015, p11). E são definidos na quarta parte da ABNT (2013): Esta Parte da ABNT NBR 15575 trata dos sistemas de vedações verticais internas e externas das edificações habitacionais, que, além da volumetria e da compartimentação dos espaços da edificação, integram-se de forma muito estreita aos demais elementos da construção, recebendo influências e influenciando o desempenho da edificação habitacional. (NBR 15575-4,2013. p. 2). Sistemas de vedação vertical interno e externo (SVVIE): Partes da edificação habitacional que limitam verticalmente a edificação e seus ambientes, como as fachadas e as paredes ou divisórias internas. (NBR 15575-4,2013. p. 4). Os desempenhos estabelecidos para os sistemas de vedação vertical em uma edificação - basicamente, o conjunto de paredes e esquadrias (portas, janelas e fachadas) - referem-se a requisitos como estanqueidade ao ar, à água, a rajadas de ventos e ao conforto acústico e térmico. (PIRES, 2015, p11) A parte 5 da NBR 15575:2013 estabelece critérios par o “Sistema de coberturas”, uma das partes essenciais mais importante na edificação e que interfere diretamente nos demais elementos 33 que a compõe. Sistemas de coberturas é definido como: Conjunto de elementos / componentes, dispostos no topo da construção, com as funções de assegurar estanqueidade às águas pluviais e salubridade, proteger demais sistemas da edificação habitacional ou elementos e componentes da deterioração por agentes naturais, e contribuir positivamente para o conforto termo acústico da edificação habitacional. (NBR 15575-5,2013. p. 6). O sistema hidrossanitários é definido como um "sistema hidráulico predial destinado a suprir os usuários com água potável fria e/ou quente e água de reuso, e a coletar e afastar os esgotos sanitários, bem como coletar e dar destino às águas pluviais”. (NBR 15575-3,2013, p. 6). Em resumo, nesta parte da norma, tem compreendido no seu escopo os seguintes sistemas hidráulicos. (NBR 15575-6,2013, p 3). - Sistemas prediais de água fria e de água quente; - Sistemas prediais de esgoto sanitário e ventilação, e - Sistemas prediais de águas pluviais Em relação aos requisitos de habitabilidade observados neste trabalho, serão estudados a seguir item a item, com a intenção de selecionar critérios de desempenhos. Em seguida será feita uma análise de conformidade, sendo necessário quantificar as especificações dos requisitos de desempenho abordados nessa norma. 2.6.1 Estanqueidade A parte 3 da NBR 15575:2013 define estanqueidade como a “propriedade de um elemento ou de um conjunto de componentes de impedir a penetração ou passagem de fluídos através de si. ” (NBR 15575-2,2013, p.5). Em todas as suas partes a Norma frisa a importância da consideração desse item: A exposição à água de chuva, à umidade proveniente do solo e aquela proveniente do uso da edificação habitacional, deve ser considerada em projeto, pois a umidade acelera os mecanismos de deterioração e acarreta a perda das condições de habitabilidade e de higiene do ambiente construído. (NBR 15575-1,2013, p.19). A água é o principal agente de degradação de um amplo grupo de materiais de construção. Ela está presente no solo, na atmosfera, nos sistemas e procedimentos de higiene da habitação e, portanto, em permanente contato com alguns dos seus elementos ou sistemas. O adequado controle da umidade em uma edificação habitacional ou 34 sistema é a chave para o controle de muitas manifestações patológicas que abreviam sua vida útil, reduzindo seu valor de uso e de troca de uma habitação. (NBR 15575-3,2013, p.18) Entre os principais requisitos de estanqueidade “estão a assegurar a estanqueidade às fontes de umidades externas - como da água da chuva e do lençol freático, e assegurar estanqueidade das fontes de umidade interna de edificação - como água utilizada na operação e manutenção do imóvel. Assim como, assegurar a estanqueidade nas vinculações entre água, esgoto e pluvial com a estrutura, pisos e paredes. Os detalhes das premissas que devem ser previstos no projeto para prevenção e de infiltração da água da chuva e a umidade do solo nas habitações são indicados abaixo: -Condições de implantação dos conjuntos habitacionais, de forma a drenar adequadamente a água de chuva incidente em ruas internas, lotes vizinhos ou mesmo no entorno próximo ao conjunto; -Impermeabilização de porões e subsolos, jardins contíguos às fachadas e quaisquer paredes em contato com o solo, ou pelo direcionamento das águas, sem prejuízo da utilização do ambiente e dos sistemas correlatos e sem comprometer a segurança estrutural; -Impermeabilização de fundações e pisos em contato com o solo; -Ligação entre os diversos elementos da construção (como paredes e estrutura, telhado e paredes, corpo principal e pisos ou calçadas laterais). (NBR 15575-1,2013, p.19). Os sistemas de pisos devem impedir a ascensão da umidade proveniente do solo e os pisos das áreas molhadas e devem impedir a passagem de umidade para outros elementos construtivos. (NBR 15575-3,2013, p. 17). No caso das vedações verticais, elas devem impedir a infiltração de água proveniente de chuvas incidentes ou de outras fontes. (NBR 15575-4,2013, p. 20). Ao falar sobre a estanqueidade da água de chuva pelas vedações externas, as premissas dos projetos são bem claras: O projeto deve indicar os detalhes construtivos para as interfaces e juntas entre componentes, a fim de facilitar o escoamento da água e evitar a sua penetração para o interior da edificação. Esses detalhes devem levar em consideração as solicitações a que os componentes da vedação externa estarão sujeitos durante a vida útil de projeto da edificação habitacional. O projeto deve contemplar também obras de proteção no entorno da construção, a fim de evitar o acúmulo de água nas bases da fachada da edificação. (NBR 15575-4,2013, p. 22). Sendo assim, “os sistemas de vedação vertical externa da edificação habitacional, 35 incluindo a junção entre a janela e a parede devem permanecer estanques e não apresentar infiltrações que proporcionem borrifamentos, ou escorrimentos ou formação de gotas de água aderentes na face interna, podendo ocorrer pequenas manchas de umidade”. (NBR 15575-4,2013, p. 21). Quando se fala em sistemas de coberturas considera-se que “ao longo da vida útil de projeto, devem ser evitados a penetração ou infiltração de água que possa acarretar escorrimento ou gotejamento.” (NBR 15575-5,2013, p. 19). O sistema de cobertura deve também “drenar a máxima precipitação passível de ocorrer, na edificação habitacional, não permitindo empoçamentos ou extravasamentos para o interior da edificação habitacional.” (NBR 15575- 4,2013, p. 21) No caso dos sistemas hidrossanitários -instalações de água, esgoto e pluvial- “devem apresentar estanqueidade quando sujeitas as pressões previstas nos projetos.” No caso, “as calhas, com todos seus componentes de água pluviais, devem ser estanques.” (NBR 15575-6,2013, p. 14 e 15). 2.6.2 Desempenho Térmico Uma das maneiras para verificar o atendimento ao desempenho térmico, é o processo simplificado, que tem como base a transmitância térmica (U) e capacidade térmica das paredes de fachadas e coberturas (CT), conforme a NBR 15575-4:2013 e A NBR 15575-5:2013, respectivamente. Primeiramente é importante entender as definições de transmitância térmica e capacidade térmica: Transmitância térmica - transmissãode calor em unidade de tempo e através de uma área unitária de um elemento ou componente construtivo; neste caso, dos vidros e dos componentes opacos das paredes externas e coberturas, incluindo as resistências superficiais interna e externa, induzida pela diferença de temperatura entre dois ambientes. (NBR 15.575 – 1,2013, p. 6) Capacidade térmica - quantidade de calor necessária para variar em uma unidade a temperatura de um sistema em KJ/ (m². K). (NBR 15.575 – 1,2013, p. 6) Para a verificação na avaliação do desempenho térmico das edificações é necessário o conhecimento da zona bioclimático em que se localiza a mesma. Para isso foi usado a NBR 15220-3:2003. O Brasil, por ter uma grande extensão territorial, foi dividido em 8 zonas, 36 conforme Figura 2. Figura 2 - Zoneamento bioclimático brasileiro Fonte: NBR 15220:2003, p.3 A norma especifica valores máximos e mínimos de transmitância térmica e capacidade térmica para proporcionar o desempenho térmico mínimo para cada zona bioclimática. Os valores máximos de transmitância térmica das paredes externas estão apresentados na tabela 1 e os valores mínimos admissíveis para capacidade térmica das paredes externas são apesentados na tabela 2 abaixo: 37 Tabela 1 - Transmitância térmica de paredes externas: Fonte: NBR 15575- 4,2013, p. 24 Tabela 2 - Capacitância térmica de paredes externas: Fonte: NBR 15575- 4,2013, p. 24 As aberturas para ventilação também influenciam no desempenho térmico. As aberturas, nas fachadas das habitações devem apresentar dimensões adequadas para proporcionar a ventilação interna do ambiente. Os ambientes de permanência prolongada, como salas e dormitórios, devem apresentar condições melhores que externa, ou seja, temperatura igual ou inferior à externa no verão. (NBR 15575- 4:2013, p. 5). Já que a legislação do local da obra, como o código de obras é muito antigo, datado em 27 de novembro 1972, e não serve como exigência de ordem legal, serão utilizados os valores indicados na tabela 3 abaixo, e feito uma relação entre área efetiva da abertura de ventilação e é área do piso no ambiente: 38 Tabela 3 - Área mínima de ventilação em dormitórios e sala de estar Fonte: NBR 15575- 4,2013, p. 25 O sistemas de coberturas é outro sistema importante para analisar o desempenho térmico, ele é “a parte da edificação mais sujeita a exposição da radiação direta do sol, exercendo influência predominante na carga térmica transmitida aos ambientes (casas térreas e último pavimento de sobrados e prédios), influenciando diretamente no conforto térmico dos usuários e no consumo de energia para acionamento de equipamentos de ventilação forçada e/ou condicionamento artificial do ar.” ( Bataglin, 2014,p. 39) O sistemas de coberturas deve apresentar transmitância térmica (U) e absorbância à radiação solar (α) que proporcionem um desempenho térmico apropriado para cada zona bioclimática. Na tabela 4, são indicados os valores máximos desses índices: Tabela 4 - Critérios de cobertura quanto à transmitância térmica Fonte: NBR 15575- 5,2013, p. 24 Os valores da absorvência à radiação solar correspondente à cor da parede da edificação serão definidos para três alternativas de cor: Clara, média e escura, com valores de absorvência 39 igual a 0,3;0,5 e 0,7 respectivamente. (NBR 15575-1:2013, 21). Os valores de capacidade e transmitância térmica serão baseados nas tabelas da NBR 15220-3:2003 de acordo com material constituintes das vedações verticais e da cobertura para análise. O conjunto habitacional estudado é classificado como Zona 1, devendo ter paredes leves e coberturas leves e isoladas. As paredes, avaliadas, são de cores claras e médias, mas as cores não foram levadas em consideração para o estudo, já que para a zona 1 e 2 não existe limite de absorvência à radiação solar na superfície externa da parede (tabela 5) acima. Essas paredes são de aproximadamente 13 cm constituídas por tijolos de 6 furos quadrados ((9,0x 14,0 por 19,0 cm), assentados com 1 cm de argamassa e com espessura de argamassa de emboço de 2,0 cm. Para este tipo de parede a ABNT NBR 15220-3: 2005 indica uma transmitância térmica de 2,48 W/m². K e capacidade térmica de 159 Kj/m².K. Sendo avaliado como conforme, devido ao quesito capacitância térmica ser maior que 130 Kj/m², e tramita cia térmica menor que 2,5 W/m². K. A cobertura, considerada na classificam como cobertura de telha de barro de 1 cm, com capacidade térmica de 4,55 W/m². K, valor consideravelmente maior que 2,30 W/m². O sistema de cobertura não está em conformidade com norma. Pela a região as aberturas de ventilação devem ter 7 % da área do piso. Esse fator foi analisado na tabela abaixo: (Obs.: A 15220 – 3 diverge. Mínimo lá é 15%) Tabela 5 - Conformidade Área do Piso(m²) Área da abertura (m²) Porcentagem (%) Conformidade Quartos 7,66 0,72 9,40 Conforme Sala 7,89 0,72 9,13 Conforme Cozinha 4,54 0,36 7,94 Conforme Banheiro 1,79 0,24 13,4 Conforme Fonte: Próprio autor, 2019. Para o desempenho térmico foi analisado também as corretas posições geográficas. É importante, na avaliação do desempenho térmico, analisar a insolação da edificação, pois a correta posição geográfica garante o conforto térmico do ambiente e a satisfação dos usuários. É aconselhável que as aberturas dos quartos e salas (cômodos de maior permanência no geral) estejam orientadas para leste, para receber o sol da manhã e evitar um super. 40 Aquecimento na parte tarde. Os cômodos de menores permanência podem ser orientados para oeste, onde o sol incide a tarde. A orientação norte é uma boa opção, já que incide sol quase o dia todo. A orientação ao sul, deve receber atenção já que tem pouca incidência solar (figura 19). Figura 3 - Incidência solar Fonte: MORETTI, 2019 2.6.3 Desempenho Lumínico A ABNT NBR 15575:2013 trata tanto da iluminação natural como a artificial e especifica um fator de luz diurna para diferentes ambientes da edificação. O iluminamento geral mínimo para luz natural deve ser de pelo menos 60 lux, e para luz artificial, de pelo menos 100 lux ou 50 luxes em corredores, escadarias e garagens. A iluminação artificial atende as exigências que foram reproduzidas da ABNT 5413:1992 – Iluminância de interiores. A primeira parte da norma em seu item 13.1 Generalidades resumem o que é necessário para satisfazer o desempenho lumínico: Durante o dia, as dependências da edificação habitacional devem receber iluminação natural conveniente, oriunda diretamente do exterior ou indiretamente, através de recintos adjacentes. Para o período noturno, o sistema de iluminação artificial deve proporcionar condições internas satisfatórias para ocupação dos recintos e circulação nos ambientes com conforto e segurança. (NBR 15575-1,2013, p.23). 41 Sobre as premissas do projeto a Norma explica: - Os requisitos de iluminância natural podem ser atendidos mediante adequada disposição dos cômodos (arquitetura), correta orientação geográfica da edificação, dimensionamento e posição das aberturas, tipos de janelas e de envidraçamentos, rugosidade e cores dos elementos (paredes, tetos, pisos etc.), inserção de poços de ventilação / iluminação, eventual introdução de domus de iluminação, etc.; - A presença de taludes, muros, coberturas de garagens e outros obstáculos do gênero não podem prejudicar os níveis mínimos de iluminância especificados; - Nos conjuntos habitacionais integrados por edifícios, a implantação relativa dos prédios, de eventuais caixas de escada ou de outras construções, não pode prejudicar os níveis mínimos de iluminância especificados. (NBR 15575-1, 2013, p 25) Além das premissas, acima citada que devem ser observadas e é importante atentar para comunicação com exterior. É recomendado pela norma que a iluminação
Compartilhar