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CAPÍ T ULO 1 0 Sistema Respiratório Primórdio Respiratório Desenvolvimento da Laringe Desenvolvimento da Traqueia Desenvolvimento dos Brônquios e dos Pulmões Maturação dos Pulmões Resumo do Sistema Respiratório Problemas de Orientação Clínica Os órgãos respiratórios inferiores (laringe, traqueia, brônquios e pulmões) começam a se formar durante a quarta semana do desenvolvimento. Primórdio respiratório O sistema respiratório começa como um crescimento mediano, o sulco laringotraqueal, que aparece no assoalho da extremidade caudal do intestino anterior primitivo (faringe primitiva) (Fig. 10-1B e C; Fig. 10-4A). Esse primórdio da árvore traqueobrônquica se desenvolve caudal ao quarto par de bolsas faríngeas. O endoderma de revestimento do sulco laringotraqueal forma o epitélio pulmonar e as glândulas da laringe, da traqueia e dos brônquios. O tecido conjuntivo, a cartilagem e o músculo liso dessas estruturas se desenvolvem a partir do mesoderma esplâncnico ao redor do intestino anterior (Fig. 10-5A). FIGURA 10-1 A, Vista lateral de um embrião de 4 semana de desenvolvimento ilustrando a relação do aparelho faríngeo com o sistema respiratório em desenvolvimento. B, Secção sagital da metade cranial do embrião. C, Secção horizontal do embrião ilustrando o assoalho da faringe primitiva e a localização do sulco laringotraqueal. Até o final da quarta semana, o sulco laringotraqueal se evaginou (projetou) para formar um divertículo laringotraqueal (broto pulmonar) saculiforme, que está localizado ventral à parte caudal do intestino anterior (Figs. 10-2A e 10-1B). Conforme o divertículo se alonga, este é envolvido pelo mesênquima esplâncnico. Sua extremidade distal se dilata para formar um broto respiratório globular, que representa o broto único do qual a árvore respiratória se origina (Fig. 10-2B). FIGURA 10-2 Estágios sucessivos do desenvolvimento do septo traqueoesofágico durante a quarta e quinta semana. A-C, Vistas laterais da parte caudal da faringe primitiva mostrando o divertículo laringotraqueal e a divisão do intestino anterior em esôfago e tubo laringotraqueal. D-F, Secções transversais ilustrando a formação do septo traqueoesofágico e mostrando como este separa o intestino anterior em tubo laringotraqueal e esôfago. As setas indicam as mudanças celulares resultantes do crescimento. O divertículo laringotraqueal logo se separa da faringe primitiva; entretanto, ele se mantém em comunicação com esta através do canal laríngeo primitivo (Fig. 10-2C). As pregas traqueoesofágicas longitudinais se desenvolvem no divertículo, se aproximam uma da outra, e se fundem para formar uma divisão, o septo traqueoesofágico, até o final da quinta semana (Fig. 10-2D e E). Esse septo divide a porção cranial do intestino anterior em uma parte ventral, o tubo laringotraqueal (o primórdio da laringe, da traqueia, dos brônquios e dos pulmões) e uma parte dorsal (primórdio da orofaringe e do esôfago) (Fig. 10-2F). A abertura do tubo laringotraqueal na faringe torna-se o canal laríngeo primitivo (Figs. 10-2C e 10-4B a D). A separação do intestino anterior tubular único em traqueia e esôfago resulta de um processo complexo e coordenado de múltiplas vias de sinalização e dos fatores de transcrição (Fig. 10-3). FIGURA 10-3 Secção esquemática mostrando a padronização dorso – ventral do intestino anterior (camundongo). O intestino anterior tubular não dividido mostra altos níveis de Sox2, Noggin e Bmp7 no epitélio dorsal que originará o esôfago. O epitélio ventral (ep), que irá contribuir com a traqueia, expressa altos níveis do fator de transcrição Nkx2.1 e moléculas de sinalização Shh e Wnt7b, juntamente com Rhou. O gene Homeobox Barx1 é expresso na demarcação entre a separação do intestino anterior dorsal e ventral. No mesênquima (me) ventral os fatores Wnt2, Wnt2b, Fgf10 e Bmp4 auxiliam na expressão dos genes no epitélio. Defeitos nas vias de sinalização do Shh, Wnt ou Bmp ou mutações do Sox2, Nkx2.1 ou Rhou podem resultar em um desenvolvimento do intestino anterior anormal, levando à atresia esofágica com ou sem fístula traqueoesofágica. Desenvolvimento da laringe O epitélio de revestimento da laringe se desenvolve a partir do endoderma da extremidade cranial do tubo laringotraqueal. As cartilagens da laringe se desenvolvem do quarto e sexto pares de arcos faríngeos (Fig. 10-1A e C). As cartilagens da laringe se desenvolvem do mesênquima que é derivado das células da crista neural. O mesênquima da extremidade cranial do tubo laringotraqueal rapidamente se prolifera, produzindo um par de brotos aritenoides (Fig. 10-4B). Os brotos crescem em direção à língua, convertendo a abertura em forma de fenda, a glote primitiva, em um canal laríngeo em formato de T, reduzindo a luz da laringe em desenvolvimento a uma estreita fenda (Fig. 10-4C). FIGURA 10-4 Estágios sucessivos do desenvolvimento da laringe. A, 4 semanas. B, 5 semanas. C, 6 semanas. D, 10 semanas. O epitélio de revestimento da laringe é de origem endodérmica. As cartilagens e músculos da laringe desenvolvem-se do mesênquima do quarto e sexto pares de arcos faríngeos. Note que o canal laríngeo muda sua forma, de uma abertura semelhante à fenda, para um canal em forma de T, à medida que o mesênquima ao redor da laringe em desenvolvimento se prolifera. O epitélio da laringe se prolifera rapidamente, resultando em uma oclusão temporária da luz da laringe. A recanalização normalmente ocorre por volta da 10ª semana (Fig. 10-4D); os ventrículos da laringe são formados durante o processo de recanalização. Esses recessos são delimitados por pregas da membrana mucosa que se tornam as pregas vocais (cordas) e pregas vestibulares. A epiglote se desenvolve da parte caudal da eminência hipofaríngea, uma proeminência produzida pela proliferação do mesênquima na extremidade ventral do terceiro e quarto arcos faríngeos (Fig. 10-4B-D). A parte rostral dessa eminência forma o terço posterior ou parte faríngea da língua (Fig. 10-4C e D). Devido aos músculos da laringe se desenvolverem dos mioblastos do quarto e sexto pares de arcos faríngeos, esses são inervados pelos ramos laríngeos do nervo vago (nervo craniano X) que suprem esses arcos (Capítulo 9, Tabela 9-1). A laringe é encontrada em uma posição alta no pescoço de neonatos; esse posicionamento permite a epiglote entrar em contato com o palato mole. Isso proporciona uma separação quase completa dos tratos respiratório e digestório, facilitando a amamentação, entretanto, significa também que neonatos respirem pelo nariz quase obrigatoriamente. A descida estrutural da laringe ocorre em torno dos primeiros 2 anos de vida. Atresia laríngea A atresia laríngea (obstrução), uma rara anomalia congênita, resulta da falha da recanalização da laringe, que produz obstrução das vias respiratórias superiores do feto, ou síndrome de obstrução congênita das vias respiratórias superiores. Na região distal da atresia ou estenose (estreitamento), as vias respiratórias tornam- se dilatadas e os pulmões aumentados e preenchidos por líquido. O diafragma está achatado ou invertido e há uma ascite fetal (acúmulo de líquido seroso na cavidade peritoneal) e/ou hidropsia (acúmulo de líquido no espaço intracelular, causando edema severo). A atresia incompleta ou rede laríngea é um defeito no qual o tecido conjuntivo entre as cordas vocais é recoberto por uma membrana mucosa; isto causa uma obstrução nas vias respiratórias e um choro rouco em neonatos. Esse defeito resulta de uma recanalização incompleta da laringe durante a 10ª semana. O tratamento é feito por dilatação endoscópica da rede laríngea. Desenvolvimento da traqueia Durante a separação do intestino anterior, o divertículo laringotraqueal forma a traqueia e duas evaginações laterais, os brotos brônquicos primários (Figs. 10-2C, 10-8A e 10-9). O revestimento endodérmico do tubo laringotraqueal distal à laringe se diferencia no epitélio e glândulas da traqueia e no epitélio pulmonar. A cartilagem, o tecido conjuntivo e os músculos da traqueia são derivados do mesênquimaesplâncnico que envolve o tubo laringotraqueal (Fig. 10-5). FIGURA 10-5 Secções transversais através do tubo laringotraqueal ilustrando os estágios sucessivos de desenvolvimento da traqueia. A, 4 semanas. B, 10 semanas. C, 12 semanas (desenho da micrografia em D). Observe que o endoderma do tubo origina o epitélio e as glândulas da traqueia e o mesênquima ao redor do tubo forma o tecido conjuntivo, músculo e cartilagem. D, Fotomicrografia de uma secção transversal da traqueia com 12 semanas de desenvolvimento. (D, De Moore KL, Persaud TVN, Shiota K: Color atlas of clinical embryology, ed 2, Philadelphia, 2000, Saunders.) Fístula traqueoesofágica A fístula (passagem anormal) entre a traqueia e o esôfago ocorre em 3.000 a 4.500 recém-nascidos (Figs. 10- 6 e 10-7); sendo os bebês do sexo masculino os mais afetados. Em mais de 85% dos casos, a fístula traqueoesofágica (FTE) está associada com a atresia esofágica. A FTE resulta da divisão incompleta da parte cranial do intestino anterior nas partes respiratórias e esofágicas durante a quarta semana. A fusão incompleta das pregas traqueoesofágicas resulta em um septo traqueoesofágico defeituoso e uma FTE entre a traqueia e o esôfago. FIGURA 10-6 Os quatro principais tipos de variação da fístula traqueoesofágica (FTE) mostradas em ordem de frequência. As possíveis direções dos fluxos dos conteúdos estão indicadas pelas setas. Atresia esofágica, como ilustrada em A, está associada ao FTE em mais de 85% dos casos. B, Fístula entre a traqueia e o esôfago. C, O ar não consegue entrar na região distal do esôfago e estômago. D, O ar pode entrar na porção distal do esôfago e do estômago e o conteúdo esofágico e gástrico pode entrar na traqueia e nos pulmões. FIGURA 10-7 A, Fístula traqueoesofágica (FTE) em um feto masculino de 17 semanas. O segmento esofágico superior termina em fundo cego (apontador). B, Radiografia por contraste em neonato com FTE. Note a comunicação (seta) entre o esôfago (E) e a traqueia (T). C, Radiografia de atresia esofágica e fístula traqueoesofágica. O esôfago proximal em fundo cego está claramente visível. Observe a presença de ar na porção distal do trato gastrointestinal, indicando a presença de uma fístula traqueoesofágica. Um cateter venoso umbilical também pode ser visto. (A, De Kalousek DK, Fitch N, Paradice B: Pathology of the human embryo and previab le fetus, New York, 1990, Springer-Verlag.) A FTE é a anomalia congênita mais frequente do trato respiratório inferior. Quatro variedades principais da FTE podem se desenvolver (Fig. 10-6). A anomalia mais frequente é na parte superior do esôfago, que termina em fundo cego (atresia esofágica) e na parte inferior, na junção à traqueia próximo à sua bifurcação (Figs. 10-6A e 10-7). Outras variações dessa anomalia estão ilustradas na Figura 10-6B-D. Os bebês que possuem esse tipo frequente de FTE e atresia esofágica não conseguem deglutir, portanto, frequentemente, eles babam a saliva e quando alimentados regurgitam o leite imediatamente. O conteúdo gástrico e intestinal também pode refluir do estômago através da fístula para a traqueia e os pulmões. Esse refluxo ácido e em alguns casos a bile, pode levar à pneumonite (inflamação dos pulmões), levando a um comprometimento respiratório. O polidrâmnio está frequentemente associado à atresia esofágica. O excesso do líquido amniótico desenvolve-se porque o líquido não pode entrar no estômago e intestinos para a sua absorção e posterior transferência ao sangue materno através da placenta para eliminação. Fenda laringotraqueoesofágica Raramente, a laringe e a parte superior da traqueia falham em se separar completamente do esôfago. Isso resulta em uma conexão persistente de comprimento variável entre essas estruturas normalmente separadas, ou fenda laringotraqueoesofágica. Os sintomas dessa anomalia congênita são similares aqueles da FTE por causa da aspiração de líquidos e/ou comida para os pulmões. A afonia (incapacidade de falar) é a característica distintiva. Estenose e atreseia traqueal A estenose (estreitamento) e a atresia da traqueia são anomalias congênitas incomuns, que estão normalmente associados com uma das variedades de FTE. A estenose e a atresia provavelmente resultam da divisão desigual do intestino anterior em esôfago e traqueia (Fig. 10-6). Às vezes, forma-se uma rede de tecido que obstrui a passagem do ar (atresia traqueal incompleta). Atresia ou agenesia (ausência) da traqueia é invariavelmente fatal. Divertículo traqueal (brônquio traqueal) O divertículo ou brônquio traqueal consiste em uma projeção da traqueia, semelhante a um brônquio, em fundo cego. O crescimento pode terminar em um tecido pulmonar aparentemente normal, formando um lobo traqueal do pulmão. Esse divertículo pode causar infecções recorrentes e angústia respiratória em recém-nascidos. Desenvolvimento dos brônquios e dos pulmões O broto respiratório (broto pulmonar) se desenvolve na extremidade caudal do divertículo laringotraqueal durante a quarta semana (Fig. 10-2A e B). O broto logo se divide em duas evaginações, os brotos brônquicos primários (Figs. 10-8A e 10-9 e Fig. 10-2C). Esses brotos crescem lateralmente para dentro dos canais pericardioperitoneais, o primórdio das cavidades pleurais (Fig. 10-8B). Brotos brônquicos secundários e terciários logo se desenvolvem. FIGURA 10-8 Ilustração do crescimento dos pulmões em desenvolvimento no mesênquima esplâncnico adjacente às paredes mediais do canal pericardioperitoneal (primórdio da cavidade pleural). O desenvolvimento das camadas da pleura é também mostrado. A, 5 semanas. B, 6 semanas. FIGURA 10-9 Estágios sucessivos do desenvolvimento dos brotos brônquicos, brônquios e pulmões. Junto com o mesênquima esplâncnico ao redor, os brotos brônquicos se diferenciam em brônquio e suas ramificações nos pulmões. No início da quinta semana, a conexão de cada broto brônquico com a traqueia aumenta para formar o primórdio do brônquio principal (Fig. 10-9). O brônquio principal direito embrionário é ligeiramente maior do que o esquerdo e está orientado mais verticalmente. Essa relação persiste no adulto; consequentemente, um corpo estranho entra com mais facilidade no brônquio principal direito do que no esquerdo. O brônquio principal subdivide-se em brônquio secundário que forma os ramos lobares, este se divide em segmentares, que originam os intrassegmentares (Fig. 10-9). No lado direito, o brônquio lobar superior suprirá o lobo superior do pulmão, entretanto, o brônquio lobar inferior se subdivide em dois brônquios, o brônquio lobar médio e o brônquio lobar inferior. No lado esquerdo, dois brônquios secundários suprem o lobo superior e o lobo inferior dos pulmões. Cada brônquio lobar sofrerá progressivas ramificações. Os brônquios segmentares, 10 no pulmão direito e 8 ou 9 no pulmão esquerdo, começam a se formar na sétima semana. Enquanto isso ocorre, o mesênquima ao redor também se divide. Os brônquios segmentares, com a massa de mesênquima circundante, formam o primórdio dos segmentos broncopulmonares. Por volta da 24a semana, aproximadamente 17 ordens de segmentos estão formados e os bronquíolos respiratórios se desenvolveram (Fig. 10-10B). Além disso, sete gerações de vias respiratórias se formam após o nascimento. FIGURA 10-10 Desenhos de secções histológicas ilustrando os estágios de desenvolvimento do pulmão. A e B, Estágios iniciais de desenvolvimento pulmonar. C e D, Note que a membrana alveolocapilar é delgada e alguns capilares se projetam para o interior dos sacos terminais e alvéolos. Conforme os brônquios se desenvolvem, as placas de cartilagem se desenvolvem do mesênquima esplâncnico ao redor. O músculo liso e o tecido conjuntivo dos brônquios, o tecido conjuntivo pulmonar e os capilares também são derivados desse mesênquima. Quando os pulmões se desenvolvem, estes adquirem uma camada de pleura visceral derivada do mesênquima esplâncnico (Fig. 10-8). Com a expansão, os pulmões e a cavidade pleural crescem caudalmente para o mesênquima da parede corporale logo se aproximam do coração. A parede torácica corporal torna-se revestida por uma camada de pleura parietal derivada do mesoderma somático (Fig. 10-8B). O espaço entre a pleura parietal e a visceral é a cavidade pleural. Maturação dos Pulmões A maturação dos pulmões é dividida em quatro estágios histologicamente distintos: o pseudoglandular, o canalicular, saco terminal e o estágio alveolar. Estágio Pseudoglandular (5ª à 17ª semana) Do ponto de vista histológico, o pulmão durante o estágio pseudoglandular possui aparência de glândulas exócrinas (Fig. 10-11A e Fig. 10-10A). Com 16 semanas, todos os principais componentes dos pulmões estão formados, exceto aqueles envolvidos com as trocas gasosas. A respiração não é possível; portanto, fetos nascidos durante esse período são incapazes de sobreviver. FIGURA 10-11 Fotomicrografia de secções do desenvolvimento embrionário e fetal dos pulmões. A, Estágio pseudoglandular, 8 semanas. Note a aparência “glandular” do pulmão. B, Estágio canalicular, 16 semanas. A luz do brônquio e bronquíolo terminal está dilatada. C, Estágio canalicular, 18 semanas. D, Estágio do saco terminal, 24 semanas. Observe a fina parede dos sacos terminais (alvéolos primitivos) que se desenvolveram no final dos bronquíolos respiratórios. Observe também que o número de capilares aumentou e alguns estão intimamente associados aos alvéolos em desenvolvimento. (De Moore KL, Persaud TVN, Shiota K: Color atlas of clinical embryology, ed 2, Philadelphia, 2000, Saunders.) Estágio Canalicular (16a à 26a semana) O estágio canalicular sobrepõem-se ao estágio pseudoglandular, pois o desenvolvimento do segmento cranial dos pulmões amadurece mais rápido do que o segmento caudal. Durante o estágio canalicular, a luz dos brônquios e dos bronquíolos terminais tornam-se maiores e o tecido pulmonar torna-se altamente vascularizado (Figs. 10-10B e 10-11B). Por volta da 24a semana, cada bronquíolo terminal forma dois ou mais bronquíolos respiratórios, que irão se dividir em três a seis passagens: os ductos alveolares primitivos. A respiração é possível ao final do período canalicular (26 semanas), pois alguns sacos terminais de parede delgada (alvéolos primitivos) se desenvolvem no final dos bronquíolos respiratórios e o tecido pulmonar está bem vascularizado. Embora fetos nascidos ao final desse período possam sobreviver se tiverem cuidados intensivos, neonatos prematuros muitas vezes não sobrevivem, pois o sistema respiratório e os outros sistemas ainda estão relativamente imaturos. Estágio de Saco Terminal (24a semana ao final do Período Fetal) Durante o estágio de saco terminal, muitos mais sacos terminais (alvéolos primitivos) se desenvolvem (Figs. 10- 10C e 10-11D) e seus epitélios tornam-se muito finos. Os capilares tornam-se protuberantes nesses sacos. O íntimo contato entre o epitélio e as células endoteliais estabelece a barreira hematoaérea, que permite uma troca adequada de gases, necessária para a sobrevivência do feto caso este nasça prematuramente. Na 26a semana, os sacos terminais são revestidos principalmente por células epiteliais pavimentosas de origem endodérmica, os pneumócitos tipo I, através dos quais a troca gasosa ocorre. A rede de capilares se prolifera rapidamente no mesênquima ao redor dos alvéolos em desenvolvimento, contudo, não é concomitante ao desenvolvimento ativo dos capilares linfáticos. Dispersas entre as células epiteliais pavimentosas, estão células epiteliais secretoras arredondadas, os pneumócitos tipo II, que secretam o surfactante pulmonar, uma mistura complexa de fosfolipídios e proteínas. O surfactante se forma como uma película monomolecular na parede interna dos sacos alveolares e neutraliza as forças de tensão superficial na interface ar-alvéolo. Este facilita a expansão dos sacos terminais por prevenirem a atelectasia (colapso dos sacos durante a expiração). A maturação dos pneumócitos tipo II e a produção do surfactante variam amplamente entre os fetos de diferentes idades gestacionais. A produção do surfactante aumenta durante os estágios terminais da gestação, particularmente durante as últimas 2 semanas. A produção de surfactante começa entre a 20a e a 22a semana, mas o surfactante está presente apenas em pequenas quantidades em bebês prematuros, não estando presente em níveis adequados até o final do período fetal. Por volta da 26a à 28a semana, o feto frequentemente pesa cerca de 1.000 g e estão presentes sacos alveolares e surfactante suficientes para permitir a sobrevivência de bebês nascidos prematuramente. Antes disso, os pulmões são, geralmente, incapazes de prover trocas gasosas adequadas, em parte, porque a área de superfície alveolar é insuficiente e a vascularização é pouco desenvolvida. A presença de sacos terminais delgados ou um epitélio alveolar primitivo não é tão importante para a sobrevivência e desenvolvimento neurológico de bebês prematuros, quanto uma adequada vascularização pulmonar e produção de surfactante suficiente. Fetos nascidos entre a 24a e a 26a semana após a fecundação podem sobreviver se tiverem cuidados intensivos; entretanto, eles podem sofrer de desconforto respiratório pela deficiência de surfactante. A sobrevivência desses bebês tem aumentado pelo uso de corticosteroides (esteroides produzidos pelo córtex da adrenal) pré-natal, que induzem a produção de surfactante e também com a terapia pós-natal de reposição de surfactante. Estágio Alveolar (Final do Período Fetal aos 8 Anos) Exatamente quando o estágio de saco terminal acaba e se inicia o estágio alveolar depende da definição do termo alvéolos. Os sacos terminais análogos aos alvéolos estão presentes na 32a semana. O epitélio de revestimento desses sacos atenua-se para uma fina camada epitelial pavimentosa. Os pneumócitos tipo I tornam-se tão delgados que os capilares adjacentes projetam-se para os sacos alveolares (Figs. 10-10D e 10-11D). Ao final do período fetal (38 semanas), os pulmões são capazes de realizar a respiração, pois a membrana alveolocapilar (barreira de difusão pulmonar ou membrana respiratória) é delgada o suficiente para realizar as trocas gasosas. Embora os pulmões não comecem a realizar essa função vital até o nascimento, estes são bem desenvolvidos e, portanto, capazes de funcionar prontamente quando o bebê nasce. No início do estágio alveolar (32 semanas), cada bronquíolo respiratório termina em um aglomerado de sacos alveolares de paredes delgadas, separados um dos outros por tecido conjuntivo frouxo. Esses sacos representam os futuros ductos alveolares (Figs. 10-10D e 10-11D). A transição da dependência da placenta na troca gasosa para a troca gasosa autônoma requer as seguintes mudanças adaptativas dos pulmões: • Produção de surfactante nos sacos alveolares. • Transformação dos pulmões de órgãos secretores para órgãos capazes de realizar as trocas gasosas. • Estabelecimento das circulações sistêmicas e pulmonar em paralelo. Aproximadamente 95% dos alvéolos maduros desenvolvem- se no período pós-natal. Antes do nascimento, os alvéolos primordiais aparecem como pequenas projeções nas paredes dos bronquíolos respiratórios e dos sacos alveolares, dilatações terminais dos ductos alveolares (Fig. 10-10D). Após o nascimento, os alvéolos primitivos se ampliam conforme a expansão dos pulmões, mas o maior aumento no tamanho dos pulmões resulta do aumento no número de bronquíolos respiratórios e alvéolos primitivos, mais do que um aumento no tamanho dos alvéolos (Fig. 10-11B e D). O desenvolvimento alveolar está, em grande parte, completo aos 3 anos de idade, mas novos alvéolos são acrescentados até aproximadamente 8 anos de idade. Ao contrário dos alvéolos maduros, os alvéolos imaturos possuem o potencial para formar alvéolos primitivos adicionais. Conforme esses alvéolos aumentam em tamanho, eles se tornam alvéolos maduros. O principal mecanismo para o aumento do número de alvéolos é a formação de septos secundários de tecido conjuntivo que subdividem os alvéolos primitivos existentes. Inicialmente, os septos sãorelativamente espessos, mas estes logo são transformados em septos delgados maduros que são capazes de realizar as trocas gasosas. O desenvolvimento dos pulmões durante os primeiros meses após o nascimento é caracterizado pelo aumento exponencial na superfície da barreira hematoaérea através da multiplicação dos alvéolos e capilares. Aproximadamente, 150 milhões de alvéolos primitivos, metade do número em adultos, estão presentes nos pulmões de um recém-nascido a termo. Na radiografia de tórax, portanto, os pulmões dos neonatos são mais densos que os pulmões dos adultos. Entre o terceiro e oitavo ano de vida, são alcançados os 300 milhões de alvéolos dos adultos. Estudos moleculares indicam que o desenvolvimento dos pulmões é controlado por uma cascata de vias de sinalização que são reguladas por uma expressão temporal e sequencial de genes altamente conservados. O comprometimento e a diferenciação do endoderma das células do intestino anterior para formar as células epiteliais do tipo respiratórias estão associados com a expressão de diversos fatores de transcrição, incluindo o fator de transcrição tireoidiano 1, o fator nuclear dos hepatócitos 3β e o GATA-6, assim como outros membros da família Zinc–finger, receptores do ácido retinoico e genes contendo o domínio homeobox (Hox). Os genes Hox especificam o eixo anteroposterior do embrião. O fator de crescimento de fibroblasto 10 e outros sinais do mesênquima esplâncnico provavelmente induzem o desenvolvimento do broto respiratório. As ramificações dos brotos (morfogênese ou produção da ramificação) e sua proliferação dependem de uma interação epitelial (endoderma do intestino anterior) – mesenquimal (mesoderma). A via de sinalização Wnt tem um papel essencial nas interações indutivas entre o epitélio e o mesênquima. Estudos recentes sugerem que o fator de transcrição SOX17 e a sinalização Wnt7b do epitélio regulam a proliferação mesenquimal e a formação dos vasos sanguíneos nos pulmões. O padrão morfogênico do gene hedgehog (Shh–Gli) modula a expressão do fator de crescimento de fibroblasto 10, que controla a ramificação dos brotos brônquicos. Além disto, o ácido retinoico morfogênico regula o Hox a5, b5 e c4 que são expressos no pulmão em desenvolvimento. Os movimentos respiratórios fetais (MRFs), que podem ser detectados pela ultrassonografia em tempo real, ocorrem antes do nascimento, exercendo força suficiente para causar a aspiração de algum líquido amniótico pelos pulmões. Os MRFs ocorrem intermitentemente (aproximadamente 30% durante o rápido movimento dos olhos no sono) e são essenciais ao desenvolvimento normal dos pulmões (Fig. 10-12). O padrão do MRF é amplamente utilizado para o acompanhamento do trabalho de parto e na previsão da sobrevida de fetos nascidos prematuros. No nascimento, o feto já possui a vantagem de vários meses de exercícios respiratórios. Os MRFs, que aumentam à medida que o parto se aproxima, provavelmente condicionam os músculos respiratórios. Além disso, esses movimentos estimulam o pulmão a se desenvolver, possivelmente pela criação de um gradiente de pressão entre os pulmões e o líquido amniótico. FIGURA 10-12 Os movimentos respiratórios fetais (MRFs) mostram ter um papel no crescimento do pulmão através do seu efeito na cinética do ciclo das células pulmonares por regularem a expressão dos fatores de crescimento, como os fatores de crescimento derivado das plaquetas (PDGFs) e os fatores de crescimento semelhante à insulina (IGFs) e estabelecendo o gradiente de expressão do fator de transcrição tireoidiano 1 (TTF-1) no estágio tardio da organogênese do pulmão (mediadores tardios). Isto também sugere que os MRFs influenciam na expressão de outros fatores de crescimento não conhecidos (mediadores iniciais) que são responsáveis pelas mudanças na cinética do ciclo celular nos estágios iniciais do desenvolvimento pulmonar. Os MRFs também parecem ser necessários para a realização da diferenciação morfológica dos pneumócitos tipos I e II. (De Inanlou MR, Baguma-Nibasheka M, Kablar B: The role of fetal breathing–like movements in lung organogenesis, Histol Histopathol 20:1261, 2005.) Ao nascimento, os pulmões estão aproximadamente com a metade de seu volume preenchido com líquido derivado da cavidade amniótica, pulmões e das glândulas traqueais. A aeração dos pulmões ao nascimento não é tanto devido à dilatação dos órgãos colapsados vazios, mas, sim, da rápida substituição do líquido intra-alveolar pelo ar. O líquido dos pulmões é retirado ao nascimento por três rotas: • Através da boca e do nariz por pressão no tórax fetal durante o parto vaginal. • Pelos capilares, artérias e veias pulmonares. • Pelos vasos linfáticos. No feto próximo ao termo, os vasos linfáticos pulmonares são relativamente maiores e mais numerosos do que em adultos. O fluxo linfático é rápido durante as primeiras horas após o nascimento e em seguida diminui. Três fatores são importantes para o desenvolvimento normal do pulmão: espaço torácico adequado para o crescimento pulmonar, MRFs e volume de líquido amniótico adequado (Fig. 10-13). FIGURA 10-13 Cistos pulmonares congênitos. A, Radiografia do tórax (anteroposterior) de um bebê mostrando uma grande malformação congênita adenomatoide cística no lado esquerdo (seta). O coração (asterisco) foi deslocado para a direita. Note o tubo torácico no lado esquerdo, que foi colocado no diagnóstico inicial de pneumotórax (ar na cavidade pleural). B, Imagem de tomografia computadorizada axial de tórax em um bebê com um grande cisto bronquiogênico (asterisco). Oligoidrâmnio e desenvolvimento pulmonar Quando o oligoidrâmnio (quantidade insuficiente de líquido amniótico) é severo e crônico por causa do vazamento ou diminuição na produção do líquido amniótico, o desenvolvimento pulmonar é retardado e pode resultar em severa hipoplasia pulmonar com restrição do tórax fetal. O risco de hipoplasia pulmonar aumenta significantemente com o oligoidrâmnio antes da 26a semana. Também tem sido demonstrado que o oligoidrâmnio resulta em diminuição da pressão hidráulica nos pulmões, que comprometem receptores de estiramento, que, por sua vez, afeta a regulação do Ca+ e o crescimento pulmonar. Pulmão de recém-nascidos Os pulmões saudáveis a fresco de recém-nascidos sempre possuem algum ar; consequentemente, um tecido pulmonar retirado destes irá flutuar na água. Um pulmão doente, particularmente preenchido por líquido, pode não flutuar. O significado médico legal é o fato de os pulmões de um natimorto serem firmes e afundarem quando colocados na água, pois estes contém líquido e não ar. Síndrome da angústia respiratória A síndrome da angústia respiratória (SAR) afeta aproximadamente 2% dos recém-nascidos; sendo aqueles nascidos prematuramente mais suscetíveis. Essas crianças desenvolvem uma respiração rápida e com dificuldade logo após o nascimento. A SAR é também conhecida como doença da membrana hialina. Estima- se que 30% de todas as doenças em neonatos resultem da SAR ou de suas complicações. A deficiência do surfactante é a principal causa da SAR. Os pulmões são subinflados e os alvéolos contêm um líquido com alto conteúdo proteico que lembra uma membrana vítrea ou hialina. Acredita-se que essa membrana é derivada de uma combinação de substâncias da circulação e do epitélio pulmonar doente. Tem sido sugerido que a asfixia (comprometimento ou ausência da troca de oxigênio e gás carbônico) intrauterina prolongada pode produzir mudanças irreversíveis nas células alveolares tipo II, tornando-as incapazes de produzir o surfactante. Outros fatores, tais como sepse, aspiração e pneumonia podem inativar o surfactante, levando a uma ausência ou deficiência de surfactante em bebês prematuros e nascido a termo. Todos os fatores de crescimento e hormônios que controlam a produção do surfactante não foram identificados, mas corticosteroides e tiroxina, que estão envolvidos na maturação dos pulmões fetais, são potentes estimuladores da produção de surfactante. O tratamento materno com glicocorticoides durantea gestação acelera o desenvolvimento pulmonar fetal e a produção de surfactante. Esses achados levaram a uma rotina clínica com uso de corticosteroides (betametasona) na prevenção da SAR em trabalho de parto prematuro. Além disso, a administração de surfactante exógeno (terapia de reposição de surfactante) reduz a severidade da SAR e as chances de mortalidade de neonatos. Lobo da veia ázigos O lobo da veia ázigos aparece no pulmão direito em aproximadamente 1% das pessoas. Este se desenvolve quando o brônquio apical cresce superiormente, medial ao arco da veia ázigos, em vez de lateral a ele. Como resultado, a veia fica na base de uma fissura no lobo superior, que produz uma marcação linear na radiografia do pulmão. Cistos pulmonares congênitos Acredita-se que os cistos (preenchidos por líquido ou ar) sejam formados pela dilatação dos brônquios terminais. Estes provavelmente resultam de um distúrbio do desenvolvimento brônquico durante o final da vida fetal. Quando diversos cistos estão presentes, os pulmões possuem uma aparência de favo de mel nas radiografias. Esses cistos pulmonares estão normalmente localizados na periferia do pulmão (Fig. 10-13). Agenesia pulmonar A ausência dos pulmões é resultado da falha do broto respiratório em se desenvolver. A agenesia de um pulmão é mais comum do que a agenesia bilateral, mas as duas condições são raras. A agenesia pulmonar unilateral é compatível com a vida. O coração e outras estruturas do mediastino são deslocadas para o lado afetado, e o pulmão existente é hiperexpandido. Hipoplasia pulmonar Em bebês com hérnia diafragmática congênita (Figs. 8-9A e B e 8-10), o pulmão é incapaz de se desenvolver normalmente, pois este é comprimido pelo posicionamento anormal das vísceras abdominais. A hipoplasia pulmonar é caracterizada por uma marcante redução do volume pulmonar e uma hipertrofia do músculo liso das artérias pulmonares. A hipertensão pulmonar leva a uma diminuição no fluxo sanguíneo através do sistema vascular pulmonar, visto que o sangue continua a desviar-se através do ducto arterioso. Aproximadamente, 25% dos bebês com hérnia diafragmática congênita morrem por insuficiência pulmonar apesar dos cuidados pós-natais ideais, porque seus pulmões são muito hipoplásicos para a troca de ar e existe muita resistência no fluxo sanguíneo pulmonar para suportar a vida extrauterina. Pulmão acessório Um pequeno pulmão acessório (sequestro pulmonar) é incomum. Quase sempre este se localiza na base do pulmão esquerdo e não é funcional. Este não se comunica com a árvore traqueobrônquica e seu suprimento sanguíneo é normalmente sistêmico. Massas maiores devem ser retiradas, pois estas possuem uma tendência ao hiperfluxo do seu suprimento sanguíneo arterial sistêmico.