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Informativo nº 0671
REsp 1.777.404-TO, Rel. Min. Nancy Andrighi, Terceira Turma, por unanimidade, julgado em 05/05/20, DJe 11/05/20
1. Problema jurídico: consiste em estabelecer se o uso do imóvel para fins residenciais e comerciais impede a aquisição da propriedade por meio da declaração de usucapião especial urbana.
2. Contexto fático:
a) Imóvel urbano, situado em Palmas, com área de 159,95 m2, usado para fins residenciais e comerciais;
b) Há, no imóvel, área destinada a uma bicicletaria, que corresponde a 91,32 m2;
c) A própria família que reside no imóvel trabalha na bicicletaria;
d) O restante, 68,63 m2, é ocupado para moradia;
3. Resumo do processo:
a) Em 20.01.2003, os autores ajuizaram ação declaratória de usucapião;
- Alegam ser possuidores de boa-fé, há mais de cinco anos, do imóvel urbano detalhado na inicial;
b) O juízo de 1º grau julgou o pedido parcialmente procedente, para declarar a usucapião
especial urbana relativa somente a 68,63 m2;
- Contudo, converteu-a em indenização pelo valor atualizado do imóvel;
- A usucapião especial urbana está prevista no artigo 1.240 do Código Civil, que reproduz o disposto no artigo 183 da Constituição Federal;
c) Os autores apelaram e os demandados interpuseram apelação adesiva;
d) O TJTO deu parcial provimento, por maioria, à apelação dos autores e negou provimento ao recurso adesivo;
- Para o referido Tribunal, a declaração da usucapião especial urbana está atrelada à finalidade exclusiva de moradia, de modo que reconheceu a aquisição da propriedade somente em relação à parte habitada, que compreende 68,63 m2;
- Considerou, ademais, indevida a conversão da usucapião em tutela ressarcitória pecuniária;
e) Inconformados, os autores manejaram o recurso especial em 28.06.18;
4. Tese dos recorrentes:
a) Em suma, os recorrentes argumentam que o aresto do TJTO violou o artigo 1.240 do Código Civil, o qual não exige o uso exclusivo para fins de moradia;
b) Por isso, requerem a declaração da usucapião especial urbana em relação a todo o imóvel;
5. Julgamento do recurso:
a) A questão foi submetida à apreciação da Terceira Turma do STJ;
b) A relatora deu provimento ao recurso;
c) Em seu voto, a relatora esclarece que o artigo 1.240, do Código Civil, não exige que a finalidade do uso seja exclusivamente residencial;
d) Nada impede, portanto, que o bem também seja utilizado para o desenvolvimento de atividade comercial;
e) Especialmente, quando se trata de pequena atividade, cuja renda é aplicada no sustento da família;
f) Trata-se de decisão unânime da Terceira Turma;
6. Comentário final:
a) Considero a decisão irretocável;
b) Tanto o elemento literal como o elemento teleológico apoiam, no caso, o reconhecimento da usucapião especial urbana;
c) O fim residencial não exclui o desempenho de pequena atividade empresarial no mesmo imóvel;
d) Cuida-se, é bom frisar, de interpretação que homenageia o valor social do trabalho, que é previsto no inciso IV do artigo 1º da Constituição como fundamento da República Federativa do Brasil.
Peça 3:
a) Em 2015, Carlos Roberto, com sua família, passou a habitar casa abandonada em Fortaleza;
b) O imóvel possui área de cem metros quadrados;
c) Calor Roberto usa, para fins de moradia, sessenta metros quadrados. A porção restante, quarenta metros quadrados, é utilizada para prestar serviços de borracharia;
d) Com os recursos auferidos por meio do trabalho na borracharia, Carlos Roberto mantém sua família;
e) Carlos Roberto possui a casa como se fosse sua, de forma ininterrupta e pacífica, há mais de cinco anos. Não possui justo título;
f) O imóvel está registrado em nome de Maria Helena, que reside na Aldeota.
h) Na qualidade de advogado, elabore petição em favor de Carlos Roberto, com a finalidade de declarar a usucapião especial urbana em relação a todo o imóvel;
Modelo de petição:
EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA CÍVEL DA COMARCA DE FORTALEZA - CE
Processo nº: [informar o número do processo]
CARLOS ROBERTO, brasileiro, solteiro, borracheiro, portador do RG nº [informar o número do RG] e do CPF nº [informar o número do CPF], residente e domiciliado na [informar o endereço completo], por meio de seu advogado [informar o nome completo do advogado], inscrito na OAB/CE sob o nº [informar o número de inscrição na OAB/CE], com escritório profissional na [informar o endereço completo do escritório], vem, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, propor
AÇÃO DE USUCAPIÃO ESPECIAL URBANA
em face de MARIA HELENA, brasileira, solteira, residente e domiciliada na [informar o endereço completo], pelos fatos e fundamentos a seguir expostos:
1. DOS FATOS
O autor, juntamente com sua família, passou a habitar casa abandonada em Fortaleza, situada na [informar o endereço completo], em 2015. O imóvel possui área de cem metros quadrados, sendo que o autor utiliza sessenta metros quadrados para fins de moradia e quarenta metros quadrados para prestar serviços de borracharia.
Com os recursos auferidos por meio do trabalho na borracharia, o autor mantém sua família. O autor possui a casa como se fosse sua, de forma ininterrupta e pacífica, há mais de cinco anos, sem possuir justo título.
O imóvel está registrado em nome da ré, que reside na Aldeota.
2. DO DIREITO
O autor preenche todos os requisitos para a aquisição da propriedade por meio da usucapião especial urbana, prevista no artigo 183 da Constituição Federal e no artigo 1.240 do Código Civil.
O requisito temporal é preenchido, uma vez que o autor possui a posse ininterrupta e pacífica do imóvel há mais de cinco anos.
O requisito espacial também é preenchido, uma vez que o imóvel possui área inferior a duzentos e cinquenta metros quadrados e o autor utiliza o imóvel para sua moradia e trabalho.
Não há óbice à aquisição da propriedade por meio da usucapião especial urbana em razão do uso do imóvel para fins residenciais e comerciais, conforme entendimento pacífico do Superior Tribunal de Justiça, como no caso julgado no REsp 1.777.404-TO, Rel. Min. Nancy Andrighi, Terceira Turma, por unanimidade, julgado em 05/05/20, DJe 11/05/20.
3. DO PEDIDO
Diante do exposto, requer o autor:
a) A citação da ré para, querendo, apresentar contestação;
b) A procedência da ação, com a declaração da usucapião especial urbana em relação a todo o imóvel, com a consequente transmissão da propriedade ao autor;
c) A condenação da ré ao pagamento das custas processuais e honorários advocatícios.
4. DO VALOR DA CAUSA
Dá-se à causa o valor de R$ [informar o valor da causa].
Nestes termos, pede deferimento.
[Local], [Data].
[Assinatura do advogado]
[Nome do advogado]
OAB/CE nº [informar o número de inscrição na OAB/CE]
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