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O Quinhentismo foi um estilo literário que acompanhou o período do “descobrimento” do Brasil pelos portugueses. A literatura desse período pode ser...

O Quinhentismo foi um estilo literário que acompanhou o período do “descobrimento” do Brasil pelos portugueses. A literatura desse período pode ser dividida em dois eixos, a literatura de viagem ou de informação e a literatura catequética. Para Roncari (2002), a literatura de viagem ou de informação carregava qualidades literárias que vão além de relatos, uma vez que incorporava artifícios ficcionais - como exemplo, podemos citar a carta escrita por Pero Vaz de Caminha. Por sua vez, a literatura catequética se voltava ao trabalho com a catequese, tendo como principais expoentes os jesuítas, missionários da Igreja Católica que chegaram ao Brasil compondo a Companhia de Jesus. A expedição desembarcou no país por volta de 1549, liderada por Manuel da Nóbrega, e tinha como objetivo catequizar os índios.

Você, professor de Literatura, para complementar sua formação, está participando de um curso sobre a literatura Barroca no Brasil. Nos primeiros encontros, como forma de contextualizar a temática para os alunos, a professora inicia as discussões pontuando a chegada dos jesuítas e apresentando os escritos do primeiro jesuíta a desembarcar no Brasil, o padre Manuel da Nóbrega.

Para isso, a docente disponibilizou um trecho da sua primeira carta escrita ao padre Simão Rodrigues:

"Diz que quer ser cristão e não comer carne humana, nem ter mais de uma mulher e outras coisas: somente que há de ir à guerra e os que cativar vendê-los e servir-se deles, porque estes desta terra sempre têm guerra com outros e assim andam todos em discórdia. Comem-se uns aos outros, digo os contrários. É gente que nenhum conhecimento tem de Deus, nem ídolos, fazem tudo quanto lhe dizem" (NÓBREGA, 1956).

Após a breve exposição sobre Manuel da Nóbrega, a professora explica que tal carta pode ser considerada uma literatura de informação ou viagem, vinculada ao Quinhentismo, que relata a sua percepção sobre os povos indígenas.

Dado o seguimento do curso, a docente apresenta outro jesuíta, o padre António Vieira, que chegou ao Brasil em 1619, 70 anos após a chegada de Manuel da Nóbrega. Além disso, a professora informa que, diferentemente de Manuel da Nóbrega, a literatura de António Vieira se vincula ao movimento Seiscentismo, uma manifestação literária que compõe o Barroco brasileiro. Assim, a docente apresenta um trecho de seus Escritos instrumentais sobre os índios:

“[...] nação de quem os conquistadores deste estado fizeram sempre tanto caso, foram trazidos do sertão pelo padre Francisco Veloso e depois pelo padre Manuel Nunes e são os melhores companheiros que tem esta conquista para dominar com eles as outras nações, pela fama de valorosos que têm entre elas. Ao presente tratamos não de descer aos que ainda ficarem no Rio Tocantins, mas de descobrir o Rio Iguaçu, em que está toda esta nação que é muito poderosa e será de grande utilidade para todo o estado; e se os descobridores, que estão para partir, levarem as novas de terem se quebrados as leis com que foram descidos os primeiros, julguem vossas mercês os efeitos que esta mudança obrará nos ânimos dos que estão no mato e ainda dos que vivem entre nós, por ser a gente entre todas de menos discurso e de mais bárbaras resoluções” (VIEIRA, 1992, p. 54).

Finalizada a apresentação desses dois expoentes, a professora solicita a você que, tendo como base a carta escrita por Manuel da Nóbrega e os Escritos instrumentais sobre os índios, de António Vieira, responda qual era a posição de ambos os religiosos frente ao povo indígena, justificando a sua resposta.


💡 2 Respostas

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Manuel da Nóbrega e Antônio Vieira possuem posições diferentes em relação aos povos indígenas. Manuel da Nóbrega, em sua carta, apresenta uma visão preconceituosa e eurocêntrica, considerando os índios como bárbaros e sem conhecimento de Deus. Já Antônio Vieira, em seus escritos, apresenta uma visão mais humanizada e respeitosa em relação aos índios, reconhecendo sua importância e valorizando sua cultura. Vieira também defende a necessidade de uma convivência pacífica entre os povos, enquanto Nóbrega defendia a catequização forçada.

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Rosemari Santos Almeida

Padrão de resposta esperado

É importante, primeiramente, lembrar de que a manifestação literária quinhentista foi um período composto por relatos de viagens, descrições das terras da Nova Lusitânia e expressões artísticas catequéticas, produzidas por portugueses durante a conquista do Brasil. Ademais, o Quinhentismo acompanhou a Contrarreforma Católica, a qual objetivava estabelecer um conjunto de medidas que atuassem contra as denominações protestantes e promovessem a expansão da fé católica.

Ao final do século XVI, as obras jesuíticas já apresentam traços do Seiscentismo. Por exemplo, o padre José de Anchieta lançou, em 1595, a primeira gramática com fundamentos da língua tupi, contendo características seiscentistas/barrocas, na qual as formas exageradas e as figuras de linguagem se destacam.

Sobre os escritos de Manuel da Nóbrega, esses se vinculam ao período quinhentista. A respeito do trecho da carta que lemos anteriormente, vemos que sua visão dos indígenas é compatível com o objetivo de sua missão: catequizar, o que compreende erradicar qualquer hábito que esteja fora dos padrões da fé católica, como, por exemplo, o canibalismo e a poligamia. Além disso, o padre acreditava que os índios eram carregados de costumes diabólicos e, por conta disso, preferia catequizar os mais jovens, uma vez que “[a] criança era um investimento mais seguro, já que o inimigo a ser combatido em terras brasílicas não era a heresia, mas 'os costumes diabólicos'”, e "quanto mais jovem fosse aquele a quem se ensinava, menos arraigados estariam estes” (FARIA, 2006, p. 70).

Diferentemente do pensamento de Manuel da Nóbrega, o padre António Vieira defendia a liberdade dos índios. Conforme Bosi (2009), sua defesa era exposta em seus sermões com o objetivo de reduzir a quantidade de violência cometida contra os indígenas. Ademais, Bosi relata que os sermões causavam desentendimentos entre Vieira e os portugueses, sendo que “[o] objeto desse desencontro de sentimentos e pontos de vista parece ter sido precisamente o critério pelo qual os moradores ou ‘portugueses’ (como Vieira os chama genericamente) escravizavam os indígenas a pretexto de que tinham sido apresados ‘em guerra justa'" (BOSI, 2009).

Por fim, é possível afirmar que o padre Manuel da Nóbrega chega ao Brasil com a finalidade de catequizar os índios, fazendo-os abandonarem seus costumes e se converterem à fé católica. Por sua vez, o padre António Vieira, após 70 anos da chegada de Manuel da Nóbrega, manteve a intenção de doutrinar os indígenas, porém defendeu a liberdade desses povos ao ser contrário à sua escravidão.


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