Transforma-se o amador na cousa amada,

Por virtude do muito imaginar;

Não tenho logo mais que desejar,

Pois em mim tenho a parte desejada.

Se nela está minha alma transformada,

Que mais deseja o corpo de alcançar?

Em si somente pode descansar,

Pois consigo tal alma está liada.                                              [liada = ligada]

Mas esta linda e pura semideia,                                              [semideia = semideusa]

Que, como o acidente em seu sujeito,

Assim co'a alma minha se conforma,

Está no pensamento como ideia;

[E] o vivo e puro amor de que sou feito,

Como matéria simples busca a forma.

Assinale a única alternativa INCORRETA:

Escolha uma opção:

a.

O poema apresenta uma excelente descrição do amor idealizado: pelo pensamento, o apaixonado (o “amador”) transforma-se na “coisa amada” (a mulher), ou seja, a sua amada ganha existência própria no pensamento, na imaginação, de forma que não há mais distinção entre o amante e a amada. Em um primeiro momento, o amante se contenta apenas com essa imagem idealizada de sua amada.

b.

Como é comum na poesia clássica de Camões, a expressão do sentimento amoroso não é impetuosa e exagerada, e sim moderada e racional: ao invés de lançar-se apaixonadamente ao encontro da amada, o poeta busca comunicar antes um pensamento e uma reflexão filosófica sobre o amor e sobre a mulher.

c.

Organizado em quatorze versos decassílabos, o poema acima é um soneto, e apresenta rimas regulares: nos quartetos, o primeiro verso rima com o quarto, e os outros dois versos internos rimam entre si. Nos tercetos, o primeiro verso de uma estrofe rima com o primeiro verso da outra; o mesmo ocorre com o segundo e com o terceiro verso de cada terceto.

d.

Na última estrofe do poema, o amante revela seu desejo de encontrar a mulher amada não apenas como ideia, mas também como presença física e plena, buscando assim o amor em sua integralidade.

e.

Um dos principais temas da poesia lírica de Camões é o amor, que aparece bem caracterizado no soneto acima: trata-se de um sentimento intenso e impulsivo, típico de um amante que recusa a razão e permite que o sentimento apaixonado, irracional e intenso oriente seus atos e seus pensamentos.