A concepção centro-periferia procura entender o desenvolvimento econômico de longo prazo de forma diferente das teorias correntes de crescimento, pois não procura captar o processo de acumulação e avanço técnico de uma economia capitalista modelo, mas sim elucidar quais características são assumidas por esse processo ao serem propagadas as técnicas de produção capitalista num modelo de sistema econômico composto por centros e periferias. Os centros e periferia se constituem como resultado da forma como o progresso técnico se propaga na economia mundial. Há uma desigualdade no que tange o desenvolvimento de cada um. Nos centros, a difusão do progresso técnico acontece de maneira rápida, promovendo elevação da produtividade; enquanto na periferia as novas técnicas são implementadas com atraso e com seletiva setorial (setor agroexportador). Diante disso, enquanto a estrutura produtiva central se apresenta homogênea – altos níveis de produtividade em todos os setores, e diversificada, a periferia contrasta ao dispor da especialização produtiva – cunhada na produção de commodities, parte substancial dos recursos produtivos é destinada à sucessivas ampliações do setor agroexportador- e heterogeneidade estrutural – produtividade baixa na maior parte dos setores, exceto a ilha agroexportadora. A estrutura periférica tem seus primeiros movimentos de evolução a partir do fim da 2 GM e da Crise de 29’, que impõem fortes barreiras à importação de produtos manufaturados centrais e acaba por impulsionar o setor industrial periférico no sentido de se suprir a demanda interna. Para além de desenvolvido e subdesenvolvido, a concepção de centros e periferia perpassa pelas entranhas do sistema econômico, expondo a relação de desigualdade estrutural e diferenciação de ganhos médios per capita, relação esta que interatua e se reforça reciprocamente, além de relacionar-se também com o desequilíbrio externo – que é inerente ao processo de industrialização periférica, uma vez que há disparidade entre as elasticidade-renda da demanda por importação entre os dois polos e tendência à deterioração dos meios de troca. A heterogeneidade e especialização periférica tendem a se reproduzir o longo do processo de industrialização. O caráter especializado faz com que a industrialização comece por setores tecnologicamente simples, como o de bens de consumo, avançando lentamente para os de maior complexidade. A mudança para a estrutura produtiva central só se faz, inicialmente, por meio da reiterada especialização, o que dificulta a diversificação das exportações periféricas. Além disso, a periferia padece de uma desvantagem quanto à geração e incorporação do progresso técnico devido à baixa capacidade de acumulação. Esse problema não é resultado apenas de sua heterogeneidade, mas também um reflexo da sua especialização. Essa desvantagem reflete no menor crescimento da produtividade do trabalho periférico. A heterogeneidade reflete também a tendência ao subemprego, uma vez que, dada a superabundância de mão de obra, a absorção da mesma em segmentos de atividades de níveis de produtividade maiores. Nos centros, observa-se escassez de mão de obra, que somada ao alto grau de organização (sindicatos) contribui para tal diferenciação do ganho real e para a tendência à deterioração dos meios de troca.
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Teorias do Desenvolvimento Econômico
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