Logo Passei Direto
Buscar
serve como ponto de partida da mensagem, é o que localiza e orienta a oração em seu contexto. Rema seria o desenvolvimento do Tema, isto é, o que sobra dele. Para esse modelo, a estrutura José Roberto Alves Barbosa 65 Tema/Rema pode ser continuada no texto. Assim, A sentença No princípio (T) era o Verbo (R) pode ser invertida para O Verbo (T) era no princípio (R), de modo que o Tema pode passar a ser Rema. A utilização da voz ativa e passiva, contudo, é apenas uma dentre outras possibilidades de destacar a relação Tema/ Rema. Na sentença (1), a tematização pode ser feita por meio da mudança sequencial dos constituintes do enunciado sem afetar sua estrutura, como ocorre em (2) e (3): (1) O que o professor fez (T1) foi reprovar os alunos. (2) O professor (T) reprovou os alunos antes do tempo (R). (3) Antes do tempo (T1), o professor (T2) reprovou os alunos (R). Tema e Rema, nas diversas línguas, possibilitam a convencionalização dos modos de expressão proposicional. Cabe aos usuários da língua fazerem uso dessas diferentes possibilidades. Eles podem ser identificados como características da produção textual que demonstram a intenção comunicativa em relação à escolha de uma ou outra palavra, de uma ou outra sequência oracional. O Tema costuma confirmar um conhecimento partilhado e apontar para uma informação nova provida pelo Rema. Aquele sinaliza para um determinado tópico a respeito do qual se deseja falar. Este, por sua vez, diz respeito ao comentário sobre o referido tópico. Na construção das ligações textuais, a relação Tema/Rema é uma forma geral de organização informacional e transporta a referência de uma proposição para outra. Essas ligações, no entanto, dependem da identificação de outras conexões menores e mais específicas que servem para estabelecer a continuidade textual. No processo da comunicação, o que é dito anteriormente, seja na fala ou na escrita, é fundamental para a compreensão do que virá depois. Atentemos para o enunciado a seguir: Linguística: Outra introdução 66 (4) A presidenta fez sua primeira viagem ao Japão. Dilma defendeu o livre comércio entre os países. Ela criticou a política protecionista americana. No texto anterior, a utilização do pronome atua como um elemento pró-forma, isto é, uma forma linguística que fundamenta outra expressão no texto através da manutenção de determinados traços semânticos. Esse tipo de conexão interna ao texto, de natureza cotextual, é conhecido como anáfora. Assim, as expressões presidenta – Dilma – Ela são elementos anafóricos. Mas é preciso destacar que uma conexão anafórica apropriada depende da inferência do que faz mais sentido num determinado contexto. Por esse motivo costumase recomendar a utilização moderada dessas pró- formas, a fim de evitar confusão no processo de referenciação textual, resultando em ambiguidades, tal como as do texto (5) a seguir: (5) Amanhã eles irão à praia com os colegas da faculdade. Eles não sabem se irão se divertir. Mesmo assim, concordaram em ir. Eles disseram na televisão que vai chover. Mas eles não querem desistir do passeio. Eles estão sem dinheiro, mas vão tentar dar um jeito nisso. 21. COESÃO E COERÊNCIA TEXTUAL “Embora soneto, vivo meu porém. No encontro do todavia, sou mas. Contudo, encho-me de ainda. Na espera do quando, desando ou desbundo. Viver é apesar. Amar é a despeito. Ser é não obstante. Destarte, sou outrossim. Ilusão, sem embargo. Malgrado senão”. Paulo Alberto M. M. de Barros, 1986 Através da identificação de conexões linguisticamente marcadas, tais como a relação entre um pronome e um sintagma nominal, é possível reconhecer a coesão do texto. Os elementos coesivos, contudo, não se restringem aos pronomes pessoais. As relações de um José Roberto Alves Barbosa 67 sintagma nominal antecedente podem ser recuperadas por meio de pró-formas que consistem de substantivos gerais ou de significados inclusivos: (1) Fomos para Portugal ano passado. Aquele é um país muito bonito. Adoramos o lugar. Conforme observamos no texto acima, as pró-formas coesivas variam na quantidade de informações recuperados a partir do antecedente. O substantivo geral “lugar” é mais amplo que o substantivo particular “país”. Os sintagmas verbais também operam no texto com as mesmas características: (2) Paulo: Fomos para Portugal ano passado.Carlos: Nós também. Paulo: Achamos que era um lugar bonito. Carlos: Nós não. Na conversa acima, os falantes discutem a respeito de um “lugar”. Paulo diz ter ido para Portugal e Carlos diz que também foi. O verbo “ir” se encontra em elipse no diálogo. Isso acontece também com o verbo “achar”. Esse recurso mostra que os elementos coesivos podem ser mais ou menos explicitados no texto. Tanto os nomes quanto os verbos servem, assim, como elementos coesivos do texto. Eles atuam a fim de conectar partes dentro de um texto. Essas pró-formas coesivas podem ter função anafórica – atuam retrospectivamente a fim de recuperar características de expressões antecedentes em um texto, quanto catafórica – operam prospectivamente a fim de preceder uma menção textual a ser explicitada: (3) Quando a presidenta viajou para os Estados Unidos, ela (←) deixou algumas recomendações aos seus ministros. (anáfora) stituto. Lúcia obteve 16 pontos no teste de Matemática. Todos os meus filhos são estudiosos. José Roberto Alves Barbosa 69 Em suma, o sentido de um texto não é dado a priori. É no contexto que o leitor/ouvinte constrói a coerência textual. A interpretação de um texto coerente sempre dependerá da possibilidade de relacioná-lo externamente às realidades contextuais, aos esquemas ideacionais e interpessoais com os quais os leitores/ouvintes estejam familiarizados no mundo sociocultural no qual estão inseridos. Linguística: Outra introdução 70 22. GÊNEROS TEXTUAIS Imitar é natural ao homem desde a infância – e nisso difere dos outros animais, em ser o mais capaz de imitar e de adquirir os primeiros conhecimentos por meio da imitação – e todos têm prazer em imitar. Arte Poética, Aristóteles. Existem diversas abordagens de estudo dos gêneros textuais. Uma das mais conhecidas é a do teórico russo Mikhail Bakhtin, pensador geralmente associado aos estudos literários. Num ensaio de 1979, originalmente publicado em russo, Bakhtin postula que os gêneros do discurso são “tipos relativamente estáveis de enunciados” (1992, p. 279). Após definir gêneros discursivos, Bakhtin também os categoriza em dois tipos secundários e primários: Os gêneros secundários do discurso – o romance, o teatro, o discurso científico, o discurso ideológico etc. – aparecem em circunstâncias de uma comunicação cultural mais complexa e relativamente mais evoluída, principalmente escrita: artística, científica, sociopolítica. Durante o processo de sua formação, esses gêneros secundários absorvem e transmutam os gêneros primários (simples) de todas as espécies, que se constituíram em circunstâncias de uma comunicação verbal espontânea (1992, p. 281). Tal distinção amplia, primeiramente, o conceito de gênero, pois inclui não apenas o que tradicionalmente se considerava como produção literária, mas também os gêneros do cotidiano. Ao redimensionar o estudo do gênero para além do escopo literário, Bakhtin (1992) antecipou as tendências atuais nas pesquisas linguísticas de análise dos gêneros não- literários. Uma dessas perspectivas recentes partiu das análises de textos produzidos para fins acadêmicos e profissionais, realizadas por Swales (1990). Para ele, é o José Roberto Alves Barbosa 71 propósito comunicativo que molda o gênero, determinando sua estrutura interna e impondo limites quanto às possibilidades de ocorrências linguísticas e retóricas. A fim de construir sua definição de gênero, Swales (1990) partiu do enfoque de diferentes disciplinas: estudos folclóricos, literários, linguísticos e retóricos. Para ele Um gênero compreende uma classe de eventos comunicativos, cujos membros compartilham os mesmos propósitos comunicativos. Tais propósitos são

User badge image
Questões Para a Compreensão

ano passado

Respostas

User badge image

Ed Verified user icon

ano passado

Você tem que criar uma nova pergunta.

Essa resposta te ajudou?

0
Dislike0
left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar essa resposta. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

Ainda com dúvidas?

Envie uma pergunta e tenha sua dúvida de estudo respondida!

Essa pergunta também está no material:

Mais perguntas desse material

Qual é a origem da fala humana de acordo com o livro 'Linguística: Outra introdução' de José Roberto Alves Barbosa?

a) A criação divina, conforme descrito no livro bíblico do Gênesis.
b) A imitação de sons naturais preexistentes, que deram origem às onomatopeias.
c) A capacidade física da espécie humana para produzir sons diversos.

Somente no limiar do século XX, com a publicação do Curso de Linguística Geral, em 1916, obra póstuma de Ferdinand de Saussure, produto das suas aulas na Universidade de Genebra, compilada por seus alunos Charles Bally e Albert Sechahaye, a Linguística se instituiu como ciência moderna. O método de investigação dessa ciência, conforme proposto por Saussure, deveria se basear na observação e descrição dos fatos da língua. Caberia ao linguista a aproximação desses fatos por um quadro teórico específico. A Linguística, que outrora não passava de uma área de conhecimento associada à lógica, filosofia, retórica, história e/ou crítica literária, passou a ser uma ciência com um objeto próprio de investigação: a langue (língua em francês)

Para a fala e a escrita. A abordagem da Linguística não é normativa, antes descritiva. O estudo científico da língua busca descrever a língua como ela é, não determinar como ela deve ou deveria ser. O linguista evita fazer julgamento de valor, dizer que uma regra gramatical é certa e/ou errada. Linguística: Outra introdução. Outro equívoco relacionado à definição do que seja a Linguística, é o de pensar que esta se ocupa exclusivamente com o ensino e aprendizado de línguas. Não podemos negar que, de fato, essa ciência, ao longo de sua história, trouxe contribuições significativas para a aquisição de línguas, tanto de Língua Materna (LM) quanto de Segunda Língua (L2). O surgimento posterior da Linguística Aplicada possibilitou a utilização das teorias linguísticas, que, associadas às abordagens da Psicologia, da Educação, Sociologia e Filosofia da Linguagem, favoreceu uma série de reflexões e aplicações práticas ao ensino e aprendizagem de línguas. Mudanças consideráveis aconteceram nesses últimos anos no processo educacional de ensino de línguas decorrentes das contribuições dos estudos linguísticos. A opção pelo ensino produtivo da língua, menos centrado nas regras descontextualizadas da gramática normativa e voltado para o domínio produtivo da escrita e leitura de textos, é resultado de tais reflexões. Muitas delas advieram das contribuições de algumas das principais áreas da Linguística, que envolve língua e uso (Pragmática), língua e mente (Psicolinguística), língua e sociedade (Sociolinguística) e língua e poder (Análise do Discurso). O OBJETO DE ESTUDO DA LINGUÍSTICA. Bem longe de dizer que o objeto precede o ponto de vista, diríamos que é o ponto de vista que cria o objeto. Ferdinand de Saussure. Um objeto de estudo diz respeito ao modo como determinada ciência olha para aquilo que pretende descrever ou explicar. A Linguística, como toda ciência, tem seu objeto de investigação. Mas se assumirmos que a Linguística são várias, podemos também afirmar que múltiplos são seus objetos. Para efeito de delimitação, destacaremos, a princípio, dois olhares distintos, o Estruturalista, de Ferdinand de José Roberto Alves Barbosa. Saussure, e o Gerativista, de Noam Chomsky. Esses dois posicionamentos, ainda que bastante questionados em determinados círculos acadêmicos, são os paradigmas que alicerçaram, e de certo modo fundamentam muitas pesquisas nos estudos da linguagem. Para Saussure, em seu Curso de Linguística Geral (CLG), a linguagem é algo mais amplo, ele a define como “heteróclita e multifacetada”, abrangendo vários domínios, e que “não se deixa classificar em nenhuma categoria de fatos humanos, pois não se sabe como inferir sua unidade” (1969, p. 17). Em virtude da sua amplidão, o linguista de Genebra propôs uma delimitação para os estudos da Linguística, a essa ele chamou de langue – termo francês para língua. Essa seria uma parte da linguagem como um todo, e diferentemente daquela, passível de classificação. Para Saussure, a langue “é um produto social da faculdade da linguagem e um conjunto de convenções necessárias, adotadas pelo corpo social para permitir o exercício da faculdade nos indivíduos” (p. 17). Saussure distingue langue de parole, ressaltando que essa última é “sempre individual e dela o indivíduo é sempre senhor” (p. 21). Seguindo o seu princípio unificador, e em busca de uma coerência metodológica, desconsidera a parole como objeto de estudo da Linguística e faz opção pela langue. Assim, o interesse da Linguística não deveria ser a linguagem e muito menos a parole, mas a langue “considerada em si mesma, e por si mesma”. Essa asserção saussuriana favoreceu o surgimento de um paradigma científico em relação aos estudos da língua denominado de Estruturalismo. Para seus seguidores, a língua é fundamentalmente uma estrutura, isto é, um sistema constituído por uma rede de elementos, em que cada elemento tem um valor funcional específico. Em oposição, e de certo modo, em continuidade, Noam Chomsky propôs, em meados do século XX, um objeto. Linguística: Outra introdução. distinto para a pesquisa linguística. Em seu livro Syntatic Structures (1957, p. 13), delimita, assim, esse objeto “Doravante considerarei uma língua como um conjunto (finito ou infinito) de sentenças, cada uma finita em comprimento e construída a partir de um conjunto finito de elementos”. A lógica da Linguística é nitidamente visível na definição de Chomsky, no processo de explicação do seu objeto. Diferentemente do que propunha Saussure, e seus seguidores, caberia ao linguista descrever as línguas naturais com vistas a determinar as sequências universais da língua, comuns a toda e qualquer língua. Chomsky baseia seus postulados na premissa de que o ser humano, diferentemente dos seres de qualquer outra espécie, tem uma especificidade inata para a língua. A partir dessa, propôs outra dicotomia, com alguma relação entre a langue e a parole de Saussure, denominada de competência e desempenho. A competência é o objeto de estudo da Linguística e corresponde à porção do conhecimento do sistema linguístico do falante que lhe permite produzir o conjunto de sentenças de sua língua. O desempenho pressupõe a competência e corresponde ao comportamento linguístico, e decorre de fatores sociais, crenças, atitudes emocionais do falante, pressupostos dos interlocutores, entre outros. O propósito de estudo da língua, seguindo o paradigma chomskiano, possibilitou o surgimento de outra escola no âmbito dos estudos linguísticos, o Gerativismo, resultante da percepção dessa capacidade inata dos falantes para produzirem enunciados jamais ouvidos antes. A LINGUAGEM ANIMAL E A LÍNGUA HUMANA. Pois bem – explicou o gato -, um cachorro rosna quando está com raiva e balança a cauda quando está contente compreende? José Roberto Alves Barbosa. Enquanto eu rosno quando estou satisfeito e balanço a cauda quando estou com raiva, está entendendo? Portanto eu sou louco? Aventuras de Alice de Lewis Carroll. Em 1959, Karl von Frisch desenvolveu um estudo clássico a respeito do sistema de comunicação entre as abelhas. Ele constatou que a abelha-obreira, após identificar uma fonte de alimento, regressa à colméia para transmitir a informação às outras abelhas. Isso se dá através de dois tipos de dança, uma circular, trançando círculos horizontais da direita para a esquerda e vice-versa, e outra em forma de oito, em que a abelha contrai o abdômen, seguindo em linha reta, e, em seguida, fazendo uma volta completa à esquerda, de novo correndo em linha reta e fazendo um giro para a direita, e assim por diante. A dança em forma de oito depende da distância na qual se encontra o alimento e indica precisamente o total de metros da fonte do alimento. Antes disso, em 1930, dois cientistas, Luella e Winhrop Kellogg, tentaram comprovar que um chimpanzé, chamada Gua, seria capaz de compreender aproximadamente cem palavras, ainda que não fosse capaz de reproduzi-las. Na década de 1940, um casal de cientistas, Catherine e Keith Hayes, tentaram, em sua casa, fazer com que um chimpanzé, por nome Viki, pudesse produzir enunciados em inglês, mas a tentativa não obteve sucesso. De vez em quando, algum cientista tenta produzir algum sistema que seja capaz de comprovar a capacidade dos animais para a língua. Os Linguística: Outra introdução. estudos têm mostrado que os primatas não humanos não dispõem de um sistema vocálico fisicamente estruturado para a articulação dos sons usados na fala. Esses animais, assim como as abelhas, podem comunicar, mas não do mesmo modo que os seres humanos. Na década de 1970, Herbert Terrace, juntamente com Laura Ann Petitto, Richard Sanders e Tom Bever, tentou repetir uma experiência realizada com um chimpanzé macho. Para tanto, ele deu ao animal o nome de Nim Chimpsky – uma alusão irônica a Noam Chomsky – e usaram sinais a fim de categorizar a linguagem do animal. Após o entusiasmo inicial, verificaram que Chimpsky somente imit

Qual é a origem da fala humana de acordo com o livro bíblico do Gênesis?

a) A criação divina por Yahweh, que dotou Adão e Eva com a habilidade de falar.
b) A formação das palavras a partir da imitação de sons naturais preexistentes.
c) A confusão das línguas dos homens por Elohim devido à construção da Torre de Babel.

O estudo menciona algumas propriedades que distinguem a língua humana da linguagem animal. Analise as afirmacoes abaixo e indique a correta:
[object Object]
[object Object]
[object Object]
[object Object]
[object Object]
a) I, II, III, IV e V estão corretas.
b) I, II, III e V estão corretas.
c) II, III, IV e V estão corretas.
d) I, III, IV e V estão corretas.

Estabelecer a metodologia para o estudo científico da langue. Diacronia e Sincronia são formas distintas de abordar o estudo da língua. A diacronia – que vem da composição do grego dia – através – e chronos – tempo, diz respeito à dimensão temporal da língua. Na perspectiva diacrônica estudamos as mudanças que a língua sofreu ao longo de um determinado período de tempo. A proposta dos estudos realizados pela Linguística Histórica é a de traçar o grau de parentesco nos diferentes níveis da língua – fonológico, morfológico, lexical e sintático. A palavra latina Pater, por exemplo, vem do grego πατήρ, que, por sua vez, veio do sânscrito Pitar. No português – pai, em espanhol – padre, em francês – père, e em italiano – padre. O latim, desse modo, seria a língua-mãe dessas que seriam as línguas-filhas. A sincronia diz respeito à ausência de elementos temporais numa descrição linguística. Essa palavra é uma composição do grego syn – juntamente e chronos – tempo, cujo significado é “ao mesmo tempo”. Em uma proposta sincrônica para a análise linguística, a atenção é posta num dado momento do tempo. Isso não quer dizer que se trata apenas de uma descrição da língua no tempo presente. O estudo do português do tempo de Luis de Camões é considerado um estudo sincrônico. Para Saussure, a Linguística deve se preocupar com a descrição sincrônica da língua. Ele argumenta que esta, e não a diacronia tem princípios de regularidades. Para explicar esse paradigma, ilustra com o jogo de xadrez, justificando que, numa partida, o fundamental é identificar a disposição das peças e as regras do jogo num determinado momento, não interessando o percurso que as peças percorram até chegar à condição atual. Na dicotomia langue (língua) / parole (fala), Saussure reforça que o objeto de estudo da Linguística é a língua e não a fala. Ele define esse objeto como um sistema de elementos que forma um todo. A língua, nessa perspectiva, é um conjunto de elementos organizados sistematicamente, um em função dos outros. A proposta de Saussure, com essa delimitação, é separar os fatos da língua dos fatos da fala. Os primeiros dizem respeito à estrutura do sistema linguístico e os segundos ao uso desse sistema. A pertinência dessa dicotomia, para Saussure, está na possibilidade de estudar os fatos da língua (langue) separadamente dos fatos da fala (parole). Fazendo alusão à oração do Pai Nosso, é possível que existam variações no português para pronunciar as palavras da oração. Mesmo assim, essas diferenças não costumam afetar o sistema fônico da língua. O fato de alguém pronunciar [dia] ou [dӡia] não afeta o sistema fônico da língua. Para Saussure, há algumas relações dentro do sistema linguístico que são estabelecidas em dois eixos distintos – da combinação (sintagmático – do grego sintagma, que quer dizer coisa posta em ordem) e o da seleção (paradigmático – do grego paradigma que quer dizer modelo). Os elementos estão relacionados em presença ou ausência um do outro. Assim, em Pai Nosso que estás no céu, os elementos < Pai – Nosso – que – estás – no – céu > encontram-se em uma sequência de combinação, vindo um após o outro em presença, obedecendo às regras do sistema. Numa relação seletiva, ao invés de Pai, seria possível substituir a palavra por Mãe, minha por meu, tua; que estás no céu – por estás na terra, entre outras opções. Eixos Paradigmático (seleção) e Sintagmático (combinação) É preciso destacar que essas relações ocorrem em diversos níveis da análise linguística: fonológica: /pai/ - /vai/; morfológica: am – a - ria – s / beb – e – ria – s; lexical: Pai, Mãe, Deus, Filho; e sintática; Pai Nosso que estás no céu / mãe querida que está na terra. Para entender melhor essa relação, façamos uma analogia com as peças de roupas disponíveis num guarda roupa. A que alguém está vestido: calça, camisa, meias e sapatos, seria a combinação (sintagmática), enquanto que as roupas que se encontram no guarda roupa, e que poderiam ser usadas, mas não foram, é a seleção (paradigmática). Ou comparando com uma partida de futebol, os jogadores em campo seriam elementos sintagmáticos. Os paradigmáticos aqueles que se encontram no banco de reserva, à disposição do técnico.

Mais conteúdos dessa disciplina