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Quais foram as contribuições de Émile Durkhéim e Karl Marx para a Educação?

O estudo dos autores clássicos da Sociologia é fundamental para a compreensão do modo como se constituiu a base do pensamento social e das teorias e práticas que transformaram as relações pedagógicas. Além disso, muitos dos conceitos criados por sociólogos como Karl Marx, Max Weber, Émile Durkheim são, ainda hoje, utilizados em estudos sociológicos em diferentes áreas. Nesse sentido, solicito que desenvolva uma pesquisa, para responder a seguinte questão: Quais foram as contribuições de Émile Durkhéim e Karl Marx para a Educação?

💡 2 Respostas

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Mariane DM

Durkheim - método científico e observação empírica.

Marx - Dialética, materialismo histórico dialético, educação para emancipação, educação politécnica.

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LR

É possível diferenciar duas linhas de pesquisa em sociologia da educação, uma inspirada em Durkheim e outra em Marx. De um lado, as pesquisas que acessam o arcabouço teórico durkheiniano compreendem a educação segundo o paradigma da conciliação, ou o consenso, e neste contexto o papel da educação é o de promoves a integração social da criança. Por outro lado, as pesquisas que se apoiam na teoria marxista consideram que a escola é instrumento da hegemonia burguesa capaz de produzir a manutenção das relações sociais desiguais da sociedade capitalista, essa perspectiva de pesquisa compreende a educação segundo o paradigma do conflito.

O paradigma do consenso remete a forma com que Durkheim compreende que deve ser a instrução pública. O paradigma do conflito remete a forma com que Marx compreende que é a instrução pública em um sistema capitalista. Na educação, optar pela paradigma do consenso é optar por compreender que a Escala tem como função condicionar os alunos aos regramentos presentes na moralidade pública. Dessa forma, as desigualdades presentes na sociedade são normalizadas a partir do momento que a educação não é uma ferramenta que desenvolva no aluno a capacidade de pensar e avaliar o mundo se forma crítica, ao contrário disso, a escola é uma ferramenta de conciliação no sentido em que treina os alunos a responder e reproduzir o que a sociedade já entende como normal, ou seja, ao senso comum. Por outro lado, optar pelo paradigma do conflito é compreender que há na Escola as mesmas desigualdades que há na sociedade, e que são estas mesmas desigualdades que tornam a vida social conflitiva, havendo conflito na sociedade, o conflito dentro do espaço escolar é inevitável. Para exemplificar, se há na sociedade formas diversas de preconceito, o paradigma da conciliação trabalha a fim de normalizar estes preconceitos. Quando um adolescente chama outro adolescente de “viado”, o tom pejorativo tem raiz homofobia. A escola pode tratar isso de forma normal, como algo não digno da atenção do professor, dessa forma promove-se uma normalização da homofobia. Em sentido contrário, segundo o paradigma do conflito, na situação tratada aqui como exemplo, não é possível estar diante de uma expressão das desigualdades presentes na sociedade e não tratar o assunto. Desenvolver o senso critico no aluno significa, nos termos do paradigma do conflito, desenvolver no aluno a capacidade de compreender as raízes do senso comum, compreender que o tom pejorativo do “viado” remete ao caráter homofóbico presente na sociedade. O aluno pode optar ou não pelo uso do termo, mas é imperativo que ele saiba o que o termo significa e quais são os prejuízos sociais de utiliza-lo.

 

Segundo Durkheim:

Diante de seu tempo e das novas formas geradas tanto pelo crescimento das cidades, quanto pela transformação das relações que envolvem os meios de produção e a economia, Durkheim alerta para a "anomia jurídica e moral em que se encontra atualmente a vida econômica”, verificando que a moral estabelecida é “tão imprecisa e tão inconsistente [que] não seria capaz de constituir uma disciplina”, e tal disciplina (regramento) é necessária caso contrário a sociedade corre grandes riscos de afundar em meio à patologias perigosas, pois "As paixões humanas só se detêm diante de uma força moral que elas respeitam. Se qualquer autoridade desse gênero inexiste, é a lei do mais forte que reina e, latente ou agudo, o estado de guerra é necessariamente crônico." (DURKHEIM, 1990: VII). Para o autor a solução dessa anomia está na divisão do trabalho social, entendida como um fenômeno moral.  A coesão de uma sociedade depende de como ela se aglutina em torno de uma moral. Não há sociedade que não tenha uma noção de moralidade e que não a use para obter coesão social. A partir do método comparativo, é possível destacar os tipos sociais e sua moralidade, não há nessa teoria uma preocupação com os mecanismos práticos da divisão do trabalho, mas sim com a consciência coletiva/comum dessa organização, ou seja, com a moralidade dos tipos sociais. Inerente a coesão social, a moralidade está ligada a um consenso necessário, ou seja uma consciência coletiva (eu comum), podemos chamar este consenso de solidariedade. Há uma função na divisão do trabalho social, que configura-se mais como uma necessária organização social, do que como algo que possua um fim, ou um objetivo final claro, em outras palavras, a moral é mais importante que a ciência por exemplo ou que a economia: É uma questão moral não ignorar os conhecimentos da Ciência, mas a moral em si não é objeto da ciência – a ideia se senso comum é a anterior a definição de um crime, você reprova não por ser um crime, e sim é crime porque você reprova; Os frutos econômicos que a divisão do trabalho venha a proporcional, estão longe de serem tão importantes quando o efeito moralizante que a divisão do trabalho pode vir a ter.

Em As regras do método sociológico (1966), Durkheim define que compete a sociologia exclusivamente o estudo do fato social, e que este fato deve ter o status de coisa, caso contrário não se trata de um fato, e assim não deve ser tomado como objeto de estudos. Ser coisa é ser um fenômeno externo e ao mesmo tempo generalizado. Generalizado porque tal fenômeno deve ter certo nível de recorrência no conjunto da sociedade. Externo porque deve ser algo afastado das consciências individuais, ou seja, algo independente das manifestações isoladas. Em um país onde o sistema de governo organiza-se em torno de eleições periódicas, as eleições, ou mesmo o sistema de governo como um todo, seria um fato social? A democracia é um fenômeno naturalizado no conjunto de uma determinada sociedade, os períodos eleitorais são momentos não apenas normais, como esperados. Caso um único indivíduo não concorde com esta forma de organização acarretará em um golpe de Estado? Em uma mudança organizativa? Segundo Durkheim, não, o indivíduo isolado não é capaz de sobrepor sua opinião a esta estrutura já dada por haver nela uma poder coercitivo, uma força imperativa, que pode ter uma origem naturalizada por meios como os costumes, a educação, a família, ou uma origem da coerção mais violenta que se manifesta pelo uso repressivo do exército ou da polícia, em cumprimento do que a justiça e seus “interpretes autorizados” determinam (DURKHEIM, 1966: 2). Por ser algo generalizado e independente da consciência individual, o exemplo dado tem status de coisa, tem a solidez necessária para ser considerado um fato social, e assim ser relevante em uma pesquisa sociológica.

Segundo Marx:

Ao falar sobre coerção, a teoria marxista [que não se resume aos escritos de Marx e Engels], aponta que não é possível pressupor que “na criança estivesse presente, em potência, já o homem, do qual se pretenderia desenvolver, com uma simples ajuda e sem ‘coerção’, aquilo que nele estaria latente”. Não é possível supor que há na criança elementos suficientes para que ela seja capaz de crescer e se tornar um adulto apto a conviver em sociedade e a produzir na sociedade a qual pertence de forma absolutamente natural, nem nenhum tipo de direcionamento. Coerção, é importante notar, não pode ser entendida apenas “ ‘no sentido brutal e de violência externa’”, há diversas outras formas de coerção para além da coerção física. Assim, a teoria marxista entende que “ ‘o homem é toda uma formação histórica obtida com a coerção [em suas diversas formas]’”, não haveria como supor que a criação da criança para a vida adulta seria possível de outra forma sem recorrer a argumentos poucos plausíveis “ ‘de transcendência ou de imanência’”. Um exemplo conhecido é o do homem estudioso, que apenas é capaz de “permanecer sentado em uma meda por diversas horas seguidas” após ter crescido sobre uma educação mecanicamente coercitiva que tornou tal habito não apenas possível como desejável. Este aspecto do desejável liga-se ao aspecto da liberdade do homem. Para tornar o convívio social possível, não basta a ação coercitiva, pois tal ação é e sempre será um elemento externo. O desejável, a vontade própria do indivíduo, deve também ser levada em consideração. Para que o “indivíduo encontre seu lugar nos mecanismos que regulam a convivência social”, ou seja, para que o indivíduo tenha um “respeito pela ordem legal constituída por aquele conjunto de regras sobre as quais se organiza a vida humana”, deve haver nele “uma convicção espontânea”, que foi amadurecida “ ‘por necessidade reconhecida e proposta a si mesmos como liberdade e não por simples coerção’”. [todas as citações desse parágrafo (LINGUORI; VOZA, 2017: 127)].

A “concepção de uma sociedade socialista como processo de transição – numa completa dialética entre Estado e sociedade civil – de uma fase inicial econômico-corporativa, em que os elementos de base ainda são escassos (...), para aquela em que a iniciativa econômico-política será ‘passada nitidamente às forças que visam à construção sendo um plano, de pacífica e solidária divisão do trabalho’ (...), processo que ‘provavelmente durará alguns séculos, isto é, até o desaparecimento da Sociedade política e o advento da sociedade regulada’ (...) [ou seja, da sociedade comunista]. O Estado, ‘condução prelimitar de toda atividade econômica coletiva’ (...), é ‘o instrumento para adequar a sociedade civil à estrutura econômica’ (...), desde que quem dirija sejam os representantes do proletariado, que devem trabalhar pelo desenvolvimento de ‘novas formas de vida estatal, em que a iniciativa dos indivíduos e dos grupos seja ‘estatal’, ainda que não se deva ao ‘governo dos funcionários’ (fazer co que a vida estatal se torne ‘espontânea’)’ (...), de modo que se pode ‘imaginar o elemento Estado-coerção em processo de esgotamento à medida que se afirma elementos cada vez mais conspícuos de sociedade regulada’ (...). Mas para isso são necessárias ao mesmo tempo – o que é difícil – tanto a elaboração de uma alta cultura e de grupos dirigentes adequados à gigantesca tarefa de transição socialista, quanto a educação e a participação ativa das grandes massas no ‘processo molecular de afirmação de uma nova civilização’, um Resnascimento e uma Reforma juntos (...).” (LINGUORI, VOZA; 2017: 729 – 730);

 

Referências bibliográficas:

SOUZA, Jessé. A tolice da inteligência brasileira: ou como o país se deixa manipular pela elite. 2ed. Rio de Janeiro: LeYa, 2018.

SOUZA, Jessé. A elite do atraso: da escravidão à Lava Jato. Rio de Janeiro: 2017.

DUVERGER, Maurice. Ciência Política, Teoria e Método. Rio de Janeiro: Editora Zatar, 1976.

ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 2007.

CHAUI, Marilena. Introdução à história da filosofia: Dos pré-socráticos a Aristóteles. 2. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2008.

DURKHEIM, Émile. As regras do método sociológico. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 4ed, 1966.

DURKHEIM, Émile. 1999. Da divisão do trabalho social, São Paulo: Martins Fontes:1-109.

RODRIGUES, José Albertino. Émile Durkheim. São Paulo: Editora Ática, 2005.

LIGUORI, Guido; VOZA, Pasquale. Dicionário Gramsciniano: 1926 - 1937. São Paulo: Boitempo, 2017. ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 2007. BOBBIO, Norberto; MATTEUCCI, Nicola; PASQUINO, Gianfranco. Dicionário de Política. 5. ed. Brasília: Edunb, 1993

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