Livro: Introdução à Lingüística II. Princípios de análise

Capítulo: Sintaxe, explorando a estrutura da sentença

Estrutura de constituintes

Baseando-se na concepção chomskyana de que as sentenças da linguagem se organizam de forma estrutural (hierárquica), e não linear, o autor apresenta alguns exemplos de transformações de frases que evidenciam isso. A ideia é de que nessas transformações, apenas as unidades sintáticas podem sofrer alterações (mudança de lugar, supressão etc), sendo que fica evidente que não se pode pegar qualquer conjunto (mesmo contínuo) de palavras para aplicar tais transformações.

Sentença base: O João vai comprar o último livro do Chomsky na Border's amanhã.

Topicalização:

• Amanhã, o João vai comprar o último livro do Chomsky na Borders'.
• Na Borders', o João vai comprar o último livro do Chomsky amanhã.
• O último livro do Chomsky, o João vai comprar na Borders' amanhã.
• Do Chomsky, o João vai comprar o último livro na Borders' amanhã.
• Comprar o último livro do Chomsky, o João vai amanhã, na Borders'.

Clivagem (constituintes movidos para posição frontal e ensanduichados entre o verbo e o conectivo que, o que serve para construir sentenças de foco).

• É o João que vai comprar o último livro do Chomsky na Borders' amanhã.
• É o último livro do Chomsky que o João vai comprar na Borders' amanhã.
• É na Borders' que o João vai comprar o último livro do Chomsky amanhã.
• É amanhã que o João vai comprar o último livro do Chomsky na Borders'.

Movendo constituinte para o final da sentença:

• 1. O João contou [toda a história sobre aquele terrível mal-entendido][para Maria].

  2. O João contou [para Maria] [toda a história daquele terrível mal-entendido].

Passivalização

• O último livro do Chomsky vai ser comprado pelo João amanhã na Borders'.
• Toda a história daquele terrível mal-entendido foi contada pelo João para Maria.

Fragmento de sentença (resposta é dada em forma curta, fornecendo apenas um fragmento da sentença, sendo que um fragmento sempre corresponde a um constituinte sintático)

• A: Quem vai comprar o último livro do Chomsky amanhã?

  B: O João.

• A: O que o João vai comprar amanhã?

  B: O último livro do Chomsky.

• A: De quem o João vai comprar o último livro amanhã?

  B: De Chomsky.

• A: O João vai comprar o último livro de Chomsky amanhã?

  B: Vai.

Pronominalização:

• O João vai comprar o último livro do Chomsky na Border's amanhã.
• Ele vai comprar o último livro do Chomsky na Border's amanhã.
• O João vai compra-lo na Border's amanhã.
• O João vai comprar o último livro do Chomsky lá amanhã.
• O João vai fazê-lo amanhã.
• O João vai fazê-lo.

Elipse: // [-trecho suprimido-]

• A: A criança não vai parar de gritar. B: Eu acho que ela vai [-parar de gritar-], mas só se você parar de dar bola para ela.

• O João vai comprar o último livro do Chomsky na Borders' amanhã e a Maria também [-vai comprar o último livro do Chomsky na Borders' amanhã-].

• O João vai comprar o último livro do Chomsky na Borders' amanhã e a Maria também vai [-comprar o último livro do Chomsky na v amanhã-]

• O João vai comprar o último livro do Chomsky na Borders' amanhã e a Maria vai [-comprar o último livro do Chomsky na Borders'-] na segunda-feira.

Ambiguidade

A ambiguidade se dá quando temos uma sentença para a qual é possível obter mais de uma estrutura sintática, ou seja, com uma mesma sentença podemos obter diferentes árvores sintáticas evidenciando a estrutura de seus constituintes.

Geralmente, ao se adotar uma das árvores como representando a sentença, pode-se aplicar transformações como clivagem, passivalização, topicalização etc para se remover a ambiguidade.

A grande questão seria qual estrutura escolher.

Predicados e argumentos

Os predicados são ideias que necessitam de argumentos, fazendo exigências a esses argumentos e lhes conferindo significados.

Nomenclatura: predicado (lista de argumentos)

• Criança adora gato.

  adorar (criança, gato)

O verbo adorar trás a ideia de que alguém adora algo, logo exige dois constituintes que aparecem no exemplo. Normalmente os predicados são verbos, mas também podem ser de outras classes gramaticais.

• O gato está correndo pela sala.

  correr (gato)

No caso, o pela sala não se configura como argumento, uma vez que não é uma exigência do verbo correr.

• Nossa! Houve uma guerra da criança contra o gato!

  contra (a criança, o gato)

• Tem um cesto de palha sobre a poltrona.

  sobre (um cesto de palha, a poltrona)

Nos dois exemplo acima, o predicado não é um verbo, mas sim preposições.

• Esse gato é amigo da criança.

  amigo (esse gato, a criança)

No caso acima, o predicado é amigo (um substantivo), e não o verbo ser, que apresenta uma função meramente gramatical (marcas de flexão de tempo, aspecto, modo e pessoa).

• A destruição dos novelos pelo gato vai irritar a mãe.

  irritar (a destruição dos novelos pelo gato, a mãe)

  destruição (o gato, os novelos)

No caso temos dois predicados na mesma sentença.

Agora exemplos de predicado como adjetivo:

• A poltrona é vermelha.

  vermelho (a poltrona)

• O quadro na parede é agradável aos olhos.

  agradável (o quadro na parede, aos olhos)

Predicados são itens capazes de impor condições sobre os elementos que com eles compõe o constituinte do qual são núcleos. Argumentos, por outro lado, são os itens que satisfazem as exigências de combinação dos predicados.

Verbos, nomes, preposições, adjetivos e advérbios podem ser predicados.

Exigências impostas pelo predicado podem ser semânticas (papéis temáticos) ou sintáticas.

A sintaxe fornece um esqueleto estrutural sobre o qual são projetados os itens lexicais que trazem para a sintaxe toda a informação semântica a eles associada (árvores).

Uma árvore básica possui um núcleo (o predicado), um argumento interno (objeto do verbo, por exemplo) e um argumento externo (sujeito da oração, por exemplo); pode possuir também adjunto (constituintes que aparecem ser serem exigências do predicado).

Quando argumentos são mapeados na sintaxe, o núcleo projeta um novo nível hierárquico. Quando um adjunto entra na estrutura, isso não acontece. Ele é somente um segmento da mesma categoria.

Exemplo: