Buscar

O que são os crimes de responsabilidade juridica no ambito penal?

💡 2 Respostas

User badge image

Diego Araujo

http://conteudojuridico.com.br/artigo,crimes-de-responsabilidade-infracao-penal-ou-constitucional,53878.html

0
Dislike0
User badge image

Especialistas PD

A expressão refere-se aos crimes que podem ser imputados às pessoas jurídicas. Somente os crimes ambientais enquadram-se nesse conceito.

Constituição Federal

Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá- lo para as presentes e futuras gerações.

§ 3º As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados.

-

Lei nº 9.605/1998

Art. 3º As pessoas jurídicas serão responsabilizadas administrativa, civil e penalmente conforme o disposto nesta Lei, nos casos em que a infração seja cometida por decisão de seu representante legal ou contratual, ou de seu órgão colegiado, no interesse ou benefício da sua entidade.

“O art. 225, § 3º, da CF e o art. 3º da Lei nº 9.605/1998 preveem a possibilidade de responsabilização penal das pessoas jurídicas nos crimes ambientais. Pela Lei nº 9.605/1998, a pessoa jurídica poderá ser responsabilizada quando a infração for cometida por decisão de seu representante legal ou contratual, ou de seu órgão colegiado, no interesse ou benefício da sua entidade (art. 3º).

Não obstante a doutrina divergir, é possível vislumbrar três posicionamentos quanto à responsabilidade penal das pessoas jurídicas2:

1º) o art. 225, § 3º, da CF não prevê responsabilidade penal da pessoa jurídica, pois apenas dispõe que as condutas praticadas pelas pessoas físicas ensejam responsabilidade penal e as atividades exercidas pelas pessoas jurídicas, responsabilidade administrativa, sem prejuízo da responsabilidade civil de reparar o dano;

2º) a pessoa jurídica é uma ficção, uma abstração legal (teoria da ficção de Savigny e Feuerbach) e por isso não pode cometer crimes (“societas delinquere non potest”). Sendo uma ficção, é desprovida de vontade e de consciência, logo não age com dolo ou culpa (não pratica conduta criminosa dolosa ou culposa) nem tem culpabilidade (porque não tem imputabilidade que é a capacidade mental de entender,

nem potencial consciência da ilicitude que é a possibilidade de saber que a conduta praticada é proibida). E, se não tem o pressuposto da culpabilidade, não pode sofrer pena;

3º) a pessoa jurídica é um ente real (teoria da realidade ou da personalidade real de Otto Gierke) com vontade e existência próprias. Assim sendo, praticam condutas socialmente reconhecíveis e atuam com culpabilidade social (expressão utilizada pelo STJ), logo podem sofrer penas compatíveis com a sua natureza (restritivas de direitos e multa).

Em que pese a divergência entre os doutrinadores, o Superior Tribunal de Justiça, em reiterados julgados, admitiu a possibilidade da responsabilização penal da pessoa jurídica. No REsp nº 889.528/SC, relatado pelo Ministro Felix Fischer no longínquo ano de 2007, decidiu-se: “Admite-se a responsabilidade penal da pessoa jurídica em crimes ambientais desde que haja a imputação simultânea do ente moral e da pessoa física que atua em seu nome ou em seu benefício, uma vez que ‘não se pode compreender a responsabilização do ente moral dissociada da atuação de uma pessoa física, que age com elemento subjetivo próprio’”.

Para que exista responsabilidade penal da pessoa jurídica, o art. 3º da Lei nº 9.605/1998 exige, expressamente, dois requisitos:

  • decisão do crime tomada por representante legal, contratual ou órgão colegiado da empresa;
  • crime praticado no interesse ou em benefício da empresa.

Dessa forma, se a decisão de praticar o crime foi tomada por um empregado da empresa sem poderes de representação, ou se o crime contrariou os interesses da empresa ou não lhe trouxe qualquer benefício, não há que falar em responsabilidade penal da pessoa jurídica.

O art. 3º, parágrafo único, da Lei nº 9.605/1998 prevê o sistema da dupla imputação, ou sistema de imputações paralelas, pelo qual a responsabilidade penal da pessoa jurídica não exclui a das pessoas físicas autoras, coautoras ou partícipes do mesmo delito. O STJ já decidiu que não há bis in idem nesse sistema porque o mesmo delito está sendo imputado a pessoas distintas, e não à mesma pessoa.

O STJ não admitia a responsabilidade penal isolada da pessoa jurídica, sendo necessário que ela seja denunciada com a pessoa física (ou com as pessoas físicas) responsável pela decisão e/ou execução do crime (HC nº 83.554). Isso porque o art. 3º da Lei nº 9.605/1998 dispõe que a pessoa jurídica pode ser responsabilizada criminalmente quando a decisão da infração penal for tomada por representante legal, contratual ou órgão colegiado do ente moral (responsabilidade penal por ricochete, por procuração ou de empréstimo).

No ano de 2013, entretanto, a Primeira Turma do STF, por maioria (3 x 2 votos), decidiu que é possível a responsabilização da pessoa jurídica e de forma isolada, ou seja, sem a necessidade de imputação simultânea do delito a qualquer pessoa física (RE nº 548.181).

(...)

De qualquer forma, a partir da leitura do STF, o STJ mudou seu posicionamento, com a prescindibilidade da dupla imputação, como se vê nos seguintes julgados:

(…) 1. A Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal, no julgamento do RE 548.181/PR, de relatoria da em. Ministra Rosa Weber, decidiu que o art. 225, § 3º, da Constituição Federal não condiciona a responsabilização penal da pessoa jurídica por crimes ambientais à simultânea persecução penal da pessoa física em tese responsável no âmbito da empresa.

2. Abandonada a teoria da dupla imputação necessária, eventual ausência de descrição pormenorizada da conduta dos gestores da empresa não resulta no esvaziamento do elemento volitivo do tipo penal (culpa ou dolo) em relação à pessoa jurídica. (….) (AgRg no RMS 48.085/PA, Rel. Ministro Gurgel de Faria, Quinta Turma, DJe 20/11/2015).

(...)

A responsabilização da pessoa jurídica causa alguns problemas processuais. Por exemplo, discute-se como é realizado o interrogatório da pessoa jurídica, lembrando que se trata de um dos atos processuais mais importantes por ser a única oportunidade de autodefesa do acusado. Para a maioria da doutrina o interrogatório deve ser realizado na pessoa do gerente ou preposto da empresa por aplicação analógica do art. 843, § 1º, da CLT. Ada Pellegrini Grinover, por sua vez, entende que, se o interrogatório é exclusivamente um meio de defesa, deve ser realizado na pessoa que tenha interesse em defender o ente moral.

Também se discute se é cabível habeas corpus em favor de pessoa jurídica, entendendo o STF e o STJ que não é cabível, já que esse remédio constitucional tutela exclusivamente a liberdade de locomoção, algo que a pessoa jurídica não tem. O remédio cabível em favor da pessoa jurídica é, destarte, o mandado de segurança.”

Fonte: Fabiano Melo. Direito Ambiental. 2ªed. e-book. pgs. 496-499.

 

0
Dislike0

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

✏️ Responder

SetasNegritoItálicoSublinhadoTachadoCitaçãoCódigoLista numeradaLista com marcadoresSubscritoSobrescritoDiminuir recuoAumentar recuoCor da fonteCor de fundoAlinhamentoLimparInserir linkImagemFórmula

Para escrever sua resposta aqui, entre ou crie uma conta

User badge image

Outros materiais