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Como se dava a coisa julgada no Processo Formular (Direito Romano)?

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Júnior Oliveira

"O Direito Romano que nos foi ofertado, sobretudo pelo trabalho de Justiniano, principal responsável pela sua preservação, e que é reinserido no direito Ocidental a partir do século XII, após séculos de obscuridade, baseia-se principalmente no direito desenvolvido na Época Clássica."

 Roma, fundada em 753 a.C., não era senão um pequeno centro rural no séc. VIII a.C. Menos de dez séculos depois, passou a ser o centro de um vasto império que se estendia da Inglaterra, da Gália e da Ibéria à África e ao Oriente Próximo até os confins do Império Persa. A longa história do Império Romano, no que se refere ao direito, é dividida em três épocas distintas, que são:
- Época Antiga, que vai desde a fundação de Roma até meados do séc. II a.C., tendo como principais características um direito de tipo arcaico, primitivo, direito de uma sociedade rural baseada sobre a solidariedade clânica e caracterizado pelo seu formalismo e pela sua rigidez, período em que o centro do saber jurídico estava nas mãos dos pontífices. Nesse período o Estado tinha funções limitadas a questões essenciais para sua sobrevivência: guerra, punição dos delitos mais graves e a observância das regras religiosas. Os cidadãos romanos eram considerados mais como membros de uma comunidade familiar do que como indivíduos, momento em que a defesa privada tinha larga utilização, já que a segurança dos cidadãos dependia mais do grupo a que pertenciam do que do Estado.
- Época Clássica, que começa por volta de 150 a.C. e termina em 284 d.C., com o início do governo de Diocleciano. Caracteriza-se por ser o direito de uma sociedade evoluída, individualista, fixado por juristas numa ciência jurídica coerente e racional. É o tempo do processo formular, em que a produção do direito está nas mãos dos pretores e dos jurisconsultos.
- Época do Baixo Império, momento em que o direito é dominado pelo absolutismo imperial, pela atividade legislativa dos imperadores, pelo Cristianismo. O Imperador e seus juristas se destacam como atores da nova ordem, sendo partícipes na queda do Império Romano do Ocidente, que se dará em 476, com o ápice das invasões bárbaras.

O Direito Romano que nos foi ofertado, sobretudo pelo trabalho de Justiniano, principal responsável pela sua preservação, e que é reinserido no direito Ocidental a partir do século XII, após séculos de obscuridade, baseia-se principalmente no direito desenvolvido na Época Clássica. E, nesse período, o grande diferencial em relação à época anterior foi o surgimento do Processo Formular, objeto principal deste nosso artigo.

A partir do século II a.C., e durante todo o período clássico, assistimos a uma evolução e renovação constante do direito romano. Grande parte das inovações e aperfeiçoamentos do direito, nessa época, foi fruto da atividade dos pretores que, em princípio, não podiam modificar as regras antigas, especialmente o previsto na Lei das XII Tábuas, mas que, de fato, introduziram inúmeras modificações com o intuito de aperfeiçoar o direito às questões sociais de sua época. O pretor cuidava da primeira fase do processo entre particulares, verificando as alegações das partes e fixando os limites do caso, para posteriormente remetê-lo a um juiz. Era esse juiz que verificava a procedência das alegações diante das provas apresentadas e tomava, com base nelas, a sua decisão. Havia pretor para os casos entre cidadãos romanos - era o pretor urbano - e havia também, a partir de 242 a.C., pretor para os casos em que figuravam estrangeiros. Era o chamado pretor peregrino.

O pretor, como magistrado, tinha amplo poder de mando, denominado imperium. Utilizou dele, de forma mais ampla, a partir da Lei Aebutia, no século II a.C., que, modificando o processo, permitiu que atuasse com mais arbítrio. A partir dessa lei, o pretor, ao fixar os limites da demanda, podia dar instruções ao juiz sobre como ele deveria apreciar as questões de direito. Fazia isto por escrito, pela fórmula. Podia deixar de admitir ações perante ele propostas ou, também, admitir novas ações até então desconhecidas no direito antigo romano. Essas reformas completavam, supriam e corrigiam as regras antigas, adaptando-as às novas realidades sociais. As fórmulas eram utilizadas na primeira fase do processo, denominada in iure, que ocorria perante o pretor. Sua função era organizar a controvérsia, transformando o conflito real num conflito judicial. A segunda fase, a in iudicium, era o momento em que a controvérsia desenvolvia-se perante um juiz ou árbitro (cidadão particular), com base nas fórmulas apresentadas na in iure. As fórmulas que o pretor ia seguir eram publicadas por meio de Editos, veiculados antes de sua posse. Como o cargo de pretor tinha mandato de um ano, os editos se sucediam, normalmente aproveitando-se dos anteriormente publicados, mas sempre com uma nota de originalidade, buscando adaptar o direito civil às mudanças nas condições de vida da cidade. 

A fórmula foi uma criação espetacular. Era uma espécie de decreto pretoriano, em forma de carta dirigida ao juiz, resumindo a causa, estabelecendo os limites subjetivos e objetivos da lide processual, indicando as provas a serem produzidas. Ao gerar uma decisão revestida da coisa julgada material, sem decisão de mérito, funcionava como um relatório definitivo. Quem julgava a causa era o juiz ou o árbitro, resolvendo-se a fórmula. Com o processo formular o pretor passa a se impor para resolver com eqüidade os casos concretos, antes submetidos ao rigorismo das formalidades. É um processo mais rápido, menos formalista e escrito.

É a partir do processo formular que se dá a flexibilização do direito civil romano. As fórmulas resumem em termos jurídicos os detalhes da lide. O processo formular tem a vantagem de acompanhar a evolução social. 
Ex de fórmula, Extraída da obra Manual de Direito Romano, v. I, de Alexandre Correia e Gaetano Sciacia, publicada pela Editora Saraiva (1953, p. 80):
1. Nomeação do juiz: "Tício seja juiz".
2. Demonstração: "Desde que Aulo Agério vendeu um cavalo a Numério Negídio"
3. Pretensão: "Provar que Numério Negídio deve dar a Aulo Agério dez mil sestércios."
4. Condenação: "O juiz condenará Numério Negídio a pagar a Aulo Agério dez mil sestércios; se não provar, absolverá Numério Negídio."

 

FONTE: http://www.cartaforense.com.br/conteudo/colunas/processo-formular---a-evolucao-do-direito-romano/156

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