Segundo Rousseau, o homem é tão cidadão quanto é súdito. O conceito de cidadania pressupõe a participação. O cidadão representa a ‘vontade geral’ e por isso deve participar politicamente tanto da elaboração de normas de convívio (leis), quando se sua fiscalização. Neste primeiro sentido o cidadão é em parte soberano. Ao mesmo tempo o homem, que é cidadão, também é súdito, pois deve se submeter às leis e às instituições criadas para assegurar a ordem social (às autoridades). “Será na formação da vontade geral e na participação da elaboração do produto da vontade geral que se manifestará a cidadania, é, pois, neste sentido que Rousseau diz que o indivíduo é cidadão quando membro do soberano (vontade geral) e súdito quando submisso a lei (governo e indivíduos).” (PIEROBON, 2012: 278)
Sobre o contrato social e o pacto social: Em Rousseau, é do contrato social que o Estado emerge na ordem social. O pacto é anterior no sentido que as famílias e a união entre famílias são comunidades políticas anteriores ao Estado. As famílias, em se tratando da “mais antiga de todas as sociedades e a única natural” apenas permanece unida quando por convenção: “Os filhos, isentos da obediência que devem ao pai, isento este dos cuidados dos filhos [apenas obrigados aos cuidados até certa idade], entram todos igualmente em independência. Se continuam unidos, não é natural, senão voluntariamente, é a própria família não se sustém senão por convenção.” (ROUSSEAU, 2016: 19). O contrato social chega quando os homens, já reunidos em famílias, não são capazes de superar determinados obstáculos por eles mesmos criados: “Rousseau quem mais exaltou a perfeição do estado de N., argumentando que nessa condição o homem obedece apenas ao instinto, que é infalível (...). ‘Tudo que sai das mais do Criador é perfeito, tudo degenera nas mais do homem’ (...). No próprio Rousseau, porém, essa exaltação do estado de N. contrasta com o valor atribuída do estado civilizado, com base no contrato social; na realidade, em Rousseau a noção de estado de N. constitui o critério ou a norma de julgar a sociedade presente e delinear um ideal de progresso.” (ABBAGNANO, 2007: 817). Se reunindo em família, estabelecendo as primeiras relações de propriedade privada, saindo assim do estado natural, onde as mãos dos homens geram sua própria instabilidade, o pacto social não se quebra, e sim é dado um passo além através do contrato social: “Pois bem, como os homens não podem engendrar novas forças, senão somente unir e dirigir as existentes, não tem outro recurso para sua conservação além de formas por agregação de uma soma de forças que possa sobrepujar a resistência, pô-las em jogo para um só móvel e fazê-las agir conjuntamente.” (ROUSSEAU, 2016: 27 – 28). Dessa forma, trata-se os termos de um contrato de transferência mútua de direitos, firmada através da reafirmação de um pacto de confiança, ou seja, de uma promessa a ser obrigatoriamente cumprida onde cada parte deve abrir mão do direito natural de possuir sua liberdade natural: “Naquele instante, no lugar da pessoa particular de cada contratante este ato de associação produz um corpo moral e coletivo, composto de tantos membros como a assembleia de votantes, o qual recebe deste mesmo ato sua unidade, seu eu comum, sua vida e sua vontade. Essa pessoa pública que se forma assim pela união de todas as outras pessoas, recebeu antes o nome de cidade e agora recebe o de república ou de corpo político, chamado por seus membros Estado, quando é passivo; soberano, quanto é ativo, poder, comparando-o com seus semelhantes. Porém estes termos se confundem frequentemente e tomam-se uns pelos outros. Basta saber distinguir quando são empregados em sua verdadeira acepção.” (ROUSSEUAU, 2016: 29)
Referencias bibliográficas:
ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 2007.
ROUSSEAU, Jean-Jacques. Do contrato social. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2016.
PIEROBON, Flávio. A cidadania e o cidadão no contrato social de Rousseau. In Argumenta – UENP, Jacarezinho, n° 17, 2012.
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