Respostas
A suspensão da CNH/passaporte do devedor é considerada como uma atitude excessiva e desproporcional que ofende o princípio da proporcionalidade disposto no artigo 8º do Código de Processo Civil, devendo prevalecer o direito constitucional de locomoção (CF, 5º, XV). De fato, são medidas extremas, mas que diante das peculiaridades de cada processo podem ser úteis para a efetivação da tutela jurisdicional.
Mano, o Art 139 IV do CPC permite ao juiz aplicar quaisquer medidas que sejam necessárias para assegurar o cumprimento de uma ordem judicial, inclusive quando tiver por objeto alguma prestação pecuniária (execução por quantia certa)
A suspensão da CNH, bem como a retenção do passaporte são consideradas medidas atípicas, pois não há previsão expressa em lei.
Entretanto, não se pode fechar os olhos para a incidência dessas medidas, diante da peculiaridade de cada caso concreto. Inclusive o próprio STJ já se manifestou neste sentido no REsp 1788950 / MT:
""[...] não se pode falar em inaplicabilidade das medidas executivas atípicas meramente em razão de sua potencial intensidade quanto à restrição de direitos fundamentais. Isso porque o ordenamento jurídico pátrio prevê a incidência de diversas espécies de medidas até mesmo mais gravosas do que essas [...]".
RECURSO ESPECIAL. EXECUÇÃO DE TÍTULO EXTRAJUDICIAL. CHEQUES. VIOLAÇÃO DE DISPOSITIVO CONSTITUCIONAL. DESCABIMENTO. MEDIDAS EXECUTIVAS ATÍPICAS. ART. 139, IV, DO CPC/15. CABIMENTO. DELINEAMENTO DE DIRETRIZES A SEREM OBSERVADAS PARA SUA APLICAÇÃO
7. A adoção de meios executivos atípicos é cabível desde que, verificando-se a existência de indícios de que o devedor possua patrimônio expropriável, tais medidas sejam adotadas de modo subsidiário, por meio de decisão que contenha fundamentação adequada às especificidades da hipótese concreta, com observância do contraditório substancial e do postulado da proporcionalidade.
Não obstante tudo isso, importante destacar um julgamento do TJRJ quando da aplicação desses institutos, no Agravo de Instrumento 0004074-34.2019.8.19.0000, Data de Julgamento: 29/05/2019
[...[ Conforme já ressaltado a suspensão da Carteira Nacional de Habilitação não ofende a dignidade do devedor e tampouco restringirá sua liberdade de ir e vir, já que ele poderá se locomover por suas próprias pernas ou mesmo através de transporte coletivo. Por outro lado, a suspensão da vigência do passaporte do devedor limita seus deslocamentos para outros países, ameaçando, mesmo que de forma indireta, seu direito de ir e vir, consagrado no artigo 5º da Constituição da República
Perceba que o TJRJ já tem uma posição mais restrita no que tange a aplicação da retenção do passaporte, mas é totalmente a favor da suspensão da CNH.
No final das contas, caberá ao Juiz sopesar o âmbito de incidência dessas medidas com a situação de cada caso concreto, contrabalanceando o direito de crédito do exequente com a menor onerosidade do devedor
Responda
Para escrever sua resposta aqui, entre ou crie uma conta