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Fichamento BOBBIO poder

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BOBBIO Norberto, Dicionário de política, Nicola Matteucci e Gianfranco Pasquino – Editora Universidade de Brasília, 1a ed., 1998 pag 933-942 Disponível em: https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/2938561/mod_resource/content/1/BOBBIO.%20Dicion%C3%A1rio%20de%20pol%C3%ADtica..pdf Acesso em: 24 junho de 2021.
	
Bobbio começa seu capitulo falando do conceito de poder dizendo que o poder sempre é relativo a alguma coisa, é sempre de um para o outro e esta associado a capacidade de determinar o comportamento do outro:
Se o entendermos em sentido especificamente social, ou seja, na sua relação com a vida do homem em sociedade, o Poder torna-se mais preciso, e seu espaço conceptual pode ir desde a capacidade geral de agir, até à capacidade do homem em determinar o comportamento do homem: Poder do homem sobre o homem. (BOBBIO, 1998)
Poder do homem sobre o homem geralmente este sempre atrelado a um cargo relevante na sociedade e os tipo de dominação:
Por sua vez, a esfera de Poder de uma pessoa que ocupa um cargo numa organização formal (como é o caso do presidente ou do tesoureiro de uma associação) é definido de modo preciso e taxativo, enquanto que a esfera de Poder de um chefe carismático não é precisada por antecipação e tende a ser ilimitada. (BOBBIO, 1998)
Poder sempre esta relacionado a ao poder exercido de um individuo pra o outro por isto ele utiliza a influencia que a tem de fazer algo a sua vontade:
Consiste no comportamento do indivíduo A ou do grupo A que procura modificar o comportamento do indivíduo B ou do grupo B em quem se concretiza a modificação comportamental pretendida por A, abrangendo também o nexo intercorrente entre os dois comportamentos: um exame mais detalhado do Poder em ato comporta uma análise destes três aspectos do fenômeno. (BOBBIO, 1998)
As relações de poder inspiram outros a seguir o mesmo comportamento que o da pessoa empoderada, em relações tradicionais como pai e filho isto acontece:
As relações de imitação, por exemplo, onde falta a intenção no imitado de se propor como modelo, se incluem em Poder, se a imitação corresponde ao interesse do imitado (como em certas relações entre pai e filho), mas não se incluem, se à imitação não corresponde o interesse do imitado (como pode acontecer, quando uma senhora vê que uma amiga imita o seu modo de vestir). (BOBBIO, 1998)
Lideres políticos e carismáticos conseguem moldar comportamentos na sociedade sem ser pelas leis:
Em segundo lugar, pelo menos em muitos casos, a noção de Poder social serve para descrever uma determinada relação que intermedeia entre dois comportamentos particulares, sem que isso implique que a relação descrita seja um caso particular de uma lei universal ou geral. (BOBBIO, 1998)
Mas as vezes o padrão de comportamento entre duas pessoas não quer dizer poder e as vezes uma mera coincidência:
Em muitos casos, dizer que o comportamento a de A é causa do comportamento b de B não implica que todas as vezes que A adota um comportamento do tipo a, este seja seguido de um comportamento do tipo b de B, ou que sempre que B adote um comportamento do tipo b, lhe precede um comportamento do tipo a de A. (BOBBIO, 1998)
O padrão de comportamento de a em relação a B so pode ser garantido que é uma relação de poder caso “A” seja um membro de poder na sociedade como um membro do governo
(...)só se pode dizer, por exemplo, em determinadas situações, de uma particular relação de mando e obediência que liga ao "Governo" um membro da sociedade política, pelo menos num dos dois sentidos acima referidos: às injunções de tipo a do Governo é provável, em geral, que se sigam condutas de obediência de tipo b tanto desse como dos demais membros da sociedade política. (BOBBIO, 1998)
Membros de partidos políticos que não fazem parte do governo podem tentar excer poder para ganhar seu voto,a mas uma vez que não estão no governo ainda, apesar de seu carisma não podem ser considerados detentores do poder:
Mas certamente não se pode dizer que esse funcionário exerceu Poder sobre mim e isso, atente-se bem, mesmo no caso em que ele estivesse interessado na vitória eleitoral desse partido: eu, na verdade, poderia votar em outro partido ou abster-me de votar. (BOBBIO, 1998)
Como podemos entender que poder existe nas relações internacionais se cada Estado é soberano e não pode ser submetido a vontade do outro? Bom embora soberano na teoria, aquele que faz melhor uso dos seus recursos para Bobbio consegue um grau de poder maior sobre sua população e consequentemente sobre outros Estados
Assim, nas relações internacionais, os Poderes recíprocos de dois Governos podem não ser proporcionais aos recursos humanos, econômicos e militares que os dois Governos têm respectivamente à disposição, porque um dos Governos é mais habilidoso na utilização de um recurso importante ou no emprego combinado de vários recursos, ou então porque um dos dois Governos tem maior grau de coesão e coordenação mais eficaz. (BOBBIO, 1998)
Ainda sim existe instrumentos para a sociedade civil e os governos exercerem poder, a sociedade civil só pode exercer sobre ela mesma, o dinheiro permite isso, uma relação de chefe e empregado por exemplo:
Se os instrumentos usados para exercer Poder forem de tipo generalizado dentro de um ambiente social, como é o caso do dinheiro, haverá também uma atitude mais ou menos generalizada, naquele âmbito social, para uma pessoa se deixar influenciar em certas esferas de atividade. (BOBBIO, 1998)
Bobbio diz também que o poder não é só mudar o comportamento de B mas a partir do exemplo de B você pode influenciar outros indivíduos
Nesta hipótese, se para atingir seus fins A não precisa, especificamente, do comportamento de B, e não apenas do comportamento de B (como acontece no caso do mártir e do conspirador), mas do comportamento de B ou C ou de D ou de É..., a sua probabilidade de ter sucesso dependerá da escala de valores que prevalecer no ambiente social em que age. (BOBBIO, 1998)
Quando dois detentores do poder se embatem, como um conflito nas Relações Internacionais cabe uma analise de quem tem mais poder:
Num confronto ou numa negociação internacional, se o Governo A acha que o Governo B tem um Poder maior do que ele, esse Governo tende naturalmente a sofrer, de fato, um maior Poder da parte do Governo B, até nos casos em que uma avaliação correta dos recursos disponíveis, por parte dos dois Governos, pudesse levar a um resultado mais favorável ao Governo A. (BOBBIO, 1998)
A relação de poder dentro do governo ainda pode ser abalada, pois por exemplo grupos influentes que fornecem os materiais necessários para a sobrevivência do governo podem se utilizar disso para tentar usar poder, mas estes grupos também dependem do governo para exercer sua atividade:
Por exemplo, um Governo está sujeito ao Poder de certos setores agrícolas influentes, mesmo sem a intervenção direta destes últimos, quando ao programar sua política agrícola não leva em consideração as reações desses setores e faz um planejamento que não prejudica os interesses dos agricultores. (BOBBIO, 1998)
Outro exemplo que Bobbio traz, com a relação de empresários fornecedores e governo:
Por exemplo, o fato de que as providências tomadas por um Governo, em matéria industrial, encontrem notável correspondência no comportamento dos empresários da nação, pode querer dizer que o Governo tem um grande Poder sobre eles, mas pode significar também, ao contrário, que os empresários usufruem de um grande Poder sobre o Governo, pela capacidade que têm de impedir, através do mecanismo das reações previstas, que sejam tomadas decisões que ponham em perigo seus interesses. (BOBBIO, 1998)
Ou seja, Recursos materiais necessários para o Estado podem ser uma forma de se exercer poder no governo:
Os modos específicos pelos quais os recursos podem ser usados para exercer o Poder, ou seja, os modos de exercício do Poder, são múltiplos: da persuasão à manipulação, da ameaça de uma punição à promessa de uma recompensa. (BOBBIO, 1998)
Na relação Patrão e empregados, que em teoria são necessário para aempresa, este poder dos funcionários pode ser reprimido por meio da coerção:
Para além dos termos empregados, o que importa é formular uma noção clara da determinação intencional ou interessada sobre a conduta alheia e identificar, dentro deste genus, a species particularmente importante da determinação do comportamento alheio fundado sobre a coerção (coação). (BOBBIO, 1998)
Bobbio nesta parte, fala sobre o que ele entende como ele entende o conflito de poder entre vontade dos indivíduos:
Do conflito entre a vontade de A e de B podemos falar, referindo-nos ao momento em que A inicia a tentativa de exercer Poder sobre B ou tendo em conta o momento em que B executa o comportamento pretendido por A: no momento inicial ou no momento final do exercício do Poder. (BOBBIO, 1998)
O conflito pode nascer do ressentimento da ausência de poder de um sobre o outro:
Também, num nível extremo de aliciamento, a conflitualidade da relação pode nascer do fato de B se sentir ferido e nutrir ressentimento pela grave desigualdade entre seus recursos e os recursos de A e também pelo fato de A tirar vantagem desta situação de desigualdade. (BOBBIO, 1998)
Para o autor mensurar o poder a partir dos efeitos que um provoca em outro pode ser um meio adequado se levar em conta o custo que leva para um convencer o outro:
A esta tentativa de mensuração do Poder que concentra sobre a entidade a atenção dos efeitos provocados em B foi objetado que, para medir o Poder de um modo adequado, convém levar em conta, também, os custos que pesam sobre A, para tentar exercer Poder sobre B e também a sua força, que seriam os custos que pesariam sobre B no caso de este se recusar a ter o comportamento desejado por A. (BOBBIO, 1998)
Bobbio também fala sobre a mensuração de poder agora diretamente dentro do governo:	
Deve-se acrescentar, finalmente, que foram feitas tentativas de elaboração de métodos para a mensuração da distribuição do Poder dentro de um sistema: de um modo particular para medir a distribuição do Poder entre os membros de um Comitê eleitoral, quando a decisão depende exclusivamente da própria votação e para medir o grau de concentração de Poder entre os participantes de um sistema político. (BOBBIO, 1998)
Lembrando que o Poder não aparece somente no governo, ele esta presente na maior parte das relações sociais:
Não devemos nos surpreender ao verificar que o conceito de Poder foi empregado para interpretar os mais diversos aspectos da sociedade: desde os pequenos grupos da administração de produção e desde a família até às relações entre as classes sociais. (BOBBIO, 1998)
Bobbio traz também os tipos de dominação social de Max Weber como exemplos de poder: 
Para Weber, as relações de mando e de obediência, mais ou menos confirmadas no tempo, e que se encontram tipicamente na política, tendem a se basear não só em fundamentos materiais ou no mero hábito de obediência dos súditos, mas também e principalmente num específico fundamento de legitimidade. (BOBBIO, 1998)
Por exemplo, a dominação carismática:
O Poder carismático, enfim, está fundado na dedicação afetiva à pessoa do chefe e ao caráter sacro, à força heróica, ao valor exemplar ou ao Poder de espírito e da palavra que o distinguem de modo especial. (BOBBIO, 1998)
Agora indo para o campo das relações Internacionais Bobbio diz:
Verifica-se também a fundamentalidade do Poder no estudo das relações internacionais, onde o conceito de Poder, quando não é considerado como instrumento privilegiado de interpretação, fornece, de uma maneira, um critério de análise de que não se pode prescindir e verifica-se também, no estudo dos sistemas políticos nacionais e locais, onde o estudo do Poder termina no estudo da natureza e composição das elites políticas . (BOBBIO, 1998)
A função do poder politico nas ciências politicas é um conceito fundamental, Bobbio traz que o poder em sistemas políticos:
Identificando como função específica do sistema político no âmbito do funcionamento global da sociedade a "consecução de objetivos" ou a capacidade de tornar efetivos os objetivos coletivos, Parsons define o Poder, no sentido específico de Poder "político", como a "capacidade geral de assegurar o cumprimento das obrigações pertinentes dentro de um sistema de organização coletiva em que as obrigações são legitimadas pela sua coessencialidade aos fins coletivos e portanto podem ser impostas com sanções negativas, qualquer que seja o agente social que as aplicar". (BOBBIO, 1998)
O poder nas relações politicas geralmente esta associado ao monopólio legitimo da força:
(...)tornase, precisamente, o "meio circulante" político, análogo à moeda na economia, ancorado por uma parte na institucionalização e na legitimação da autoridade e por outra na possibilidade efetiva do recurso à ameaça e, como extrema medida, ao uso da violência. (BOBBIO, 1998)
A tripartição dos poderes pode levar a uma diluição da percepção de poder, mas através da reputação e da tripartição o legislativo e o federativo participam do processo
E desde que as reputações ou as percepções sociais do Poder são uma possível fonte de Poder, o método pode ser utilizado para averiguação desta fonte e, em tal caso, deverá ser dirigido não para as "reputações" de um certo número de juizes, mas para as reputações de indivíduos e grupos que participam mais ou menos ativamente do processo do Poder. (BOBBIO, 1998)
Participar do processo decisional de um governo as vezes pode ser interpretador como detentor do poder:
Para determinar quais sejam as pessoas poderosas, alguns pesquisadores se limitam a considerar a participação ativa no processo de decisão, ou porque conseguem que seja tomada uma decisão agradável ou porque impedem que seja tomada uma decisão desagradável. (BOBBIO, 1998)
Bobbio completa:
Estas críticas atingem indubitavelmente o alvo e levam à conclusão de que o método decisional, embora constitua uma técnica indispensável para o estudo do Poder que se manifesta no processo de decisão, não pode definir, por si só, a distribuição geral do Poder. (BOBBIO, 1998)
Desta forma Bobbio conclui sobre o método do poder decisional que :
Em conclusão: ainda que a fertilidade relativa destes métodos de pesquisa seja muito diferente, nenhum dos que foram até agora utilizados conseguiu averiguar, de modo satisfatório, a distribuição do Poder dentro da comunidade ou, de forma geral, dentro de um sistema político, visto em seu conjunto. (BOBBIO, 1998)
Percebemos então que de acordo com Bobbio não necessariamente é preciso aplicar um método previamente citado para se estudar poder, mas sim averiguar as relações de poder entre as pessoas pois o poder sempre é de um para o outro:
Isto parece indicar que, para estudar o Poder empiricamente, não é necessário utilizar simplesmente um dos métodos mencionados, mas usar um leque articulado de técnicas de pesquisa, dirigidas para a averiguação não só do dinamismo dos processos de decisão, mas também para os Poderes estruturais que condicionam esses dinamismos de uma forma mais ou menos profunda. (BOBBIO, 1998)

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