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Os princípios no direito ambiental não encontram identificação unânime entre os autores, de modo que alguns autores fazem referências a uns princípios e outros autores a outros. - Princípio do Meio Ambiente como Direito Humano Fundamental Apesar de não estar contido no rol do artigo 5º da CF, o meio ambiente é considerado um direito fundamental, sendo uma extensão do direito à vida e necessário à pessoa humana. - Princípio da Prevenção Procura-se evitar o risco de uma atividade sabidamente danosa e evitar efeitos nocivos ao meio ambiente. Aplica-se aos impactos ambientais já conhecidos e que tenham uma história de informações sobre eles. A finalidade ou o objetivo final do princípio da prevenção é evitar que o dano possa chegar a produzir- se. Deve-se tomar as medidas necessárias para evitar o dano ambiental porque as consequências de se iniciar determinado ato, prosseguir com ele ou suprimi-lo são conhecidas. O princípio da prevenção está presente na Declaração de Estocolmo (1972) e na Declaração do Rio (ECO – 92). A Política Nacional do Meio Ambiente fala em manutenção e proteção (Lei 6.938/81). Possui amparo constitucional (art. 225, §1º, IV, CF - obrigatoriedade de EIA em obras ou atividades potencialmente causadoras de significativa degradação ao meio ambiente). O principal instrumento de prevenção é o EIA/RIMA. - Princípio da precaução É o que incide quando não se tem certeza científica acerca dos danos que podem ser causados. Aplica-se o primado da prudência e o benefício da dúvida em favor do ambiente. A falta de plena certeza científica não deve ser usada como razão para postergar medidas para evitar ou minimizar essa ameaça. In dubio pro natura. Marco inicial – Lei da Alemanha de 1976. Primeira previsão internacional: Conferência do Mar do Norte de 1987. Foi proposto formalmente na Declaração do Rio (ECO – 92) e na Convenção Quadro das Nações Unidas sobre as mudanças do clima – 1992 (uma de suas emendas é o protocolo de Kyoto de 1997). Também presente da Convenção sobre Diversidade Biológica – 1992. Princípio 15 da Declaração do Rio 92: “Com o fim de proteger o meio ambiente, o princípio da precaução deverá ser amplamente observado pelos Estados, de acordo com suas capacidades. Quando houver ameaça de danos graves ou irreversíveis, a ausência de certeza científica absoluta não será utilizada como razão para o adiamento de medidas economicamente viáveis para prevenir a degradação ambiental”. Tratados já ratificados no Brasil: Declaração do Rio; Convenção Quadro das Nações Unidas sobre as mudanças do clima; Convenção sobre Diversidade biológica – todos de 1992. Possui amparo constitucional (art. 225, caput, de forma implícita). Primeira lei que tratou no Brasil foi a da Biossegurança (art. 11.105/05 – art. 1º). Inversão do ônus é seu corolário, implicando na necessidade de demonstração de que a atividade não traz riscos ao meio ambiente. Destaca Paulo Afonso Leme Machado 3 características: 1 - incerteza do dano em face do atual estado da técnica; 2 - possibilidade de efeitos graves e irreversíveis ao ambiente; 3 - dirige-se com primazia às autoridades públicas. A adoção das medidas públicas, por sua vez, deve ser regida pela temporariedade (enquanto durar a incerteza) e pela proporcionalidade. Em nome desse princípio, o Estado pode suspender uma grande liberdade, ainda mesmo que ele não possa apoiar sua decisão numa certeza científica. O princípio da precaução entra no domínio de direito público que se chama poder de polícia da administração. Diferenciação quanto à precaução: a prevenção atua no sentido de inibir o risco de dano em potencial (atividade sabidamente perigosas), enquanto a precaução atual para inibir o risco de perigo potencial (ou seja, o dano em abstrato). - Princípio do Poluidor-pagador Uma vez identificado o poluidor, ele deve arcar com as despesas de prevenção, reparação e repressão dos danos ambientais. Estabelece que aquele que utiliza de recurso ambiental e causa degradação (externalidades negativas) ambiental deve arcar com os custos para minimizá-la ou para recuperá-lo. Poluidor é toda pessoa física ou jurídica que causa direta ou indiretamente degradação ambiental. É preventivo (exige a prevenção do dano) e repressivo (ocorrendo danos o poluidor será responsável por sua reparação – responsabilidade objetiva). Tem previsão constitucional - art. 225, § 3º CF. Previsto também como Princípio 16 da Declaração do Rio 92. Art. 4º, VII, da Lei 6.938/85: o empreendedor deve arcar com o ônus decorrente de suas atividades (visa a internalização dos prejuízos causados pela deterioração ambiental). É contrário à ideia de privatização dos lucros e socialização dos prejuízos. A reparação deverá ser preferencialmente “in natura”, ou seja, buscando restabelecer o “status quo ante”. Esse princípio não tolera a poluição, pois a finalidade primordial é evitá-la. Não se trata de uma autorização para poluir, desde que se indenize. A poluição continua vedada; se acontecer, contudo, deve dar-se a recomposição in natura e a indenização dos danos insuscetíveis de recomposição. - Princípio do Usuário pagador É uma evolução do princípio do poluidor-pagador. Destaca que o uso gratuito de recursos naturais às vezes pode representar enriquecimento ilícito por parte do usuário, pois a comunidade que não usa ou usa em menor escala fica onerada. Tal princípio também não deve ser encarado como punição, pois poderá ser implementado mesmo sem haver comportamento ilícito, dentro do permitido pelo ordenamento. Estabelece que o usuário de recursos naturais (escassos) deve pagar por sua utilização. A ideia é de definição do valor econômico ao bem natural com intuito de racionalizar o seu uso e evitar seu desperdício. Leme faz uma correlação entre o princípio do usuário pagador e a compensação ambiental, afirmando que "A compensação ambiental é uma das formas de implementação do usuário pagador, antecipando possíveis cobranças por danos ambientais". O usuário é aquele que não causa poluição. Paga por um direito outorgado pelo poder público. Ex: cobrança pelo uso de água, art. 19 e 20 da Lei nº 9.433/97. Pagar é garantir o art. 225 CF, em benefício das futuras gerações. - Princípio do Protetor-recebedor Postula que aquele agente público ou privado que protege um bem natural em benefício da comunidade deve receber uma compensação financeira como incentivo pelo serviço de proteção ambiental prestado. O princípio do protetor-recebedor incentiva economicamente quem protege uma área, deixando de utilizar seus recursos, estimulando assim a preservação. Trata-se de um fundamento da ação ambiental que pode ser considerado o avesso do conhecido princípio do usuário pagador, que postula que aquele que usa um determinado recurso da natureza deve pagar por tal utilização. Um exemplo adotado em alguns municípios é a redução das alíquotas de IPTU - para os cidadãos que mantém áreas verdes protegidas em suas propriedades. - Princípio do Desenvolvimento Sustentável A ideia de desenvolvimento socioeconômico em harmonia com a preservação ambiental emergiu da Conferência de Estocolmo, de 1972. No início da década de 1980, a ONU retomou o debate das questões ambientais. Indicada pela entidade, a primeira-ministra da Noruega, Gro Harlem Brundtland, chefiou a Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, para estudar o assunto. O documento final desses estudos chamou-se Nosso Futuro Comum ou Relatório Brundtland. Apresentado em 1987, propõe o desenvolvimento sustentável, que é “aquele que atende às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem às suas necessidades”. A CF abriga esse princípio (Art. 170, VI, e 225 da CF). Pilares do desenvolvimento sustentável: crescimento econômico, preservação ambiental e equidade social.- Princípio do Ambiente Ecologicamente Equilibrado Reconhecido no art. 225 da CF e em Estocolmo (1972). Está intimamente ligado ao direito fundamental à vida e à proteção da dignidade humana. - Princípio da Obrigatoriedade de Atuação Também chamado de Princípio da natureza pública da proteção ambiental. Destaca-se a necessidade de intervenção do poder público, mas, ao mesmo tempo, aborda a questão do aumento da função fiscalizatória/regulatória, via agências reguladoras. Esse princípio decorre da declaração de Estocolmo (1972). Encontra-se na CF (art. 225) e na declaração do Rio 92. - Princípio da Cooperação Também chamado de Princípio da Participação Comunitária ou Princípio Democrático. Inserido no caput do art. 225 da CF. Princípio nº 10 da Declaração do Rio de 1992. É dever de toda a sociedade atuar na defesa do meio ambiente. A participação consubstancia-se: a) no dever jurídico de proteger e preservar o meio ambiente; b) no direito de opinar sobre as políticas públicas; e c) na utilização dos mecanismos de controle políticos (plebiscito, referendo, iniciativa popular), judiciais (ação popular, ação civil pública) e administrativos (informação, petição, EIA). Destaca-se aqui a atuação das ONGs e assento dos cidadãos nos conselhos ambientais e da consulta pública para criação de algumas unidades de conservação. Destaca Leme a deficiência de acesso das organizações nos tribunais internacionais para fomentar o debate de temas ambientais. Na CIJ só Estados soberanos podem figurar como partes contenciosas, não havendo legitimidade p/ Organizações Internacionais figurarem nos litígios. Entretanto, no âmbito da competência consultiva, é possível o requerimento por parte de org. internacionais, autorizadas pela Assemb. Geral (Rezek). Cooperação internacional: meio ambiente como bem difuso. O dano ambiental não possui fronteiras. Art. 77, L. 9605/98 fala da cooperação internacional em matéria de crimes ambientais. Cooperação interna: art. 23, CF – federalismo cooperativo. - Princípio da Publicidade ou da Informação Toda informação sobre o meio ambiente é pública. Visa assegurar a eficácia do princípio da participação. É necessária a devida publicidade das questões ambientais, sob pena de impossibilidade de atuação do princípio democrático. O art. 5º, XXXIII da Constituição Federal e a Lei 12.527/11, garantem o acesso à informação de forma ampla, incluindo aquela que diz respeito ao meio ambiente. - Princípio da Educação Ambiental Embora não seja obrigação exclusiva do poder público, encontra-se constitucionalmente previsto no art. 225, pr.1º, VI, CF. Para assegurar o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, incumbe ao Poder Público promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação. - Princípio da Função Socioambiental da propriedade Segundo o art. 186 da CF, a função social da propriedade é atendida quando há: - aproveitamento racional e adequado - utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente - observação das disposições que regulam as relações de trabalho - exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e trabalhadores - Princípio do Equilíbrio ou proporcionalidade Consiste na ponderação de valores quando da prática de algum evento que possa repercutir na esfera ambiental. Trata-se da necessidade de se analisar quais os prejuízos e impactos, e ao contrário, quais os benefícios e ganhos. Nessa ponderação, tem-se de levar em conta todas as condições ambientais, no sentido legal do termo, como as influências e integrações de ordem química e biológica, quer permitem abrigar e reger a vida em todas as formas. Esse equilíbrio está atrelado ao desenvolvimento econômico e seus impactos ambientais, guardando estreita relação com o desenvolvimento sustentável. Os aplicadores da política ambiental e do Direito Ambiental devem pesar as consequências previsíveis da adoção de uma determinada medida, de forma que esta possa ser útil à comunidade e não importar em gravames excessivos aos ecossistemas e à vida humana. Não deve haver sobreposição das necessidades e dos interesses econômicos. Ponderação entre os prejuízos/impactos e os benefícios/ganhos que um empreendimento poderá causar ao meio ambiente. Mensuração razoável dos efeitos de práticas que intervenham no meio ambiente. - Princípio do Acesso equitativo aos Recursos Naturais A utilização saudável do meio ambiente deve ser partilhado de forma equitativa por toda a humanidade. Estocolmo 1972: “As vantagens extraídas de sua utilização sejam partilhadas a toda humanidade”. - Princípio do Limite Também chamado de Princípio do Controle do Poluidor pelo Poder Público Previsão constitucional: art. 225, § 1º, inciso V. A Administração Pública tem a obrigação de fixar padrões máximos de emissões de poluentes, ruídos, enfim, de tudo aquilo que possa implicar prejuízos para os recursos ambientais e à saúde humana. É imprescindível para que se evite, ou pelo menos se minimize a poluição e a degradação. Nesse contexto, faz-se necessária a intervenção do Estado no controle de interesses particulares e na defesa em prol da maioria. - Princípio da Ubiquidade Também chamado de Princípio da Variável Ambiental no processo decisório das políticas públicas. O Meio ambiente é condição prévia para a existência e o exercício dos direitos humanos. Os bens naturais, tendo caráter de onipresença, colocam-se em posição soberana a qualquer limitação espacial ou geográfica. - Princípio da Direito à Sadia Qualidade de Vida Destaca que, enquanto as primeiras constituições escritas colocavam o direito à vida entre os direitos individuais, a partir do séc. XX foi inserido o "direito à qualidade de vida", não sendo suficiente viver ou apenas conservar a vida. (A ONU mede tal qualidade de vida com base em no mínimo três fatores: saúde, educação e PIB). Por fim destacou que graves atentados contra o meio ambiente podem privar as pessoas até mesmo do gozo de seu domicílio, prejudicando a vida privada e familiar. - Princípio da Reparação Integral Invocado pelo STJ em seus julgados e melhor tratado no tópico que trata acerca da reparação dos danos ambientais. Deve conduzir o meio ambiente e a sociedade a uma situação, na medida do possível, equivalente àquela de que seriam beneficiários se o dano não tivesse sido causado. Incluem- se os efeitos ecológicos e ambientais da agressão, as perdas de qualidade ambiental, os danos ambientais futuros e danos morais coletivos. Positivado na legislação civil (art. 944, CC). - Princípio da Solidariedade Intergeracional Princípio 3 da RIO/92: “O direito ao desenvolvimento deve ser exercido de modo a permitir que sejam atendidas equitativamente as necessidades das gerações futuras.” Previsto no art. 225, CF. O legislador constituinte criou um sujeito de direito indeterminado, ou seja, gerações futuras, que ainda não nasceram e para os quais os recursos naturais devem ser preservados. A solidariedade ambiental é sincrônica (presentes gerações) e diacrônica (futuras gerações). - Princípio da Proibição do Retrocesso Ecológico (Canotilho) Vedação ao retrocesso quando já existem medidas protetivas. Impede que qualquer um dos Poderes ataque o núcleo essencial de direitos e garantias ambientais já positivados, protegidos e implementados. Não é possível a edição de normas posteriores mais flexíveis, pois comprometem a solidariedade intergeracional. - Princípio da Progresso Ecológico (Canotilho) Necessidade de avançar e aprimorar a legislação ambiental. “Cláusula de Progressividade” do Pacto Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (art. 2º, 1). Finalidade de garantir a disponibilidade permanente e salubridade social. - Princípioda Correção na Fonte (Canotilho) A poluição deve ser corrigida no local em que foi produzida. Ao poluidor cabe corrigir o dano, no local em que foi produzido, especialmente para que seja evitado o “turismo” da poluição, ou seja, a migração das consequências em dada área para outra até então intacta.
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