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Medicina Veterinária Patologia Clínica Rebeca Meneses @RebecaWoset Classificação e Abordagem da Anemia A anemia é resultante de uma doença primária, responsável pela destruição de eritrócitos, podendo ser ocasionada pela perda de sangue decorrente de hemorragia, pela diminuição da produção de eritrócitos ou por alguma combinação desses eventos. Sinais clínicos específicos associados à hemólise podem incluir esplenomegalia, icterícia e urina escurecida, devido a hemobloginúria ou bilirrubinúria. A gravidade dos sinais clínicos geralmente está relacionada com o tempo de aparecimento do quadro anêmico, pois em animais com início gradativo do quadro, resultante de perda crônica de sangue ou de disfunção da medula óssea, há certo grau compensatório da hipoxemia. Entre os mecanismos compensatórios inclui-se o aumento da concentração de 2,3-disfofoglicerato dos eritrócitos, o qual diminui a afinidade do oxigênio pela hemoglobina e, portanto, intensifica o fornecimento de oxigênio para os tecidos, aumentando o débito cardíaco e ajudando na redistribuição do fluxo sanguíneo para os órgãos vitais. Animais com perda sanguínea ou hemólise aguda grave podem vir a óbito. CLASSIFICAÇÃO DA ANEMIA Três parâmetros gerais são utilizados para classificar a anemia: tamanho dos eritrócitos e teor de hemoglobina, resposta da medula óssea e fisiopatogênese. TAMANHO DOS ERITRÓCITOS E TEOR DE HEMOGLOBINA Tradicionalmente a anemia tem sido classificada pelo VCM e CHCM. A anemia é classificada em microcítica, normocítica ou macrocítica quando os eritrócitos apresentam tamanho pequeno, normal ou grande, respectivamente. Refere-se anemia hipocrômica e normocrômica quando os eritrócitos apresentam teor de hemoglobina diminuído e normal, respectivamente. Em geral, a anemia macrocítica indica que a medula óssea se encontra funcional e está liberando células imaturas, de tamanho maior do que o normal. Deve-se reavaliar o paciente quando for constatada macrocitose não acompanhada de policromasia ou reticulocitose, pois, provavelmente, a resposta regenerativa não é a causa de macrocitose. Os animais com anemia normocítica geralmente desenvolvem anemia não regenerativa ou pré- regenerativa. Contudo, o VCM de animais com anemia regenerativa pode estar na faixa de normalidade e, assim, a anemia é classificada como normocítica. Ocasionalmente, os animais com deficiência de ferro podem apresentar anemia microcítica hipocrômica; no entanto, na maior parte dos animais deficientes de ferro, o valor de CHCM encontra-se na faixa de normalidade. RESPOSTA DA MEDULA ÓSSEA A anemia é classificada como regenerativa ou não regenerativa com base na quantidade de eritrócitos imaturos circulantes. No início, a liberação de eritrócitos imaturos é uma resposta normal da medula em decorrência do aumento da produção de eritropoetina, principalmente pelo tecido renal, secundário à hipoxia. Em esfregaços sanguíneos corados por Wright, os eritrócitos imaturos apresentam-se como células policromatofílicas; nota-se um retículo azul (reticulócito) quando se utiliza o novo azul de metileno ou azul cresil brilhante. CLASSIFICAÇÃO FISIOPATOLÓGICA A classificação fisiopatológica da anemia baseia- se, essencialmente, na disfunção primária. A anemia não regenerativa é resultante de eritropoese defeituosa ou diminuída. A diminuição da eritropoese é geralmente classificada pelo fato de a produção de neutrófilos e plaquetas também estar diminuída (anemia aplásica) ou se a produção de eritrócitos está reduzida (hipoplasia) ou ausente (aplasia). Além disso, a produção de eritrócitos pode ser Medicina Veterinária Patologia Clínica Rebeca Meneses @RebecaWoset Classificação e Abordagem da Anemia prejudicada por um distúrbio intrínseco da medula óssea (causas primárias), como mielofibrose, mielodisplasia ou induzidos por distúrbio extrínseco (ou seja, secundários). Entre esses, incluem-se doença renal crônica, algumas doenças endócrinas, doenças inflamatórias, agentes infecciosos, como Ehrlichia sp., vírus da anemia infecciosa equina, vírus da leucemia felina, destruição imunomediada de precursores de eritrócitos e lesão induzida por medicamentos ou substâncias químicas. A anemia regenerativa é causada por perda de sangue ou destruição de eritrócitos. A hemorragia pode ser interna ou externa, bem como aguda ou crônica. As causas de perda de sangue aguda incluem trauma, lesões hemorrágicas e distúrbios hemostáticos (p. ex., trombocitopenia ou coagulopatia hereditária ou adquirida, tais como intoxicação por varfarina ou coagulopatia intravascular disseminada). Já crônica são lesões hemorrágicas especialmente no TGI. A destruição de eritrócitos pode ser intravascular ou extravascular e decorre de disfunções intrínsecas (primárias), como deficiências de membrana ou de enzimas de origem hereditária; ou extrínsecas (secundárias), como ação de hemoparasitas ou destruição imunomediada. ANEMIA REGENERATIVA A anemia regenerativa é secundária à hemorragia ou à hemólise ou ela pode ser verificada na fase de recuperação de disfunção da medula óssea. A destruição de eritrócitos (hemólise) pode ser intra ou extravascular e decorre de fatores intrínsecos (primários), tais como deficiências de membrana de enzima de origens hereditárias, ou de fatores extrínsecos (secundários), como hemoparasitas ou hemólise imunomediada. HEMORRAGIA HEMORRAGIA AGUDA No caso de hemorragia aguda, inicialmente, o hematócrito permanece normal, porque há perda simultânea de eritrócitos e de plasma. No entanto, em algumas horas, o VG e o teor plasmático de proteínas diminuem em razão do efeito diluidor decorrente da transferência de líquido intersticial ao sangue. Aproximadamente 72 h após a hemorragia, surgem eritrócitos policromatofílicos (reticulócitos) no sangue; em geral, após cerca de 1 semana, nota-se a contagem máxima. O teor plasmático de proteína deve retornar ao normal em aproximadamente 1 semana. HEMORRAGIA CRÔNICA A hemorragia crônica (anemia por deficiência de ferro) resulta em anemia por deficiência de ferro. Em adultos, a anemia por deficiência de ferro ocorre quase sempre devido à hemorragia crônica. Normalmente está relacionada a sangramento do TGI. ACHADOS LABORATORIAIS A característica da anemia por deficiência de ferro é a diminuição do volume corpuscular médio (VCM) ou uma subpopulação de células microcíticas. HEMÓLISE (INTRAVASCULAR OU EXTRAVASCULAR ANEMIA HEMOLÍTICA IMUNOMEDIADA A AHIM é a consequência do aumento da destruição de eritrócitos, como resultado da ação de anticorpos contra eritrócitos ou da adesão de complexos imunes a eles. Em geral, a anemia hemolítica imunomediada exibe regeneração marcante, com alto grau de policromasia (reticulocitose). Às vezes, a anemia hemolítica imunomediada é classificada como primária (idiopática) ou secundária (quando há doença concomitante). Os anticorpos associados à AHIM são geralmente IgG ou IgM, também havendo relato de adesão Medicina Veterinária Patologia Clínica Rebeca Meneses @RebecaWoset Classificação e Abordagem da Anemia de IgA aos eritrócitos. Em geral, os anticorpos ligam-se às glicoproteínas das membranas dos eritrócitos. Caso haja envolvimento de IgM, será possível observar uma aglutinação de eritrócitos no esfregaço sanguíneo com possível visualização macroscópica no frasco de sangue. SINAIS CLÍNICOS E ACHADOS LABORATORIAIS Os sinais clínicos são variáveis e muitas vezes incluem letargia, esplenomegalia, febre e icterícia, além de outros sinais gerais associados à anemia, como palidez de mucosas, dispneia, taquicardia e sopro cardíaco sistólico, no caso de anemia grave. Os animais com anemia aguda podem apresentar colapso, enquanto os animais com quadro anêmico de início mais gradativo podem se adaptar àanemia e manifestar sinais clínicos menos graves. Os achados laboratoriais são variáveis,porém sempre incluem diminuição do volume globular, da contagem de eritrócitos e da concentração de hemoglobina. Quando há hemólise intravascular, pode haver também hemoglobinemia, hemoglobinúria, hiperbilirrubinemia e bilirrubinúria.
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