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TUTORIAL SP2.UC2.04 . Lara Regina Vieira - 4ª Fase 1. Explicar o ciclo menstrual a partir da menarca. GUYTON Puberdade, Menarca e Menopausa A puberdade significa o início da vida sexual adulta. É marcada por um aumento gradual da secreção de estrogênio pelos folículos em desenvolvimento, que são conduzidos pelas crescentes concentrações de FSH e LH da hipófise. A menarca significa o início da menstruação. Ela marca a conclusão do primeiro ciclo do sistema, embora os vários ciclos iniciais geralmente não incluam a ovulação. A menopausa é o período durante o qual os ciclos sexuais da mulher cessam e os hormônios ovarianos diminuem a níveis mínimos. A interrupção dos ciclos é o resultado da presença de um número inadequado de folículos primários no ovário para responder ao efeito estimulatório do FSH. Como resultado, a dinâmica estrogênio-secreção durante a primeira parte do ciclo torna-se inadequada para disparar o pico de LH e não ocorre ovulação. Após inúmeros ciclos irregulares anovulatórios, a produção de estrogênio diminui para quase zero. Sem a inibição, a taxa de secreção de LH e FSH continua em níveis elevados por muitos anos após a menopausa. Ovulogênese e Desenvolvimento Folicular nos Ovários Durante o desenvolvimento embrionário inicial, as células germinativas primordiais da endoderme dorsal do saco vitelino migram, ao longo do mesentério do intestino posterior, para a superfície externa do ovário, que é revestida por um epitélio germinativo, derivado embriologicamente do epitélio das cristas germinais. Durante essa migração, as células germinativas dividem-se repetidamente. Uma vez que essas células germinativas primordiais alcancem o epitélio germinativo, elas migram para o interior da substância do córtex ovariano e se tornam ovogônias, ou ovócitos primordiais. Cada óvulo primordial, então, reúne em torno de si uma camada de células fusiformes do estroma ovariano (o tecido de suporte do ovário), fazendo com que adquiram características epitelioides; são, então, as chamadas células da granulosa. O óvulo circundado pela camada única de células da granulosa é denominado folículo primordial. Nessa fase, o óvulo ainda está imaturo, e é preciso que mais duas divisões celulares ocorram antes que ele possa ser fertilizado por um espermatozoide. Nesse ponto, o óvulo é chamado de ovócito primário. A ovogônia no ovário embrionário completa a replicação mitótica, e a 1ª fase da meiose começa no 5º mês do desenvolvimento fetal. Em seguida, a mitose das células germinativas cessa, e nenhum ovócito adicional é formado. No nascimento, o ovário contém cerca de 1-2 milhões de ovócitos primários. A 1ª etapa da meiose começa durante o desenvolvimento fetal, mas continua até o estágio final da prófase I na puberdade, que geralmente ocorre entre 10-14 anos em mulheres. A primeira divisão meiótica do ovócito ocorre após a puberdade. Cada ovócito se divide em duas células, o ovócito secundário e um primeiro corpúsculo polar (primeiro polócito). Cada uma dessas células contém 23 cromossomos duplicados. O primeiro corpúsculo polar pode ou não sofrer uma segunda divisão meiótica e, então, desintegra-se. O óvulo sofre uma segunda divisão meiótica, e, após a separação das cromátides-irmãs, há uma pausa na meiose. Se o óvulo for fertilizado, a etapa final da meiose ocorre, e as cromátides-irmãs do óvulo convertem-se em células separadas. Quando há ovulação, se ele for fertilizado, ocorre a meiose final. A metade das cromátides-irmãs permanece no óvulo fertilizado, e a outra metade é liberada em um segundo corpúsculo polar (segundo polócito), que, então, desintegra-se. Na puberdade, apenas ≈300 mil ovócitos permanecem nos ovários, e só uma pequena porcentagem deles atinge a maturidade. Os milhares de ovócitos que não amadurecem se degeneram. Durante todos os anos reprodutivos da vida adulta, por volta dos 13-46 anos, em média, apenas 400-500 folículos primordiais se desenvolvem o suficiente para expelir seus óvulos, um a cada mês; o restante se degenera (ou seja, tornam-se atrésicos). Ao fim da capacidade reprodutora (na menopausa), apenas alguns folículos primordiais permanecem nos ovários, e mesmo esses folículos se degeneram em pouco tempo. Sistema Hormonal Feminino O sistema hormonal feminino, assim como o masculino, consiste em três hierarquias de hormônios, do seguinte modo: 1. Um hormônio de liberação hipotalâmica, chamado de hormônio liberador de gonadotrofina (LHRH ou GnRH). 2. Os hormônios sexuais da adeno-hipófise, o hormônio foliculoestimulante (FSH) e o hormônio luteinizante (LH), ambos secretados em resposta à liberação de LHRH do hipotálamo. 3. Os hormônios ovarianos – estrogênio e progesterona – que são secretados pelos ovários em resposta aos dois hormônios sexuais femininos da adeno-hipófise. Esses hormônios são secretados em intensidades drasticamente distintas durante as diferentes partes do ciclo sexual feminino mensal. A quantidade de LHRH liberada pelo hipotálamo aumenta e diminui de modo bem menos drástico durante o ciclo sexual mensal. Esse hormônio é secretado em pulsos curtos, em média uma vez a cada 90 minutos, como ocorre nos homens. Ciclo Ovariano Mensal e Função dos Hormônios Gonadotróficos Os anos reprodutivos normais da mulher são caracterizados por mudanças rítmicas mensais da secreção dos hormônios femininos e correspondem a alterações nos ovários e em outros órgãos sexuais. Esse padrão rítmico é denominado ciclo sexual mensal feminino (ou, menos precisamente, ciclo menstrual). O ciclo dura, em média, 28 dias. Pode ser curto, durando 20 dias, ou longo, com 45 dias em algumas mulheres, embora o ciclo de duração anormal esteja, com frequência, associado à menor fertilidade. O ciclo sexual feminino tem dois resultados significativos. Primeiro, apenas um único óvulo é normalmente liberado dos ovários a cada mês, de maneira que apenas um único feto crescerá de cada vez. Segundo, o endométrio uterino é preparado, com antecedência, para a implantação do óvulo fertilizado, em determinado momento do mês. Hormônios Gonadotróficos e seus Efeitos nos Ovários As mudanças ovarianas que ocorrem durante o ciclo sexual dependem completamente dos hormônios gonadotróficos FSH e LH, que são secretados pela adeno-hipófise. O FSH e o LH são pequenas glicoproteínas. Na ausência desses hormônios, os ovários permanecem inativos, como ocorre durante toda a infância, quando quase nenhum hormônio gonadotrófico é secretado. Entre os 9-12 anos, a hipófise começa a secretar progressivamente mais FSH e LH, levando ao início de ciclos sexuais mensais normais, que começam entre 11-15 anos. Esse período de mudança é chamado de puberdade, e o primeiro ciclo menstrual é chamado de menarca. Durante cada mês do ciclo sexual feminino, ocorre aumento e diminuição cíclicos de FSH e LH. O FSH e o LH estimulam suas células-alvo ovarianas ao se combinarem aos receptores altamente específicos de FSH e LH nas membranas das células-alvo ovarianas. Por sua vez, os receptores ativados aumentam a secreção das células e, geralmente, também seu crescimento e proliferação. Quase todos esses efeitos estimuladores resultam da ativação do sistema de segundo mensageiro do monofosfato de adenosina cíclico (AMPc), no citoplasma celular, o que leva à formação de proteinoquinases e de múltiplas fosforilações de enzimas-chave que estimulam a síntese dos hormônios sexuais. Crescimento do Folículo Ovariano | Fase Folicular do Ciclo Ovariano Quando uma criança do sexo feminino nasce, cada óvulo é circundado por uma única camada de células da granulosa; o óvulo, com esse revestimento de células da granulosa, é chamado de folículo primordial. Durante toda a infância, acredita-se que as células da granulosa forneçam nutrição ao óvulo e secretem um fator inibidor da maturação do ovócito que mantém o óvulo parado em seu estado primordial, no estágio de prófase da divisão meiótica. Então, após a puberdade, quando o FSH e o LH da adeno-hipófise começam a ser secretados em quantidades significativas, os ovários (comalguns dos folículos e seu interior) começam a crescer. O primeiro estágio do crescimento folicular é o aumento moderado do próprio óvulo, cujo diâmetro aumenta de duas a três vezes. Em seguida, ocorre o desenvolvimento de camadas adicionais das células da granulosa em alguns dos folículos. Esses folículos são chamados de folículos primários. • Desenvolvimento dos folículos antrais e maduros Durante os primeiros dias de cada ciclo sexual mensal feminino, as concentrações de FSH e de LH secretadas pela adeno-hipófise aumentam de leve a moderadamente, e o aumento do FSH é ligeiramente maior do que o do LH, precedendo-o por alguns dias. Esses hormônios, especialmente o FSH, causam crescimento acelerado de 6-12 folículos primários/mês. O efeito inicial é a rápida proliferação das células da granulosa, dando origem a muitas outras camadas dessas células. Além disso, as células fusiformes derivadas do interstício ovariano agrupam-se em diversas camadas por fora das células da granulosa, dando origem a uma segunda massa de células – chamadas de teca –, que se dividem em duas camadas. Na teca interna, as células adquirem características epitelioides semelhantes às das células da granulosa e desenvolvem a capacidade de secretar mais hormônios sexuais esteroides (estrogênio e progesterona). A teca externa, desenvolve-se, formando a cápsula de tecido conjuntivo altamente vascular, que se torna a cápsula do folículo em desenvolvimento. Após a fase proliferativa inicial de crescimento, que dura alguns dias, a massa de células da granulosa secreta o líquido folicular, que contém concentração elevada de estrogênio. O acúmulo desse líquido ocasiona o aparecimento de um antro dentro da massa de células da granulosa. O crescimento inicial do folículo primário até o estágio antral só é estimulado, principalmente, por FSH. Ocorre então o crescimento muito acelerado, levando a folículos ainda maiores, denominados folículos maduros. Esse crescimento acelerado é causado pelos seguintes fatores: 1. O estrogênio é secretado no folículo e faz com que as células da granulosa formem quantidades cada vez maiores de receptores de FSH, o que causa um efeito de feedback positivo, porque torna as células da granulosa ainda mais sensíveis ao FSH. 2. O FSH hipofisário e os estrogênios se combinam para promoverem receptores de LH nas células originais da granulosa, permitindo, assim, que a estimulação de LH ocorra em adição à estimulação do FSH, e provocando aumento ainda mais rápido da secreção folicular. 3. A elevada quantidade de estrogênio na secreção folicular e a grande quantidade de LH da adeno-hipófise agem conjuntamente para causar a proliferação das células tecais foliculares e aumentam sua secreção. Uma vez que os folículos antrais começam a crescer, seu crescimento ocorre quase explosivamente. O óvulo também aumenta em diâmetro em mais de 3-4x, representando a elevação total do diâmetro do óvulo de até 10x, ou um aumento de sua massa da ordem de 1.000x. À medida que o folículo aumenta, o óvulo permanece incorporado na massa de células da granulosa localizada em um polo do folículo. • Apenas um folículo amadurece totalmente a cada mês, e o restante sofre atresia Após 1 semana ou mais de crescimento, mas antes de ocorrer a ovulação, um dos folículos começa a crescer mais do que os outros, e os outros 5-11 folículos em desenvolvimento involuem (atresia). A causa da atresia não é clara, mas foi sugerido: as grandes quantidades de estrogênio do folículo em crescimento mais rápido agem no hipotálamo, deprimindo a secreção mais intensa de FSH pela adeno-hipófise, bloqueando, dessa forma, o maior crescimento dos folículos menos desenvolvidos. Portanto, o folículo maior continua a crescer por causa de seus efeitos de feedback positivo intrínsecos, enquanto todos os outros folículos param de crescer, e, efetivamente, involuem. Esse processo de atresia é importante, pois normalmente permite que apenas um dos folículos cresça o suficiente a cada mês para ovular, o que geralmente impede que mais de uma criança se desenvolva em cada gravidez. O folículo único atinge um diâmetro de 1-1,5 cm na época que precede a ovulação, quando é denominado folículo pré-ovulatório. Ovulação A ovulação na mulher que tem ciclo sexual de 28 dias ocorre 14 dias após o início da menstruação. Um pouco antes da ovulação, a parede externa protuberante do folículo incha rapidamente, e uma pequena área no centro da cápsula folicular, chamada de estigma, projeta-se como um bico. Em 30 min. ou mais, o líquido começa a vazar do folículo através do estigma, e, cerca de 2 min. mais tarde, o estigma se rompe inteiramente, permitindo que um líquido mais viscoso, que ocupava a porção central do folículo, seja lançado para fora. Esse líquido viscoso carrega consigo o óvulo cercado por massa de milhares de pequenas células da granulosa, denominada coroa radiada. • Um pico de hormônio luteinizante é necessário para a ovulação O LH é necessário para o crescimento folicular final e para a ovulação. Sem esse hormônio, mesmo quando grandes quantidades de FSH estão disponíveis, o folículo não progride ao estágio de ovulação. ≈2 dias antes da ovulação, a secreção de LH pela adeno-hipófise aumenta acentuadamente, de 6-10x, com pico em torno de 16 horas antes da ovulação. O FSH também aumenta em cerca de 2-3x ao mesmo tempo, e o FSH e o LH agem sinergicamente para causar uma rápida dilatação do folículo, durante os últimos dias antes da ovulação. O LH também tem um efeito específico sobre as células da granulosa e tecais, convertendo-as principalmente em células secretoras de progesterona. Portanto, secreção de estrogênio começa a cair ≈1 dia antes da ovulação, enquanto quantidades crescentes de progesterona começam a ser secretadas. É nesse ambiente de (1) crescimento rápido do folículo, (2) diminuição da secreção do estrogênio após uma fase prolongada de secreção excessiva e (3) início da secreção de progesterona que ocorre a ovulação. Sem o pico pré-ovulatório inicial de LH, a ovulação não ocorreria. • Início da ovulação O LH ocasiona rápida secreção dos hormônios esteroides foliculares que contêm progesterona. Dentro de algumas horas, dois eventos ocorrem, sendo que ambos são necessários para a ovulação: 1. A teca externa (ou seja, a cápsula do folículo) começa a liberar enzimas proteolíticas dos lisossomos. Essas enzimas causam a dissolução da parede capsular do folículo e o consequente enfraquecimento da parede, resultando em mais dilatação do folículo e degeneração do estigma. 2. Simultaneamente, há um rápido crescimento de angiogênese na parede do folículo, e, ao mesmo tempo, são secretadas as prostaglandinas (hormônios locais que causam vasodilatação) nos tecidos foliculares. Esses dois efeitos causam a transudação do plasma para o folículo, o que contribui para sua dilatação. Finalmente, a combinação da dilatação folicular e da degeneração simultânea do estigma faz com que o folículo se rompa, liberando o óvulo. Corpo-Lúteo | Fase Lútea do Ciclo Ovariano Durante as primeiras horas após a expulsão do óvulo do folículo, as células da granulosa e tecais internas remanescentes se transformam, rapidamente, em células luteínicas. Elas aumentam em diâmetro, de 2x ou mais, e se tornam preenchidas com inclusões lipídicas que lhes conferem um aspecto amarelado. Esse processo é chamado de luteinização, e a massa total de células é denominada corpo-lúteo, com um suprimento vascular bem desenvolvido. As células da granulosa no corpo-lúteo desenvolvem vastos retículos endoplasmáticos lisos intracelulares, que formam grandes quantidades dos hormônios sexuais femininos progesterona e estrogênio (com mais progesterona do que estrogênio durante a fase lútea). As células tecais formam, principalmente, os androgênios androstenediona e testosterona. No entanto, a maioria desses hormônios também é convertida pela enzima aromatase, nas células da granulosa, em estrogênios. O corpo-lúteo cresce normalmente até ≈1,5 cm de diâmetro, atingindo esse estágiode desenvolvimento 7-8 dias após a ovulação. Então, o corpo-lúteo começa a involuir e, efetivamente, perde sua função secretora e sua característica lipídica amarelada ≈12 dias após a ovulação, tornando-se o corpo albicante. Durante as semanas subsequentes, o corpo albicante é substituído por tecido conjuntivo e, ao longo dos meses, é absorvido. • Função luteinizante do LH A mudança das células da granulosa e tecas internas em células luteínicas depende principalmente do LH secretado pela adeno-hipófise. Na verdade, é a função que dá nome ao LH – luteinizante (amarelado). A luteinização também depende da extrusão do ovócito do folículo. Um hormônio local, ainda não caracterizado no líquido folicular, denominado fator inibidor da luteinização, parece controlar o processo de luteinização até depois da ovulação. • Secreção pelo corpo-lúteo: uma função adicional do hormônio luteinizante O corpo-lúteo é um órgão altamente secretor, produzindo grandes quantidades de progesterona e de estrogênio. Uma vez que o LH (principalmente aquele secretado durante o pico ovulatório) tenha agido nas células granulosas e tecais para causar a luteinização, as células luteínicas recém-formadas parecem estar programadas para seguir a sequência de (1) proliferação, (2) aumento e (3) secreção, seguida por (4) degeneração. Tudo isso ocorre em ≈12 dias. Outro hormônio com quase exatamente as mesmas propriedades do LH, a gonadotrofina coriônica (HCG), que é secretada pela placenta, pode agir no corpo-lúteo para prolongar sua vida, geralmente mantendo-o, pelo menos, nos primeiros 2-4 meses de gravidez. • Involução do corpo-lúteo e início do próximo ciclo ovariano O estrogênio, em especial, e a progesterona, em menor grau, secretados pelo corpo-lúteo durante a fase lútea do ciclo ovariano têm efeitos potentes de feedback na adeno-hipófise para manter baixas taxas de secreção de FSH e de LH. Além disso, as células luteínicas secretam pequenas quantidades do hormônio inibina, a mesma inibina secretada pelas células de Sertoli nos testículos masculinos. Esse hormônio inibe a secreção de FSH pela adeno-hipófise. O resultado são concentrações sanguíneas reduzidas de FSH e de LH, e a queda desses hormônios, finalmente, provoca a degeneração do corpo-lúteo completamente, processo denominado involução do corpo-lúteo. A involução final normalmente ocorre no final de quase exatamente 12 dias de vida do corpo-lúteo, em torno do 26º dia do ciclo sexual feminino normal, 2 dias antes do início da menstruação. Nesse momento, a parada súbita de secreção de estrogênio, progesterona e inibina pelo corpo-lúteo remove a inibição por feedback da adeno-hipófise, permitindo que ela comece a secretar novamente quantidades crescentes de FSH e LH. O FSH e o LH dão início ao crescimento de novos folículos, começando um novo ciclo ovariano. A escassez de progesterona e estrogênio, nesse momento, também leva à menstruação uterina. Resumo Aproximadamente a cada 28 dias, os hormônios gonadotróficos da adeno-hipófise fazem com que cerca de 8-12 novos folículos comecem a crescer nos ovários. Um desses folículos finalmente torna-se completamente maduro e ovula no 14º dia do ciclo. Durante o crescimento dos folículos, é secretado, principalmente, o estrogênio. Após a ovulação, as células secretoras dos folículos residuais se desenvolvem em um corpo-lúteo que secreta grande quantidade dos principais hormônios femininos: estrogênio e progesterona. Depois de outras 2 semanas, o corpo-lúteo degenera-se, quando, então, os hormônios ovarianos, estrogênio e progesterona, diminuem bastante, iniciando a menstruação. Um novo ciclo ovariano se segue. Funções dos Hormônios Ovarianos | Estradiol e Progesterona Os dois tipos de hormônios sexuais ovarianos são os estrogênios e os progestágenos. Sem dúvida, o mais importante dos estrogênios é o estradiol (E2), e o progestágeno mais importante é a progesterona. Os estrogênios promovem, principalmente, a proliferação e o crescimento de células específicas no corpo, responsáveis pelo desenvolvimento da maioria das atividades sexuais secundárias das mulheres. Os progestágenos atuam, basicamente, preparando o útero para a gravidez e as mamas para a lactação. Química dos Hormônios Sexuais • Estrogênios Na mulher não grávida normal, os estrogênios são secretados em quantidades significativas apenas pelos ovários, embora pequenas quantidades também sejam secretadas pelos córtices adrenais. Durante a gravidez, grandes quantidades de estrogênios também são secretadas pela placenta. Apenas três estrogênios estão presentes, em quantidades significativas, no plasma feminino: β-estradiol (E2), estrona (E1) e estriol (E3). O principal estrogênio secretado pelos ovários é o β-estradiol. Pequenas quantidades de estrona também são secretadas, mas grande parte é formada nos tecidos periféricos de androgênios secretados pelos córtices adrenais e pelas células tecais ovarianas. O estriol é um estrogênio fraco; é um produto oxidativo, derivado do estradiol e da estrona, e sua conversão se dá, principalmente, no fígado. A potência estrogênica do β-estradiol é 12x maior que a da estrona e 80x maior que a do estriol. Considerando essas potências relativas, pode-se ver que o efeito estrogênico total do β-estradiol é, geralmente, muitas vezes maior do que o dos outros dois juntos. Por esse motivo, o β-estradiol é considerado o estrogênio principal, embora os efeitos estrogênicos da estrona não sejam desprezíveis. • Progestágenos O progestágeno mais importante é a progesterona. No entanto, pequenas quantidades de outro progestágeno, a 17α-hidroxiprogesterona, são secretadas junto com a progesterona e têm, essencialmente, os mesmos efeitos. Contudo, para fins práticos, a progesterona é geralmente considerada como o progestágeno mais importante. Em mulheres não grávidas, a progesterona é geralmente secretada em quantidades significativas apenas durante a última metade de cada ciclo ovariano, pelo corpo-lúteo. Uma grande quantidade de progesterona também é secretada pela placenta durante a gravidez, especialmente após o 4º mês de gestação. • Síntese de estrogênios e de progestágenos Todos são esteroides. São sintetizados nos ovários, principalmente do colesterol derivado do sangue, mas também, de certa forma, da Acetilcoa-A, onde várias moléculas podem se combinar, formando o núcleo esteroide apropriado. Durante a síntese, principalmente progesterona e androgênios (testosterona e androstenediona) são sintetizados primeiro; então, durante a fase folicular do ciclo ovariano, antes que esses dois hormônios iniciais possam deixar os ovários, quase todos os androgênios e grande parte da progesterona são convertidos em estrogênios pela enzima aromatase nas células da granulosa. Como as células da teca não têm aromatase, elas não podem converter androgênios em estrogênios. No entanto, os androgênios se difundem das células da teca para as células da granulosa adjacentes, onde são convertidos em estrogênios pela aromatase, cuja atividade é estimulada por FSH. Durante a fase lútea do ciclo, muito mais progesterona é formada do que pode ser totalmente convertida, o que responde pela grande secreção de progesterona no sangue circulante nesse momento. Além disso, cerca de 1/15 a mais de testosterona é secretado no plasma da mulher pelos ovários, do que é secretado no plasma do homem pelos testículos. • Estrogênios e progesterona são transportados no sangue ligados a proteínas plasmáticas Estrogênios e progesterona são transportados no sangue, ligados principalmente à albumina plasmática e a uma globulina específica de ligação de estrogênio e progesterona (SHBG - sex hormone binding globulin). A ligação entre esses dois hormônios e as proteínas plasmáticas é fraca o bastante para que sejam rapidamente liberados nos tecidos, durante um período de ≈30 min. ou mais. • Funções do fígado na degradação do estrogênio O fígado conjuga estrogênios para formar glicuronídeos e sulfatos, e ≈1/5 desses produtos conjugados é excretado na bile; a maiorparte do restante é excretada na urina. Além disso, o fígado converte os potentes estrogênios estradiol e estrona no estrogênio quase totalmente impotente, o estriol. Portanto, a função hepática reduzida, efetivamente, aumenta a atividade dos estrogênios no corpo, às vezes causando hiperestrogenismo. • Destino da progesterona Poucos minutos após ter sido secretada, quase toda a progesterona é degradada em outros esteroides que não têm efeito progestacional. Assim, como no caso dos estrogênios, o fígado é especialmente importante para essa degradação metabólica. O principal produto final da degradação da progesterona é o pregnanediol. ≈10% da progesterona original são excretados na urina dessa forma. Assim, pode-se estimar a formação de progesterona no corpo a partir dessa excreção. Funções dos Estrogênios | Seus Efeitos nas Características Sexuais Femininas Primárias e Secundárias Uma função primária dos estrogênios é causar proliferação celular e crescimento dos tecidos dos órgãos sexuais e de outros tecidos relacionados à reprodução. • Efeito dos estrogênios no útero e nos órgãos sexuais femininos externos Durante a infância, os estrogênios são secretados apenas em quantidades mínimas, mas, na puberdade, a quantidade secretada na mulher sob a influência dos hormônios gonadotróficos hipofisários aumenta em 20x ou mais. Nesse momento, os órgãos sexuais femininos mudam dos de uma criança para os de adulto. Os ovários, as tubas uterinas, o útero e a vagina aumentam várias vezes de tamanho. Além disso, a genitália externa aumenta, com deposição de gordura no monte pubiano e nos grandes lábios, além do aumento dos pequenos lábios. Além disso, os estrogênios alteram o epitélio vaginal do tipo cuboide para o tipo estratificado, considerado mais resistente a traumatismos e infecções do que o epitélio das células cuboidais pré-púberes. Infecções vaginais em crianças quase sempre podem ser curadas pela administração de estrogênios, simplesmente por causa da maior resistência do epitélio vaginal resultante. Durante os primeiros anos da puberdade, o tamanho do útero aumenta de 2-3x, porém, mais importantes do que o aumento no tamanho do útero são as alterações que ocorrem no endométrio uterino, sob a influência de estrogênios. Eles causam proliferação acentuada do estroma endometrial e grande desenvolvimento das glândulas endometriais, que mais tarde ajudarão no fornecimento de nutrição ao óvulo implantado. • Efeito dos estrogênios nas tubas uterinas Os efeitos dos estrogênios no revestimento da mucosa das tubas uterinas são semelhantes aos seus efeitos no endométrio uterino. Os estrogênios fazem com que os tecidos glandulares desse revestimento proliferem e, especialmente importante, aumentam o número de células epiteliais ciliadas que revestem as tubas uterinas. Além disso, a atividade dos cílios é consideravelmente aumentada. Esses cílios sempre batem na direção do útero, ajudando a impulsionar o óvulo fertilizado nessa direção. • Efeito dos estrogênios nas mamas As mamas primordiais de mulheres e homens são exatamente iguais. De fato, sob a influência de hormônios apropriados, a mama masculina, nas primeiras 2 décadas de vida, pode-se desenvolver suficientemente para produzir leite da mesma maneira que a feminina. Os estrogênios causam (1) desenvolvimento dos tecidos do estroma mamário, (2) crescimento de um extenso sistema de ductos e (3) depósito de gordura nas mamas. Os lóbulos e alvéolos das mamas se desenvolvem até certo ponto sob a influência apenas dos estrogênios, mas é a progesterona e a prolactina que, em última análise, determinam o crescimento e a função final dessas estruturas. Em resumo, os estrogênios iniciam o crescimento das mamas e do aparato produtor de leite. Eles são também responsáveis pelo crescimento e pela aparência externa característica da mama feminina adulta. No entanto, não completam a tarefa de converter a mama em órgãos produtores de leite. • Efeito dos estrogênios no esqueleto Os estrogênios inibem a atividade osteoclástica nos ossos e, portanto, estimulam o crescimento ósseo. Pelo menos parte desse efeito é devido à estimulação da osteoprotegerina (fator inibidor da osteoclastogênese), uma citocina que inibe a reabsorção óssea. Na puberdade, quando a mulher entra em seus anos reprodutivos, seu crescimento em altura torna-se rápido por vários anos. No entanto, os estrogênios também causam a união das epífises com as hastes dos ossos longos. Esse efeito do estrogênio na mulher é muito mais forte do que o efeito semelhante da testosterona no homem. Como resultado, o crescimento da mulher geralmente cessa vários anos antes do crescimento do homem. Uma mulher eunucoide, que é desprovida da produção de estrogênio, geralmente cresce vários centímetros a mais do que a mulher normal madura, porque suas epífises não se uniram no tempo normal. • Osteoporose causada pela deficiência de estrogênio na velhice Após a menopausa, quase nenhum estrogênio é secretado pelos ovários. Essa deficiência de estrogênio leva a (1) aumento da atividade osteoclástica nos ossos, (2) diminuição da matriz óssea e (3) diminuição da deposição de cálcio e fosfato ósseos. Em algumas mulheres, esse efeito é extremamente grave, e a condição resultante é chamada de osteoporose. Uma vez que a osteoporose pode enfraquecer muito os ossos e levar a fraturas ósseas, especialmente a fratura das vértebras, muitas mulheres na pós-menopausa são tratadas profilaticamente com reposição de estrogênio para prevenir os efeitos osteoporóticos. • Os estrogênios aumentam ligeiramente a síntese de proteínas Os estrogênios causam um ligeiro aumento na proteína corporal total, o que é evidenciado por um ligeiro equilíbrio nitrogenado positivo, quando os estrogênios são administrados. Esse efeito resulta, principalmente, do efeito promotor do crescimento de estrogênio nos órgãos sexuais, nos ossos e em alguns poucos tecidos do corpo. O maior depósito de proteínas causado pela testosterona é muito mais geral e, muitas vezes, mais potente do que o causado pelos estrogênios. • Os estrogênios aumentam o metabolismo corporal e a deposição de gordura Os estrogênios aumentam ligeiramente o metabolismo de todo o corpo, mas apenas cerca de 1/3 a mais do que o aumento causado pela testosterona. Estrogênios também causam depósito de quantidades maiores de gordura nos tecidos subcutâneos. Como resultado, a porcentagem de gordura corporal em mulheres é consideravelmente maior do que nos homens, cujos corpos contêm mais proteína. Além da deposição de gordura nas mamas e nos tecidos subcutâneos, os estrogênios causam deposição de gordura nas nádegas e coxas, o que é característico da aparência feminina. • Os estrogênios têm pouco efeito na distribuição dos pelos Os estrogênios não afetam muito a distribuição dos pelos. Porém, os pelos se desenvolvem na região púbica e nas axilas após a puberdade. Os androgênios, formados em quantidades crescentes pelas glândulas adrenais femininas após a puberdade, são os principais responsáveis por esse desenvolvimento de pelos. • Efeito dos estrogênios na pele Os estrogênios fazem com que a pele desenvolva uma textura macia e geralmente lisa, mas, mesmo assim, a pele de uma mulher é mais espessa do que a de uma criança ou de uma mulher castrada. Os estrogênios também fazem com que a pele se torne mais vascularizada, o que, muitas vezes, está associado a uma pele mais quente, promovendo também maior sangramento nos cortes superficiais do que se observa nos homens. • Efeito dos estrogênios no equilíbrio eletrolítico A semelhança química entre os hormônios estrogênicos e os hormônios adrenocorticais foi discutida anteriormente. Os estrogênios, assim como a aldosterona e alguns outros hormônios adrenocorticais, causam retenção de sódio e água nos túbulos renais. Esse efeito dos estrogênios é, normalmente, leve e só raramente significativo, mas, durante a gravidez, a enorme formação de estrogênios pela placenta pode contribuir para a retenção de líquidos no corpo. Funções da Progesterona• A progesterona promove alterações secretórias no útero Uma das principais funções da progesterona é promover mudanças secretoras no endométrio uterino durante a última metade do ciclo sexual feminino mensal, preparando o útero para a implantação do óvulo fertilizado. Além desse efeito no endométrio, a progesterona diminui a frequência e a intensidade das contrações uterinas, ajudando, assim, a impedir a expulsão do óvulo implantado. • A progesterona promove a secreção pelas tubas uterinas A progesterona também promove o aumento da secreção pelo revestimento da mucosa das tubas uterinas. Essas secreções são necessárias para a nutrição do óvulo fertilizado, em divisão, à medida que atravessa a tuba uterina antes da implantação. • A progesterona promove o desenvolvimento das mamas A progesterona promove o desenvolvimento dos lóbulos e alvéolos das mamas, fazendo com que as células alveolares proliferem, aumentem e adquiram natureza secretora. Entretanto, a progesterona não faz com que os alvéolos secretem leite; o leite só é secretado depois que a mama preparada é adicionalmente estimulada pela prolactina da adeno-hipófise. A progesterona também faz com que as mamas inchem. Parte desse inchaço deve-se ao desenvolvimento secretor nos lóbulos e alvéolos, mas, em parte, resulta também do aumento de líquido no tecido. Ciclo Endometrial Mensal e Menstruação Associado à produção cíclica mensal de estrogênios e progesterona pelos ovários, temos um ciclo endometrial no revestimento do útero, que opera ao longo dos seguintes estágios: (1) proliferação do endométrio, (2) desenvolvimento de alterações secretoras no endométrio e (3) descamação do endométrio, que é conhecido como menstruação. • Fase proliferativa (fase estrogênica) do ciclo endometrial, que ocorre antes da ovulação No início de cada ciclo mensal, grande parte do endométrio foi descamada pela menstruação. Após a menstruação, permanece apenas uma pequena camada de estroma endometrial, e as únicas células epiteliais restantes são aquelas localizadas nas porções mais profundas das glândulas e criptas do endométrio. Sob a influência dos estrogênios, secretados em grande quantidade pelo ovário durante a primeira parte do ciclo ovariano mensal, as células do estroma e as células epiteliais proliferam rapidamente. A superfície endometrial é reepitelizada dentro de 4-7 dias após o início da menstruação. Então, durante a próxima semana e meia, antes de a ovulação ocorrer, o endométrio aumenta muito em espessura, devido ao aumento do número de células do estroma, ao progressivo crescimento das glândulas endometriais e aos novos vasos sanguíneos no endométrio. Na hora da ovulação, o endométrio tem 3-5 mm de espessura. As glândulas endometriais, especialmente as da região cervical, secretam um muco fino e pegajoso. Os filamentos de muco efetivamente se alinham ao longo da extensão do canal cervical, formando canais que ajudam a guiar os espermatozoides na direção adequada da vagina para o útero. • Fase secretora (fase progestacional) do ciclo endometrial, que ocorre após a ovulação Durante a maior parte da última metade do ciclo mensal, após a ovulação ter ocorrido, a progesterona e o estrogênio são secretados em grande quantidade pelo corpo-lúteo. Os estrogênios causam uma leve proliferação celular adicional do endométrio durante essa fase do ciclo, enquanto a progesterona causa um inchaço acentuado e torna o endométrio secretor. As glândulas aumentam em tortuosidade, e um excesso de substâncias secretoras se acumula nas células epiteliais glandulares. Além disso, o citoplasma das células do estroma aumenta; depósitos de lipídios e glicogênio aumentam muito nas células do estroma; o suprimento de sangue ao endométrio aumenta ainda mais, em proporção ao desenvolvimento da atividade secretora, e os vasos sanguíneos tornam-se altamente tortuosos. No pico da fase secretora, ≈1 semana após a ovulação, o endométrio tem uma espessura de 5-6 mm. O objetivo de todas essas alterações endometriais é produzir um endométrio altamente secretor que contenha grande quantidade de nutrientes armazenados, para fornecer as condições adequadas para a implantação do óvulo fertilizado, durante a última metade do ciclo mensal. A partir do momento em que o óvulo fertilizado chega à cavidade uterina, saído da tuba uterina (o que ocorre 3-4 dias após a ovulação), até o momento em que o óvulo se implanta (7-9 dias após a ovulação), as secreções uterinas, chamadas de “leite uterino”, fornecem nutrição ao óvulo em suas divisões iniciais. Em seguida, uma vez que o óvulo se implanta no endométrio, as células trofoblásticas na superfície do zigoto implantado (blastocisto), começam a digerir o endométrio e a absorver as substâncias endometriais armazenadas, disponibilizando, assim, grandes quantidades de nutrientes para o embrião recém-implantado. • Menstruação Se o ovócito não for fertilizado, ≈2 dias antes do final do ciclo mensal, o corpo-lúteo no ovário involui, e a secreção dos hormônios ovarianos (estrogênios e progesterona) diminui. Segue-se a menstruação. A menstruação é causada pela redução de estrogênio e progesterona, especialmente a progesterona, no final do ciclo ovariano mensal. O primeiro efeito é a redução da estimulação das células endometriais por esses dois hormônios, seguida rapidamente pela involução do endométrio para ≈65% da sua espessura anterior. Em seguida, durante as 24h que precedem o início da menstruação, os vasos sanguíneos tortuosos, que conduzem às camadas mucosas do endométrio, tornam-se vasoespásticos (contração esporádica), presumivelmente devido a algum efeito da involução, como a liberação de material vasoconstritor –, possivelmente um dos tipos vasoconstritores das prostaglandinas, presentes em abundância nessa época. O vasoespasmo, a diminuição de fornecimento de nutrientes ao endométrio e a perda de estimulação hormonal desencadeiam necrose no endométrio, em particular dos vasos sanguíneos. Como resultado, o sangue primeiro penetra a camada vascular do endométrio, e as áreas hemorrágicas crescem rapidamente durante um período de 24-36h. Gradativamente, as camadas externas necróticas do endométrio se separam do útero, nos locais de hemorragia, até que, em ≈48h após o início da menstruação, todas as camadas superficiais do endométrio tenham descamado. A massa de tecido descamado e o sangue na cavidade uterina, mais os efeitos contráteis das prostaglandinas ou outras substâncias na descamação em degeneração, agem em conjunto, dando início a contrações que expelem os conteúdos uterinos. Durante a menstruação normal, cerca de 40mL de sangue e mais 35mL de líquido seroso são eliminados. Normalmente, o líquido menstrual não coagula, porque uma fibrinolisina (plasmina; degrada fibrina e fibrinogênio) é liberada em conjunto com o material endometrial necrótico. Se ocorrer um sangramento intenso da superfície uterina, a quantidade de fibrinolisina pode não ser suficiente para evitar a coagulação, resultando na passagem de coágulos sanguíneos. Coágulos sanguíneos menstruais não são incomuns e geralmente ocorrem durante os primeiros dias da menstruação, quando o sangramento é maior; no entanto, sangramento excessivo e coágulos grandes durante a menstruação podem representar evidências clínicas de doença uterina. Dentro de 4-7 dias após o início da menstruação, a perda de sangue cessa, porque, a essa altura, o endométrio já se reepitelizou. • Leucorreia durante a menstruação Durante a menstruação, um grande número de leucócitos é liberado, junto com o material necrótico e o sangue. Uma substância liberada pela necrose endometrial provavelmente causa esse fluxo de leucócitos. Como resultado da presença desses leucócitos e, possivelmente, de outros fatores, o útero fica altamente resistente a infecções durante a menstruação, embora as superfícies endometriais estejam desprotegidas. Essa resistência a infecções apresenta um importante efeito protetor. Regulação do Ciclo Menstrual Feminino | Interação dos Hormônios Ovarianos com os HormôniosHipotálamo-Hipofisários Agora que apresentamos as principais mudanças cíclicas que ocorrem durante o ciclo sexual feminino mensal, podemos explicar o mecanismo rítmico básico que causa as variações cíclicas. O Hipotálamo Secreta LHRH, Fazendo com que a Adeno-Hipófise Secrete LH e FSH A secreção da maioria dos hormônios adeno-hipofisários é controlada pelos hormônios de liberação, formados no hipotálamo e, então, transportados para a adeno-hipófise por meio do sistema porta hipotálamo-hipofisário. No caso das gonadotrofinas, um hormônio de liberação, o LHRH (Hormônio liberador de gonadotrofina), é fundamental. Esse hormônio foi purificado e foi considerado um decapeptídio com a seguinte fórmula: Glu – His – Trp – Ser – Tyr – Gly – Leu – Arg – Pro – Gly – NH2 • A secreção pulsátil e intermitente de LHRH pelo hipotálamo estimula a liberação pulsátil de LH pela adeno-hipófise O hipotálamo não secreta LHRH continuamente, mas, em vez disso, secreta-o em pulsos com duração de 5-25 min que ocorrem a cada 1-2h. É intrigante que, quando o LHRH é infundido continuamente, de modo que esteja disponível o tempo todo, e não em pulsos, sua capacidade de causar liberação de LH e FSH pela adeno-hipófise se perde. Portanto, a natureza pulsátil de liberação de LHRH é essencial para sua função. A liberação pulsátil de LHRH também provoca a produção intermitente de LH a cada 90 min. • Centros hipotalâmicos de liberação do hormônio liberador de gonadotrofina A atividade neuronal que causa a liberação pulsátil de LHRH ocorre primariamente no hipotálamo médio-basal, principalmente nos núcleos arqueados dessa área. Neurônios localizados na área pré-óptica do hipotálamo anterior também secretam LHRH em quantidades moderadas. Múltiplos centros neuronais no sistema límbico (o sistema de controle psíquico) transmitem sinais para o hipotálamo para modificar a intensidade da liberação de LHRH e a frequência dos pulsos, o que é uma explicação parcial do motivo pelo qual fatores psíquicos frequentemente modificam a função sexual feminina. Efeitos de Feedback Negativo de Estrogênio e da Progesterona na Diminuição da Secreção de LH e FSH Em pequenas quantidades, o estrogênio tem forte efeito de inibir a produção de LH e FSH. Além disso, quando existe progesterona disponível, o efeito inibidor do estrogênio é multiplicado, mesmo que a progesterona, por si só, tenha pouco efeito. Esses efeitos de feedback parecem operar principalmente na adeno-hipófise de modo direto, mas também operam em menor extensão no hipotálamo, diminuindo a secreção de LHRH, especialmente alterando a frequência dos pulsos de LHRH. • A inibina do corpo-lúteo inibe a secreção de FSH e LH Além dos efeitos de feedback do estrogênio e da progesterona, outros hormônios estão envolvidos, especialmente a inibina, que é secretada em conjunto com os hormônios esteroides sexuais pelas células da granulosa do corpo-lúteo ovariano. Esse hormônio tem o mesmo efeito na mulher e no homem – isto é, inibe a secreção de FSH e, em menor grau, de LH pela adeno-hipófise. Portanto, acredita-se que a inibina seja especialmente importante em causar a diminuição da secreção de FSH e LH no final do ciclo menstrual. Efeito de Feedback Positivo do Estrogênio Antes da Ovulação | Pico Pré-Ovulatório de LH A adeno-hipófise secreta grandes quantidades de LH por 1-2 dias, começando 24-48h antes da ovulação. Experimentos mostraram que a infusão de estrogênio na mulher acima do valor crítico por 2-3 dias, durante a última parte da primeira metade do ciclo ovariano, causará rapidamente o crescimento acelerado dos folículos ovarianos, bem como a secreção acelerada de estrogênios ovarianos. Durante esse período, as secreções de FSH e LH pela adeno-hipófise são, inicialmente, ligeiramente suprimidas. A secreção de LH, então, aumenta abruptamente de 6-8x, e a secreção de FSH aumenta cerca de 2x. A secreção muito aumentada de LH faz com que ocorra a ovulação. A causa desse aumento abrupto na secreção de LH não é conhecida. No entanto, as seguintes explicações são possíveis: 1. Foi sugerido que, nesse ponto do ciclo, o estrogênio tem um efeito de feedback positivo peculiar de estimular a secreção hipofisária de LH e, em menor extensão, de FSH, o que contrasta com o efeito de feedback negativo normal do estrogênio, que ocorre durante o restante do ciclo feminino mensal. 2. As células da granulosa dos folículos começam a secretar quantidades pequenas, mas crescentes, de progesterona +/- 1 dia antes do pico pré-ovulatório de LH, e foi sugerido que essa secreção possa ser o fator que estimula o excesso de secreção de LH. Sem esse aumento pré-ovulatório normal de LH, a ovulação não ocorrerá. Oscilação de Feedback do Sistema Hipotálamo-Hipofisário-Ovariano A oscilação do feedback que controla o ritmo do ciclo, que parece operar, de certa forma, na seguinte sequência de três eventos: 1. Secreção pós-ovulatória dos hormônios ovarianos e depressão das gonadotrofinas hipofisárias. Entre a ovulação e o início da menstruação, o corpo-lúteo secreta grandes quantidades de progesterona e de estrogênio, bem como de inibina. Todos esses hormônios juntos têm um efeito de feedback negativo combinado na adeno-hipófise e no hipotálamo, causando a supressão da secreção de FSH e de LH e diminuindo-os para seus níveis mais baixos, ≈3-4 dias antes do início da menstruação. 2. Fase de crescimento folicular. De 2-3 dias antes da menstruação, o corpo-lúteo regride para quase a involução total, e a secreção de estrogênio, progesterona e inibina do corpo-lúteo diminui para um nível baixo, o que libera o hipotálamo e a adeno-hipófise do efeito de feedback negativo desses hormônios. Portanto, +/-1 dia depois, em torno do momento em que se inicia a menstruação, a secreção hipofisária de FSH começa a aumentar novamente, até 2x mais; então, vários dias após o início da menstruação, a secreção de LH aumenta ligeiramente. Esses hormônios iniciam o crescimento de novos folículos ovarianos e um aumento progressivo da secreção de estrogênio, atingindo um pico de secreção de estrogênio em torno de 12,5-13 dias após o início do novo ciclo. Durante os primeiros 11-12 dias desse crescimento folicular, a secreção hipofisária das gonadotrofinas FSH e LH diminui ligeiramente devido ao efeito do feedback negativo, principalmente do estrogênio, na adeno-hipófise. Em seguida, há um aumento súbito e acentuado da secreção de LH e, em menor grau, de FSH. Esse aumento da secreção é o pico pré-ovulatório de LH e FSH, que é seguido pela ovulação. 3. O pico pré-ovulatório de LH e FSH causa a ovulação. ≈11,5-12 dias após o início do ciclo, o declínio da secreção de FSH e LH chega a seu fim súbito. Acredita-se que o alto nível de estrogênio nesse momento (ou o começo da secreção de progesterona pelos folículos) cause um efeito estimulador de feedback positivo na adeno-hipófise, o que leva a um grande pico na secreção de LH e, em menor grau, de FSH. Seja qual for a causa desse pico pré-ovulatório de LH e FSH, o grande excesso de LH leva à ovulação e ao desenvolvimento subsequente tanto do corpo-lúteo quanto da sua secreção. Assim, o sistema hormonal começa seu novo ciclo de secreções, até a próxima ovulação. • Ciclos anovulatórios | Ciclos sexuais na puberdade Se o pico pré-ovulatório de LH não for de magnitude suficiente, a ovulação não ocorrerá, e o ciclo será anovulatório. As fases do ciclo sexual continuam, mas são alteradas das seguintes maneiras: 1. A falta de ovulação causa a falha do desenvolvimento do corpo-lúteo, então quase não há secreção de progesterona durante a última parte do ciclo. 2. O ciclo é encurtado por vários dias, mas o ritmo continua. Portanto, é provável que a progesterona não seja necessária para a manutenção do ciclo, embora possa alterar seu ritmo. Os primeiros ciclos após o início da puberdade são geralmente anovulatórios, assim como os ciclos que ocorrem vários meses a anos antes da menopausa, provavelmente porque o pico de LH não é potente o suficiente nesses momentos para causar a ovulação.Puberdade e Menarca Puberdade significa o início da vida sexual adulta, e menarca significa o primeiro ciclo de menstruação. O período da puberdade é causado por um aumento gradual de secreção dos hormônios gonadotróficos pela hipófise, começando por volta do 8º ano de vida e geralmente culminando no início da puberdade e menstruação, entre 10-14 anos de idade (média, 12 anos). Na mulher, assim como nos homens, a hipófise infantil e os ovários são capazes de funcionar plenamente se forem apropriadamente estimulados. No entanto, como também é verdade no homem, e por motivos que não são compreendidos, o hipotálamo não secreta quantidades significativas de LHRH durante a infância. Experimentos mostraram que o hipotálamo é capaz de secretar esse hormônio, mas o sinal apropriado de alguma outra área do cérebro para desencadear a secreção está ausente. Portanto, acredita-se agora que o início da puberdade seja desencadeado algum processo de maturação que ocorre em alguma outra parte do cérebro, talvez em algum lugar do sistema límbico. A figura mostra (1) os níveis crescentes de secreção de estrogênio na puberdade; (2) a variação cíclica durante o ciclo, (3) o aumento adicional da secreção de estrogênio durante os primeiros anos da vida reprodutiva, (4) a diminuição progressiva na secreção de estrogênio ao se aproximar do fim da vida reprodutiva e, finalmente, (5) quase nenhuma secreção de estrogênio ou progesterona após a menopausa. Anormalidades da Secreção Hormonal Ovariana Hipogonadismo | Secreção hormonal ovariana reduzida. A secreção estrogênica abaixo do normal pode resultar de ovários malformados, ausência de ovários ou ovários geneticamente anormais, que secretam hormônios alterados, devido à falta de enzimas nas células secretoras. Quando os ovários estão ausentes desde o nascimento ou quando se tornam não funcionais antes da puberdade, ocorre o “eunucoidismo” feminino. Nessa condição, as características sexuais secundárias usuais não aparecem, e os órgãos sexuais permanecem infantis. Especialmente característico dessa condição é o crescimento prolongado dos ossos longos, porque as epífises não se unem às hastes tão cedo quanto ocorre nas mulheres normais. Consequentemente, a mulher eunucoide é basicamente tão alta quanto ou talvez até um pouco mais alta do que sua contraparte masculina de base genética semelhante. Quando os ovários de uma mulher totalmente desenvolvida são removidos, os órgãos sexuais regridem até certo ponto, de modo que o útero fica quase infantil em tamanho, a vagina fica menor, e o epitélio vaginal fica fino e mais passível de sofrer lesões. As mamas se atrofiam e adquirem aspecto pendular, e os pelos pubianos tornam-se mais finos. As mesmas mudanças ocorrem em mulheres após a menopausa. Irregularidade menstrual e amenorreia causadas por hipogonadismo. Como apontado na discussão anterior sobre menopausa, a quantidade de estrogênios produzida pelos ovários deve aumentar acima de um valor crítico para causar ciclos sexuais rítmicos. Consequentemente, no hipogonadismo ou quando as gônadas secretam pequenas quantidades de estrogênios devido a outros fatores, como hipotiroidismo, o ciclo ovariano frequentemente não ocorre de maneira normal. Em vez disso, vários meses podem transcorrer entre os períodos menstruais, ou a menstruação pode cessar completamente (amenorreia). Ciclos ovarianos prolongados estão frequentemente associados à ausência da ovulação, presumivelmente por causa da secreção insuficiente de LH no momento do pico pré-ovulatório de LH, necessário para a ovulação. Hipersecreção hormonal pelos ovários. A hipersecreção de hormônios ovarianos é uma entidade clínica rara, porque a secreção excessiva de estrogênios diminui automaticamente a produção de gonadotrofinas pela adeno-hipófise, o que limita a produção de hormônios ovarianos. Consequentemente, a hipersecreção dos hormônios feminilizantes, em geral, é reconhecida clinicamente apenas no desenvolvimento eventual de um tumor feminilizante. Um raro tumor de células da granulosa pode se desenvolver no ovário; o desenvolvimento desse tumor ocorre com mais frequência após a menopausa. Esses tumores secretam grandes quantidades de estrogênios, que exercem os efeitos estrogênicos usuais, incluindo hipertrofia do endométrio uterino e o sangramento irregular desse endométrio. Na verdade, o sangramento é, frequentemente, a primeira e única indicação de que tal tumor existe. Fertilidade Feminina Período fértil de cada ciclo sexual. O óvulo permanece viável e capaz de ser fertilizado provavelmente não mais de 24h após sua expulsão do ovário. Portanto, o espermatozoide deve estar disponível logo após a ovulação para haver fertilização. Alguns espermatozoides podem permanecer férteis no aparelho reprodutor feminino por até 5 dias. Portanto, para a fertilização acontecer, a relação sexual deve ocorrer em algum momento entre 4-5 dias antes da ovulação, até algumas horas após a ovulação. Assim, o período de fertilidade feminina durante cada mês é curto, de cerca de 4-5 dias. Método rítmico de contracepção. Um método comumente praticado de contracepção é evitar relações sexuais perto da época da ovulação. A dificuldade com esse método de contracepção é prever o momento exato da ovulação. No entanto, o intervalo da ovulação até o próximo o início da menstruação quase sempre ocorre entre 13-15 dias. Portanto, se o ciclo menstrual for regular, com periodicidade exata de 28 dias, a ovulação geralmente ocorre no 14º dia do ciclo. Se, em contraste, a periodicidade do ciclo for de 40 dias, a ovulação geralmente ocorrerá no 26º dia do ciclo. Finalmente, se a periodicidade do ciclo for de 21 dias, a ovulação geralmente ocorrerá no 7º dia do ciclo. Portanto, geralmente recomenda-se evitar relações sexuais por 4 dias antes do dia calculado da ovulação e 3 dias depois para evitar a concepção. No entanto, esse método de contracepção pode ser usado apenas quando a periodicidade do ciclo menstrual é regular. A incidência de falha desse método de contracepção, resultando em uma gravidez não intencional, é de 20-25% ao ano. Supressão hormonal da fertilidade | A “pílula” anticoncepcional A administração de estrogênio ou progesterona, desde que em quantidades adequadas durante a primeira metade do ciclo, pode inibir a ovulação. A razão para isso é que a administração adequada de qualquer um desses hormônios pode prevenir o pico pré-ovulatório de secreção de LH pela hipófise, que é essencial para causar a ovulação. Não é totalmente compreendido por que a administração de estrogênio ou progesterona previne o pico pré-ovulatório de secreção de LH. No entanto, estudos experimentais têm sugerido que, imediatamente antes de ocorrer o pico, uma depressão repentina da secreção de estrogênio pelos folículos ovarianos provavelmente ocorre, o que poderia ser o sinal necessário que causa o subsequente efeito de feedback na adeno-hipófise, que leva ao pico de LH. A administração de hormônios sexuais (estrogênios ou progesterona) previne a depressão hormonal ovariana inicial, que é um sinal desencadeador da ovulação. O desafio de estabelecer métodos de supressão hormonal da ovulação tem sido desenvolver combinações adequadas de estrogênios e progestágenos que suprimam a ovulação, mas não causem outros efeitos indesejáveis. No entanto, o uso de determinados progestágenos sintéticos, no lugar da progesterona, especialmente os esteroides 19-nor, em conjunto com pequenas quantidades de estrogênios, geralmente impedem a ovulação, permitindo, contudo, um padrão menstrual quase normal. Portanto, quase todas as “pílulas” usadas no controle da fertilidade consistem em alguma combinação de estrogênios sintéticos e progestágenos sintéticos. A principal razão de usar estrogênios e progestágenos sintéticos é que os hormônios naturais são quase totalmente destruídos pelo fígado dentro de um curto período de tempo após serem absorvidos pelo TGI na circulação portal. Porém, muitos dos hormônios sintéticos podem resistir a essa propensão destrutiva do fígado, permitindo,assim, a administração oral. Dois dos estrogênios sintéticos mais comumente usados são o etinilestradiol e o mestranol. Dentre os progestágenos mais usados temos noretindrona, noretinodrel, etinodiol e norgestrel. O fármaco é tomado nos estágios iniciais do ciclo mensal e mantido além da época em que normalmente se daria a ovulação. Então, a “pílula” é interrompida, permitindo que a menstruação ocorra, e um novo ciclo comece. A incidência de falha resultando em uma gravidez não intencional, na supressão hormonal da fertilidade usando várias formas de “pílula” é de ≈8-9% ao ano. Condições anormais que causam esterilidade feminina ≈5-10% das mulheres são inférteis. Ocasionalmente, pode não se descobrir nenhuma anormalidade nos órgãos genitais femininos, caso em que devemos assumir que a infertilidade se deve a qualquer função fisiológica anormal do sistema genital ou ao desenvolvimento genético anormal dos óvulos. A causa mais comum de esterilidade feminina é a falta de ovulação. Essa falha pode resultar de hipossecreção de hormônios gonadotróficos, caso em que a intensidade dos estímulos hormonais, simplesmente, é insuficiente para causar a ovulação, ou pode resultar de ovários anômalos que não permitem a ovulação. Por causa da alta incidência de anovulação em mulheres estéreis, métodos especiais são frequentemente usados para determinar se a ovulação ocorre. Esses métodos são baseados principalmente nos efeitos da progesterona no corpo, pois o aumento normal da secreção de progesterona, geralmente, não ocorre durante a última metade dos ciclos anovulatórios. Na ausência de efeitos progestacionais, pode-se assumir que o ciclo seja anovulatório. Um desses testes é, simplesmente, analisar a presença de um pico de pregnanediol, o produto final do metabolismo da progesterona na urina, durante a última metade do ciclo sexual; a ausência dessa substância indica anovulação. Outro método de avaliação comum é a mulher medir sua temperatura corporal ao longo do ciclo. A secreção de progesterona durante a última metade do ciclo aumenta a temperatura corporal em cerca de 2,7°C, e o aumento da temperatura se dá abruptamente, no momento da ovulação. A ausência de ovulação causada por hipossecreção dos hormônios gonadotróficos hipofisários, às vezes, pode ser tratada pela administração em tempo adequado de HCG, um hormônio que é extraído da placenta humana. Esse hormônio, embora secretado pela placenta, tem quase os mesmos efeitos que o LH e, portanto, é um poderoso estimulador da ovulação. No entanto, o uso excessivo desse hormônio pode causar ovulação de muitos folículos simultaneamente, o que resulta em fetos múltiplos. Esse efeito já causou o nascimento de até oito bebês (natimortos, em muitos casos) de mães inférteis tratadas com o hormônio. Uma das causas mais comuns de esterilidade feminina é a endometriose, uma condição comum em que o tecido endometrial, quase idêntico ao do endométrio uterino normal, cresce e até menstrua na cavidade pélvica ao redor do útero, das tubas uterinas e dos ovários. A endometriose ocasiona fibrose por toda a pelve, e essa fibrose, às vezes, envolve tanto os ovários que impossibilita a liberação do óvulo na cavidade abdominal. Frequentemente, a endometriose obstrui as tubas uterinas, nas terminações fimbriadas ou em outro lugar ao longo de sua extensão. Outra causa comum de infertilidade feminina é a salpingite, ou seja, a inflamação das tubas uterinas; essa inflamação causa fibrose e obstrução tubária. No passado, essa inflamação ocorria principalmente como resultado de infecção gonocócica. No entanto, com as terapias modernas, a salpingite está se tornando uma causa menos prevalente de infertilidade feminina. Ainda, outra causa de infertilidade é a secreção anormal de muco pelo colo uterino. Normalmente, na época da ovulação, o ambiente hormonal do estrogênio causa secreção de muco com características especiais, que permitem a rápida mobilidade dos espermatozoides para o útero, efetivamente guiando-os pelos filamentos mucosos. Anormalidades do próprio colo uterino, como infecções ou inflamações de baixo grau, ou estimulação hormonal anormal do colo uterino, podem criar um tampão mucoso viscoso que impede a fertilização. ROTINAS EM GINECOLOGIA Ação dos neuro-hormônios na adeno-hipófise Hipotálamo Ação Hipófise GnRH + FSH/LH CRF + ACTH GHRH + GH TRH + TSH PIF (ou dopamina) - PRL ACTH, hormônio adrenocorticotrófico (adrenocorticotropic hormone); CRF, fator liberador de corticotrofina (corticotropin-releasing factor); FSH, hormônio folículo-estimulante (follicle-stimulating hormone); GH, hormônio do crescimento ( growth hormone); GHRH, hormônio liberador do hormônio do crescimento ( growth hormone-releasing hormone); GnRH, hormônio liberador de gonadotrofina (gonadotropin-releasing hormone); LH, hormônio luteinizante (luteinizing hormone); PIF, fator inibidor da prolactina (prolactin inhibitory factor); PRL, prolactina; TRH, hormônio liberador de tireotrofina (thyrotropin-releasing hormone); TSH, hormônio estimulante da tireoide/tireotrofina (thyroid-stimulating hormone). O GnRH tem meia-vida curta (2-4 min), não é dosado na circulação sistêmica, devido à rápida degradação e à enorme diluição. O ciclo menstrual ovulatório necessita da secreção de GnRH em uma faixa crítica de amplitude e frequência maior na 1ª fase do ciclo e menor na 2ª. A fisiologia e a fisiopatologia do ciclo menstrual, pelo menos em termos de controle central, podem ser explicadas por mecanismos que afetam a pulsatilidade do GnRH. Os pulsos de GnRH são modulados pelo sistema supra-hipotalâmico noradrenalina-dopamina, com influência facilitadora da noradrenalina e inibidora da dopamina. Esse sistema pode ser influenciado por opioides endógenos, catecolestrogênios e outros neurotransmissores. A hipófise localiza-se na sela túrcica. As gonadotrofinas, LH e FSH, são produzidas pelo gonadotrofo, localizado na adeno-hipófise. Os gonadotrofos, sob ação do GnRH, sintetizam, armazenam e liberam gonadotrofinas. Acredita-se que exista um pool de síntese e outro de secreção de gonadotrofinas. A secreção, a síntese e o armazenamento de gonadotrofinas sofrem alterações no decorrer do ciclo menstrual, conforme as concentrações de estradiol, progesterona, inibinas e outras substâncias produzidas pelo folículo dominante. Crescimento Folicular A atresia é o evento predominante no ovário. Após iniciar o desenvolvimento, ocorrerá apoptose ou ovulação. A atresia folicular ocorre em vários estágios. Os folículos primordiais têm apenas uma camada de células da granulosa e estão em repouso. Iniciado o crescimento folicular, folículo primário (0,1 mm), secundário (0,2 mm) e antral inicial (2 mm), sendo esse crescimento independente das gonadotrofinas. O crescimento até a fase antral inicial é permanente durante a vida até a menopausa (fase de depleção folicular), inclusive nas situações em que a liberação de gonadotrofinas diminui significativamente, como na infância pré-puberal, na gestação e durante o uso de anticoncepcional oral. O crescimento folicular até o estágio antral inicial foi descrito em mulheres sem secreção de gonadotrofinas, tanto pós-hipofisectomia quanto por falência hipotalâmico-hipofisária. O hormônio antimülleriano (AMH) é secretado principalmente pelas células da granulosa de folículos primários e secundários. Quando os folículos atingem certa diferenciação e sensibilidade às gonadotrofinas (estágio de antral), eles não secretam mais AMH. AMH é considerado um regulador negativo do desenvolvimento folicular inicial. A presença do AMH inibe tanto o crescimento folicular inicial como a ação do FSH. Portanto, o AMH, além de ser um marcador de reserva ovariana (quantidade de folículos), também está envolvido na diminuição do crescimento folicular e, consequentemente, em menor apoptose. O estímulo com gonadotrofinas é o pré-requisito para o desenvolvimento dos folículos antrais iniciais até os folículos pré-ovulatórios. Os últimos 15 dias do crescimento folicular dependem do aumento cíclicode FSH. O número de células da granulosa aumenta, bem como o tamanho dos folículos recrutados. Na fase antral inicial, o folículo tem ≈2 mm e, no período pré-ovulatório, tem ≈18 mm de diâmetro. Teoria das Duas Células - Duas Gonadotrofinas Em folículos antrais, os receptores de LH estão presentes apenas na célula da teca, e os receptores de FSH, nas células da granulosa. As células da teca, sob estímulo do LH, sintetizam androstenediona e testosterona; as células da granulosa, mediante atividade da enzima aromatase, dependente de FSH, convertem os androgênios em estradiol e estrona. A esteroidogênese ovariana é dependente de LH. O LH estimula a esteroidogênese nas células da teca, fornecendo o substrato (androgênios) para a conversão a estrogênios nas células da granulosa. À medida que o folículo se desenvolve, as células da teca expressam genes para a síntese de mais receptores de LH e para expressão das enzimas do citocromo P450, visando à síntese de androgênios. As células da granulosa, com o crescimento e a proliferação, aumentam os receptores de FSH e a expressão da enzima aromatase, elevando o nível estrogênico na circulação e no líquido folicular. 2. Compreender o climatério e relacionar com o eixo HHG. Menopausa Entre 40-50 anos de idade, o ciclo sexual geralmente torna-se irregular, e a ovulação frequentemente não ocorre. Depois de alguns meses a alguns anos, o ciclo cessa completamente. O período durante o qual o ciclo cessa e os hormônios sexuais femininos caem para quase zero é denominado menopausa. A causa da menopausa é o “esgotamento” dos ovários. Ao longo da vida reprodutiva da mulher, ≈400 dos folículos primordiais crescem em folículos maduros e ovulam, e centenas de milhares de óvulos se degeneram. Por volta dos 45 anos, apenas alguns folículos primordiais permanecem estimulados por FSH e LH, e a produção de estrogênios pelos ovários diminui à medida que o número de folículos primordiais se aproxima de zero. Quando a produção de estrogênio cai abaixo de um valor crítico, os estrogênios não conseguem mais inibir a produção de FSH e LH. Em vez disso as gonadotrofinas FSH e LH (principalmente FSH) são produzidas após a menopausa em quantidades elevadas e contínuas, mas, como os folículos primordiais remanescentes tornam-se atrésicos, a produção de estrogênios pelos ovários cai quase a zero. Na época da menopausa (período denominado climatério), a mulher precisa reajustar sua vida de uma pessoa que era fisiologicamente estimulada pela produção de estrogênio e progesterona para uma pessoa sem esses hormônios. A perda de estrogênios costuma causar mudanças fisiológicas marcantes no corpo, incluindo (1) “fogachos”, caracterizados por rubor extremo da pele, (2) sensações psíquicas de dispneia, (3) irritabilidade, (4) fadiga, (5) ansiedade e (6) diminuição da resistência e da calcificação dos ossos por todo o corpo. Esses sintomas são de magnitude considerável em apenas 15% das mulheres para justificar o tratamento. A administração diária de estrogênio, em pequenas quantidades, geralmente reverte os sintomas, e, diminuindo-se gradualmente a dose, é provável que as mulheres na pós-menopausa evitem sintomas graves. Grandes ensaios clínicos têm fornecido evidências de que a administração de estrogênio após a menopausa, embora melhore muitos dos sintomas da menopausa, aumenta o risco de DCV. Como resultado, a TRH com estrogênio já não é prescrita de forma rotineira para mulheres na pós-menopausa. Alguns estudos, no entanto, sugerem que a terapia com estrogênio possa realmente reduzir o risco de DCV se ela for iniciada precocemente, nos primeiros anos após a menopausa. Portanto, atualmente é recomendado que as mulheres na pós-menopausa que desejam receber TRH discutam com seus médicos se os benefícios superam os riscos. 3. Caracterizar a síndrome pré-menstrual, suas causas e seu tratamento. Epidemiologia A ausência de um consenso diagnóstico para definir essa síndrome justifica, pelo menos em parte, a discrepância nos dados de prevalência encontrados na literatura. Estima-se que até 90% das mulheres apresentem a percepção de sintomas pré-menstruais. Estudos demonstram que 20-40% das mulheres sofrem de SPM e que, dessas, 3-8% apresentam sintomas intensos – o TDPM. Apesar de haver sintomas de SPM na idade reprodutiva, geralmente as mulheres procuram assistência médica aos 30 anos de idade, relatando ter sofrido com os sintomas por anos antes de buscar auxílio. A prevalência de SPM e TDPM é mais alta nos países da América Latina (Brasil, México) do que nos países europeus, assim como a conscientização sobre a expressão SPM. Uma pesquisa, realizada nas seis maiores cidades do Brasil e do Distrito Federal, avaliou a atitude e as perspectivas das mulheres (18-40 anos) frente à SPM. Das 1.053 mulheres avaliadas, 65,4% experimentam sintomas de SPM e 60,7% acreditavam estar com SPM no momento da entrevista. Os sintomas mais relatados foram ansiedade (76,5%) e alterações de humor (55,7%). Esse estudo evidencia que mais ações de saúde e formação de profissionais são necessárias para o atendimento a essas mulheres. Quadro Clínico Os sintomas da SPM são muitos e variados, sendo citados mais de 100 sintomas físicos, psicológicos e comportamentais associados. O sintoma psicológico mais frequente é a labilidade de humor, ocorrendo em até 80% das pacientes. Outros sintomas são ansiedade, irritabilidade, depressão, sentimento de desvalia, insônia ou aumento de sonolência, diminuição da memória, confusão, concentração diminuída e distração. As queixas físicas comuns incluem aumento do volume abdominal e sensação de fadiga, cefaleia tensional, enxaqueca, mastalgia, dores generalizadas, aumento de peso, tonturas, náuseas e palpitação. Entre as mudanças de comportamento, são comuns mudanças nos hábitos alimentares, aumento de apetite, avidez por alimentos específicos (particularmente doces ou comidas salgadas), não participação em atividades sociais ou profissionais, maior permanência em casa, aumento de consumo de álcool e aumento ou diminuição da libido. Etiologia A etiologia da SPM permanece desconhecida e, por isso, muitas hipóteses têm sido cogitadas, porém, nenhuma delas pode ser comprovada. Há consenso de que seja secundária à atividade cíclica ovariana. A menstruação em si não é fundamental, visto que os sintomas se mantêm após histerectomia. Parece ser consequência de uma interação complexa e pouco compreendida entre hormônios esteroides ovarianos, peptídeos opioides endógenos, neurotransmissores centrais, prostaglandinas e sistemas autonômicos periféricos e endócrinos. Estudos comprovaram que não há alteração na dosagem sérica dos hormônios sexuais das mulheres com SPM quando comparadas às mulheres normais (grupo-controle). Os níveis de progesterona são baixos durante a menstruação e durante a fase folicular e são metabolizados em alopregnanolona (ALLO), um neuroesteroide. A progesterona e a ALLO aumentam na fase lútea e caem rapidamente com a menstruação. Essa exposição crônica, seguida por rápidos aumentos, parece estar envolvida com a etiologia do TDPM. ALLO é um modulador positivo dos receptores GABA, similar ao álcool e aos benzodiazepínicos, com propriedades sedativas, ansiolíticas e anestésicas. Há a hipótese de que as mulheres com TDPM tenham resistência à ALLO. História de exposição significativa a estresse também tem sido associada ao TDMP. Recentemente, vem sendo estudado um neurotransmissor, o fator neurotrófico derivado do cérebro (BDNF, brain-derived neurotrophic factor), que estaria associado à etiologia da SPM. BDNF é uma neurotrofina, proteína que regula diversos aspectos do desenvolvimento e funções neuronais, como a estruturação e a plasticidade sináptica dos sistemas periféricos e centrais. É também a proteína mais abundante no cérebro, sendo responsável pelo desenvolvimento e pela manutenção neuronal. Seus níveis são modificados pelo estradiol e apresentam ciclicidade menstrual, assim como sofrem influência positiva dos ISRSs. A associação dos efeitosdo BDNF na etiologia da SPM ainda requer mais investigações. Fatores inflamatórios podem estar relacionados à etiologia da SPM. A fase lútea está relacionada com aumento de produção de fatores pró-inflamatórios, como as interleucinas (IL-6) e o fator de necrose tumoral alfa (TNF-α, tumor necrosis factor), quando comparada com a fase folicular. O nível de proteína C-reativa (CRP, C-reactive protein) varia ao longo do ciclo menstrual; contudo, um aumento da CRP é observado quando se administra progesterona. Algumas doenças inflamatórias também tendem a piorar no período pré-menstrual, como a síndrome do intestino irritável e as gengivites. Diagnóstico Os sintomas do TDPM podem ser muito semelhantes aos de outras doenças, por isso, uma avaliação prospectiva acurada é necessária para realizar o diagnóstico. A International Society for Premenstrual Disorders (ISPMD) indica a realização de diários por 2-3 meses consecutivos, e não apenas por um ciclo. A SPM e o TDPM sempre devem ser diferenciados de outros sintomas psiquiátricos que, eventualmente, apenas se exacerbam no período pré-menstrual, e de algumas condições médicas como hipotireoidismo ou hipertireoidismo. Uma variedade de sintomas clínicos, como cefaleia, fadiga crônica e síndrome do intestino irritável, é exacerbada frequentemente próximo à menstruação, contudo, os sintomas não são típicos de SPM, e o período em geral não coincide com a fase lútea. Exames laboratoriais poderão ser realizados excepcionalmente, quando for necessário afastar outras patologias. O uso de entrevistas, questionários e escalas de autoavaliação da paciente já está bem estabelecido, particularmente no âmbito de pesquisas. O questionário DRSP (Daily Record of Severity of Problems [Registro Diário da Intensidade dos Problemas]) é considerado, por muitos profissionais, a melhor ferramenta para diagnóstico de SPM. A aplicação do DRSP para um diagnóstico de SPM com base nas suas diretrizes atuais requer um registro diário dos sintomas por pelo menos 2 meses. No entanto, essa exigência acaba limitando a sua aplicabilidade prática no dia a dia de atendimento de pacientes com sintomas pré-menstruais. O PSST (The premenstrual tension syndrome rating scales) é uma escala de autoaplicação recordatória que reflete os critérios do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, 5ª edição (DSM-5, Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders), traduzindo-os em uma escala com graus variados de gravidade (nada, leve, moderado e grave). É uma ferramenta considerada rápida e de fácil aplicação, sendo considerada efetiva no rastreamento de SPM. Entretanto, com sua aplicação, deve-se sempre descartar a hipótese de doença psiquiátrica associada, principalmente depressão. Alguns autores postulam que os quadros disfóricos pré-menstruais constituem um espectro de anormalidades. Em um extremo, está a maior parte das mulheres na menacme, que apresenta algum desconforto, principalmente físico, durante o período pré-menstrual. Essas mulheres podem ser classificadas de acordo com os critérios diagnósticos do ACOG para SPM. No outro extremo, está o TDPM, que representa a forma mais grave da SPM e é classificado segundo os critérios do DSM-5. Os critérios do DSM-5 são bastante rigorosos, sendo que apenas 5% da população com sintomas estão inclusos neles, valorizando, principalmente, os sintomas emocionais em detrimento dos físicos. A atual versão DSM-5 apresentou algumas modificações comparativamente ao DMS-IV. Uma das diferenças é que a labilidade de humor e a irritabilidade foram listadas em primeiro lugar, já que esses são os sintomas mais comuns de TDPM, em vez da depressão, que antes se encontrava em primeiro lugar no DSM-IV. Outra diferença é a inclusão de sintomas de estresse que devem estar presentes no trabalho, na escola, nas atividades sociais e nos relacionamentos da mulher. Critérios para Diagnóstico de Síndrome Pré-Menstrual - ACOG (American College of Obstetricians and Gynecologists) • Presença de 1 ou mais sintomas afetivos ou somáticos durante os 5 dias antes da menstruação em cada 1 de 3 ciclos menstruais prévios - Sintomas afetivos – Depressão, raiva, irritabilidade, ansiedade, confusão, introversão - Sintomas somáticos – Mastalgia, distensão abdominal, cefaleia, edema das extremidades • Sintomas aliviados pelo início da menstruação (sintomas aliviados em 4 dias do início da menstruação sem recorrências até pelo menos o dia 13 do ciclo) • Sintomas presentes na ausência de qualquer terapia farmacológica, consumo de hormônios ou abuso de drogas ou álcool • Sintomas ocorrem reprodutivamente durante 2 ciclos de registros prospectivos • Paciente apresenta disfunção identificável do desempenho social ou econômico Critérios para o Diagnóstico de Transtorno Disfórico Pré-Menstrual - DSM-5 A. Na maioria dos ciclos menstruais, pelo menos cinco sintomas devem estar presentes na semana final antes do início da menstruação, começar a melhorar poucos dias depois do início da menstruação e tornar-se mínimos ou ausentes na semana pós-menstrual B. Um (ou mais) dos seguintes sintomas deve estar presente a. Labilidade afetiva acentuada (p. ex., mudanças de humor; sentir-se repentinamente triste ou chorosa ou sensibilidade aumentada à rejeição) b. Irritabilidade ou raiva acentuadas ou aumento nos conflitos interpessoais c. Humor deprimido acentuado, sentimentos de desesperança ou pensamentos autodepreciativos d. Ansiedade acentuada, tensão e/ou sentimentos de estar nervosa ou no limite C. Um (ou mais) dos seguintes sintomas deve adicionalmente estar presente para atingir um total de cinco sintomas quando combinados com os sintomas do Critério B a. Interesse diminuído pelas atividades habituais (p. ex., trabalho, escola, amigos, passatempos) b. Sentimento subjetivo de dificuldade em se concentrar c. Letargia, fadiga fácil ou falta de energia acentuada d. Alteração acentuada do apetite; comer em demasia; ou avidez por alimentos específicos e. Hipersonia ou insônia f. Sentir-se sobrecarregada ou fora de controle g. Sintomas físicos como sensibilidade ou inchaço das mamas, dor articular ou muscular, sensação de “inchaço” ou ganho de peso D. Os sintomas estão associados a sofrimento clinicamente significativo ou a interferência no trabalho, na escola, em atividades sociais habituais ou relações com outras pessoas (p. ex., esquiva de atividades sociais; diminuição da produtividade e eficiência no trabalho, na escola ou em casa) E. A perturbação não é meramente uma exacerbação dos sintomas de outro transtorno, como transtorno depressivo maior, transtorno de pânico, transtorno depressivo persistente (distimia) ou um transtorno da personalidade (embora possa ser concomitante a qualquer um desses transtornos) F. O Critério A deve ser confirmado por avaliações prospectivas diárias durante pelo menos dois ciclos sintomáticos (Nota: O diagnóstico pode ser feito provisoriamente antes dessa confirmação) G. Os sintomas não são consequência dos efeitos fisiológicos de uma substância (p. ex., droga de abuso, medicamento, outro tratamento) ou de outra condição médica (p. ex., hipertireoidismo) Tratamento Estratégias de manejo para pacientes com SPM só podem ser realizadas seguindo uma quantificação adequada dos sintomas e um diagnóstico acurado. O manejo inicial consiste em educação e orientação. As pacientes e seus familiares devem conhecer as características da SPM, pois ela é uma patologia endocrinoginecológica de causa incerta e não proveniente da imaginação da mulher. Apoio médico, empatia, discussão e paciência parecem ser bastante úteis. O tratamento deve ser individualizado, iniciando com intervenções no estilo de vida. As modificações dietéticas são amplamente indicadas, apesar de não terem sido avaliadas em grandes trabalhos controlados. Recomenda-se que as pacientes tenham alimentação equilibrada – proteínas, fibras e carboidratos adequados e baixa ingestão de gorduras saturadas; alimentos muito salgados ou muito doces devem ser evitados, pois podem produzir
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