Jennifer Miguel Pacifico - Quartzo e tratamento para melhoria de cor

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Quartzo e tratamento para melhoria de cor
Aluno:
Abaixo transcrevo a questão de uma prova por mim aplicada em 2015/2.
Ônix sempre foi um jovem inquieto, ativo e perspicaz, destacando-se entre os colegas da turma.
Desde novo mostrou uma forte veia empreendedora levando vantagem nas trocas de figurinhas com os
amigos da escola e nas negociações com os tios e avós que frequentemente resultavam em mimos.
Entretanto, Ônix tinha um problema: era muito impulsivo e tinha um certo déficit de atenção, não
conseguindo se concentrar e acompanhar todo o raciocínio. Agia muitas vezes por impulso sem
conhecer todos os fatores envolvidos.
Um momento decisivo na vida de Ônix foi a escolha do curso universitário e após uma breve
consulta optou por uma profissão que desponta como promissora em um cenário bilionário. Escolheu
gemologia, apostando que se destacaria neste imenso segmento de mercado que não conta com uma
cadeia produtiva integrada e que aguarda por jovens aventureiros e empreendedores que enxerguem
além das minas escuras e das empoeiradas salas de lapidação. Passou no vestibular de 2015/2 e assim
que recebeu a notícia da sua aprovação começou a elaborar um plano para se destacar como aluno e
ganhar um dinheiro rápido (e de preferência sem grande esforço). Mas o que fazer? Como ganhar
dinheiro? Ônix fez a sua matrícula imediatamente passando a participar ativamente das aulas. Mas o
que ele gostava mesmo era das conversas com os veteranos que passavam horas e horas (inclusive as
horas das aulas) na sombra das árvores ao redor da cantina. Foi ali que ele recebeu a iluminação!
Ao ouvir a conversa de dois animados veteranos (não tão veteranos assim, pois eles estavam
no segundo período...) ficou sabendo do beneficiamento e tratamento das gemas por irradiação e que é
possível mudar a cor dos minerais. Mais interessante ainda é que o valor do material bruto poderia saltar
de R $20,00/kg para R $2.000,00/kg após o tratamento. Bingo! Ônix havia acabado de encontrar a sua
mina de ouro. Perspicaz como sempre, continuou ouvindo, como quem não quer nada, a conversa dos
veteranos e descobriu que o Centro de Tecnologia Mineral (CETEM) em Minas Gerais irradia com
Cobalto-60 as gemas e que presta este serviço comercialmente. Ao final da tarde, outros veteranos do
Centro Acadêmico chegaram com uma lista para a Feira Internacional de Pedras Preciosas (FIPP) de
Teófilo Otoni e imediatamente Ônix colocou o seu nome. O plano começava a tomar forma.
Em Teófilo Otoni, durante a FIPP e na feira do centro da cidade, Ônix, que também era um
negociante muito sagaz, consegui comprar lotes de quartzo hialino próprios à lapidação a preços muito
atrativos. Adquiriu o quilo de quartzo hialino martelado (pequenos pedaços com peso entre 20 e 30 g
cada) de excepcional qualidade por R $18,00. O problema é que ele teve que negociar com diversos
vendedores, pois individualmente os comerciantes tinham pequenas quantidades que variavam de 20 a
30 kg. Isto foi muito exaustivo, mas ao final de três dias de negociações Ônix consegui 1.000 kg de
quartzo hialino de ótima qualidade. O quartzo foi comprado de 40 vendedores diferentes. Cada
comerciante revendia o quartzo de uma mina diferente e estas minas estavam espalhadas pelos
estados de Minas Gerais, Bahia, Goiás e Espírito Santo. A primeira etapa do plano foi concluída.
De Teófilo Otoni Ônix partiu para Belo Horizonte levando o quartzo para a irradiação. Por
medida de economia submeteu todo o quartzo à mesma dose de irradiação com a mesma intensidade e
a mesma duração. Isto reduziu os custos para cerca de R $20,00 por quilo irradiado. Como a irradiação
levaria alguns dias por causa da indisponibilidade do reator, Ônix voltou para Vitória e ficou aguardando
o quarto. A segunda etapa do plano estava concluída.
Quando o quartzo chegou em Vitória pela transportadora, Ônix imediatamente providenciou o
tratamento térmico, aquecendo todo o quartzo a uma temperatura de 200 °C em uma mufla (tipo de
forno que ele havia alugado em uma indústria de vidro). A expectativa era muito grande e quando
finalmente Ônix abriu a mufla veio a grande surpresa. Ônix (que tinha a pele da cor de morion) ficou
branco ágata (leitoso e translúcido sem vida) quando viu o resultado. O quarto após o tratamento
apresentava uma grande mistura de cores. Parecia uma república de estudantes após uma festa. Havia
exemplares de quartzo da cor típica da ametista, green gold, beer, whisky, champanhe, mas
principalmente quartzo hialino (a cor não havia mudado) e quartzo acinzentado com uma cor que não
era aceita pelo mercado. Tradução: um desastre quase que total! O plano falhou.
O maior volume de quartzo (mais de 950 kg) após o tratamento era de quartzo hialino e de quartzo
acinzentado com pequeno aproveitamento na indústria joalheira. Ao final, o prejuízo foi grande e Ônix (e
seu pai que patrocinou toda a empreitada convencido pela lábia do filho) teve um déficit de R
$30.000,00. Mas afinal, o que deu errado?
Com base nos dados acima, responda as questões abaixo e explique o que deu errado no plano:
a) Por que a variedade de cores após o tratamento (irradiação e aquecimento) foi grande?
Primeiro, porque as amostras vieram de diferentes minas e de Estados diferentes. Segundo com essa
diferença de gênese, o quartzo apresenta ligeiras diferenças em sua composição, como por exemplo,
teor de Fe, Al, Li. As ametistas e o beer foram geradas por quartzo que possuíam maior teor de ferro e
menor teor de Al, o green gold, whisky e champanhe o quartzo continha teor alto de Al e pouco Fe e
ainda no caso do green gold o quartzo continha Li em sua composição. E a grande quantidade de
quartzo hialino que Onix obteve é devido a pureza das amostras e o quanto ele foi aquecido, quando o
quartzo é limpo com nenhuma impureza, ao ser tratado ele permanece em seu estado original e quando
aquece demais também se torna hialino. E o quartzo acinzentado (a cor que o quartzo apresenta depois
da irradiação), não sofreu nenhuma alteração ao ser aquecido devido a quantidade dos componentes
que existiam (Scholz et al. 2012)
b) Qual foi o principal problema do material tratado?
O problema foi que Onix tratou quartzos de diferentes minas e com pequenas diferenças no teor de Fe,
Al e Li, na mesma dose de irradiação, com a mesma intensidade e a mesma duração e depois na
mesma temperatura (200 C) e ao mesmo tempo, o que não deve ser feito, pois para gerar as variedades
de cores do quartzo é necessário que ele apresente quantidades maiores de um elemento químico do
que de outro ou ter um elemento que outra amostra não tenha (como foi explicado na questão anterior),
e as condições para gerar cada cor são específicas ou seja precisa-se de níveis diferentes de
aquecimento e de irradiação e tempos diferentes de exposição para que cada variedade de cor seja
atingida, o que não foi levado em consideração, pois os quartzos que Ônix adquiriu apresentavam por
serem de minas diferentes e até estados diferentes, elementos químicos cromóforos, grau de impurezas
e inclusões diferentes e foram tratados na mesmas condições, o que acarretou o resultado infortúnio.
Portanto os quartzos deveriam ser tratados em condições diferentes, com todas as variáveis citadas
acima consideradas antes do tratamento ser realizado.
c) Como Ônix poderia ter evitado a catástrofe financeira?
Primeiro Ônix tinha que classificá-los de acordo com a gênese e condições de formação do quartzo e
das regiões de onde vieram. Em seguida submetê-las a testes e com resultado dos testes definir a
maneira e condições apropriadas para tratamento dos quartzos antes de tratar todos ao mesmo tempo e
na mesma temperatura, pois assim ele conseguiria resultados satisfatórios e lucrativos.
REFERÊNCIAS
SCHOLZ, Ricardo et al. Brazilian quartz deposits with special emphasis on gemstone quartz
and its color treatment. In: Quartz: Deposits, Mineralogy and Analytics. Springer, Berlin,
Heidelberg, 2012.p. 139-159.