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TREINAMENTO APLICADO AOS ESPORTES COLETIVOS Programa de Pós-Graduação EAD UNIASSELVI-PÓS Autoria: Antônio José Muller CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090 Reitor: Prof. Hermínio Kloch Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol Coordenador da Pós-Graduação EAD: Profa. Cláudia Regina Pinto Michelli Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD: Prof.ª Bárbara Pricila Franz Prof.ª Cláudia Regina Pinto Michelli Prof.ª Kelly Luana Molinari Corrêa Prof. Ivan Tesck Revisão de Conteúdo: Márcio Moisés Selhorst Revisão Gramatical: Iara de Oliveira Revisão Pedagógica: Bárbara Pricila Franz Diagramação e Capa: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Copyright © UNIASSELVI 2016 Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. 796.4077 M958t Muller, Antônio José Treinamento aplicado aos esportes coletivos / Antônio José Muller. Indaial : UNIASSELVI, 2016. 182 p. : il. ISBN 978-85-69910-23-7 1. Esportes Ensinamentos. I. Centro Universitário Leonardo da Vinci Antônio José Muller Professor de Pós-graduação do Mestrado em Educação e na Graduação e de nas áreas da Educação Física e Educação. Experiência como jogador e treinador de voleibol no Brasil, EUA e Arábia Saudita. Doutor em Educação pela University of Texas at El Paso, Especialista em Treinamento Desportivo - Voleibol pela UNIG (Universidade de Nova Iguaçu - RJ) e graduado em Educação Física pela FURB (Universidade Regional de Blumenau). Sumário APRESENTAÇÃO ......................................................................7 CAPÍTULO 1 Esportes Coletivos: Conceitos e Princípios Aplicados ..............................................................9 CAPÍTULO 2 O Funcionamento do Treinamento dos Esportes Coletivos ......................................................43 CAPÍTULO 3 A Preparação Física, Técnica, Tática e Psicológica dos Esportes Coletivos .................................77 CAPÍTULO 4 Modelos de Organização e Treinamento das Modalidades Coletivas: Basquetebol, Futebol, Futsal, Handebol e Voleibol..............................................113 APRESENTAÇÃO Caros Pós-Graduando(as), O esporte talvez seja a maior das invenções humanas. Em nenhuma outra atividade homens e mulheres, de qualquer nível social, raça, credo ou localização geográfica, podem desfrutar dos benefícios físicos, lúdicos ou sociais que o esporte proporciona. Pelo menos em sua essência o esporte é puro, no qual todos os praticantes devem respeitar as mesmas normas e regras e têm o direito e a condição de participar, até mesmo os considerados especiais. O esporte promove a inclusão, desenvolve o espírito de equipe, a superação dos limites, além da condição de ascensão social de pessoas desprivilegiadas ou com pouca oportunidade em outras áreas humanas. O esporte movimenta um trilhão de dólares por ano no mundo todo. Os grandes atletas são respeitados, admirados pelo público e explorados pela mídia. Dentro desse contexto, crianças de todo o mundo procuram o esporte como um meio de vida, uma condição de ascensão econômica e social, e almejam atingir o mesmo nível de excelência de seus ídolos. Contudo, o esporte de alto nível demanda anos de prática, esforço físico sobre-humano, inúmeras repetições de gestos técnicos específicos, além da pressão de obter resultados efetivos em uma carreira curta e extremamente cansativa. Veremos, aqui, como o treinamento deve respeitar vários princípios para que o resultado seja efetivo. Assim, devemos conceituar e diferenciar esses princípios. Viajaremos aqui nas modalidades coletivas mais populares no Brasil (Basquetebol, Futsal, Futebol, Handebol e Voleibol), observaremos como estas são apresentadas e as características com as quais poderemos distinguir, classificar e especificar cada uma das modalidades e suas particularidades relacionadas ao treinamento. Iremos discutir, ainda, as competências de um jogador em seus quatro aspectos: 1) físico; 2) técnico; 3) tático; e 4) psicológico, para uma formação completa e o alto rendimento. Assim, no primeiro capítulo exibimos alguns significados da nomenclatura relacionada aos esportes coletivos, além de tópicos ligados ao treinamento desportivo. No segundo capítulo, apresentamos a importância e o funcionamento teórico e prático do treinamento das modalidades esportivas, bem como seus métodos e modelos. No terceiro capítulo, expomos as competências do jogador nos quatro aspectos fundamentais para a formação completa de um jogador para os esportes coletivos. No quarto e último capítulo, damos sugestões de treinamento para cada modalidade, observando suas características e particularidades, para que você tenha um embasamento científico na utilização e aplicação prática de sua função de treinador, respeitando as características de sua equipe e do esporte. O autor. CAPÍTULO 1 Esportes Coletivos: Conceitos e Princípios Aplicados A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: Compreender os conceitos e princípios aplicados aos esportes coletivos. Distinguir conceitos como aptidão esportiva, iniciação esportiva, fases do desenvolvimento para os esportes, especialização precoce e jogos e esportes coletivos. 10 Treinamento Aplicado aos Esportes Coletivos 11 Esportes Coletivos: Conceitos e Princípios Aplicados Capítulo 1 ConteXtualização O esporte talvez seja a maior das invenções humanas. Em nenhuma outra atividade homens e mulheres, de qualquer nível social, raça, credo ou localização geográfi ca, podem desfrutar dos benefícios físicos, lúdicos ou sociais que o es- porte proporciona. Pelo menos em sua essência o esporte é puro, no qual todos os praticantes devem respeitar as mesmas normas e regras e têm o direito e a condição de participar, até mesmo os considerados especiais. O esporte promove a inclusão, desenvolve o espírito de equipe, a superação dos limites, além da condição de ascensão social de pessoas desprivilegiadas ou com pouca oportuni- dade em outras áreas humanas. O esporte movimenta um trilhão de dólares por ano no mundo todo. Os grandes atletas são respeitados, admirados pelo público e explo- rados pela mídia. Dentro desses contexto, crianças de todo o mundo procuram o esporte como um meio de vida, uma condição de ascensão econômica e social e almejam atingir o mesmo nível de excelência de seus ídolos. Contudo, o esporte de alto nível demanda anos de prática, esforço físico sobre-humano, inúmeras repetições de gestos técnicos específi cos, além da pressão de obter resultados efetivos em uma car- reira curta e extremamente cansativa. Devido à diversidade de opções de práticas esportivas, pais e seus fi lhos podem fi car indecisos sobre o que praticar, quando iniciar e quando competir. Existem pessoas as quais acreditam que quanto mais cedo iniciar-se no esporte, melhor. Este princípio não se aplica a todos, pois, ao contrário do que se imagina, o es- porte precoce pode limitar a evolução e rendimento do atleta em categorias futu- ras. Veremos, aqui, como o treinamento deve respeitar vários princípios para que o resultado seja efetivo. Assim, devemos conceituar e diferenciar estes princípios. Viajaremos aqui nas modalidades coletivas, como estas são apresentadas e as características com as quais poderemos distinguir, classifi car e especifi car cada uma dessas modalidades e as especifi cidades do treinamento. Existe pessoas as quais acreditam que quanto mais cedo iniciar- se no esporte, melhor. Porém, isso não é consenso para todos. Qual a sua opinião a respeito? Nesta primeira parte do Caderno de estudos, apresentaremos algumas defi nições da terminologia relacionada ao treinamento e aos esportes. Conceitos que devem ser aprendidos para, então,seguirmos rumo ao processo posterior, mais complexo, no qual estes conceitos estarão aplicados aos esportes coletivos. O esporte de alto nível demanda anos de prática, esforço físico sobre- humano, inúmeras repetições de gestos técnicos específi cos, além da pressão de obter resultados efetivos em uma carreira curta e extremamente cansativa. 12 Treinamento Aplicado aos Esportes Coletivos Aptidão Esportiva Geral Todos os anos inúmeras crianças participam dos esportes em caráter recreativo em praças, praias, ruas e terrenos baldios ou em caráter competitivo em escolas, clubes e times ao redor do mundo, contudo, apenas algumas atingirão alto nível ou um nível de competição internacional. Não raramente atletas que se destacavam pelo seu talento quando crianças ou adolescentes não conseguem na idade adulta o mesmo nível de performance que demonstrava nas categorias menores (BOJIKIAN, 2002). Essas contradição não é de fácil explicação, mas alguns fatores auxiliam no entendimento do fenômeno, pois interferem profundamente no processo evolutivo, como segue. Os componentes da motricidade humana auxiliam os treinadores a perceberem a importância do desenvolvimento das habilidades motoras. Mas, antes, precisamos defi nir o que são capacidades/qualidades e o que são habilidades. Vejamos: • Capacidades/Qualidades Físicas ou Motoras - são características congênitas, as quais possuímos naturalmente em maior ou menor condição e que são aprimoradas com o treinamento. As capacidades/qualidades são: ritmo, equilíbrio, coordenação motora, força, resistência, fl exibilidade, velocidade, agilidade e descontração. • Habilidades Motoras - as habilidades motoras fundamentais, como: andar, correr, saltar, equilibrar, vitais para o nosso desenvolvimento, são adquiridas por meio das relações dos indivíduos com o entorno em que vivem e com as tarefas da vida diária. Cada movimento requer uma habilidade ou um conjunto de habilidades específi cas. Devemos perceber que existem dois tipos de habilidades motoras, relacio- nadas com a fi nalidade do movimento. Observe quais são elas: • Habilidades Fechadas – são determinadas essencialmente pela qualidade e efi ciência da execução do movimento (fi nalidade motora). Habilidade usada quando o movimento é realizado de forma repetida e pouco variada como uma corrida de 100 metros. • Habilidades Abertas – têm fi nalidades tanto motoras quanto cognitivas, pois consideram a seleção de habilidades motoras em situações específi cas durante uma competição e, assim, podem existir várias opções para a mesma Não raramente atletas que se destacavam pelo seu talento quando crianças ou adolescentes não conseguem na idade adulta o mesmo nível de performance que demonstrava nas categorias menores (BOJIKIAN, 2002). 13 Esportes Coletivos: Conceitos e Princípios Aplicados Capítulo 1 habilidade, como, por exemplo, um saque no voleibol, realizado de diversas formas e habilidades. Essas habilidades estão presentes nos esportes coletivos nos quais existem várias técnicas de um mesmo fundamento e que variam ainda pela condição de momento ou ambiente. Atividades de Estudos: 1) Quais são as principais diferenças entre Capacidades e Habilidades Motoras? __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ 2) Apresente as principais diferenças entre Habilidades Fechadas e Habilidades Abertas? __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ É fundamental entender que cada iniciante tem um histórico que expõe as suas características motoras e que deve ser respeitado. A sugestão de equiparação entre os modelos de aprendizagem teóricos deve coincidir com uma prática ideal, visto que, de acordo com Freire (1994), cada conduta motora tem uma história a ser considerada, e o conhecimento corporal, assim como o intelectual, deve ser signifi cativo, ter correspondência na experiência concreta da criança. A história motora proporciona, então, a formação da aptidão física geral, que, por sua vez, é infl uenciada por fatores biológicos e psicossociais. Esses fatores estão relacionados na fi gura a seguir: 14 Treinamento Aplicado aos Esportes Coletivos Figura 1 – Fatores que infl uenciam na aptidão física geral Fonte: Baseado em Dantas (1998). Se você quiser conhecer mais sobre aptidão física, consulte alguns destes livros que são referência no assunto. DANTAS, Estelio. A prática da preparação física. 6. ed. Rio de Janeiro: Rocca,, 2014. GALLAHUE, D.; OZMUN, D. L. Compreendendo o desenvolvimento motor: bebês, crianças, adolescentes e adultos. São Paulo: Phorte Editora, 2001. Antes de aprender a jogar, a criança deve trabalhar as habilidades motoras e capacidades físicas gerais. É unânime a opinião de autores e bons treinadores sobre promover a iniciação desportiva por meio do desenvolvimento das capacidades físicas gerais para, então, focar em técnicas específi cas do jogo. A universalidade desportiva é atingida quando o trabalho é orientado para o desenvolvimento da sensomotricidade, da motricidade geral, e pode servir de base para um posterior treinamento das habilidades esportivas específi cas (técnicas) (KRÖGER, 2006). É unânime a opinião de autores e bons treinadores sobre promover a iniciação desportiva por meio do desenvolvimento das capacidades físicas gerais para, então, focar em técnicas específi cas do jogo. 15 Esportes Coletivos: Conceitos e Princípios Aplicados Capítulo 1 Como qualquer atividade humana, alguns indivíduos têm maior capacidade do que outros em aprender ou de apresentar rendimentos elevados. Esse fator podem ser explicados por meio do potencial talento ou da herança genética que a criança possui. É importante destacar, nesses contexto, que as capacidades coordenativas provavelmente não são independentes do talento e da herança, porém são altamente treináveis (KRÖGER, 2006). Agora que discutimos os conceitos da aptidão física geral, vamos continuar a discussão sobre a iniciação para o esporte, para a qual você deve transportar os conceitos de aptidão física, visando a um melhor ensinamento e evolução para as modalidades. A Iniciação para o Esporte O aprendizado dos esportes, genericamente, deve apoiar-se nos princípios básicos da formação do movimento e no desenvolvimento das capacidades físicas gerais de forma gradual e planejada. Em seu livro “Escola da Bola”, Kröger (2006) explica que, assim como o ABC, aprendido na escola básica para que posteriormente a criança seja alfabetizada, ou melhor, letrada, para o futuro acadêmico, acontece também no esporte, seguindo, da mesma forma, princípios educativos. Kröger questiona “Como deve ser a creche esportiva dos iniciantes?”; “Qual deve ser a forma de iniciação?” ou “Qual o caminho correto para poder jogar e possivelmente ter uma carreira no esporte de alto nível?”. Você consegue responder a estas questões? Elas são de difícil resposta, mas o próprio autor sugere que, na busca por tais respostas, todo o iniciante deve seguir princípios básicos, apoiados em três pilares, sendo eles: A. Jogos orientados para a situação; B. Orientação para as capacidades coordenativas; C. Orientação para as habilidades. Resumidamente, podemos descrever que o item A se constitui na utilização das experiências que os iniciantes já trazem em sua “bagagem” dos jogos e brincadeiras de rua, para um patamar elevado, de formarica e variada, de novas experiências orientadas e de movimentos diferentes, em que jogar se aprende jogando. No item B, o desenvolvimento das capacidades coordenativas se torna aspecto fundamental na universalidade esportiva e deve-se explorar possibilidades de incremento da sensomotricidade e da motricidade geral, que servem de base para o treinamento posterior das técnicas exigidas em cada esporte. No item C, a promoção de várias técnicas é, possivelmente, onde todas as habilidades esportivas passam a ser incorporadas, sem que se busque um único esporte, e que serve de construção de diversos movimentos (KRÖGER, 2006). 16 Treinamento Aplicado aos Esportes Coletivos Atividade de Estudo: 1) Levando em conta o parágrafo acima, como você descreve o ABC da bola? __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ O treinamento e desenvolvimento exigem estratégias em longo prazo, objetivando a formação completa na busca do potencial máximo de performance, quando exigidos, especialmente em alto rendimento. Para isso, Ehret et al. (2002) sugerem que pontos cruciais devem ser respeitados em uma sequência pedagógica e fortalecidos na iniciação para o esporte, conforme você verá a seguir: • Introdução de várias modalidades esportivas – O iniciante deve participar diariamente de atividades esportivas, organizadas ou não, em clubes, escolas ou mesmo em ambientes de lazer. • Desenvolvimento das capacidades coordenativas – Exercícios de aprimoramento das capacidades coordenativas essenciais ao rendimento. • Oferta de um ensino-aprendizagem multidisciplinar e variado – Utilizar competições de modalidades variadas, individuais e coletivas, com ou sem bola. Posteriormente, utilizar um amplo repertório de técnicas específi cas, exigidas pelo esporte em questão, deixando a criança experimentar o movimento de várias formas. • Promoção do jogo livre e criativo – Utilizar pequenos jogos introdutórios ao esporte propriamente dito. Apesar de inteligências diferenciadas, todas as crianças devem ser orientadas a buscar a iniciação desportiva, para que tenham os benefícios físicos e sociais que a atividade física proporciona, antes de qualquer objetivo de performance. Para tanto, Kröger (2006) indica que na iniciação devem ser melhorados os pré-requisitos e os condicionantes coordenativos relevantes para o rendimento nos jogos coletivos, de forma precisa e breve, como uma busca de material de construção para diferentes movimentos, construindo uma “caixa de habilidades”. 17 Esportes Coletivos: Conceitos e Princípios Aplicados Capítulo 1 Para saber mais sobre a “alfabetização” esportiva leia: KRÖGER, Christian. Escola da Bola: Um ABC para iniciantes nos jogos esportivos. Rio de Janeiro: Phorte,, 2006. Você consegue responder aonde o iniciante irá chegar esporte, apenas observando pela prática? Para atingir o topo, o iniciante deve respeitar uma sequência evolutiva e uma preparação planejada de vários anos. Ericsson (1993 apud FUCHSLOCHER; ROMANN; GULBIN, 2013) descreve que para atingir o alto rendimento um atleta precisa de oito a dez anos e 10 mil horas de prática. Nessas trajetória, vários fatores internos e externos contribuem ou atrapalham a evolução do futuro atleta de rendimento. Tais fatores vão deste o biótipo ideal para determinada modalidade, medidas corpóreas, a condição de ter um bom treinador, qualidades físicas inerentes, alimentação, experiência, condição social e econômica, entre outros fatores. Porém, o fator que mais interfere nas possibilidades futuras de qualquer iniciante, para qualquer esporte, é o talento intrínseco. A questão deve ser o tamanho do potencial a ser explorado e a projeção de onde cada um dos iniciantes pode chegar. Simplesmente:: até aonde iremos com este iniciante? até onde ele pode chegar? Outras questões sem respostas fáceis e precisas intrigam os treinadores, tais como: Quais são os fatores na detecção de talentos que irão predizer uma performance de sucesso no futuro? Qual a função da ciência do esporte e da tecnologia que pode amplifi car a condição dos treinadores preparados a condicionarem seus pupilos para um nível de excelência no esporte? Essas são questões para melhor entender a iniciação esportiva. Para atingir o alto rendimento um atleta precisa de oito a dez anos e 10 mil horas de prática. Vários fatores interferem no desenvolvimento do atleta. Basicamente.Bsão fatores motores, cognitivos, sociais e econômicos ou motivacionais. Vários fatores interferem no desenvolvimento do atleta. Basicamente.Bsão fatores motores, cognitivos, sociais e econômicos ou motivacionais, passando, também, pela especialização acelerada e o treinamento inadequado em relação aos diferentes estágios de crescimento e desenvolvimento. Esses fatores são determinantes na evolução do atleta, na busca de seu ápice como jogador completo na categoria adulta. 18 Treinamento Aplicado aos Esportes Coletivos A evolução do jogador para o esporte dentro das condições ideais deve ser a intenção de todos os professores de educação física e técnicos desportivos pelo mundo afora. Contudo, algumas defi ciências são percebidas e que afetam tremendamente o “produto fi nal”. De acordo com Mahlo (apud CORDEIRO, 1997), as falhas constatadas na iniciação desportiva são: insufi ciência de motricidade esportiva; subestimação dos esforços suportáveis por crianças; aparecimento de graves lacunas, por ocasião da passagem para o ensino esportivo; falta de unidade de ensino; insufi ciência na formação de professores por não serem especialistas esportivos. O desenvolvimento ideal de jogadores, muitas vezes, sofre ações positivas e negativas de caráter direto e indireto. A obtenção de elevados níveis de performance no auge do atleta irá depender da realização de um trabalho em longo prazo, o qual articula de forma equilibrada os diferentes níveis da prática esportiva (MESQUITA, 2005). Além disso, a boa e sólida formação deve ser a preocupação inicial, e não a especialização, lembrando que quanto melhor for a preparação de um atleta, por meio de uma base consistente, melhor será o seu nível de rendimento nas fases posteriores e no alto nível. Figura 2 - Necessário construir uma boa base de forma equilibrada para o esporte (futebol) de alto desempenho Fonte: Tega (2010). A preocupação inicial está na elaboração de um planejamento adequado em longo prazo que, junto com a infl uência do treinador, tem importância fundamental no sucesso ou não do atleta. A elaboração de um plano ou planejamento de evolução de atletas não garante a certeza de resultados positivos, mas serve como instrumento de auxílio na busca da efi ciência, pois, segundo Borsari (2001), é por meio da perfeita combinação dos fundamentos, sua técnica e aplicabilidade, aliados ao trabalho sistemático (adequado à idade e ao nível), que se consegue evoluir, atingindo naturalmente a efi ciência. 19 Esportes Coletivos: Conceitos e Princípios Aplicados Capítulo 1 Kröger (2006) explica que, assim como aprender a gramática, o ensinamento dos esportes deve seguir a sequência lógica: aprender o “ABC”, as primeiras palavras (habilidades e capacidades motoras), para depois, de forma garantida, poder falar palavras mais complexas (fundamentos e técnicas específi cas) e, então, “regras gramaticais” (competências táticas específi cas). Ou seja, o bom entendimento do “ABC da bola” irá projetar a utilização ideal das técnicas no emprego das exigências táticas. Os aspectos táticos serão discutidos posteriormente neste Caderno. Agora, vamos debater sobre a idade ideal para se iniciar no esporte coletivo. a) Idade ideal para a iniciação das modalidades coletivas Muitose pesquisa e se discute a respeito da idade ideal da criança no esporte. A maioria dos autores concorda em respeitar as etapas de desenvolvimento físico a que todas as pessoas estão naturalmente condicionadas. O desenvolvimento motor acontece em paralelo com o desenvolvimento biológico e exerce grande infl uência neste. É importante ressaltar que, antes de iniciar na modalidade específi ca, a criança tenha inúmeras experiências motoras variadas, desenvolvendo suas capacidades básicas. Além dos aspectos físicos e experiências motoras, devemos considerar os aspectos sociais e acadêmicos para, então, determinar a idade inicial adequada. No Brasil, normalmente, as crianças começam a praticar esportes coletivos a partir dos 11 anos, idade em que estão estudando no 6ª ano do ensino fundamental e começam a participar das modalidades principais nas aulas de educação física, as quais seguem as diretrizes curriculares e que promovem os ensinamentos das técnicas básicas dos esportes coletivos mais populares (Basquetebol, Futebol, Handebol e Voleibol). Basicamente, na maioria dos casos, esta condição determina a idade inicial e que alguns autores e treinadores preferem seguir. Para Bojikian (1999), a oportunidade de ensino de novas habilidades motoras nessas idade é ótima, pois é um momento de reestruturação motora natural. Contudo, esses parâmetros não são regras e o que deve se respeitar é o princípio da individualidade. Dessas maneira, cada criança tem um desenvolvimento diferenciado, sendo difícil mensurar habilidades e determinar se esta ou aquela criança está ou não apta à iniciação aos esportes. Como sugere Bizzocchi (2004), nem todas as crianças estarão em condições idênticas de prontidão por apresentarem a mesma idade cronológica. O importante é adaptar o trabalho aoao desenvolvimento motor e psicológico do iniciante. Crianças mais novas terão maior difi culdade de executar gestos técnicos apurados devido à pouca experiência motora e à falta de automatização do No Brasil, normalmente, as crianças começam a praticar esportes coletivos a partir dos 11 anos. Nem todas as crianças estarão em condições idênticas de prontidão por apresentarem a mesma idade cronológica. O importante é adaptar o trabalho aoao desenvolvimento motor e psicológico do iniciante. 20 Treinamento Aplicado aos Esportes Coletivos movimento, estando em uma fase ainda adaptativa ou de desenvolvimento básico. Cabe destacar que movimentos simples exigem coordenação e habilidades básicas, enquanto movimentos apurados exigem complexidade coordenativa e habilidades motoras afi nadas. Antes dos fundamentos técnicos, o fundamento mais importante para as modalidades coletivas é o domínio da bola e a capacidade criativa de cada indivíduo. Esta deve ser a prioridade dos treinamentos, especialmente nas idades iniciais. Quando estes fundamentos estiverem dominados, o jogo se tornará mais fácil, tanto para aprender como para ensinar. Os treinamentos devem ser elaborados buscando facilitar o desenvolvimento das habilidades básicas de deslocamentos e o ótimo controle da bola. Para Fillin e Volkov (1998), a idade mínima para ingresso em escolas esportivas para competir futuramente nos esportes coletivos com bola se encaixa entre os 10 e 11 anos. A maturação da menina acontece antes do menino, devido a isso, é muito comum que a menina inicie no esporte a partir dos 10 anos de idade e os meninos a partir dos 11 anos. Esta diferença de um ano entre os sexos se prolonga até o adulto e muitas confederações classifi cam as categorias de idade diferentes para o masculino e feminino. A iniciação esportiva deve respeitar as faixas etárias e a especialização não deve ser a preocupação dos treinadores para iniciantes. Nas idades iniciais a preocupação está na aquisição das múltiplas habilidades motoras e, após este estágio, já na fase de especialização, o treinador pode focar no desenvolvimento específi co para determinado esporte. A especialização deve acontecer posteriormente, com idade entre 14 a 16 anos, conforme o quadro a seguir. Os treinamentos devem ser elaborados buscando facilitar o desenvolvimento das habilidades básicas de deslocamentos e o ótimo controle da bola. Quadro 1 - Modalidades e respectivas idades por fase Modalidade Esportiva Idade para iniciar a prática do esporte Idade para iniciar a especialização Idade para Alta Performance Basquetebol 10 - 12 14 - 16 22 - 28 Futebol 10 - 12 14 - 16 23 - 27 Handebol 10 - 12 14 - 16 22 - 28 Voleibol 10 - 12 15 - 16 22 - 26 Fonte: Adaptado de Bompa (2002). O quadro 1 apresenta as divisões desde a iniciação até o alto nível e suas idades correspondentes. Estas idades são referências e não se aplicam a todos os casos. Agora que iniciamos no esporte, vamos perceber as fases que devemos respeitar, bem como seus aspectos e os cuidados para uma formação total e ideal. 21 Esportes Coletivos: Conceitos e Princípios Aplicados Capítulo 1 Para saber mais, confi ra na federação da modalidade de seu estado, quais são as categorias e as devidas faixas etárias para os iniciantes e veja se existe relação com o que foi apresentado aqui em relação à iniciação esportiva. Fases do Desenvolvimento Esportivo Autores do mundo todo propõem que os atletas devem respeitar as fases ou etapas de desenvolvimento de jogadores em longo prazo. Para os esportes coletivos, os principais autores sugerem diferentes possibilidades e que estão descritas no quadro a seguir, o qual trata das propostas de preparação desportiva em longo prazo, com diversos autores (CAFRUNI, 2002): Quadro 2 - Sugestões de preparação desportiva a longo prazo Harre (1982) • Treinamento de Jovens Atletas* Iniciantes e Avançados* • Treinamento Competitivo Weineck (1986) • Treinamento das Esperanças* Iniciantes e Avançados* • Treinamento de Alta Performance Lima (1988) • Iniciação* • Orientação* • Especialização* Matveiev (1991) • Preparação de Base* • Preparação Preliminar e Especialização Inicial* • Máxima Concretização das Possibilidades Desportivas* • Pré-culminação* • Resultados Máximos • Longevidade Desportiva • Conservação e Manutenção Zakharov (1992) • Preparação Preliminar* • Especialização Inicial* • Especialização Aprofundada* • Resultados Superiores • Manutenção dos Resultados Marques (1993) • Preparação Preliminar* • Especialização Inicial* • Especialização Aprofundada* 22 Treinamento Aplicado aos Esportes Coletivos Platonov (1994) • Preparação Inicial* • Preparação Preliminar de Base* • Preparação Especializada de Base* • Realização dos Máximos Resultados • Manutenção dos Resultados Fillin (1996) • Preparação Preliminar* • Especialização Desportiva Inicial* • Aprofundamento do Treinamento* • Aperfeiçoamento do Treinamento Barbanti (1997) • Preparação Básica* • Preparação Específi ca* • Preparação de Altos Rendimentos* Martin (1999) • Treino Geral* • Treino Fundamental* • Treino de Construção* • Treino de Ligação* Bompa (2000) • Treinamento Generalizado* • Iniciação e Formação Atlética* • Treinamento Especializado* • Especialização* e Alto Nível * Etapas de formação Fonte: Adaptado de Cafruni (2002). Para o nosso propósito, utilizaremos o modelo para os esportes coletivos sugerido por Greco (1997), composto por nove fases, caracterizadas por curtos períodos de duração, que comportam a aproximação com a evolução ontogenética (física), evitando-se a especialização precoce. As nove fases seguem um “tempo” em relação à idade do praticante e à duração, por isso são chamadas de Estrutura Temporal. Para o nosso propósito, apresentaremos apenas sete fases, uma vez que as duas últimas (8 - Recuperação/Readaptação e 9 - Recreação e Saúde) estão relacionadas à atividade física após o término da carreira no esporte. As sete fases apresentam as seguintes propriedades: a) Pré-Escolar: Inicia-se por volta de 2-3 anos e estende-se por um período de 4-5anos. O processo de ensino-aprendizagem-treinamento caracteriza-se na unidade e complexidade do sistema de cognição-emoção-motivação. Deve-se utilizar atividades básicas de deslocamento, equilíbrio, acoplamento, esquema- corporal, relação espaço-temporal entre outras, e, preferencialmente, ser apresentadas em formas jogadas, tipo jogo de imitação e perseguição (GRECO, 1997). As nove fases seguem um “tempo” em relação à idade do praticante e à duração, por isso são chamadas de Estrutura Temporal. 23 Esportes Coletivos: Conceitos e Princípios Aplicados Capítulo 1 b) Universal: Esta fase que se inicia por volta dos 5-6 anos, tem uma duração de 3 a 6 anos. Nesta fase o desenvolvimento do universo motor da criança deve ser explorado ao máximo. Deve-se promover as capacidades motoras e principalmente as coordenativas, as quais deverão formar uma ampla e variada gama de movimentações que ressaltam o aspecto lúdico. A chamada fase da Iniciação Esportiva Universal "é uma alternativa pedagógica importante para faixa etária entre os 4-6 anos aos 11-12 anos. O jogo como elemento didático pedagógico deverá ser oferecido conforme as características evolutivas da criança, especialmente no que se refere a sua maturidade e evolução coordenativo-cognitiva" (GRECO, 1997, p. 19). Nesta fase a criança já está apta a desenvolver os aspectos técnicos das modalidades, contudo sem a preocupação com a especialização, e sim com a variação global dos movimentos e aumento da bagagem motora. O fi nal desta fase, quando trabalhada de forma adequada, já permite a iniciação tática, por volta dos 10- 12 anos de idade (GRECO, 1997). c) Orientação: Inicia-se por volta de 12-14 anos, tendo um tempo de duração de cerca de 2-4 anos. Devemos orientar a vivência das técnicas esportivas, ressaltando que "não se deve realizar um treinamento técnico e sim uma passagem pelas técnicas das diferentes disciplinas esportivas, vendo quais são as exigências de cada uma destas". A cobrança e a correção dos fundamentos deve ser dirigida somente a elementos "grossos", devendo priorizar a variação das técnicas. Jogos de iniciação, pré-desportivos, grandes jogos, jogos recreativos, etc., são indicados nesta fase. Uma consideração interessante está relacionada à grande importância dada ao conteúdo de informação teórica, assim como a forma de transmiti-la (GRECO, 1997). d) Direção: Inicia-se por volta dos 14 anos de idade e tem duração de cerca de 2 anos. Nesta fase, afunilam-se as vivências motoras, sendo indicada a escolha de uma ou duas modalidades para o aperfeiçoamento e a especialização técnica. É recomendado que o praticante participe de duas ou três modalidades complementares, encaminhando o atleta para a otimização do seu rendimento. Greco (1997) determina que a complexidade das ações continue aumentando, a formação de uma base cognitiva se jamais elaborada acerca da tática de jogo e haja otimização técnica do jovem praticante. e) Especialização: Iniciando-se em torno dos 16 anos, a duração desta fase varia de 2 a 4 anos. Incide no incremento das técnicas para um esporte em especial. Deseja-se o aperfeiçoamento e a otimização do potencial físico, técnico e tático, visando ao emprego futuro no alto nível. A participação em competições aumenta consideravelmente e o praticante adquire o status de atleta (GRECO, 1997). 24 Treinamento Aplicado aos Esportes Coletivos f) Aproximação/Integração: Inicia-se por volta dos 18 anos de idade e estende-se durante 4-5 anos. Fase de grande importância, pois pode ou não transformar um praticante em um atleta preparado, uma vez que, conforme Greco (1997, p. 25), "aqui devemos pensar nos grandes talentos que só fi cam na promessa de ser grandes e que às vezes, ‘não chegaram’ por falta de uma adequada estrutura de treinamento". Nesta fase, junto com o aperfeiçoamento e otimização das capacidades técnicas, táticas e físicas, é importante aperfeiçoar as capacidades psíquicas e sociais. g) Alto Nível: Na fase adulta o objetivo está na estabilização, aprimoramento e domínio técnico-tático-psíquico-social que foram promovidos na fase anterior. Acontece um signifi cativo aumento das cargas de treinamento. Com relação ao volume/ intensidade/ densidade há uma direção do "processo para a meta de otimização dos processos cognitivos (em relação à situação esportista/ alto rendimento/ estilo de vida) e psicológicos (psicorregulação, motivação intrínseca)” (GRECO, 1997, p. 25). A partir dessas defi nições, Greco (1997) desenvolveu um quadro que descreve as fases e níveis de rendimento esportivo de acordo com a duração e a relação com a idade e a frequência de treinamento do praticante. O quadro sugere que a evolução do atleta deve respeitar as fases e as características etárias. Propõe, ainda, que nas fases iniciais a frequência de treinamento deva ser menor (2 a 3 vezes por semana), enquanto nas fases mais aprimoradas a frequência chega a ser de 6 a 10 vezes por semana. Como segue: 25 Esportes Coletivos: Conceitos e Princípios Aplicados Capítulo 1 Figura 3 - Fases e níveis do rendimento esportivo: duração e relação com a idade e a frequência de treinamento Fonte: Greco (1997, p. 24). Criação de um sistema de treinamento esportivo para o alto nível. A Figura 3 pode servir de referência aos treinadores para a criação de um sistema de treinamento esportivo para o alto nível. Pode, também, auxiliar na seleção de talentos ;no planejamento dos treinamentos das equipes em relação à execução do treino, e, ainda, na avaliação dos atletas e na preparação para competições. Como se percebeu nesta parte do Caderno, devemos considerar as fases do desenvolvimento esportivo. Esses processo exige paciência e muito trabalho diário, por vários anos. Este é o assunto a seguir. Treinamento em Longo Prazo (TLP) Atualmente, muitos países têm os seus programas de desenvolvimento de talentos em longo prazo, por meio do Treinamento em Longo Prazo (TLP), baseados em federações específi cas ou em programas de governo. Em países como o Canadá, Inglaterra, Estados Unidos, Escócia e Austrália existem programas de desenvolvimento de atletas em longo prazo e são os chamados Long Term Athletes Development (LTAD) (Desenvolvimento de Atletas em Longo 26 Treinamento Aplicado aos Esportes Coletivos Prazo). Mais do que um programa, é uma fi losofi a de evolução de atletas e de promoção de esportes na qual o treinador respeita as fases de desenvolvimento e as características etárias de seus atletas. Nesses países, o programa auxilia treinadores, fornecendo detalhes essenciais e que devem ser executados em treinamento, para que o iniciante possa atingir uma evolução no esporte. Na Austrália, por exemplo, o programa abrange iniciantes, compreendendo as faixas de idade de 12 a 21 anos e que não estão praticando o esporte em questão (MŰLLER, 2016). Nos países citados, essas metodologia está sendo utilizada por várias instituições responsáveis pelo desenvolvimento do esporte, como a federação ou a confederação de esportes, como a natação e o tênis na Austrália; o rúgbi na Escócia e o futebol no Canadá, Inglaterra e Estados Unidos. O programa LTAD tem em sua essência o uso da atividade apropriada de acordo com a idade, a maturidade e a sua relação com a prática e a competição. Respeitando a idade cronológica, o modelo leva em consideração variáveis como o estado de maturidade e o impacto que isso pode ter em um grupo de jogadores com habilidades mistas. De acordo com Müller (2016), o modelo compreende: • O desenvolvimento específi co de acordo com a idade; • Aumento da oportunidade de prática com qualidade do esporte; • Ir ao encontro das necessidades individuais; • Programação sazonal; • O planejamento de longo prazo, periodização; • Demanda progressiva; • Reconhecer as principais fases; • Maximizar o potencial. O programa LTAD tem uma relação com o modelo de desenvolvimentoem quatro aspectos, que são: físico, técnico, tático e social. Os três exemplos mostrados a seguir apoiam-se em uma descrição lógica de uma base adequada para o progresso das crianças que estão começando a experimentar LTAD. a) Aquisição de competências - As fases são entrelaçadas assim: • Desenvolvimento da técnica - dominar a bola; • O desenvolvimento físico - movimento atlético; • Execução efi caz e combinada da técnica correta, o movimento e a decisão ideal a ser tomada em cada situação; • A transferência desses componentes efetivamente em jogos. b) Para o treinador em um contexto de iniciação esportiva dois fatores a evitar são "Ansiedade e Tédio". 27 Esportes Coletivos: Conceitos e Princípios Aplicados Capítulo 1 • A ansiedade pode ocorrer principalmente quando o treinador espera muito de jovens jogadores; • Tédio pode ocorrer quando o treinador espera muito pouco. c) As prioridades para os jogadores: • Desfrutar de sua experiência no esporte e melhorar as suas técnicas; • Desenvolver o seu movimento e descobrir os benefícios da aprendizagem. Na Suíça foi desenvolvido um instrumento de seleção de talentos em nível nacional, chamado de PISTE, sendo: • Prognósticos orientados com vistas ao desempenho futuro no nível de elite, em relação ao desempenho atual; • Integração de vários fatores que são relevantes para o futuro desempenho; • Sistematização e métodos padronizados; • Treinadores, contando com treinadores (formadores) como a principal fonte de conhecimento; • Evaluations, usando avaliação realizada por treinadores como um método efi caz de cálculo do desempenho. Esse método inclui seis critérios de avaliação principais, e critérios subcomponentes, os quais estão classifi cados como mais ou menos importantes, de acordo com cada critério. Estes componentes e sua contribuição para um perfi l de seleção universal estão resumidos no Quadro 3 e no texto abaixo: Quadro 3 - Critérios de avaliação para a seleção de jovens atletas suíços e uma estimativa de validade de prognóstico em termos de sucesso em performance em Critérios de avaliação Subcritérios Validade estimada de prognóstico Métodos de avaliação recomendados Performance em competições Desempenho como atleta infantil Desempenho como atleta juvenil * **** Resultados nas com- petições, avaliação do treinador. Resultados nas com- petições, avaliação do treinador. Testes de Performance Testes de desempenho para o esporte específi co Testes de habilidades motoras gerais **** * Testes diretos, avaliação do treinador. Testes diretos. 28 Treinamento Aplicado aos Esportes Coletivos Nota: Adaptações específi cas do esporte são necessárias para todos os critérios. Duas a três avaliações ('dinâmicas') devem ocorrer por ano. “Validade estimada de prognóstico” refere-se ao sucesso de atletas adultos em desempenho no esporte de elite. “Validade estimada de prognóstico” é baseada na literatura científi ca e em entrevistas com especialistas. (* Insufi ciente; ** Fraco; *** Médio; **** Bom; ***** Excelente). Fonte: Fuchslocher, Romann e Gulbin (2013). Desenvolvimento da performance Competições e testes de desempenho **** Desempenho nas competições, testes de desempenho ao longo do tempo. Fatores psicológicos Alta motivação Lidando com a pressão **** Avaliação do treinador, questionários. Biografi a do atleta Resiliência Ambiente (pais, escola) Biótipo e antropometria Nível de esforço Tempo de treino (anos) **** *** *** ** ** Avaliação do treinador, questionários. Questionários. Medidas corporais. Questionários. Questionários. Desenvolvimento biológico Maturação Idade relativa ** ** Medidas tamanho corporal. Mês de nascimento. O quadro mostra os critérios que infl uenciam de forma complexa o desenvolvimento de talentos. Nesses paradigma, acredita-se que a busca do desenvolvimento do talento é mais provável de ser alcançado por meio de um planejamento adequado e relacionado com a qualidade de treinamento, suporte técnico, estratégias de desenvolvimento individualizado, e a estratifi cação cuidadosa dos serviços de ciência esportiva e medicina esportiva. Em particular, a melhoria da probabilidade de se prever o potencial do indivíduo para atuar em alto rendimento no futuro exigirá uma avaliação cuidadosa de muitos elementos, incluindo o desenvolvimento biológico, as capacidades físicas, habilidades psicológicas, das quais o sucesso depende. Nós, treinadores, buscamos resultado e treinamos em busca do sucesso. Contudo, o sucesso não pode deixar de considerar aspectos fundamentais como a prática consciente e o respeito ao ser humano. Assim, apresentaremos agora um tópico muito importante: a especialização precoce, a qual devemos considerar quando trabalhamos com crianças, pois dependendo da nossa ânsia pelo sucesso, podemos queimar etapas no processo evolutivo e limitar o potencial de nossos atletas. A busca do desenvolvimento do talento é mais provável de ser alcançado por meio de um planejamento adequado e relacionado com a qualidade de treinamento, suporte técnico, estratégias de desenvolvimento individualizado, e a estratifi cação cuidadosa dos serviços de ciência esportiva e medicina esportiva. 29 Esportes Coletivos: Conceitos e Princípios Aplicados Capítulo 1 Especialização Precoce A criança deve iniciar-se no esporte de maneira lúdica e divertida. Infelizmente, hoje, não se brinca nas ruas como outras gerações o faziam. A pelada de rua, um tanto esquecida pelas crianças, faz falta à iniciação, pois oferece inúmeras possibilidades no desenvolvimento de habilidades motoras e das capacidades físicas essenciais aos esportes. As experiências cinestésicas e sociais vividas sem compromissos na rua, parques ou mesmo dentro de casa, possibilitarão à criança desenvolver habilidades essenciais à prática da maioria dos esportes, universalizando, assim, o aprendiz para o esporte. A criança que brincar em diferentes tipos de terrenos (piso, grama, terra, madeira), com diferentes objetos (bolas, raquetes, tacos), em vários tamanhos e pesos, pratica jogos de pegar, saltar, rolar, ou, ainda, esportes com bola que usem as mãos, os pés, ou ambos, terão uma experiência variada e completa, essenciais a formação física e futura formação técnica para os esportes, além de levar a descontração e a criatividade dos jogos e brincadeiras de rua para o treinamento regular. Traduzindo esses fatores, na fase inicial desportiva, mais do que executar o gesto técnico perfeito, é necessário conhecer o maior número de movimentos e saber como aplicá-los nas situações vivenciadas posteriormente (GRECO et al., 1997). Alguns autores (FILIN, 1996; BOMPA, 2000; COELHO, 2000) reconhecem que o alcance de altos resultados na idade infantil e juvenil não são garantia de resultados futuros e afi rmam que é mais provável ocorrer o contrário. Nagorni (apud BOMPA, 2000), em um estudo longitudinal realizado com atletas da antiga União Soviética, concluiu que os atletas que obtiveram suas melhores performances em categoria júnior realizaram uma especialização em idades muito baixas. Essas performances nunca foram repetidas quando eles se tornaram seniores (acima de 18 anos), pois a maioria se retirou do esporte antes desta idade. Destes, apenas uma minoria estaria apta a melhorar a performance em idades superiores. Por outro lado, os atletas que se destacaram em categoria adultas no âmbito nacional e internacional nunca foram campeões nacionais quando menores. Uma vez que a criança não brinca mais na rua como antigamente, por questões de segurança e falta de locais adequados, qual seria a sua solução para este problema? 30 Treinamento Aplicado aos Esportes Coletivos A preocupação em ensinar um esporte específi co em idades menores (5 aos 12 anos) limita o desenvolvimento ideal do iniciante, pois as crianças não são por natureza especialistas; elas sãogeneralistas (KRÖGER, 2006). Bojikian (2002) vai além, quando afi rma que a especialização precoce tende a levar à formação de atletas sem chances de desenvolver todas as suas potencialidades e de obter um ótimo aperfeiçoamento técnico-tático. Ele comenta sobre a especialização. Usando o voleibol como exemplo, sendo este comentário aplicado em qualquer modalidade, ele escreve:: “a prática exclusiva do voleibol na infância, difi cilmente formará um acervo motor condizente com a prática de um voleibol de alto nível, em que situações problema complexas são constantes e exigem a atuação de atletas portadores de arsenais técnicos vastíssimos e de pronta utilização” (BOJIKIAN, 2002, p. 123). No treinamento de categorias iniciantes se percebe um exagero em relação ao treinamento precoce altamente especializado com atletas com o objetivo de sucesso imediato. Isso promove vitórias, mas sequelas irreversíveis, como expõem Ehret et al. (2002, p. 2): A experiência prática mostra um quadro totalmente diferente. Por um lado existe uma elevação da performance, extremamente rápida e crescente, nas categorias iniciais, porém tão rápido quanto é esta ascensão, ocorre uma estagnação da performance, o mais tardar, na fase de transição para a categoria adulta. Um ótimo desenvolvimento da performance não é alcançado, e não raramente, por causa de problemas de motivação; jovens talentos encerram de forma abrupta a carreira esportiva. A especialização precoce é desaconselhada, pois acarreta uma série de consequências negativas aos praticantes, como redução do repertório motor; aumento da incidência de lesões (BOMPA, 2000); prejuízos gerais ao desenvolvimento da criança (SEABRA; CATELA, 1998); manifestação de efeitos psicológicos negativos como o “burnout” (Queima de etapas) (WATTS, 2002); desmotivação (COELHO, 1988) e prejuízos à formação escolar (WEINECK, 1999). Em alguns casos, o ensino dos esportes segue o modelo utilizado em adultos e este processo de ensino-aprendizado-treinamento pode apresentar desarmonias de desenvolvimento, acompanhadas do abandono do esporte prematuramente. De acordo com Fillin e Volkov (1991), a preparação “forçada” do atleta quando jovem e a ascensão prematura às categorias superiores geralmente conduzem ao esgotamento físico e mental e ao abandono também prematuro do esporte. 31 Esportes Coletivos: Conceitos e Princípios Aplicados Capítulo 1 A especialização precoce deve ser evitada, pois prejudica enormemente o desenvolvimento humano, além de causar estresse físico e mental à criança, que não dispõe, como os adultos, de condições de suportar tamanha exigência do treinamento de alto rendimento direcionado à perfeição técnica (GRECO, 1997). Há vários exemplos de “estrelas mirins” que nunca conseguiram atingir o alto rendimento, apesar do talento privilegiado. A causa dessas quebra pode ser explicada pelo complexo processo de aprendizado que deve respeitar inúmeros fatores, principalmente os de caráter genético e psicológico. A precocidade causa inúmeras desvantagens, pois apesar de resultados imediatos, não produz ou não leva a melhores resultados, ou aos níveis de rendimento superior no futuro. Em resumo, para as modalidades coletivas mais populares, até cerca dos 12 anos, as crianças devem experimentar inúmeras situações diferenciadas em vários esportes e atividades, na busca pela aquisição de acervos motores preparatórios a serem utilizados posteriormente nas habilidades motoras específi cas para atuarem no esporte escolhido. Até os doze anos os fundamentos básicos dos esportes podem ser ensinados sem muitas exigências técnicas e com um grande número de repetições. Agora, vamos defi nir e distinguir os jogos desportivos em relação aos esportes coletivos. Você já percebeu algumas estrelas mirins que não se tornaram atletas de rendimento? O Jogo Desportivo Coletivo (JEC) e os Esportes Coletivos (EC) Segundo o dicionário Michaelis (2009), Jogo signifi ca: Brincadeira, divertimento, folguedo e ou divertimento ou exercício de crianças, em que elas fazem prova da sua habilidade, destreza ou astúcia. O jogo desportivo coletivo representa uma forma de atividade social organizada, uma forma específi ca de manifestação e de prática, com caráter lúdico e processual, do exercício físico, na qual os participantes (jogadores) estão agrupados em duas equipes numa Jogo signifi ca: Brincadeira, divertimento, folguedo e ou divertimento ou exercício de crianças, em que elas fazem prova da sua habilidade, destreza ou astúcia. 32 Treinamento Aplicado aos Esportes Coletivos relação de adversidade típica não hostil (rivalidade desportiva) – relação determinada pela disputa por meio de luta com vista à obtenção da vitória desportiva, com a ajuda da bola (ou de outro objetivo de jogo), manobrada de acordo com as regras preestabelecidas (TEODORESCU, 2003, p. 23). De acordo com o dicionário Michaelis (2009), Esporte signifi ca: Prática metódica de exercícios físicos, que consistem geralmente em jogos competitivos entre pessoas, ou grupos de pessoas, organizados em partidos; desporto. Existe por parte de vários autores e professores um confl ito de denominações entre Jogos e Esportes, sendo que estas defi nições se repetem ou se assemelham extremamente. Para o proposito deste Caderno de estudos, deveremos utilizar a denominação de Esportes Coletivos, uma vez que, como explica o dicionário, é uma “prática metódica e de caráter competitivo”. Atividade de Estudos: 1) Você consegue descrever dois exemplos de Jogos e dois exemplos de Esportes? __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ Esporte signifi ca: Prática metódica de exercícios físicos, que consistem geralmente em jogos competitivos entre pessoas, ou grupos de pessoas, organizados em partidos. Como qualquer modalidade de esporte, o coletivo apresenta características que lhe são próprias. Segundo Bayer (1994 apud DAOLIO, 2002), todas as modalidades esportivas coletivas possuem seis características em comum, que permitem observar semelhanças nas estruturas dos jogos. São elas: a bola, um espaço de jogo, companheiros de equipe, adversários, as regras específi cas e o alvo ou meta a ser atacado. Dentre elas, a fundamental é a imprevisibilidade de ações que há na modalidade (GRECO,1995). Greco e Benda (1998) indicam os parâmetros que são comuns aos jogos esportivos coletivos, quais sejam: a) A bola (velocidade, direção, altura, etc.); b) O espaço (local na quadra, áreas permitidas, 33 Esportes Coletivos: Conceitos e Princípios Aplicados Capítulo 1 proibidas, distribuição no campo); c) O objetivo do jogo (gol, ponto, etc.); d) O regulamento, com parâmetros, como: tempo de jogo, espaço de jogo ou delimitações do campo, número de jogadores, formas de jogar a bola (permitido e não permitido), características da bola, formas de comportamento perante o adversário, punições e penalidades; e) Colegas (posição, deslocamento, ação, função); f) Adversário (intenções táticas etc.); g) Público; h) A situação: este parâmetro é fundamental, pois as ações dos atletas mudam conforme a situação ambiental inter-relacionada com os objetivos do jogo (GRECO, 1998, p.53). Outras defi nições sobre esportes coletivos são relevantes, pois envolvem a estrutura técnica e tática, além do desenvolvimento e entendimento do EC. Reverdito e Scaglia (2007) descrevem que o esporte coletivo faz parte de um sistema caracterizado por fatores como: equilíbrio e desequilíbrio, ordem e desordem, organização e interação, imprevisibilidade e aleatoriedade, que, dentro do jogo, fazem com que uma equipe tente evitar a progressão dasações da adversária e vice-versa. Em relação aos aspectos técnicos e táticos, Paes e Balbino (2009) apontam que os elementos técnico-táticos correspondem aos componentes estruturais do jogo, envolvendo movimentos, princípios táticos, estratégias de ensino e aprendizagem dos fundamentos básicos, os quais são defi nidos pelos autores, como domínio de bola, passe, domínio de corpo, fi nalização, drible, domínio espaço-temporal e ações táticas ofensivas, defensivas e de transição. Outra característica dos EC está na relação do praticante com seu desenvolvimento socioafetivo. Galatti e Paes (2006) expõem que a prática desses tipos de jogos proporciona à criança noções de coletividade, companheirismo, relacionamento com jogadores da equipe e com adversários e, principalmente, que a habilidade individual se torna mais útil e importante se for aplicada em benefício do coletivo. Garganta (1995) destaca o desenvolvimento da cooperação, uma vez que esta é fundamental para jogadores de uma mesma equipe conquistarem seus objetivos, e da inteligência, já que as modalidades coletivas colocam seus praticantes em situações diferentes a cada momento, desenvolvendo a capacidade de interpretação e resolução de problemas durante o jogo. Gonzalez (2004) expõe um sistema de classifi cação dos esportes desenvolvido de acordo com a interação ou não com o companheiro(s) e a relação de oposição com o adversário. As categorias estão assim apresentadas: 34 Treinamento Aplicado aos Esportes Coletivos • Esportes individuais em que não há interação com o oponente: são atividades motoras em que a atuação do sujeito não é condicionada diretamente pela necessidade de colaboração do colega nem pela ação direta do oponente. • Esportes coletivos em que não há interação com o oponente: são atividades que requerem a colaboração de dois ou mais atletas, mas que não implicam a interferência do adversário na atuação motora. • Esportes individuais em que há interação com o oponente: são aqueles em que os sujeitos se enfrentam diretamente, tentando em cada ato alcançar os objetivos do jogo, evitando, concomitantemente, que o adversário o faça, porém sem a colaboração de um companheiro. • Esportes coletivos em que há interação com o oponente: são atividades nas quais os sujeitos, colaborando com seus companheiros de equipe de forma combinada, enfrentam-se diretamente com a equipe adversária, tentando em cada ato atingir os objetivos do jogo, evitando, ao mesmo tempo, que os adversários o façam. A partir dessas classifi cação, podemos caracterizar e exemplifi car os EC com e sem interação. Assim, o quadro abaixo nos mostra alguns exemplos de esportes com e sem interação com o adversário. Quadro 4 - Classifi cação em função da relação de cooperação e oposição em esportes coletivos Com interação com o adversário Sem interação com o adversário Basquetebol Futebol Handebol Voleibol Ginástica rítmica (conjunto) Nado sincronizado Remo Fonte: Gonzalez (2004). A partir da classifi cação com ou sem interação, podemos, ainda, classifi car os JEC com interação e criarmos categorias dentro de cada esporte em relação a Invasão, Rede/Parede ou de Campo/Rebatida. A ideia está em agrupar as modalidades em função da semelhança dos princípios táticos básicos e da natureza dos problemas do jogo (ALMOND, 1986 apud GRIFFIN; MITCHELL; OSLIN, 1997). 35 Esportes Coletivos: Conceitos e Princípios Aplicados Capítulo 1 Quadro 5 - Categorias dos JEC com interação Invasão Rede/Parede Campo/Rebater Basquetebol Handebol Polo Aquático Futebol Hóquei Rúgbi Futebol Americano Voleibol Badminton Tênis Tênis de Mesa Squash Beisebol Softball Críquete Fonte: Almond (1986 apud GRIFFIN; MITCHELL; OSLIN, 1997). As modalidades esportivas coletivas como o basquete, o vôlei ou o futsal, podem ser entendidas como um confronto entre duas equipes que se dispõem pelo terreno de jogo e se movimentam de forma particular, com o objetivo de vencer, alternando-se em situações de ataque e defesa (GARGANTA, 1998). Todos os EC possuem denominadores em comum, que são: um objeto esférico, geralmente uma bola, que pode ser lançada pelos jogadores com a mão ou com o pé, ou através de um instrumento; um terreno delimitado, maior ou menor, onde acontece o jogo; uma meta a atacar ou defender (baliza, cesta, por exemplo); companheiros de equipe, que impulsionam o avanço da bola; adversários, aos que há de vencer e regras, que se deve respeitar (BAYER, 1986). Os jogadores têm que se integrar e confrontar-se ativa e constantemente com todos esses componentes (HARRE apud TAVARES; FARIA, 1996). Moreno (1994) apresenta uma classifi cação em relação aos esportes de cooperação/oposição, na qual estão os Jogos Esportivos Coletivos. O autor divide os esportes em níveis de Espaço e Participação, levando em conta os Companheiros de equipe, Adversário e o Meio onde se joga a modalidade, conforme a fi gura a seguir. 36 Treinamento Aplicado aos Esportes Coletivos Figura 4 - Classifi cação dos esportes de cooperação/oposição Fonte: Moreno (1994, p. 30). Atividade de Estudos: 1) A partir da Figura 4, classifi que o basquetebol e o vôlei em relação ao espaço e participação. __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ Bayer (1994) avalia os sistemas defensivos, ofensivos e de transição, quando diz que as principais características do sistema defensivo são: a) a proteção do próprio campo e do alvo, b) a recuperação da bola, e c) o impedimento da progressão dos adversários e da bola para o próprio alvo. Em relação ao sistema 37 Esportes Coletivos: Conceitos e Princípios Aplicados Capítulo 1 ofensivo, o autor descreve que este sistema tem como princípios básicos: a) a manutenção da posse de bola, b) a progressão dos companheiros e da bola em direção ao alvo adversário, e c) o ataque ao alvo adversário com o objetivo de fazer um ponto ou gol. Em relação ao sistema de transição, descrito como a união dos sistemas defensivo e ofensivo, observa-se que ocorre quando uma equipe perde a bola e passa a proteger seu alvo, impedindo a progressão dos jogadores adversários e tentando recuperar a posse da bola. Com a recuperação da bola, a equipe passa por uma transição de defensiva para ofensiva, progredindo para o campo adversário com o objetivo de conservar a posse da bola e marcar o ponto ou gol. As ações de jogo realizam-se sempre em cooperação direta com os companheiros de equipe e em oposição aos adversários (TAVARES; FARIA, 1996). Nessa situação de oposição e cooperação, surge o problema fundamental dos EC, de acordo com Gréhaigne e Guillon (1995): coordenar as ações com a fi nalidade de recuperar, conservar e fazer progredir a bola, tendo como objetivo criar situações de fi nalização e marcar gol ou ponto. A relação de oposição é estabelecida pelas situações de ataque e defesa. Cada princípio de ataque encontra oposição num princípio de defesa (Quadro 6). Quadro 6 - Ações de ataque e defesa Fonte: Gréhaigne e Guillon (1995). 38 Treinamento Aplicado aos Esportes Coletivos Atividade de Estudos: 1) A partir do quadro acima, você consegue descrever quais são os momentos de ataque e defesa relacionados ao seu esporte? __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ As características e considerações de Ataque e Defesa serão discutidas posteriormente neste Caderno. Nesse momento apresentaremosa Tática como componente fundamental na preparação e direção de equipes e atletas, considerando também as particularidades de cada esporte coletivo. Algumas ConsideraçÕes Você percebeu, neste capítulo, que o talento esportivo é infl uenciado por vários fatores, internos e externos. Esses fatores contribuem ou prejudicam o iniciante. Você notou, também, que, para o iniciante ter uma carreira positiva e duradoura, é necessário um planejamento em longo prazo, de 8 a 10 anos de trabalho constante, com 10 mil horas de prática para que este jogador tenha condições de atingir o alto rendimento. Você aprendeu, ainda, que a idade de iniciação para os esportes coletivos está entre os 10 e 12 anos e as fases de desenvolvimento devem ser respeitadas pelos treinadores para que a especialização precoce não limite e prejudique a evolução ideal dos jogadores. Percebeu, igualmente, que os Esportes Coletivos têm características técnicas, táticas e socioafetivas e podem ser com ou sem interação com o adversário. 8 a 10 anos de trabalho constante, com 10 mil horas de prática. 39 Esportes Coletivos: Conceitos e Princípios Aplicados Capítulo 1 ReFerÊncias BAYER, C. La enseñanza de los juegos deportivos colectivos. Barcelona: Hispano Europea, 1986. ______. 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CAPÍTULO 2 O Funcionamento do Treinamento dos Esportes Coletivos A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivosde aprendizagem: Conhecer o funcionamento teórico e prático do treinamento para as modalidades esportivas relacionadas; Classifi car o funcionamento do treinamento aplicado aos esportes relacionados. 44 Treinamento Aplicado aos Esportes Coletivos 45 O Funcionamento do Treinamento dos Esportes Coletivos Capítulo 2 ConteXtualização O sucesso não vem por acaso. A expressão está relacionada ao trabalho árduo e correto com que muitos atletas, por meio de vários anos de prática, constroem as suas carreiras de sucesso. Para atingir o sucesso, muito trabalho deve ser considerado, mas este deve ser correto e planejado para que o sucesso venha como consequência e não por um acaso. Muitas pessoas descrevem que o atleta tem o dom para praticar esportes com qualidade. Inegavelmente, o dom (ou o talento) é vital para a performance esportiva, contudo, o que realmente diferencia a equipe vencedora é o treinamento e as formas de trabalho que o treinador planejará. O planejamento, por meio da periodização, é a ferramenta encontrada para que a preparação física, técnica, tática e psicológica aconteça dentro de princípios, na busca de uma melhora em todos os aspectos de um atleta e de uma equipe. A periodização deve ser realizada para que esta evolução aconteça por princípios científi cos, e não por outros aspectos eventuais, e que todo o potencial do atleta e da equipe seja explorado em sua plenitude. Assim, este capítulo discute a importância e o funcionamento do treinamento para esportes coletivos. A ImportÂncia da Prática Desportiva A prática regular de esportes, por meio do treinamento em longo prazo, exerce papel fundamental no desenvolvimento e na formação, não apenas de atletas, mas também de cidadãos, pois conduzem à formação integral em seus aspectos físicos, sociais e emocionais. Mesquita (2005) descreve que o treinamento e a participação de competições esportivas auxiliam no desenvolvimento do indivíduo uma vez que: • Faz parte do processo educativo e formativo da criança e contribui para o seu desenvolvimento integral; • Promove a vivência de situações que conduzem a obtenção de valores essenciais do “saber ser” (autodisciplina, autocontrole, perseverança, humildade) e do “saber estar” (civismo, companheirismo, respeito mútuo, lealdade, etc.); • Permite o desenvolvimento das capacidades e habilidades motoras do indivíduo, inerentes ao “saber fazer” (aquisição de uma bagagem motora ampliada, etc.); • Contribui para o equilíbrio do indivíduo, pois permite a diminuição do estresse diário, comum à sociedade atual. 46 Treinamento Aplicado aos Esportes Coletivos Para que isso possa acontecer, o treinador deve proporcionar e considerar todos os fatores que interferem na formação do jogador e da equipe, por meio do treinamento coletivo regular e evolutivo. Bompa (2005) explica que as fases de aperfeiçoamento do treinamento técnico-tático dividem-se em 3 partes principais: • Aperfeiçoamento dos elementos e componentes técnicos: no qual se busca o refi namento progressivo destes em todos os fundamentos de jogo, ajudando a construir a fase seguinte: • Aperfeiçoamento do sistema (inclui todas as habilidades), que deve buscar se aproximar ao máximo dos padrões da competição; • Estabilização e adaptação do sistema a diferentes características de jogo. Em outras palavras, você deve treinar primeiramente a técnica, dos fundamentos simples aos mais complexos, buscando o aprimoramento técnico e a execução ideal. Posteriormente, você deve escolher e treinar o(s) sistema(s) de jogo, ataque e defesa e de acordo com os jogadores disponíveis, que irá utilizar para atingir o objetivo esperado e, por fi m, irá unir a técnica desejada com o sistema escolhido para cada circunstância do jogo ou de acordo com a ação do adversário. O Treinamento Desportivo A base do treinamento dos esportes coletivos segue os conceitos e princípios do treinamento desportivo (TD) e demanda um grande conhecimento dos aspectos científi cos relacionados a esta área. A organização do trabalho, seu planejamento e a sua periodização respeitam estes conceitos. O objetivo do treinamento esportivo nada mais é do que atingir o ápice do atleta ou da equipe no momento certo, ou seja, durante as competições principais. O treinamento desportivo tem várias defi nições. Para Dantas (2003, p. 28), [...] é conjunto de procedimentos e meios utilizados para se conduzir um atleta a sua plenitude física, técnica e psicológica dentro de um planejamento racional, visando executar uma performance máxima num período determinado. Perez (2000) utiliza uma defi nição pedagógica do treinamento, quando escreve que é um processo composto por várias etapas, o qual se inicia sempre da mais simples para a mais complexa, até chegar à especialização, que visa à melhoria de algo, sendo essa uma característica nata dos seres humanos. Para Mantivéiev (1986, p. 32), Você deve treinar primeiramente a técnica. E treinar o(s) sistema(s) de jogo. E, por fi m, irá unir a técnica desejada com o sistema escolhido O objetivo do treinamento esportivo nada mais é do que atingir o ápice do atleta ou da equipe no momento certo, ou seja, durante as competições principais. 47 O Funcionamento do Treinamento dos Esportes Coletivos Capítulo 2 [...] é a forma básica de preparação do atleta. É a preparação sistematicamente organizada por meio de exercícios que de fato constitui um processo pedagogicamente estruturado de condução de desenvolvimento do atleta [...]. Já para Carl (apud WEINECK 1999, p. 10), treinamento esportivo é defi nido como “o processo ativo complexo regular planifi cado e orientado para melhoria do aproveitamento e desempenho esportivo”. Mais do que defi nir o TD, precisamos saber como utilizá-lo em benefício da equipe e dos jogadores. Assim, devemos entender os Princípios do TD e as suas aplicações em situações distintas, em treinamento e nas competições. Estas situações são de caráter altamente científi co, pois de acordo com Dantas (2003), os Princípios do TD são os aspectos cuja observância irá diferenciar o trabalho feito à base de ensaios-e-erros, do científi co. Já para Greco (2000), o alto nível de rendimento esportivo desejado é alcançado pelos atletas/equipes em situações de treinamento e competição como produto de uma série multifatorial e complexa de variáveis condicionantes, que atuam e interagem, tanto em conjunto quanto isoladamente. O processo de treinamento dirigido à obtenção e melhoria dos diferentes níveis de desempenho de uma equipe deve, portanto, contemplar um adequado planejamento, sistematização, estruturação, execução, regulação e controle científi co das diferentes habilidades e capacidades que constituem a modalidade em questão. Diferente dos esportes individuais, o treinamento para equipes coletivas tem características únicas e que devem ser observadas quando do planejamento do treinamento. Weineck (1999) descreve que este planejamento para equipes deve compreender: • Informações sobre o grupo e período de treinamento; • Apresentação dos objetivos para cada competição; • Objetivos intermediários a serem controlados após um determinado número de sessões de treinos ou período de tempo; • Informações sobre a periodização e o seu acompanhamento; • Difi culdades da formação esportiva caracterizada pela intensidade do estímulo e processos de ensino-aprendizagem; • Procedimentos do treinamento principal e seus programas, métodos e organização. Como já vimos as defi nições sobre o treinamento desportivo, agora, precisamos apresentar estas defi nições voltadas aos métodos e, mais ainda, aos esportes coletivos. 48 Treinamento Aplicado aos Esportes Coletivos Métodos de Treinamento Desportivo para Modalidades Coletivas Métodos são modelos que você pode utilizar na organização e execução do seu treinamento e interferem no sucesso
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