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Aula 05 Medicina Legal p/ PC-PB (Delegado) 2021 Pré-Edital Autores: Equipe Paulo Bilynskyj, Paulo Bilynskyj Aula 05 2 de Fevereiro de 2021 . Sumário 1 – Introdução ao Estudo da Psicologia Forense ............................................................................................... 3 2 – Limitadores e modificadores da capacidade civil e da responsabilidade penal .......................................... 4 Quadro sinóptico dos limitadores e modificadores da capacidade civil e da imputabilidade penal ............................... 6 2.1 – Limitadores ou modificadores biológicos .............................................................................................. 8 2.1.1 – Idade ..................................................................................................................................................................... 8 2.1.2 – Sexo ..................................................................................................................................................................... 13 2.1.3 – Emoção e Paixão ................................................................................................................................................. 15 2.1.4 – Agonia ................................................................................................................................................................. 17 2.2 – Limitadores ou modificadores psicopatológicos ................................................................................. 18 2.2.1 – Sono patológico .................................................................................................................................................. 22 2.2.2 – Surdismo ............................................................................................................................................................. 25 2.2.3 – Afasia .................................................................................................................................................................. 25 2.2.4 – Prodigalidade ...................................................................................................................................................... 26 2.2.5 – Embriaguez ......................................................................................................................................................... 26 2.2.6 – Toxicomanias ...................................................................................................................................................... 27 2.3 – Limitadores ou modificadores psiquiátricos ....................................................................................... 34 2.3.1 – Das personalidades psicopáticas ........................................................................................................................ 35 2.4 – Limitadores ou modificadores mesológicos ........................................................................................ 38 2.4.1 – Civilização: silvícolas ........................................................................................................................................... 38 2.4.2 – Psicologia das multidões ..................................................................................................................................... 39 2.5 – Limitadores ou modificadores legais ................................................................................................... 40 2.5.1 – Reincidência penal .............................................................................................................................................. 40 Equipe Paulo Bilynskyj, Paulo Bilynskyj Aula 05 Medicina Legal p/ PC-PB (Delegado) 2021 Pré-Edital www.estrategiaconcursos.com.br . . 2 3 – Psicologia judiciária .................................................................................................................................... 41 3.1 – Classificação das provas ...................................................................................................................... 41 3.1.1 – Confissão verbal .................................................................................................................................................. 42 3.1.2 – Acareação ........................................................................................................................................................... 42 3.1.3 – Provas documental ou escrita ............................................................................................................................ 42 3.1.4 – Presunções .......................................................................................................................................................... 43 3.1.5 – Prova testemunhal .............................................................................................................................................. 43 3.1.6 – Indícios ................................................................................................................................................................ 43 3.1.7 - Depoimento de crianças ...................................................................................................................................... 43 3.1.8 – Depoimento dos velhos ...................................................................................................................................... 44 Resumo ............................................................................................................................................................. 46 Destaques à legislação e jurisprudência ......................................................................................................... 62 Considerações finais ......................................................................................................................................... 69 Questões Comentadas ..................................................................................................................................... 70 Lista de questões .............................................................................................................................................. 83 Gabarito ....................................................................................................................................................... 90 Equipe Paulo Bilynskyj, Paulo Bilynskyj Aula 05 Medicina Legal p/ PC-PB (Delegado) 2021 Pré-Edital www.estrategiaconcursos.com.br . . 3 1 – INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA PSICOLOGIA FORENSE Guerreiros, Há três disciplinas importantes para o tema da nossa aula de hoje, inclusive, com conceitos bem parecidos, porém que não podem ser confundidos em provas. São as disciplinas; PSICOLOGIA FORENSE, A PSIQUIATRIA FORENSE e a PSICOPATOLOGIA FORENSE. A PSICOLOGIA FORENSE estuda limites, quais sejam: ✓ Normais; ✓ Biológicos; ✓ Mesológicos e; ✓ Legais (da CAPACIDADE CIVIL e da RESPONSABILIDADE PENAL). Contudo, não se pode confundir, pois, se falamos em limites modificadores ANORMAIS de qualquer uma dessas espécies ou ainda: ✓ Doenças mentais; ✓ Oligofrenias (doença que provoca o retardo no desenvolvimento mental de um indivíduo) e; ✓ Personalidades psicopáticas Então, nesses casos, a disciplina pertinente será a PSIQUIATRIA FORENSE e não a Psicologia. Psicologia forense Psiquiatria forense Limites da normalidade Limites e modificadores ANORMAIS Limites biológicos Doenças mentais Limites mesológicos Oligofrenias Limites Legais da capacidade civil e da responsabilidade penal Personalidades psicopáticas Por fim, temos também a PSICOPATOLOGIA FORENSE, que é a disciplina chamada para esclarecer desordensmentais, relacionadas com a capacidade civil e a responsabilidade penal, subsidiando, portanto, esclarecimentos por parte do psicopatologista à autoridade judiciária – a quem não cabe fazer diagnóstico, tampouco prognóstico, de ordem médica. Equipe Paulo Bilynskyj, Paulo Bilynskyj Aula 05 Medicina Legal p/ PC-PB (Delegado) 2021 Pré-Edital www.estrategiaconcursos.com.br . . 4 Esta é a única perícia que NÃO PODE ser determinada pela autoridade policial, só o órgão jurisdicional tem poder para determiná-la (cláusula de reserva de jurisdição), seja de ofício, a requerimento do Ministério Público, do defensor, curador, ascendente, descendente, irmão ou cônjuge do réu. 2 – LIMITADORES E MODIFICADORES DA CAPACIDADE CIVIL E DA RESPONSABILIDADE PENAL A nossa legislação, civil e penal, indica os institutos que modificam a capacidade civil ou a responsabilidade penal do indivíduo. Vale esclarecer que, por vezes, esses institutos são trabalhados de forma expressa, outras vezes, implícita. A. CAPACIDADE CIVIL Na forma do art. 1º do Código Civil “Toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem civil”. Isso quer dizer que qualquer ser humano, sem distinção, tem total possibilidade de adquirir direitos e obrigações. Contudo, para o exercício desses direitos e obrigações, é necessário que haja aptidão para adquirir direitos e exercer, por si só ou por intermédio de outrem, atos da vida civil. Isso é CAPACIDADE CIVIL. B. IMPUTABILIDADE PENAL Imputabilidade penal é o conjunto de condições pessoais que dão ao agente capacidade para lhe ser juridicamente imputada a prática de fato punível. É a capacidade para ser culpável. Equipe Paulo Bilynskyj, Paulo Bilynskyj Aula 05 Medicina Legal p/ PC-PB (Delegado) 2021 Pré-Edital www.estrategiaconcursos.com.br . . 5 A nossa legislação, acompanhando a tendência da maioria das legislações, optou por não defini-la. Limitou- se a apontar as hipóteses em que a imputabilidade está ausente, falamos então em inimputabilidade penal (art. 26, caput, art. 27 e art. 28 do todos do Código Penal). Contudo, a doutrina já se posicionou, no sentido de definir as caraterísticas da imputabilidade penal, sob argumento de que, indiretamente, o conceito de imputabilidade é: a capacidade mental, inerente ao ser humano, no ato (tempo) da ação ou omissão, de entender o caráter ilícito do fato e de determinar-se de acordo com esse entendimento. 1 Assim, a doutrina majoritária penalista, classifica a imputabilidade penal em 02 (dois) elementos. (1) Intelectivo: refere-se à integridade biopsíquica, consistindo na saúde mental que permite ao indivíduo o entendimento do caráter ilícito do fato. (2) Volitivo: analisa o domínio de vontade. Afirma-se que o agente controla e comanda seus impulsos relativos à compreensão do caráter ilícito do fato, determinando-se de acordo com esse entendimento. Obviamente, para nós, interessa o primeiro elemento que veremos no decorrer no curso. Lado outro, fala-se também em capacidade penal da imputabilidade penal. Segundo Petrocelli, “capacidade penal é o conjunto das condições exigidas para que um sujeito possa tornar-se titular de direitos ou obrigações no campo de Direito Penal”. Contudo, para parte da doutrina a capacidade penal não se confunde com a imputabilidade penal. CAPACIDADE PENAL IMPUTABILIDADE PENAL É fato da competência judicial e se refere a momento anterior ao crime. Imputabilidade é condição de indicação diagnóstica pericial que deve existir no momento da infração. 1 MASSON, Cleber, Direito Penal Parte Geral. 11ª. Edição. Rio de janeiro: Editora Forense, São Paulo: Método, 2017, p.509. Equipe Paulo Bilynskyj, Paulo Bilynskyj Aula 05 Medicina Legal p/ PC-PB (Delegado) 2021 Pré-Edital www.estrategiaconcursos.com.br . . 6 Obviamente, parcela da doutrina critica tal diferenciação considerando-a despida de utilidade. Isso porque, imputabilidade, contemporânea ao delito, pode não ser sujeito de Direito Penal, por incapacidade surgida durante a fase de relação processual, como na superveniência de doença mental, conforme preceitua o art. 152 do Código de Processo Penal: “Se verificar-se que a doença mental sobreveio à infração, o processo continuará suspenso até que o acusado se restabeleça, observado o § 2o do art. 149. ”2 Noutra ponta, note que, no tocante à responsabilidade, ensina a doutrina que as trata da “obrigação que alguém tem de arcar com as consequências jurídicas do crime.” Certamente ela depende da imputabilidade do indivíduo, isso porque, não pode ser responsabilizado senão o que tem consciência de fato antijurídico e ainda sim decide executá-lo. Dito isso, cumpre-nos apresentar o quadro sinóptico dos limitadores e modificadores da capacidade civil e da imputabilidade penal, que interessa à Medicina Legal, a partir das legislações civil e penal brasileiras. Quadro sinóptico dos limitadores e modificadores da capacidade civil e da imputabilidade penal Os modificadores e limitadores do sistema biológico são classificados em: 2 CROCE, Delton e JR. CROCE, Delton. Manual de Medicina Legal. 8ª. Edição. São Paulo: Editora Saraiva., 2011, p. 1277. Equipe Paulo Bilynskyj, Paulo Bilynskyj Aula 05 Medicina Legal p/ PC-PB (Delegado) 2021 Pré-Edital www.estrategiaconcursos.com.br . . 7 Veremos a partir de agora cada instituto. D O S LI M IT A D O R ES E M O D IF IC A D O R ES Biológicos Idade Sexo Emoção e paixão Agonia Psicopatológicos Sono patológico Sonambulismo Hipnotismo Surdimutismo Afasia Prodigalidade Embriaguez Toxicomanias Psiquiátricos Doenças mentais Oligofrenias Debilidade mental Imbecialidade Idiotia Personalidades psicopatas Neuroses Mesológicos Civilização silvícolas Psicologia das multidões Legais Reincidência penal Equipe Paulo Bilynskyj, Paulo Bilynskyj Aula 05 Medicina Legal p/ PC-PB (Delegado) 2021 Pré-Edital www.estrategiaconcursos.com.br . . 8 2.1 – LIMITADORES OU MODIFICADORES BIOLÓGICOS 2.1.1 – Idade Guerreiros, a idade é importante fator de limitação e modificação de capacidade que está intrinsecamente ligada à responsabilidade penal e capacidade civil. Contudo, é necessário estar atento e saber diferenciar os impactos sobre aspecto criminal e civil. Preliminarmente, destaco os aspectos criminais, pois muito nos interessa. I) ASPECTO CRIMINAL A Idade no Direito Penal pode revelar a imaturidade psíquica ou a incompleta fixação do esqueleto. Em relação à imaturidade psíquica, não é demais lembrá-los que se trata de uma atenuante, (18 aos 21 anos). Já a incompleta fixação do esqueleto ocorre a partir dos 70 (setenta anos). Importante esclarecer que a lei possui dificuldades biológicas na classificação dos idosos, uma vez que a idade avançada provoca neles, constantemente, alterações fisiológicas da lucidez, atitude, tendências, afetividade e vitalidade, tendendo o criminoso senil a tornar-se menos perigoso, chamamos então, de senilidade. Importante destacar que, há outros comandos legislativos que define menores como inimputáveis, inclusive a orientação constitucional é nesse sentido. Veja o que dispõe o art. 228 da CR: Art. 228. São penalmente inimputáveis os menores de dezoito anos, sujeitos às normas da legislação especial. No mesmo interim, o art. 27 do Código Penal: TÍTULO III DA IMPUTABILIDADE PENAL (...) Menores de dezoito anos Art. 27 - Os menores de 18 (dezoito) anos são penalmente inimputáveis, ficando sujeitos às normas estabelecidas na legislação especial. Não obstante serem penalmente inimputáveis, estão contudo sujeitos aos preceitos definidos por legislação especial. Assim, inimputáveis de 14 a 18 anos, porém, delituosos, são cuidados em processos com procedimentos diferenciados, como ensina Delton Croce: Equipe Paulo Bilynskyj,Paulo Bilynskyj Aula 05 Medicina Legal p/ PC-PB (Delegado) 2021 Pré-Edital www.estrategiaconcursos.com.br . . 9 (...) o juiz determinará sua internação para orientação educacional, ou, se o fato previsto como crime for punível com detenção, poderá a autoridade submeter o menor a tratamento ambulatorial por tempo indeterminado, em prazo mínimo de 1 a 3 anos, até que perito médico confirme a cessação da periculosidade. Ao juiz é dado converter o tratamento ambulatorial em internação do agente menor de 18 e maior de 14 anos, em estabelecimento dotado de características hospitalares, se essa providência for necessária, para fins curativos. O internando jamais poderá ultrapassar a idade de 21 anos. Nenhum menor de 18 anos irá para prisão comum, ficando sempre amparado pelo juízo especial. O menor de 14 anos ficou excluído do direito repressivo, sendo vedado, portanto, submetê-lo a processo penal de qualquer espécie (art. 110 do Estatuto da Criança e do Adolescente), mas, também, receberá tratamento médico e educacional adequado às suas necessidades, por determinação do juiz de menores. Acertou o legislador pátrio assim agindo, pois o menor delinquente, que deveria ser preocupação maior do Estado e retirado das ruas, é um infeliz que, pela boa orientação e trabalho, pode ser reeducado e tornar-se útil à sociedade. Somos dos que pensam e propugnam que, embora útil a assistência tardia, a profilaxia da delinquência juvenil melhor se faria pela assistência real e precoce do Estado aos menores desvalidos da sorte, enteados da incultura e da miséria, pela sua reeducação e trabalho nas fazendas-escola e nas indústrias-escola e não nas escolas do crime, como, por exemplo, a antiga Febem. Aqui se aplica sabiamente o refrão: antes tarde do que nunca. Sabemos que hoje, na forma do Estatuto da criança e do Adolescente (Lei 8069/90), adolescente não comete crime, mas ato infracional – condutas declaradas como crime ou contravenção penal, no entanto, praticadas por menores. Por isso, respondem de forma diferenciada apesar de se submeterem a uma instrução criminal, com oitiva de testemunhas, vítimas, objetivando a busca do princípio da verdade real do adolescente e o recolhimento das provas pertinentes, aplicando o Juiz competente, medidas socioeducativas, se for o caso. Sabemos que o Estatuto da criança e do adolescente não é direito repressivo, ao contrário, visa o bem estar das crianças e adolescentes, assegurando por intermédio de leis e outros mecanismos, oportunidades e facilidades que contribuíam para o desenvolvimento físico e mental, moral, espiritual e social à cultura, à dignidade e lazer. Por isso é que há previsão de inúmeras medidas, conforme demonstra o art. 112, do referido diploma. Vejamos: Art. 112. Verificada a prática de ato infracional, a autoridade competente poderá aplicar ao adolescente as seguintes medidas: I - Advertência; II - Obrigação de reparar o dano; III - Prestação de serviços à comunidade; IV - Liberdade assistida; V - Inserção em regime de semiliberdade; VI - Internação em estabelecimento educacional; VII - qualquer uma das previstas no art. 101, I a VI. § 1º A medida aplicada ao adolescente levará em conta a sua capacidade de cumpri-la, as circunstâncias e a gravidade da infração. Equipe Paulo Bilynskyj, Paulo Bilynskyj Aula 05 Medicina Legal p/ PC-PB (Delegado) 2021 Pré-Edital www.estrategiaconcursos.com.br . . 10 § 2º Em hipótese alguma e sob pretexto algum, será admitida a prestação de trabalho forçado. § 3º Os adolescentes portadores de doença ou deficiência mental receberão tratamento individual e especializado, em local adequado às suas condições. Art. 113. Aplica-se a este Capítulo o disposto nos arts. 99 e 100. Art. 114. A imposição das medidas previstas nos incisos II a VI do art. 112 pressupõe a existência de provas suficientes da autoria e da materialidade da infração, ressalvada a hipótese de remissão, nos termos do art. 127. Parágrafo único. A advertência poderá ser aplicada sempre que houver prova da materialidade e indícios suficientes da autoria. Note que há uma série de medidas, como acompanhamento por assistentes sociais e outras e, na forma do § 2º, nenhuma hipótese de internação será aplicada havendo outra medida adequada. Noutro giro, às crianças – pessoa com até 12 anos incompletos – cabe a aplicação das medidas específicas de proteção elencadas no art. 101, vejamos: Art. 101. Verificada qualquer das hipóteses previstas no art. 98, a autoridade competente poderá determinar, dentre outras, as seguintes medidas: I - encaminhamento aos pais ou responsável, mediante termo de responsabilidade; II - orientação, apoio e acompanhamento temporários; III - matrícula e frequência obrigatórias em estabelecimento oficial de ensino fundamental; IV - inclusão em serviços e programas oficiais ou comunitários de proteção, apoio e promoção da família, da criança e do adolescente; V - requisição de tratamento médico, psicológico ou psiquiátrico, em regime hospitalar ou ambulatorial; VI - inclusão em programa oficial ou comunitário de auxílio, orientação e tratamento a alcoólatras e toxicômanos; VII - acolhimento institucional; VIII - inclusão em programa de acolhimento familiar; IX - colocação em família substituta. (...) Por outro lado, aos que detém a guarda da criança ou adolescente, as medidas pertinentes aos pais e responsáveis, estão elencadas no art. 129 e 130 do estatuto. Art. 129. São medidas aplicáveis aos pais ou responsável: I - encaminhamento a serviços e programas oficiais ou comunitários de proteção, apoio e promoção da família; Equipe Paulo Bilynskyj, Paulo Bilynskyj Aula 05 Medicina Legal p/ PC-PB (Delegado) 2021 Pré-Edital www.estrategiaconcursos.com.br . . 11 II - inclusão em programa oficial ou comunitário de auxílio, orientação e tratamento a alcoólatras e toxicômanos; III - encaminhamento a tratamento psicológico ou psiquiátrico; IV - encaminhamento a cursos ou programas de orientação; V - obrigação de matricular o filho ou pupilo e acompanhar sua frequência e aproveitamento escolar; VI - obrigação de encaminhar a criança ou adolescente a tratamento especializado; VII - advertência; VIII - perda da guarda; IX - destituição da tutela; X - suspensão ou destituição do pátrio poder poder familiar. Parágrafo único. Na aplicação das medidas previstas nos incisos IX e X deste artigo, observar-se-á o disposto nos arts. 23 e 24. Art. 130. Verificada a hipótese de maus-tratos, opressão ou abuso sexual impostos pelos pais ou responsável, a autoridade judiciária poderá determinar, como medida cautelar, o afastamento do agressor da moradia comum. Parágrafo único. Da medida cautelar constará, ainda, a fixação provisória dos alimentos de que necessitem a criança ou o adolescente dependentes do agressor. II) ASPECTO CIVIL O Código Civil fala em absolutamente incapazes e relativamente incapazes. A partir das alterações legislativas de 2015, somente são considerados absolutamente incapazes os menores de 16 (dezesseis anos). Art. 3o São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil os menores de 16 (dezesseis) anos. Porém, é importante observar que os menores de 16 anos são absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil, sendo-lhes, portanto, proibido testar, testemunhar em testamentos etc. Na outra via, são relativamente incapazes: Art. 4o São incapazes, relativamente a certos atos ou à maneira de os exercer: I - os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos; II - os ébrios habituais e os viciados em tóxico; III - aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir sua vontade; IV - os pródigos. Equipe Paulo Bilynskyj, Paulo Bilynskyj Aula 05 Medicina Legalp/ PC-PB (Delegado) 2021 Pré-Edital www.estrategiaconcursos.com.br . . 12 Aqui, importante anotar que são relativamente incapazes a certos atos (art. 171, I), ou a maneira de exercê-los (art. 4.º, I, do CC). Pessoas com 16 anos podem, por exemplo, casar-se, contudo, exige-se autorização de ambos os pais, ou de seus representantes legais, enquanto não atingida a maioridade civil. ✓ A menoridade cessa aos 18 anos completos, idade em que o indivíduo, dotado de personalidade sadia e íntegra, é responsável pelos seus atos e capaz diante da vida civil. ✓ A plenitude da capacidade ocorre aos 18 anos, nos termos do art. 5.º do Código Civil. ATENÇÃO!! Se o indivíduo nasceu num ano bissexto, a 29 de fevereiro, a maioridade se dará no décimo oitavo ano, a 1.º de março. Se ignorada a data do nascimento, invocar-se-á perícia médico-legal para determinação da idade; persistindo a dúvida, pender-se-á pela capacidade (in dubio pro capacitate) de exercício ou de fato, ou seja, a autoridade reconhecerá ao indivíduo aptidão para ser sujeito de direitos e obrigações, e exercer, por si ou por outrem, atos da vida civil. ✓ A incapacidade do menor também cessará pela concessão dos pais, ou de um deles na falta do outro, mediante instrumento público, independentemente de homologação judicial, ou por sentença do juiz, ouvido o tutor, se o menor tiver 16 anos completos; pelo casamento; pelo exercício de emprego público efetivo; pela colação de grau em curso de ensino superior; pelo estabelecimento civil ou comercial; ou pela existência de relação de emprego, desde que, em função deles, o menor com 16 anos completos tenha economia própria (art. 5.º, parágrafo único, do CC). Por fim, faço duas considerações importantes, que merecem especial atenção. (1) Embora civilmente emancipado pelo casamento, continua o menor de 18 anos sujeito à jurisdição especial de menores, uma vez que a menoridade criminal não se confunde com a emancipação ou maioridade civil resultante da convolação matrimonial ou de outros fatos. (2) Capacidade civil pressuposta pela emancipação que ocorre aos 18 anos não pode ser confundida com a idade-limite para alistamento militar, nem com a eleitoral. Isso porque, na forma da legislação específica, para efeito do alistamento militar, cessará a incapacidade do menor na data em que ele completar 17 anos. Na forma do art. 14 da Constituição de 1988, são eleitores Equipe Paulo Bilynskyj, Paulo Bilynskyj Aula 05 Medicina Legal p/ PC-PB (Delegado) 2021 Pré-Edital www.estrategiaconcursos.com.br . . 13 obrigatoriamente todos os brasileiros maiores de 18 anos, e facultativamente os maiores de 16 e menores de 18 anos. 2.1.2 – Sexo De acordo com a doutrina majoritária, a Lei admite o sexo como limitador e modificador da capacidade civil, mas não da responsabilidade penal. Veja que na esfera do Direito Civil, por exemplo, o homem e a mulher com dezesseis anos podem casar, exigindo-se autorização de ambos os pais, ou de seus representantes legais, enquanto não atingida a maioridade civil (art. 1517cc). Por outro lado, o mesmo diploma legal, art. 1523cc, estabelece causa suspensiva recomendando que não devem casar a viúva ou mulher, na seguinte hipótese: Art. 1.523. Não devem casar: II - a viúva, ou a mulher cujo casamento se desfez por ser nulo ou ter sido anulado, até dez meses depois do começo da viuvez, ou da dissolução da sociedade conjugal; Para evitar a chamada “mistura de sangues” (turbatio sanguinis), salvo se antes de findo esse prazo sofrer aborto ou der à luz algum filho. É valido saber que, no passado, enquanto existisse vínculo conjugal, eram as mulheres consideradas relativamente incapazes pelo nosso diploma legal, porém atualmente, devido ao movimento feminista, as restrições civis foram progressivamente deixando de embaraçar. Também importante, foi a Convenção Interamericana de Bogotá, em 1948, da qual o Brasil participou. Ela incumbiu de excluir-lhes a incapacitação relativa expandindo atos que elas podem exercer sem autorização do marido. O Objetivo, obviamente, fora estabelecer uma equiparação relativa dos direitos e dos deveres dos cônjuges, outorgando-lhes os mesmos direitos civis de que goza o homem. Delton Croce3 nos ensina que a constituição morfofisiopsíquica da mulher é diferente da do homem. Ademais, todos os períodos críticos da idade feminina (puberdade, gestação, parto, puerpério, lactação, 3 CROCE, Delton e JR. CROCE, Delton. Manual de Medicina Legal. 8ª. Edição. São Paulo: Editora Saraiva., 2011, p. 1283. Equipe Paulo Bilynskyj, Paulo Bilynskyj Aula 05 Medicina Legal p/ PC-PB (Delegado) 2021 Pré-Edital www.estrategiaconcursos.com.br . . 14 climatério) e anomalias menstruais (amenorreia, dismenorreia, hipomenorreia, hipermenorreia, metrorragia) atuam em graus distintos no psiquismo em algumas mulheres, determinando modificações variáveis do humor, da consciência, a emotividade exaltada despersonalizando-as, muitas vezes. Essas alterações orgânicas desencadeiam, comprovadamente, perturbações psíquicas e/ou da saúde mental apenas em mulheres predispostas por sua natureza fisiológica. Por outro lado, na esfera penal não temos nenhuma diferenciação pelo Código Penal em relação à feminae (??) delituosa, a qual, da mesma forma do criminoso masculino, portador de doença mental ou mentalmente perturbado, será considerada pelo magistrado inimputável ou semi-imputável, nos termos do art. 26 e seu parágrafo do mesmo diploma legal, conforme apontar o diagnóstico psiquiátrico--pericial. Art. 26. É isento de pena o agente que, por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. Parágrafo único - A pena pode ser reduzida de um a dois terços, se o agente, em virtude de perturbação de saúde mental ou por desenvolvimento mental incompleto ou retardado não era inteiramente capaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. Note que, importa o estado mais grave ou menos grave e substancial do fluir mental do agente delituoso na ocasião em que comete o delito. Perceba então que, não se admite o sexo, portanto, como modificador da imputabilidade penal. A excepcionalidade apontada no infanticídio não é vista em relação à condição da mãe criminosa ser mulher, mas, sim, por encontrar-se mentalmente perturbada durante o parto ou logo após. Nesse diapasão, é de se lembrar o art. 134 do Código Penal: “Expor ou abandonar recém- nascido para ocultar desonra própria”, pois, não é apenas a mãe que concebeu ilicitamente que pode cometer o delito, mas “também o pai incestuoso ou adúltero” ou “ainda outros parentes próximos”4. 4 Andrés A. Balestra, Abandono e exposição de incapaz, Enciclopédia Saraiva do Direito, v. 1, p. 236 Equipe Paulo Bilynskyj, Paulo Bilynskyj Aula 05 Medicina Legal p/ PC-PB (Delegado) 2021 Pré-Edital www.estrategiaconcursos.com.br . . 15 2.1.3 – Emoção e Paixão Nossas emoções e paixões são geradas na região cerebral constituída pelo tálamo, hipotálamo, amígdala, hipófise e hipocampo sistema límbico (arquipallium). Dessa forma, descargas elétricas no sistema límbico podem desencadear inúmeros sintomas, como por exemplo, os semelhantes aos das psicoses ou aos produzidos por drogas psicodélicas ou alucinógenas. • HIPÓFISE5: rege funções das demais glândulas endócrinas do organismo, constitui parte íntima da região límbica. O desequilíbrio de suas funções determina mudanças de humor, indicativas da ligação do sistema límbico com os estados mentais. • AMÍGDALA6: é uma pequena inclusão no sistema límbico, em forma de amêndoa, que está profundamente implicada, tanto na agressividade quanto no medo. A estimulaçãoelétrica da amígdala de animais domésticos tranquilos pode desencadear-lhes estados incríveis de terror ou de agitação frenética. Lado outro, a extirpação experimental da amígdala do sistema límbico torna os animais de natureza feroz, como o lince, o tigre, o leopardo, extremamente dóceis e suscetíveis de se deixarem acariciar, à semelhança de animais domésticos. Estes, contudo, não são os únicos sistemas envolvidos. Existe, ainda, no hipotálamo, o sistema hipotalâmico ventral. Este está associado às formas de comportamento, além de luta ou fuga, reações que frequentemente só ocorrem em situações de emergência. Para a doutrina, é este o sistema que permite a possibilidade ao indivíduo de aprender a controlar seu comportamento de modo a evitar a estimulação desagradável do sistema límbico, objetivando evitar conflitos. Parte da doutrina expande esse conceito ao afirmar que hipotalâmico ventral também regula o comportamento submissivo dos indivíduos. Frise-se que uma parte, pelo menos, do papel determinador da emoção e da paixão nos sistemas endócrinos límbicos, como a hipófise, a amígdala, o hipotálamo, é harmonizada através de pequenas proteínas hormonais — das quais a mais conhecida é o ACTH (hormônio adenocorticotrópico) —, que afetam diversas funções mentais, como a retenção visual, a ansiedade e o prazo da atenção. 5 CROCE, Delton e JR. CROCE, Delton. Manual de Medicina Legal. 8ª. Edição. São Paulo: Editora Saraiva., 2011, p. 1284. 6 CROCE, Delton e JR. CROCE, Delton. Manual de Medicina Legal. 8ª. Edição. São Paulo: Editora Saraiva., 2011, p. 1283. Equipe Paulo Bilynskyj, Paulo Bilynskyj Aula 05 Medicina Legal p/ PC-PB (Delegado) 2021 Pré-Edital www.estrategiaconcursos.com.br . . 16 Delton Croce, conta-nos em sua obra que já foram fotografadas e isoladas, com auxílio do microscópio eletrônico, pequenas proteínas hipotalâmicas no terceiro ventrículo cerebral, que liga o hipotálamo ao tálamo, região também compreendida no sistema límbico. E que também fora recentemente descoberto que substâncias idênticas ou similares às liberadas nas sinapses do sistema nervoso vegetativo e periférico estão no cerebrum. Como exemplos: ✓ NORADRENALINA, importante transmissor sináptico no cérebro, nas terminações nervosas, parece ser o transmissor do sistema ativador límbico; ✓ ACETILCOLINA, que, além de transmissor sináptico em determinadas áreas do cérebro, atua no sistema hipotalâmico ventral mediano, que, sabe-se hodiernamente, está associado ao “comportamento preventivo de traumatismos”; ✓ DOPAMINA, transmissor sináptico da mímica involuntária de comunicação. Outros aspectos também determinados em grande parte pelo sistema límbico são os altruísticos, emocionais e religiosos. Por fim, é valido esclarecer que o mau funcionamento do sistema límbico, tanto por hipo quanto por hiperestimulação natural ou artificial, pode produzir ✓ Raiva, ✓ Medo ou ✓ Excesso de sentimentalismo, Nesses casos, indivíduos afetados podem ser tomados erroneamente por loucos, mas que, também, é neles que se forma a violenta emoção a que se refere a lei. Bem, fato é que, tanto a emoção como a paixão trabalham no organismo, podendo alterar a frequência do pulso, o débito dos batimentos cardíacos, movimentos respiratórios, sudorese, diurese chegando a possibilidade de influenciar no aumento da glicemia e acidose sanguínea, frequentemente, dos ácidos graxos livre. Também podem influenciar funções psíquicas, bloqueando voluntariamente a inteligência e determinando o automatismo. Contudo, é importante esclarecer que somente a emoção patológica tem condão de causar inconsciência completa, consequência da perda de memória nos predispostos. Por esta razão, o código penal não considera emoção ou paixão como excludentes de culpabilidade penal, mas tão somente as reconhece como atenuantes da pena ao agente. Dessa forma, pode-se concluir que, a emoção e a paixão não anulam crimes, porém, embora não excluam a responsabilidade penal, podem, atendidas determinadas circunstâncias, justificar redução da pena. Equipe Paulo Bilynskyj, Paulo Bilynskyj Aula 05 Medicina Legal p/ PC-PB (Delegado) 2021 Pré-Edital www.estrategiaconcursos.com.br . . 17 2.1.4 – Agonia A agonia é espécie usada pela Medicina Legal para informar à justiça sobre a presunção da capacidade civil de pessoas que apresentam enfraquecimento geral das funções, também conhecido como caquéticos e ainda, dos moribundos lúcidos, intitulados como aqueles que não estão em estado de delírio ou de sonolência. Anote que, neste último caso, a lei permite o indivíduo testar, casar in extremis, doar e testemunhar. Assim, moribundo é toda pessoa que vive nas proximidades da morte. Importante lembrar que a legislação exige lucidez, ou seja, que o indivíduo para realizar certos atos da vida civil, esteja em juízo perfeito e condições de expressar a sua vontade. Por outro lado, não se pode confundir a enfermidade grave ou idade avançada com o exposto acima, isso porque elas, por si só, não são impedientes da realização desses atos da vida civil, desde que a mente não esteja afetada, óbvio, tampouco haja efetiva involução senil. Significa que, mesmo na proximidade da morte, esses atos civis terão validade ainda que elaborados momentos antes do óbito se o indivíduo, são de espírito, manifestar consciência, discernimento e perfeito juízo. Obviamente, é direito dos herdeiros, pós a morte do moribundo questionar sobre a validade do ato de última vontade, por isso, na lavratura de documentos públicos de agonizante lúcido, é devido a presença de médico, se possível especialista, e de testemunhas idôneas (art. 1.864, II, do CC), para ajuizarem, de comum acordo, das plenas faculdades psíquicas, e a atuação voluntária (voluntatis nostrae) sem influência estranha, pressuposta no Código. Equipe Paulo Bilynskyj, Paulo Bilynskyj Aula 05 Medicina Legal p/ PC-PB (Delegado) 2021 Pré-Edital www.estrategiaconcursos.com.br . . 18 2.2 – LIMITADORES OU MODIFICADORES PSICOPATOLÓGICOS Como vimos no nosso quadro sinóptico, são limitadores ou modificadores psicopatológicos: Passaremos à análise de cada um deles. De acordo com a neurofisiologia, há três estados mentais nos seres humanos, comprovados pelo eletroencefalograma – que registra padrões distintos das ondas cerebrais –, são eles: I. Vigília II. Sono III. Sonho A partir desses estados, classifica-se eletroencefalograficamente o sono em dois tipos: • Sono sem sonhos (sono de onda lenta) e; • Sono com sonhos (sono paradoxal) No organismo acordado, durante um prolongado espaço de tempo, o sono é desencadeado pela produção de substâncias neuroquímicas, que, atuando no tronco cerebral ou ponte rombencefálica, literalmente forçam-no a dormir. Tem sido demonstrado experimentalmente que os animais privados de sono geram D O S LI M IT A D O R ES E M O D IF IC A D O R ES Psicopatológicos Sono patológico Sonambulismo Hipnotismo Surdimutismo Afasia Prodigalidade Embriaguez Toxicomanias Equipe Paulo Bilynskyj, Paulo Bilynskyj Aula 05 Medicina Legal p/ PC-PB (Delegado) 2021 Pré-Edital www.estrategiaconcursos.com.br . . 19 essas moléculas neuropsíquicas no líquido cefalorraquidiano, o qual, injetado em animais perfeitamente despertos, provocam o sono7. Michael Jouvet8 Penfield9 William Dement10 Indica o tronco cerebral ou ponte rombencefálica como o centro do sono. Desencadeou um estado de vigília semelhante ao dos sonhos destituídos de seus aspectos simbólicos e fantasiosos pela estimulação elétrica do lobo temporal, e, abaixo deste, no neocórtex e na amígdala do complexo límbico, nos epilépticos. Inversamente, descargas elétricas sobre a amígdala de indivíduo sadio podem provocar crises epileptiformes. A estimulação elétrica pode, ainda, desencadear grande partedo conteúdo afetivo dos sonhos, inclusive o medo. Estudando o estado onírico detectado por eletrodos fixados às pálpebras durante o sono, observou que, nos sonhos, ocorrem movimentos oculares rápidos (MOR) e um padrão peculiar de ondas cerebrais no eletroencefalograma. Esse autor descobriu, ainda, observando o MOR e o eletroencefalograma, que todos os indivíduos, mesmo os que não se recordam de ter sonhado, sonham; e, quando despertados no período inicial da manifestação do MOR, admitem, surpresos, que sonharam. Por último, afirma que os homens e os mamíferos sonham frequentes vezes durante o mesmo sono. 7 CROCE, Delton e JR. CROCE, Delton. Manual de Medicina Legal. 8ª. Edição. São Paulo: Editora Saraiva., 2011, p. 1288. 8 Neurologista da Universidade Lyon 9 Um dos maiores neurocirurgiões canadense 10 Psiquiatra da universidade de Stanford Equipe Paulo Bilynskyj, Paulo Bilynskyj Aula 05 Medicina Legal p/ PC-PB (Delegado) 2021 Pré-Edital www.estrategiaconcursos.com.br . . 20 Já o sono paradoxal é fundamental para a sobrevivência do ser humano, pois como explica Delton11, quando seres humanos ou outros mamíferos são acordados assim que surgem os padrões característicos do MOR e do EEG, a frequência de sonhos se eleva por noite e, persistindo ininterruptamente o período de privação do sono por alguns dias, ocorrem alucinações, quer dizer, sonos acordados, perturbações mentais e mesmo morte. Vale dizer que, em regra, o sono não é modificador da capacidade de imputação. Porém, há casos de indivíduos extremamente nervosos e, portanto, sugestionáveis que, na influência de sono e sonhos anormais comentem de forma inconscientemente os mais diversificados atos. Nestes casos, observando o caso in concreto e a depender da situação o sono anormal pode ser invocado como atenuante, dirimente ou agravante. Neste sentido, será: • Atenuante ou dirimente: se for possível alegar a favor do agente as circunstâncias previstas no art. 26 e seu parágrafo do Código Penal, sic: “art. 26 - É isento de pena o agente que, por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento”. • Agravante: se o fato criminoso (lesão corporal, homicídio, estupro) ocorreu aproveitando-se o agente do sono natural da vítima, por exemplo. Não obstante a teoria fornecer elementos, a perícia ainda encontra dificuldades, no sentido de constatar se o sono e os sonhos anormais são constantes. Veja algumas das dificuldades periciais ainda existentes: Dificuldades para constatar sonhos anormais: 11 CROCE, Delton e JR. CROCE, Delton. Manual de Medicina Legal. 8ª. Edição. São Paulo: Editora Saraiva., 2011, p. 1289. Equipe Paulo Bilynskyj, Paulo Bilynskyj Aula 05 Medicina Legal p/ PC-PB (Delegado) 2021 Pré-Edital www.estrategiaconcursos.com.br . . 21 ➢ No agente e/ou ➢ Em pessoas da mesma família, ➢ O tempo de duração e as características do sonho, ➢ Se o fato ocorreu durante o sono, ➢ Se a atitude de consciência do indivíduo, ➢ Acordado, diante do fato, sem esquecer que muitos sonhos são seguidos de amnésia. Apurará, ainda, possível histeria ou epilepsia. Outra fase que merece destaque é a “embriaguez do sono”. Isso porque, é esta a fase que antecede ou subsegue o sono. Aqui, a percepção do mundo exterior não está ainda completamente restabelecida pelo retorno da vigília. Falamos então que o indivíduo se encontra no estado da semi-vigilia (dormiveglia), uma vez que a pessoa vê, entende, porém os sentidos da visão e audição, em vez de objetos reais, traduzem apenas impressões ilusórias e aparições produzidas pela própria fantasia. Nestes casos, é possível que o acordar abrupto, pode originar reação confusa duradoura, podendo gerar reações confusas que duram desde alguns segundos, até poucos minutos, desconhecimento delirante ou ilusório da realidade, angústia afetivo-impulsiva, capazes de levar o sonolento a cometer graves delitos, voltando-se, às vezes, contra os que dele estiverem mais próximos, pôr os julgar seus inimigos imaginários. Posteriormente, ocorre o completo restabelecimento da consciência. O Professor Delton Croce, cita em suas obras, a título de exemplo, o conhecido caso de Bernardo Schidmaidzig que, despertado repentinamente, vislumbra uma figura espectral dirigindo-se em sua direção; aterrorizado, como que dotado de uma mola, levanta-se de inóspito e, antes ainda de ter recobrado a claridade da consciência e de orientação, assim “embriagado pelo sono”, toma de um machadinho e mata sua mulher, adormecida a seu lado. Outro exemplo é o do soldado, adormecido em estado de alerta, que, ouvindo o toque de clarim anunciando a alvorada, supôs um inesperado ataque do inimigo, sacou sua arma e atingiu os que se achavam em derredor de si. Nesse sentido, para Carrara, descartada a possibilidade de tratar de um estado de sono alcoólico, um estado crepuscular epiléptico ou um estado crepuscular psicógeno, restando demonstrado ter o delito sido cometido estando o agente “embriagado de sono”, será ele considerado como irresponsável, posto que seus atos são “puramente maquinais e não estão dirigidos por uma vontade racional nem pela consciência das próprias operações”. Equipe Paulo Bilynskyj, Paulo Bilynskyj Aula 05 Medicina Legal p/ PC-PB (Delegado) 2021 Pré-Edital www.estrategiaconcursos.com.br . . 22 2.2.1 – Sono patológico Para Delton Croce, o sono é um estado fisiológico normal, periódico, caracterizado pela redução da atividade corporal, relaxamento natural dos órgãos dos sentidos e do tono muscular, postura horizontal e, muitas vezes, semi-sentada, e suspensão do estado consciente.12 Nesse sentido, o sono patológico é classificado em sonambulismo e hipnotismo. A) Sonambulismo O sonambulismo é classificado como um sintoma de perturbação mental, mais frequente na infância que na idade adulta. Noutras palavras, é um sonho que se executa durante o sono. Dessa forma, o sonambulismo é uma fase inconsciente que se estabelece entre o sono natural e o patológico, implicando, consequentemente, em verdadeiro estado de dissociação mental similar ao transe histérico, com ofuscamento de alguns sentidos. Porém, neste período, a atividade locomotora do indivíduo é mantida. Obs.: Por isso, nestes casos, é comum o indivíduo levantar do lugar onde dorme, e, com os olhos abertos, - já que somos guiados pelo sentido da visão-, vagueando e desviando de objetos em seu caminho. Da mesma forma, o sonâmbulo também tem o sentido táctil exaltado, vendo, ouvindo e entendendo apenas o que se refere ao sonho, por isso é que, - quando parado, não responde -, em geral reconhecendo inconsciência na prática dos atos, pois na manhã seguinte, acordado, não guarda lembrança do ocorrido. Mas cuidado, não se pode confundir sonambulismo e semissonambulismo. 12 CROCE, Delton e JR. CROCE, Delton. Manual de Medicina Legal. 8ª. Edição. São Paulo: Editora Saraiva., 2011, p. 1290. Equipe Paulo Bilynskyj, Paulo Bilynskyj Aula 05 Medicina Legal p/ PC-PB (Delegado) 2021 Pré-Edital www.estrategiaconcursos.com.br . . 23 Semissonambulismo é automatismo do sono no qual o indivíduo adulto, meio desperto, influenciado por rotina bastante complexa, pratica atos simples como abrir janelas e olhar para fora, recordando a posteriori, apenas uma parte do episódio. É muito raro, quase inadmissível, que o noctambulismo se produza como fato isolado e que um indivíduo que nunca o apresentou, quer na sua infância, quer em sua mocidade, se torne sonâmbulo, de um momento para o outro, sem mais aquelas, ou apenas sob a forte impressão fugaz de um momento.13 Foderè14 conta o caso de um monge sonâmbulo que, em se inimizando com um seu confrade, armou-se de uma facae adentrou-lhe o quarto desferindo vários golpes contra o leito, só não se consumando o intento assassino porque seu desafeto lá não se encontrava; após, saiu, fechou a porta e retornou, ainda sonambulando a seu quarto, consoante testemunha ocular. Perceba, então, que em situação de noctambulismo podem ser cometidos atos delituosos; in casu, porque o sonambulismo modifica a capacidade de imputação, por isso, não é exagero julgadores optar pela irresponsabilidade, e pela inexistência de culpabilidade subsequentes mesmo que haja ratificação do agente. Vale destacar que o perito não deve descartar a possibilidade de simulação, atendo-se aos antecedentes do examinando, sua idade, estados mórbidos (neuroses, epilepsias, disritmia) e aos informes circunstanciais auxiliares na elucidação da ocorrência. B) Hipnotismo Por outro lado, o hipnotismo é o processo para produzir estado de transe que submete o indivíduo hipnotizado – de forma limitada – à influência do hipnotizador. Delton Croce, em sua obra de manual sobre o tema, traz o conceito de importantes figuras sobre o tema: • Para Schneck, hipnotismo é um fenômeno regressivo, conduzindo o indivíduo ao mais primitivo nível de funcionamento psicofisiológico. 13 CROCE, Delton e JR. CROCE, Delton. Manual de Medicina Legal. 8ª. Edição. São Paulo: Editora Saraiva. 2011, p. 1291. 14 Traitè de medicine legale, 1813, v. 1, p. 250 Equipe Paulo Bilynskyj, Paulo Bilynskyj Aula 05 Medicina Legal p/ PC-PB (Delegado) 2021 Pré-Edital www.estrategiaconcursos.com.br . . 24 • Já Solovey de Milechnin, diz tratar-se de uma forma de proteção psíquica que ativa, regressivamente, padrões iniciais de comportamento. Cuida-se de um desdobramento da personalidade obtido sob influência de sugestões verbais, sons monótonos prolongados ritmicamente, compressão de zonas histerógenas, fixação de objeto em movimento pendular, fixação de objeto luminoso (reflexo de Braid), com variados estados de sono. É o sonambulismo provocado. C) Estados do Hipnotismo Psiquiatras Franceses, como Charcot, psiquiatra da Escola de Salpêtrière, fala em 03 (três) estados de hipnose: Porém, para doutrinadores brasileiros, essa classificação não é admitida. Nesse sentido, Delton Croce traz severas críticas à divisão e explica que “essas famosas fases hipnóticas de Charcot não existem ou, então, mesclam-se sem delimitação e foram inventadas por ele, aplicadas aos seus indivíduos histéricos, e aceitas pelos discípulos graças à potente influência sugestiva do Mestre.”15 Bem, é certo que o tema ainda não é pacificado. Se para muitos a hipnose só é possível em histéricos e neuróticos, negando ser o hipnotizado autômato nas mãos do hipnotizador, para outros, a hipnose é fato fisiológico; é um sono que pode ser provocado em indivíduos sãos. Além disso, também há quem pretenda harmonizar as divergências doutrinárias. Neste caso, prevalece que o hipnotizado só fará o que for capaz de fazer no estado normal. Nesse sentido, a prática tem demonstrado que o hipnotizado, mentalmente sadio, reage e acorda mediante sugestões e ordens verbais contrárias aos seus princípios éticos e morais. Vale esclarecer que não consta registrado, nem mesmo nas crônicas policiais, crimes cometidos insofismavelmente por indução hipnótica. Daí porque, essa tese ainda não pode ser aceita como atenuante ou dirimente alegação de estado hipnótico ao indigitado autor de crime. Por outro lado, certamente, poderá ser agravante na hipótese em que a vítima do atentado criminoso se encontrar hipnotizada. 15 CROCE, Delton e JR. CROCE, Delton. Manual de Medicina Legal. 8ª. Edição. São Paulo: Editora Saraiva., 2011, p. 1291. h ip n o se Letargia h ip n o se Catalepsia h ip n o se Sonambulismo Equipe Paulo Bilynskyj, Paulo Bilynskyj Aula 05 Medicina Legal p/ PC-PB (Delegado) 2021 Pré-Edital www.estrategiaconcursos.com.br . . 25 2.2.2 – Surdismo O surdimutismo, como a afasia, resulta de uma parada de desenvolvimento ou de lesão grave de área cerebral, o que confere ao mouco-mudo deficiência mental limitadora e modificadora da capacidade civil e da responsabilidade penal.16 Contudo, é válido observar que a surdo-mudez, todavia, só por si não é suficiente para determinar a incapacidade, obrigando-se para tal que não possa o deficiente, por modo algum, manifestar a sua vontade. 2.2.3 – Afasia A afasia resulta de parada de desenvolvimento ou de grave lesão congênita ou adquirida, podendo ainda, ser dependente de patologias nervosas ou mentais17. Noutras palavras, a afasia é a impossibilidade de falar. Pode ser a perda total ou parcial da fala. Importante esclarecer que o afásico é o indivíduo que não se confunde com demente, não possui nenhuma alteração do órgão fonador – por isso, não há que ser falar em áfono, nem disártrico, nem cego, nem surdo, porém é incapaz de exprimir-se por meio de palavras ou da escrita, ou incapaz de compreender a palavra falada ou escrita. Para Delton Croce, embora as legislações vigentes não façam referência expressa aos afásicos, evidentemente eles são enquadráveis no art. 26, no âmbito criminal, e nos arts. 3.º, II, 228, 1.767, II, 1.772 e 1.776, do Código Civil, sendo a afasia um estado mórbido modificador da capacidade civil e da capacidade imputatio poenalis. A partir disso, pode-se concluir que há, no entanto, casos raros de afásicos, civilmente capazes, que podem exprimir conscientemente a sua vontade. 16 CROCE, Delton e JR. CROCE, Delton. Manual de Medicina Legal. 8ª. Edição. São Paulo: Editora Saraiva., 2011, p. 1293. 17 CROCE, Delton e JR. CROCE, Delton. Manual de Medicina Legal. 8ª. Edição. São Paulo: Editora Saraiva. 2011, p. 1293. Equipe Paulo Bilynskyj, Paulo Bilynskyj Aula 05 Medicina Legal p/ PC-PB (Delegado) 2021 Pré-Edital www.estrategiaconcursos.com.br . . 26 2.2.4 – Prodigalidade O pródigo é previsto legalmente, especificamente no Código Civil e considera-se pródigo aquele que, sem justificativa, esbanja insensatamente. Entende-se por insensato aquele que dilapida seus bens e haveres, comprometendo a estabilidade econômica de seu patrimônio ou fortuna. Para o código civil, esses são os incapacitados relativos: Art. 4o São incapazes, relativamente a certos atos ou à maneira de os exercer: IV - os pródigos. Isso significa que a incapacidade é em relação a certos atos ou ainda a maneira de exercê-los. Nesses casos não há proibição, por exemplo, de atos de mera administração, ou ainda de casar-se e exercitar outros direitos. Porém, é necessário estar atento, pois se a prodigalidade for de protótipo a comprometer os haveres do psicopata, a curatela é medida que se impõe como forma acauteladora. Por fim, é válido lembrar que em casos de interdição do pródigo, esta pode privá-lo de, sem curador, emprestar, transigir, dar quitação, alienar, hipotecar, demandar ou ser demandado e praticar, em geral, os atos que não sejam de mera administração. 2.2.5 – Embriaguez Tratamos deste tema na aula de Toxicologia Forense. Lá explicamos que o álcool, uma vez ingerido, age no organismo, especialmente no sistema nervoso e poderá produzir desde embriaguez até psicose alcoólica. A intoxicação alcoólica compreende: EMBRIAGUEZ e EMBRIAGUEZ PATOLÓGICA. • EMBRIAGUEZ EMBRIAGUEZ: é intoxicação alcoólica, ou por substância de efeitos análogos, aguda, imediata e passageira. Divide-se a embriaguez, nas seguintes fases: • De excitação, ou subaguda (fase do macaco) - é a ebriedade incompleta, em que o indivíduo se torna irrequieto, agitado, falador, eufórico, a consciência ainda impede alguns atos e determina o comportamento social. O indivíduo possui, ainda, consciência do que faz, sendo, portanto, penalmente responsável pelos atos que vier a cometer; • De confusão ou aguda (fase do leão) - é a que constitui periculosidade, tornando-se o ébrio insolentee agressivo, apresenta fala desconexa, delírios, apetite desordenado, vaidade, perversidade, fanatismo. É a embriaguez completa; e Equipe Paulo Bilynskyj, Paulo Bilynskyj Aula 05 Medicina Legal p/ PC-PB (Delegado) 2021 Pré-Edital www.estrategiaconcursos.com.br . . 27 • Do sono, comatosa ou superagudo (fase do porco) – também é embriaguez completa em que o ébrio fica inconsciente, em sono profundo. • EMBRIAGUEZ PATOLÓGICA Por outro lado, a EMBRIAGUEZ PATOLÓGICA: comumente se manifesta nos descendentes de alcoólatras, nos predispostos e tarados e em personalidades psicopatas, desencadeando acessos furiosos e atos de extrema violência, mesmo sob ingestão de pequenas doses de álcool. É uma forma especial de intoxicação alcoólica aguda, que causa transtornos psíquicos manifestados desde a excitação eufórica até o coma alcoólico. A embriaguez patológica apresenta quatro tipos: 1) Embriaguez agressiva e violenta — o ébrio torna-se agressivo e violento. 2) Embriaguez excitomotora — o ébrio, inquieto, é acometido de raiva destrutiva seguida de amnésia lacunar. 3) Embriaguez convulsiva — impulsos destruidores seguidos de crises epileptiformes. 4) Embriaguez delirante — delírios com ideias de autoacusação e de autodestruição, sobrevindo tendência ao suicídio. 2.2.6 – Toxicomanias Falamos sobre este tema também na aula de Toxicologia Forense, dessa forma, convém nos lembrar algumas definições importantes que são exploradas em provas. Vamos a elas: • Tóxico É qualquer substância de origem animal, vegetal ou mineral que, introduzida em quantidade suficiente num organismo vivo, produz efeitos maléficos, podendo ocasionar a morte. • Drogas tóxicas Equipe Paulo Bilynskyj, Paulo Bilynskyj Aula 05 Medicina Legal p/ PC-PB (Delegado) 2021 Pré-Edital www.estrategiaconcursos.com.br . . 28 São substâncias químicas naturais ou sintéticas, que têm a faculdade de agir sobre o sistema nervoso central, com tendência ao tropismo pelo cérebro que comanda o corpo, alterando a normalidade mental ou psíquica, desequilibrando a conduta e a personalidade. • Toxicomania ou toxicofilia Designa o hábito ao uso de narcóticos e/ou de psicotrópicos. Segundo o Comitê dos Peritos da Organização Mundial de Saúde (OMS), “é um estado de intoxicação crônica ou periódica, prejudicial ao indivíduo e nociva à sociedade, pelo consumo repetido de determinada droga, seja ela natural ou sintética”. • Dependência psíquica Dependência psíquica é o estado manifestado por compulsio psykhikos. Incontida de consumir a droga, periódica ou continuamente, para obter prazer ou alívio de desconforto ou evitar um mal-estar. • Dependência Física Dependência física é o estado de adaptação que se manifesta pelo surgimento de intensos transtornos físicos ou síndrome de abstinência quando, seja por qual motivo for, a ministração da droga é suspensa. • Viciado Viciado é o dependente da droga que não a comercia nem a distribui a outros viciados. Importante observar que: (1) nos termos da orientação exarada pela OMS, o termo viciado caiu em desuso, tendo sido substituído pela palavra dependente, que melhor se adapta à legislação quando esta se refere “às substâncias entorpecentes, ou que determinem dependência física ou psíquica”. (2) Na nossa legislação sobre tóxicos não existe ainda e não há previsão de semi-dependência. São as características que sobressaltam aos indivíduos com hábito ao uso de narcóticos; ✓ Invencível desejo ou necessidade (obrigação) de continuar a consumir a droga ou de procurá-la por todos os meios; ✓ Tendência a aumentar a dose; ✓ Dependência de ordem psíquica (psicológica) e física em face dos efeitos da droga. Equipe Paulo Bilynskyj, Paulo Bilynskyj Aula 05 Medicina Legal p/ PC-PB (Delegado) 2021 Pré-Edital www.estrategiaconcursos.com.br . . 29 Dessa forma, quando o dependente sofre supressão da substância tóxica, sofre a síndrome ou reação de abstinência. São importantes exemplos de toxicomania frequente no Brasil: ➢ Morfinomania ➢ Heroinísmo ➢ Cocainomania ➢ Canabismo ➢ Drogas psicotrópicas em geral (Psicolépticos, Psicanalépticos, Psicodislépticos e Panpsicotrópicos). Guerreiros, como já estudamos o assunto, farei breves lembretes acerca dos temas, contudo, sugiro que, se ainda assim, você tiver dúvidas, remeta-se à respectiva aula. 1. MORFINOMANIA Tem uso bastante comum para tratamento da dor. Age, principalmente, sobre o sistema nervoso central, por uma combinação de efeitos depressores e estimulantes, e sobre a musculatura lisa, provocando contração. Dessa forma, dependendo da dose, exerce a morfina uma ação narcótica manifestada por analgesia, sonolência eufórica, incapacidade de concentração, raciocínio dificultoso, apatia, abulia, diminuição sensível dos movimentos respiratórios. Quando usada de forma crônica, o dependente apresenta anorexia, broncopneumonia, distúrbios vasculares, hiporreflexia, pupilas puntiformes, apatia e, às vezes, amoralidade, impudicícia e ausência de afetividade. Quando há envenenamento agudo pela morfina, ocorre cianose, por intensa depressão respiratória, miose bilateral, hipotensão arterial, anormalidade cardiovascular e coma profundo. Obs.: Coma é a síndrome caracterizada pela perda de consciência, da sensibilidade e da motilidade voluntária, com permanência da função cardiorrespiratória. 2. HEROINÍSMO Inicialmente era usada como xarope. Geralmente é administrada por via hipodérmica. Produz maior euforia e excitação, com doses menores do que as da morfina. Produz maior excitação do sistema nervoso central. Tem a forma de pó branco e cristalino que é diluído e injetado no usuário. SINTOMAS DO USO - Euforia; - Disposição; - Alegria; Equipe Paulo Bilynskyj, Paulo Bilynskyj Aula 05 Medicina Legal p/ PC-PB (Delegado) 2021 Pré-Edital www.estrategiaconcursos.com.br . . 30 Obs.: O uso contínuo pode causar náuseas, vômitos, delírios, convulsões, bloqueio do sistema respiratório e morte de forma fugaz. 3. COCAINOMANIA Conforme ensina o Mestre Genival Veloso18, é um alcaloide de ação estimulante, extraído das folhas da coca. Esse vegetal é um arbusto sul-americano. É um poderoso estimulante do sistema nervoso central. É utilizada geralmente por meio de aspiração nasal, mas pode ser injetada (endovenosa) e; raramente ingerida. Não é demais lembrá-los, que a cocaína se apresenta na forma de pó branco para ser aspirado como: ✓ Rapé, por fricção da mucosa gengival ou; ✓ Diluído e aplicado como injeção. ✓ “Poeira divina”, de uso mais largo entre os rufiões e elegantes prostitutas, ou, como mais recentemente, entre os membros da fina flor da sociedade burguesa. Colocado na mucosa nasal por aspiração, é esse alcaloide absorvido rapidamente para o organismo. A continuação do uso da cocaína por via nasal termina perfurando o septo nasal, lesão esta muito significativa para o diagnóstico da cocainomania. CARACTERÍSTICAS DO USUÁRIO Um dos fatos que mais chama a atenção em um viciado por essa droga é o contraste arrasador entre uma decadência física lamentável e um humor imoderado e injustificável. Os olhos do drogado por cocaína são fundos, brilhantes, de pupilas dilatadas. Há um tremor quase generalizado, mais predominante nos lábios e nas extremidades dos membros. Tiques nervosos e excitações repentinas. Na intoxicação aguda pela cocaína o paciente apresenta uma série de sintomas, quais sejam: 18 FRANÇA, Genival Veloso. Medicina Legal. 10ª. Edição. São Paulo: Editora Geen.2015 p. 856 Equipe Paulo Bilynskyj, Paulo Bilynskyj Aula 05 Medicina Legal p/ PC-PB (Delegado) 2021 Pré-Edital www.estrategiaconcursos.com.br . . 31 a. Psíquicos: excitação motora, agitação, ansiedade, confusão mental e loquacidade; b. Neurológicos: afasia, paralisias, tremores e, às vezes, convulsão; c. Circulatórios:taquicardia, aumento da pressão arterial e dor precordial; d. Respiratórios: polipneia e até síncope respiratória; secundários: náuseas, vômitos e oligúria. É tão grave a nocividade dessa droga que, mesmo depois da cura pela desintoxicação, o viciado não se recupera das lesões mais graves do sistema nervoso. Tem estados depressivos e de angústia, alucinações visuais e tácteis, delírios de perseguição e complexo de culpa. Envelhece muito precocemente, e a morte é quase sempre por perturbações cardíacas. A cocaína (benzoilmetilecgonina ou éster do ácido benzoico) é extraída da planta erytroxylon coca, originária da América Central e América do Sul. SINTOMAS DO USUÁRIO - Vive o presente; - Euforia; - Bem-estar; - Dificuldade de demonstrar emoções; - Delírios de perseguição; - Excitação; - Insônia; - Emagrecimento; - Impotência; e - Frigidez. Quando utilizada dosagens frequentes e excessivas, provoca alucinações táteis, visuais e auditivas, ansiedade, delírios, agressividade e paranoia. É uma droga que causa dependência física e química. A falta da droga (efeito rebote ou rebordose) provoca quadro de tristeza, ansiedade e pânico. Embora o dependente com o passar do tempo perca o prazer de usar a droga ele continua a consumi-la para evitar os efeitos do não uso (síndrome de abstinência). O uso da cocaína aumenta a pressão arterial, desencadeando arritmias, enfarte do miocárdio, podendo provocar AVC, problemas respiratórios e convulsões. A morte por overdose geralmente ocorre em decorrência de complicações cardíacas. Equipe Paulo Bilynskyj, Paulo Bilynskyj Aula 05 Medicina Legal p/ PC-PB (Delegado) 2021 Pré-Edital www.estrategiaconcursos.com.br . . 32 Obs.: Nariz de rato é o nome dado à perfuração do septo nasal apresentada em usuários crônicos de cocaína inalada. Se mulheres grávidas fizerem uso de cocaína esta atravessa a placenta e atinge o feto causando retardamento no desenvolvimento, cardiomiopatias, distúrbios no comportamento, microcefalia e morte intrauterina. É possível detectar a presença de cocaína por meio da urina, do sangue, da saliva e do conteúdo intestinal do feto (mecônio). - Na urina permanece até 3 (três) dias do consumo. - No cabelo até 03 meses do consumo. São derivados da cocaína que merecem destaque: A. CRACK O crack tem um efeito muito semelhante ao da cocaína, entretanto, percebido mais rapidamente e com poder maior de viciar e produzir danos. Praticamente ele é constituído da pasta base da cocaína, como um subproduto, e por isso é muito mais usado entre os viciados de poder aquisitivo reduzido. Seu uso é através da aspiração em cachimbos improvisados e é apontado como a droga mais usada nas cidades do Sul e Sudeste do Brasil19. 19 FRANÇA, Genival Veloso. Medicina Legal. 10ª. Edição. São Paulo: Editora Geen.2015 p. 856 Equipe Paulo Bilynskyj, Paulo Bilynskyj Aula 05 Medicina Legal p/ PC-PB (Delegado) 2021 Pré-Edital www.estrategiaconcursos.com.br . . 33 EFEITOS TÓXICOS Os efeitos sobre o cérebro são muito parecidos com os da cocaína: Dilatação das pupilas; Irritabilidade, Agressividade, Delírios e; Alucinações. Com o tempo, o usuário de crack começa a apresentar uma sensação de profundo cansaço e de grande ansiedade. B. MERLA A Merla é contraída da pasta crua da coca sendo complementada por ácido sulfúrico, ou querosene, ainda pode ser por cal virgem. Note, portanto, que o nível de impureza é altíssimo. Vale dizer que a soma do ácido sulfúrico gera o sulfato de cocaína. Importante o destaque de que a merla pode ser fumada pura, misturada ao cigarro ou ainda à maconha, neste caso, vulgarmente conhecido como bazuca. C. OXI ou OXIDATO O Oxi é uma variedade do crack (droga sintética) mais potente e letal (pode matar em duas semanas se consumida todos os dias). É obtido da mistura da pasta base da cocaína com querosene, gasolina, cal virgem ou solvente. Geralmente é consumida em uma mistura com o cigarro comum ou com o cigarro de maconha ou, ainda fumada em cachimbos de fabricação caseira, assim como o crack. O nome oxi é uma abreviação de óxido ou oxidado e, se deve ao fato da droga liberar uma fumaça escura ao ser usada, deixando um resíduo marrom, de cor semelhante ao da ferrugem (oxidação dos metais). O oxi age no sistema nervoso central e proporciona sensações de prazer, alívio, angústia ou paranoia, essas sensações dependerão das características do usuário. O uso prolongado aumenta as chances de doenças como cirrose e o acúmulo de gordura no fígado. O usuário introduz a droga no organismo por duas vias: hipodérmica subcutânea e aspiração nasal do pó de cocaína chamado “neve”. Equipe Paulo Bilynskyj, Paulo Bilynskyj Aula 05 Medicina Legal p/ PC-PB (Delegado) 2021 Pré-Edital www.estrategiaconcursos.com.br . . 34 D. FREEBASING É o resulto da transformação do cloridrato de cocaína em cristais de cocaína, que são esmagados e fumados em tudo de vidro especial. Para visualizar os demais tipos, acesse a aula de Toxicologia. 2.3 – LIMITADORES OU MODIFICADORES PSIQUIÁTRICOS A personalidade normal ainda não obteve uma definição certa e precisa. Doutores, Mestres, Psicólogos, Psicopatologistas e Psiquiatras ainda não chegaram a um consenso sobre uma definição. Psicólogos e psicopatologistas vão dizer que a personalidade humana é uma individualidade psíquica compreendida e limitada por suas características morfológicas e biológicas em contínuo evolver sobre as bases de fatores hereditários e ambientais20. Vejamos as principais tendências sobre o tema: Boll e Baud Ribot A personalidade de um indivíduo “é o conjunto de suas atitudes e de seus modos de reagir ao ambiente, distinguível das pulsões biológicas, manifestações das necessidades e das tendências no amplo sentido da palavra, e na organização da conduta que Adotava teorias orgânicas e fisiológicas da personalidade no axioma “O problema da unidade do eu é, em sua última expressão, um problema biológico”, passando desse modo do dualismo cartesiano ao monismo 20 CROCE, Delton e JR. CROCE, Delton. Manual de Medicina Legal. 8ª. Edição. São Paulo: Editora Saraiva., 2011, p. 1307. Equipe Paulo Bilynskyj, Paulo Bilynskyj Aula 05 Medicina Legal p/ PC-PB (Delegado) 2021 Pré-Edital www.estrategiaconcursos.com.br . . 35 tende a satisfazer estas necessidades”. materialista. Popularmente, a partir de toda essa abstratividade, consideramos normal da personalidade média elementos de atitudes psíquicas, tais como, inteligência, caráter, comportamento e outras estruturas que compreendem a soma influenciada por fatores hereditários e mesológicos, capazes de funcionar harmoniosamente em uma sociedade. Por outro lado, a personalidade humana também pode revelar uma constituição anormal, a partir do modo se der e de reagir, no entanto, compreendida nas variantes individuais, nos limites da normalidade e, por isso, não se caracteriza como enfermidade. 2.3.1 – Das personalidades psicopáticas São consideradas personalidades psicopáticas aqueles indivíduos que, sem perturbação da inteligência, não tenham sofrido sinais de deterioração, nem de degeneração dos elementos integrantes da psique, exibem através de sua vida intensos transtornos dos instintos, podendo ser: ✓ Da Afetividade, ✓ Do temperamento ✓ E do caráter, Que se revela como um benefício de uma anormalidade mental definitivamente pré-constituída, sem, contudo, assumir a forma de verdadeira enfermidade mental. ▪ São os oligofrênicos morais de Bleuler: ➔ Degenerados de Magnan, ➔ Os semiloucos de Grasset, ➔ A estupidez moral de Baer, ➔ A loucura moral (moral insanity) dos ingleses, ➔ Os fronteiriços etc. Noutras palavras, são todos aqueles que apresentam uma instabilidade mental patológica, sem perda de suas funções intelectuais. EquipePaulo Bilynskyj, Paulo Bilynskyj Aula 05 Medicina Legal p/ PC-PB (Delegado) 2021 Pré-Edital www.estrategiaconcursos.com.br . . 36 ▪ Classificação de Kraepelin Kraepelin classificou as personalidades psicopáticas em: ➔ Irritáveis, ➔ Instáveis, ➔ Instintivas, ➔ Tocadas, ➔ Mentirosas e fraudadoras, ➔ Antissociais, ➔ Disputadoras. ▪ Classificação de Kurt Schneider Kurt Schneider descreveu-os21 como: ➔ Psicopatas hipertímicos: indivíduos alegres, loquazes, despreocupados, otimistas, superficiais em seu trabalho e inclinados aos escândalos e às desavenças conjugais. Há 21 José Alves Garcia, Psicopatologia forense, 3. ed., 1979, p. 246. Equipe Paulo Bilynskyj, Paulo Bilynskyj Aula 05 Medicina Legal p/ PC-PB (Delegado) 2021 Pré-Edital www.estrategiaconcursos.com.br . . 37 os equilibrados, mas inquietos, e os excitados, nos quais existe um eretismo de hiperexcitabilidade que lhes confere instabilidades psíquicas a ponto de alterarem-se em fúria incontida, desproporcional ao estímulo. ➔ Psicopatas depressivos: indivíduos tranquilos, melancólicos, permanentemente deprimidos e eternamente descontentes e ressentidos, ligados à uma consideração pessimista da vida, iniciada, às vezes, na juventude. Fatigados crônicos, dominados por sentimentos de inferioridade, refugiados em uma atitude crítica nas relações intercorrentes entre eles e o mundo exterior, dificilmente chegam a vencer na vida. Podem atentar contra si próprios. ➔ Psicopatas anancásticos: inseguros, com ideação especial dominada por uma ação coativa ou fóbica que, amiúde, surge de improviso por estímulos desencadeantes insignificantes, às vezes, acompanhada por manifestações subjetivas de exaltação, produtora de intenso sofrimento ao indivíduo, como, por exemplo, a possibilidade de matar o próprio filho. Alguns são sensitivos ou escrupulosos morais. ➔ Psicopatas fanáticos: indivíduos dominados pelo elemento expansivo e criativo que, por certos aspectos, se aproximam da personalidade do paranoico. Caracterizam-se pela extrema importância que, às vezes, concedem à uma ideia filosófica, ou religiosa, ou política, ou esportiva, passando a defendê-la com parcialidade, sem nenhum espírito de justiça, vigorosa e até violentamente, até tornarem-se sectários da mesma. São altamente periculosos quando assumem a liderança popular nos períodos de instabilidade político-social. Ao lado desses tipos combativos e heréticos, há os pacíficos, que se comportam como sectários extravagantes, vivendo um mundo irreal de fantasia. ➔ Psicopatas necessitados de valorização: personalidade em que a ideação se ressente da exaltação da fantasia que, junto com o relaxamento de crítica, conduz à pseudologia fantástica, ou seja, à mentira sem desígnio utilitário imediato, o indivíduo tornando-se gabola e fanfarrão. ➔ Psicopatas lábeis de estado de ânimo: irritáveis, manifestam episódios chamados borrascas depressivas, que surgem e desaparecem inesperadamente. ➔ Psicopatas explosivos: irritáveis e coléricos, amiúde reagem subitânea e violentamente aos menores estímulos externos, podendo cometer homicídio e lesões corporais. Nesse estado, são acometidos de amnésia lacunar por obnubilação da consciência no momento da contenda. São chamados epileptoides em outras classificações, afirmando Di Tullio tratar-se de formas frustradas, não convulsivas, da epilepsia. ➔ Psicopatas abúlicos: caracterizam-se pelo enfraquecimento da volição. Destituídos de vontade própria, são facilmente influenciáveis, absorvendo os bons e os maus exemplos de seu meio. ➔ Psicopatas astênicos: sensitivos, assustadiços, dominados pelo sentimento de incapacidade e de inferioridade que, junto à uma deficiência orgânica subjetiva (fadiga fácil, cefaleia, insônia, distúrbios circulatórios), são acometidos de difuso sentimento de estranheza comparável a alguns estados dissociativos, “e o mundo objetivo e as próprias ações lhe parecem distantes e vagos, irreais ou ilusórios (esboço de despersonalização). Dessa forma, é válido dizer que, portadores de personalidade psicopática são doentes e, quando cometem delitos, a eles se aplicam as disposições do parágrafo único do art. 26, CP: Equipe Paulo Bilynskyj, Paulo Bilynskyj Aula 05 Medicina Legal p/ PC-PB (Delegado) 2021 Pré-Edital www.estrategiaconcursos.com.br . . 38 Art. 26 (...) Redução de pena Parágrafo único - A pena pode ser reduzida de um a dois terços, se o agente, em virtude de perturbação de saúde mental ou por desenvolvimento mental incompleto ou retardado não era inteiramente capaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. Por outro lado, se o agente necessita de tratamento curativo, será recolhido em hospital de custódia e tratamento psiquiátrico. Isso porque a anomalia resultante em personalidade psicopática não se inclui na categoria das doenças mentais, lato sensu, e, sim, numa modalidade de irregularidade psíquica, que se manifestou ao cometer o delito, despida de qualquer formação alucinatória ou delirante, capaz de gestar a psicose ou a neurose que torna o indivíduo inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. Já no âmbito civil, podem ensejar anulação de casamento, pois muitas vezes, esses psicopatas propiciam toda sorte de sevícias e maus-tratos à esposa, não raro sendo dados à prática de sodomia conjugal. Por fim, destaco que psicopatas, os toxicômanos e os dependentes em substâncias capazes de determinar dependentia physica aut psykhikos estarão sujeitos à curatela (art. 1.767 do CC). 2.4 – LIMITADORES OU MODIFICADORES MESOLÓGICOS 2.4.1 – Civilização: silvícolas Consideram-se silvícolas os habitantes das matas brasileiras, cuja cultura é rudimentar. A diferença em relação ao civilizado consiste, basicamente, na inadaptação em nível cultural da vida civilizada, bem como as normas complexas que as regulam. Na forma do código civil, os silvícolas são incapazes relativamente a certos atos ou maneira de exercê-los e determina ainda que a capacidade dos índios será regulada por legislação especial. Neste caso, são as legislações pertinentes: ➔ Lei n. 6.001/73, Estatuto do Índio; ➔ Decreto n. 5.484, de 27-6-1928; ➔ Decreto-Lei n. 736, de 6-4-1936; ➔ Decreto n. 10.652, de 16-10-1942; ➔ Decreto n. 88.985, de 10-11-1983 etc. Equipe Paulo Bilynskyj, Paulo Bilynskyj Aula 05 Medicina Legal p/ PC-PB (Delegado) 2021 Pré-Edital www.estrategiaconcursos.com.br . . 39 Nas eleições de 15 de novembro de 1986, 680 índios da tribo Caiuá, emancipados, votaram pela primeira vez. Não falando, nem entendendo a língua portuguesa, foram cabalados os seus votos, pelos cabos eleitorais, pelo emprego da frase “Dê-me seu voto”. Parte da doutrina22 entende que embora o Código Penal não faça referência expressa aos silvícolas, subentende-se os enquadráveis no art. 26 e seu parágrafo, considerando a ausência de aquisições éticas e de integração à vida coletiva, uma vez que, o critério que o legislador adotou para a fixação da responsabilidade foi o misto ou biopsicológico. Finalmente, destaque-se ainda que pode o silvícola gozar da isenção da pena se ficar pericialmente demonstrado que ele, por desenvolvimento mental falho, porta incapacidade psíquica de compreender plenamente o que seja ou não ato ilícito, ou que é inadaptado à vida do meio civilizado. Não basta, contudo, a só condição de silvícola, obrigando-se à perícia médica que comprove o desenvolvimento mental incompleto ou retardado. Desta forma, na cláusula de desenvolvimento mental incompleto ou retardado pode enquadrar-se o silvícola inadaptado à vida do ambiente civilizado. Cuidado! Se ele já é aculturado e tem desenvolvimento mental completo e não é retardado, sendo que compreende a ilicitude de seus atos, neste caso,
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