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Amanda Freitas—MED 5° P APG 01 1 @s.o.s_med O estresse é comumente definido como uma condição ou estado em que a homeostase do organismo é perturbada, como resultado de estímulos estressores. É uma constelação de eventos, envolvendo a participação de diferentes sistemas do organismo em resposta a agentes estressores, como fatores climáticos, hiperpopulação, infecções, exercício físico intenso, desnutrição, ruído, odor etc. Em 1936, Selye denominou como “Síndrome Geral da Adaptação” os eventos de resposta ao estresse que ocorrem em três importantes fases: 1. Reação de alarme: o organismo percebe o estímulo estressante; 2. Fase de resistência: tentativa de adaptação do organismo frente ao estímulo; 3. Fase de exaustão: o organismo perde a capacidade de adaptação. Sintomas da fase de alerta: Mãos e/ou pés frios; boca seca; dor no estômago; suor; tensão e dor muscular, por exemplo, na região dos ombros; aperto na mandíbula/ranger os dentes ou roer unhas/ponta da caneta; diarréia passageira; insônia; batimentos cardíacos acelerados; respiração ofegante; aumento súbito e passageiro da pressão sanguínea; agitação. Sintomas da fase de resistência: Problemas com a memória; mal-estar generalizado; formigamento nas extremidades (mãos e/ou pés); sensação de desgaste físico constante; mudança no apetite; aparecimento de problemas de pele; hipertensão arterial; cansaço constante; gastrite prolongada; tontura; sensibilidade emotiva excessiva; obsessão com o agente estressor; irritabilidade excessiva; desejo sexual diminuído. Sintomas da fase de exaustão: Diarréias freqüentes; dificuldades sexuais; formigamento nas extremidades; insônia; tiques nervosos; hipertensão arterial confirmada; problemas de pele prolongados; mudança extrema de apetite; batimentos cardíacos acelerados; tontura freqüente; úlcera; impossibilidade de trabalhar; pesadelos; apatia; cansaço excessivo; irritabilidade; angústia; hipersensibilidade emotiva; perda do senso de humor. Durante a resposta ao estresse, surgem variações hormonais as quais preparam o organismo para reagir frente à condição de estresse, como: Estresse Amanda Freitas—MED 5° P APG 01 2 @s.o.s_med 1. Aumento da secreção de catecolaminas (epinefrina e norepinefrina) pelo sistema nervoso autônomo (SNA); 2. Liberação hipotalâmica do hormônio liberador de corticotropina (CRH) na circulação e consequente aumento da secreção do hormônio adrenocorticotrófico (ACTH); 3. Diminuição da liberação do hormônio liberador de gonadotrofinas (GnRH) do hipotálamo e das gonadotrofinas da pituitária; 4. Aumento da secreção de prolactina, de hormônio do crescimento GH e de glucagon; Dependendo da sua intensidade e tempo, o estresse pode ser considerado agudo ou crônico. Pode ser entendido como uma ameaça imediata, a curto prazo, comumente conhecida como resposta à luta ou fuga. A “ameaça” pode ser qualquer situação considerada como perigosa e, após o evento (que dura de minutos a horas), há uma resposta de relaxamento. Como consequências fisiológicas imediatas devido a alterações hormonais na resposta ao estresse, ocorre: 1. aumento do ritmo cardíaco e frequência respiratória, ativação da resposta imune; 2. mobilização de energia, aumento do fluxo sanguíneo cerebral e da utilização da glicose; 3. perda de apetite, do interesse sexual e maior retenção de água e vasoconstrição (para o caso de perda de fluidos). Estes fenômenos ocorrem em períodos que vão de segundos a poucos minutos. Afeta a maioria das pessoas, sendo constante no dia a dia, mas de uma forma mais suave, persistindo por vários dias, semanas ou meses. O estresse crônico pode causar, clinicamente, relevante imunossupressão isso ocorre porque nesse tipo de estresse há uma ativação sustentada ou repetitiva dos eixos Hipotálamo-Hipófise-Adrenal e do Sistema Nervoso Autônomo, o que resulta em desregulação na produção hormonal e consequentemente na homeostase do organismo. A ativação do eixo HPA inicia-se através dos impulsos nervosos originários do estresse que são transmitidos para o hipotálamo. O hipotálamo por sua vez secreta o CRH, o qual passa pelo sistema porta hipotálamo-hipofisário, chegando à hipófise anterior. Amanda Freitas—MED 5° P APG 01 3 @s.o.s_med Na hipófise, o CRH induz a secreção do ACTH, que flui pela corrente sanguínea até o córtex da adrenal, induzindo a secreção de glicocorticoides como cortisol e aldosterona. Já o SNAs ativado resulta na secreção de acetilcolina, que induz a medula da adrenal a liberar epinefrina e norepinefrina na corrente sanguínea. Uma vez liberadas, as catecolaminas induzem aumento da frequência cardíaca, do fluxo sanguíneo para os músculos, da glicemia e do metabolismo celular, na tentativa de favorecer um melhor desempenho físico e mental durante o estresse. A ativação do SNA, que ocorre em segundos, permite a resposta adaptativa ao estressor, enquanto que o eixo HPA, por sua vez, apresenta uma resposta mais lenta, envolvendo a liberação dos glicocorticoides. O feedback negativo é um mecanismo regulatório que inibe a liberação exacerbada dos hormônios pituitários-adrenais durante a ativação do eixo HPA induzida pelo estresse. A inibição do eixo HPA pelo feedback negativo é mediada pelos glicocorticoides e por seus receptores no hipocampo, hipotálamo e na pituitária. Este fenômeno exercido pelos glicocorticóides sobre a secreção de ACTH e de CRH limita a duração da exposição total do organismo aos próprios glicocorticóides, inibindo deste modo seus efeitos imunossupressores. Os receptores envolvidos nesta ação inibitória sobre eixo HPA incluem o receptor mineralocorticóide (MR), que responde a níveis basais de glicocorticóides, e o receptor para glicocorticóide(GR) que responde a concentrações mais altas, devido a diferenças na sensibilidade destes receptores a estes hormônios. Vale lembrar que esse feedback negativo pode ser rápido ou tardio, o que vai depender do tipo de estresse ao qual o indivíduo foi submetido. Por outro lado, quando o mesmo estressor é repetido, a resposta do eixo HPA pode se dessensibilizar, o que é denominado de “habituação”. Esse fenômeno está bem frequente no estresse crônico, quando a exposição repetida ao fator desencadeador de estresse não gera alteração na resposta previamente estimulada, em outras palavras: “o corpo se acostumou”. Contrariamente, a resposta do eixo HPA pode ser desinibida, sendo um possível resultado da redução da ocupação dos receptores MR. Esse OBS: Além de crônico ou agudo, o estresse também pode ser classificado como físico (dor, choque, exposição ao frio), químico (por ação de drogas) ou psicológico (distúrbios sociais, situações de medo, imobilização). Amanda Freitas—MED 5° P APG 01 4 @s.o.s_med fenômeno é denominado “facilitação ou sensibilização” do eixo HPA, e pode ocorrer apesar do sinal de feedback negativo promovido pelos glicocorticóides durante o estresse crônico. Assim, o eixo HPA pode novamente responder ao estresse do mesmo modo ou até mesmo mais intensamente do que inicialmente.As citocinas são importantes na investigação dos mecanismos da resposta ao estresse, pois são polipeptídeos produzidos pelas células imunológicas em resposta a qualquer desequilíbrio da homeostase, como injúrias, inflamações e infecções. Citocinas presentes na circulação sanguínea podem ativar o SNC ao atravessar a barreira hematoencefálica. Como exemplo, pode-se citar a IL- 1β, que atua no núcleo paraventricular do hipotálamo, onde os neurônios que contêm o CRH estão localizados. Deste modo, o CRH é liberado, resultando na secreção do ACTH, que por sua vez, induz o córtex da adrenal a liberar os glicocorticóides. A resposta ao estresse compreende três níveis: Nível cognitivo A resposta ao estresse depende da forma como o individuo filtra e processa a informação e sua avaliação sobre as situações como relevantes, agradáveis ou aterrorizantes. No nível cognitivo da resposta ao estresse tem-se: 1. avaliação inicial da situação; 2. avaliação da demanda da situação baseada em experiências prévias; 3. avaliação das capacidades para lidar com a situação e recursos de enfrentamento; 4. organização da ação ou seleção da resposta; Nível comportamental As respostas comportamentais básicas diante de um estressor são: enfrentamento (ataque), evitação (fuga), passividade (colapso). As habilidades do sujeito para dar respostas adequadas a cada estressor dependem de um aprendizado prévio das condutas pertinentes e de se a emissão de respostas recebeu reforço nas situações similares precedentes. Amanda Freitas—MED 5° P APG 01 5 @s.o.s_med Nível fisiológico Aspectos neuroanatômicos Diferentes estruturas cerebrais estão envolvidas nas diferentes estratégias de defesa, dependendo do nível de ameaça sofrido. As principais estruturas são o septo-hipocampal e a amígdala. Essas estruturas recebem as diversas informações colhidas pelos sistemas sensoriais e cria uma representação do mundo exterior. Sistema septo-hipocampal Executa inicialmente a função de conferidor, comparando a síntese dos dados sensoriais do momento, com as predições armazenadas na memória no SNC, bem como os planos de ação gerados pelo córtex pré-frontal. Quando há coerência entre as duas representações, o sistema continua sua tarefa de conferidor. Contudo, quando é detectada uma divergência entre o esperado e o acontecido, o sistema passa a atuar por meio do controle, gerando inibição do comportamento, aumentando o nível de vigilância. Quando os sinais de perigo tornam- se explícitos, mas encontram-se ainda à longa distância, a reação típica é a de imobilidade tensa (congelamento ou inibição comportamental defensiva), cujo substrato neural provavelmente seja a porção ventral da matéria cinzenta periaquedutal (MCP) do mesencéfalo. Amígdala Está relacionada principalmente à reação do organismo ao medo. A informação visual ou auditiva é levada ao tálamo (corpo geniculado lateral) e então para as áreas visuais primárias e secundárias. A partir desse ponto, a informação segue dois caminhos, uma via direta e outra indireta. Na via direta, a informação visual é levada e processada na amígdala basolateral, passa à amígdala central, que dispara o alarme, a cargo do sistema simpático, permitindo uma reação de alarme imediata com manifestações autonômicas e comportamentais típicas. Na via indireta, a informação passa ao córtex pré-frontal e depois à amígdala. A via direta é mais rápida e permite resposta imediata ao perigo. A indireta é mais lenta, mas permite que o córtex analise as informações recebidas e seu contexto. Se não houver perigo, a reação de alarme é desativada. Ou seja... A via direta é inconsciente. Já na via indireta ocorre a interpretação consistente do medo. Como a amígdala reage então ao medo?? Os neurônios hipotalâmicos estimulados pelas amígdalas, promovem a liberação de ACTH, que induz a liberação de cortisol pelas adrenais. A exposição crônica ao cortisol pode levar à disfunção e à morte dos neurônios hipocampais. Amanda Freitas—MED 5° P APG 01 6 @s.o.s_med O eixo neural: o qual se ativa imediatamente, frente a uma situação de estresse. Implica a ativação principalmente do sistema nervoso autônomo (feixe simpático) e do sistema nervoso periférico. Seus efeitos são: aumento do ritmo cardíaco (SNA), aumento da pressão arterial (SNA), secura na boca (SNA), sudorese intensa (SNA), “nó” na garganta (SNA), formigamento dos membros (SNP), dilatação das pupilas (SNP) e dificuldade para respirar. O eixo neuroendócrino é mais lento em sua ativação e necessita de condições de estresse mais duradoras. Seu disparo ativa a medula das suprarrenais, provocando a secreção de catecolaminas (adrenalina e noradrenalina. Efeitos: aumento da pressão arterial, do aporte sanguíneo para o cérebro, do ritmo cardíaco, da estimulação dos músculos estriados, de ácidos graxos, triglicerídeos e colesterol no sangue; secreção de opióides endógenos e diminuição do fluxo sanguíneo nos rins, no trato gastrointestinal e na pele. O eixo endócrino caracteriza-se por disparo mais lento e por efeitos mais duradouros. Este eixo é disparado quando a pessoa não dispõe de estratégias de enfrentamento na situação de estresse. Efeitos: aumento da glicogênese, aumento da produção de corpos cetônicos, exacerbação de lesão gástrica, aumento da produção de uréia, aumento da liberação de ácidos graxos livres no sistema circulatório, aumento da suscetibilidade a processos ateroscleróticos, aumento da suscetibilidade à necrose miocárdica, supressão de mecanismos imunológicos, diminuição do apetite. Noradrenalina No SNC, neurônios que sintetizam noradrenalina estão situados nas regiões bulbar e pontina, sendo que o grupo mais importante situa-se no locus ceruleus. As células do locus ceruleus, quando ativadas por estímulos estressantes, ameaçadores, produzem uma reação comportamental cardiovascular característica de medo. Acredita-se que o locus ceruleus funcione como um “sistema de alarme”. O locus ceruleus inerva hipocampo, amigdala e neocortex temporal, que são algumas das estruturas neuroanatômicas envolvidas no processo associativo. Na resposta aguda ao estresse, há um aumento importante de noradrenalina na fenda sináptica. Amanda Freitas—MED 5° P APG 01 7 @s.o.s_med Dopamina O estresse aumenta a liberação e o metabolismo deste neurotransmissor no córtex pré-frontal, uma área envolvida na produção de respostas ao estresse. Serotonina Possui um duplo papel na regulação do comportamento de defesa. A serotonina facilitaria as reações ativas de defesa na amígdala e as inibiria na MCP (matéria cinzenta periaquedutal (MCP) do mesencéfalo), ou seja, a serotonina aumenta a ansiedade atuando na amígdala e contém o pânico agindo na MCP. GABA (ácido gama-aminobutírico) É o principal neurotransmissor inibitório do Sistema Nervoso Central. No núcleo dorsal da rafe, exerce uma inibição tônica sobre os neurônios serotonérgicos. Na MCP e colículos superiores, exerce um controle inibitório sobre o substrato neural do medo. No teto mesencefálico, controla aspectos motores relacionados ao comportamento de fuga. Estresse: revisão sobre seus efeitos no sistema imunológico--Universidade Estadual de Londrina.Disponível em: http://www.uel.br/ccb/patologia/portal/pag es/arquivos/Biosaude%20v%2011%202009/BS_v 11_n1_DF_57.pdf. MARQUES, J.; PINTO, A.; FIGUEIRA, J. Alterações fisiopatológicas associadas ao stress - Implicações na doença. [s.l.] , [s.d.]. Disponível em: https://estudogeral.sib.uc.pt/bitstream/10316/ 36853/1/Joel%20Coelho%20Marques%20- %20Altera%C3%A7%C3%B5es%20fisiopatol%C3 %B3gicas%20associadas%20aos%20stress%20- %20implica%C3%A7%C3%B5es%20na%20doen %C3%A7a%20FMUC%202016.pdf. MARGIS, Regina et al. Relação entre estressores, estresse e ansiedade. Revista de Psiquiatria do Rio Grande do Sul, v. 25, p. 65-74, 2003. http://www.uel.br/ccb/patologia/portal/pages/arquivos/Biosaude%20v%2011%202009/BS_v11_n1_DF_57.pdf http://www.uel.br/ccb/patologia/portal/pages/arquivos/Biosaude%20v%2011%202009/BS_v11_n1_DF_57.pdf http://www.uel.br/ccb/patologia/portal/pages/arquivos/Biosaude%20v%2011%202009/BS_v11_n1_DF_57.pdf https://estudogeral.sib.uc.pt/bitstream/10316/36853/1/Joel%20Coelho%20Marques%20-%20Altera%C3%A7%C3%B5es%20fisiopatol%C3%B3gicas%20associadas%20aos%20stress%20-%20implica%C3%A7%C3%B5es%20na%20doen%C3%A7a%20FMUC%202016.pdf https://estudogeral.sib.uc.pt/bitstream/10316/36853/1/Joel%20Coelho%20Marques%20-%20Altera%C3%A7%C3%B5es%20fisiopatol%C3%B3gicas%20associadas%20aos%20stress%20-%20implica%C3%A7%C3%B5es%20na%20doen%C3%A7a%20FMUC%202016.pdf https://estudogeral.sib.uc.pt/bitstream/10316/36853/1/Joel%20Coelho%20Marques%20-%20Altera%C3%A7%C3%B5es%20fisiopatol%C3%B3gicas%20associadas%20aos%20stress%20-%20implica%C3%A7%C3%B5es%20na%20doen%C3%A7a%20FMUC%202016.pdf https://estudogeral.sib.uc.pt/bitstream/10316/36853/1/Joel%20Coelho%20Marques%20-%20Altera%C3%A7%C3%B5es%20fisiopatol%C3%B3gicas%20associadas%20aos%20stress%20-%20implica%C3%A7%C3%B5es%20na%20doen%C3%A7a%20FMUC%202016.pdf https://estudogeral.sib.uc.pt/bitstream/10316/36853/1/Joel%20Coelho%20Marques%20-%20Altera%C3%A7%C3%B5es%20fisiopatol%C3%B3gicas%20associadas%20aos%20stress%20-%20implica%C3%A7%C3%B5es%20na%20doen%C3%A7a%20FMUC%202016.pdf https://estudogeral.sib.uc.pt/bitstream/10316/36853/1/Joel%20Coelho%20Marques%20-%20Altera%C3%A7%C3%B5es%20fisiopatol%C3%B3gicas%20associadas%20aos%20stress%20-%20implica%C3%A7%C3%B5es%20na%20doen%C3%A7a%20FMUC%202016.pdf
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