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MED UNIG – SEMIOLOGIA – 2021.1 - Felipe Castro SEMIOLOGIA DO ABDOME ANATOMIA E ÓRGÃOS ABDOMINAIS: MED UNIG – SEMIOLOGIA – 2021.1 - Felipe Castro NIVEL REGIÃO DESCRIÇÃO ÓRGÃO SUPERIOR 1 Hipocôndrio direito (hcd) fígado, vesícula biliar, rim direito 2 Epigástrico lobo esquerdo do fígado, piloro, duodeno, cólon transverso e cabeça e corpo do pâncreas 3 Hipocôndrio esquerdo (hce) baço, estômago, rim esquerdo, cauda do pâncreas MÉDIO 4 Flanco direito cólon ascendente, rim direito e jejuno 5 Mesogástrico duodeno, jejuno, íleo, aorta abdominal, mesentério, linfonodos 6 Flanco esquerdo cólon descendente, jejuno, íleo INFERIOR 7 Fossa ilíaca direita ceco, apêndice, ovário e tuba uterina direita; 8 Hipogástrico bexiga, útero, ureter 9 Fossa ilíaca esquerda cólon sigmoide, ovário e tuba esquerda. ANAMNESE E EXAME FÍSICO: Realizar uma boa anamnese é fundamental na elaboração do diagnóstico, somente com a história clínica bem estruturada é possível elucidar 70% dos diagnósticos das doenças do aparelho digestivo. A anamnese aliada a um exame físico adequado tem a potencialidade de estabelecer 80% dos diagnósticos. Portanto, ouvir a queixa do paciente é essencial para o esclarecimento diagnóstico. Deve-se observar que o paciente não se limita tão somente a queixa apresentada, é necessário abordar o paciente como um todo, conhecer seu momento de vida, o que a patologia está causando na dinâmica familiar, ou seja, o paciente tem que ser avaliado em sua totalidade. ¨ Identificar a história da doença atual, caracterizando os sintomas, tempo de instalação do quadro, identificar os sintomas associados. ¨ Caracterizar o tipo de dor (cólica, pontada, facada, queimação), frequência da dor, intensidade, fatores de agravação ou alívio, irradiação da dor. Identificar os sintomas associados à dor, tais como alteração de ritmo intestinal, saciedade precoce, vômitos e náuseas, hematêmese, melena, icterícia, emagrecimento. ¨ Interrogatórios de aparelhos e sistemas. ¨ Identificar fatores de risco associados- tabagismo, etilismo, fatores sociais. ¨ Antecedentes patológicos, cirurgias prévias. ¨ Antecedentes familiares, ocupação. ¨ Nutrição e hábitos de mastigação. O exame físico deve ser geral, com foco no abdome. Importante verificar os sinais vitais, assim como o estado geral do paciente, itens necessários para realizar uma correta classificação de risco e importante na elaboração da hipótese diagnóstica. Após ter realizado o exame geral, iniciar o exame físico na cavidade oral do paciente. MED UNIG – SEMIOLOGIA – 2021.1 - Felipe Castro Verificar estado dos elementos dentários, estado da prótese, áreas de leucoplasia, eritroplasia. Deve-se ter especial atenção às áreas de assoalho da boca, porções ventro-lateral e base posterior da língua, palato mole, úvula, pilares anterior e posterior, espaço retromolar. Nestes locais devem-se procurar lesões precursoras de neoplasias orais. - A sequência do exame físico do abdome deve obedecer a esta ordem: • Inspeção; • Ausculta; • Percussão; • Palpação. Posicionar o paciente em decúbito dorsal, com tronco e abdome expostos, em ambiente com boa luminosidade e temperatura adequada. Recomendar ao paciente deitar-se com a cabeça apoiada em travesseiro, ligeiramente elevada. O médico deve ficar à sua direita, aquecer as mãos e explicar o procedimento ao paciente. INSPEÇÃO: Na inspeção observa-se a superfície da parede abdominal, contorno, presença de assimetrias, características da pele, presença de circulação colateral, forma do abdome e cicatrizes cirúrgicas. ¨ Forma: avaliar se há presença de assimetria, como pode ocorrer na hepatoesplenomegalia, hérnias de parede abdominal, neoplasias e obstruções. Globoso (panículo adiposo ou líquido ascítico), escavado (emagrecimento ou síndrome consuptiva), pendular (gravidez). ¨ Abaulamentos: presença de massas abdominais, como neoplasias ou hérnia da parede abdominal. ¨ Retrações (depressões): bridas pós-cirúrgicas, caquexia. ¨ Circulação colateral: pode ser visível em caso de obstrução do sistema venoso porta (cabeça de medusa) ou veia cava. MED UNIG – SEMIOLOGIA – 2021.1 - Felipe Castro ¨ Ondas peristálticas: em geral não são observadas em indivíduos normais, mas pode estar presente quadros obstrutivos. ¨ Lesões cutâneas: sinal de Cullen e sinal de Turner, presentes na pancreatite aguda. REGISTRO DO EXAME NORMAL: abdome plano, sem abaulamentos, cicatrizes ou hérnias. OBSERVAR SEMPRE NA INSPEÇÃO: ¨ Pele: cicatrizes (formato e localização)/ estrias/ veias dilatadas / circulação colateral/erupções, lesões e fístulas ¨ Cicatriz umbilical / hérnias: hérnias (umbilical, incisional)/ diatase de reto abdominal ¨ Contorno do abdome Plano/ Escavado/ em avental/ globoso/ batráquio ¨ Simetria do abdome ¨ Visceromegalias? ¨ Massas abdominais (pulsáteis?) ¨ Peristalse visível? ¨ Pulsação de aorta visível? Estática: • Forma, contorno do abdome (normal/atípico, escavado/escafóide, protuberante/globoso, em avental); • Pele (hidratação, coloração, estrias, cicatrizes cirúrgicas, manchas, lipodistrofia, circulação venosa); • Pontos de fraqueza/descontinuidade da parede abdominal – hérnias, diástase; • Cicatriz umbilical (plana, retraída, protrusa); MED UNIG – SEMIOLOGIA – 2021.1 - Felipe Castro • Abaulamentos, retrações, simetria. - Inspeção do fígado: o fígado situa-se quase totalmente sob o gradeado costal direito e somente nos casos de aumento do tamanho do fígado ou hepatoptoses é que se pode visualizar um abaulamento na região do abdome correspondente. - Inspeção dos rins: investigar se há abaulamentos visíveis na região dos flancos e costovertebral. - Inspeção da bexiga: investigar abaulamentos na região suprapúbica. Dinâmica: • Movimentos respiratórios • Movimentos peristálticos visíveis • Pulsações ATENÇÃO: mensurar a circunferência abdominal AUSCULTA: Auscultar o abdome antes da percussão e palpação (manobras podem alterar ruídos intestinais) Deve ser realizada nos quatro quadrantes de forma superficial para avaliar os ruídos hidroaéreos. Para avaliar alterações do fluxo aórtico (sopros ou aneurismas), aprofunda-se o estetoscópio ao longo do trajeto da aorta. Principais alterações a serem pesquisadas na ausculta: • Presença de ruídos hidroaéreos (descrever intensidade ++++/IV); • Peristaltismo de luta: obstrução; • Íleo paralítico: silêncio abdominal; • Sopros: sugerem aneurismas e compressões arteriais. Ruídos intestinais (peristalse)- ouvir por pelo menos 2-5 minutos: Aumento: diarréia, fase inicial obstrução Redução: íleo paralítico, peritonite • Aorta abdominal: o paciente deve estar na posição supina. O examinador coloca o diafragma do estetoscópio na linha mediana do MED UNIG – SEMIOLOGIA – 2021.1 - Felipe Castro abdome, 5cm acima da cicatriz umbilical e ausculta cuidadosamente a presença de sopro aórtico. • Artérias renais: A ausculta deve ser realizada a aproximadamente 5cm acima da cicatriz umbilical e 3cm lateralmente à direita e à esquerda da linha mediana. Sopro renal pode ser a única pista para a estenose de artéria renal. Sopros vasculares: (focos na aorta/ a. renais/ a. ilíacas/ a. femorais) Oclusão vascular- arterioesclerose ( sistólicos-diastólicos/ epigástrica e lateral ao reto abdominal) Estenose de A. renal Zumbido venoso S. De Cruveilhier-Baumgarten (circulação colateral + sopro + frêmito periumbilical) PERCUSSÃO: A partir da percussão é possível identificar presença de ar livre, líquidos e massas intra-abdominais. A técnica é digito-digital, em que o examinador posiciona uma das mãos sobre o abdome e percute com o dedo indicador. • Som normal: maciço (baço e fígado), timpânico(vísceras ocas); • Percussão normal: macicez hepática no hipocôndrio direito; timpanismo no espaço de Traube, timpanismo nas demais regiões. • Massas abdominais sólidas ou líquidas (ascite) são maciços. • Timpanismo generalizado pode indicar obstrução Percutir os quatro quadrantes do abdome, utilizando a técnica em Z em cada quadrante. O timpanismo é o som mais comumente percebido durante a percussão do abdome. Isso se deve à presença de gás no estômago, intestino delgado e cólon. A região suprapúbica, quando percutida, pode apresentar uma sonoridade maciça caso a bexiga esteja distendida ou, nas mulheres, caso o útero esteja aumentado de tamanho. HEPATIMETRIA NORMAL: Percutir o hemitórax D ao nível da linha hemiclavicular D desde sua origem na clavícula até o 5o ou 6o espaço intercostal (Início = SOM CLARO PULMONAR, 5o ou 6o espaço intercostal = SOM SUBMACIÇO – LIMITE SUPERIOR DO FÍGADO). Em seguida, percutir quadrantes inferior D e superior D, na linha hemiclavicular D – Início = SOM TIMPÂNICO → SOM MACIÇO = LIMITE INFERIOR DO FÍGADO. Demarcar com caneta os limites e mensurar em cm. (LIMITES DE NORMALIDADE = 6 a 12cm) MED UNIG – SEMIOLOGIA – 2021.1 - Felipe Castro Sinal de piparote: pesquisa de líquido na cavidade abdominal (pedir para o paciente (ou outra pessoa) colocar a mão na linha mediana do abdome (apoiar com certa firmeza a lateral da mão esticada) o avaliador percute (golpe com o dedo indicador ou médio, em piparote) em região de flanco D ou E e a outra mão apoiada na região de flanco contralateral, palpa a transmissão de onda de líquido intrabdominal para o lado oposto – Sinal de Piparote positivo Rins: Punho-percussão (Sinal de Giordano) - golpeia-se a região lombar D e E (ângulo da borda inferior da 12a costela e apófises transversais das vértebras lombares superiores) com a borda ulnar da mão. A sensação de dor (Sinal de Giordano positivo) pode indicar processo inflamatório renal. MED UNIG – SEMIOLOGIA – 2021.1 - Felipe Castro Algumas manobras são fundamentais para avaliar o paciente com suspeita de ascite, que é o acúmulo de líquido na cavidade peritoneal. Essa avaliação baseia-se justamente na percussão como veremos nas duas principais manobras abaixo: • Macicez móvel: ocorre em casos de ascite de médio volume. Quando o paciente está em decúbito dorsal o líquido acumula-se na região lateral do abdome, revelando timpanismo na região anterior, quando o paciente posiciona-se em decúbito lateral, o líquido desloca-se para o mesmo lado, onde fica maciço e a região acima fica timpânica. • Semi-círculo de Skoda: com o paciente em decúbito dorsal percute-se a regiçao periumbilical do meio para as extremidades. Em casos de ascite, observa-se alteração do timpanismo. EXAME DO BAÇO: Espaço de Traube: Superior- 6° EICE/ Inferior - rebordo costal/ Lateral - linha axilar anterior/ Medial - apêndice xifóide N= timpânico (Macicez sugere esplenomegalia) MED UNIG – SEMIOLOGIA – 2021.1 - Felipe Castro PALPAÇÃO: Pode ser Superficial e Profunda. Estruturas procuradas na palpação Fígado/ Baço/ Sigmóide/ Bexiga distendida/ Útero gravídico/ Rim D (pólo inferior)/Aorta/ Promontório sacral Palpação superficial: Avaliar sensibilidade, integridade anatômica e grau de distensão da parede abdominal. Os pacientes com dor abdominal devem ser solicitados a localizá-la. Só então inicia-se a palpação da área mais distante da região dolorosa, deixando esta por último. Deve ser feita com uma mão a 45 graus ou duas mãos superpostas. Pontos dolorosos: • Ponto epigástrico: sensível na úlcera péptica em atividade; • Ponto cístico: situa-se no ângulo formado pelo rebordo costal direito com a borda externa do músculo reto abdominal, na interseção da linha hemi clavicular com o rebordo costal direito. Deve ser palpado em busca do Sinal de Murphy que pode estar presente na colecistite aguda. • Ponto de McBurney: união do terço externo com dois terços internos da linha que une a espinha ilíaca ântero-superior à cicatriz umbilical. Dor nessa região sugere apendicite aguda. • O Sinal de Blumberg , dor a descompressão, pode ser pesquisado na palpação profunda. MED UNIG – SEMIOLOGIA – 2021.1 - Felipe Castro Palpação profunda: tem como objetivo palpar órgãos abdominais em busca de visceromegalias e tumorações. • Palpação do fígado: o método mais utilizado na prática é o de Lemos Torres, em que o examinador com a mão esquerda na região lombar direita do paciente tenta evidenciar o fígado para frente e com a mão direita espalmada sobre a parede anterior, tenta palpar a borda hepática anterior durante a inspiração profunda. Deve ser avaliado a borda hepática, se tem borda fina ou romba; regularidade da superfície, sensibilidade, consistência, presença de nodulações. • Palpação do baço: normalmente não é palpável, exceto quando atinge duas ou três vezes seu tamanho normal. Para palpá-lo, o examinador posiciona-se à direita do paciente e com a mão direita em garra tenta sentir o polo esplênico inferior durante a inspiração profunda próximo ao rebordo costal esquerdo. MASSAS ABDOMINAIS: Localização / Tamanho e formato / Consistência / Superfície / Sensibilidade / Mobilidade / Pulsação (massa vascular ou massa sólida sobre estrutura vascular). MED UNIG – SEMIOLOGIA – 2021.1 - Felipe Castro COMO DESCREVER O EXAME DO AP ABDOME NORMAL: Abdome plano, sem lesões de pele, cicatrizes, circulação colateral ou hérniações. Pulsações arteriais e peristalse não identificáveis à inspeção. Peristalse normal presente nos quatro quadrantes e ausência de sopros em focos arteriais abdominais. Hepatimetria medindo cerca de 12 cm (lobo direito). Traube livre. Ausência de hipertimpanismo difuso ou macicez em flancos. Fígado e baço impalpáveis. Abdome indolor à palpação superficial e profunda (colocar: “sem sinais de irritação peritoneal” em casos de queixas agudas importantes) Ausência de massas.
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